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domingo, 5 de abril de 2020

COVID-19 — EDIÇÃO REVISTA E ATUALIZADA DA GRIPE ESPANHOLA?



Além da pena primorosa, Roberto Pompeu de Toledo tem um olhar arguto para as coisas do Brasil. Após reconstituir em A capital da solidão a história de São Paulo das origens a 1900, o jornalista e escritor narra em A capital da vertigem sua arrancada rumo à modernidade. Num painel que vai do início do século XX ao 100.º aniversário da cidade, aparecem personagens como Oswald e Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Washington Luís, Prestes Maia e Francisco Matarazzo, e surgem episódios que vão da Semana de Arte Moderna de 1922 à epidemia de gripe espanhola — que eu reproduzo a seguir por motivos cuja obviedade dispensa explicações.

1918 foi no Brasil, e especialmente em São Paulo, o ano dos quatro “Gs”: geada, gafanhotos, guerra e gripe. A geada devastou as plantações de café. Uma praga de gafanhotos completou a devastação. A guerra na Europa inaugurou nesse ano a participação brasileira, ainda que modesta. Para fechar a conta das desgraças, recebemos, por cortesia dos navios que chegavam a nossos portos, a visita da gripe, chamada “espanhola”, que corria o mundo. O Rio de Janeiro, em meados de outubro, exibia aspecto desolador. Até as farmácias fechavam, por falta de funcionários sãos. Nos cemitérios escasseavam coveiros, e caixões eram depositados no chão. Em Santos, uma semana após o primeiro caso, os infectados eram 4000. Em São Paulo um hóspede carioca do Hotel dOeste, no Largo de São Bento, foi diagnosticado com a doença no dia 9 de outubro. Era o primeiro caso. No dia 16 havia 29; no dia 23, 1144; no dia 4 de novembro, 7786.

São Paulo contava cerca de 550000 habitantes; o Rio de Janeiro, 1 milhão; e o Brasil, 30 milhões. Nos últimos dias de outubro São Paulo igualava-se ao Rio, no aspecto desolador. Boa parte do comércio fechara as portas, fosse por falta de fregueses, fosse de funcionários. O jornal A Gazeta observava, no dia 23 de outubro, que o “elemento feminino” sumira das ruas: “Não existe há vários dias o footing que emprestava ao centro de nossa urbs, das 16 às 18 horas, um aspecto encantador, cheio de carinhas risonhas, deliciosas de graça e de beleza”. A letalidade, de início, era baixa, a ponto de o jornal O Estado de S. Paulo, no dia 19, fazer pouco do problema: “Basta, como resistência à moléstia, tomar, com rigor, as poucas e fáceis precauções aconselhadas pelos médicos da cidade. Quanto ao resto, não se preocupar e falar do morbo o menos possível, procurando manter em redor uma atmosfera de tranquilidade e confiança”.

As precauções eram evitar aglomerações, não fazer visitas, evitar esforço físico (acreditava-se que diminuíam a resistência à doença). A primeira morte ocorreu em 21 de outubro. A 2 de novembro eram 141 e nos dias seguintes aproximavam-se de 200. O então precário sistema de saúde precisou de reforço. Montaram-se hospitais improvisados em colégios como o Sion, o São Luís e o Mackenzie, e em sedes de clubes como o Palestra Itália e o Paulistano. O Corinthians, num humilde comunicado, afirmou que, “apesar de sua insignificante valia”, se sentia na obrigação de concorrer “para o alívio dos infelizes operários atacados pela pandemia”. Sendo assim, apesar de “pobre por sua natureza”, conclamou os sócios e os admiradores a uma vaquinha para socorro.

As baixas atingiam os detentores de postos-chave. O delegado-geral Tirso Martins pegou a gripe e passou o cargo a seu segundo, que também pegou a gripe. A dama da sociedade Antônia de Queirós, presidente da Cruz Vermelha paulista, também caiu gripada; sua substituta teve a mesma sorte, e a substituta da substituta. Na redação de O Estado de S. Paulo, o diretor Júlio de Mesquita adoeceu e entregou o bastão aos filhos, o segundo Júlio e Francisco; estes o repassaram aos seguintes na cadeia de comando, e assim foi até que um simples amigo dos jornalistas, o jovem escritor, ainda inédito, Monteiro Lobato, assumiu, por conta própria, a chefia de uma redação deserta.

O escritor Paulo Duarte escreve, em suas memórias, que na Rua da Consolação passavam filas de caminhões levando cadáveres: “Esta paisagem tornou-se rotina. Já não se prestava atenção naqueles montes de caixões de defunto, todos iguais, uns sobre os outros”. Para atender à demanda, ampliaram-se os cemitérios da Consolação, do Araçá e do Brás, e abriu-se um novo, na Lapa. Luzes foram neles dispostas às pressas, para tornar possíveis enterros à noite. Uma vala comum, aberta no cemitério do Brás, recebeu 337 corpos, sem caixões. Na maioria vieram do hospital improvisado na Hospedaria dos Imigrantes, onde foi internada grande parte da população pobre. Nos bairros populares, mais que a doença, temia-se a Hospedaria dos Imigrantes. Espalhava-­se que ali se aplicava o “chá da meia-­noite”, para apressar a ida dos pacientes desta para a melhor.

A 19 de dezembro declarou-se encerrada a epidemia, depois de 66 dias. Na conta oficial, 116777 pessoas foram infectadas na cidade e 5331 morreram. Cálculos extraoficiais fazem o número de infectados avançar a até 350000, o que corresponderia a dois terços dos habitantes.”

sábado, 4 de abril de 2020

EM QUEM ACREDITAR?

Para Bolsonaro, depois de Deus e de Olavo de Carvalho (não necessariamente nessa ordem), vem Donald Trump, que nosso presidente macaqueia sempre que possível, talvez por ambos estarem focados na reeleição e agirem como biruta de aeroporto. Só que a nossa biruta desafia a lei da física apontando contra o vento. Trump, num inesperado surto de bom senso, estendeu até o final de abril o isolamento em Nova York (epicentro da pandemia do coronavírus nos EUA, com quase metade do total de casos de coronavírus registrado no país), Nova Jersey e partes de Connecticut, que pretendia suspender já no domingo de Páscoa.

 Bolsonaro ora apoia o confinamento, ora o rejeita, ao arrepio das orientações de seu ministro da saúde e da própria OMS, e na contramão do que vem fazendo os mandatários de quase 195 países. Na última quinta-feira, afirmou que "nenhum ministro meu é 'indemissível' e Mandetta tem que ouvir mais o presidente", achando, talvez, que o ouvido do médico seja penico. Disse ainda que "falta humildade" ao ministro da Saúde (este, ao ser perguntado a propósito, disse que estava trabalhando e não viu a entrevista), e que tem decreto pronto para reduzir o isolamento, e só está esperando o povo pedir mais.

Observação: Segundo a revista digital Crusoé, Mandetta afirmou não se importar com o que Bolsonaro fala e pensa, "que o presidente pode dizer o que lhe der na telha, desde que ele [Mandetta] tenha carta branca para gerir a crise e manifestar suas opiniões". 

Situações desesperadoras exigem medidas desesperadas, mas a diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem: se insuficiente, a droga não cura; em excesso, pode matar. A Covid-19 é algo inusitado — exceto para uns poucos macróbios que já se conheciam por gente no biênio 1918/20, quando a gripe espanhola contaminou quase 30% da população mundial e matou dezenas de milhões de pessoas. É certo que a medicina e a tecnologia evoluíram muito desde então, mas a questão é que, cinco meses atrás, ninguém sabia da existência de um tal de SARS-Cov-2 — se é que ele já existia.

Para J.R. Guzzo — por quem eu tenho grande admiração, ainda que não concorde sempre com suas opiniões —, "a OMS não passa de um cabide de empregos que serve de esconderijo, na segurança da Suíça, para marginais que frequentam os galhos mais altos de ditaduras africanas e outros regimes fora-da-lei, um agrupamento político a serviço de interesses terceiro-mundistas, antidemocráticos e opostos à liberdade econômica, embora seja tida no Brasil como 'autoridade em saúde mundial' por ser um órgão da ONU".

A meu ver, Guzzo tem razão em parte. Basta lembrar que em 2018, a pedido da defesa de Lula, o Comitê de Direitos Humanos da ONU recomendou ao Brasil que garantisse ao criminoso o direito de disputar as eleições, numa clara ofensa à soberania nacional. Por outro lado, as recomendações da OMS vêm sendo avalizadas por cientistas, epidemiologistas e pesquisadores do mundo inteiro, e achar que todos estão errados e que a sumidade que elegemos presidente é o único do batalhão que está marchando com o passo certo seria ignorar os princípios mais elementares da lei das probabilidades.

Diferentemente do país comunista onde surgiu, o SARS-Cov-2 é democrático e comunitário. Já infectou ricos e pobres, nobres (o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, e o príncipe Alberto II, de Mônaco, por exemplo) e plebeus. No Brasil, afrouxar as medidas de isolamento (ou distanciamento, melhor dizendo) a esta altura, quando os especialistas preveem que nas próximas semanas a velocidade de contaminação deve aumentar, atingir o ápice entre meados e final de abril, estabilizar-se em maio e declinar progressivamente a partir de então (com alguma sorte, tão rapidamente quanto cresceu) seria uma cretinice, da mesma forma que manter o arrocho por mais tempo que o necessário, já que isso levaria as empresas a respirar por aparelhos e, ao final, sobreviveriam apenas as mais fortes. 

