segunda-feira, 1 de julho de 2024

DÁ PRA ACREDITAR?

 

Num evento de 1º de Maio que reuniu menos gente que funeral de indigente, Lula pediu votos para Guilherme Boulos. Tanto o padrinho quanto o apadrinhado foram multados por campanha antecipada, mas o valor multa — estabelecido pela Lei nº 13.165, de 29 de setembro de 2015 e jamais reajustado — estimula a exposição prematura dos candidatos, pois os ganhos superam em muito o prejuízo financeiro — que é bancado pelas arcas partidárias, abastecidas com dinheiro dos "contribuintes". Dá pra acreditar?
 
Mesmo sabendo que 70% da safra de arroz havia sido colhida antes da tragédia gaúcha, Lula mandou importar 263 mil toneladas do cereal. Farejando a maracutaia (venceram a licitação uma quitanda, uma locadora de veículos e uma sorveteria), o TCU determinou o cancelamento do leilão. Chorando sobre o arroz derramado, Lula exonerou o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller — unha e carne com Robson Almeida França, que é dono de duas empresas que intermediaram 44% do arroz adquirido pela Conab e sócio de Marcelo Geller, filho do secretário exonerado, em outra empresa. Dá pra acreditar?
 
Lula é admirador confesso de Vladimir Putin, Nicolás Maduro, Daniel Ortega e outros tiranos da mesma laia. Vacinou-se à sorrelfa numa clinica particular dias antes de o SUS iniciar a campanha de imunização contra a dengue, vacinou-se contra a dengue. Quer porque quer interferir no politicamente na Petrobras e no Copom. Promoveu "esse cidadão que preside o Banco Central" a bode expiatório de suas mazelas. Disse que mercado financeiro é um "dinossauro feroz" e chamou de "cretinos" os jornalistas que vincularam a alta do dólar a sua fala desastrosa do último dia 26. Dá pra acreditar?
 
Lula acusou a indústria automobilística de "não investir no Brasil há 40 anos". Que vendia 3,8 milhões de carros em 2010, quando ele deixou a presidência, agora vende apenas 1,8 milhão. Balela: somente entre 2008 e 2010 a indústria investiu em torno de US$ 20 bilhões, e ele pegou a produção de carros na casa de 2,3 milhões de unidades/ano. Dá pra acreditar?
 
A autoproclamada "metamorfose ambulante" parece não ter aprendido nada em suas duas gestões anteriores e nos 580 dias de férias compulsórias que gozou na superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). Ao sancionar com vetos a lei que cria o "Programa Mover", o xamã petista esqueceu de lembrar — ou lembrou de esquecer — que a polêmica e impopular "taxa das blusinhas" foi incluída por meio de uma emenda apresentada por ninguém menos que Jaques Wagner, líder do PT no Senado. Dá pra acreditar?

Sobre gastos públicos, Lula negou que gosta de gastar: "Eu não gosto de gastar aquilo que eu não tenho. Eu aprendi com uma mulher analfabeta, que era a minha mãe: 'você não pode gastar aquilo que você não tem você só pode gastar aquilo que você ganha. Se você tiver que fazer uma dívida, tem que fazer uma dívida, você tem que fazer para aumentar alguma coisa na minha vida. É assim que eu prezo a minha consciência política'". Dá pra acreditar?

Ao atribuir os sobressaltos do mercado à ação de especuladores e mirar sua artilharia contra
BC — ornamentado atualmente com quatro diretores saídos de sua caneta Lula financia os fogos de quem lucra com a alta do dólar. E chamar de "cretino" quem expõe o efeito bumerangue de suas falas é apenas uma cretinice inútil.

 

E.T. Lula já acumula 19 pedidos de impeachment — mais que o dobro dos que Bolsonaro colecionava com um ano e meio de governo. Na última quinta-feira, 27, cinquenta e sete deputados de oposição brindaram o petista com mais um, este por "pedalada fiscal" (o mesmo crime de responsabilidade que apeou Dilma da Presidência em 2016).

domingo, 30 de junho de 2024

GORGONZOLA CASEIRO

DEMOCRACIA SÃO DOIS LOBOS E UMA OVELHA DECIDINDO O QUE COMER NO JANTAR.

Na postagem de 5 de maio eu comentei que o Gorgonzola e o Roquefort são chamados de "queijos de mofo azul" por causa do veio azul-esverdeado resultante da adição do mofo penicillium roqueforti ao leite ou à coalhada durante o processo de produção. 

