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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A MENTIRA É UMA VERDADE QUE SE ESQUECEU DE ACONTECER


O leitor certamente já ouviu falar em "
tirar castanha com a mão do gato" (se não ouviu, é só clicar aqui). Pois foi exatamente isso que Bolsonaro fez, no último domingo, ao usar o o pontifex maximus da Assembleia de Deus Vitória em Cristo para fazer o que ele próprio não teve peito de fazer: acusar o TSE e o STF de orquestrar "uma engenharia do mal" para prendê-lo. Até os puxa-sacos do "mico" reconheceram que o sermão saiu do tom, mas o "pastor" manteve a pose: "Eu desafio qualquer um a dizer qual é a fake news, qual é a mentira e qual é o ataque. Só mostrei fatos e falei a verdade" disse Silas Maracutaia ao Poder360. 

Bolsonaro insultou nossa inteligência ao dar à "minuta do golpe" uma explicação na qual nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria. Mas Paulo Cunha (um dos responsáveis pela defesa do capetão) o superou ao dizer seu cliente só tomou conhecimento do documento quando já não era mais presidente, e sua fala "não reforça em nada a investigação". Aliás, a PF parece discordar, pois vai incluir a declaração no inquérito e usá-la como prova contra o investigado. 

Mas não foi só. Na quinta-feira 22, perguntado sobre os 15 minutos de silêncio que Bolsonaro concedeu à PF à guisa de depoimento, Cunha afirmou que ele seu cliente "não cometeu nenhum delito e nunca foi simpático a qualquer tipo de movimento golpista". Pausa para as gargalhadas.

Mudando de assunto, não se pode aceitar com naturalidade a relação promíscua entre religião e Estado, sobretudo em num estado laico. E livrar de impostos os polpudos ganhos de pastores e assemelhados é escarnecer dos "contribuintes" (entre aspas, pois "contribuir" só orna com "imposição" num país que trata salário como renda para fins de tributação). 

Ricardo Kertzman anotou em sua coluna: "Não bastasse a 'bancada evangélica' lutar com a faca nos dentes e sem crucifixo nas mãos por cada vez mais poder, 'pastores' financiados pela democracia pregam abertamente de seus púlpitos a cisão social motivada pela política." Isso não vem de hoje, naturalmente, mas o quadro se agravou na gestão do Messias que não miracula. 

O problema é que os "pastores" as "ovelhas", e todo esse rebanho vota. Haddad e seu chefe não perdem uma única oportunidade de acusam os "super ricos" de não serem tributados como deveriam (mais uma mentira populista e demagoga do PT), mas se curvam bovinamente à imunidade tributária das igrejas e seus donos.

No picadeiro da Paulista, Malafaia e Michelle trombetearam que "a igreja vai entrar pra valer na disputa eleitoral". Até uma toupeira vê abuso de poder econômico nessa parada. Como bem ironizou o colunista retrocitado, "o diabo é que, em nome do Senhor, tudo pode e é permitido aos engravatados de Deus em Brasília, pois não há Cristo  que interfira nisso". 

Na quinta-feira 22, o ex-ministro da Justiça que encheu Lula de orgulho ao se declarar "socialista, comunista e marxista" vestiu a suprema toga e depois foi à missa. A posse foi discreta, mas o rega-bofe reuniu cerca de 900 convidados — entre eles Davi AlcolumbreJuscelino FilhoRenan Calheiros, Fernando CollorIbaneis Rocha e Romero Jucá. Já o comedimento, a impessoalidade e a prudência foram impedidos de entrar.  

 

Juscelino — que continua ministro das Comunicação de Lula — responde a processo por supostos crimes de desvios de dinheiro público quando era deputado federal pelo Maranhão (estado natal de Flávio Dino). 


Alcolumbre — ex-presidente do Senado — é investigado em dois inquéritos por supostos crimes de "rachadinha" em seu gabinete (assim como o caso envolvendo Juscelino, a relatoria ficará a cargo de Dino). 


Calheiros é freguês de carteirinha do STF, inclusive por condutas delituosas supostamente praticadas no âmbito do Postalis. Collor foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava-Jato (o julgamento de seus embargos de declaração foi suspenso por um pedido de vista de Dias Toffoli).


Collor foi condenado  (em maio do ano passado) a 8 anos e 10 meses de reclusão. Quase 8 anos separam a denúncia da condenação, e mais um transcorreu até os embargos de declaração do caçador de marajás de festim começarem a ser apreciados no escurinho do plenário virtual, longe dos refletores da TV Justiça. Na véspera do Carnaval, assim que Moraes votou pelo indeferimento do recurso, Toffoli vestiu a fantasia de paladino e emperrou o julgamento com um pedido de vista. 


