No último dia 29, nova postagem do blog supracitado revelou que a novidade em assunto foi incluída na versão 40.6.31 da Play Store dentro do Android 14, mas que a liberação está sendo feita de forma gradual, e ainda não se sabe ela será estendida ao Android 13 e às versões anteriores do robozinho verde.
UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
quarta-feira, 8 de maio de 2024
NOVIDADES NO GOOGLE PLAY STORE
No último dia 29, nova postagem do blog supracitado revelou que a novidade em assunto foi incluída na versão 40.6.31 da Play Store dentro do Android 14, mas que a liberação está sendo feita de forma gradual, e ainda não se sabe ela será estendida ao Android 13 e às versões anteriores do robozinho verde.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2023
PONTOS A PONDERAR (CONTINUAÇÃO)
Tancredo Neves — quinta tentativa de reescrever a história — saltou da vitória no colégio eleitoral para a cama de hospital e terminou na cova, deixando como herança o vice José Sarney, egresso da ditadura, em cuja gestão — a sexta tentativa — a restauração democrática confundiu-se com a anarquia econômica e administrativa.
FHC, como ministro da Fazenda do governo Itamar, consolidou a mudança do regime monetário introduzida pelo Plano Real e tirou das sombras todas as precariedades nacionais que eram obscurecidas pelo descalabro inflacionário: saúde sofrível, educação precária, desigualdade inaceitável... Mas moveu mundos e fundos para aprovar a PEC da Reeleição e acabou empurrando a oitava tentativa de renascimento para uma impopularidade que mantém o tucanato longe do Poder há mais de duas décadas (em 2022, em estágio avançado de autocombustão, o PSDB desistiu de apresentar um candidato à Presidência; saiu das urnas como um pequeno partido, a caminho do nanismo).
Lula 1 — o nono recomeço — tornou-se um caso único de mandatário que sofreu emboscadas da Presidência quando já estava fora dela. Seu estilo de governar, firmando alianças tóxicas financiadas à base de mensalões e petrolões, revelou-se uma rendição à oligarquia política e empresarial. Após usufruir de seus dois primeiros mandatos, deixou o Planalto enfiando os dedos no favo de mel de uma taxa de popularidade de 84%. Lambendo as mãos, elegeu a sucessora duas vezes. Tentava fugir das abelhas quando foi preso.
Dilma — o décimo recomeço — foi vendida por seu criador como "gerentona", mas revelou-se um conto do vigário no qual o próprio Lula caiu. Entre 2013 e 2016, a economia brasileira encolheu 6,8% e o desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Foram ao olho da rua algo como 12 milhões de pessoas — se Lula passou à história como presidente que fez a sucessora, Dilma se imortalizou como a criatura que desfez a obra do criador.
Michel Temer — produto da deposição de Dilma — sonhou em passar à história como presidente reformista. Depois que tudo virou epílogo no enredo de seu mandato tampão, sobreveio Bolsonaro — o 11º recomeço — que, catapultado pelo antipetismo do baixo clero parlamentar para o Planalto, comandou o governo civil mais militar da história e consolidou esta banânia como o mais antigo país do futuro do mundo.
Como uma borboleta que volta à condição de larva, o Brasil chega a 2023 arrastando atrás de si o seu passado como um casulo pesado e pegajoso. O terceiro mandato de Lula será a 12ª tentativa de recomeço em seis décadas, mas isso é assunto para a postagem de amanhã.
terça-feira, 12 de outubro de 2021
NÃO PODE DAR CERTO — QUARTA PARTE
Jânio Quadros levou apenas sete anos para passar de advogado e professor de Português e Geografia a vereador. Na sequência, foi prefeito de São Paulo, governador do Estado e presidente da República. Mas suas idiossincrasias e falta de traquejo com o Congresso levaram-no a renunciar à Presidência antes de completar sete meses no cargo.
Irritado com os sucessivos boicotes impostos pelos parlamentares, o manguaceiro despachou para a China seu vice, João Goulart, numa missão comercial e diplomática cujos reais propósitos eram reforçar a imagem de comunista que Jango conquistara quando ministro do Trabalho no governo Vargas.
Em 25 de agosto de 1961, tendo sido desancado de véspera, em rede nacional de rádio e televisão, pelo desafeto e rival Carlos Lacerda, o pé-de-cana apresentou a carta-renúncia que, em seus delírios etílicos, não seria aceita pelo Congresso — e ainda que fosse, o povo o reconduziria ao cargo por aclamação, permitindo-lhe governar sem ser "incomodado" pelos parlamentares. Mas faltou combinar com os russos.
