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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

AINDA SOBRE A CONDENAÇÃO DOS ASPIRANTES A GOLPISTAS

NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE NEM BEM QUE NUNCA TERMINE.

Em 2015, Jair Bolsonaro começou a pavimentar o caminho que o levaria ao Palácio do Planalto. A dois meses do pleito de 2018, todas as pesquisas de intenção de voto apontavam a vitória da coligação da esquerda — embora o cabeça da chapa fosse ficha-suja e estivesse cumprindo pena de prisão. Mas quis o destino (ou alguém cujo nome permanece nas sombras) que um atentado a faca livrasse o então candidato do nanico PSL dos debates, evitando que ele fosse trucidado em rede nacional pela invejável oratória de Ciro Gomes.

 

A pouco mais de um mês do primeiro turno, o TSE rejeitou a quimérica candidatura do então presidiário mais famoso da história deste país. Como Jaques Wagner declinou do papel de bonifrate, o Partido dos Trabalhadores que nao trabalham anunciou oficialmente a substituição de Lula por Fernando Haddad. Mesmo assim, as empresas de pesquisa continuaram dando como certa a vitória de “Luladdad” e a eleição de Dilma para o Senado. 


A mulher sapiens ficou a ver navios, mas, com a volta de seu criador, foi recompensada pelo "golpe" (como a petralhada se refere ao impeachment da anta) com a presidência do Banco do Brics e um salário anual de meio milhão de dólares. Já o combo de mau militar e parlamentar medíocre, incompetente até para gerir um prosaico carrinho de pipoca, surfou na onda do antipetismo e derrotou a marionete de Lula no segundo turno por uma diferença de 10,8 milhões de votos válidos (houve 2,5 milhões de votos em branco e 8,6 milhões de votos nulos).

 

Depois de construir uma carreira parlamentar tão longa quanto inexpressiva, Bolsonaro forneceu a prova cabal de que o Brasil não é um país sério. Para mostrar que era amigo do mercado e obter o apoio dos empresários, o estatista que acreditava em Estado grande e intervencionista, que sempre lutou por privilégios para corporações que se locupletavam do Erário havia décadas, foi buscar Paulo Guedes, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. 

 

Para demonstrar que era inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média, o deputado que, em sete mandatos, percorreu 8 partidos de aluguel e sempre foi adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos, foi buscar Sergio Moro, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. E para obter o apoio das Forças Armadas, o oficial de baixa patente, despreparado, agressivo e falastrão, condenado por insubordinação e indisciplina e enxotado da corporação, foi buscar legitimidade em uma fieira de generais, que embarcaram em uma canoa que deveriam saber furada. 

 

Não podia dar certo — como de fato não deu. O ora ex-presidente e futuro presidiário se revelou o pior mandatário desde Tomé de Souza. Sua admiração pela ditadura militar e vocação para tiranete se acentuaram ao longo de sua nefasta gestão. As “acusações” que o ministro demissionário Sergio Moro fez sobre ingerência política no comando da PF foram comprovadas na gravação da reunião ministerial de abril de 2020. O ministro Celso de Mello autorizou a abertura de um inquérito para apurar os fatos, mas a apuração virou pizza com sua aposentadoria do STF


A despeito de a CPI do Genocídio lhe imputar a essa criatura desprezível uma dezena de crimes associados às políticas públicas de combate à pandemia, e dos mais de 140 pedidos de impeachment protocolados, a inação de Rodrigo Maia, a cumplicidade de Arthur Lira e a subserviência abjeta de Augusto Aras asseguraram a permanência do estrupício no cargo até dezembro de 2022. 

 

Mandrião de quatro costados, o ex-presidente trabalhava, em média, 18 horas por semana a menos que um trabalhador celetista e 14 a menos que um servidor público federal da administração direta (conforme o estudo "Deixa o homem trabalhar?", de Dalson Figueiredo, Lucas Silva e Juliano Domingues). Em 2019, houve dias em que ele trabalhou 12 horas, mas cargas horárias superiores a cinco horas diárias só foram registradas em trânsito (como em 18 de novembro de 2021, na volta de Doha, no Catar, para Brasília). Se aplicado o mesmo critério, o tempo gasto com motociatas pelo país, comendo farofa nas ruas de Brasília ou passeando de jet-ski no Guarujá seria considerado jornada de trabalho. 
 
Observação: Bolsonaro gastou mais tempo em almoços (média de 1,3 hora) do que em reuniões com ministros de estado (menos de 1 hora). Durante a pandemia, participou apenas de cinco eventos envolvendo explicitamente o tema “vacina”, investindo, em média, 0,9 hora por compromisso — totalizando três almoços. Na manhã do dia 8 de julho de 2021, mês em que o Brasil ultrapassou as 500 mil mortes pela Covid, conversou durante 50 minutos com devotos no cercadinho defronte ao Alvorada (a maior parte do tempo foi gasta com piadas), e chegou a dizer que sua agenda andava “meio folgada”. 

 

Ao longo dos quatro anos em que conspurcou a Presidência, o "mito" dos anencéfalos reafirmou ad nauseam sua autoridade com frases como “quem manda sou eu”, “minha caneta funciona” e “não sou um presidente banana”. Na célebre reunião ministerial de abril de 2020, esbravejou: Não vou esperar foder [sic] a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira.” 


Em 2018, a parcela minoritária do eleitorado que apoiou o fantasioso "outsider anti establishment" o fez por absoluta falta de opção, e, portanto, não comemorou sua vitória, mas sim a derrota da marionete do então presidiário. Em 2022, esses "isentões" ajudaram a eleger Lula porque era imperativo evitar mais quatro anos (ou sabe Deus quantos) sob a batuta de um genocida golpista, e a quimérica terceira via — tida como a solução para furar a polarização, acabou virando parte do problema devido a egos avantajados, falta de projetos e carência de apoio popular.


O que Bolsonaro mais fez durante seu mandato — além de gozar férias paradisíacas no litoral paulista e em cidades turísticas da costa catarinense, promover motociatas e fazer campanha pela reeleição — foi atacar o TSE e o STF. Se o Brasil fosse uma democracia como manda o figurino, essa aberração teria sido deposta muito antes dos discursos golpistas do 7 de Setembro; numa republiqueta de bananas presidida por um ex-presidiário convertido em ex-corrupto por conveniência da alta cúpula do Judiciário, não chega a espantar que um pedido de desculpas mal ajambrado, rascunhado às pressas por um ex-presidente de nada saudosa memória, levasse muita gente a acreditar (ou a fazer de conta que acreditava) que o
 escorpião da fábula estava sinceramente arrependido.