Ibaneis é investigado por "suposta" atuação nos atos golpistas do 8 de Janeiro. Ele foi afastado do comando do governo do DF em janeiro do ano passado, mas reassumiu o posto dois meses depois (Moraes acolheu o parecer da PGR segundo o qual volta ao cargo não prejudicaria as investigações).


Jucá — um dos caciques do MDB — é alvo de inquérito por ter sido um dos beneficiados por suposto recebimento de propina da Odebrecht (o caso, que envolve também Calheiros, tramita no STF desde 2017). 

 

Ao longo da companha pela suprema poltrona, Dino prometeu atuar como guardião da Constituição e facilitador do diálogo entre os Poderes. Se honrar essas promessas, terá muitos impedimentos pela frente. Da fala do ministro Barroso, presidente de turno do STF, Carlos Andreazza extraiu o seguinte trecho: "A vida é dura, mas é boa, porque nos dá o privilégio de servir ao país, sem nenhum outro interesse que não seja fazer um Brasil melhor e maior", e comentou que a vida boa oferece muitos privilégios, não raro ofertados por quem — à custa de vidas duras — se serve do Brasil e tem interesse em fazer do país patrimônio privado ainda melhor e maior.

 

A pergunta é: Dino deixará de ser agente político? A resposta pode estar na forma como ele se comportou desde que foi chancelado pelo Senado, em dezembro: em vez de se desligar do Ministério da Justiça e da atividade política, o político maranhense escolheu participar/influir na transição do cargo para Ricardo Lewandowski e voltar ao Parlamento para apresentar projetos — de onde saiu um dia antes de vestir a toga. 


Se gostasse de apostas e tivesse tostão para apostar, Andreazza apostaria que o senador eterno será — anomalia natural (o oximoro se impõe) numa Corte constitucional que se dilata sobre a República — ministro-líder do governo num Tribunal há muito à vontade para ser o terceiro turno parlamentar. Em suma, uma escolha pós-Lewandowski que Lula fez para ter um  "Xandão" pra chamar de seu.


Triste Brasil.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

EBÓ MAL FEITO, EGUN MAL DESPACHADO

 

Nem a Velhinha de Taubaté acreditaria na falácia vitimista dos bolsonaristas sobre o "episódio Carlos Bolsonaro", que só funciona com a parcela do eleitorado que pula, deita ou rala quando seu "mito" apita. Mas sem a vassalagem do antiprocurador-geral e o aparelhamento da PF, a tese de perseguição política é tudo que resta ao ex-presidente et catervaAo encostar a investigação sobre a "Abin paralela" no pitbull do clã, os investigadores deixam o pai do filho numa posição parecida com a do sujeito que despenca do alto de um edifício de dez pavimentos e, ao passar pelo sexto andar, suspira e diz: "Até aqui, tudo bem!". 
A visita dos rapazes da PF ao refúgio litorâneo onde Bolsonaro tira férias do ócio em companhia da prole é um prenúncio do que está por vir: depois de perscrutar a intimidade de Ramagem e de Zero Dois, os agentes devem invadir a praia do mito dos apatetados, a caminho de sua jugular, tocar a campainha do general Augusto Heleno, ex-superior hierárquico de Ramagem. 
Sempre que se apresenta como vítima de perseguição política, Bolsonaro fala com conhecimento de causa, pois perseguição é uma de suas especialidades. E o bom senso recomenda não discutir com especialistas. No caso da "Abin paralela", no entanto, o debate é até desnecessário: o próprio capetão assumiu a missão inconsciente de desvendar os próprios crimes cometendo-os com desleixo, Infelizmente, a PF chega a ele com quatro anos de atraso. Mas antes tarde do que nunca. 
Lula demorou a demitir o número 2 da Abin, e ainda resiste a trocar o diretor-geral do órgão, com quem tem intimidade. Qualquer semelhança com o caso de GDias não é mera coincidência.

Como se diz na Bahia, "ebó mal feito, egum mal despachado". Enquanto o povinho medíocre que o Criador colocou nesta banânia não aprender a votar, o continuaremos reféns de políticos que se elegem para roubar, roubam para se reeleger e são endeusados por quem os deveria fiscalizar, cobrar e defenestrar por mijar fora do penico. Até lá, arremedos de parlamentares seguirão dando cabriolas no Erário e, como bons discípulos de Maquiavel, ampliando seu poder a qualquer custo — como fizeram ao aumentar em quase 150% o valor do fundo eleitoral — descalabro que caberia a Lula vetar, mas ele não vetou por ser refém do condestável do Centrão e estar empenhado fortalecer o PT nas eleições municipais de outubro.  
 