Tratar a Covid-19 como uma “gripezinha” é mais uma demonstração de ignorância do nosso mandatário, mas, de novo, o "X" da equação é dosar adequadamente o remédio, que precisa combater a pandemia sem exterminar a economia. Médicos do mundo inteiro têm feito um esforço conjunto e quase sobre-humano para encontrar uma solução preventiva (vacina) ou curativa (remédio). Na China, onde a Covid-19 surgiu, hospitais foram construídos a toque de caixa (o primeiro começou a funcionar apenas dez dias depois do início das obras). Ao que tudo indica, o vírus já concluiu seu ciclo naquele país, que, aos poucos, começa a retomar a vida normal. 

Mortes são inevitáveis — como disse Bolsonaro, com a sutileza de um elefante numa cristaleria —, mas é possível reduzi-las consideravelmente evitando o colapso do sistema de Saúde. E é por isso que todos cantam em coro o refrão do distanciamento social, que, gostemos ou não, ajuda a frear a contaminação e, consequentemente, retarda a demanda por leitos hospitalares. Mas é bom lembrar — e a imprensa, salvo raras exceções, não tem dado o devido destaque a alguns detalhes importantes, tais como: 1) 202.935 pessoas infectadas já se recuperaram e estão imunizadas, segundo dados da universidade americana Johns Hopkins (isso sem contar as assintomáticas, que nem se deram conta de que tiveram a doença); 2) China é a líder em números de cura, com mais de 76 mil pessoas recuperadas, seguida pela Espanha, com 26.743 curados, pela Alemanha, com 19.175 e pela Itália, com 16.847. 3) No Brasil, 127 pessoas foram curadas até o momento. Veja mais no vídeo a seguir.


Ontem, o governador Ronaldo Caiado publicou novo decreto prorrogando a quarentena por mais quinze dias, mas representantes do setor empresarial de Goiás afirmam que muitas empresas podem não obedecer e abrir de forma descontrolada, gerando desordem e propiciando o aumento do risco de contaminação. Segundo Caiado, a retomada de atividades não essenciais fica impossibilitada porque a China não enviará mais os equipamentos esperados (devido à pressão feita pelos EUA, que precisam desesperadamente deles). Ainda que Goiás conte com capacidade hospitalar, inclusive com a instalação de hospitais de campanha, o sistema de Saúde não dará conta de atender uma demanda alta com os equipamentos que possui hoje. Aliás, isso não é exclusividade de Goiás; o mesmo acontece no Brasil inteiro.

Voltando ao que escreveu Guzzo, embora soe radical, é difícil discordar se levarmos em conta que durante quatro semanas, ainda em dezembro de 2019, com o SARS-Cov-2 matando à vontade, o governo comunista chinês se furtou a admitir a existência de qualquer problema na cidade de Wuhan, o berço desse pesadelo. Não se tratava de nenhuma discussão acadêmica — era um caso de polícia secreta, como é comum acontecer em ditaduras quando aparecem problemas com os quais o governo não sabe lidar. 

Xi-Jinping não só mentiu, dizendo, repetidas vezes, que não havia epidemia nenhuma, como prendeu médicos e cientistas que alertaram sobre o vírus. Pesquisadores sumiram e nunca mais foram vistos. Laboratórios onde faziam seus estudos sobre o coronavírus foram destruídos. Provas materiais da existência do vírus foram confiscadas pelo governo e desapareceram. Todas as opiniões e conclusões diferentes das aprovadas pelo governo foram proibidas; passaram a ser consideradas “crime”. A China insistiu, até o último minuto, em permitir voos internacionais e em recomendar que os homens de negócio estrangeiros — da Itália, por exemplo — continuassem vindo para o país.

E qual foi, desde o início, a posição da OMS? Dar apoio cego a tudo o que o governo chinês determinou. Qualquer dúvida quanto à epidemia era considerada “preconceito” e “racismo”. A proibição de viagens à China por parte dos Estados Unidos foi oficialmente condenada pela OMS. Qualquer advertência sobre os riscos do coronavírus foram classificados como “agressão econômica” pelo órgão encarregado de cuidar da saúde do mundo. 

Até três semanas atrás, a OMS se recusava a reconhecer a situação de "pandemia". E quem é o diretor-geral da OMS? O etíope Tedros Ghebreyesus, que faz parte do grupo que instalou, anos atrás, uma ditadura selvagem na Etiópia, e se mantém no poder até hoje. Como “ministro da Saúde” do regime, Tedros foi acusado de ocultar uma epidemia de cólera em seu país — pelo jeito, é uma de suas inclinações. E quem foi que colocou esse sujeito no comando da OMS? A China, usando de toda a sua influência dentro da ONU.

Mas tanto presidente do Senado, quanto o ministro Gilmar Mendes e a mídia que imagina saber das coisas nos dizem que eles são a autoridade número 1 da saúde mundial e que precisamos obedecer à OMS. Eis aí o Brasil ignorante, subdesenvolvido e destinado a ser sempre a ser o último a saber. De toda a maciça produção de mentiras, declarações hipócritas e decisões desastrosas, devidas à ignorância ou à má fé, tomadas até agora para enfrentar a pandemia, provavelmente nada iguala a estupidez de autoridades e “personalidades” brasileiras em sua insistência de exigir fé religiosa no que diz a OMS. 

Alcolumbre, quando ainda estava isolado por ter contraído o vírus, advertiu-nos, em tom gravíssimo, das nossas obrigações de seguir em tudo o que o órgão está mandando fazer. Sem que se saiba direito porque, Gilmar Mendes, que por sinal andava esquecido com todo esse barulho, entrou no assunto. “As orientações da OMS devem ser rigorosamente seguidas por nós”, disse o ministro. “Não podemos nos dar ao luxo da insensatez.” Obviamente, nem um nem outro têm a menor ideia do que estão falando. Quanto ao chefe do Senado, naturalmente, é exatamente o que se pode esperar. No caso do ministro, a única coisa que faz sentido dizer é o seguinte: insensato, mesmo, é ouvir o que a OMS diz sobre saúde, por cinco minutos que sejam.

Voltando a Bolsonaro, alguns observadores sugerem que seu comportamento desvairado se deve ao populismo, de olho na reeleição em 2022. Outros atribuem sua falta de coerência à influência dos filhos, sobretudo de 02 — recentemente colocado no comando da comunicação do Planalto —, enquanto outros, ainda, consideram-no mentalmente perturbado e defendem sua interdição e subsequente internação (mais detalhes nesta postagem). Eu, particularmente, acho que nenhum deles está totalmente certo nem totalmente errado. Afinal, há mais coisas entre esse "céu" e essa "terra" do que supõe nossa vã filosofia. 

Que Deus nos ajude a todos.

segunda-feira, 30 de março de 2020

EM TEMPO DE COVID-19, ASSEIO É FUNDAMENTAL



Não, não estou falando em lavar bem as mãos com sabonete ou, na impossibilidade, desinfetá-las com álcool em gel — ou ambas as coisas, pois seguro morreu de velho. Mas morreu. Isso você já deve estar cansado de ouvir, mas continuará ouvindo enquanto não houver uma vacina que previna a Covid-19 ou um medicamente que a cure. Nesse entretempo, a recomendação das autoridades (nem todas, é claro, porque unanimidade e bom senso são artigos tão em falta nas prateleiras do Palácio do Planalto quanto álcool em gel nas dos supermercados) será o isolamento e a desinfecção das mãos quantas vezes for preciso ou tantas quanto possível.

Note que não há garantias de que isso o blindará contra a doença; o que se espera é ao menos evitar que o espraiamento do vírus cause o colapso do sistema de Saúde, porque aí, sim, seria o caos. Daí ser importante você torcer (ou rezar, se tiver fé) para que alguém tire da cartola uma solução que mantenha a economia em animação suspensa até esse maldito pesadelo terminar, ou restará aos brasileiros uma de duas opções: morrer de coronavírus ou de fome. O Brasil precisa encontrar soluções rápidas para que as pessoas não percam a vida nem o emprego. Para chegar lá, faz-se necessária, neste momento, uma poderosa combinação de ciência, equilíbrio, liderança, união e agilidade.

Aproveite sua comunicação com o além — com o Homem lá de cima, Deus, OxaláAláJeová, Krishna, enfim, a divindade ou poder superior em que você crê ou com o qual mais se identifica — para ser um dos abençoados assintomáticos ou, na pior das hipóteses, que a Covid-19 o afete como uma gripe comum, que cause alguns desconforto durante uns poucos dias e depois se vá para nunca mais voltar. 

Observação: Segundo estudo do Imperial College London, pelo menos 70% dos brasileiros precisam estar imunizados para que se possa começar a falar em fim da epidemia da Covid-19 no país. E isso só será possível depois que a maioria da população tiver sido infectada e curada, já que a vacina dificilmente chegará antes do final do ano. Deu pra entender ou quer que eu desenhe?

