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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

DANDO NOME AOS BOIS



Patriotismo e chauvinismo parecem conceitos semelhantes à primeira vista, mas carregam diferenças profundas. Confundir um com o outro é como misturar alhos com bugalhos, capitão-de-fragata com cafetão de gravata ou a obra do mestre Picasso com a pica de aço do mestre-de-obras. Chamamos patriotismo a um sentimento baseado em valores nobres, voltado para o bem-estar do país. Já a palavra chauvinismo deriva do nome de um soldado francês, Nicolas Chauvin, famoso pela lealdade cega a Napoleão Bonaparte, donde o termo ser usado com o sentido de nativismo irracional, fanático, com pitadas de psicopatia. 


Como exemplo de patriotismo, cito as manifestações pelas Diretas-Já nos anos 1980; como exemplo de chauvinismo, a depredação das sedes dos Três Poderes protagonizada em 8 de janeiro de 2023 por uma récua de bolsonaristas lunáticos (com o perdão da redundância), que cantam o hino nacional para pneus, pedem ajuda a ETs e trotam para a Avenida Paulista sempre que seu "mito" sopra o berrante.

 

Em tempos de polarização, o que os peseudopatriotas chamam de patriotismo é na verdade um chauvinismo viceral, guiado pelo ódio a quem pensa diferente (veja-se o Brexit no Reino Unido e à invasão do Capitólio no EUA). No Brasil, esse fenômeno ganhou força durante a disputa presidencial de 2018 (não que campanhas eleitorais movidas pelo ódio sejam novidade nesta banânia), mas sua origem remonta ao final dos anos, quando Lula plantou a semente da cizânia com seu discurso de "noff contra eleff" (lembrando que os embates entre PT e PSDB eram mais ou menos civilizados). 


O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que a raiva, quando industrializada, costuma ter um desfecho ruim. Jânio renunciou. Collor foi impichado. Bolsonaro perdeu a reeleição, ficou inelegível e vive sob a ameaça de uma sentença criminal (que, lamentavelmente, demora a acontecer). E a última pesquisa Quaest trouxe dados preocupantes para o Planalto e para o comitê eleitoral do PSOL em São Paulo: às vésperas do primeiro turno, a aliança de Boulos com Lula ainda não decolou — o apadrinhado atraiu apenas 43% dos eleitores paulistanos que votaram em seu padrinho na sucessão presidencial de 2022. 


Observação: Devido a essa "lulodependência", o vexame será compartilhado pelo padrinho se o afilhado não passar para segundo turno. Nessa hipótese, Lula perderia tanto para a direita representada por Tarcísio de Freitas, padrinho de Nunes, quanto para a ultradireita personificada em Marçal, que cresceu à revelia de Bolsonaro.

 

O cenário segue de empate triplo, mas Nunes e Marçal cresceram além da margem de erro, e Boulos ficou abaixo do patamar tradicional da esquerda (em Sampa), que gira em torno de 30%. Para agravar a situação, o ex-chefe do MTST vem perdendo terreno em áreas onde esperava crescer.


Em última análise, o mago memes e dos recortes foi enfeitiçado pelo próprio feitiço no debate da TV Cultura. Privado pelas artimanhas do sorteio de trocar farpas com os dois candidatos mais bem-postos nas pesquisas, Marçal esmerou-se nas provocações ao quinto colocado, levou uma cadeirada, tentou a administrar a agressão com método. Percebendo que seu plano de migrar da posição de encrenqueiro profissional para a de vítima havia micado, recalibrou rapidamente o discurso, queixou-se da falta de solidariedade dos adversários e declarou-se pronto para a guerra. Aprendeu da pior maneira um velho ensinamento de Tancredo Neves: a esperteza, quando é muita, engole o dono.

 

Costuma-se dizer que macaco esconde o rabo para falar mal do rabo alheio. Ao cobrar serenidade de Datena depois de fustigá-lo na noite de domingo, Marçal sentou-se no próprio cinismo. Vivo, Charles Darwin diria que a campanha municipal de São Paulo é a prova de que o ser humano não só parou de evoluir como fez o caminho inverso, rumo às cavernas.