Observação: O "fundão" — leia-se financiamento público de campanha — foi criado para mitigar a promiscuidade com empresas, prevenir escândalos de corrupção e reduzir o custo de eleger representantes e administradores públicos, mas o achaque ao bolso do contribuinte vem aumentando exponencialmente a cada eleição. O presidente do Senado e a bancada do Novo se uniram para derrubar o valor para cerca de R$ 2,6 bilhões, mas a proposta foi rejeitada por 355 votos a 101. 
 
No pacote bilionário de emendas parlamentares, a redução de R$ 5,5 bi imposta por Lula causou ranger de dentes e resultou em ameaças. O relator da PEC do Orçamento chegou a dizer que o veto será derrubado se o ministério do Planejamento não encontrar uma maneira de repor a diferença (mesmo com o veto, o saldo de emendas será de R$ 47,5 bi). Como se sabe, boa parte dessas emendas é desviada na forma de tratores, kits de robótica e maracutaias que tais, contribuindo para encher as burras dos congressistas corruptos e seus abjetos apaniguados. 
 
Já que falamos em egum mal despachado, José Dirceu de Oliveira e Silva ressurgiu das profundezas para "salvar o partido que ajudou a fundar de derrotas eleitorais em 2024 e 2026". Com o aval de D. Lula III, o ministro mais poderoso da primeira gestão petista vem atuando como eminência parda do PT e criticando Gleisi Hoffmann, que preside a sigla desde 2017 (para quem não se lembra, a ex-senadora rebaixada a deputada aparecia nas planilhas do propinoduto da Odebrecht como "coxa" e "amante").
 
Aos 77 anos e sem cargo formal no PT, o ex-guerrilheiro de festim pretende reassumir o papel que exerceu entre 2003 e 2005 e abandonou quando foi condenado no escândalo do Mensalão e na Operação Lava-Jato. Com o partido sob o domínio absoluto de Lula e sem hesitação em negociar com adversários, Dirceu personifica a busca pelo fim (no caso, o poder) sem se importar com os meios. A despeito das condenações pendentes, reiniciou o caminho de volta à ribalta com a escolha do filho Zeca como líder do PT na Câmara e com os acenos públicos do Maximus Pontifex da seita do inferno, que o elogiou como "agente e militante político da maior qualidade" e agradeceu pelo "legado no partido e solidariedade na prisão".
 
Na comemoração dos 43 da sigla, o palanque ambulante trombeteou: "Dirceu tem que colocar a cara para fora. A gente tem que construir outra narrativa na sociedade". Durante a campanha, temendo desgaste, sua excelência havia dito que "figuras históricas" não teriam espaço em seu terceiro governo — daí a volta de Dirceu à ribalta política se dar de forma gradual. Na cerimônia de posse do chefe, o "guerreiro do povo brasileiro" assistiu ao evento do gramado da Esplanada dos Ministérios. No fim daquele mês, durante encontro petista no Congresso com a presença do imperador da Câmara, os presentes evitaram posar para fotos com ele. 

Mas não há nada como o tempo para passar.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

LULA, GONET, BOLSONARO E A VELHINHA DE TAUBATÉ

A PF aguardava pela troca de comando na PGR para fechar a conta dos inquéritos sobre Bolsonaro. O procurador Paulo Gonet, escolhido por Lula sob influência do decano Gilmar Mendes e do relator-geral das encrencas bolsonaristas Alexandre de Moraes, esteve um par de vezes no Planalto antes de seu nome ser aprovado no Senado. Sobre o que ele e o presidente falaram, não se sabe, mas nem a Velhinha de Taubaté acreditaria que o futuro criminal do pior mandatário desde Tomé de Souza não foi assunto da conversa.
 
Para refrescar a memória dos mais velhos e informar os mais jovens que não conheceram a ilustre personagem criada durante o governo do último general da ditadura de 64 — aquele que gostava mais do cheiro dos cavalos que do cheiro do povo — a Velhinha de Taubaté acreditava piamente em tudo que lhe diziam, sobretudo se a fonte fosse Brasília. 
Mas nem sua inabalável fé resistiu ao choque de realidade provocado pelo escândalo do Mensalão. Em 2005, ao descobrir que seu ídolo — o então ministro da Fazenda Antonio Palocci — estava mergulhado até os beiços num mar de corrupção, a senhorinha sofreu um piripaque na frente da televisão e partiu desta para melhor. Ainda assim, vira e mexe alguém insiste em descobrir o paradeiro da finada para perguntar a quantas anda sua convicção sobre a credibilidade do governo e a situação política do país. 