Por serem parecidos, esses dois tipos de queijo são tidos e havidos como "pinga da mesma pipa" pelo menos iniciados, mas o Gorgonzola é italiano e feito com leite de vaca, enquanto o Roquefort é francês e feito com leite de ovelha. Ambos ornam com tábuas de queijo e são usados para rechear massas e fazer molhos, inclusive para carnes vermelhas, além de harmonizarem com os mesmos vinhos (Porto, Sauterne, Riesling e alguns Chenin Blanc). 

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Mal tomou posse, Lula se zangou com "esse cidadão" que preside o Banco Central. Mais adiante, estendeu seus maus bofes aos "dinossauros" do mercado e, nesta semana,, aos jornalistas — chamando de "cretinos" os que vincularam a alta do dólar a sua fala desastrosa na última quarta-feira, em entrevista ao UOL. 
Na véspera, o dólar fechara cotado a R$ 5,45. Na manhã de quarta, quando o presidente começou a falar ao vivo, roçava os R$ 5,48. Ao final da entrevista, o estava em R$ 5,52 — alta de 1,20% sobre a cotação do dia anterior.
Quem gosta de falar precisa aprender a ouvir. Lula atribui os sobressaltos do mercado à ação de especuladores. Demora a perceber que a artilharia contra o BC — hoje ornamentado com quatro diretores saídos de sua caneta — e a dubiedade da política econômica financiam ajudam os fogos de quem lucra com a alta do dólar. 
Na metade do seu terceiro mandato, o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário, ex-corrupto) conhece esse jogo como poucos, e sabe que chamar de "cretino" quem expõe o efeito bumerangue de suas falas é apenas uma cretinice inútil.

Faltou dizer que o Gorgonzola começou a ser produzido na região de Gorgonzola, próxima a Milão, no século X. Reza a lenda que um queijeiro misturou com massa nova um resto de massa que sobrou do dia anterior, donde o surgimento do bolor. Outra versão sustenta que a mistura foi de leite azedo com leite fresco, mas o fato é que coalhada resultante foi tomada por um fungo azul-esverdeado (Penicillium Roqueforti) que agregou novo sabor ao queijo — que recebeu nome de sua cidade de origem, como era costume naquela época.
 
Da feita que a aparência e o cheiro "duvidosos" do Gorgonzola não agradavam à aristocracia, o queijo foi comercializado localmente durante séculos, até ser levado por mercadores à Lombardia e a Piemonte. Nos anos 1930, dois "gourmets" provaram o queijo e o mencionaram em seu livro de gastronomia, mas o Gorgonzola só ficou famoso durante a 2ª Guerra Mundial, quando Sir Winston Churchill, que era um glutão de marca maior, recomendou expressamente aos aliados que não bombardeassem a região em que a delícia era produzida (que passou a ser o queijo mais consumido no restaurante do Parlamento inglês).
 
Considerando que os laticínios estão pela hora da morte, produzir Gorgonzola artesanalmente pode ser uma alternativa interessante. Para 1kg do queijo, você vai precisar de 10 litros de leite integral não pasteurizado, ¼ de colher de chá de fermento lácteo mesofílico, ¼ de colher de chá de penicillium roqueforti, ¼ de colher de chá de coalho líquido e 2 colheres de sopa de sal refinado não iodado. O preparo é trabalhoso, mas o resultado é compensador.
 
1 — Aqueça o leite a 30°C (use um termômetro culinário), adicione o fermento lácteo e o penicillium, misture bem, deixe descansar por 30 minutos, acrescente o coalho líquido, torne a misturar e deixe descansar por mais 45 minutos (até que o leite coagule);
 
2 — Corte a coalhada em cubinhos (cerca de 1,5cm) com uma faca esterilizada, deixe descansar por 5 minutos (para que o soro comece a separar) e então aqueça a 35°C por 30 minutos, mexendo ocasionalmente para o leite não queimar no fundo da panela. 
 
3 — Transfira a coalhada para um escorredor de queijo e deixe drenar. Ao final, misture o sal (não iodado), coloque a coalhada numa forma de queijos (pressionando levemente para moldar) e deixe descansar por 24 horas. 
 
4 — Fure o queijo várias vezes com uma agulha de tricô esterilizada (a entrada de ar é fundamental para o desenvolvimento do mofo) e coloque-o num recipiente para maturação com umidade controlada (cerca de 85%) e temperatura entre 10-12°C. Vire o queijo a cada dois dias nas duas primeiras semanas e continue o processo de maturação por mais 3 ou 4 semanas (a maturação é essencial para o queijo adquirir seu sabor característico). 
 