Desde que Marçal revelou que se faz de idiota nos debates porque "o público gosta disso" aguardava-se um fato que justificasse o uso do ponto de exclamação que se escuta quando as pessoas dizem "não é possível!" Pois bem, o sinal foi dado: no debate Rede TV-UOL, constatada a impossibilidade de controlar quem age ou reage como se tivesse parafusos a menos, optou-se por banir o risco de que a patifaria resultasse num replay parafusando-se as cadeiras no chão. 


Se no último domingo a cadeira foi a grande vencedora, no debate de ontem quem se destacou foi a mediadora, que conduziu com firmeza as duas horas do programa. Nunes passou o debate inteiro — fora os instantes em que ele esteve se digladiando com Marçal — tentando grudar em Boulos a pecha de defensor da legalização das drogas; este, por sua vez, disse que Nunes a Marçal são faces da mesma moeda (porque buscam o vínculo com o bolsonarismo), mas que o primeiro é ruína e o outro, o abismo.

Nos embates anteriores adotou-se de tudo em matéria de endurecimento das regras — do puxão de orelhas à proibição do celular, passando pela expulsão da sala. Especula-se agora sobre o que virá depois da cadeira parafusada. Coleira? Focinheira? Jaula?
 
A conferir.

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

BASTA DE FAKE NEWS

FOI-SE O TEMPO EM QUE AS PESSOAS ME DECEPCIONAVAM; HOJE ELAS APENAS CONFIRMAM MINHAS TEORIAS.


Comemora-se no dia 2 de abril o Dia Internacional da Checagem de Fatos, mas as eleições municipais estão aí, e com as fake news potencializadas pela Inteligência Artificial, fica ainda mais difícil separar o joio do trigo. 

Adubada pela popularização das redes sociais a polarização semeada por Lula com seu "nós contra eles" transformou as campanhas políticas num campo mais fértil para o joio das fake news do que para o trigo dos debates — debates esses que eram mais ou menos civilizados quando os tucanos, e não os trogloditas, eram os adversários de turno do PT e seus satélites. 
 
O uso de fake news, perfis-robôjunk news e outros mecanismos não é uma exclusividade da política tupiniquim entre outras coisas, essa prática ensejou o desembarque do Reino Unido da União Européia e levou Trump à presidência dos EUA em 2106 (o Facebook admitiu que a Internet Research Agency comprou mais de US$ 100 mil em anúncios políticos na plataforma durante a campanha eleitoral).  

No Brasil, a moda surgiu no pleito de 2014 e se consolidou nos subsequentes, tanto gerais como presidenciais. Este ano, a julgar pelo festival de acusações e xingamentos trocados entre os 5 primeiros colocados na disputa pela prefeitura de São Paulo, os eleitores minimamente pensantes que não baixarem o sarrafo terão de escolher entre anular o voto, votar em branco ou dar uma banana pra essa gentalha e se abster de votar. 

Observação: A capital paulista lidera o ranking mundial de poluição do ar pelo quarto dia consecutivo por causa das queimadas, mas, segundo algumas fontes, o problema se agrava significativamente sempre que os aspirantes a alcaide abrem a boca

O voto em branco indica que o eleitor não se identifica com nenhum dos candidatos ou propostas, mas não é considerado na contagem e, portanto, não afeta o resultado diretamente. O voto nulo é uma forma de protesto mais explícito, mas também não interfere no resultado (é mito que 50% + 1 votos nulos anulam a eleição). Já a abstenção (não votar), sobretudo em países em que "o exercício do direito de voto é obrigatório", como é o caso desta banânia, é uma forma de protesto contra o sistema como um todo (embora possa resultar de desinteresse ou alienação política). 