Parece que tem uma nova Velhinha na praça. Ao ler as primeiras notícias sobre o golpe que Bolsonaro não pôde dar porque não conseguiu a adesão dos militares, ela se apressou a escrever nas redes sociais: "Se não forem meras conjecturas, os diálogos que vieram à tona nos últimos dias mostram, na verdade, que Bolsonaro salvou a Democracia, ao resistir à pressão sofrida por grande parte de seu entorno. Ele, inclusive, deixou o cargo antes de seu mandato terminar. Não digo isso como forma de defesa, mas como conclusão lógica do material recentemente exposto. Muitos foram os diálogos em que interlocutores imploravam para Bolsonaro dar um golpe e ele não deu, nem tentou.

Observação: A personagem de Veríssimo nunca foi militante, mas sua sucessora é. Bolsonaro chegou mesmo a convidá-la para vice em 2018, mas desistiu e escolheu um general. A Velhinha sem graça se elegeu deputada estadual por São Paulo e disputou uma vaga no Senado em 2022, mas ficou em quarto lugar.
 
No finalzinho de 2023, uma reportagem de Aguirre Talento revelou que a PF programou para o início de 2024 o indiciamento de Bolsonaro nos inquéritos sobre fake news e milícias digitais. Os processos, que incluem da tentativa de golpe à falsificação de certificados de vacinação, da propagação de mentiras ao comércio ilegal de joias, deixarão Gonet entre a cruz e a caldeirinha: ou ele denuncia ex-aspirante a tiranete, ou desmoraliza o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto). Como o mandato do PGR dura apenas dois anos, o desejo de recondução afasta a hipótese de fazer Lula de bobo. 
 
Confirmando-se a denúncia, restarão ao STF duas possibilidades: condenar Bolsonaro ou condenar Bolsonaro. A absolvição ou uma sentença suave, sem cadeia, desmoralizariam a Corte, que já impôs às piabas do 8 de janeiro sentenças de até 17 anos de cana. Já um Bolsonaro encarcerado sob os ritos democráticos ficaria em situação parecida com a que viveu seu adversário, que foi afastado das urnas graças a uma ação coordenada do Supremo — que lhe sonegou um habeas corpus— e do TSE — que o enquadrou na inelegibilidade da Lei da Ficha-Limpa. Já banido das urnas até 2030, o capetão marcharia rumo à cela batendo o mesmo bumbo de perseguido.
 
Com Lula fora da pista, Bolsonaro aproveitou o antipetismo para retirar a direita do armário em 2018. Mas 4 anos de irracionalidade e golpismo produziram a vergonha que colocou a direita civilizada no arco democrático que deu a vitória ao ex-presidiário em 2022. No entanto, a provável asfixia criminal do mito dos descerebrados não torna mais fácil a vida de seu rival. 

Ainda que o imbrochável e o bolsonarismo virassem pó, o conservadorismo troglodita continuaria retirando seu oxigênio do antipetismo. Ou seja: se quiser um quarto mandato (que Deus nos livre e guarde dessa desgraça), o autoproclamado Parteiro do Brasil Maravilha precisa governar direito e aprender a conversar com a direita racional, que lhe deu a vitória em 2022 não por preferência, mas por rejeição à alternativa.
 
Triste Brasil.

sábado, 30 de dezembro de 2023

PRESENTE DE GREGO

Karl Marx ensinou que a história sempre se repete, primeiro como farsa e depois como tragédia. Está cada vez mais difícil diferenciar farsa de tragédia no Brasil, mas a mim me parece que a gestão Bolsonaro foi uma farsa e a volta Lula, uma tragédia. Parte da culpa por essa desdita cabe à polarização, mas o grande vilão é o eleitorado apedeuta, incapaz de encontrar a própria bunda usando as duas mãos e uma lanterna (como bem observaram Pelé e Figueiredo). 

A tal "frente ampla" foi um embuste — nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria que ideologias tão antagônicas pudessem conviver pacificamente. Se funcionou, foi porque o pior mandatário desde Tomé de Souza empregou cada minuto de sua aziaga passagem pelo Planalto para vituperar o STF, pregar contra o sistema eleitoral, sabotar o combate à Covid e articular seu tão sonhado autogolpe. Mas isso é passado.

