terça-feira, 5 de agosto de 2025

SOBRE A PRISÃO PREVENTIVA DE BOLSONARO

NADA COMO UM DIA APÓS O OUTRO

Ainda que a notícia da prisão domiciliar decretada no final da tarde de ontem, por descumprimento reiterado das medidas cautelares impostas no âmbito do inquérito 4.995 e da PET 14.129, seja "matéria vencida", resolvi publicar este post em edição extraordinária para relembrar que Moraes já havia advertido que novo descumprimento resultaria em prisão preventiva.

"A Justiça é cega, mas não é tola, e não permitirá que um réu a faça de tola achando que ficará impune por ter poder político ou econômico", anotou o magistrado no despacho que impôs a Bolsonaro o uso da tornozeleira e outras medidas cautelares. 

Moraes também mandou recolher o telefone celular usado pelo ex-presidente para participar remotamente dos atos bolsonaristas ocorridos no último domingo e proibiu visitas, a não ser de advogados e pessoas autorizadas dos autos, e de usar celulares, diretamente ou por meio de outras pessoas, advertiu que o descumprimento da domiciliar resultará na decretação da prisão preventiva.

Segundo Xandão, Bolsonaro usou redes sociais de aliados — incluindo seus três filhos parlamentares — para divulgar mensagens com "claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao STF e apoio ostensivo à intervenção estrangeira no Poder Judiciário brasileiro", e que o desrespeito deliberado e continuado às decisões proferidas pela Corte demonstram a "necessidade de medidas mais gravosas para evitar a contínua reiteração delitiva do réu, mesmo com a imposição de medidas cautelares diversas da prisão". 

Ainda não há registros de bolsonaristas cantando o hino nacional para pneu de trator nem enviando sinais de celular para ETs, mas sabe-se que apoiadores do coisa ruim saíram em carreata (e motociata) pelas ruas de Brasília para protestar contra a prisão domiciliar do "mito". Defronte ao condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico, os manifestantes fizeram orações pelo ex-presidente e entoaram palavras de ordem, como "O Brasil vai parar" e "Supremo é o povo", "Fora, Xandão" e "Fora, Moraes". A PM reforçou a segurança e fechou o acesso à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três Poderes, mas não houve confrontos ou incidentes.


Ao tomar conhecimento da decisão de Moraes, o deputado foragido Eduardo Bolsonaro — que se homiziou na cueca do Tio Sam para articular as sanções impostas pela Casa Branca ao Brasil e o cerco financeiro ao ministro — escarneceu: "Se não conseguem nem monitorar as tornozeleiras eletrônicas quem dirá cada preso em seu domicílio." Disse ainda o arremedo de lesa-pátria que se trata de "uma prisão sem crime, sem evidência, sem julgamento, mero abuso de poder para silenciar o maior líder da oposição brasileira", e que "o Brasil não vive mais uma democracia", além de chamar o magistrado de "psicopata descontrolado". 

 

Como o mundo está de cabeça para baixo, não chega a causar espécie que o Brasil seja obrigado a acompanhar os humores da Casa Branca. O Departamento de Estado americano rosnou na noite passada para a prisão domiciliar do "mito" — Marco Rubio chamou Moraes de "abusador de direitos humanos sancionado pelos Estados Unidos" e ordenou em timbre categórico: "Deixem Bolsonaro falar!" —, sinalizando que Trump pode morder a qualquer momento.  

 

Nos quatro anos da (indi)gestão Bolsonaro, o empreendimento que mais prosperou no Brasil foi a usina de crises instalada na portaria do Alvorada. Saudosista, Zero Três achou que seria uma boa ideia abrir uma filial do cercadinho na Casa Branca, mas acabou fornecendo matéria-prima para a construção da prisão domiciliar do pai, que está na bica de ser julgado por comandar a trama golpista. Em pouco menos de dois meses, Xandão abriu o inquérito que apura as ações antipatrióticas da "Famiglia Bolsonaro" com Trump, grudou a tornozeleira na perna do patriarca e o trancafiou o em casa.

 

Em maio de 2020, nos de seus mais célebres rompantes no cercadinho do Alvorada, o então presidente, incomodado pelo cerco de Moraes a empresários bolsonaristas, bradou: "Acabou, porra!". Cinco anos depois, imaginou que as sanções da Lei Magnitsky e as tarifas contra as exportações do Brasil soariam como um novo ultimato ao Supremo. Deu no que está dando.