 

Disse o poeta que  não há nada como o tempo para passar, e o Conselheiro Acácio, que as consequências sempre vêm depois. Inobstante a pressão dos aliados do capetão, do lobby abjeto do filho do pai, da ingerência igualmente abjeta de Donald Trump na soberania nacional e da ignóbil proposta de anistia que tramita no Congresso, Bolsonaro e sete cúmplices na tentativa de golpe de Estado foram condenados a pesadas penas privativas de liberdade. 

 

A inédita condenação dos militares graduados do “núcleo crucial da trama golpista” mostrou que o Brasil foi capaz de dar um passo à frente, mas os veredictos são meras reticências. Por mais que o voto teratológico de Fux (embora não inexplicável tenha reavivado as brasas da esperança do gado bolsonarista, quem enxerga as coisas como elas realmente são — e não como gostaria que fossem — sabe que as chances de reforma da decisão da Primeira Turma são quase inexistentes. Os bolsomínions mais radicais prometiam forrar as ruas caso o “mito” fosse condenado, mas o que se viu foram uns poucos gatos pingados em prantos, abraçados ridiculamente a bandeiras dos EUA e do Brasil. 

 

Uma vez publicado o acórdão, as defesas terão cinco dias para apresentar embargos declaratórios, que servem para esclarecer aspectos obscuros da decisão, mas costumam ser usados para protelar o trânsito em julgado. Já os embargos infringentes só são admissíveis, à luz da jurisprudência do STF, quando há quatro ou mais votos divergentes em decisões plenárias ou dois ou mais votos em decisões das turmas. No caso em tela, somente o ministro Fux divergiu do relator. 


Se algumas das defesas seguir por esse caminho, Moraes negará seguimento ao recurso; se os advogados ingressarem com embargos infringentes, caberá à própria Turma decidir manter ou não a decisão monocrática do do relator, e Dino, Cármen e Zanin certamente acompanhariam Moraes. Assim, as chances de o caso ser reexaminado pelo plenário da Corte são próximas de zero, e ainda que assim não fosse, nada garante que as demais togas divergiriam de Moraes, Dino, Cármen e Zanin.


Dito isso, resta aos sectários do Messias que não miracula apostar na anistia, que é outra miragem: se essa aberração for aprovada pela Câmara e pelo Senado, será vetada por Lula; se o Congresso derrubar o veto, o STF a julgará inconstitucional. Em última análise, a irresignação dos bolsonaristas serve apenas para acirrar a tensão entre os Poderes e carimbar na testa dos parlamentares a pecha de "Cupinchas do Trump".

 

A defesa de Bolsonaro já se equipa para pedir sua prisão domiciliar — que ele já vem cumprindo desde 4 de agosto por ter desobedecido medidas cautelares. Talvez o trânsito em julgado da condenação arraste gente para as ruas — como a prisão de Lula arrastou em abril de 2018. Mas o Brasil não parou em 2018 e não vai parar agora. Malafaia et caterva reuniram mais de 80 mil manifestantes no Rio e São Paulo no feriado da Independência, mas esse número está longe de representar a maioria dos brasileiros — que, aliás, é contra a anistia.


Segundo dados colecionados pelo Datafolha, 50% dos entrevistados defendem a prisão de Bolsonaro, 43% são contra e 7% responderam que "não sabem". É preocupante o fato de metade do eleitorado ter dificuldade para se situar no mundo e, pior se dar conta de estar sendo tratado como morador do fundo do quintal imaginário da calopsita laranja que pousou na Casa Branca. Também preocupante é o fato de o Congresso discutir a anistia de quem ainda nem foi preso. Governadores conservadores, supostamente democráticos, prometem indulto a Bolsonaro caso cheguem ao Planalto. Empresários fazem cara de nojo para o STF.


Ao evitar o golpe, o Brasil deu ao mundo a impressão de que superou a barbárie. Em editorial publicado neste sábado, o jornal francês Le Monde anotou que a condenação do núcleo crucial da tentativa de golpe é "uma prova de maturidade para um país que esteve submetido ao arbítrio e à brutalidade de uma ditadura militar". Tudo verdade. Mas quem presta atenção aos fatos percebe que, se os otimistas se descuidarem, o Brasil corre o risco retornar à selvageria antidemocrática sem atingir o estágio intermediário de algo que, no futuro, possa pelo menos ser chamado de bons tempos.


Incitado pelo traidor Eduardo Bolsonaro, o terror da Casa Branca pode aplicar mais sanções — que também não mudarão o curso das coisas. Ainda pode haver tumulto, já que os líderes do bolsonarismo não estão preocupados com o país, e sim com os próprios umbigos. Os aspirantes a herdeiros políticos do prisoner-to-be circulam como urubus em torno do moribundo, reivindicando um pedaço de seu legado eleitoral. Ainda haverá muito dedo no olho e gritaria, uma vez que os eleitores insistem em fazer a cada eleição, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade.

 

Para concluir este romance, relembro a saga de um ex-estudante de São Petersburgo que escritor russo Fiódor Dostoiévski descreveu em Crime e Castigo, e que os criminosos sempre se baseiam na relação de custo-benefício. Bolsonaro e seus cúmplices assumiram o risco da prisão acreditando no antídoto da anistia que seus comparsas no Parlamento se esforçam para aprovar. No entanto, da mesma forma que cometeram erros elementares no planejamento do golpe, erraram ao não levar em conta outros efeitos da condenação. 

 

Depois do trânsito em julgado, o STM deve cassar as patentes dos militares condenados — incluindo Bolsonaro, que deixou a caserna pela porta dos fundos, mas, por força de lei, recebeu a patente de capitão. Infelizmente, ele não perderá suas remunerações de parlamentar aposentado e de ex-presidente. Dos demais militares condenados, somente Mauro Cid se manterá tenente-coronel, já que foi apenado com anos de prisão em regime aberto (mas já adiantou que pretende deixar o Exército e se mudar para os EUA).

 

Os danos qualificados e a destruição de bens tombados acarretaram penas privativas de liberdade e responsabilidade patrimonial solidária no valor de R$ 30 milhões. Todos os integrantes do núcleo crucial da tentativa de golpe — Bolsonaro e Ramagem em especial — devem permanecer inelegíveis por oito anos contados a partir do término do cumprimento das penas. Na testa de Bolsonaro — um péssimo militar, deputado antidemocrático e misógino e presidente inepto e de mentalidade golpista-fascista — o STF carimbou o fim de seu prazo de validade política.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

FHC E A REELEIÇÃO

 

First things first, dizem os gringos, numa alusão a prioridades. Assim, antes de passar ao assunto do dia, relembro ter criticado enfaticamente a maneira espetaculosa e irresponsável com que a mídia noticiou, na última terça-feira (8), a suspensão dos testes da vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford (detalhes nesta postagem).