Jânio voou para a base aérea de Cumbica, em Guarulhos (SP), levando consigo a faixa que não mais lhe pertencia, e lá permaneceu durante horas, aguardando a aclamação popular que não aconteceu — dizem que uma tramoia foi urdida para impedir a população de saber onde ele se encontrava quando a notícia da renúncia foi divulgada. Sem alternativa, ele deixou a base num DKW rumo ao porto de Santos, onde embarcou para a Europa com Dona Eloá Quadros, deixando atrás de si um país imerso na crise política que pavimentaria o caminho para o golpe de 1964 e os 21 anos de ditadura militar que viriam a reboque.
Informado da renúncia, Jango deixou a
China rumo ao Uruguai, onde ficou até a poeira baixar. Nesse entretempo, o presidente
da Câmara Federal, Ranieri
Mazzilli, assumiu interinamente o comando do Executivo, mas quem de fato governou o
país até a implementação do parlamentarismo foi uma
junta formada pelos três ministros militares do governo Jânio.
Adotar o parlamentarismo foi a solução encontrada para vencer a
resistência dos militares à posse de Jango e evitar uma guerra civil, e a PEC
foi aprovada a toque de caixa em 2 de setembro de 1961. A princípio, ficou
definido que um plebiscito seria realizado em 1965, permitindo ao povo referendar ou não o novo sistema de governo. A consulta acabou sendo
antecipada para 1963, e o sempre mui eleitorado tupiniquim optou pela
volta do presidencialismo.
Ainda que a mudança do sistema de governo limitasse os poderes do presidente, parte das FFAA se mantiveram contrárias à posse
do vice. O governador gaúcho Leonel Brizola, cunhado de Jango, organizou o “Movimento de Resistência Democrática” e a
“Voz da Legalidade” visando granjear apoio ao parente. E prometeu pegar
em armas contra a tentativa de golpe dos fardados.
Nesse entretempo, foi divulgado que Jango voltaria por terra de Montevidéu a Porto Alegre, quando na verdade ele e sua comitiva embarcaram num Caravelle da Varig (empresa aérea do Rio Grande do Sul), que voou todo o tempo com as luzes apagadas e a uma velocidade que inviabilizou uma possível interceptação por caças da FAB.
Uma vez na capital gaúcha, Jango
demoveu Brizola da ideia de marchar sobre
Brasília para fechar o Congresso. Mesmo não sendo partidário do
parlamentarismo, o vice-presidente temia que os conflitos armados evoluíssem para uma guerra
civil, de modo que se resignou a dar os anéis para não perder os dedos.
No dia 5 de setembro, Jango embarcou em outro Caravelle
da Varig com destino a Brasília — sua posse estava marcada para dali a
dois dias, no feriado da Independência. A aeronave voou a uma altitude de 11,1
mil pés, de modo a permanecer fora do alcance do radar e dos caças da FAB
durante quase todo o trajeto. A precaução se mostrou justificada: pilotos da FAB
haviam recebido ordens de abater o avião em algum ponto do caminho.
Roberto Baere, que à época era tenente aviador do 1º Grupamento de Aviação de Caça da Base Aérea de Santa Cruz, no RJ, revelou posteriormente ter recebido ordens do tenente-coronel Paulo Costa, comandante da base, para preparar os caças que seriam usados no ataque. Baere e outros três colegas que se recusaram a cumprir a missão foram expulsos 3 anos depois.
Em contrapartida à Operação Mosquito, foi urdida uma tática que visava impedir a ação dos aviadores golpistas. A ideia dos apoiadores
de Jango era evitar que os demais aeroportos que ficavam no trajeto obtivessem
informações sobre o plano de voo, bem como divulgar dados meteorológicos falsos
sobre a Região Sul. Nas bases de Porto Alegre e Belém, soldados chegaram a prender
seus superiores e furar os pneus dos aviões.
O governo Jango se dividiu em duas fases: a parlamentarista
se estendeu até janeiro de 1963 e a presidencialista, até o golpe militar de 31
de março de 1964. A primeira fase durou 14 meses e teve três primeiros-ministros:
Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes de Lima. O país
enfrentava graves problemas, como a inflação, que vinha num crescendo desde
1940. Para além disso, havia o racha político — com a UDN movendo
montanhas em prol da desestabilização do governo. Jango tentou promover
o desenvolvimento e reduzir a inflação mediante um plano de austeridade
(batizado de Plano Trienal), que fracassou e foi abandonado em 1963.