5 — Quando o queijo estiver pronto, coloque-o num recipiente hermético, guarde na geladeira e consuma em até um mês.
 
Dica: Se preferir um sabor mais intenso, deixe maturar por mais uma ou duas semanas.

sábado, 29 de junho de 2024

COMO PODE?

QUANDO ALGUÉM APONTA O CÉU, O TOLO OLHA PARA O DEDO E O SÁBIO, PARA AS ESTRELAS.


Três amigos jogavam conversa fora. A alturas tantas, um deles comentou que a velocidade da luz representa a velocidade do próprio tecido do espaço-tempo (*) e, portanto, é a maior velocidade possível no Universo conhecido. Um dos outros dois argumentou que o pensamento é virtualmente instantâneo (**), mas o vencedor da discussão foi o último a se pronunciar. Segundo ele, "nada é mais rápido que uma caganeira, já que não dá nem tempo de pensar em acender a luz".

A paixão por velocidade remonta aos primórdios da civilização, e a busca por quebrar recordes tem uma história tão extensa quanto fascinante. Na Roma antiga, organizavam-se corridas de bigas. Na Idade Média, torneios equestres incluíam competições de velocidade entre cavaleiros. Com a Revolução Industrial e o advento das máquinas a vapor no século XIX, as ferrovias se tornaram o novo campo de competição, com locomotivas cada vez mais rápidas competindo entre si. 

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O STF não descriminalizou nem liberou o uso da maconha, apenas decidiu que não é crime portar o entorpecente para consumo próprio, e ficou de fixa uma quantidade máxima para diferenciar usuários de traficantes. A decisão tampouco pode ser confundida como intromissão do Supremo nas prerrogativas dos outros Poderes. Uma lei aprovada pelo Legislativo em 2006 já havia estabelecido que o usuário de drogas não se confunde com o traficante, mas os parlamentares se abstiveram de estabelecer critérios para diferenciar um do outro. Os parâmetros fixados pela Corte valerão até que o Congresso ou o Executivo esclareçam a questão.
Ao votar pela descriminalização do consumo, a ministra Cármen Lúcia foi ao ponto. Disse que a ausência de critérios "criou um espaço de arbítrio." Nesse vácuo, um usuário negro apanhado com pequena quantidade de maconha na periferia de grandes cidades é preso como traficante. Um jovem branco abordado pela polícia com a mesma quantidade num bairro chique é liberado como usuário.
Inconformado, o presidente do Senado estrilou: "Eu discordo da decisão do STF; considero que uma descriminalização só pode se dar através do processo legislativo. A discussão pode ser feita, mas há caminhos próprios para isso."
Rodrigo Pacheco é autor de proposta de emenda constitucional sobre o tema, cujo texto, pendente de apreciação da Câmara, limita-se a empurrar para dentro da Constituição o texto da lei aprovada em 2006. Novamente, o Legislativo se esquiva de definir critérios para diferenciar consumo de tráfico. Quer dizer: Para exercitar a contrariedade em sua plenitude, o nobre senador precisa trocar a valentia retórica por providências práticas que ornem com as atribuições constitucionais do cargo que ocupa.
Vale lembrar que o poder abomina o vácuo. Foi graças à leniência, pusilanimidade, inoperância ou incompetência do poder público que traficantes e organizações criminosas tomaram conta dos morros cariocas, e as milícias, da Baixada Fluminense. 
Triste Brasil.
 
No alvorecer do século XX, Henry Ford e seus concorrentes disputavam corridas para ver quem construía o automóvel mais veloz, enquanto os pioneiros da aviação competiam para descobrir quem voava mais rápido e mais alto. A disputa pela quebra da barreira do som nos anos 40 e 50 foi um dos marcos mais significativos nessa busca incessante, que atualmente é representado pela Fórmula 1 e outras competições de velocidade em terra, água e ar. 
 
A despeito de atingirem 372 km/h, os carros de F1 não são páreo para a Kawasaki Ninja H2R (400 km/h). Nem para o Bugatti Veyron, cujo motor de 8.0 litros, quatro turbos e 987 cv de potência o levaram a 408,4 km/h no circuito oval de Ehra-Lessien. O Chiron Super Sport 300+, também da Bugatti e equipado com um motor quadriturbo de 8 litros e 1578 cv, foi o primeiro a superar as 300 milhas horárias (482,8 km/h), cravando 490,3 km/h no circuito de Ehra-Lessien.
 