 

Embates entre governo e oposição são da essência da democracia. Sem eles, o que se tem é a ausência do contraditório — fator imprescindível ao exercício do espírito crítico numa sociedade plural e vigilante na cobrança ao atendimento de suas demandas por parte das lideranças. Mas isso é uma coisa. Outra bem diferente é o aprisionamento a dicotomias orquestradas por dois polos divergentes que se retroalimentam. Tal processo mantém o eleitorado na condição de seguidor, quando deveria ser ele o condutor. 

 

Não se trata de defender a ideia do atual governo de aproveitar o ensejo da ofensiva de Trump contra o Brasil para promover um ambiente de união nacional em torno de Lula sob a bandeira da soberania. A oportunidade que se apresenta — registrada na pesquisa do Datafolha — é de que pode haver vida inteligente fora das bolhas petista e bolsonarista.

 

A conferir.

A QUINTESSÊNCIA DA PARVOÍCE

MAIS VALE ACENDER A VELA QUE AMALDIÇOAR A ESCURIDÃO. 

Einstein estava coberto de razão quando disse (se é que disse) que o Universo e a estupidez humana são infinitos. Além de estúpidas, as pessoas são eternamente insatisfeitas. Muitas reclamam pelo simples prazer de reclamar; outras, por não saberem que o ótimo é inimigo do bom, que a perfeição é um ideal e a imperfeição, a realidade; que nem sempre se alcança a excelência perseguindo a perfeição; e que "bom o bastante" já está de bom tamanho. Isso sem falar na seleta confraria dos "saudosistas". 


Ter saudade dos bons momentos que se foram — não voltam mais, a menos que as viagens no tempo se tornem realidade — é uma coisa; dizer que a vida era melhor nos tempos da ditadura é outra. Sobretudo quando quem declama essa "pérola do nonsense" nasceu depois de 1985. Em Ensaio sobre a cegueira, José Saramago — Nobel de Literatura em 1998 — anotou que o pior tipo de cegueira é a mental. Isso explica por que os eleitores brasileiros fazem a cada dois anos o que Pandora fez uma única vez. Ou por que milhares de lunáticos são favoráveis à anistia de Bolsonaro — quiçá o pior mandatário desde Tomé de Souza. Ou por que outros tantos acreditam que a autoproclamada alma viva mais honesta do Brasil foi declarada inocente — quando, na verdade, suas condenações transitadas em julgado foram anuladas a pretexto de uma suposta incompetência territorial que o ministro Fachin, relator dos processos da finada Lava-Jato no STF, já havia rejeitado uma dezena de vezes.

 

Depois do golpe de 1964 e dos subsequentes 21 anos de ditadura, os brasileiros reconquistaram o direito de votar para presidente. Em 1989, a despeito de nomes como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola e Mário Covas figurarem entre os 22 itens do cardápio, Collor e Lula foram escolhidos para disputar o segundo turno. O pseudocaçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo, mas foi impichado em 1992. Fernando Henrique derrotou Lula em 1994 e 1998, mas a vitória deste sobre José Serra em 2002 deu início a 13 anos, quatro meses e 12 dias de jugo lulopetista.

 

Em 2018, um combo de mau militar e parlamentar medíocre, travestido de patriota e empunhando a bandeira de salvador da pátria, foi eleito para evitar que o Brasil fosse presidido pelo preposto-bonifrate do então presidiário mais famoso do país. Acabou que sua péssima administração e seu viés golpista deram azo à "descondenação" do xamã petista, que retornou ao Palácio do Planalto em 2023 porque reeleger Bolsonaro seria ainda pior. Em qualquer democracia que se desse ao respeito, esse refugo da escória da humanidade teria sido deposto da Presidência. Mas faltou combinar com os chefes de turno da Câmara — Rodrigo Maia e Arthur Lira arquivaram mais de 140 pedidos de impeachment — e com o antiprocurador-geral Augusto Aras — que fez ouvidos moucos a dezenas de denúncias por crimes comuns durante a pandemia de Covid. E deu no que está dando.

 

Inconformado com a derrota nas urnas, Bolsonaro articulou um golpe de Estado para se perpetuar no poder. A intentona não prosperou por falta de adesão incondicional das Forças Armadas, mas o Estado Democrático de Direito, gravemente ferido, ainda amarga as sequelas do golpe fracassado e do funesto 8 de janeiro. O uso da tornozeleira eletrônica e as demais medidas cautelares impostas pelo STF deixaram-no a um passo de uma eventual prisão preventiva. O julgamento que decidirá seu futuro (bem como o de sete integrantes do alto comando do golpe) deve ocorrer no mês que vem, e a condenação (que pode ultrapassar 40 anos de reclusão) é tida como favas contadas.