Com a realização do plebiscito em janeiro de 1963, o presidencialismo foi restabelecido, dando início à segunda fase do governo Jango — que também foi tumultuada pelos debates causados pelas "Reformas de Base" (agrária, tributária, bancária, urbana, educacional e eleitoral). A reforma mais bem elaborada, e que resultou num monumental debate político, foi a agrária, que defendia a desapropriação de propriedades rurais improdutivas com mais de 500 hectares.
Observação: A Constituição de 1946 estipulava que a reforma agrária só poderia ser realizada mediante indenização em dinheiro para quem tivesse sua terra desapropriada, mas o governo Jango tentou negociar a propositura de uma emenda constitucional que lhe permitiria indenizar os proprietários com títulos da dívida pública atualizados pela inflação.
Desentendimentos entre os partidos que apoiavam o governo (muitos dos quais eram ligados aos latifundiários) levaram à radicalização, propiciando um aumento exponencial no número de sindicatos de camponeses. Em meio a essa balbúrdia, grupos civis, militares e defensores dos interesses dos EUA — os americanos achavam o governo "muito à esquerda" — passaram a apoiar conservadores e reacionários em prol da desestabilização política do governo.
A interferência americana na política tupiniquim contribuiu
para deixar o cenário ainda mais instável, com mobilizações eclodindo no campo
e nas grandes cidade e militares defendendo a implantação de um governo
autoritário para impor um programa de desenvolvimento econômico no país. Carlos Lacerda,
então governador do antigo Distrito Federal e grande agitador
político, se contrapunha a Brizola, cunhado de Jango, trabalhista
ardoroso e defensor da não-flexibilização das Reformas de Base.
Em meio a esse turbilhão, militares se rebelaram e tomaram de assalto diversos prédios governamentais. Em outubro de 1963, em resposta a uma declaração de Lacerda, Jango decretou estado de sítio no país, o que desagradou tanto os esquerdistas e direitistas quanto os direitistas. Em 1964, grupos que conspiravam contra o governo articularam sua derrubada.
Para evitar a deposição, Jango proferiu o célebre discurso da Central do Brasil, no qual reafirmou publicamente seu compromisso de realizar, a todo custo, as Reformas de Base. A réplica conservadora não tardou: em 19 de março, meio milhão de pessoas mobilizadas por grupos direitistas realizaram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, na qual houve inúmeros pedidos de tomada do poder pelos militares.
Na "virada" de 31 março para 1º de abril de 1964 teve início no município mineiro de Juiz de Fora o levante militar que serviu de estopim para o golpe. Os fardados marcharam para o Rio de Janeiro e tomaram a cidade sem sofrer qualquer tipo de resistência por parte do governo. Jango foi instado a resistir, mas preferiu evitar uma guerra civil, e o golpe foi completado em 2 de abril de 1964, quando o presidente do Senado, Auro de Moura, declarou vaga a presidência do Brasil. Dias depois foi decretado o Ato Institucional nº 1, e a posse do marechal Humberto de Alencar Castello Branco deu início aos 21 anos de ditadura militar.
Continua...
quarta-feira, 6 de janeiro de 2021
... E PODE PIORAR AINDA MAIS
Desde sempre que os brasileiros são vocacionados a eleger representantes ladrões e mandatários populistas e imprestáveis. Jânio Quadros é um bom exemplo. Sua renúncia levou ao golpe de 64 e aos subsequentes 21 anos de ditadura militar. Senão vejamos.
Eleito em outubro de 1960, no apagar das luzes do governo de Juscelino Kubitschek — que se notabilizou por construir Brasília do nada, no meio do nada, para suceder ao Rio como Distrito Federal —, o advogado, professor de português, político e cachaceiro inveterado “homem da vassoura” assumiu a Presidência em janeiro do ano de 1961, prometendo “varrer” toda a sujeira da vida pública brasileira. Depois de passar 206 dias mandando “bilhetinhos” para auxiliares e se preocupando com questiúnculas — como rinhas de galo, corridas de cavalo, biquinis nas praias e maiôs cavados em concursos de misses —, o demagogo, "movido por forças terríveis", renunciou ao cargo.