Em 1976, o jato Lockheed SR-71 Blackbird, atingiu o recorde de velocidade Mach 3.3 (3.540 km/h), mas isso é pinto para a aeronave hipersônica não tripulada X-43 (11.854 km/h), desenvolvida pela Nasa, que, por sua vez, não chega nem perto das naves espaciais (30 mil km/h), que perdem longe para sondas como a Parker Solar Probe, que atingiu 246.9 mil km/h em 29 de outubro de 2018, seguiu quebrando seus próprios recordes até alcançar inacreditáveis 635 mil km/h e se tornar o objeto mais rápido já feito pelo homem.
 
Nenhum desses bólidos chegou nem perto da maior velocidade possível no Universo conhecido — que, como vimos, é a velocidade com que a luz se propaga no vácuo (cerca de 300 mil km/s). Nenhum objeto com massa consegue atingir essa velocidade; se conseguisse, esse objeto poderia produzir distorções no tecido do espaço-tempo que causariam efeitos imprevisíveis. Umas das peculiaridades da luz é seu "comportamento dual" (como onda e partícula).Vale destacar que essas partículas (fótons) não têm massa, mas, mesmo assim, elas perdem velocidade quando adentram a atmosfera terrestre. 
 
Segundo o físico de partículas Justin Vandenbroucke, da Universidade de Wisconsin-Madison, os neutrinos (partículas subatômicas com quase nenhuma massa) são a "coisa" mais rápida da Terra. Em um experimento realizado no Polo Sul, um grupo de cientistas detectou neutrinos de alta energia dentro do gelo que conseguiam viajar mais rápido que a própria luz. Em 2011, pesquisadores lançaram neutrinos do CERN, na Suíça, em direção ao laboratório subterrâneo de Gran Sasso, na Itália, e descobriram que eles percorreram os 730 quilômetros em 2,43 milissegundos, 60 bilionésimos de segundo mais rápido do que a própria luz — numa corrida tradicional, eles teriam cruzado a linha de chegada com 20 metros de vantagem. Em 2022, cientistas do CERN conseguiram acelerar fótons além da velocidade da luz, mas, de novo, fótons não têm massa. 
 
A pergunta que se coloca é: se nada pode se mover mais rápido que a luz, como pode o o próprio espaço-tempo se expandir a uma velocidade superior à da luz? A resposta é: porque ele pode. Veja que o art. 5º da nossa Constituição explicita que "todos são iguais perante a lei e blá, blá, blá, mas, mesmo assim, algumas pessoas são "mais iguais "que as outras. Ou seja, "quem pode mais chora menos". Explicando melhor: de acordo com as equações de Einstein, a velocidade da luz é a velocidade-limite do cosmos, mas essa regra não se aplica ao próprio cosmos, apenas ao movimento das coisas que estão no espaço (e não ao espaço em si). 
 
Para entender melhor, imagine o Universo como um panetone no forno e as galáxias como as uvas-passas, que se afastam umas das outras conforme a massa cresce. Quando o panetone dobra de tamanho, duas passas que estavam a 5 cm uma da outra ficam a 10 cm, e outras que estavam a 10 cm ficam a 20 cm. Isso acontece porque a velocidade é relativa. Do ponto de vista de uma uva-passa, suas irmãs mais próximas se afastam mais devagar do que as que estão mais distantes. Se o panetone dobra de tamanho 20 minutos depois de ser colocado no forno, a uva-passa que estava a 5 cm se afastou a 1 cm/min, e a que estava ao dobro da distância (10 cm), com o dobro dessa velocidade (2 cm/min). Se o panetone fosse do tamanho da Terra, a velocidade de afastamento entre uma uva-passa no Brasil e outra no Japão seria de milhares de quilômetros por minuto.
 
No Universo, as distâncias são astronômicas (sem trocadilho). A distância que separa as galáxias é de milhares ou milhões de anos-luz (lembrando que um ano-luz corresponde à distância que a luz percorre no vácuo em ano, que é de cerca de 9,5 trilhões de quilômetros), e elas se afastam umas das outras a velocidades superiores à da luz. Se uma hipotética espaçonave alcançasse a velocidade da luz, seus ocupantes veriam o Universo como um borrão e simplesmente "parariam no tempo".  Se a humanidade durar o bastante, talvez uma dia isso venha a ser comprovado ao vivo e em cores. 
 