Observação: Moraes finalmente decretou a prisão domiciliar do imbrochável, incomível, imorrível e inelegível aspirante a golpista. Como ele não poderá sair de casa nem mesmo antes das 19h, nossas ruas ficarão mais seguras. Ou nem tanto: bolsonaristas despirocados saíram em carreata por avenidas de Brasília e proveram um "buzinaço", ontem à noite, defronte à residência do "mito" no bairro Jardim Botânico (DF). Visando preparar a opinião pública para a notícia e evitar fornecer matéria-prima para vitimismo do capetão, o ministro decidiu conduzir o réu à cadeia em suaves prestações. 

Não restam dúvidas de que Bolsonaro escarneceu da Justiça e desrespeitou as medidas cautelares inicialmente impostas por Xandão. Zero um — também conhecido como "senador das rachadinhas e mansões milionárias" — assumiu a responsabilidade pela divulgação das imagens e o áudio, mesmo tendo sido alertado pelos advogados para o risco de o estratagema não funcionar. Zero dois — tido como pitbull do clã e ex-comandante do "gabinete do ódio" — teve um piripaque quando soube da prisão do pai e foi atendido em um hospital da Barra da Tijuca (zona sul carioca). Mas e daí? Eu não sou coveiro... 

O descumprimento foi de uma clareza meridiana, mas a polarização divide os brasileiros em dois grupos que apoiam seus respectivos bandidos de estimação — aquele que foi "descondenado" e aquele que está aguardando a sentença. Assim, não faltarão críticos à decisão de Moraes. 


Ainda assim, milhares de lunáticos descerebrados continuam atendendo aos chamados do pastor Silas Malafaia, do presidente do PL e do líder do partido na Câmara. No último domingo, cerca de 37 mil abilolados ocuparam duas quadras da mais paulista das avenidas para pugnar por uma inconcebível e inadmissível anistia — bem menos que os 185 mil de fevereiro de 2024, mas mais que o dobro dos que compareceram ao ato de 29 de junho deste ano na mesma avenida. E como nada é tão ruim que não passa piorar, 33 senadores são favoráveis ao impeachment de Alexandre de Moraes, 29 são contra e 19 seguem indecisos (segundo levantamento feito por sites alinhados com a direita radical). 

 

Nos 134 anos de história do STF, nunca um ministro perdeu a toga por causa de um processo de impeachment — mas para tudo há uma primeira vez. Some-se a isso as ações do filho 03 do ex-presidente e do neto do último ditador do regime militar, que resultaram no "tarifaço" decretado pelo chefe da Casa Branca contra o Brasil — não por razões econômicas, mas como retaliação pela suposta “caça às bruxas” que o STF estaria promovendo contra Bolsonaro, seus cúmplices e demais "milicianos" da direita radical.

 

As sanções impostas ao Brasil e o cerco financeiro a Moraes — passível de ser estendido a outros ministros do STF — demonstram que não se pode desdenhar da aptidão de certos seres deformados para produzir o mal, além de evidenciarem que é justo — e até “ameno” — o rigor da Corte com uma escória que foi capaz de engendrar planos de prisão e assassinatos para tentar não só contrariar a vontade popular expressa em eleição livre, mas também derrubar os preceitos de democracia reconquistada a duríssimas penas.

 

O “Brasil acima de tudo” é uma balela, como restou demonstrado na ofensiva da direita extremada liderada por Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo. Os dois foram subestimados enquanto a crítica à rigidez do STF, da PF e da PGR na condução da investigação e do julgamento dos crimes de lesa-pátria foi superdimensionada. Mas nunca é tarde para corrigir o rumo da abordagem dos acontecimentos que desembocam num fato: de um lado, há infratores; de outro, operadores da lei. Não é difícil escolher junto a qual tipo de vizinhança devemos nos postar.

 

A Justiça, ainda que cega, tem seus meios — e a política, ainda que polarizada, seus próprios métodos — para extirpar de seu seio os criminosos de alto coturno. A despeito do êxito momentâneo dos conspiradores, o efeito pode ser temporário se os brasileiros conseguirem reconhecer o risco de dar asas a cobras que, tratadas com complacência, voltarão a atacar. Resta ao eleitorado primar pelo discernimento na hora do voto, deixando Pandora e sua caixa na mitologia grega, que é o lugar ao qual elas pertencem.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 40ª PARTE

QUANDO VOCÊ COMEÇA A ENGOLIR SAPOS, OS SAPOS ACABAM VIRANDO SUA DIETA.