A despeito de Lula et caterva remarem contra a meta de déficit zero, Fernando Haddad melhorou a percepção sobre uma série de indicadores que afetam o bolso dos brasileiros. Como não há mal que sempre dure nem bem que nunca termine, os números sugerem que 2024 não será tão alvissareiro nesse aspecto quanto o primeiro ano do terceiro reinado do redentor dos miseráveis que escapou do Mensalão e tropeçou no Petrolão — que só não foi pior que o de seu antecessor porque superar a imprestabilidade do pária internacional não é tarefa fácil. 

Passados 14 meses da eleição mais disputada desde a redemocratização, Banânia continua dividida entre bolsonaristas e lulopetistasÉ forçoso reconhecer que nem a inelegibilidade nem a eventual prisão do messias que não miracula interromperão a metástase do "bolsonarismo boçal"  assim como as condenações e a prisão de ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto) não extirparam o câncer do "lulopetismo corrupto".

A maneira como o governo vai lidar com o fantasma do “pibinho” é uma das grandes incógnitas do próximo ano. Para construir maiorias num Congresso controlado por Arthur Lira, o chefe do Executivo precisou negociar uma "aliança" com o MDB, com o PSD e com o próprio condestável do Centrão. Além de abrir espaço na Esplanada dos Ministérios para Republicanos e Progressistas (partidos venais que apoiaram o desgoverno anterior), o Sun Tzu de Atibaia, que nega o "toma lá dá cá", entregou o comando da CEF a um afilhado político do imperador da Câmara.

D. Lula III e a rainha consorte Janja — a primeira-dama que ocupa o cargo de primeira-ministra informal — dedicaram boa parte de 2023 a um périplo por 26 países, mas as tentativas do estadista de fancaria de mediar os conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio não lograram êxito. Resta saber o que resultará das negociações entre os presidentes da Venezuela e da Guiana (lembrando que Lula é admirador confesso de Nicolás Maduro, a quem recebeu, com pompa e circunstância no Palácio do Planalto). 
 
Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, a aprovação do governo federal está anos-luz distante dos 80% que o demiurgo de Garanhuns ostentava em 2011, quando passou faixa para sua pupila. E ele ainda precisa precisa lidar com força da oposição nas ruas e no Congresso. Situações como essa, especialmente em ano eleitoral, tendem a alimentar ideias mirabolantes, causar ansiedade e apreen­são e acabar num belo presente de grego — ou seja, tudo que o Brasil definitivamente não precisa em 2024.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO



Segundo o ministro da Defesa, José Múcio, o fato de Mauro Cid comparecer fardado à CPMI dos Atos Golpistas não afrontou a Comissão. Mas gastar oito dos 15 minutos da manifestação inaugural jactando-se de sua formação militar e vinculando ao Exército os atos que praticou como esbirro de Bolsonaro foi um acinte, a exemplo de sua recusa a responder qualquer pergunta, inclusive sobre a própria idade (!?). Ao instruírem-no a se apresentar de farda, seus superiores transformam um drama criminal num processo de desmoralização das FFAA; ao transformarem a inquirição num show de horrores intercalado por exibições de despreparo, os parlamentares produziram material para a convocação de uma outra CPI para investigar a inutilidade de certas CPIs


Ao informar que ficaria em silêncio para não se autoincriminar, o não-depoente reconheceu estar encrencado em oito inquéritos (por participação nas manifestações golpistas de 8 de janeiro, nos atos antidemocráticos de 2019, no caso das joias sauditas e na fraude nos cartões de vacinação, e por cumplicidade com as milícias digitais bolsonaristas na propagação de fake news, pagamento em dinheiro vivo de despesas da ex-primeira-dama e vazamento de inquérito sigiloso). Nenhuma dessas atividades está inserida no rol que o Exército chamou de "temas referentes à função" para a qual ele fora designado. 


Se estivesse em trajes civis, Cid teria desonrado apenas a si próprio; fardado, empurrou as Forças Armadas para dentro de inquéritos que enferrujam a reputação de um oficial cuja carreira estava fadada a atingir o generalato e cujo silêncio transformou o nada numa palavra que ultrapassa tudo. CPMI, por sua vez, deixou claro que seu funcionamento dificilmente resultará em algo útil. Planejada pela oposição e controlada pelo governo, a comissão transformou-se numa versão coletiva da velha prática de jogar dinheiro público pela janela. Se pudesse, o contribuinte acionaria o Procon. Como a inutilidade legislativa não se encaixa no ramo do Direito do Consumidor, resta torcer para que os parlamentares desenvolvam por conta própria o senso do ridículo.