Na manhã do dia 25 de agosto, após ser acusado por Carlos Lacerda — que viria a ser um dos articuladores civis do Golpe de 1964 e a ganhar o epíteto de “demolidor de presidentes” — de tramar um “golpe de gabinete”, Jânio informou à primeira-dama, dona Eloá, que deixariam Brasília naquela tarde. No Planalto, antecipou aos ministros-chefes das casas Civil e Militar a manchete dos jornais do dia seguinte: “Comunico aos senhores que renuncio, hoje, à Presidência da República. Ajustem o novo Brasil às exigências do Brasil novo. Com esse Congresso, eu não posso governar”.
Findo o desfile do
Dia do Soldado, Jânio encarregou o ministro da Justiça de entregar ao
presidente do Senado sua carta-renúncia e voou para a Base Aérea de Cumbica,
levando consigo a faixa presidencial (que a essa altura não mais lhe pertencia) e a
esperança de o pedido não ser aceito — ou de o renunciante de festim ser reconduzido
ao cargo por uma manifestação de apoio popular, o que lhe permitira governar sem ser "incomodado pelo Congresso". Mas faltou combinar com os russos.
Mais preocupados em impedir a posse de Jango, os militares esqueceram Jânio, e o povo só poderia ser mobilizado por um partido janista se seu líder tivesse permitido sua existência.
Assim, enquanto o país mergulhava na crise provocada pelo veto à promoção do vice a titular, o já ex-presidente embarcou com a mulher num cargueiro com destino à Europa, o presidente da Câmara assumiu (decorativamente) a chefia do Executivo e os ministros militares (que governaram de fato nas semanas seguintes) implementaram a toque de caixa o parlamentarismo.
Com os poderes limitados e tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro, o “vice comunista” foi autorizado a assumir a presidência como chefe de Estado. Mas a experiência parlamentarista foi tão conturbada quanto curta: um plebiscito realizado em 6 de janeiro de 1963 restabeleceu o presidencialismo.
Jango finalmente assumiu o cargo que era seu por direito, mas foi deposto, quinze meses depois, pelo golpe de 1964. Fica evidente, portanto, que a incipiente democracia tupiniquim havia entrado em parafuso em 25 de agosto de 1961, com a renúncia do populista cachaceiro.
Sobre o golpe: Em 1964, partidos de esquerda, grupos comunistas e seus associados discutiam qual a maneira de derrubar o capitalismo burguês e implantar a ditadura do proletariado, se pela luta armada ou pelo caminho reformista. Naquela época, a ampla maioria da esquerda era reformista — pelas chamadas reformas de base, processo que começava com a agrária e incluía um amplo cardápio de estatizações.
Jango, filiado ao PTB getulista, estava claramente no campo da esquerda. Ainda que houvesse comunistas em seu governo e no entorno, o presidente nada tivesse de comunista, a exemplo de ilustres membros do seu gabinete durante o curto período parlamentarista, como os primeiros-ministros Tancredo Neves e Santiago Dantas, que eram, no máximo, socialdemocratas, trabalhistas ou nacionalistas.
Como o grupo comunista era claramente minoritário, o sucesso de Jango levaria o Brasil a uma economia mais estatizada, com o aumento dos gastos públicos em todos os setores, dos sociais à infraestrutura (mais ou menos como aconteceu no governo ditatorial do general Ernesto Geisel, um nacionalista e estatizante da primeira linha, e no governo Lula, mas isso é outra conversa).
Em 1964, no auge da “Guerra Fria” o mundo estava dividido entre os EUA e a URSS. As plataformas reformistas — aqui, no Chile, na Argentina etc. — procuravam se aproximar não propriamente da União Soviética, mas do “Bloco do Terceiro Mundo”, que se declarava independente, mas pendia para a esquerda, ou seja, era adversário dos EUA, que, nessa disputa, patrocinavam ditaduras direitistas para, como se dizia na época, evitar a ditadura comunista.
Não havia a menor possibilidade de uma vitória comunista. Nem pela via reformista, nem pela luta armada. A melhor chance de uma guerrilha no Araguaia ou no Vale do Ribeira era a de ser massacrada, como de fato aconteceu. Mas foi nesse quadro que parte da elite brasileira, representada por partidos e associações civis, bateu às portas dos quartéis.
Os militares atenderam rapidamente, pois a doutrina que aprendiam
era simplesmente Ocidente versus Pacto de Varsóvia (a frente militar da
URSS). O Congresso chancelou a derrubada de Jango e elegeu
presidente o então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, marechal Humberto
de Alencar Castello Branco. Mas só o fez porque a alternativa era o
fechamento.