Salvo raríssimas e honrosas exceções, âncoras de telejornais, comentaristas e palpiteiros de plantão trataram o assunto como se fosse o sepultamento das esperanças de sucesso na eficácia da droga contra a Covid-19. Os poucos que tiveram a decência de esclarecer que a suspensão de testes de medicamentos não é incomum, que a paralisação não representava necessariamente um retrocesso e que nenhum dos 5 mil voluntários que se submeteram aos testes no Brasil havia apresentado qualquer reação adversa fizeram-no como que por mero dever de ofício, sem dar o devido destaque — afinal, boas notícias não vendem jornal. Felizmente, minha previsão se confirmou: fez-se carnaval em copo d’água. 

No último sábado (12), a AstraZeneca anunciou os testes seriam retomados nesta segunda-feira (14), depois de aprovação dada pela Anvisa.  A Universidade de Oxford também anunciou a retomada das aplicações de sua vacina na fase 3 de testes no Reino Unido. após uma revisão independente, feita por um comitê internacional, ter concluído que a "reação adversa apresentada pelo paciente" não teria necessariamente relação com a vacina. Dito isso, vamos adiante.

Diz um velho ditado que o mundo dá muitas voltas; outro, que palavra de rei não volta atrás. Isso não significa que sua majestade não possa mudar de ideia: de acordo com outra pérola da sabedoria popular, pedra que rola não cria limo. O que nos leva ao ex-presidente Fernando Henrique.

Durante o primeiro mandato do pomposo tucano, após uma série de articulações iniciadas em 1995, o "rolo compressor governista" comprovou sua força. Uma PEC aprovada na Câmara por 369 votos a 11 estendeu a reeleição — apenas uma vez para um mandato subsequente e sem restrição para um pleito não consecutivo — a chefes dos Executivos Federal, Estaduais e Municipais (e respectivos vices). Dias após a aprovação da proposta, a Folha revelou que pelo menos quatro deputados haviam recebido R$ 200 mil (cada) em troca do voto favorável à emenda.

A oposição pediu a abertura de uma CPI, mas Michel Temer, na época presidente da Câmara, e outros nomes influentes se mobilizaram para barrar a investigação, e o então “engavetador-geral” Geraldo Brindeiro não deu andamento às denúncias. Assim, em 13 de maio de 1997  a PEC foi chancelada pelo Senado. E como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte, o grão-tucano se beneficiou dela no pleito de 1998, quando, a exemplo do que fizera quatro anos antes, derrotou o criminoso de Garanhuns já no primeiro turno.

Passando de FHC a Jair Messias Bolsonaro, entre inúmeras promessas de palanque que enfiou em local incerto e não sabido depois de derrotar Luladdad, o presidente de turno desistiu de propor ao Congresso o fim da reeleição — instituto que, segundo ele, “acabava se tornando uma espécie de desgraça, pois só era possível mediante “acordos espúrios que levavam a escândalos de corrupção”.

Nem bem vestiu a faixa, nosso morubixaba mudou o discurso. Alegando que "vinha sendo pressionado", seria candidato (se é para o bem de todos e felicidade geral da nação...), mas condicionou sua disputa à reeleição à aprovação de uma reforma política destinada a reduzir o tamanho da Câmara e Senado. Promessa feita, promessa cumprida, só que pela metade: o número de parlamentares permanece o mesmo, mas o Messias que não miracula só tem olhos para o pleito de 2022. 

Então, caríssimo leitor, se você ainda acredita no que diz seu presidente, junte-se à Velhinha de Taubaté e dê um abraço no Coelho da Páscoa, talquei?  

Dezoito anos após transferir a faixa presidencial ao molusco lalau de nove dedos (já pensou quanto ele teria roubado se tivesse todos os dez?), FHC concluiu que merda fede — ou por outra, que a reeleição é dos males talvez o mais grave do nosso sistema político

Em seu “mea-culpa”, o tucano reconheceu ter cometido um “erro histórico” ao patrocinar a emenda constitucional que permitiu a prefeitos, governadores e presidente disputarem a renovação de seus mandatos. Disse ter sido “ingênuo” por acreditar que a partir daí os governantes não fariam “o impossível” para se reeleger.

Ingenuidade — diz Dora Kramer — foi acreditar na inocência do então presidente que fez ele mesmo o “impossível” ao jogar o peso de sua autoridade e prestígio angariado no êxito do combate à inflação para aprovar uma emenda em causa própria. Em assim procedendo, feriu de morte sua majestade em troca de mais quatro anos no Palácio do Planalto.

Vir agora com ato de contrição — prossegue Dora — soa a tentativa de diluir responsabilidade por algo que guarda mais relação com a forma do que com o conteúdo. O defeito não está no instrumento existente em várias democracias, mas no uso que se faz dele. Por exemplo: quando da proposta da emenda, por que não se incluiu a obrigatoriedade de o postulante ao mesmo cargo se afastar por um período determinado antes da eleição?

A Justiça é falha na fiscalização do uso indevido do poder e os grandes partidos também são tímidos na contestação aos abusos com receio de firmar jurisprudências que venham a lhes criar empecilhos amanhã ou depois, afirma a jornalista, e emenda uma frase que diz ter ouvido há décadas de Roberto Campos: “não é a lei que precisa ser forte, é a carne que não pode ser fraca”.

No sentido oposto argumentam os defensores da busca de um atalho legal para que o presidente da Câmara e principalmente o do Senado possam disputar novo mandato em fevereiro de 2021. Aceitam o óbvio, que a Constituição veda a reeleição dentro da vigência do mandato do parlamentar, mas acrescentam, simulando piscadelas retóricas de confiante malandragem: “Aqui é Brasil”. Onde, portanto, o impossível é possível quando quem parte e reparte fica sempre com a melhor parte, ainda mais se tiver a faca e o queijo nas mãos.

Esse tipo de conduta ao qual têm se associado o senador Davi Alcolumbre por ação e o deputado Rodrigo Maia por omissão reforça o alegado arrependimento de FHC que serviu de sustentação a várias manifestações de defensores do fim da reeleição como se, primeiro, os males da nossa política tivessem surgido em 1997, completando agora tenros 23 anos de idade, e, segundo, fossem ser resolvidos com a instituição de cinco anos de mandato sem direito à renovação.

Verdade que aí reside o problema? Seria até em parte, caso governantes também não fizessem o diabo para eleger sucessores. É perfeitamente possível conviver com a reeleição desde que não se abuse dela. No caso dos presidentes da Câmara e do Senado, começando por respeitar ou para com clareza mudar a Constituição. Mas, para não incorrer em serôdios atos de contrição, fazendo valer para o futuro, sem legislar em causa própria.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

SOBRE VACINAS, NOTÍCIAS E ARTICULAÇÕES DESPUDORADAS

Segundo um velho axioma do jornalismo, notícia boa é notícia ruim. E quando a notícia não é ruim o bastante, sempre se pode enfatizar seu lado mais sombrio, como fizeram os telejornais na noite de terça-feira. 