PAUSA PARA MAIS DESGRAÇA

A estiagem vem causando uma queda acentuada no nível dos mananciais que abastecem a capital paulista e outras cidades do estado. A situação não é tão crítica como a de 2020/21, mas pode se agravar se as previsões de estiagem para 2025 e 2026 se confirmarem.
Bauru, Piracicaba e outros municípios do interior enfrentam racionamentos há mais de três meses, e os focos de incêndio registrados em todo o estado continuam aumentado. Para piorar o que já é ruim, a seca na represa Guarapiranga (que abastece boa parte da zona sul da capital) tem contribuído para aumentar a poluição da água e do ambiente ao redor do reservatório.
Capitaneado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas, o governo do estado iniciou a perfuração de poços artesianos e retomou as obras de reservatórios próximos a Campinas como forma de minimizar os efeitos da falta de chuva. Se ainda se ouve falar em "rodízio" e "racionamento", é porque isso não orna com eleições, mas a conscientização da população e uma "mãozinha" de São Pedro são cruciais para o restabelecimento dos níveis dos reservatórios.
Quem for pedir ajuda ao santo deve frisar que a precipitação deve ser significativa, ocorrer por um período prolongado e se concentrar nas bacias hidrográficas que alimentam os reservatórios. As célebres "tempestades de verão" servem apenas para aumentar o caos na sempre caótica Sampa, mas mais caótica ainda em meio a uma eleitoral travada por aspirantes a alcaide que não reúnem condições sequer para dirigir um carrinho de pipoca.
 
Disse alguém mais sábio que "só existem 'influencers' porque existem 'idioters'", mas mesmo que não fazem integra a confraria de anencéfalos que endeusam políticos corruptos e têm bandidos de estimação corre o risco de "levar gato por lebre" se não puser as barbichas de molho.

Para checar a veracidade dos posts, você pode usar a ferramenta disponível na SERP do Google — basta clicar (ou tocar) nos três pontinhos verticais que ficam ao lado dos títulos nos resultados das pesquisas para ter acesso a informações como origem do domínio, idade do registro do site e certificado de segurança — recorrer à coluna Me engana que eu posto, hospedada no site da revista Veja
 
O E-Farsas é o site de checagem de fatos mais antigo do Brasil (para checar um tema específico, encaminhe  o pedido através da aba "Contato"), mas a Agência Lupa, ligada à Folha de S.Paulo, também é pioneira nesse ramo. Para entrar em contato, basta mandar uma mensagem no Facebook que o bot irá avaliar se as informações são verdadeiras ou falsas.
 
O Boatos.org vem desmentindo boatos sobre doenças raras, notícias de morte de pessoas públicas, tentativas de golpes ou outros tipos de fake news desde 2013. Para sugerir a checagem de uma notícia, envie uma mensagem pelo site ou pelo Facebook; se preferir usar o WhatsApp, o telefone é 61 99275-5610

O Fato ou Fake, do g1, está ativo desde julho de 2018. A apuração de notícias falsas é feita por uma equipe de jornalistas de diversos veículos — como Época, Extra, G1, CBN, Extra, TV Globo, GloboNews, Jornal O Globo e Valor Econômico. Para enviar sugestões pelo WhatsApp, o número é 21 97305-9827. 
 
detector de fake news do FakeCheck consegue analisar um texto de pelo menos 100 palavras usando usando Processamento de Linguagem Natural e Aprendizado de Máquina. Para enviar o material pelo WhatsApp, o número é 16 98112-8986

Criado por uma ex-engenheira da Nasa e um desenvolvedor de apps premiado, o site Ground News ajuda a entender o viés da mídia, verificar a credibilidade da fonte e visualizar dados de propriedade de agências de notícias em todo o mundo, e está disponível no formato aplicativo para Android e para iOS.

O buscador de imagens reversas Duplichecker permite fazer pesquisas a partir de uma imagem, colando um URL ou digitando as palavras-chave correspondentes. Outra opção a considerar é a coluna Me engana que eu posto, que fica hospedada no site da revista Veja

O Aos Fatos é uma agência especializada na checagem de fatos que classifica as notícias em sete categorias — verdadeiro, impreciso, exagerado, distorcido, contraditório, insustentável e falso — e aceita denúncias no Facebook mediante posts marcados com a hashtag #vamosaosfatos e no WhatsApp pelo número 21 99956-5882.