Muitos democratas e
liberais apoiaram o golpe, achando que seria um interregno necessário para
garantir a eleição presidencial de 1965, que seria disputada entre Juscelino
Kubitschek (pelo lado reformista democrático) e Carlos Lacerda (conservador,
liberal, democrata). Mas não tardaram a se arrepender, e foram abandonando o
governo militar à medida que este radicalizava, transformava-se numa verdadeira
ditadura e dava sinais de que tencionava se perpetuar no poder. Lacerda,
apoiador do golpe, terminou cassado e se uniu a JK, também cassado,
numa frente pela democracia.
O Congresso funcionou durante os 21 anos de ditadura — noves fora os breves momentos em que ousou discordar do regime — e “elegeu” todos os presidentes, mas somente depois que os generais de quatro estrelas decidiam quem seria o mandatário de turno.
Partidos políticos foram proibidos, a imprensa, censurada, opositores — tanto democratas quanto comunistas —, presos, torturados e mortos. Quando a política econômica finalmente fracassou — com recessão, dívida externa explosiva e inflação —, a ditadura caiu e os militares se retiraram, liderados por colegas de bom senso num processo conduzido por políticos habilidosos.
Em 1985, Tancredo
Neves (MDB) derrotou Paulo Maluf (ARENA) por
480 a 180 votos de um colégio eleitoral formado por senadores, deputados
federais e membros das assembleias legislativas estaduais. Mas quis o destino o presidente eleito fosse
internado 12 horas antes da posse e dado como morto 38 dias e
7 cirurgias depois — ironicamente, no dia 21 de abril, feriado que
homenageia Tiradentes, o Mártir da Independência.
Observação: Segundo a versão oficial, uma diverticulite obrigou Tancredo a ser submetido a uma cirurgia de emergência horas antes da posse. Também oficialmente, sua morte se deu no dia 21 de abril, depois de outras sete cirurgias. O general João Figueiredo se recusou a passar a faixa ao vice, José Sarney — um reles traidor, segundo o fardado, já que o ex-presidente da ARENA e representante do regime militar no Congresso deixara o partido governista e se juntara à oposição. “Faixa a gente transfere para presidente. Não para vice, esse é um impostor”, disse o general, que deixou o Planalto assim que a votação no Congresso foi encerrada. Ainda assim, a mágoa que o último presidente da ditadura guardava do repulsivo oligarca maranhense era menor que a resistência da caserna ao deputado Ulysses Guimarães.
Continua...
domingo, 11 de outubro de 2020
A RENÚNCIA DE JÂNIO, SUAS CONSEQUÊNCIAS E OUTRAS CURIOSIDADES — FINAL
Eu acreditava que não haveria ninguém para assumir a presidência e pensei que os militares, os governadores e principalmente o povo jamais aceitariam minha renúncia. Pensei que iriam exigir que eu ficasse no poder, porque Jango era inaceitável para a elite. Achei também que era impossível que ele assumisse porque todos iriam implorar para que eu ficasse.
Renunciei no Dia do Soldado porque queria sensibilizar os militares, conseguir o apoio deles. Imaginei que o povo iria às ruas seguido pelos militares. Os dois me chamariam de volta. Achei que voltaria para Brasília com glória.
Ao renunciar, eu pedi um voto de segurança a minha permanência no poder, porque isso é feito frequentemente pelos primeiros ministros lá na Inglaterra. E fui reprovado. Deu tudo errado.
sexta-feira, 17 de julho de 2020
DA PRAGA DA CASERNA AO CAPITÃO CAVERNA — OITAVA PARTE
Plantar populistas no poder sempre foi a melhor maneira de
colher consequências indesejáveis. Mas seria preciso ter bola de cristal para prever que Jânio Quadros, eleito presidente em 3 de outubro de 1960 e empossado em 31 de
janeiro de 1961, renunciaria dali a pouco mais de seis meses, e que, ao fazê-lo, pavimentaria a estrada que levaria ao golpe de 1964, aos 21 anos de ditadura militar e a quase
3 décadas sem eleições diretas para presidente da República.
Jânio sempre foi evasivo quanto aos motivos pelos quais deixou o gabinete mais cobiçado do Palácio do Planalto menos de 7 meses depois de lá se ter aboletado, sempre demonstrou desconforto quando questionado a respeito, o que alimentou teorias conspiratórias sobre o que, em última análise, não passou de mais um do atos espetaculosas do homem da vassoura (Jânio respaldou sua campanha na promessa de "varrer a corrupção" e adotou como símbolo uma vassoura). Certa vez, durante um almoço em casa de amigos, uma convidada suscitou o assunto, e ele respondeu: “Renunciei porque a comida no Palácio da Alvorada era uma droga como é aqui, e a companhia era quase tão ruim quanto a companhia daqui”. E foi-se embora sem sequer se despedir do anfitrião.