(*) Acredita-se que partículas de alta energia, como os neutrinos, possam superar a velocidade da luz no vácuo.
 
(**) O tempo de reação a um estímulo qualquer varia conforme a distância, o tipo de neurônio e a complexidade, mas, em média, a informação viaja através dos neurônios a 360 km/h.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

VOTEM NELAS... (FINAL)

 

Misturar religião com política sempre foi má ideia em qualquer lugar do mundo, mas é ainda pior num país onde a "bancada evangélica" se locupleta com propina em ouro, via bíblia e no pneu. O projeto de lei do deputado-pastor Sóstenes Cavalcante — visando penalizar vítimas de estupro que abortam com o dobro da cana prevista para os estupradores — teve a urgência aprovada numa votação simbólica que demorou cerca de 20 segundos. 

Arthur Lira, o imperador da Câmara, aliou-se à banda fundamentalista, mas, mastigado no asfalto e nas redes sociais, achou por bem deixar a análise do mérito da proposta indecente para depois das eleições, quando os parlamentares estarão menos suscetíveis às pressões da opinião pública. Sob Lira, a Câmara sempre operou como uma espécie de monarquia onde reina a esculhambação. Surpreendido pelo desgaste, o imperador da Câmara se converteu num humilde servo da coletividade: "Somos uma Casa de 513 parlamentares. Qualquer decisão é colegiada." Pausa para as gargalhadas.

ObservaçãoLira enfrentou várias acusações ao longo de sua carreira política, mas deixou de ser réu no STF depois que a 1ª Turma acolheu um parecer da PGR favorável à anulação de uma denúncia de corrupção passiva contra ele​, mas o deputado continua enrolado com uma denúncia de sua ex-esposa, que o acusou de estupro. Gente fina é outra coisa.
 
O que marca as decisões dos pseudo-representantes do povo são seus interesses pessoais. Ideologia é história da Carochinha. Contam-se nos dedos os congressistas que mantêm sua posição apesar da pressão dos "formadores de opinião" eleitos por nichos da população. Os que não seguem a manada para não ficar isolados fazem-no por interesses cruzados — como a troca de favores entre grupos no momento em que se definem os candidatos à sucessão do presidente da Casa. Aliás, a enxurrada de projetos de lei que o chefão da Câmara desengavetou neste final de primeiro semestre é tão flagrantemente eleitoreira que desmente a postura de "grande líder" político que ele pretende transmitir. 

Fez o "L" esperando picanha? Prepare-se para a pica. Lula quer isentar de impostos o frango — que "é a carne que o povo consome" — e sobretaxar os cortes "nobres", consumidos por pessoas de "alto padrão". Escorar-se no consumo para equalizar a desigualdade social não é uma ideia brilhante, mas, vindo de quem vem, isso não causa espécie. 
A decisão foi criticada por setores do agronegócio e supermercados, que defendem uma cesta básica nacional mais ampla e foram surpreendidos pela ausência da proteína animal na lista — que inclui desde o tradicional arroz e feijão até farinha. Como se vê, além "dirigir" os olhos no retrovisor, Lula parece enxergar o Brasil como um imenso sertão nordestino.
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados, não é possível segregar os tipos de carne para reduzir a zero os cortes mais consumidos pela população de baixa renda, já que o boi é dividido em quarto dianteiro e quarto traseiro. 
Tampouco faz sentido discriminar a população com mais poder aquisitivo nem empurrar-lhe goela abaixo delícias como jabá e farinha de macaxeira.
 
A leniência com que tratam os
 próprios interesses demonstra a que vieram nossos deputados e senadores. Anistias dos mais variados graus, desde a multas partidárias por desrespeito à legislação eleitoral até a quem participou da tentativa golpista na Praça dos Três Poderes. Políticos dessa laia, que não se dão ao respeito como representantes do povo, ajudam a desacreditar as instituições. São parasitas que vivem à custa dos cidadãos comuns. Seu apetite é pantagruélico e sempre cabem mais verbas e regalias em suas gargantas sem fundo.

Ulysses Guimarães e Michel Temer dominaram a Câmara por anos a fio, mesmo quando fora da presidência, mas os atuais presidentes submergem assim que perdem o poder, razão pela qual a paga pelos favores tem de ser feita de imediato. 