O Comprova dispõe de uma equipe de jornalistas de 24 veículos  entre os quais Exame, Folha/UOL, Nexo, Estadão e Veja — e recebe denúncias via Facebook pelo ou WhatsApp através do número 11 97795-0022

quinta-feira, 13 de junho de 2024

O MAQUIAVEL DE MARÍLIA


Às vésperas de completar 15 anos no STF, o ministro Dias Toffoli segue fazendo história — e assim continuará até 2042, já que, em nossas cortes superiores, a aposentadoria dos magistrados só é compulsória aos 75 anos. Claro que nada impede sua excelência antecipar a troca da suprema toga pelo supremo pijama — como fez Joaquim Barbosa em julho de 2014, aos 59 anos —, nem o destino de presenteá-lo com o pijama de madeira — como fez com Menezes Direito em 2009 e Teori Zavascki em 2016. 

Gilberto Freyre, morto há 37 anos, disse certa vez que o formalismo exacerbado leva os juristas a se isolarem da realidade brasileira. Se ainda caminhasse entre os vivos, o autor de Casa-Grande & Senzala contataria que o problema de certos ministros do STF não é o excesso de liturgia, mas a falta dela. A julgar pela desfaçatez com que se dedicam a rega-bofes e encontros com o lobismo político e empresarial, algumas togas já deram alta aos psicanalistas, e Toffoli é um dos que desafiam Freud e a própria sensatez. 

 

A penúltima afronta do Maquiavel de Marília (apelido cunhado pelo jornalista paraibano José Nêumanne) ao recato produziu a torrefação de R$ 39 mil em diárias internacionais de um agente de segurança, que o acompanhou de 25 de maio a 3 de junho, durante uma viagem ao Reino Unido sem o menor vestígio de interesse público.

 

No dia 1º, Toffoli compareceu à final da Champions League e assistiu à vitória do Real Madrid sobre o Borussia Dortmund em camarote financiado pelo empresário Alberto Leite, dono da FS Security — um devoto de Bolsonaro, fã de Elon Musk e crítico de Alexandre de Moraes. Antes, entre abril e maio, excursões por Londres e Madrid já haviam torrado quase R$ 100 mil em diárias do segurança. Em nota, a assessoria do ministro realçou que as viagens não afetam o ritmo de trabalho do magistrado, que continua a proferir decisões e a participar das sessões plenárias, ainda que virtualmente.

 

Em despachos recentes, Toffoli cancelou as penas de Marcelo Odebrecht, anulou punições à Odebrecht e até à J&F, que nada tem a ver com a Lava-Jato. Na véspera do Carnaval, suspendeu com um pedido de vista o julgamento dos embargos protelatórios opostos pela defesa de Collor no processo em que o Rei-Sol foi condenado a 8 anos e 10 meses de reclusão, e devolveu os autos três meses depois, acompanhado do voto pela redução da pena para menos da metade (o que permitiria o cumprimento em regime aberto desde o início). 

 

O Supremo faria um bem a si mesmo se aplicasse em relação ao eminente togado — e a outras togas assemelhadas — a fórmula contida numa lei enunciada pelo ex-ministro da Fazenda e economista Mario Henrique Simonsen, segundo a qual é preferível pagar a comissão de certas obras para que os interessados esqueçam o projeto. Mal comparando, pode ser mais vantajoso para o país pagar as despesas de viagens internacionais e nacionais de Toffoli, desde que ele seja dispensado de tomar decisões judiciais.

 

Continua...

domingo, 3 de março de 2024

ESTE É UM PAÍS QUE VAI PRA FRENTE


Uma filosófica anedota sobre a criação do mundo e as versões romanceadas do descobrimento, da Independência e da República explicam por que o eterno "país do futuro" (que nunca chega) se tornou uma republiqueta de bananas.

Pindorama virou colônia em 1500, Reino Unido a Portugal e Algarves em 1815, Império em 1822 e República em1889 (dos Estados Unidos do Brasil até 1967 e Federativa do Brasil a partir de então). Ao longo de 134 anos, 38 presidentes foram alçados ao cargo via voto popular, eleição indireta, linha sucessória e golpe de Estado. Nos últimos 98, apenas Dutra, Juscelino, Lula e FHC concluíram seus mandatos. Bolsonaro foi (até nisso) um ponto fora da curva.

Uma vez confirmada sua derrota nas urnas, o Messias que não miracula se encastelou no Alvorada e lá ficou até a antevéspera da coroação de D. Lula III, quando então desabalou para Orlando (EUA) e se homiziou na cueca do Pateta por 89 dias, enquanto aguardava o desenrolar dos acontecimentos urdidos aqui por seus comparsas golpistas. 