No momento em que escrevia estas linhas, o número de mortes provocadas pelo coronavírus na Espanha chegava a 6.528 e o total de infectados, a quase 80 mil, mas a boa notícia, se é que se pode dizer assim, é que o aumento de 9% verificado no último sábado INDICA QUEDA PELO TERCEIRO DIA CONSECUTIVO. Depois de atingir quase 30%, na última quarta-feira o índice já girava em torno de 20% e no domingo, pela primeira vez em 15 dias, ficou abaixo de 10%. 

Seja como for, enquanto pesquisadores testam a eficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina e buscam desenvolver uma vacina, a adoção de intervenções não farmacológicas para combater o coronavírus é essencial, repito, para evitar o colapso do sistema de saúde, embora também ajude a salvar milhões de vidas. Portanto, preparem-se para mais dois meses de molho e torçam para que a economia resista a esse lockout.

Enfim, quando falei em asseio (no título desta postagem), quis me referir a manter limpos smartphones e outros gadgets. Aliás, isso deveria ser um hábito, não uma necessidade imposta pela pandemia da Covid-19. Segundo o Dr. Bactéria os teclados de computador tendem a acumular mais germes do que vasos sanitários! Então, aproveite esse recesso compulsório para faxinar smartphones, tablets, smartwatches, notebooks, desktops, fones de ouvido, console de games, controles remotos de TV e assemelhados, que são verdadeiros depósitos de sujeira.

Informações de como e com que frequência esses dispositivos devem ser limpos e quais produtos podem ou não ser utilizados costumam ser encontradas no manual dos aparelhos — que o passar do tempo e evolução tecnológica rebaixou de livretos a folhetos semelhantes a bulas de remédio, inclusive no tamanho da letra. Em smartphones e tablets, a versão completa do manual pode vir armazenada na memória interna (geralmente um arquivo .PDF) do próprio aparelho ou em versão online acessível a partir de um link informado nas configurações do telefone (mas aí é necessário haver conexão com a Internet).

Quanto aos demais dispositivos, quem não guardou o manual impresso em local certo e sabido terá de recorrer ao site do fabricante (ou fazer uma pesquisa no Google a partir da marca e do modelo do aparelho). De qualquer forma, segue um resumo que você pode usar como referência se não encontrar informações específicas para o gadget.

Via de regra, deve-se desligar o dispositivo e, se possível, remover a bateria antes de dar início à limpeza. Tanto água (de forma direta ou corrente) quanto produtos abrasivos, limpadores de janelas (Vidrex e cia.), solventes agressivos (à base de aguarrás ou thinner), produtos que contenham amônia (Ajax e congêneres), cloro (água sanitária tipo Cândida), desinfetantes, limpadores em aerossol, polidores de cromados ou prataria (como Kaöl ou Brasso) devem ser evitados. E o mesmo vale para o álcool. Ou valia, porque situações desesperadoras exigem medidas desesperadas.

Devido à propagação do coronavírus, a imprensa tem alertado para a necessidade de higienizar o smartphone e vem dizendo os fabricantes dos aparelhos liberaram o uso do álcool, mas é preciso ter em mente que o álcool que encontramos nos supermercados — isso quando encontramos, já que ele anda meio sumido — é hidratado (46,2% de etanol e 53,8% de água no da marca Coperalcool). Mesmo o álcool em gel — que sumiu das prateleiras ainda mais depressa que o líquido — não é puro (o da Coperalcool contém 70% de álcool e 30% de sabe Deus o quê). E ainda que a Web seja um manancial de receitas para produção caseia de álcool em gel, eu não aconselho seguir nenhuma delas.

O álcool isopropílico, vendido em lojas de suprimentos de informática e de artigos para perfumistas, contém bem menos água e evapora quase imediatamente, sem deixar resíduos. Ele é usado pelos técnicos porque não causa oxidação e outros danos que a umidade acarreta às placas-mãe e outros componentes internos dos aparelhos, mas não é recomendado para limpeza de telas sensíveis ao toque (touchscreen).

A rigor, quando não havia coronavírus nem essa neura toda, os fabricantes de smartphones, tablets, notebooks e monitores de cristal líquido em geral desaconselhavam o uso de qualquer produto químico para limpar as telas. A recomendação era usar um pano de microfibras ou um retalho de camiseta de algodão. Secos. No caso de manchas e sujeiras mais resistentes, podia-se umedecer levemente o pano em água com um pingo de detergente neutro, desde que se tomasse o cuidado de não molhá-lo demais, pois o excesso de líquido poderia escorrer para o interior do aparelho através dos conectores do carregador e fone de ouvido e dos orifícios do microfone e auto-falante.  

Agora, porém, parece que o álcool liberou geral, mas ainda assim, sem embargo das considerações elencadas parágrafos atrás, sugiro que você “desinfete” seu smartphone usando uma toalhinha umedecida, daquelas próprias para higienização de bebês (e largamente utilizadas como complemento do papel higiênico), que vem umedecidas em álcool gel (mas não encharcadas). 

O procedimento correto é fazer a limpeza com movimentos suaves, sem exercer demasiada pressão, sobretudo na tela, que deve ser cuidada antes da carcaça do aparelho — do contrário, algum grão de poeira ou outro tido de resíduo pode acabar riscando a tela. A propósito: repita a operação, se necessário, uma, duas ou mais vezes, até que as marcas de dedos, manchas de gordura ou de suor desapareçam da tela. Ao final, dê o polimento com um pano de microfibras ou retalho de camiseta de algodão (evite flanelas, pois elas criam uma carga eletrostática que atrai poeira). Para mais detalhes, inclusive com dicas de produtos especiais para a limpeza de telas touchscreen, reveja esta postagem).

Não deixe de limpar o entrono dos botões com um cotonete (levemente umedecido, se necessário) e de lavar a capinha do celular, cujas bordas texturizadas proporcionam melhor aderência (ou seja, evitam que o aparelho escorregue da mão do usuário) mas tendem a acumular sujeira. 

Capinhas de couro devem ser limpas a seco ou com um produto apropriado, mas as de plástico ou silicone podem ser mergulhadas numa solução de água morna e detergente neutro e, se necessário, esfregadas com uma escova de dentes. Ao final, seque-as bem com uma toalha ou um pano macio e aguarde pelo menos meia hora antes de recolocar o telefone (para que a umidade remanescente evapore naturalmente).

O que foi dito até aqui vale para tablets. Quanto a computadores portáteis (note e netbooks) e de mesa (desktops), sugiro rever algumas postagens que eu publiquei no Blog ao longo de seus quase 14 anos de existência (clique  aqui, aqui, aqui e aqui).

Smartwatches acumulam suor e partículas contagiosas da mesma forma que as mãos. Use o pano de microfibra umedecido para limpar a tela. Nos botões, passe uma solução de desinfetante com um pincel de cerdas macias. As pulseiras de náilon absorvem o suor com mais facilidade, então a dica é usar um pouco de detergente e um pano úmido para realizar a limpeza. Já as pulseiras de silicone devem ser limpas com uma pequena quantidade de álcool. As de couro pedem um condicionador específico para o produto para finalizar o processo.

No caso dos fones de ouvido com pontas removíveis, retire-as e limpe com água e sabão. Enxágue bem. Use o pano de microfibra umedecido em água para limpar o resto dos fones e o cabo. Para os fones tradicionais, pano úmido na solução basta. Uma escova de cerdas macias limpa os lugares mais estreitos. As pontas dos fones Bluetooth devem ser limpas apenas com um pano seco para evitar danos ao aparelho internamente.

Consoles e controladores de games devem ser desconectados antes de você dar início a limpeza. Utilize uma escova de dentes macia para limpar as entradas dos dispositivos. Para a limpeza da superfície, pano úmido de microfibra e cotonetes para as partes estreitas, pequenas e entre os botões. Para os controles, pano úmido com solução de álcool e água. Não esqueça de limpar o cabo. É importante verificar se tudo está seco antes de reconectar.

Espero que estas informações seja úteis. Cuidem-se todos, e que Deus nos ajude.

sexta-feira, 27 de março de 2020

O LIVRE ARBÍTRIO SEGUNDO BOLSONARO



Diz-se que Deus deu ao Homem (com letra maiúscula para não deixar dúvidas de que estou me referindo ao ser humano, independentemente de sexo, gênero, ou seja qual for a expressão politicamente correta nestes tempos estranhos) o livre arbítrio — que o dicionário define como "a possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante". 

Padres, pastores, rabinos e assemelhados se utilizam dessa "escapatória" — e dos dogmas, que são "pontos fundamentais que as doutrinas religiosas apresentam como verdades absolutas, certas e inquestionáveis" para explicar aos fiéis coisas que nem eles próprios entendem. "Por que criminosos matam criancinhas inocentes?" pergunta a velhinha. "Porque Deus lhes deu o livre arbítrio", responde o batina, mas acrescenta: "Só que Deus está vendo o que cada um de nós faz, e todos teremos de Lhe prestar contas dos nossos atos". Enfim, tudo faz parte de um tal "Plano de Deus", mas não se sabe ao certo no esse plano consistiria e qual seria seu objetivo.