A busca desesperada de Lira para se manter acima da linha-d’água provoca uma crise institucional que mina sua atuação e desgasta mais ainda a imagem do Congresso. Talvez estena na hora de votar nas putas. Está visto que votando nos filhos delas esta banânia dificilmente reencontrará seu norte.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

DA ORIGEM DA VIDA À VIDA (QUASE) ETERNA

SE O CONHECIMENTO FOSSE PERIGOSO, A SOLUÇÃO SERIA A IGNORÂNCIA, NÃO A SABEDORIA.

Bíblia (do grego "biblion", que significa "livro", "rolo") é composta por dois "testamentos". A partir da primeira versão escrita do Antigo Testamento (que remonta ao século X a.C.), os relatos foram copiados, editados e reescritos incontáveis vezes, e um belo dia alguém juntou a essa compilação o Novo Testamento, formando a síntese da mitologia cristã, que é composta por 39 livros do A.T. e 27 do N.T. 

Escoradas na interpretação literal do Gênesis (do grego Γένεσις, que significa), as religiões abraâmicas atribuem a criação do mundo a um ser superior que, em apenas seis dias, pôs ordem no Caos, criou a luz e as águas, cobriu a parte seca de plantas, povoou com animais, criou o homem a sua imagem e semelhança e, vendo que "tudo era bom" (?!), santificou o sétimo dia e nele descansou. 

Observação: Fazer tudo isso em seis dias é impressionante, mas mais ainda mais impressionante é o Big Bang — a "grande expansão" ocorrida há 13,787 bilhões de anos — ter levado uma fração de segundo para criar o Universo. 

Baseados na cronologia mencionada nos "textos sagrados" e nos cálculos encontrados na antiga literatura judaica, os sectários do Criacionismo afirmam que o mundo foi criado em 3761 a.C., mas o livro "The Annals of the World, publicado em 1658 pelo arcebispo irlandês James Ussher, é ainda mais preciso: Deus deu início à obra às 9h do dia 23 de outubro de 4004 a.C., e todas as espécies surgiram ao longo de seis dias e jamais sofreram qualquer alteração.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

As contas nacionais estão em desalinho. O dólar ficou caro. A queda dos juros subiu no telhado. O dilúvio gaúcho afoga o PIB nacional. O primeiro semestre vai ficando no retrovisor sem que a segunda fase da reforma tributária tenha saído do lugar. A greve nas universidades e institutos federais já dura mais de dois meses. O ministro das Comunicações, indiciado por corrupção, continua no cargo.
O governo Lula, desarticulado politicamente e sem coesão na economia, é o principal responsável por tudo isso, noves fora o caso do dilúvio gaúcho, naturalmente. E a oposição, podendo qualificar o debate, desqualifica-se priorizando no Congresso uma pauta obscurantista que, 
a pretexto de defender a vida, iguala ao homicídio modalidades de interrupção da gravidez previstas na legislação há 84 anos. 
A reação negativa das ruas e das redes sociais levou o imperador da Câmara a pisar no freio, o autor da proposta a perder a pressa, e o presidente desta banânia, que havia orientado seus operadores no Congresso a ignorar o avanço da "aberração" legislativa, a se reposicionar em cena.
Zonzo diante da necessidade de realizar cortes orçamentários, o xamã petista se diz impressionado com a magnitude das renúncias fiscais — coisa de R$ 519 bilhões ao ano — e retarda o manuseio da tesoura. Pródigo na produção de despesas, o Congresso desconecta-se da realidade e finge que não é parte do problema enquanto ensaia a conversão do Brasil numa teocracia de viés iraniano. Atônia, a plateia exaspera-se com a percepção de que Brasília rodopia a esmo, como um parafuso espanado.
 
Há, no Universo observável, algo entre 100 e 200 bilhões de galáxias, cada uma com bilhões de estrelas. Nosso sistema solar surgiu há 5 bilhões de anos, aTerra se formou 500 milhões de anos depois, mas outros tantos se passaram até o planeta ficar estável e esfriar o suficiente para que a vida pudesse se desenvolver. 
Ainda não se sabe como a vida surgiu, mas sabe-se que algumas bactérias e outros organismos unicelulares são capazes de sobreviver no espaço sideral e flutuam por toda a galáxia, de modo que algo parecido pode ter sido trazido para a Terra por rochas que se desprenderam de Marte quando o sistema solar ainda era instável.


Os primatas surgiram há 65 milhões de anos e os grandes macacos, 40 milhões de anos depois. Os primeiros hominídeos apareceram há 8 milhões de anos e o Homo Sapiens, 300 mil anos atrás, a partir da evolução de outros primatas  e não de Adão e Eva, que, segundo os textos sagrados, Deus criou por volta de 4000 a.C. e expulsou do Paraíso em data incerta e não sabida, depois que eles sucumbiram ao canto da sereia, digo, da serpente (mais detalhes nesta marchinha carnavalesca).

