Como eu mencionei no post de quarta-feira, o presidente
supremo Dias Toffoli teria até domingo para se pronunciar sobre a liminar do ministro
supremo Marco Aurélio, o libertador,
no mandado de segurança interposto pelo senador Lasier Martins. Se não o fizesse, o abacaxi cairia nas mãos do ministro
supremo Luiz Fux, que assume o
plantão da Corte na próxima segunda-feira. Como era esperado — até por uma questão de coerência com a decisão tomada em relação à votação para a presidência da Câmara —, Toffoli considerou que a liminar viola o regimento interno
do Senado e fere sua autonomia, botando água no chope da tropa de choque
de Bolsonaro, já que o voto aberto
eliminaria do páreo Renan Calheiros,
o eterno cangaceiro das Alagoas.
Dito isso, passemos ao assunto de hoje:
Dito isso, passemos ao assunto de hoje:
Até poucos anos atrás, quase ninguém acreditava que Lula seria réu um dia, ou que Dilma seria mesmo impichada. Mas a anta foi penabundada e seu criador e mentor, condenado e preso depois que o TRF-4 ratificou a decisão de Moro (e, de quebra, aumentou a pena para 12 anos e um mês de prisão em regime fechado). Mesmo assim, a maioria dos brasileiros continuava achando que o molusco seria novamente candidato à Presidente e que retornaria ao Planalto, como o Datafolha fazia questão de lembrar quase todo mês.
Não foi fácil prender Lula,
e mais difícil ainda está sendo mantê-lo preso (basta lembrar o caso
Favreto e a liminar
circense do ministro Marco Aurélio). A despeito de toda a
podridão revelada pela Lava-Jato, os
devotos da seita do inferno, apoiados por artistas, intelectuais,
jornalistas e outros desmiolados, continuam defendendo com unhas e dentes a libertação
do criminoso que assaltou o povo a quem dizia defender.
Em 2007, Lula se
autodefiniu como uma “metamorfose ambulante”. Faz sentido: de retirante nordestino pobre e analfabeto, ele passou a torneiro mecânico, sindicalista pelego (vale a pena ler este
texto), líder populista,
deputado federal e, após três
tentativas frustradas, elegeu-se Presidente
da República (por dois mandatos consecutivos). A partir do mensalão, porém,
tornou-se “o cara que não sabia de nada”, e quando foi indiciado na Lava-Jato,
transmudou-se na “alma viva mais honesta
do Brasil”. Ao se tornar réu, o pulha virou uma “célula de cada brasileiro”; às vésperas de ser preso, transformou-se
numa “ideia” e, na cadeia, transmudou-se no “preso político perseguido pelas ‘elites’”.
Réu em oito ações criminais e condenado no processo do triplex, Lula foi preso em abril e está prestes a ser sentenciado novamente, seja pela juíza substituta Gabriela Hardt, encarregada provisoriamente dos casos da Lava-Jato na 13ª Vara Federal do Paraná, seja pelo magistrado que será designado para ocupar a vaga aberta com a exoneração de Sérgio Moro. São dois processos, e ambos estão conclusos para sentença (ou seja, a decisão pode sair a qualquer momento). Um deles envolve uma
cobertura em São Bernardo e um terreno em São Paulo (onde seria erguida a nova
sede de seu “Instituto”), e o outro, um sítio no município paulista de Atibaia.
Na ação sobre o Sítio Santa Bárbara, a defesa apresentou alegações finais na última segunda-feira — um calhamaço de 1.643 páginas sustentando basicamente que Moro não atuou com imparcialidade para
um julgamento isento e que Lula jamais foi dono do sítio. O primeiro argumento não para em pé, quando
mais não seja porque ainda não houve
julgamento — a argumentação até caberia num eventual recurso, mas não se
pode recorrer de uma sentença que ainda não foi proferida. Já o segundo não quer
dizer nada, pois corrupção é crime que
não passa recibo.
Observação: Um dos capítulos desse "tratado sobre o nada" é dedicado integralmente a Sérgio Moro e seu aceite para integrar o novo governo. A defesa também não poupou a juíza substituta Gabriela Hardt. Os dez signatários da peça afirmam que "não obstante a troca do órgão julgador, Lula permanece sendo processado de forma parcial e afrontosa a seus direitos e garantias individuais". Uma foto da primeira dama Michele Bolsonaro também foi anexada aos autos. Na camiseta verde que ela veste, aparece a célebre frase dita pela juíza ao ex-presidente no início de seu último interrogatório: "Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema".