Tudo isso para dizer que, por livre arbítrio, o presidente Bolsonaro resolveu trafegar pela contramão do bom senso e bater de frente com quase todos os governadores de 26 estados e do Distrito Federal. Uma decisão que não chega a surpreender, considerando sua maneira, digamos, peculiar de governar. Basta lembrar como ele atuou durante a tramitação da PEC da Previdência para tirar a castanha com a mão do gato — ou seja, colher o bônus sem arcar com o ônus de uma reforma impopular, mas de importância fundamental, sem a qual a fonte dos caraminguás dos quais depende a subsistência de milhões de aposentados, pensionistas e outros beneficiários do INSS iria se exaurir dentro de mais alguns anos. 

Pela mesma razão, Bolsonaro engavetou a proposta de reforma administrativa, que está pronta para ser encaminhada ao Legislativo desde o final do ano passado, sem mencionar outras estultices que visam manter mobilizados seus descerebrados apoiadores — uma versão com sinal invertido da militância fanática lulopetista. Nada o irrita mais que ser ofuscado por algum subalterno. Prova disso são as frequentes frituras de Sérgio Moro e, mais recentemente, de Henrique Mandetta, que tem recebido o apoio e o agradecimento da população por seu trabalho sério e ponderado no combate à pandemia.

Mandetta se viu obrigado a ajustar o discurso depois que desagradou o chefe ao classificar um possível colapso do sistema de saúde como "tema urgente neste momento". Em pronunciamento feito no Palácio do Planalto, o ministro pediu “calma e planejamento” para paralisações das atividades econômicas, e disse que “há lugares que pararam tanto que não tinham mecânicos para a manutenção de determinadas máquinas hospitalares, necessidades prementes que temos no dia a dia de unidades de saúde, de unidades de manutenção de água e esgoto”.

Ser ministro de Bolsonaro é conviver diuturnamente com o risco de desagradá-lo de alguma forma e ser sumariamente exonerado a qualquer momento — ou, numa linguagem que combina mais com o modo de falar de sua excelência, é como dar o c* e ter de pedir desculpas por estar de costas.

A exemplo de Lula no comando da fação criminosa que fundou e chama de partido político, Bolsonaro é incapaz de regar uma plantinha que tenha potencial para crescer e lhe fazer sombra. Daí o PT boiar sem rumo, como merda n’água e o Brasil claudicar com uma pedra no sapato que acontece de ser seu presidente. Mas o criminoso de Garanhuns é (quase) carta fora do baralho, e o capitão caverna caverna tem mais 30 meses de mandato — tempo mais que suficiente para botar a pique esta Nau de Insensatos vinha se mantendo na superfície, apesar de seu capitão, até que surgiu um vírus mutante capaz de causar tamanha catástrofe. 

À crise sanitária soma-se a econômica: desde o final de fevereiro, enquanto o número de infectados e mortos pelo “novo coronavírus” (eu detesto essa expressão) cresceu exponencialmente mundo afora e, mais adiante, o preço barril do petróleo despencou, graças à queda de braço entre o príncipe saudita Mohamed bin Salman, líder da OPEP, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, no Brasil o dólar acompanhou a curva ascendente da Covid-19 e o Ibovespa, a trajetória descendente da commodity.

É inegável que estamos diante de algo inusitado, pelo menos neste século. No passado, entre 1918 e 1920, a gripe espanhola contaminou quase 30% da população mundial e matou dezenas de milhões de pessoas, mas os tempos eram outros e a tecnologia e os recursos da medicina, idem. Não obstante, uma recessão agravaria ainda mais o quadro, daí a importância de se implementar de maneira consciente medidas como confinamento de pessoas, paralisação da indústria e do comércio (noves fora atividades ditas “essenciais”) e outras que tais. 

Observação: Vale lembrar que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose — em doses exageradas, ambos podem matar; em doses insuficientes, um não mata, mas o outro não cura.

Consciência e ponderação são artigos em falta nas prateleiras do presidente. Na última quarta-feira, durante videoconferência com os governadores do Sudeste, Doria disse que ele deveria “dar exemplo ao País, e não dividir a nação em tempos de pandemia“. O capitão se exaltou, chegando a chamar o governador paulista de leviano e demagogo. Acusou Doria de se apoderar do nome dele nas eleições de 2018 e depois lhe “virar as costas”, que a possibilidade de se eleger presidente em 2022 subiu-lhe à cabeça, e concluiu recomendando-lhe  que “saísse do palanque” (logo quem!). 

Após a reunião, Doria usou as redes sociais para lamentar o “ataque descontrolado” de Bolsonaro, lembrou o número de mortos pelo coronavírus no Brasil até o momento e ironizou a declaração do presidente de que “isso não passa de uma gripezinha”.

Para encerrar, segue versão resumida de um texto publicado em O ESTADÃO desta quinta-feira por Joaquim Falcão, membro da ABL e professor titular de Direito Constitucional da Escola de Direito da FGV/RJ.

“As palavras da Constituição e das leis já são legendas para alguns atos da Presidência. O art. 268 do Código Penal diz que ‘comete crime de infração de medida sanitária preventiva quem desrespeitar determinação do poder público destinada a impedir introdução e propagação de doença contagiosa’. A Lei de Impeachment diz que é crime de responsabilidade: ‘praticar ou concorrer para que se perpetre qualquer dos crimes contra a segurança interna, definidos na legislação penal’. Mas para que as palavras do impeachment vivam é preciso mais.

Um extenso devido processo legal por iniciativa dos presidentes do Congresso e do Senado exige convergir decisões dos tribunais, precisa de insatisfeitos e ofendidos, de políticos estaduais e municipais, de opinião pública esclarecida e estupefata e de mínima oportunidade e conveniência para as elites econômicas.

Bolsonaro tem contribuído para estas convergências. Ao humilhar ministros, exerce poder presidencial como humilhação de si próprio. Demitiu desavisados generais. Tentou desacreditar Sérgio Moro. Esgotou Paulo Guedes. Melancólico — mas esperançoso — é ver na televisão a imagem petrificada do ministro Luiz Henrique Mandetta, obrigado a presenciar ao vivo suas discordâncias intestinas. Bolsonaro morre de ciúmes do bom trabalho do ministro. Aliás, de qualquer ministro. Agride e ofende governadores, prefeitos, como se já fossem a oposição política que estão se tornando. Demonstra ódio sem objeto. Ou terá objeto? Qual? Estranho. Mesmo quando escolhe bem, age como se tivesse errado.

Talvez acredite que a MP sobre Estado de Calamidade Pública lhe dê poderes para acender as trevas. Desligar a palavra. Jurídica ou não. A MP limitou a lei de acesso à informação ao governo. Limita a transparência da gestão pública. Não será obrigado, por exemplo, a informar se ele próprio estará ou não com coronavírus. Agora ou no futuro. Ou revelar outros dados solicitados. Distribuição de recursos financeiros a empresas favoritas. Basta fundamentar, como Jânio Quadros: “Fi-lo porque qui-lo.”

A MP vale até dezembro de 2020. Poderia tentar adiar eleições de outubro em razão do coronavírus. Rosa Weber é pedra no meio do caminho. Mas adiando, teria tempo para constituir seu partido. Quem conseguirá primeiro concretizar ou desarmar o impeachment? Como o coronavírus, os atos de destruição da democracia também têm carga tóxica.”

Enfim, o “mito” dos bolsomínions emula a fábula da Roupa Nova do Rei, só que, ao invés de se exibir nu em pelo, o presidente vai se desnudando aos poucos, como uma stripper. Ainda não se sabe qual peça da indumentaria real cairá por último, se a máscara ou a coroa. Façam suas apostas.

A ERA DA (IN)SEGURANÇA


NUNCA ENCONTREI UMA PESSOA TÃO IGNORANTE QUE NÃO PUDESSE TER APRENDIDO ALGO COM A PRÓPRIA IGNORÂNCIA.

A pandemia do coronavírus nos vem impondo um estilo de vida diferente daquele a que estávamos acostumados. Voluntária ou compulsoriamente, a critério do prefeito/governador de cada município/estado, devemos todos ficar em casa e evitar contato com outras pessoas, o que, segundo a conclusão a que chegaram os especialistas (ainda que não de forma totalmente consensual), é a melhor maneira de evitar que o sistema de saúde entre em colapso.

Padarias, farmácias, supermercados e outros estabelecimentos que oferecem serviços considerados “essenciais” devem ser frequentados com parcimônia, sempre evitando aglomerações e mantendo distância (1,5 m) dos outros clientes. Aliás, os sintomas da Covid-19 são semelhantes aos da gripe, e a disenteria não faz parte da lista. Então, lotar carrinhos e mais carrinhos com fardos de papel higiênico não só não faz sentido como provoca um “efeito manada” que induz os demais clientes a fazer o mesmo, propiciando um desabastecimento que poderia ser evitado se cada um comprasse a quantidade adequada a suas necessidades.  

Fato é que, sem poder sair de casa — nem mesmo para trabalhar, como vem acontecendo com muita gente —, o jeito é buscar alternativas para encher o tempo. A Internet é uma opção, assim como a leitura e a televisão, a despeito dos noticiários (é importante a população se manter informada, mas vamos combinar: ninguém aguenta mais ouvir que o dólar subiu, a bolsa caiu e a pandemia atingiu não sei quantos países, afetou não sei quantas pessoas e causou não sei quantos óbitos nas últimas não sei quantas horas). Por outro lado, com mais tempo ocioso, newbies e afins tendem a aprimorar suas habilidades. E é aí que mora o perigo.