As viagens no tempo são o fruto mais cobiçado da árvore da relatividade. Embora viajemos para o futuro, segundo a segundo, desde o momento em que nascemos, avançar ou retroceder como nos filmes de ficção científica exigiria uma máquina do tempo ou uma espaçonave capaz de alcançar velocidades próximas à da luz (devido à dilatação temporal). 

 

Outras maneiras seriam fruir da dilatação gravitacional do tempo proporcionada pelo horizonte de eventos de um buraco negro ou atravessar um buraco de minhoca. Em ambos os casos, alguns minutos no referencial do hipotético viajante corresponderiam a décadas, séculos ou milênios no referencial de um observador externo.


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Quem tem ao menos dois neurônios funcionando e ouviu o discurso que o ministro Alexandre de Moraes proferiu na reabertura dos trabalhos do STF não teve dificuldade em perceber que Eduardo Bolsonaro segue à risca os passos pai — passos que, ao que tudo indica, conduzem à cadeia. Sem citar o nome do deputado foragido, o magistrado referiu-se a ele como integrante de uma “organização criminosa” que atua nos EUA “de maneira covarde e traiçoeira”, promovendo “agressões espúrias e ilegais” com o objetivo de provocar uma “grave crise econômica no Brasil” — e de produzir provas contra si próprio. Disse que ele e o neto do ex-presidente Figueiredo acreditam estar lidando com milicianos, mas advertiu-os de que estão lidando com ministros da Suprema Corte brasileira e acusou-os de repetir o já conhecido “modus operandi golpista”.
Xandão deixou claro que vai “ignorar” as sanções que lhe foram impostas por Trump, que pressionar por pedidos de impeachment de ministros do STF e pela aprovação de uma anistia — inconstitucional, segundo ele — não adiará o julgamento do processo, previsto para o mês que vem. 
Ficou subentendido que Bobi Filho, atualmente investigado por coação no curso do processo penal, obstrução de investigação contra organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e atentado à soberania, já pode ser considerado uma condenação criminal esperando na fila para acontecer.

Se você quiser saber quem vencerá as próximas eleições presidenciais, escolha uma dessas opções e boa viagem. Mas marcar presença na posse de Deodoro da Fonseca é mais complicado. Ainda que a relatividade não descarte a possibilidade de revisitar o passado, nem tudo o que funciona nas equações se traduz bem na prática.

Uma das apostas teóricas são as chamadas curvas fechadas do tipo tempo (CTCs) — trajetórias no espaço-tempo que, segundo certas interpretações, poderiam surgir a partir da rotação do próprio Universo. Nessas curvas, passado e futuro se unem como largada e chegada num circuito oval — como o de Indianápolis. Em tese, seria possível refazer o mesmo trajeto temporal indefinidamente, mas isso nos coloca diante de um paradoxo: percorrer uma CTC não seria o mesmo que reviver os mesmos eventos repetidas vezes? Algo parecido com o que acontece com Doctor Who no episódio Heaven Sent, quando o 12º Doutor Who fica preso num looping temporal causado pelo uso contínuo de um teletransportador? Por mais que pareça uma forma de "voltar no tempo", repetir exatamente a mesma sequência de eventos ad aeternum talvez seja mais castigo do que conquista. 

Teoria das Cordas sustenta que o Universo é composto por pequenas cordas muito finas, mas extremamente densas. Elas vibram de diferentes maneiras, dando origem a diferentes partículas e interações. Movendo-sem em direções opostas, a uma velocidade próxima à da luz, elas poderiam distorcer o espaço-tempo, criando um loop que permitiria retornar ao passado sem violar as leis da física. Mas vale destacar que ainda não existem evidências de que essas cordas cósmicas existam, nem de que as viagens no tempo por meio de loops no espaço-tempo sejam factíveis. 

 

Até aqui, falamos sobre viajar no tempo à luz da relatividade, que descreve o comportamento de grandes objetos, enquanto a mecânica quântica se aplica ao universo as partículas, como elétrons e fótons. Como as leis da física tradicional não se aplicam em escalas microscópicas, uma alteração no estado de uma partícula pode influenciar instantaneamente outra partícula "entrelaçada" em outro lugar (efeito que Einstein chamou de "ação fantasmagórica à distância"). Esse fenômeno — que já foi demonstrado várias vezes em pesquisas vencedoras do Prêmio Nobel — contraria nosso entendimento de que os eventos acontecem do passado para o presente e deste para o futuro, e nessas peculiares configurações quânticas as informações podem viajar para o futuro e retornar ao passado. 