***


A morte de políticos em circunstâncias trágicas é terreno fértil para teorias da conspiração. A viagem sem volta de Adriano da Nóbrega, Gustavo Bebianno, PC Farias, Luís Eduardo Magalhães, Eduardo CamposUlysses Guimarães, Celso Daniel, Toninho do PT e Juscelino Kubitschek (entre outros) para a terra dos pés juntos levantou suspeitas pelas mais diversas razões (um sabia demais, outro pretendia denunciar esquemas de corrupção, outro foi vítima de vingança, e por aí segue a procissão). 

 

A versão segundo a qual PC Farias foi morto pela namorada, que se suicidou em seguida, não convence nem a Velhinha de Taubaté, embora tenha bastado para o STF a determinar o arquivamento do inquérito que investigava o deputado Augusto Farias (mais detalhes nas postagens finais da sequência Collor lá...). Claro que teorias conspiratórias não envolvem somente políticos, e que algumas são tão bizarras que chegam a ser risíveis. Para muitos lunáticos, a alunissagem da Apollo 11 foi encenada num deserto dos EUA, seres evoluídos habitam as profundezas da Terra, Keanu Reeves é imortal, a longevidade da rainha Elizabeth II devia-se à ingestão regular de carne humana, Bolsonaro foi um grande presidente e Lula é a alma viva mais honesta do Brasil.

 

Durante sua campanha, Juscelino Kubitschek prometeu 50 anos de progresso em 5 anos de governo. Eleito presidente, construiu Brasília, abriu a economia para o capital internacional e criou um sem-número de empregos (diretos e indiretos). Como nada é perfeito, rios de dinheiro canalizados para erguer do nada uma cidade no meio do nada inflou barbaramente a dívida externa. Além disso, as novas oportunidades de emprego ensejaram um êxodo rural desordenado, e a migração de trabalhadores do campo para as cidades prejudicou a produção agrícola e fomentou o aumento da pobreza, da miséria e da criminalidade. Em meados dos anos 1970, JK soube pela imprensa que ele teria morrido quando ia de sua fazenda em Luziânia (GO) para Brasília. Ele disse a seu secretário: "Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram". Mas não há nada como o tempo para passar: duas semanas depois, ele morreu quando o Chevrolet Opala em que viajava colidiu com uma carreta.

 

Teorias conspiratórias sustentam que o motorista do ex-presidente levou um tiro na cabeça — tese corroborada pelo condutor da carreta, que disse tê-lo visto "debruçado entre o volante e a porta do automóvel". Mas as marcas dos pneus no asfalto indicam que houve uma tentativa de recuperar o controle do veículo antes da colisão — o que não poderia ter feito por alguém que estivesse morto ou inconsciente. Já o motorista do ônibus que contribuiu para o acidente ao "esbarrar" no carro relatou que dois homens lhe ofereceram dinheiro para assumir a culpa. Um passageiro afirmou que o motorista perdeu o controle di carro porque bateu na mureta, mas a perícia encontrou vestígios da tinta do Opala na lateral do ônibus e vice-versa (os passageiros não perceberam a "leve colisão" por estarem num veículo de 12 toneladas). 

 

Segundo outra teoria, um explosivo foi colocado no carro durante uma parada no hotel-fazenda do brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte — que era ligado ao SNI, e uma terceira sustenta que os freios do Opala foram sabotados. Mas a perícia não encontrou resíduos de explosivo na carcaça do carro nem problemas com o sistema de freios. O perito criminal Alberto Carlos de Minas disse que viu um buraco de bala no crânio do motorista de JK, mas os policiais o impediram de fotografar. 

 

Sem acreditar que a morte de Juscelino foi acidental, Serafim Jardim, seu secretário e autor do livro Juscelino Kubitschek — Onde está a verdade? pediu a exumação do corpo do motorista em 1996. De acordo com o médico-legista Márcio Alberto Cardoso, que acompanhou a exumação, não havia perfurações ou fratura no crânio, apenas o fragmento de um prego daqueles usados para fixar a estrutura de pano nos caixões".

 

A versão de que JK foi vítima de conspiração voltou a ser derrubada em 2001. Convidados para auxiliar nos trabalhos da comissão criada para elucidar os fatos, os peritos criminais Ventura Raphael Martello Filho e João Bosco de Oliveira concluíram que tudo não passou de um acidente. "Com 40 anos de experiência, não consegui descobrir, por meio de laudos, fotos, recursos técnicos e análise do local, que houve ali outra coisa a não ser um acidente de trânsito. O parecer técnico foi feito. Há uma série de impropriedades e argumentos infantis", disse Martello.