Como no caso das doenças, a cura só surge depois que a causa do mal é descoberta. Daí os desenvolvedores de ferramentas de segurança diversificarem os mecanismos de detecção de malwares, quando mais não seja porque modelos baseados somente na “assinatura” dos vírus não só estão obsoletos como também não oferecem proteção contra ameaças “zero day”.

Observação: zero day (dia zero) é uma expressão usada para conceituar ataques que se aproveitam de falhas de software recém-descobertas e ainda não corrigidas. Trata-se de uma técnica amplamente utilizada pelos cibercriminosos, que concentram nessas brechas seu poder de fogo durante o lapso de tempo (horas, dias, semanas) que leva para o desenvolvedor disponibilizar a respectiva correção. Nesse entretempo, os dispositivos computacionais ficam muito mais vulneráveis a ataques, ainda que os usuários mantenham o sistema em dia e as ferramentas de segurança atualizadas. E o mesmo raciocínio se aplica ao surgimento de novos malwares e à criação das respectivas vacinas.

Nenhum software é totalmente seguro e nenhum dispositivo computacional é imune a ataques, invasões e assemelhados, a não ser que esteja desligado ou, no mínimo, desconectado da Internet. Cabe aos desenvolvedores de sistemas e aplicativos corrigir bugs e falhas de segurança em seus produtos, mas é responsabilidade dos usuários aplicar as correções em seus computadores, smartphones, tablets etc.

Da mesma forma que um carro aberto e com a chave na ignição pode ser furtado mais facilmente do que se estiver travado e com o alarme acionado, contas de email e redes sociais, aplicativos de netbanking e outros serviços “sensíveis” que utilizamos via PC/smartphone podem ser alvo de invasores. E o mesmo vale para medidas de segurança que, se não impedem invasões, hackeamentos e afins, ao menos dificultam a ação dos invasores, que acabam procurando outra vítima, já que não faltam usuários relapsos, que, mesmo tendo ciência dos riscos, não se preocupam em proteger seus dispositivos. 

Se você não quer fazer parte do lado negro das estatísticas, acompanhe as próximas postagens.  

terça-feira, 24 de março de 2020

O DEUS PAI DA PETELÂNDIA E O SUMO PONTÍFICE DA IGREJA CATÓLICA


Vamos combinar que, calamidades à parte, exageros à parte, estultices bolsonarianas à parte, o "auto-confinamento voluntário" que nos foi imposto meio que compulsoriamente é desgostante. Até porque é surreal ver a maior metrópole da América Latina em animação suspensa, sem a habitual movimentação de pedestres e os intermináveis congestionamentos de veículos nas ruas e avenidas. Um "sossego" assim, que só se vê (se é que ainda se vê) em cidadezinhas do interior com alguns milhares de habitantes, seria o sonho de consumo dos 13 milhões paulistanos, não fosse a pandemia provocada pelo coronavírus a razão dessa excepcionalidade.

Venho focando o avanço da Covid-19 por dever de ofício; se já não aguento mais ouvir falar  no assunto, que dirá escrever sobre ele. Mas sempre existe a esperança de uma luz no fim do túnel (que não seja o farol da locomotiva que vem em sentido contrário). Aliás, vale mencionar que o noticiário enfatiza o avanço do vírus e o aumento das infecções, internações e óbitos, mas raramente fala que a maioria das pessoas que forem infectadas tende a não apresentar sintoma algum ou, quando apresenta, eles são semelhantes aos de uma gripe comum. Daí a antecipação da vacinação contra a influenza facilitar a triagem dos pacientes que apresentam os sintomas, que, se estão imunizados contra a gripe, podem realmente ter contraído o coronavírus.

Também pouco se fala dos que se recuperaram. Nesta segunda-feira, 23, o monitoramento em tempo real conduzido pela Universidade Johns Hopkins contabilizou 100.443 casos de pacientes diagnosticados com a Covid-19 que conseguiram já tiveram alta e seguem a vida normalmente, sendo a província chinesa onde o vírus surgiu o local que reúne o maior número de curados, 59.882. A região é seguida do Irã, com 8.376, e da Itália, com 7.024. Por outro lado, o número de casos confirmados já passa de 350 mil, e o total de mortes, de 15.000. A Itália é atualmente o país mais afetado, com 5.476 mortes (número superior ao registrado no país asiático, epicentro do SARS-CoV-2, que tem mais de 1,4 bilhão de habitantes).

Oxalá surja em breve uma vacina ou outra medida capaz de mudar dramaticamente esse cenário. No Brasil, a expectativa é que a curva de contaminação se acentue nas próximas semanas, suba feito rojão até o final de julho e então se estabilize, para depois começar a declinar, aumentando progressivamente a velocidade da queda. Alguns especialistas afirmam que São Paulo pode ter 10% da população infectada, o que é extremamente preocupante, mas não significa que todos os casos serão necessariamente graves nem, muito menos, fatais. A questão é que ainda estamos em março, e só Deus sabe a economia e as pessoas têm estrutura para se manter, ainda que claudicantes, por um período muito longo de inatividade.

Nesse entretempo, as contas continuam vencendo. É preciso pagar aluguel, escola dos filhos, água, luz, gás, impostos, taxa condominial, e por aí afora. E como o fará sem poder abrir o bar, a sapataria, a lanchonete, o salão de beleza, a barbearia, enfim, o estabelecimento que põe comida da mesa dos microempresários, dos autônomos e dos que trabalham sem carteira assinada? E mesmo quem tem emprego formal, como conviver com a expectativa de a empresa quebrar ou começar a demitir preventivamente, caso o tempo de fechamento se estender demais? Aí, meus caros, deixa-se de leda o poético discurso de "união" entra em vigor a Lei de Murici.

Morrer é única certeza que temos nesta vida. Já morrer devido ao coronavírus é uma possibilidade, embora sua taxa de letalidade seja inferior às do sarampo, varíola, difteria poliomielite, caxumba, AIDSdengue, e equivalente às da gripe comum e da zica. O maior problema é a rapidez assustadora com que o vírus se dissemina, a facilidade com que passa de uma pessoa para outra e o número de países que atingiu em apensa 3 meses. Todavia sobreviver à Covid-19 e morrer de fome devido à debacle da economia seria a gargalhada do Diabo! Mas vamos mudar de assunto, que esse já deu no saco.

Dias atrás, quando comentei o namoro entre os petistas Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann, comentei também que Lula esteve em Paris para ser homenageado com o título de “cidadão honorário” daquela cidade. En passant, o criminoso mais famoso do Brasil deu uma esticadinha até a Itália (onde o número de vítimas fatais do Covid-19 já é maior que na China), onde foi visitar o Papa, para, segundo o petista publicou em suas redes sociais, "conversar sobre um mundo mais justo e fraterno".

Uma conversa no mínimo esdrúxula, posto que inconciliável com a biografia do notório visitante. Como bem lembrou Caio Coppolla, “num mundo mais justo, corruptos condenados deveriam responder por seus crimes no cárcere; e um mundo mais fraterno pressupõe que não se roube o próximo, como preconiza o 7.º dos 10 mandamentos bíblicos.

Sua Santidade pode receber quem bem entender, mas receber Lula foi um tapa na cara dos católicos honestos, além de uma humilhação para nosso sistema Judiciário, que já condenou o criminoso em três instâncias jurisdicionais (vale lembrar que Lula só está solto devido ao compadrio de 6 membros do STF, o que é igualmente revoltante para os cidadãos de bem).

Em que pese a suposta proximidade com o Criador assegurada ao cardeal arcebispo argentino Jorge Mario Bergoglio ao ser escolhido para ocupar a Cathedra Petri, o Papa Francisco, a exemplo dos demais líderes religiosos, não conseguiu evitar que o coronavírus fulminasse milhares e milhares de fiéis. Só na Itália, onde fica o Vaticano, mais de 5.000 pessoas morreram de Covid-19 desde o início do ano, o que recomenda ao povo brasileiro — a maior população católica do planeta — além de ter fé e rezar, é pôr as barbichas de molho.

Ajuda-te que eu te ajudarei, já disse alguém — e não foi Jesus Cristo, como se costuma pensar. A Bíblia não registra essa frase nem muito menos a atribui ao Salvador. O que mais aproxima disso está em Salmos 37: (4) “Deleita-te também no SENHOR, e te concederá os desejos do teu coração” e (5) “Entrega o teu caminho ao SENHOR; confia nele, e ele o fará”. Já no Evangelho Kardequiano a semelhança é bem maior: “Ajuda-te a ti mesmo, que o Céu de ajudará”. Em qualquer caso, a lição é lapidar: se você ficar esperando que as coisas simplesmente caiam do céu, o melhor que vai conseguir é chuva e cocô de passarinho.


Papa foi mero coadjuvante nesse encontro; o protagonismo ficou com o corrupto que se fez santo por autodeclaração. Frustrou-se Sua Santidade se em algum momento da conversa teve o ímpeto misericordioso de expiar os pecados do interlocutor e lhe conceder o divino perdão, pois perdoar pressupõe arrependimento, e não existe absolvição que não seja precedida de remorso.