 

O problema é que a relatividade e a mecânica quântica funcionam bem cada qual no seu quadrado, e uma teoria que as unifique em uma única estrutura matemática coerente ainda não foi desenvolvida, a despeito de décadas de esforços nesse sentido. Em nossa compreensão atual do Universo, podemos potencialmente viajar para o futuro, mas visitar o passado é outra conversa: eventos que influenciam a si mesmos geram paradoxos temporais, como o célebre paradoxo do avô, que afrontam a conjectura de proteção cronológica, e a hipótese da censura cósmica sugere que as próprias leis da física atuam para ajustar essas incongruências, preservando a causalidade no Universo. 

 

A única certeza que temos — além do fato de que o tempo se dilata, a massa dos corpos aumenta e espaço se contrai — é que não temos certeza de nada. Mas é justamente essa incerteza que instiga os cientistas a investigar incansavelmente o mundo que nos cerca. 

domingo, 3 de agosto de 2025

CARNE MOÍDA: UM CORINGA NA COZINHA

VOCÊ SE TORNA ETERNAMENTE RESPONSÁVEL POR AQUILO QUE CATIVA.

Carne moída na cozinha é como coringa no jogo de canastra: além de ser a base do quibe cru, do steak tartare, do rocambole de carne e do clássico molho à bolonhesa, ela também serve para rechear pastéis, tortas, panquecas, pimentões… e por aí vai.

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Réus por tentativa de golpe de Estado têm alegado que documentos e registros de mensagens de incentivo a um levante eram cogitações individuais sem consequências práticas — uma estratégia de defesa válida, mas de difícil digestão para quem tem dois neurônios funcionais e ainda mais improvável de ser engolida pelos ministros do STF. 

Não tendo havido golpe, não houve crime, argumentam os pensadores — que, se pensaram, logo existiram como articuladores de uma intentona. Mas há abundância de provas de que a coisa foi além de elucubrações golpistas, mesmo porque os que se imputavam a condição de meros teóricos deram-se àquelas conjecturas de dentro do Palácio do Planalto e cercanias, com aval do então presidente da República. 

Pegos com a boca na botija, os autores da trama agora alegam terem feito considerações inofensivas. Resta convencerem a Justiça de que não foram altamente ofensivas à saúde democrática do Brasil.


Para refogar a carne sem que ela libere muita água, o ideal é dividi-la em porções menores e temperar apenas no final do processo. Mas vamos por partes, como diria o Chico Picadinho.

Aqueça bem uma frigideira larga e de fundo grosso, regue com um fio de azeite, adicione uma porção da carne (ainda sem tempero), espalhe bem e deixe fritar até que a água evapore e a carne comece a dourar, formando aquela crostinha saborosa. Só então você deve mexer, para que fique dourada por igual. Ao final, reserve e repita o processo com as demais porções.

Na mesma frigideira, refogue cebola, alho, tomate e pimentão previamente picados. Acrescente uma colher de extrato de tomate e deixe cozinhar, sem mexer, por 3 a 4 minutos, ou até que o extrato caramelize e escureça, potencializando o sabor. Devolva a carne à frigideira, misture bem e tempere com sal, pimenta e as especiarias de sua preferência — cominho, páprica, pimenta-calabresa ou noz-moscada são ótimas opções.

Aumente o fogo, adicione um pouco de vinho tinto e cozinhe por cerca de 3 minutos, até que o álcool evapore completamente. Acrescente algumas folhas de louro e cozinhe por mais alguns minutos, para apurar o sabor. Descarte o louro, salpique salsinha ou cebolinha verde picadas, misture bem e sirva com arroz ou use como base para molhos, recheios e outras preparações.

Observação: Se você mexer a carne antes de ela selar, o líquido liberado impedirá a formação da desejada crosta dourada. Outro erro comum é juntar a cebola, o alho e o sal antes de selar a carne, pois isso fará com que ela solte ainda mais líquido e acabe cozinhando no vapor, em vez de fritar.

Se quiser uma carne moída mais soltinha e sequinha, escolha cortes com menos gordura, como patinho ou coxão mole. Já para preparações mais suculentas, cortes com um pouco mais de gordura, como o acém, são ideais.