Só faltou a marcha fúnebre de Chopin como fundo musical quando noticiaram que a farmacêutica AstraZeneca suspendera os testes da vacina contra o Coronavírus devido à reação adversa apresentada por um voluntário. 

Foi relatado que o paciente sofria de sintomas neurológicos associados a um raro distúrbio inflamatório da coluna, a mielite transversa, mas ainda não se sabe se ele havia tomado a vacina ou o placebo nem se a tal reação adversa foi causada ou potencializada pela droga.

Devido à maneira sensacionalista como a notícia foi veiculada, as ações da AstraZeneca abriram em queda na quarta-feira, mas zeraram as perdas quando se noticiou que o evento é comum durante a fase de testes e que o experimento deve ser retomado na próxima semana (para mais detalhes, clique aqui). 

Salta aos olhos que esse “mal estar” poderia ter sido evitado se a mídia salientasse que a suspensão de testes de medicamentos não é incomum, que a paralisação não é necessariamente um retrocesso, que essa não foi a primeira vez que algo semelhante aconteceu e que o laboratório está trabalhando para revisar os resultados do teste o mais rápido possível, visando minimizar qualquer impacto no cronograma do ensaio.

A Unifesp, parceira da AstraZeneca no Brasil e provável fabricante da vacina no médio prazo, informou que a fase três também foi suspensa localmente, mas que nenhum dos 5 mil voluntários que se submeteram aos testes apresentara até o momento qualquer reação adversa. E emendou: “Trata-se de uma prática comum em estudos clínicos envolvendo fármacos. O comitê de monitoramento de segurança do estudo analisa se o caso tem ou não relação com a vacina e assim que a análise for concluída, a fase 3 deve ser retomada.

Mudando de pato pra ganso, quando a récua de murares (também conhecida como “eleitorado”) escalou Bolsonaro e Luladdad para o mata-mata em 2018, o capetão tornou-se automaticamente nossa única alternativa (noves fora anular o voto, votar em branco ou simplesmente não comparecer às urnas, como fizeram 42 milhões de eleitores). 

Conhecendo o comportamento da esquerda atávica, eu antecipei que, ao vestir a faixa presidencial, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre seria mais malhado que boneco de pano em Sábado de Aleluia e relembrei a velha fábula do velho, o menino e o burro e a máxima atribuída a JFK sobre a fórmula do sucesso.

Num país sério, Bolsonaro não se elegeria sequer para síndico de condomínio de periferia (a não ser, talvez, os que são controlados pela milícia fluminense). Mas vivemos no Brasil do Deus me livre, onde um presidiário transforma sua cela em comitê de campanha e palanque, e nem a PF, nem o TSE, nem o STF dizem um “a”. Esperar o quê?

Jamais acreditei que Bolsonaro faria um bom governo, mas nunca imaginei que ele superaria minhas piores expectativas. E como nada é tão ruim que não possa piorar, se ninguém tomar uma atitude (Hello, Rodrigo Maia!), não só teremos de aturá-lo por mais 2 anos, 3 meses e 20 dias, como podemos assistir a um reprise, em 2022, da comédia de humor negro de 2018, pois a récua de muares é bem capaz de repetir a dose.

Circunstâncias adversas nos levaram a soltar o gênio da garrafa, e agora não sabemos como prendê-lo de volta, já que não contamos com o apoio do Congresso ou do Supremo.

A perspectiva de um parlamento mais afinado com os desejos e necessidades da nação se nos apresentou nas eleições passadas, quando três em cada quatro senadores que tentaram um novo mandato não se reelegeram, a exemplo de 157 dos 400 deputados que concorreram à reeleição. Infelizmente, mudaram as moscas, mas a merda continua a mesma.

Para piorar, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre parecem estar mais preocupados com os próprios interesses. O Senado vai analisar uma PEC que permite a reeleição, dentro da mesma legislatura, dos presidentes das duas Casas de Leis. A proposta foi apresentada pela senadora Rose de Freitas, para quem a legislação está “descompensada” desde 1997 — quando a Constituição passou a admitir a reeleição para o Poder Executivo —, e conta com o apoio de 29 outros senadores, três a mais que o necessário para a apresentação de uma PEC.

O Supremo admite uma exceção à atual regra, que é quando as eleições para as Mesas ocorrem em legislaturas diferentes — graças a essa interpretação, o Senado já teve quatro presidentes reeleitos desde a promulgação da Constituição: Renan Calheiros, por duas vezes (em 2007 e 2015); Antônio Carlos Magalhães (em 1999) e José Sarney (em 2011); na Câmara, houve dois casos: Michel Temer, em 1999, e o atual presidente da Casa, no ano passado — que é também o único dos presidentes do Legislativo que se manteve no cargo por dois mandatos dentro da mesma legislatura, numa situação excepcional: em 2016 ele foi eleito em substituição a Eduardo Cunha, que fora afastado pela Justiça; em 2017, STF permitiu que Maia buscasse a reeleição em 2017, por entender que seu período na presidência não havia constituído um mandato próprio, mas apenas um “tampão”.

No STF, perdemos Celso de Mello no pior momento. Ainda que ele retorne da licença média nesta sexta-feira, só permanecerá no cargo até 31 de outubro, quando então será aposentado (nos nossos tribunais superiores, a aposentadoria torna-se compulsória quando o magistrado completa 75 anos). 

Anteontem, o ministro Marco Aurélio, que substitui o colega na relatoria do inquérito que investiga a suposta intervenção de Bolsonaro na PF, encaminhou à PGR o pedido de prorrogação feito pelo MP, mas Augusto Aras ainda não se manifestou (o regimento interno do STF estabelece que, em caso de licença do relator, ele é substituído pelo ministro mais antigo do colegiado). Vale lembrar que a principal pendência nesse inquérito é o depoimento de Bolsonaro sobre as acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro.

Aproveitando-se da ausência do decano na 2.ª Turma, Gilmar Mendes tem feito picadinho das decisões da Lava-Jato e submetido a reputação do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro a um processo de esquartejamento. O laxante de toga conta com o apoio de Lewandowski, e já articula o grand finale, que deve ser a anulação da condenação de Lula no caso do tríplex.

No mês passado, a dupla extirpou a delação de Palocci do processo em que Lula é acusado de receber propina da Odebrecht na forma de um terreno, em São Paulo, para a construção da nova sede de seu Instituto. Devido à ausência da ministra Cármen Lúcia, o ministro Fachin, relator da Lava-Jato no STF, foi o único voto dissonante. Mendes e Lewandowski “entenderam” que Moro foi “parcial” ao usar o depoimento de Palocci no processo de Lula “para criar um fato político às vésperas das eleições presidenciais de 2018”. 