 

Mais de trezentas mil pessoas assistiram ao funeral de JK em Brasília, E entoaram a música que se tornou símbolo do ex-presidente: Peixe Vivo. Mas o
 caso continua imerso em brumas, ainda que o fato de o político mineiro ser malvisto pela cúpula do Exército não significa que sua morte tenha resultado de uma conspiração dos militares. 

Continua...

quarta-feira, 3 de maio de 2023

O PAÍS DA VERGONHA

 

Ao retornar da Arábia Saudita em 2019, Bolsonaro disse que "se sentiu quase irmão" do príncipe Mohammed bin Salman (aquele que ordenou a execução de um jornalista nas dependências da embaixada saudita na Turquia). Ao longo dos três anos subsequentes, autoridades brasileiras visitaram aquele pais mais de 150 vezes, e a importação de produtos sauditas bateu recorde em 2022 (US$ 5,3 bilhões). Mas nada foi tão suspeito quanto a venda da refinaria Landulpho Alves para o fundo árabe Mubadala Capital, por metade do valor de mercado, semanas após o ministro Bento Albuquerque e seus acólitos protagonizarem o primeiro capitulo da série A Muamba das Arábias. 
 
Em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro se justificou: Eles têm dinheiro, pô". São joias caras, sim, caríssimas, até pela relação de amizade que eu tive com o mundo árabe". Em depoimento à PF, ele disse que só soube da apreensão das joias 14 meses depois do ocorrido, que buscou informações para evitar um suposto vexame diplomático caso os presentes fossem a leilão, e que tentou reaver o pacote destinado à esposa (aquele avaliado em R$ 16,5 milhões), mas "via ofício, não na mão grande".

Observação: Nessa trama (da qual até a Velhinha de Taubaté duvidaria), Bolsonaro passou quatro anos na Presidência totalmente alheio ao que acontecia à sua volta (nada muito diferente da falácia de velho Lula sobre o mensalão). Se alguém pressionou agentes federais visando liberar os tais bens presos na alfândega, foi sem seu conhecimento. Levou um ano até que ele fosse informado do que estava acontecendo.
 
Bolsonaro tentou vender uma imagem de simplicidade usando esferográficas Bic e relógios de plástico de R$ 30, deixando-se fotografar de chinelo de dedo, comendo pão com leite condensado e com as calças sujas de farofa. Durante sua abjeta passagem pelo Planalto, ele recebeu 19.470 presentes, mas nenhum deles fedeu tanto a propina quanto a muamba saudita. Segundo o jurista Walter Maierovitch, o ex-presidente confessou que cometeu peculato ao reconhecer publicamente que incorporou a seu acervo pessoal o estojo de joias que recebeu do governo saudita. 
 
A pena para este tipo de delito pode chegar a 12 anos de cadeia, mas não se pode perder de vista o fato de que vivemos numa republiqueta de bananas, onde sobram leis e falta vergonha na cara, onde todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que os outros, onde o chefe do Executivo de turno foi guindado ao Planalto (pela 3ª vez) a despeito de ter colecionado 26 processos e de ter sido condenado em dois deles, em 3 instâncias, a mais de 25 anos de reclusão.

Farejando as possíveis consequências do escândalo das joias, a cúpula do PL já se articula para salvar a pele de Michelle — cuja relação com o marido, segundo se comenta, não anda bem das pernas. Quanto ao "mito", o depoimento à PF está sob sigilo, mas alguns trechos que vazaram para a imprensa dão conta de que sua explicações foram ridículas. "Só um bolsominion muito tapado, muito imbecilizado, para acreditar que ele não sabia o que é que tinha naquele estojo e que ele pegou só para não criar um incidente diplomático. Ele sabia. Ele sabia de tudo", escreveu Altamiro Borges na revista eletrônica Crusoé.
 
Ao voltar dos EUA, Bolsonaro encontrou um ambiente muito diferente do que imaginava. Ele ainda conta com uma base significativa de apoiadores, mas seu futuro político é incerto e o poder abomina o vácuo. A extrema-direita precisa de um candidato, que pode ser Tarcísio, Zema, e até Mourão (Vade Retro!).