Observação: Um dos capítulos desse "tratado sobre o nada" é dedicado integralmente a Sérgio Moro e seu aceite para integrar o novo governo. A defesa também não poupou a juíza substituta Gabriela Hardt. Os dez signatários da peça afirmam que "não obstante a troca do órgão julgador, Lula permanece sendo processado de forma parcial e afrontosa a seus direitos e garantias individuais". Uma foto da primeira dama Michele Bolsonaro também foi anexada aos autos. Na camiseta verde que ela veste, aparece a célebre frase dita pela juíza ao ex-presidente no início de seu último interrogatório: "Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema".
O Sítio Santa Bárbara tem uma área equivalente a 24 campos de
futebol, passou por uma reforma em regra entre o final da segunda gestão de Lula e o ano de 2014. A primeira etapa, realizada no fim de 2010 e ao longo de 2011, contou com a participação da Odebrecht por meio do engenheiro da empresa Frederico Barbosa (o mesmo que conduziu as obras do estádio do Corinthians, em São Paulo, e que, como a Folha revelou, foi o responsável pela condução dos trabalhos no sítio de Lula). A execução foi coordenada pelo arquiteto Paulo Gordilho a mando de Léo Pinheiro, então presidente da OAS. Dentre outras benfeitorias, o lago
foi remodelado (Lula gosta de pescar, e a ex-primeira-dama, providenciou um barco, que fazia companhia a dois pelinhos
brancos, em formato de cisne, com os nomes dos netos do ex-presidente.
A piscina foi aumentada e a cozinha,
remodelada pela mesma empresa que instalou a do tríplex no Guarujá. Além disso, foram
construídos um anexo com quatro suítes,
um alojamento para os seguranças do
ex-presidente, uma sauna e um campo de futebol society.
"No papel", os donos do sítio são Fernando Bittar e Jonas
Suassuna Filho, ambos filhos de
velhos amigos de Lula e sócios de Lulinha, que passou de catador de bosta no Zoo de São Paulo a gênio das
finanças depois que o papai se elegeu, e se mudou para um apartamento — também
registrado em nome de Jonas Suassuna
— cujo aluguel foi estimado pelo fisco federal em salgados R$ 40 mil mensais (parece que essa
história de morar de favor se deve a uma estranha predisposição genética dos Lula da Silva, mas isso já é outra
conversa).
Ao deixar o Palácio da Alvorada, Lula despachou para “o sítio que nunca
foi dele” 200 caixas contendo parte de sua mudança. Em depoimento, um
ex-assessor da Presidência afirmou ter recepcionado pessoalmente 70 caixas de vinho. Em 2016, em
entrevista a Veja, o delegado
federal Igor de Paula disse que não foi encontrado na propriedade um único item que não fosse do clã — tudo o que estava lá era de Lula e seus familiares, incluindo
camisetas e canecas com o escudo do Corinthians, fotografias de parentes, charutos,
chapéus e calçados de Lula e Marisa, cartões de boas festas e até
medicamentos manipulados em nome da ex-primeira-dama.
Observação: Até eclodirem as primeiras denúncias, Lula e seus familiares estiveram na propriedade rual nada menos que 111 vezes, e sua assessoria emitiu pelo menos 12 notas oficiais dando conta de que “o ex-presidente passaria o fim de semana em sua casa de veraneio em Atibaia”. Depois que a coisa começou a feder, o petralha passou a negar sistematicamente a posse do sítio. Aliás, dizem as más-línguas que ele aconselhou a mesma estratégia de defesa ao médium estuprador João de Deus, ou seja, dizer que o pinto não era dele, mas isso também é outra conversa
Em depoimento, José
Carlos Bumlai, ex-consiglieri do clã dos Lula da Silva, declarou ter
ouvido de Jacó Bittar que a compra
do sítio era uma surpresa para Lula,
e que foi ele, Bumlai, quem deu
início às obras no local e pagou parte das despesas por meio de um
empréstimo fraudulento contratado junto ao Banco Schahin. Léo Pinheiro,
ex-presidente da OAS, reiterou que
bancou reformas no imóvel, e que todas as despesas, tal como na reforma do
triplex, seriam abatidas de uma conta corrente de propinas mantida com João Vaccari, que agia como
representante do PT.
Quando o escândalo do mensalão veio a público — a partir de
uma reportagem veiculada pela Globo, na qual o então presidente dos Correios Maurício Marinho era visto recebendo propina de um empresário, e das
revelações bombásticas feitas por Roberto
Jefferson em entrevista à Folha —
Lula “pediu desculpas”, disse que
foi “traído”, e coisa e tal. Mais adiante, vendo que escaparia incólume, o
cara-de-pau passou a negar o mensalão — e continuou a fazê-lo mesmo depois que o Supremo mandou para a cadeia 24 réus da ação penal 470, dentre os quais Dirceu, Genoíno, Vaccari, Delúbio e outros petralhas de grosso
calibre. Com a Lava-Jato, no
entanto, a coisa mudou de figura. Mas isso é assunto para o post de amanhã.