 

Teorias explicam tudo — o que não se sabe, inventa-se. Na prática, porém, o buraco é mais embaixo. Os cientistas ainda não sabem quais formas de vida surgiram inicialmente, mas acreditam que tenha sido algo como o RNA — que é semelhante ao DNA, só que mais simples e sem a estrutura de dupla hélice. (sequências curtas de RNA podem ter resultado no DNA, ensejando a seleção natural darwiniana). Supõe-se que os organismos unicelulares levaram 2,5 bilhões de anos para se tornar multicelulares, e que os peixes, que surgiram 1 bilhão de anos depois, levaram 500 milhões de anos para evoluir até os primeiros mamíferos, que, 100 milhões de anos depois, deram origem ao Homo Sapiens.

  
Embora não sejamos grandes e fortes como nossos ancestrais cavernícolas, o conhecimento que acumulamos ao longo dos milênios, com destaque para os últimos três séculos, tornou-nos superiores a eles. Um "rato de biblioteca" do século XVIII poderia "devorar" todos os livros escritos até então, mas seu tataratataratataraneto demoraria cerca de 400 mil anos para fazer o mesmo com os 160 milhões de ítens que compõem a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos (sem mencionar que, nesse entretempo, centenas de milhares de nova obras seriam publicadas e adicionadas ao acervo).


Observação: Essa "proeza" só seria possível se nosso hipotético "rato" fosse um tubarão, já que algumas espécies desse peixe vivem até 500 anos, ou uma esponja marinha como as que habitam as águas do Havaí, que vivem mais de 2 mil anos. 

 

De acordo com o professor de biogerontologia molecular João Pedro de Magalhães, nossa biologia é governada por programas genéticos semelhantes a algoritmos de computador, que, com o passar do tempo, ficam instáveis e travam. Se os cientistas conseguirem reescrever esses "softwares" de modo a criar células resistentes ao câncer e imunes ao envelhecimento, a expectativa de vida dos humanos pode chegar a 20 mil anos.

 

Continua...

quarta-feira, 26 de junho de 2024

VOTEM NELAS. NOS FILHOS DELAS NÃO RESOLVE


O maior problema do Brasil remonta à criação do mundo segundo o Gênesis. Reza a lenda que, a alturas tantas, um anjo questionou o Criador por proteger de catástrofes naturais a região que mais adiante acomodaria o Brasil: "
Senhor, por que destinastes a essa porção de terra clima ameno, praias e florestas deslumbranes, grandes rios e belos lagos, mas não desertos, geleiras, vulcões, furações ou terremotos?" E Deus respondeu: "Espera e verás o povinho filho da puta que vou colocar lá." 

Dito e feito. Vivemos num país surreal. Nossa independência foi comprada, a Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de uma série) e o voto é um "direito obrigatório" do cidadão. Em 133 anos de história republicana, três dúzias de brasileiros chegaram à Presidência pelo voto popular ou por eleição indireta, linha sucessória e golpe de Estado. Desses, oito, começando pelo primeiro (Deodoro da Fonseca), deixaram o cargo prematuramente. Entre os cinco que foram eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois acabaram impichados. Se o "mito" dos cabeças-ocas não ingressou nessa seleta confraria, foi graças à conivência de Rodrigo Maia, à cumplicidade de Arthur Lira e à subserviência chapada de Augusto Aras.
 
Nossa democracia lembra aquelas fotos antigas de reis africanos que imitavam os trajes, trejeitos e enfeites dos governantes de nações mais evoluídas, mas não aprendiam suas virtudes. Na fotografia, banânia aparece como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. 

Temos uma Constituição e até uma corte constitucional — onde os juízes, chamados de ministros, usam togas negras como os reis africanos usavam cartolas, e escrevem (às vezes até uma frase inteira) em latim. Temos procuradores gerais, parciais, federais, estaduais, municipais, especializados em acidentes do trabalho, patrimônio histórico, meio ambiente, infância, urbanismo e praticamente todas as demais áreas da atividade humana. Temas uma Câmara Federal e um Congresso Nacional. Temos eleições a cada dois anos e mais de 30 (!?) partidos políticos. Não nos falta nada, exceto a democracia, que ficou só na foto. 