DICAS: Clique aqui para acessar a postagem que ensina a fazer quibes (crus, fritos e de bandeja), aqui para aprender a fazer steak tartare, aqui para conferir uma receita de almôndegas e aqui para saber como preparar delicioso molho à bolonhesa, que vai bem com massas em geral (macarrão, nhoque, lasanha) e deixa o bife à parmegiana ainda mais saboroso.

sábado, 2 de agosto de 2025

WINDOWS 10 — FIM DO SUPORTE — A NOVELA CONTINUA

POLÍTICA É A ARTE DE ENGOLIR SAPOS, PEDIR VOTOS AOS POBRES, RECURSOS FINANCEIROS AOS RICOS, E DEPOIS MENTIR PARA AMBOS.

Em junho de 2021, a Microsoft anunciou o lançamento do Windows 11 e informou que o suporte ao Windows 10 seria encerrado em 14 de outubro de 2025. 


A expectativa era de que todos os computadores compatíveis estivessem rodando o Windows 11 em meados de 2022, mas faltou "combinar com os russos": a menos de três meses do prazo final, a versão anterior continua abocanhando 68% do mercado mundial de PCs — contra 27% da atual e 4,5% das versões 8.1, 7, Vista e XP somadas.


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A morte, em 2009, do advogado russo Sergei Magnitsky nos porões do regime de Vladimir Putin deu início a uma campanha mundial que resultou, três anos depois, na criação da lei que leva seu nome. Concebida como um mecanismo internacional para isolar financeiramente ditadores, violadores graves dos direitos humanos e corruptos em larga escala, a Magnitsky Act foi sancionada pelo então presidente Barack Obama — e transformada em arma política por Donald Trump, que a usou contra o ministro Alexandre de Moraes em retaliação ao processo contra Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

Os discursos de desagravo em resposta à ofensiva deram à sessão de reabertura do Supremo, após o recesso de julho, um ar de reprise do day after da Festa da Selma. A diferença é que, desta vez, o mecânico Fábio Alexandre de Oliveira — que se sentou na cadeira de Xandão e gritou “é o povo que manda nessa porra” — disse à PF, depois do quebra-quebra, que era tudo “brincadeira”. Mas a Magnitsky é coisa séria.

A família Bolsonaro, em aliança com Trump, tenta novamente virar a página da história para trás — num novo surto da psicose do que ainda pode acontecer. Os fatos que levaram ao 8 de janeiro deram ao Brasil a oportunidade de um novo começo. O dilúvio de irracionalidades poderia ser interpretado como uma intervenção divina para punir o país por seus erros e forçá-lo a se repensar. O diabo é que alguns brasileiros não querem se reinventar. No caso do clã Bolsonaro, não se esperava por exames de consciência ou atos de contrição, mas ao menos se imaginava que o instinto de sobrevivência os levaria à autocontenção.

bolsotrumpismo — cruzamento do arcaísmo de Bolsonaro com o instinto imperial de Trump — restaurou momentaneamente a atmosfera de anormalidade, transformando o 8 de janeiro num dia interminável, um prólogo eterno. Para evitar novos dilúvios, o Supremo se equipa para condenar, já em setembro, o ex-presidente golpista e os cúmplices mais próximos do núcleo crucial.

É imperativo virar rapidamente essa página — só que para a frente.

 

O Windows "nasceu" em 1985 como uma interface gráfica que rodava sobre o MS-DOS e se tornou o sistema operacional para PCs mais popular do planeta — não sem amargar fiascos monumentais (Windows ME, Vista e 8/8.1) em contraste com sucessos retumbantes (Windows 95, 98/SE, XP, 7 e 10). Nenhuma versão, no entanto, teve o ciclo de vida encerrado antes que sua sucessora se consolidasse no mercado.

 

O Windows 7 levou apenas um ano para superar o Vista. Já o Windows 10, lançado como serviço em 2015, foi incumbido da missão de alcançar 1 bilhão de instalações em três anos, mas demorou cinco, e nada indica que será superado pelo Windows 11 no curto prazo, a despeito do fim da sua vida útil obrigar mais de 200 milhões de usuários a decidir se continuam usando um PC que não recebe novas atualizações de segurança, contratam um plano de suporte adicional ou trocam de sistema operacional.

 

Embora seja possível forçar a instalação do Windows 11 em máquinas que não atendem às exigências impostas pela Microsoft, nada garante que o upgrade será bem-sucedido — e que o computador não se tornará uma "carroça", o que invariavelmente ocorre com aparelhos que utilizam jurássicos drives de disco rígido.