Ainda em agosto, a 2.ª Turma anulou a sentença de Moro no caso Banestado.  Embora Cármen Lúcia e Fachin tenham votado pela manutenção da decisão do ex-juiz, a ausência de Celso de Mello garantiu o empate e validou o entendimento de teria havido juntada de documentos aos autos após o encerramento da instrução processual, o que culminou com a anulação da condenação o doleiro Paulo Roberto Krug (a despeito de a decisão do ex-juiz da Lava-Jato ter sido confirmada tanto pelo TRF-4 quanto pelo STJ).

Tudo leva a crer que Gilmar aproveitará a ausência do decano para pautar o pedido de suspeição de Moro no caso do tríplex. O julgamento do recurso foi interrompido por um pedido de vista feito pelo próprio Gilmar no final de 2018, quando Cármen Lúcia e Fachin já haviam votado contra a tese da defesa — baseada no fato de o ex-juiz ter condenado o ex-presidente ladrão visando favorecer a vitória de Bolsonaro em troca de um cargo em seu governo. 

Talvez Moro tenha feito uma péssima escolha ao trocar 22 anos de magistratura por um ano e quatro meses como ministro de um presidente “chinfrim”, mas isso não anula os achados que levaram Lula à cadeia. Sem mencionar que a condenação do tríplex já não diz respeito ao ex-juiz, na medida em que, como a do doleiro Krug, foi confirmada pelo TRF-4 e ratificada no STJ. Mas se Celso de Mello não participar desse julgamento, o empate favorecerá Lula

De acordo com Josias de Souza, Sérgio Moro perdeu uma mão no expurgo da delação de Palocci e um pé no cancelamento do veredicto do doleiro do Banestado. Se confirmada, a anulação do veredicto do tríplex apartar-lhe-á a cabeça do pescoço. Seus algozes ainda não se deram conta, mas o estão presenteando com o papel de vítima. Até aqui, Moro dedicou-se a atirar contra o próprio pé. Aos pouquinhos, vai ganhando um alvo: os adversários do combate à corrupção. 

Para lavar a ficha suja que o separa dos palanques, Lula terá de guerrear pela anulação de outra sentença já referendada em segunda instância: a do sítio de Atibaia. Já Bolsonaro chegará a 2022 carregando a bola de ferro dos negócios familiares e cavalgando o centrão, um aglomerado partidário 100% feito de suspeitos, culpados e cúmplices.

Num cenário assim, um ex-juiz ensanguentado e sem cabeça pode ser um candidato inusitado na sucessão. Na pior hipótese, Moro aproveitará a campanha para recompor sua biografia. Na melhor, entrará na briga pela simpatia dos admiradores da Lava-Jato

No final do ano passado, o Datafolha constatou que 81% dos brasileiros consideravam que a operação deveria continuar. A conversão dos líderes do centrão em heróis da resistência e a anulação de sentenças leva melado para o moinho do projeto Moro 2022.

domingo, 24 de março de 2019

NÃO SE CURA A DOENÇA MATANDO O PACIENTE


A POLÍTICA É A ARTE DE CONCILIAR INTERESSES PRÓPRIOS ENQUANTO SE FINGE CONCILIAR OS DOS OUTROS.

A corrupção é um câncer que a Lava-Jato se esforça por debelar há mais de cinco anos. Muito foi feito desde então, a despeito dos incessantes bombardeios desfechados contra a força-tarefa, que, qual Fênix mitológica, renasce das cinzas toda vez que sua morte é declarada. Mas há nas redes sociais uma corrente que defende a máxima fiat justitia, pereat mundus, ou seja, que se faça justiça mesmo que o mundo pereça. Essa indignação com o estado de coisas no país é perfeitamente legítima, pondera Rodrigo Constantino. Essa gente não quer saber quais serão os efeitos da caça às bruxas na Economia; se o país tiver de afundar para que mais meia dúzia de corruptos sejam punidos, que assim seja!, conclui o jornalista. E ele está coberto de razão.

Michel Temer e alguns de seus asseclas foram presos preventivamente na última quinta-feira. Debalde a pronta ação de seus caríssimos advogados, suas excelências devem permanecer sob custódia até a próxima quarta, quando o TRF-2 julgará seus pedidos de liberdade. O ex-presidente se diz inocente e profundamente indignado com a prisão arbitrária, mas invocou o direito constitucional de permanecer calado durante o depoimento aos procuradores e agentes da PF. Carlos Marun, seu eterno pitbull, afirma que o emedebista foi pego numa queda de braço entre a Lava-Jato e o STF. Talvez tenha razão, mas a maior surpresa foi o fato de a prisão não ter ocorrido assim que o vampiro do Jaburu deixou o cargo e perdeu o direito a foro privilegiado.

O xis da questão é o momento que o país atravessa. Às vésperas de completar 3 meses na Presidência, Bolsonaro continua agindo mais como candidato do que como mandatário eleito e empossado. Isso pode agradar seus apoiadores incondicionais, mas não os milhões de brasileiros o escolheram por falta de opção — Luladdad não era uma opção, embora muitos eleitores, cegos pelo fanatismo ou desassossegados diante da possibilidade de eleger o capitão ser o passaporte para a volta da ditadura militar, votaram na marionete do presidiário de Curitiba.

Da reforma da Previdência depende o futuro do Brasil e do atual governo. Só que o presidente parece não se ter dado conta disso: em vez de focar a articulação política necessária à aprovação da PEC, ele continua vituperando contra inimigos reais e imaginários, não raro através de tuítes postados pelo rebento zero dois, que dias atrás resolveu atacar Rodrigo Maia.

Desde o último final de semana que Moro vinha pressionando Maia para que seu pacote anticrime fosse pautado rapidamente. Irritado, o deputado disse que o ministro estava "confundindo as bolas" e que ele era um "funcionário do Bolsonaro".  A situação se agravou após a prisão de Moreira Franco, casado com a sogra de Maia. No Congresso, dizia-se que o juiz Bretas decretara a prisão preventiva em resposta à postura do deputado diante da inércia da tramitação do pacote anticrime.

Maia diz que o governo tem de eleger uma prioridade — que, para ele, o projeto número um deve ser o da reforma da Previdência — e pediu a Moro respeito, afirmando que compete ao presidente da Câmara definir a pauta de votações da Casa. Em resposta, Moro disse esperar que o seu projeto tramite regularmente e seja debatido e aprimorado pelo Congresso com a urgência que o caso requer. "Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais. Essas questões sempre foram tratadas com respeito e cordialidade com o presidente da Câmara, e espero que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com quem o propôs. Não por questões pessoais, mas por respeito ao cargo e ao amplo desejo do povo brasileiro de viver em um país menos corrupto e mais seguro", declarou o ex-juiz em nota enviada pelo Ministério da Justiça. 