Nossas eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, do voto obrigatório e horário eleitoral "gratuito"  às deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm menor número de eleitores. O resultado é um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. 

Os eleitores são, em sua esmagadora maioria, ignorantes, desinformados e desinteressados, e a Justiça Eleitoral, criada para dar ao país eleições exemplares, permite a produção dos políticos mais ladrões do mundo. Temos mais de 30 legendas que se alimentam dos fundos partidário ( R$ 1,1 bilhão) e eleitoral (R$ 4,9 bilhões) bancados pelo dinheiro dos impostos pagos pelo "contribuintes". Algumas legendas não têm um miseros deputado ou senador no Congresso, mas seus donos enchem os bolsos leiloando suas cotas de tempo no horário eleitoral obrigatório. 

Mulheres e minorias são manipuladas pelas direções partidárias, que controlam quem tem acesso a financiamento público. Acordos políticos são urdidos surdina e os parlamentares (ou a maioria deles) votam com base em interesses pessoais. Milicias e fações criminosos têm representantes no Congresso, nas Assembleias Legislativas estaduais e nas Câmaras Municipais. Candidatos só entram em algumas regiões se tiverem proteção dos criminosos, e os moradores são "convidados a votar na "turma da casa". 

ObservaçãoComo se essa putaria franciscana com nosso dinheiro não bastasse, uma parcela substantiva dos trilhões achacados anualmente dos "contribuintes" escoa pelo ralo da corrupção e quase tudo que resata é usado para custear a máquina pública, de modo que nunca há recursos para investir em Saúde, Segurança Pública, Saneamento Básico, Educação etc.

Em abril, o déficit nominal atingiu o recorde de R$ 1,043 trilhão (no acumulado de 12 meses) e a mudança da meta do arcabouço fiscal para 2025 pirou o que já era ruim. Lula tem um xilique sempre que se fala em déficit fiscal em corte de gastos, forçando Haddad a inventar novas maneiras de arrancar dos "contribuintes" os bilhões que faltam para equilibrar as contas. 

Ex-poste de Lula na prefeitura de Sampa e ex-preposto do então presidiário mais famoso do Brasil no pleito presidencial de 2018, o ministro colecionou muitas vitórias como capataz da Fazenda de Lula 3, mas seu déficit zero virou ficção, o superávit tornou-se uma lenda, a estratégia da resolução da encrenca pelo aumento de arrecadação se exauriu, o dólar disparou, a inflação superou a meta de 3% prevista para o ano e o governo foi como que intimado a cortar gastos

Haddad e sua colega do Planejamento expuseram ao chefe o buraco produzido no Tesouro pelas benesses concedidas ao empresariado (somando-se as renúncias tributárias e os subsídios financeiros, a conta foi a R$ 646 bi no ano passado). Lula ficou "extremamente mal impressionado", mas não deu mostras de que pretende usar o fação. Chegou-se a cogitar que em breve a Fazenda teria outro capataz, como se trocar as rodas da carroça quando o problema está no burro adiantasse alguma coisa.

Lula "dirige" esta republiqueta de bananas com os olhos no retrovisor, mas é incapaz de ver o reflexo do responsável pelas próprias mazelas — que ele atribui ao presidende do BC que herdou de Bolsonaro. Na véspera da reunião em que o Copom decidiu pausar a sequência de cortes na Selic, o petista acusou Campos Neto de "trabalhar para prejudicar o país": "A única coisa desajustada no Brasil neste momento é a política do Banco Central

A decisão de interromper os cortes foi unânime, ou seja, os quatro diretores escalados por Lula — incluindo Gabriel Galípolo, cotado para ser o próximo presidente da instituição — também votaram a favor. Diante das críticas de petista, o Copom sinalizou que os juros estão altos por causa do desequilíbrio das contas do governo

Observação: A unanimidade deixou Lula na incômoda posição de derrotado e Campo Neto, na de bode expiatório gasto, que forneceu munição contra si ao participar do jantar oferecido (em sua homenagem) pelo governador bolsonarista de São Paulo. Em 31 de dezembro, o economista estará livre para colocar seu bolsonarismo a serviço da candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas, mas nem por isso o vermelho das contas nacionais será tingido de azul.
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre nossa democracia bananeira e os reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. O Congresso não representa a vontade soberna do povo, e há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. 
Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse? 

Talvez esteja na hora de votar nas putas. Está visto que elegendo os filhos delas a trajetória ziguezagueante desta banânia dificilmente reencontrará seu norte.

Continua...