Bolsonaro entrou para a história como o pior mandatário desde Tomé de Souza e o único, desde a redemocratização, que sobreviveu ao mandato, tentou a reeleição e não conseguiu. Se não tivesse conspirado 24/7 contra a democracia, se associado à Covid, rosnado para o Congresso e o Supremo e se amancebado com Fabrício QueirozCarla ZambelliFernando Collor, milicianos e que tais, talvez seu sucessor continuasse gozando férias compulsórias na carceragem da PF em Curitiba.
 
Ninguém é mais responsável do que Bolsonaro pela merda que o Brasil virou nos últimos anos (não que antes fosse muito melhor). E o pior é que, por mal dos nossos pecados, esse circo de horrores não acabou: nem bem vestiu a faixa presidencial, Lula começou a trabalhar pelo retorno do bolsonarismo

Lula e Bolsonaro se merecem, mas os brasileiros de bem não merecem nenhum dos dois.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

CUIDADO COM O QUE DESEJA


Ao fazer pose de estadista, Lula se tornou refém das expectativas que ele próprio criou. Com o penúltimo arroubo autoritário de Nicolás Maduro — a quem Lula teve o desplante de receber com pompa e circunstânciao universo lhe jogou uma corda ao petista. Resta saber se ele vai usá-la para galgar o tão sonhado posto ou para se enforcar. 
 
Depois de culpar a Ucrânia pela invasão capitaneada por Putin e Israel pelo ataque feito pelo Hamas, o Sun Tzu de Garanhuns ganhou uma nova chance de provar que "é o cara". Nas pegadas da crescente tensão causada pelo amigo e companheiro de ideologia venezuelano, a pressão internacional para que ele exerça sua autoproclamada liderança regional também aumentou. E agora o furdunço acontece debaixo de suas ventas, em contraste com o papel "fabricado" de mediador que o petista tentou desempenhar nos conflitos do leste europeu e do oriente médio.
 
Enviar soldados e tanques para impedir tropas venezuelanas de usar Roraima como atalho para invadir Essequibo foi uma medida necessária, mas dizer simplesmente que não vai apoiar a aventura bélica de Maduro não basta. Mesmo que a ameaça seja uma bravata eleitoreira (e eu não estou dizendo que é), há que conter o tiranete de mierda 
— um conflito militar na região certamente atrairá os EUA e o Reino Unido em defesa da Guiana e a Rússia em apoio à Venezuela. O Kremlin já confirmou que o ditador bolivariano será recebido pelo autocrata russo; a data ainda não foi especificada, mas o Itamaraty receia que o encontro seja iminente.
 
Maduro ressuscitou
 em plena selva amazônica o embate político ideológico entre os EUA e a ex-União Soviética que estava em animação desde a queda do Muro de Berlim. Ambas as potências defendem os próprios interesses econômicos — os EUA porque a riqueza petrolífera da região de Essequibo é explorado pela ExxonMobil e a Rússia por ser a maior provedora de armas da Venezuela, fornecendo desde o armamento usado por tropas de infantaria a caças supersônicos.
 
Disputas na América do Sul deveriam ser a prioridade do governo Lula, mas Maduro continua avançando rumo ao embate direto. Além de redesenhar o mapa da Venezuela com a inclusão de Essequibo, o ditador determinou que a população da região se retirasse. O risco de essa merdeira respingar em terra brasilis é considerável, e o presidente de turno 
não dispõe da prerrogativa de excluir o país da encrenca.

Lula diz que "não quer confusão na vizinhança" — sobretudo porque o Brasil assumiu a presidência do G20 no início deste mês, e "confusão na vizinhança" é o que menos se deseja —mas Biden o instou a "exercer sua liderança regional" em prol de uma saída pacífica para o conflito. Durante a cúpula de chefes de Estado do Mercosul, ele ofereceu as instalações de Brasília para sediar eventuais encontros entre as partes, mas propôs que o hipotético entendimento seja conduzido pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. 