Rodrigo Maia pode ser o que for, mas vem trabalhando como ninguém pela obtenção dos votos necessários à aprovação da PEC da Previdência. É certo que ele é investigado no STF (em pelo menos 3 inquéritos), que posa de representante da nova política, mas está no quinto mandato de deputado federal (só isso já diz tudo), que é filho do ex-prefeito do Rio César Maia (isso diz mais alguma coisa), que engavetou dezenas de pedidos de impeachment contra Temer, que apoiou o sepultamento das denúncias do ex-PGR Rodrigo Janot contra o ex-presidente, que figura nas planilhas do departamento de propina da Odebrecht com o codinome “Botafogo”, que tem uma estranha predileção por bermudas roxas (pior que isso, só mesmo a camiseta pirata do Palmeiras e os chinelos de dedo de Bolsonaro) e por aí segue o andor. Mas também é fato que Maia vem oscilando como um pêndulo, ora apoiando Bolsonaro, ora ameaçando largar mão da articulação política da reforma previdenciária.

Ao ser informado da prisão de Temer e de Moreira Franco (que é padrasto de sua mulher), o presidente da Câmara suspendeu sua agenda — mas mudou de ideia e retomou-a horas mais tarde. Afirmou que o episódio não comprometerá a tramitação da reforma, mas disse ao jornal O Globo que só irá pautá-la quando o Planalto tiver os votos necessários para sua aprovação. "Vou pautar (a reforma) quando o presidente disser que tem votos para votar. A responsabilidade do diálogo com os deputados daqui para frente passa a ser do governo. É ele que vai negociar com os deputados. A reforma da Previdência continua sendo a minha prioridade, mas essa responsabilidade de articular com os deputados para construir uma base sólida é do presidente da República, não do presidente da Câmara. Ele tem que articular diretamente, chamar os presidentes dos partidos, as bancadas, ou chamar e ver no que dá".

Alguns acham que Rodrigo Maia não importa, mas não é bem assim. É o que constata o deputado conservador Paulo Eduardo Martins, da base governista: “Noto muita gente dizendo que ele está atrapalhando a reforma. É uma visão equivocada. Maia tem trabalhado muito para viabilizar a aprovação. Você pode não gostar dele, mas é fato que ele tem feito esse trabalho”.

O clima no país, especialmente na ala mais bolsonarista, não está propício para reflexões sérias e ponderadas. Os bolsomínions querem sangue, senão vão embora, mas não sem antes acusar todo e todos de defensores de bandidos, de vendidos. A esses jacobinos repaginados não importam os possíveis desdobramentos de ordem prática, e ainda acusam quem se preocupa com isso de “vendido” ou esquerdista. Nem todos que festejaram a prisão de Temer são jacobinos, naturalmente, assim como nem todos que estão apreensivos defendem corruptos. O ambiente é tóxico para o debate, para construção de instituições mais sólidas, para o avanço de reformas. É um clima pré-revolucionário. Estão todos preocupados em exterminar os ratos, enquanto o navio afunda em alto mar. O problema é que nós, que não somos ratos, estamos no mesmo barco e podemos ir a pique junto com eles…

Em vez de todos se unirem para tapar os buracos por onde entra a água, muitos estão mais interessados em degolar corruptos, “doa a quem doer”. O problema é que pode doer demais, e em todos, se a nau dos insensatos realmente soçobrar.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

ANO NOVO, PRESIDENTE NOVO



Como será o amanhã? Responda quem souber. Como ficará a nação sob a nova direção, isso só o tempo dirá.

Chegamos onde chegamos porque nosso “esclarecidíssimo eleitorado” dispensou impiedosamente os candidatos que representavam um ponto de equilíbrio e levou ao segundo turno os dois extremos do espectro político partidário — de um lado, um boneco de ventríloquo de um criminoso condenado, preso e sedento de vingança; do outro, um capitão do exército reformado, antipetista e antiesquerdista, tido como machista, truculento, homofóbico e saudosista da ditadura militar. Quem semeia ventos colhe tempestades, diz um velho ditado. Mas quando as alterativas são o desastre anunciado e um caminho para o desconhecido, o jeito é optar pela segunda — daí Bolsonaro ter derrotado Luladdad por uma vantagem de quase 11 milhões de votos.

Observação: Como salientou Roberto Pompeu de Toledo na edição impressa da revista Veja da semana passada, a Venezuela foi um dos fantasmas acionados contra o PT na campanha. E com razão: o partido de Lula entrincheirou-se na solidariedade para com o regime dito bolivariano, num estratagema de deliberada cegueira diante do desastre político, econômico e social ali em curso. Some-se a isso a falta de autocrítica aos desatinos da política econômica de Dilma e estava servido, farto e saboroso, o prato com que os adversários alimentaram o prognóstico de que, com a vitória do PT, o Brasil se tornaria uma nova Venezuela.

Ano novo, presidente novo, segue dividido o povo, tendo a raiva como combustível da polarização onde “os de direita” apoiam incondicionalmente o “mito”, e a patuleia, má perdedora, promete ampla, geral, irrestrita, intransigente, arrogante e exclusivista oposição — sobretudo o bando petista, que se enxerga como o único e legítimo dono da chave da história. Aliás, o PT informou que nenhum dos seus parlamentares participará da cerimônia de posse de Bolsonaro, no que foi prontamente seguido pelo PSOL (para mais detalhes, clique aqui).

A camarilha de Lula diz que “reconhece o resultado das eleições, mas defende que elas foram marcadas por falta de lisura por ter sido descaracterizada pelo golpe do impeachment, pela proibição ilegal da candidatura do ex-presidente Lula e pela manipulação criminosa das redes sociais para difundir mentiras contra o candidato Fernando Haddad". Já a caterva do candidato derrotado Guilherme Boulos, eterno líder MTST, classificou a efeméride como “um momento de festa em que, para o partido, não há nada a comemorar”.

O boicote, vindo de quem vem, não chega a surpreender. Aliás, dizer que o governo que ora se inicia tem como princípios o ódio, o preconceito, a intolerância e a violência é esquecer — de maneira muito conveniente e com toda a má intenção — que foi Lula quem, de sua primeira candidatura presidencial, em 1989, ao discurso que fez antes de ser levado para a prisão, em abril do ano passado, repisou sempre a retórica do “nós contra eles”, onde “nós seria o povo, que o PT e seu líder representariam, e “eles”, as elite econômicas interessadas apenas em manter seus privilégios.

Observação: O embate às vezes duro entre visões divergentes faz parte da vida democrática. Num debate polarizado, porém, cada um dos lados, convicto do acerto absoluto de suas ideias extremas, deseja não só a derrota, mas a aniquilação dos opositores, a quem vê como inimigos. 