Lula jamais demonstrou qualquer peso na consciência por seus delitos ou se propôs a repará-los. Mesmo respondendo a uma dezena processos — todos amparados por vasto acervo probatório — e já condenado em dois deles, insiste em uma inocência imaginária que desafia até a mais alienada das mentes militantes.

Mitômano reconhecido, o sumo pontífice da seita do inferno só se esquece de um detalhe: ludibriar o Papa é possível, mas mentir a Deus está muito além do alcance humano (até para um expert na área, como é o caso dessa aberração). Contudo, faltar com a verdade na Terra não constitui pecado capital. Isso fica por conta da vaidade, da presunção e da arrogância de Lula; e aqui estamos falando do pecado da soberba.

Aliás, é impossível esquecer a “pérola da modéstia” que o imprestável pariu no dia 20 de janeiro de 2016 — época em que Lula ainda não havia sido condenado (e sequer conduzido coercitivamente para prestar depoimento na PF do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo) —, durante um café da manhã no Instituto Lula com blogueiros amestrados e jornalistas convertidos:

 “Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste País, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da igreja católica, nem dentro da igreja evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido”. 

Quanta modéstia!

sexta-feira, 20 de março de 2020

SE HOUVER AMANHÃ...


É no mínimo frustrante nossa sensação de impotência diante da pandemia do Covid-19, uma crise mundial inusitada e sem paralelo na história recente da humanidade. É certo que a Gripe Espanhola contaminou quase 30% da população mundial e matou dezenas de milhões de pessoas — no Rio de Janeiro, por exemplo, chegaram a ser registrados mil óbitos num único dia —, mas isso foi entre 1918 e 1920, antes mesmo da descoberta da penicilina.

Observação: Faço essa remissão para dar ao leitor uma ideia de quão limitados eram os recursos da medicina de então, já que antibióticos não combatem vírus e podem aumentar a suscetibilidade da pessoa a uma infecção viral (embora haja controvérsias a esse respeito).

Esse imbróglio começou na China, no final do ano passado, mas à medida que os casos aumentaram mundo afora — já são cerca de  200 mil infectados —, em Wuhan, epicentro do SARS-CoV-2, registrou-se uma única transmissão local na última terça-feira (17). A maior parte dos 78 mil chineses infectados já estão recuperados, e algumas atividades começam a voltar ao normal, com os trabalhadores retornando às fábricas (que estavam fechadas desde fevereiro). Isso se deve em grande parte ao fato de os chineses terem construído em tempo recorde 16 hospitais em Wuhan, (o primeiro ficou pronto em dez dias) para atender tanto infectados quanto qualquer pessoa que apresentasse sintomas. O maior deles, com capacidade para atender duas mil pessoas simultaneamente, deve ser fechado no final deste mês, já que o número de casos está controlado. 

É impossível negar a responsabilidade (ou irresponsabilidade, melhor dizendo) do governo chinês pelo alastramento do vírus, e de as autoridades locais terem tentado abafar os primeiros alertas sobre seus efeitos e letalidade. No dia 30 de dezembro, o doutor Li Wenliang tentou alertar seus colegas de que pacientes estavam em quarentena na emergência do hospital, mas foi acusado de estar "espalhando boatos" e, três dias depois, forçado a assinar uma advertência de que seu comportamento era “ilegal”. Ele acabou morrendo no dia 6 de fevereiro, em razão da Covid-19.

Nos dias seguintes, pessoas começaram a procurar hospitais da cidade com queixas de sintomas semelhantes ao de uma pneumonia viral, mas que não respondiam a tratamentos comuns. Os médicos notaram que todos trabalhavam no mercado Huanan, onde carnes variadas, exóticas e animais silvestres vivos eram vendidos em um ambiente pouco salubre. No dia 31 de dezembro, o governo de Wuhan foi forçado a admitir que 27 pessoas estavam infectadas com uma pneumonia desconhecida, mas afirmou que a doença era “evitável e controlável”. O escritório da OMS em Pequim também foi alertado, mas o tom do governo local era de otimismo e sugeria que não havia transmissão entre humanos.

No dia 7 de janeiro, foi anunciado que um novo vírus havia sido identificado, e no dia 9 a Covid-19 fez sua primeira vítima fatal, cuja morte só foi anunciada dois dias depois, após seu código genético ser divulgado em um banco de dados público para que pesquisadores do mundo inteiro pudessem estudá-lo. No dia 13 a Tailândia registrou o primeiro caso de Covid-19 fora da China. Dia 16, foi a vez do Japão. Com a disseminação, no dia 18 Pequim mandou a Wuhan o epidemiologista Zhong Nanshan, que anunciou em rede nacional que o vírus era transmitido entre humanos. O presidente Xi Jinping também se pronunciou, e partir daí, a resposta foi rápida. O resto é história recente.

A questão é que a maneira como Eduardo Bolsonaro — que chegou a ser cogitado para assumir o posto de embaixador do Brasil nos EUA — tratou essa questão não foi lá muito diplomática. Em seu perfil oficial no Twitter, ele sugeriu que o Estado chinês teria escondido “algo grave” e comparou o caso com ChernobylO embaixador da China no Brasil repudiou a publicação e exigiu pedido de desculpas. Zero três tornou a emenda pior que o soneto, o que levou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a apresentar um pedido de desculpas.

Bolsonaro pai, habitualmente loquaz, não deu um pio, mas o vice, general Hamilton Mourão — que teve papel decisivo na reaproximação do Brasil com China após o então candidato a presidente ter disparado declarações hostis ao país asiático durante toda a campanha eleitoral — tentou minimizar o impacto: “(A declaração) não é motivo de estresse, pois a opinião de um parlamentar não corresponde à visão do governo. Nenhum membro do governo tocou nesse assunto”, disse Mourão ao Estado. Já o governador de São Paulo, João Doria, chamou de “lamentável” e “irresponsável” a postagem do deputado fritador de hambúrgueres.

Em situações como a que estamos atravessando, mais importante que apontar o dedo para o eventual culpado é RESOLVER O PROBLEMA. O resto se vê depois. Os mercados estão instáveis, com o dólar acima dos R$ 5 e a bolsa amargando quedas expressivas — após encostar nos 120 mil pontos em 23 de janeiro, o Ibovespa desceu de elevador o que levou um tempo enorme para subir pela escada. Por volta das 16h30 de ontem, quando eu finalizava este texto, a B3, depois de diversos picos e vales, operava em alta de 3%, perto dos 69 mil pontos, mas a montanha russa deve prosseguir até o fechamento e nada indica que não se repita nos próximos dias.

São Paulo, capital da locomotiva do Brasil e maior metrópole da América Latina, ainda não virou uma cidade-fantasma, mas o trânsito e a circulação de pessoas diminuíram dramaticamente. Nos supermercados, desmiolados lotam carrinhos com álcool em gelisso quando encontram o produto nas gôndolas — e papel higiênico — talvez com receio de toda essa paúra lhes desarranjar os intestinos. Ontem à noite, opositores e apoiadores de Bolsonaro fizeram panelaços, indiferentes ao fato de estarmos em meio a uma tormenta de dimensões épicas, e que precisamos remar juntos e na mesma direção, ou esta nau de insensatos irá a pique e nós estaremos fodidos e mal pagos.  

Os ataques de Bolsonaro & Filhos ao Congresso visam manter mobilizada a claque de apoiadores. O capitão está de olho na reeleição desde que subiu a rampa do Planalto, mas foi eleito para governar para todos, em que pesem diferenças político-ideológicas e de visão do mundo. Com sua postura beligerante, vem desfazendo velhas amizades, transformando correligionários em desafetos e aliados de primeira hora em adversários. 

Embora jamais tenha sido o candidato de nossos sonhos (noves fora os bolsomínions, que são uma versão com sinal invertido da militância lulopetista), Bolsonaro acabou se tornando a única alternativa à volta do PT graças aos votos do esclarecidíssmo eleitorado tupiniquim no primeiro turno. E a despeito de estar se saindo pior como presidente do que como candidato, temos de aturá-lo até 2022 e torcer pelo sucesso do seu governo, pois disso depende o futuro do Brasil e, em última análise, o de todos nós. Portanto, não é o momento de falar em impeachment, de bater panelas ou convocar manifestações de rua (tanto contra quanto a favor do governo). 

Observação: Ao assumir o comando da Famiglia Corleone com a “aposentadoria” do pai — Don Vito, o “padrinho” (tanto no livro de Mario Puzo quanto na trilogia dirigida por Francis Ford Coppola o título “The Godfather”, que significa “O Padrinho”, foi traduzido como “O Poderoso Chefão”) —, Michel apeou o irmão de criação, Tom Hagen, do posto de consiglieri, dizendo-lhe que não havia ninguém melhor que o pai para aconselhá-lo, mas o fato é que Hagen não era um conselheiro para tempos de guerra (e aí seguiu-se a execução sumária dos capi das famílias mafiosas rivais, mas essa é uma outra conversa).  