O diabo é que o mundo o vê Lula como mediador natural do conflito, o único capaz de sedar os arroubos do autocrata bolivariano, que, alheio à fidalguia do companheiro brasileiro, faz ouvidos moucos para a inquietação do Planalto. Como desgraça pouca é bobagem, Javier Milei — o doidivanas recém-empossado presidente argentino — já anunciou que pretende retomar as Malvinas
 
Segundo o g1, depois de conversar com Lula por telefone, Maduro disse que Venezuela e Guiana terão que "sentar e conversar" sobre Essequibo. O encontro foi marcado para a próxima quinta-feira.

A ver.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

PUEBLO DE MIERDA TIENE EL PRESIDENTE DE MIERDA QUE SE MERECE


Roxo de inveja de Putin e motivado pelo banho de sangue no oriente médio, Maduro estende as patas sobre Essequibo, que tem 160 mil km2, 125 mil habitantes e reservas de petróleo estimadas em mais de 8 bilhões de barris, que tornam a Guiana é um dos mais promissores produtores da região. No último dia 3, o o presidente venezuelano (que é tão democrata quanto Lula é estadista) chamou a votar 20,7 milhões dos quase 30 milhões de conterrâneos, e 10.554.320 votaram favoravelmente à anexação.
 
Quando precisam unir a nação em seu apoio, tanto o presidente americano quanto o tiranete de mierda venezuelano compram briga com outro país. Mas Maduro nada tem a oferecer ao eleitor senão ruínas e circo 
 daí ele ter levar à ribalta uma encrenca antiga às vésperas do ano eleitoral. 
 
Os limites territoriais sob disputa foram ajustados num tratado firmado em 1899 entre Venezuela e Reino Unido, 
que ocupou a Guiana até a independência do país, em 1966. Foi a partir de então que a Venezuela passou a questionar o tratado, alegando suposta fraude. Sob Hugo Chávez, o imbróglio permaneceu em animação suspensa, mas seu sucessor o despertou depois que a multinacional Exxon descobriu petróleo no litoral de Essequibo. 
 
Maduro pode usar o plebiscito como pretexto para iniciar uma aventura bélica na Guiana, mas é improvável que o faça. Seus arroubos são vistos como meros latidos de um ditador em apuros eleitorais. O problema é que, sempre que dá uma de cachorro louco, o rebotalho bolivariano constrange alguém no Brasil. Por mal dos nossos pecados, o único acesso terrestre entre a Venezuela e a Guiana passa pela cidade brasileira de Pacaraima. Lula despachou seu assessor internacional para a Caracas um par de vezes em missões pacificadoras 
— até porque, a esta altura, uma guerra no quintal da Amazônia tupiniquim aniquilaria a liderança regional do Brasil.
 
Já que falamos em circo, a visita de Geraldo Alckmin ao ex-desafeto e ora amigão do peito João Doria — registrada por este em suas redes sociais — transmite à população a mensagem de que nem a política nem (muito menos) seus protagonistas devem ser levados a sério. 

Após citar como exemplo Getúlio Vargas e Luís Carlos Prestes — adversários ferrenhos que mais tarde posaram como velhos amigos — Josias de Souza anota em sua coluna que, se o encontro constrangedor dos ex-tucanos serviu para alguma coisa, foi para reforçar a imagem negativa de que na política tudo é feito na base das conveniências do momento. Doria ingressou na política partidária pelas mãos de Alckmin, que se disse traído e deixou o PSDB por conta das cotoveladas que afirma ter recebido. Agora, os dois se encontram como se nada tivesse acontecido. 
 
Triste Brasil

sábado, 21 de outubro de 2023

O LEÃO DE WESTMINSTER

QUEM NÃO ACREDITA EM VIDA APÓS MORTE NÃO TEM POR QUE TEMER AS TORTURAS DO INFERNO NEM AS CHATURAS DO CÉU.

Winston Leonard Spencer Churchill (1874-1965) ingressou na política em 1900, serviu como Primeiro-Ministro do Reino Unido de 1940 a 1945 e de 1951 a 1955 e se tornou o político britânico de maior destaque no século XX. 