Atualização

Uma ação da PF autorizada pelo "ministro canalha" do STF resultou na prisão preventiva do tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, esbirro de Bolsonaro. A suposta falsificação do certificado de vacinação do ex-presidente viabilizaria sua entrada nos EUA, e Micheque e filha Laura teriam sido vacinados em 2021. Segundo a colunista Malu Gaspar, o esquema de falsificação dos cartões de vacinação começou em Goiás, depois que um médico bolsonarista do município de Cabeceiras preencheu cartões de vacinação para o capetão, a primeira-dama, a filha do casal e o lambe-botas Mauro Cid

O fritador de hambúrgueres e quase embaixador em Washington foi imunizado em agosto de 2021, um mês depois de o arremedo de o arremedo de ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vacinar seu irmão mais velho, o senador das rachadinhas Flávio Bolsonaro. Já o pitbull do clã furou a fila, mas negou tê-lo feito: "A única coisa que devo ter furado deve ter sido a mãe de quem divulga mais uma fake news de nível global e diária! A escória não vive sem mentir e manipular! Não tomei vacina alguma!". 

Segundo Ancelmo Gois, o vereador carioca que dava expediente em Brasília foi imunizado em 2021, no posto de saúde da Câmara de Vereadores do Rio. Jair Renan contraiu covid em 2020. Na ocasião, ele disse que se tratava de uma "gripezinha" (like father, like son), e que teria tomado cloroquina durante o período em que apresentou sintomas. Como se costuma dizer, vaso ruim é difícil de quebrar.

Triste Brasil.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

NEM A VELHINHA DE TAUBATÉ...

 

Bolsonaro solicitou um visto de visitante (B1/B2), que, se concedido, lhe permitirá ficar mais seis meses homiziado na cueca do Pateta. A resposta pode demorar de dois a quatro meses — período durante o qual o ex-presidente deve permanecer nos EUA, sob pena de ter o pedido cancelado. No entanto, devido ao grande número de pessoas que passavam todos os dias pelo local, ele resolveu deixar a mansão do ex-lutador José Aldo. 

ObservaçãoBela Megale anotou em sua coluna no Globo que o capetão surpreendeu até os filhos ao declarar que pretende voltar ao Brasil nas próximas semanas. "Com pouquíssima burocracia, eu teria plena cidadania" disse ele ao jornal italiano Corriere Della Serra. 
 
Dias atrás, em um evento com ares de culto religioso — organizado pelo grupo ultradireitista Yes Brasil USA, associado ao ataque ao Capitólio —, o "mito" afirmou candidamente que a depredação das sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro não foi "terrorismo"
voltou a bater na tecla de fraude eleitoral e negou sua derrota no pleito (a prova provada de que o lobo perde o pelo mas não larga o vício). 
Na segunda fileira da seletíssima plateia estavam o blogueiro foragido Allan dos Santos e o jornalista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente-general João Batista Figueiredo

O ex-presidente é alvo de cinco inquéritos no STF e réu em duas ações penais. A maioria dos processos deve ser enviada para a primeira instância. No mês passado, o ministro Alexandre de Moraes o incluiu numa das investigações dos atos terroristas em Brasília. Mas tanto o inquérito sobre as milícias quanto o dos autores intelectuais tendem a continuar no Supremo, porque outras pessoas investigadas têm foro privilegiado.

Segundo o portal Terra, o capitão destinou apenas um terço do orçamento anual necessário para a manutenção dos animais (embora tenha atribuído gastos elevados no cartão corporativo à alimentação das emas e dos peixes do lago do Alvorada). O laudo final sobre as mortes dos bicho ainda não está disponível, mas técnicos que acompanharam a avaliação e a autópsia afirmam que a morte súbita “fecha com o quadro de doenças cardíacas e hepáticas desencadeadas pelo mau manejo alimentar durante os últimos anos”.
 
Observação: As “emas do palácio” ganharam destaque depois que Bolsonaro, em meio a sua campanha pelo medicamento ineficaz no trato da Covid, foi filmado exibindo uma caixa de cloroquina aos animais.
 
Mesmo que não vá para a cadeia (afinal, Lula foi condenado a mais de 26 anos por mais de uma dezena de juízes de três instâncias e deixou sua cela VIP depois de míseros 580 dias), Bolsonaro pode ter os direitos políticos suspensos pelos próximos oito anos.  

E. T.Para quem não sabe, a Velhinha de Taubaté é uma personagem criada pelo escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo durante o último governo militar (1979-1985), que acreditava em tudo que lhe diziam, principalmente se a fonte fosse Brasília. Em 2005, porém, diante do choque de realidade provocado pelo escândalo do Mensalão, a senhorinha sofreu um piripaque na frente da televisão e partiu desta para melhor — dizem que morreu de desgosto ao descobrir que seu ídolo, Antonio Palocci, estava mergulhado em um mar de lama.

Bom carnaval a todos.