Mas bastava ler as entrelinhas para inferir que o verdadeiro propósito do então presidente foi causar comoção popular e forçar o Congresso a lhe pedir que reconsiderasse. Tivesse o plano funcionado, Jânio muito provavelmente se sentiria fortalecido e teria posto em prática o plano do autogolpe, que lhe permitiria governar sem ser "incomodado" pelo Legislativo. Vale lembrar que a cúpula militar via em João Goulart, o vice eleito com o apoio da esquerda (naquela época, os cargos de presidente e vice eram preenchidos mediante votações independentes), um herdeiro do getulismo e a porta de entrada para o comunismo no Brasil.
Jânio acertou quanto ao vice e os militares, mas enganou-se em relação ao Congresso, que não só aceitou sua renúncia como se aproveitou do fato de Jango estar em missão na China para nomear presidente interino o deputado Ranieri Mazzilli (então presidente da Câmara Federal), enquanto os ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica formaram uma junta informal para obstar a posse de Jango. Como o que está ruim consegue piorar, a tramoia acirrou os ânimos e aprofundou a crise a tal ponto que foi preciso aprovar a toque de caixa uma emenda constitucional para instituir o parlamentarismo e empossar Jango como Chefe de Estado (ou seja, como presidente decorativo, com poderes reduzidos).
A gestão de Jango seria marcada por diversas turbulências. A fase parlamentarista de seu governo durou 14 meses e teve três primeiros-ministros — Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes de Lima. O Brasil vivenciou ingerências presidenciais nas atividades dos gabinetes ministeriais e decisões unilaterais do Congresso, não raro em total desacordo com o primeiro-ministro. Em janeiro de 1963, após a antecipação do plebiscito marcado originalmente para 1965, o presidencialismo foi restabelecido, mas, devido a diversos fatores que não vêm ao caso neste momento, não foi a panaceia que muitos esperavam. Jango ganhou poderes de chefe de governo, mas meteu os pés pelas mãos e perdeu sua base de apoio (composta majoritariamente por partidos ligados a interesses de latifundiários). Os EUA, que o consideravam "muito à esquerda", passaram a financiar conservadores e reacionários para desestabilizá-lo politicamente, ao mesmo tempo que parte da ala militar defendia a implementação de uma ditadura para pôr ordem no galinheiro.
Em 1964, politicamente emparedado e sem condições de
levar adiante suas reformas, Jango resolveu guinar de vez à esquerda, e no célebre discurso
da Central do Brasil, em 13 de março, reafirmou publicamente seu compromisso de
realizar a qualquer custo as Reformas
de Base. A resposta conservadora não se fez por esperar: seis dias depois, meio milhão de pessoas mobilizadas por grupos direitistas realizaram a Marcha
da Família com Deus pela Liberdade, pedindo a tomada do poder
pelos militares.
Na virada de 31 março para 1º de abril de 1964 (que coincidentemente é o dia dos tolos), um levante iniciado em Juiz de Fora avançou para o Rio de Janeiro. Jango foi instado por Leonel Brizola — seu cunhado — a resistir, mas negou-se para evitar uma guerra civil. O golpe militar foi completado no dia 2 de abril, quando Auro de Moura, presidente do Senado, declarou vaga a presidência da República. Dias depois, uma vez decretado o Ato Institucional nº 1 para embasar o que viria a seguir, o Marechal Humberto de Alencar Castello Branco assumiu a presidência.
Começavam, então, os célebres anos de chumbo, que perdurariam até 1985.
Continua no próximo capítulo...
quinta-feira, 23 de maio de 2019
ENTRE JÂNIOS E BOLSONAROS
Nas visão de Merval Pereira, um presidente democraticamente eleito há cerca de cinco meses não precisa insuflar manifestações de apoio popular, a não ser que se sinta desconfortável com as limitações que as instituições democráticas lhe impõem. Daí a mobilização da militância ser contra o Congresso, o Judiciário e a Imprensa — justamente as instituições que têm como finalidade precípua impedir que o Executivo exorbite de seus poderes, sobretudo num regime presidencialista que dá preponderância quase imperial ao presidente da República.