Claro que houve polarização política em outras épocas — como em 1964, com as “marchas da família com Deus pela liberdade” contra o governo João Goulart, ou em 1968, com a Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar, e por aí vai —, mas jamais com a magnitude da que teve início em 2013 a pretexto do reajuste de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e acabou promovendo uma substancial mudança de padrão da condução de seus conflitos políticos e resultando no (até então improvável) impeachment da gerenta incompetenta que por pouco não levou o país à bancarrota. De lá para cá, o maniqueísmo político cresceu exponencialmente e explodiu durante a campanha pela sucessão presidencial de 2018, que, em paralelo ao duelo entre Bolsonaro e Luladdad, magnificou o confronto entre petismo e antipetismo. O PT, que até então dominava o jogo da vilanização do adversário, perdeu o rumo; sustentando até o limite a ficção de que Lula era perseguido pelas elites, o partido da estrela apagada insistiu em sua candidatura, mesmo estando ele preso, e quando afinal o "plano B" foi acionado, a transferência de votos impulsionou a candidatura do fantoche, mas não o suficiente para derrotar "o mito". Resta saber se a jararaca — como Lula apelidou a si mesmo — desta vez foi ferida de morte ou se ainda terá forças para reconstituir-se num mito à altura do argentino Juan Domingo Perón, envolto num misto de saudade do passado e miragem de um futuro idílico.

Como dito, conflitos são inerentes à democracia, e a polarização, que é o enrijecimento das posições e seu aquartelamento em duas facções, sem muita coisa de relevante no meio, pode ser tolerável enquanto regulada por instituições fortes. É o que ocorre nos Estados Unidos. Por mais que Trump se rebele contra a imprensa e chame de fake news as notícias que lhe desagradem, não se concebe que vá fechar o The New York Times. É o que não ocorre na Venezuela, onde Nicolás Maduro fecha estações de TV inoportunas — sob aplausos entusiásticos do bando vermelho tupiniquim, nunca é demais lembrar. Ao fim e ao cabo, a polarização brasileira será julgada por seu desfecho, se desfecho houver. Se não houver, é porque foi contida nos quadros institucionais e seu andamento se dará na cadência desse benfazejo produto da ordem democrática que é a alternância no poder.

Voltando ao cenário local, há que dedicar mais algumas linhas ao “imbróglio Queiroz”. As “movimentações financeiras atípicas” e mal explicadas que o COAF identificou na conta do ex-assessor e motorista do então deputado e ora senador eleito Flávio Bolsonaro não implica diretamente o presidente, mas pegaram muito mal para quem baseou sua campanha no combate à corrupção. E uma parcela substancial da mídia tem feito o possível e o impossível para manter esse assunto em destaque.

Não é preciso ter olfato de perdigueiro para farejar a prática de pedágio no gabinete do “01” (como Bolsonaro se refere ao filho mais velho). Engordar os próprios salários garfando parte da remuneração dos assessores sempre foi tão comum entre parlamentares quanto o uso da gravata, e o número absurdo de funcionários que podem ser contratado a expensas do contribuinte assanha o apetite pantagruélico dessa corja: na Câmara Federal, cada gabinete pode ter entre 5 e 25 servidores comissionados, com salários que variam de aproximadamente R$ 1 mil a R$ 15 mil; no Senado, o número de funcionários dobra e a remuneração vai de R$ 4 mil a R$ 17 mil. Nada disso justifica ou isenta de culpa os envolvidos, naturalmente. Por outro lado, Lula foi poupado das investigações sobre o Mensalão e reeleito quando a roubalheira já era pública e notória, além de ter emplacado uma ilustre desconhecida e rematada incompetente como sucessora em 2010 e mantê-la no posto 2014, quando a Lava-Jato já estava em curso e os primeiros prenúncios do Petrolão já surgiam no horizonte. Não sei o leitor há de concordar, mas eu acho que toda essa indignação fede mais do que o caso em si.

Bolsonaro deu uma explicação plausível para os depósitos na conta de sua esposa, e o general Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, disse que o caso “não é uma questão de governo”. Não obstante, o misterioso desaparecimento ex-assessor, motorista e amigo há décadas do clã Bolsonaro deu à oposição farta munição para disparar contra a credibilidade de um presidente que ainda nem começou a governar. Além disso, mesmo tendo reaparecido, depois de faltar a duas oitivas convocadas pelo Ministério Público (detalhes nesta postagem), Queiroz não explicou por que funcionários do gabinete de Flavio Bolsonaro depositavam dinheiro em sua conta todo início de mês, embora tenha afirmado que nunca foi laranja, que as transações de compra e venda de carros explicam as movimentações em sua conta e que complicações decorrentes de um câncer no intestino impediram-no de depor quanto foi convocado. “Eu sou um cara de negócios. Faço dinheiro. Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim. Gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia…”, disse Queiroz, cuja renda mensal, segundo ele, gira em torno de 23 mil reais (clique aqui para conferir a íntegra da entrevista concedida ao SBT).

Para encerrar, volto rapidamente à ex-presidanta incompetenta, não para detalhar as barbaridades que ela gestou e pariu durante os 5 anos, 4 meses e 12 dias em que desgovernou esta Banânia, mas apenas para relembrar que, a pretexto de combater a ditadura, Dilma participou de três organizações terroristas (Colina, VAR-Palmares e VPR), e seus “camaradas” — alguns saudados por ela em discursos de campanha, praticaram toda sorte de crimes, aí incluídos assaltos a banco, sequestros e assassinatos, e não para resistir à ditadura, mas sim para fazer a “luta revolucionária” e instaurar a ditadura do proletariado, como lembrou o jornalista Reinaldo Azevedo nesta postagem

Para bom entendedor...      

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTAM 11 DIAS...



A oportunidade de escolher um candidato “mais ao centro do espectro político-partidário” se perdeu no último dia 7. Agora não adianta chorar. Resta-nos o Capitão Caverna ou o fantoche do presidiário de Curitiba — o pior dos cenários, sem dúvida, mas previsível à luz da crescente polarização do eleitorado.

Não sei o que esperar de Bolsonaro na presidência, mas sei como foi ter o PT no poder. No mais das vezes, é melhor ficarmos com o diabo que conhecemos, mas toda regra tem exceção, e a eleição do próximo dia 28 me parece ser uma situação excepcional.

A pouco mais de uma semana do segundo turno, todas as pesquisas indicam a vitória de Bolsonaro por uma vantagem considerável, embora ele seja o candidato dos sonhos somente para os bolsomínions — mais ou menos como Lula em relação aos sectários do lulopetismo. Isso significa que seu favoritismo se deve a um repúdio maciço ao PT, ou por outra, ao medo de o demiurgo de Garanhuns voltar ao poder, ainda que encarnado no fantoche que se empenha mais a cada dia em desconstruir sua própria imagem para se travestir no mestre e conquistar a simpatia da patuleia.

A pesquisa mais recente do Ibope não só reafirmou o favoritismo do capitão como também o declínio de sua rejeição, que às vésperas do primeiro turno era de 43% e agora caiu para 35%. Já o repúdio a Haddad cresceu de 36% para 47%, superando o do adversário pela primeira vez desde o início da campanha.