Se servir de consolo, é bom lembrar que Bolsonaro é o presidente desta banânia, mas há no governo gente do quilate de Paulo Guedes Sérgio Moro, entre outros aliás, o ministro Luiz Henrique Mandetta vem demonstrando habilidade e competência para lidar com as imensas dificuldades impostas pelos limitados recursos do nosso sistema de saúde. Se o capitão não atrapalhar, conseguiremos superar mais essa crise. E que sirva de lição para apedeutas munidos de título eleitoral praticarem o árduo exercício do raciocínio — que está longe se ser o esporte preferido dos brasileiros. Assim, talvez nas próximas eleições possamos escolher o melhor candidato nas próximas em vez de eleger o menos ruim para evitar a volta do pior.

Por hoje chega. Amanhã tem mais. Isso se houver amanhã.

terça-feira, 17 de março de 2020

CONTRA EPIDEMIA, BRASIL TEM DE PARAR — E AS CONTAS, COMO FICAM?



Está difícil. A qualquer minuto, dizem médicos respeitadíssimos, os governos e as redes sociais, o sujeito pode pegar um coronavírus ao botar o pé para fora de casa, e a partir daí não está claro se ele vai ter uma gripe, se não vai acontecer nada ou se vai cair morto. Epidemiologistas afirmam que o governo deveria adotar providências a fim de impedir ou limitar aglomerações e movimentações de pessoas, suspender aulas em escolas e universidades, espetáculos esportivos e artísticos, cultos religiosos e qualquer grande reunião, bem como restringir a presença física em locais de trabalho e a circulação pelas cidades.

Ler sobre o assunto, em geral, só aumenta a sua própria confusão mental, visto que lhe jogam em cima 1.000 notas, avisos, vídeos, áudios, fotos, etc., que se repetem ou se contradizem uns aos outros. Para completar, começam a surgir, agora, dúvidas cada vez angustiantes sobre outras aflições da vida. Vou perder meu emprego? Vou fechar a minha empresa? Vou ficar sem um tostão no bolso?

O noticiário é tenebroso. As bolsas caem tanto, em todos os países do mundo, a ponto de suspenderem os pregões. O dólar passa dos R$ 5,00. As companhias de aviação, a continuar essa procissão, estão a caminho da falência porque a cada dia um país diferente proíbe voos vindos do exterior, e os passageiros não podem mais comprar passagens, mesmo que queiram. Na sequência, quebram os hotéis e o restante da indústria de viagem. Segue-se a falência dos fornecedores.

As indústrias não poderão operar se os operários não puderem frequentar ambientes onde há outras pessoas. O mesmo vale para o grande, médio e pequeno comércio. Faltam peças e componentes importados. E se proibirem as pessoas de andar de ônibus, metro ou trem? Estão sendo suspensos shows, disputas esportivas, convenções, congressos (inclusive congressos médicos) e mais todo o tipo de atividade onde existe público.

Empresas que podem adotam, pelo menos em parte, o “teletrabalho”. A Amazon quebra, porque não há mais gente para fazer as entregas. A Netflix morre por falta de gente para ver seus filmes. Os governos (o do Brasil, por exemplo, já está quebrado muito antes de qualquer vírus) param porque não há mais funcionários, nem impostos. Ao fim e ao cabo, o que sobra?

Há duas possibilidades: ou a onda passa, e passa relativamente logo, ou o mundo acaba. Como a segunda hipótese é pouco provável, mesmo porque é impossível dar tudo errado durante o tempo todo, sobra a primeira. Há estimativas, nas quais você acredita se quiser, que as coisas vão piorar durante os próximos três, quatro ou cinco meses, e depois começarão inevitavelmente a melhorar — porque o contágio se esgota e o combate à epidemia se torna mais eficaz. Muito do mal, entretanto, já está feito.

A economia mundial não vai crescer como se poderia esperar — na verdade, o que se espera agora é exatamente o contrário. No Brasil, especialmente, a situação é delicada. Não apenas a estrutura de saúde, pública ou particular, não está equipada para enfrentar uma epidemia dessas proporções — atenção: a de nenhum país está, mesmo no primeiro mundo, porque era impossível prever o coronavírus e executar, durante anos, o volume de obras para enfrentá-lo –, mas na própria economia em si. O Brasil vem de um não-crescimento de 1% em 2019. A reação que se poderia esperar para este ano, pela excelente posição dos principais fundamentos econômicos, já parece travada — até porque a maioria das empresas, dos investidores e dos consumidores tem certeza de que está travada.

O ministro Paulo Guedes disse que o país tem “capacidade e velocidade de escape” para enfrentar a crise. Não se sabe bem o que é isso, mas é certo que a urgência das reformas se torna cada vez mais vital. O Brasil, sem nenhum vírus, já não tinha outra escolha que não fosse transformar radicalmente o seu Estado. Agora, então, continuar a não mexer em nada parece uma clara tentativa de suicídio.

Entrementes, Bolsonaro, ignorando riscos de disseminação do vírus em aglomerações de pessoas, sobre os quais ele próprio havia alertado, não só voltou a estimular como também aderiu aos protestos pró-governo e contra o Congresso e o STF no último domingo, que foram mixurucas no tamanho — nem todos os eleitores do capitão são golpistas, mas todos os golpistas votaram nele, e foi esse pedaço do seu eleitorado, o pior pedaço, que desceu ao asfalto —, mas tiveram um gigantesco significado político. "Não tem preço", reagiu Jair Bolsonaro ao confraternizar com apoiadores. Engano. Haverá um preço. E ele será alto.

O governo enfrenta um par de crises: a pandemia da COVID-19 e o raquitismo do PIB. O bom senso recomendaria buscar aliados e evitar brigas. Mas Bolsonaro achou que seria uma boa ideia associar-se a uma manifestação com ataques ao Judiciário e, sobretudo, ao Legislativo. Descobrirá nos próximos dias o seguinte: pior do que duas crises, só três crises.

Imaginou-se que o país viveria uma fase benfazeja, com a aprovação de novas reformas sem mensalões nem petrolões, mas o capitão substituiu o presidencialismo de cooptação pelo governo de trincheira, e o Legislativo, em resposta, levou a irresponsabilidade fiscal às fronteiras do paroxismo. Sob refletores, o governo foi à mesa de negociações; nos bastidores, o presidente detonou seus negociadores. O general Augusto Heleno forneceu munição à ala golpista chamando os congressistas de “chantagistas”, antes de arrematar em grande estilo: “Foda-se!”. Fornicou-se apenas o interesse público, pois os parlamentares responderam à hostilidade explodindo no colo de Bolsonaro uma pauta-bomba de R$ 20 bilhões — dinheiro que não existe nos cofres do Tesouro.

O deputado Marcelo Ramos, presidente da comissão que colocou em pé a versão de reforma previdenciária aprovada pelo Legislativo ano passado, sinaliza o que está por vir: “A ida do presidente às manifestações deixa claro que ele não tem nenhuma responsabilidade com a agenda econômica do país; se tivesse, estaria procurando unir o povo em torno dela e não dividir o povo em torno de pautas antidemocráticas e secundárias.” E acrescentou: "Bolsonaro se entrincheira no seu gueto de radicais, que é cada vez menor, já que ninguém com o mínimo de bom senso pode continuar acreditando nisso como um caminho razoável para o desenvolvimento e o futuro do país."

Paulo Guedes continua pressionado pelas duas emergências que o assediavam na semana passada e ainda terá de lidar com o desafio de levar à vitrine medidas emergenciais contra os efeitos tóxicos do coronavírus. Além de renovar seus argumentos em favor do destravamento das reformas no Congresso, o ministro terá de lidar com um presidente que decidiu dar de ombros para as recomendações médicas sobre o coronavírus para se isolar numa quarentena com o golpismo. O preço político do isolamento será alto. Num país que ainda convive com quase 12 milhões de desempregados, Bolsonaro logo descobrirá que golpes retóricos não criam empregos. Mas então pode ser tarde demais.

Com J.R. Guzzo e Josias de Souza

sábado, 7 de março de 2020

CORONAVÍRUS, INFODEMIA, BOLSONARO, PAULO GUEDES E OUTROS ASSUNTOS



Em 2019, o Brasil registrou 3.430 casos de H1N1, também conhecida como “gripe suína”, que a OMS classificou em 2009 como PANDEMIA (termo usado quando a doença causa mortes em pelo menos 3 dos 7 continentes), mas reluta em fazer o mesmo como o coronavírus.

Sobre a gripe suína, vale frisar que apenas casos graves são notificados, porque a imensa maioria dos infectados nem recorre a serviços médicos. Assim, considerando os dados oficiais, a taxa de letalidade dessa doença, no Brasil, foi sete vezes maior em 2019 do que a do coronavírus (até agora) no mundo inteiro (pelas últimas informações, já são mais de 100 mil casos, cerca de 3 mil dos quais resultaram em óbito). Na semana retrasada, com a polícia militar do Ceará amotinada, o número de homicídios no estado chegou a 1,3 por hora. No ano passado, Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza (a capital de estado mais violenta do Brasil), registrou taxa de 145,7 assassinatos por 100 mil habitantes.

Voltando à gripe suína, não me lembro de a cotação do dólar ter chegado a R$ 4 no ano passado, devido a essa pandemia. Nem de o Ibovespa ter despencado quase 10 pontos em menos de uma semana. A conclusão que se impõe é que a COVID-19 é na verdade uma dupla epidemia: além da infecção causada pelo vírus, há também a infodemia, isto é, o pânico exagerado alimentado pela mídia e, não raro, por fake news.

