Em 1998, quando disputou a reeleição, FHC teve como
principal adversário o retirante
nordestino analfabeto e malandro que usou o sindicalismo como
trampolim para a política, fundou uma agremiação de criminosos disfarçada de
partido, sangrou os cofres públicos de 2002 a 2010. E continuou a fazê-lo até
2016, mas tirando a castanha com a mão do gato, ou melhor, do "poste"
que escolheu para manter quente a poltrona tencionava voltar a ocupar em 2014. Mas nem tudo saiu como planejado: o cutruca se tornou réu em 20 processos e foi condenado em dois, por 10 magistrados de três
instâncias do Judiciário, a mais de 26 anos de prisão.
Como isto aqui é Brasil, a mais alta corte de Justiça (?!) mudou
seu entendimento sobre o cumprimento antecipado da pena, permitindo ao
abantesma deixar a sala VIP que lhe serviu de cela após míseros 580 dias. E como as “togas cumpanhêras”
anularam suas duas condenações e todos os demais atos processuais nas quatro
ações que tramitavam ou haviam tramitado na 13ª Vara Federal de Curitiba, o
ex-condenado, transmutado em "ex-corrupto", recuperou os direitos
políticos que haviam sido suspensos pela Lei da Ficha-Limpa.
Voltemos ao grão-tucano de plumagem vistosa, que, no último ano de seu primeiro mandato, comprou
a PEC da Reeleição. Como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, FHC foi o primeiro mandatário a usufruir de sua "obra".
Observação: Em 2014, quando criticou o estelionato eleitoral que foi a reeleição de Dilma, Fernando Henrique ouviu do bocório de Garanhuns: "Vi o ex-presidente falar
com a maior desfaçatez: ‘É preciso acabar com a corrupção’. Ele devia dizer
quem é que estabeleceu a maior promiscuidade entre Executivo e Congresso quando
ele começou a comprar voto para ser aprovada a reeleição". Lula reclamar
de corrupção em governo alheio é
o mesmo que Marcola, o chefe do PCC, imputar crimes ao arquirrival Comando
Vermelho, mas, de novo, isto aqui é Brasil, zil, zil, zil...
Em 2002, após três tentativas frustradas, Lula finalmente conquistou a Presidência, dando início aos 13 anos, 4 meses
e 12 dias de lulopetismo corrupto que terminaram com o afastamento da estocadora de vento e a promoção do "vice decorativo" a titular.
Na visão
míope da petralhada, o país estava melhor nos tempos de Lula e Dilma —
como a parelha de desqualificados fosse austera e pouco afeita a gastos
desnecessários, como Aerolulas, luxuosas suítes no Copa e
em hotéis estrelados do mundo inteiro, bolsas Hermès,
cabeleireiros Kamura e por aí afora. O gramado do
vizinho sempre parece mais verde e o osso que se roeu no passado, mais saboroso
que o bife que está no prato.
Não que haja bife no prato dos brasileiros. Enquanto nosso mandatário de fancaria comemorava
com pompa e circunstância seus mil dias de governo — com o dólar nas alturas,
crises hídrica e de energia elétrica, inflação galopante e combustíveis, gás de
cozinha e alimentos a preços estratosféricos —, brasileiros das classes sociais menos favorecidas disputavam ossos e outros refugos que até pouco tempo atrás iam para as latas de lixo de açougues e supermercados.
Dezoito anos depois de transferir a faixa presidencial ao
sultão da Petelândia, FHC finalmente concluiu que merda fede.
Ou, em suas próprias palavras, que "a
reeleição é dos males — talvez o mais grave — de nosso sistema político".
Em seu “mea-culpa”, o barão do tucanistão reconheceu que cometeu um “erro histórico” ao
patrocinar a emenda em questão, e que foi “ingênuo” por acreditar que a
partir daí os governantes não fariam “o impossível” para se reeleger.
"Ingenuidade" — escreveu Dora
Kramer em sua coluna, "foi acreditar na inocência do
presidente que fez ele mesmo o “impossível” ao jogar o peso de sua autoridade e
prestígio angariado no êxito do combate à inflação para aprovar uma emenda em
causa própria, ferindo de morte sua majestade em troca de mais quatro anos no
Palácio do Planalto."
Vir agora com ato de contrição — prosseguiu a jornalista em
seu imperdível texto — soa a tentativa de diluir responsabilidade por algo que
guarda mais relação com a forma do que com o conteúdo. O defeito não está no
instrumento existente em várias democracias, mas no uso que se faz dele. Por
exemplo: quando da proposta da emenda, por que não se incluiu a obrigatoriedade
de o postulante ao mesmo cargo se afastar por um período determinado antes da
eleição?
A Justiça é falha na fiscalização do uso indevido do poder e os
grandes partidos, tímidos na contestação aos abusos — pois receiam firmar jurisprudências que venham a lhes criar empecilhos amanhã ou depois,
diz Dora, relembrando em seguida uma frase ouvida décadas atrás
de Roberto Campos: “Não é a lei que precisa ser forte, é a carne
que não pode ser fraca”.
É perfeitamente possível conviver com a reeleição, desde que
os políticos não abusem dela e que o povo seja esclarecido e esteja
preparado para votar. A propósito, em meados dos anos 1970, auge da
ditadura militar, Pelé, então no auge da fama, disse que o
brasileiro não sabia votar. Anos depois, numa das muitas pérolas que o
notabilizaram, o então presidente João Figueiredo ponderou que "um
povo que não sabia nem escovar os dentes não estava preparado para votar".
E viva o povo brasileiro!