Sondados pelo staff petista, Joaquim Barbosa e Fernando Henrique não demonstraram grande entusiasmo em apoiar Luladdad. Jaques Wagner — que era o primeiro da lista no “plano B” do PT, mas preferiu (sabiamente) disputar uma vaga no Senado — chegou mesmo a reconhecer que o partido deveria ter desistido da candidatura própria e apoiado Ciro Gomes. Aliás, Lula atuou nos bastidores para minar as chances de Ciro chegar ao segundo turno, e agora está colhendo o que plantou: o cangaceiro de araque (Ciro é paulista de Pindamonhangaba) viajou para a Europa e seu irmão Cid, durante um ato de campanha petista no Ceará, disse à patuleia que o PT deveria ter pedido desculpas pelas “besteiras que fizeram”, por “aparelharem as repartições públicas” e por “acharem que eram os donos de um país que não aceita ter dono”. O circo pegou fogo, como se pode conferir no vídeo que eu inseri na postagem anterior (são cerca de 4 minutos, mas que valem cada segundo).

Observação: Para não perder a liderança da esquerda, o presidiário de Curitiba barrou de todas as maneiras a aliança com o PDT, inclusive ameaçando o PSB de lançar candidato em Pernambuco se o partido apoiasse Ciro. Agora, quando tudo indica que Inês é morta, surgem dentro do próprio PT sugestões de lançar a candidatura de Ciro em 2022.

A pouco mais de uma semana do segundo turno, combater Bolsonaro com um discurso genérico sobre valores e democracia, direcionado a um eleitorado eminentemente antipetista, me parece perda de tempo. Mesmo que atraísse para si todos os votos brancos e nulos, o fantoche de Lula não conseguiria vencer o adversário, e roubar seus eleitores é uma missão quase impossível, pois quem vota no capitão não vota no PT. Além disso, a ideia de formar uma aliança pluripartidária “a favor da democracia” não só não deu certo como foi desmentida (ou talvez por não ter dado certo é que foi desmentida) pelo próprio Jaques Wagner.

Bolsonaro tenta se mostrar menos radical e vem evitando os debates (que decididamente não são a sua praia). Pode ser uma boa estratégia: com ou sem debates, os que votaram nele não mudarão seu seu votos, assim como os seguidores da seita do inferno também não o farão. Se o candidato do PSL conseguir controlar seus verdadeiros adversários — que são ele próprio, seu vice e seu staff, que nem sempre cantam em coro e não raro cometem erros primários em seus pronunciamentos —, sua vitória está praticamente assegurada.

Observação: Bolsonaro deve passar por nova avaliação médica nesta quinta-feira, 18, quando será liberado (ou não) para participar de debates televisivos. Desde que teve alta, ele gravou transmissões ao vivo quase que diárias nas redes sociais, deu entrevistas a rádios e emissoras de TV e participou de alguns atos públicos, mas não dos debates programados pela Band, Gazeta e Rede TV. E o mesmo deve ocorrer no do SBT, que estava previsto para esta quarta-feira. E ainda que seja liberado pelos médicos, ele pode não participar dos debates da Record e da Globo, programados respectivamente para os próximos dias 21 e 26. Segundo o UOL, o capitão só irá aos debates “se achar que deve; se achar que não, não vai participar”. A Band remarcou seu para a próxima sexta-feira, “a depender da decisão que os médicos tomarão na quinta e que o próprio Bolsonaro tomará na sequência”, segundo o jornalista Ricardo Boechat, escalado para mediar o debate.

Os próximos anos não serão fáceis, independentemente de quem for o presidente da vez, pois sua popularidade irá evaporar tanto se ele se empenhar nas reformas necessárias ao combate do desequilíbrio fiscal quanto se não as levar adiante. Todavia, considerando os presidenciáveis que disputarão o segundo turno, o Brasil sairá do pleito mais dividido do que nunca. 

Com bem salientou Mario Vitor Rodrigues na Gazeta do Povo, “se somarmos à inabilidade política do grupo que tende a assumir o poder o seu voluntarismo para ferir estruturas básicas no senso comum e o fato de que não há função mais talhada para a esquerda do que jogar pedra na vidraça, talvez o bolsonarismo encontre a sua verdadeira vocação em poucos anos, qual seja reavivar uma esquerda que tinha tudo para passar um bom tempo no ostracismo, não fosse ela convidada para uma festa em que sempre soube muito bem como se comportar”.

Para relembrar, veja como age o candidato que se diz pronto para debater com quem for e em qualquer lugar:


E para encerrar, uma foto que traduz com rara sensibilidade como a maioria de nós se sente em relação ao cenário político:


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terça-feira, 16 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTAM 12 DIAS




Quem acompanha minhas despretensiosas postagens sabe o que eu penso sobre as pesquisas de intenção de voto. Aliás, estatísticas devem ser tratadas com muito cuidado — basta lembrar a história dos cientistas que colocaram um sujeito com a cabeça no freezer e os pés no forno e não entendiam por que ele berrava tanto, já que, na média, deveria se sentir confortável.

Acho difícil acreditar que a opinião de 2.000 entrevistados em cento e poucos municípios traduz o que pensam mais de 140 milhões de eleitores em quase 5.600 cidades brasileiras. A propósito, basta relembrar a eleição de Doria no primeiro turno do pleito de 2016 e do retumbante fiasco de Dilma no da semana passada — embora fosse tida e havida como favorita por todos os institutos de pesquisa, a anta vermelha não chegou nem perto de se eleger.

Dias atrás, um novo levantamento feito pelo Datafolha apurou que Bolsonaro está 16 pontos percentuais à frente de Luladdad na contagem de votos válidos (58% a 42%). Para superar o capitão, o dublê de fantoche e alter ego do presidiário de Curitiba precisaria conquistar todos os votos nulos, em branco ou de indecisos.

A pesquisa FSB/BTG Pactual, cujos resultados foram divulgados nesta segunda-feira, diz que o candidato do PSL está 18 pontos percentuais à frente do  petista nas intenções de voto, e que sua rejeição é de 38%, enquanto a do adversário chega a 53%. Já os números publicados pelo Instituto Paraná Pesquisas — também nesta segunda-feira — dão conta de que Bolsonaro tem 59,1% das intenções de voto, contra 25,5% de Haddad (mais detalhes na figura abaixo).


Por essas e outras — mais um gripe que ninguém merece —, vou ficando por aqui, não sem antes relembrar que não concordo 100% com tudo que Bolsonaro diz, mas sou 1.000% contrário à volta do PT ao poder.

Falando no diabo, digo, nos petistas, vale a pena assistir ao vídeo abaixo até o final. São cerca de quatro minutos, mas que valem cada segundo:

   

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