 

Diante da perspectiva (nada alvissareira) de centenas de milhões de PCs se tornarem toneladas de lixo eletrônico, a empresa criou programas de suporte estendido e ofereceu como alternativa adotar uma versão do Win10 Enterprise — como a LTSC 2021, baseada na versão 21H2 e com suporte até janeiro de 2027 —, mas ambas as opções custam dinheiro e apenas empurram o problema com a barriga. 

 

Observação: Vale frisar que essa celeuma poderia ter sido evitada se a empresa desvinculasse o upgrade da exigência do TPM 2.0 — processador de criptografia destinado a robustecer a segurança durante a inicialização do sistema —, mas ela insiste que ele é necessário para manter o Windows 11 seguro.

 

No início deste ano, a Microsoft removeu um método oficial que permitia a instalação do Windows 11 em PCs sem TPM 2.0. Dias atrás, uma notificação via Windows Update passou a oferecer o upgrade para PCs sem TPM 2.0. A gigante do software disse que não fez mudanças nos pré-requisitos e que a exigência do TPM 2.0 continua valendo. Assim, mesmo que a atualização seja oferecida, a instalação pode falhar.

 

várias maneiras extraoficiais de fazer a migração, mas convém ter em mente que elas podem deixar seu computador instável. Como seguro morreu de velho, quem não quer comprar um PC novo nem mudar de sistema operacional pode contratar um plano de suporte estendido (ESU, na sigla em inglês), que custa US$ 30 por ano (renovável por mais um ano). De acordo com a Microsoft, essa liberação está acontecendo de modo progressivo, e os usuários receberão notificações via Windows Update ou na área de configurações do Windows 10.

 

Resumo da ópera: o que era para ser um fim de suporte virou novela — e, como toda boa novela, ainda deve render alguns capítulos extras antes do "último episódio". Enquanto isso, só me resta desejar boa sorte a quem ainda não resolveu se casa ou se compra uma escada.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

RELIGIÕES, VAGALUMES E MAIS UMA TEORIA SOBRE GRAVIDADE

DEBATES ENTRE PESSOAS RAZOÁVEIS NÃO GERAM CONFLITOS, GERAM NOVAS IDEIAS.

A exemplo dos vaga-lumes, que precisam de escuridão para brilhar, as religiões reluzem em meio à ignorância. Elas prosperam onde faltam respostas, o que as torna úteis para os poderosos, que lhes dão ares de verdade para ludibriar os incautos — que deveriam questioná-las, pois é a partir da reflexão que se alcança uma espiritualidade mais ampla e profunda. 

 

Toda religião é a verdade absoluta para aqueles que a professam e não passa de fantasia para os devotos das outras seitas. Em pleno século XXI, doutrinas as mais inverossímeis têm hostes de descerebrados que defendem seus rituais e liturgias como os fanáticos polarizados que, de um lado, defendem um ex-presidente golpista, e de outro, um "ex-corrupto descondenado por conveniência". 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Em seu pronunciamento inaugural na Casa Branca, Franklin D. Roosevelt ensinou que "a única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo". John Kennedy declarou, também num discurso de estreia: "Nunca negociemos por medo, mas nunca tenhamos medo de negociar". Lula declarou ao Times que "todo mundo sabe" que ele tentou entrar em contato com Trump e que o interesse não foi recíproco. Não há força no universo capaz de deter a maledicência segundo a qual o despresidente brasileiro não se esforçou para desfazer o mal-estar que ele próprio criou ao expor sua preferência por Kamala Harris durante a sucessão americana. 

Em meio ao faroeste tarifário, importa mais a qualidade da resposta do que a rapidez no gatilho. Ao abrir o paiol da Casa Branca, Trump atenuou a sanção econômica e potencializou o caráter político do ataque, impondo ao ministro Alexandre de Moraes uma asfixia financeira em resposta ao drama criminal de Bolsonaro, tratado pela calopsita do penacho alaranjado como vítima de uma ficcional "caça às bruxas". 

Ao abrir 694 exceções à lista de produtos sujeitos à tarifa de 50%, Trump sinalizou que não rasga dinheiro, proporcionando ao governo e à Bolsa de Valores um suspiro de alívio. Na política, o ataque grudou em Jair e Eduardo Bolsonaro a pecha de traidores da pátria e estilhaçou os planos da direita brasileira ao converter Bobi Pai e Bibo Filho em cabos eleitorais de Lula.

De resto, o aspirante a golpista conta os dias que faltam para seu julgamento e provável condenação. Não será uma decisão de Xandão, Trump tenta fazer crer, mas da Primeira Turma do STF. 