Em 1946, num de seus discursos, cunhou o termo "cortina de ferro", que foi largamente utilizado, durante a "Guerra Fria", como sinônimo da linha imaginária que separava os países capitalistas do bloco comunista comandado pela URSS. Embora não fosse o primogênito dos duques de Marlborough, sempre manteve um estilo de vida refinado: "Não sou exigente: contento-me com o que há de melhor", disse, numa de suas muitas tiradas espirituosas. 

Como cadete, o jovem Winston ganhava apenas £ 120 por ano, o que não o impediu de comprar cavalos de polo, manter uma conta no alfaiate (que levaria 6 anos para ser paga) e jantar regularmente no luxuoso Hotel Coburg. Aos 20 anos, descobriu que sabia escrever bem, e que esse talento lhe permitiria custear suas crescentes extravagâncias. 

Observação: Conforme eu mencionei nesta postagem, WC escreveu o ensaio Estamos sozinhos no Universo? — jamais publicado —, que versa sobre a vastidão do espaço, a existência de milhões de estrelas e a possiblidade de existir vida nos planetas que as orbitam.
 
Antes de ingressar na política, Churchill foi correspondente de guerra em Cuba, onde adquiriu o gosto por charutos. Consta que sua média diária era de 10 habanos
, que ele acendia o primeiro ao acordar e dormia com o último no cinzeiro, e que teria fumado 250 mil unidades, de várias marcas, entre 1895 e 1965. A cubana Habanos deu seu nome o formato conhecido conhecido como Julieta Nº 2 — um portentoso cilindro de tabaco de 178 mm de comprimento por 18,7 mm de diâmetro que proporciona mais de um hora de baforadas. 

Reza a lenda que, após um bombardeio alemão destruir a Dunhill da Jermyn Street, um funcionário telefonou ao premiê às 4h da manhã para garantir que seus charutos estavam intactos. O MI6 receava que os habanos que lhe eram presenteados pudessem estar envenenados — temor compartilhado pelo ditador cubano Fidel Castro, que tinha provadores para testar os charutos que ele fumava.
 
Churchill era bom de copo. Diz-se que tomou gosto pelo scotch na Índia — onde, segundo ele, havia apenas duas opções: água suja com chá ou água suja com uísque —, mas foi o champanhe que se tornou seu amigo inseparável (ele tomava 2 garrafas por dia e que entornou mais de 40 mil entre 1908 e 1965). Uma nota de compras na Randolph Payne & Sons da St. James’s Street lista 6 garrafas de vinho d’Ay seco (leia-se champanhe), 18 de Bordeaux, 6 de Porto leve e outras tantas de vermute, 18 de scotch 10 anos, 6 de brandy 1866 e 12 de licor de lima. (A Payne & Sons viria a ser, por mais de 40 anos, sua principais fornecedora de iguarias).

O premiê começava o dia com um cálice de vinho branco alemão, que tomava no café da manhã. Entre as refeições, bebia uísque. No almoço e no jantar, champanhe, Bordeaux e Vinho do Porto. Seu espumante favorito era o Pol Roger — a vinícola batizou seu champanhe top de linha como Cuvée Sir Winston Churchill, que só lançava nas melhores safras
 
A despeito de seu porte avantajado, Churchill se vestia com apuro. Já como jovem membro do Parlamento, escolhia costumes e sobretudos na Bernau & Sons ou na Henry Poole, bengalas e guarda-chuvas na Thomas Brigg, chapéus na Chapman & Moore e as inevitáveis gravatas-borboleta (estampadas com bolinhas) na Turnbull & AsserClementine Churchill, com quem foi casado por quase 60 anos — reclamava da extravagância de suas roupas íntimas de seda, que custavam "os olhos da cara",  mas ele se defendia dizendo que tinha pele delicada.

Além de bom copo e bom garfo, Churchill adorava receber. Ele escolhia pessoalmente os pratos, as bebidas, a música e a disposição dos convidados à mesa. O cardápio incluía caldos, ostras ou caviar, lagosta, siri, linguado ou truta, rosbife, paleta de cordeiro, foie gras e queijo gruyère  que o anfitrião arrematava com Dundee Cake (bolo escocês com frutas secas, rum e amêndoas), Yorkshire pudding e bombas de chocolate. Pratos da alta cozinha francesa também eram bem-vindos, assim como licor Benedictine. A cozinheira Georgina Landemare, que o serviu de 1939 até se aposentar, aos 72 anos, publicou em 1958 o livro Recipes from No. 10, com 360 receitas preparadas em Downing Street.