Na visão de vários especialistas renomados (não existe unanimidade sobre o assunto; aliás, perguntas idênticas chegam a receber respostas totalmente diferentes, dependendo para qual infectologista elas são dirigidas), o vírus SARS-CoV-2 deveria preocupar tanto quanto o que causa a influenza (ou gripe), mas o que se vê é pânico generalizado em relação ao primeiro e descaso quanto ao segundo, o que é muito grave.

Fato é que a rápida disseminação da COVID-19 vem derrubando as Bolsas no mundo inteiro. Por volta do meio-dia de ontem, o Ibovespa registrava forte queda (de quase 5%, aos 98.157 pontos) e o real se desvalorizava em relação ao dólar com igual velocidade, a despeito dos bilhões injetados pelo Banco Central para conter a alta da moeda norte-americana. Menos mal se essa desgraceira servisse para dar uma baixa na bandidagem — sobretudo nos capi do PCC, Comando Vermelho e Família do Norte; "anjinhos" que matam impiedosamente para roubar um par de tênis de grife ou um smartphone, por exemplo; centenas de parlamentares que conspurcam o Congresso e meia dúzia de ministros supremos que desonram a toga que vestem, sem esquecer, é claro, de dois ou três ex-presidentes que só darão sossego quando estiveram pastando capim pela raiz na chácara do vigário.  

Falando em políticos e política, uma pergunta que não quer calar: se a economia vai muito bem, obrigado — como afirmam Bolsonaro (que não entende néris de pitibiriba do assunto) e Paulo Guedes (que manja muito, mas aprendeu com o chefe a falar o que pensa sem antes pesar as repercussões do que vai dizer) — e a desvalorização do real em relação ao dólar "ajuda os exportadores" (na verdade, ela está atrapalhando), por que, então, o Banco Central continua injetando bilhões dólares no mercado? Será que, se a moeda americana passar a valer 5, 6, 7, 10 reais o Brasil vai entrar para a lista dos dez maiores exportadores do mundo? Ou será que o Posto Ipiranga palaciano quer evitar que "domésticas" viajem até Orlando para ver o Pateta quando seu sósia em versão tropical pode ser visto aqui mesmo, mais exatamente na sede do Governo Federal?

Na quinta-feira, quando dólar fechou a R$ 4,65, disse o ministro: “É um câmbio que flutua. Se fizer muita besteira pode ir para esse nível. Se fizer muita coisa certa, ele pode descer”, que também atribuiu a alta ao coronavírus, à desaceleração econômica e, claro, à imprensa e ao que chamou de “choque entre o Congresso e o presidente da República”.  Mas é preciso mais que isso para explicar tamanha deterioração, pois o real, comparado às 40 moedas mais importantes para o comércio global, foi a que mais se desvalorizou (15,9%).

Dizer que o dólar a R$ 5 favorece as exportações é uma meia-verdade, mas, ainda que assim não fosse, vale lembrar a máxima do mercado financeiro segundo a qual ministro não comenta dólar. Só que Guedes insiste em falar sobre o assunto espinhoso, vive repetindo que o país mudou seu modelo econômico, e agora criou uma nova metáfora: “O modelo é 4×4, tração nas quatro rodas. Juro caiu de 15% para 4%. Câmbio que era 1,80 reais subiu para R$ 4”. Mas se nem o Banco Central consegue segurar a cotação da moeda, mesmo "queimando" boa parte do seu estoque de dólares, que dirá o Posto Ipiranga, com sua inoportuna coscuvilhice?

Observação: As reservas internacionais do Brasil, que são uma espécie de seguro contra crises, fecharam o ano passado com o menor nível desde 2015, aos US$ 356,9 bilhões — uma redução de US$ 17,8 bilhões na comparação com o fim de 2018. 

Fato é que o Ibovespa fechou a semana em queda, seguindo o novo dia de pânico nas bolsas internacionais. Na Ásia, os mercados despencaram com o aumento do número de casos do coronavírus na Coreia do Sul e o medo de uma crise econômica mundial. As bolsas europeias também recuaram, com o avanço da doença na Alemanha e na França, enquanto nos Estados Unidos, que chegaram a 233 casos na manhã desta sexta-feira, empresas como FacebookMicrosoft recomendaram aos empregados trabalhar em home office.

Somada às baixas que vêm se sucedendo desde a quarta-feira de cinzas, a desta sexta fez o índice B3 perder o patamar dos 100 mil pontos, ou, pior, voltar à casa dos 97 mil pontos (uma queda de mais de 20 mil pontos em menos de seis semanas, considerando que o benchmark histórico de 119.527,63 pontos foi cravado em 23 de janeiro último). Se servir consolo, o dólar comercial recuou 0,36%, cotado a R$ 4,6336 na compra e R$ 4,6344 na venda, após mais uma leilão de swaps do BC, com 40 mil contratos. Por outro lado, o dólar futuro para abril subiu 0,35%, para R$ 4,632.

Em 2020, enquanto o real já caiu 15,5% em relação à moeda americana, a perda foi de 4,98% na moeda do México (peso mexicano), 9,40% da África do Sul (rand), e 12,75% da Turquia (lira turca). Isso se deve em grande parte aos sucessivos cortes da Selic (clique aqui para entender o porquê), já que o COPOM vêm reduzindo a taxa básica de juros mês após mês, em vez de se preocupar em enxugar o spread bancário (diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram, na ponta, do tomador de empréstimos, usuário do cheque especial etc.), que, se não me engano, é o mais alto do mundo depois do da ilha de Madagascar.

Feito esse preâmbulo (e estragado o sábado do caro leitor), deixemos essa merdeira de lado e passemos às desgraças, digo, aos assuntos do dia, começando por dizer que o fato de Bolsonaro tripudiar sobre seu próprio pibinho não diminui a gravidade das dificuldades econômicas que o país atravessa, sobretudo depois que o coronavírus infectou a economia em escala mundial. Também não ajuda em nada o presidente convocar uma manifestação popular para defendê-lo e vituperar contra o Congresso, embora a maioria dos parlamentares não valha nem a merda que caga (desculpem meu francês). O Brasil precisa de união para criar condições de escolhermos em 2022 o candidato que realmente queremos ver na presidência, e não sermos obrigados a votar no opositor simplesmente por essa ser a única alternativa à volta de Lula (que provavelmente sobreviverá ao coronavírus, como sobreviveu ao câncer e parece ser imune às balas perdidas que matam tantos inocentes no Rio de Janeiro).

É prematuro falar em sucessão presidencial quando restam 2 anos e 10 meses de mandato ao atual presidente. Mas é preocupante pensar que teremos de aturar as estultices do dito-cujo por mais 2 anos e 10 meses. Ajudaria se ele fechasse sua usina de crises e concitasse seus auxiliares a não palpitar sobre assuntos que não lhes concernem. Paulo Guedes, por exemplo — que, além de ser um pupilo aplicado, aprendeu com o melhor dos mestres —, causou muito ruído e levou o mercado a testar os limites do câmbio ao falar coisas que, ditas por um cidadão comum numa conversa de botequim, teriam tanta importância quanto um cachorro mijando em um poste. 

O primeiro troçulho aflorou quando o ministro afirmou disse que "ninguém deve estranhar se alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil". O cagalhão seguinte veio quando, questionado sobre mais uma redução da Selic, Guedes disse que "a cotação de equilíbrio do dólar tende a ir para um lugar mais alto", e que "flutuações no câmbio não são motivo de preocupação". Isso sem mencionar o episódio em que ele supostamente defendeu a posição estapafúrdia de Eduardo Bolsonaro, que, em entrevista a Leda Nagle, "ressuscitou" o AI-5 ao dizer que "(...) se a esquerda radicalizar a esse ponto, vamos precisar dar uma resposta. E essa resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada via plebiscito, como ocorreu na Itália".

Observação: O que Guedes disse foi: “não se assustem se alguém pedir o AI-5”, no caso de haver baderna na rua, em vez de oposição na política” .

Houve ainda o caso das domésticas irem à Disney e dos "funcionários públicos parasitas", embora salte aos olhos, em ambos os pronunciamentos do ministro, que foram meras metáforas, só que a imprensa não perdoou e, retiradas do contexto, as palavras de Guedes deram munição para a oposição fazer um verdadeiro carnaval em copo d’água.

De uns tempos a esta parte, para a população, dividida pelo “nós contra eles”, as versões, quaisquer que sejam elas, valem mais do que o fato que lhes deu origem. E se catorze meses e fumaça sob as luzes da ribalta não foram suficientes para deixar isso claro a Jair Bolsonaro, sua prole e quem mais gravita em seu entorno, as coisas provavelmente não mudará até final do mandato — caso o imprevisto não tenha voto decisivo na assembleia dos fatos e o presidente consiga se manter no jogo até os 45 minutos do segundo tempo. Nesse entretempo, qualquer som proveniente do Planalto ou do Alvorada, ainda que seja uma singela flatulência presidencial, provocará abalos sísmicos monumentais depois de passar pelos possantes amplificadores da imprensa e das redes sociais.

Para não encompridar ainda mais esta postagem (e não azedar ainda mais o sábado dos leitores), deixo o resto para amanhã.