 

Ainda que a existência de um ente superior seja admissível, como conciliá-la com a figura burlesca de um "criador" que concede livre-arbítrio às criaturas para depois recompensar as "boas" com a vida eterna no paraíso e punir as "más" com o fogo do inferno? 


Aristóteles ensinou que "o sábio duvida e o sensato reflete", e Platão, no Mito da Caverna, que a sabedoria e o conhecimento estão além das aparências superficiais. Mas argumentar com quem renunciou à lógica é como dar remédio a defunto.

 

A verdadeira beleza da ciência não está nas respostas, mas nas novas perguntas que cada resposta suscita. Nos meus tempos de escola, o Sistema Solar era formado por 9 planetas e somente Saturno tinha anéis. Em 2006, Plutão foi rebaixado a "objeto transnetuniano". Hoje , sabe-se que Júpiter, Urano e Netuno também são circundados por anéis, embora menos proeminentes do que os de Saturno. 


Em outras palavras,  muito do que valia ontem pode não valer hoje, e muito do que vale hoje pode não valer amanhã.

 

Curiosamente, algo semelhante vem acontecendo com a matéria escura, que nunca foi observada diretamente, mas cuja existência é aceita porque sem ela as equações de Einstein perderiam o sentido. Isso nos leva à seguinte pergunta: será que os físicos a estão tratando - e a outros temas controversos - como dogmas científicos, furtando-se a questionar conceitos "não-pacíficos" simplesmente porque "eles já foram estabelecidos"?

 

A matéria escura e energia escura compõem 95% do cosmos; a primeira mantém as galáxias coesas e a segunda atua como uma força repulsiva, afastando as galáxias umas das outras e acelerando a expansão do Universo. No entanto, um estudo publicado recentemente por pesquisadores do Observatório Leiden, na Holanda, contesta a existência da matéria escura e questiona se não se está justificando um modelo que já não se sustenta.

  

Newton revolucionou o conceito de gravidade ao perceber que a mesma força que derruba uma maçã rege os movimentos celestes. Einstein expandiu essa ideia ao demonstrar que a gravidade deforma o espaço-tempo como uma cama elástica é curvada pelo peso de um corpo. E agora temos uma nova revolução.

 

A teoria do físico alemão tem aplicações práticas — foguetes, GPS, satélites, etc. —, mas falha ao tentar explicar o mundo subatômico. Para lidar com isso, a existência da matéria escura foi pela primeira vez em 1930 pelo físico Fritz Zwicky reforçada pelos estudos da astrônoma Vera Rubin


Assim, a exemplo do que fez o ministro Edson Fachin ao anular as condenações de Lula escorado numa incompetência territorial que ele próprio já havia rejeitado em pelo menos dez julgamentos, os cientistas teriam "fabricado" um conceito sob medida para dar sentido à teoria de Einstein e obter uma explicação quase perfeita para o Universo (quase, porque faltou explicar o mundo subatômico).

 

Recentemente, um artigo publicado pelo físico Erik Verlinde — especialista em Teoria das Cordas da Universidade de Amsterdam e autor da teoria da gravidade alternativa que foi testada com sucesso pelos pesquisadores do Leiden — sugere que a gravidade não é uma força fundamental da natureza, e sim um efeito emergente da tendência do universo ao caos (entropia). 


Segundo ele, os físicos não acreditam na existência da matéria escura com base em observações, mas por não haver evidência teórica ou argumento conceitual capaz de explicar as leis de Newton e Einstein à luz de novos fenômenos que vêm sendo observados. 


Se a gravidade não funciona no mundo subatômico, por que recorrer a conceitos artificiais para dar sentido a ela ao invés de pensá-la de modo diferente, unindo a Teoria das Cordas com a Termodinâmica? Para testar essa ideia, os pesquisadores analisaram a densidade de 33.613 galáxias, compararam os dados com os cálculos de Verlinde e conseguiram explicar as anomalias gravitacionais sem precisar da matéria escura, algo que Einstein nunca conseguiu. 


Como qualquer teoria emergente, ainda há questões em aberto, e enquanto elas não forem respondidas, Newton e Einstein poderão dormir tranquilos seu sono eterno.

 

Resumo da ópera: O avanço do conhecimento sempre encontra resistência. Assim como dogmas religiosos se impõem sobre a razão, certas ideias científicas se tornam intocáveis, mesmo quando novas evidências sugiram caminhos diferentes. 


Se a história da ciência nos ensina algo, é que nenhuma "verdade" é eterna. Afinal, a luz do conhecimento não brilha onde há certezas absolutas, mas onde há perguntas que ainda precisam ser feitas e respondidas.