Apesar dos abusos etílicos e gastronômicos, Churchill foi um fenômeno como soldado, jornalista, político, orador, historiador, frasista e escritor — o que lhe valeu o Nobel de literatura —, viveu até os 90 anos e teve o nome perpetuado sob a forma de um charuto e um champanhe. E por falar (de novo) em bebidas, sua mãe (a norte-americana Jenny Jerome, que colecionou centenas de amantes, incluindo o rei Eduardo VII) teria inspirado a criação do famoso Manhattan

Consta que o coquetel foi preparado, pela primeira, durante um evento da campanha presidencial de Samuel Jones Tilden (que acabou derrotado por Rutherford B. Hayes), especialmente para Lady C, mas, de acordo com o historiador David Wondrich, no dia do rega-bofe, ela estava na Inglaterra dando à luz o futuro premiê, e que a bebida foi criada em 1860 por alguém de nome Black. Mas há quem atribua a paternidade (do drinque) a um certo Coronel Joe Walker, que misturou vermute com uísque durante um passeio de iate com amigos no Rio Hudson.
 
Observação: Segundo o Bartenders' Manual, para preparar um Manhattan comme il faut deve-se encher um copo grande com gelo, acrescentar 1 ou dois traços de xarope de goma, o mesmo tanto de bitter de laranja, 1 pitada de curaçao ou absinto, ½ taça (vinho) de rye ou bourbon, o mesmo tanto de vermute italiano, mexer bem (ou bater), coar em um copo de coquetel elegante (Martini ou Old Fashioned) e borrifar o sumo de uma casquinha de limão. Com o passar do tempo, a goma e o absinto saíram de cena, o marasquino virou guarnição e o Angostura bitter substituiu o bitter de laranja.

Em 2002, uma enquete promovida pela BBC elegeu o Leão de Westminster o maior britânico de todos os tempos, ainda que, como muitos de sua geração, ele fosse antissemita, simpatizasse com a "supremacia branca" e considerasse os indianos uma "raça inferior". Por outro lado, a despeito do que pensam os defensores do "politicamente correto", julgar alguém que cresceu na era eduardiana à luz dos padrões atuais e idiotice. Em que pesem suas falhas, Churchill foi um grande homem. 

Entre as muitas tiradas espirituosas do estadista britânico, destaco as seguintes:
 
"Amanhã estarei sóbrio, mas a senhora continuará feia" (resposta a Bessie Braddock (política do Partido Trabalhista), que o acusou de estar bêbado.

Nancy Astor (primeira mulher eleita para a Câmara dos Comuns), disse a ele que, se fosse sua mulher, envenenaria seu café. A resposta: "Se eu fosse seu marido, tomaria esse café."
 
Bilhete do dramaturgo Bernard Shaw acompanhado de dois ingressos: "Venha à estreia e traga um amigo, se você tiver algum." Bilhete de resposta: "Estou demasiado ocupado para ir à estreia, mas irei à segunda representação, se houver."
 
Bernard Montgomery (general britânico): "Não fumo, não bebo, durmo cedo, estou 100% em forma." A resposta: "Bebo muito, durmo pouco, fumo um charuto atrás do outro, estou 200% em forma." (outra versão dá conta de que o general disse: "Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói de guerra.", e que o premier comentou com um colega: "Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele."
 
Em seu 80º aniversário, disse um repórter: "Espero voltar a fotografá-lo na festa de seus 90 anos." Churchill retrucou: "E por que não, meu jovem? Você me parece bastante saudável." E q
uando completou 90 anos, perguntado por um repórter qual era o segredo de sua longevidade, ele respondeu: "O esporte, meu caro… eu nunca pratiquei".  

Pergunta (feita por um garotinho): "É verdade que você é o homem mais famoso do mundo?" Resposta: "É, sim. Agora, cai fora."
 
Para fechar com chave de ouro: "A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos". Tempos depois, WC teria acrescentado: "O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano."