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domingo, 24 de agosto de 2025

O BIFE NOSSO DE CADA DIA

SE UM DIA SUA OPINIÃO FOR PIZZA, AÍ EU LIGO E PEÇO.

Dispor da ferramenta adequada é fundamental, sobretudo quando se sabe usá-la. Uma chave de rodas não transforma macaco em borracheiro, nem um bisturi faz de açougueiro um cirurgião. Da mesma forma, um livro de receitas e um avental não promovem A "chef" alguém que jamais fritou um ovo.

Vendedores de “churrasquinho de gato” transformam carnes pra lá de suspeitas em delícias suculentas, mas há pessoas que conseguem converter filé-mignon em sola de sapato. No entanto, um pouco de amor à arte e alguns macetes bastam para um cozinheiro de primeiro avental transmutar um simples bife de coxão-mole em uma verdadeira experiência gastronômica.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

As mensagens que fundamentaram o indiciamento de Bolsonaro e do filho Eduardo no inquérito que apura a tentativa de coagir o STF transformaram o crepúsculo do ex-presidente aspirante a golpista num espetáculo de falta de compostura: o filho Eduardo mandava um “vá tomar no cu” para o pai “ingrato do caralho” , dizia que Tarcísio “sempre esteve de braço cruzado vendo vc se fuder [sic] e se aquecendo para 2026”, e era chamado de “babaca que fala “merda”  pelo “líder religiosos Silas Malafaia.

De contornos piromaníacos, o show adicionou ao inferno penal de Bolsonaro a perspectiva de uma segunda condenação antes mesmo do início do julgamento que conduzirá à primeira sentença, carbonizou a tríade “Deus, família e liberdade” e, de quebra, estimulou a banda conservadora da política a construir uma candidatura presidencial à margem do clã Bolsonaro.

O apreço pela religião virou pó nas conversas vulgares que Bolsonaro manteve com Malafaia. Nos áudios, o pastor faz as vezes de orientador político do “mito”. Deus perdeu-se no meio de frases nas quais o evangélico usou “caralho” como vírgula. Numa família tradicional, um filho jamais mandaria o pai “tomar no cu”, como fez Dudu Bananinha.

De resto, ficou evidente que a única liberdade que interessa aos protagonistas da troca de insultos é a de Bolsonaro, que a parceria com Trump visou a impunidade do réu-mor, e que o patriotismo escorreu pelo ralo quando Bolsonaro disse que o tarifaço de Trump só seria resolvido com a sua anistia.

Chamados dias atrás de "ratos" por Carlos Bolsonaro, os governadores que acalentam o sonho de chegar ao Planalto foram como que intimados pelas circunstâncias a se posicionar: ou tomam distância do ambiente tóxico, ou vão a 2026 como coadjuvantes de uma constrangedora ratocracia.


Fritar bifes comme il faut requer frigideira quente e carne em temperatura ambiente. Para evitar que os bifes tostem por fora e fiquem frios por dentro, retire-os da geladeira meia hora antes de preparar, tempere com sal e pimenta-do-reino dos dois lados na hora de fritar, aqueça a frigideira em fogo alto antes de colocar o azeite e só adicione os bifes (um por vez) quando a gordura começar a "chiar".

Deixe fritar por aproximadamente 2 minutos de um lado, sem mexer nem apertar, para não comprometer a formação de uma bela crosta dourada, vire usando uma pinça apropriada — ou, na falta dela, um pegador de salada (o garfo fura a carne, que perde sua suculência). 

Quando começar a dourar, acrescente um dente de alho (amassado), alguns ramos de tomilho e uma colher de manteiga, regue com essa mistura aromática por cerca de um minuto, desligue o fogo e deixe descansar por 5 minutos (para que os sucos internos se redistribuam, deixando a carne mais macia e saborosa ao corte).

Quem acha que filé à parmegiana é um bife à milanesa com molho de tomate e uma fatia de muçarela deve achar que o Porsche 911 não passa de um Fusca metido a besta. Só que não. A receita em questão deriva da tradicional melanzane alla parmigiana, mas substitui a beringela por carne bovina empanada e é servida com arroz à grega e batatas-palha. 

Para 4 pessoas, os ingredientes são:

— 4 bifes de filé-mignon (mas também pode ser coxão-mole, alcatra ou patinho);

— 2 ovos batidos;

— ½ xícara (chá) de farinha de trigo;

— 1 xícara (chá) de farinha de rosca;

— 1 xícara (chá) de molho de tomate (caseiro ou pronto);

— 200 g de muçarela fatiada ou ralada;

— Óleo (de girassol, canola ou amendoim) para fritar;

— Sal, pimenta-do-reino, parmesão ralado grosso e orégano a gosto;

— 4 fatias médias de presunto magro (opcional).

Tempere os bifes com sal e pimenta, deixe descansar por alguns minutos, passe na farinha de trigo, nos ovos batidos e na farinha de rosca (nessa ordem) pressionando bem. 

Aqueça o óleo em fogo médio e frite os bifes até dourarem dos dois lados. Retire e escorra em papel-toalha. Transfira para um refratário (coloque-os lado a lado, evitando sobreposições), cubra com molho de tomate, depois com a muçarela.

Por fim, salpique o parmesão e o orégano, leve ao forno preaquecido a 200 °C por 10 minutos (ou até gratinar) e sirva.

Dicas:

1) A muçarela ralada derrete melhor que a fatiada. 

2) Pode-se usar molho de tomate industrializado, mas o caseiro, com alho, cebola e manjericão, dá um toque especial.

3) Pré-assar os bifes por 20 minutos, acrescentar o molho, o queijo, os temperos, e levar ao forno para gratinar deixa a receita menos calórica.

4) Querendo incrementar, coloque uma fatia de presunto sobre cada bife e cubra com a muçarela ralada.

Bom apetite.

sábado, 23 de agosto de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 43ª PARTE

O PIOR CEGO É AQUELE QUE SE RECUSA A ENXERGAR

Vimos que viajar no tempo se tornou o fruto mais cobiçado da árvore da relatividade depois que semente de uma tecnologia capaz de nos levar a outras épocas foi plantada por H.G. Wells em 1895, com o romance A Máquina do Tempo. 


Essa possibilidade é tratada com ceticismo por boa parte da comunidade científica, mas a história está repleta de exemplos de pioneiros que foram ridicularizados por suas ideias até que o tempo provasse que eles estavam certos. 


Foi assim com Nicolau Copérnico, que desafiou o geocentrismo, com Joseph Lister, que revolucionou a medicina com a desinfecção, e com Alfred Wegener, que propôs a teoria da deriva continental, entre tantos outros.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”, diziam os famosos versos de Carlos Drummond de Andrade no poema intitulado “Quadrilha”, publicado em 1930 em “Alguma poesia” —, que sintetiza os desencontros da vida amorosa e as dificuldades humanas em estabelecer laços, com cada indivíduo seguindo em uma direção.

Já a “quadrilha” do bolsonarismo, revelada na noite de quarta-feira, 20 de agosto, em relatório da Polícia Federal, é menos singela: Eduardo mandava um “vá tomar no cu” para o pai “ingrato do caralho” quando era chamado de imaturo e recebia dele a orientação de esquecer “qualquer crítica” ao ministro Gilmar Mendes; dizia ao genitor que Tarcísio de Freitas “sempre esteve de braço cruzado vendo voce se fuder [sic] e se aquecendo para 2026” e era chamado de “babaca” que fala “merda” por Silas Malafaia.

Drummond contava que “João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”. Bobi Filho, com R$ 2 milhões transferidos por Bibo Pai, ficou nos EUA com seu porta-voz Paulo Figueiredo; o “mito” tinha no celular um pedido de asilo “que viabilizaria sua evasão do Brasil em direção à República Argentina”, mas acabou em prisão domiciliar em Brasília; Malafaia, em vez de ir para o convento, virou alvo de busca e apreensão; e todos eles foram indiciados pela PF por coação no curso do processo da trama golpista, na qual o Messias que não miracula figura como réu, ao lado de outras pessoas que ele próprio colocou na história — como também R$ 2 milhões na conta de sua esposa, “Micheque”, enquanto Zero Três R$ 200 mil reais na conta da mulher, Heloisa; ambos com a finalidade de contornar possíveis bloqueios em suas próprias contas.

Enviadas 95 anos depois, as mensagens de WhatsApp trazidas reveladas pela PF ilustram os barracos da vida bolsonarista e confirmam que sacrificar os outros para salvar Jair Bolsonaro sempre foi a escolha da família. Se “a anistia light passar”, os EUA “não irão mais ajudar”, disse Eduardo ao pai. “Neste cenário vc: não teria mais amparo dos EUA, o que conseguimos a duras penas aqui, bem como estaria igualmente condenado [no] final de agosto. Eu acho que não vale a pena”, escreveu o deputado. E mais: “A narrativa de Tarcísio te sucedendo, que já há acordo para isto, está muito forte [...] Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer.” Essa pressão foi insuflada por Malafaia em vídeo publicado nas redes sociais. 

Em privado, o líder religioso (!?) cobrava do ex-presidente golpista um “discurso maior” e o orientava a direcionar a narrativa para os interesses do grupo. Bolsonaro, em áudio enviado ao aliado, manifestava receios de escancarar a chantagem, mas dizia atuar naquele sentido, de que “se não começar votando a ANISTIA, não tem negociação sobre tarifa”. “Resolveu a anistia? Resolveu tudo. Não resolveu? Já era.”

No poema de Drummond, todos têm paixões não correspondidas, exceto Lili, que não ama ninguém, mas acaba casando com alguém de fora, de nome comercial: J. Pinto Fernandes. Na poesia bolsonarista exposta pela PF existem 50 tons de xingamentos, ameaças e chantagens, todos eles usados para lidar com a velha e incontornável paixão dos Bolsonaro pela impunidade, agora não mais correspondida.

Com “O ANTAGONISTA”


Em 1500, Cabral levou 40 dias para vir de Portugal a Pindorama; no final dos anos 1990, o Concorde cruzava o Atlântico em cerca de 3 horas. Em 1915, Einstein forneceu as equações matemáticas que mais tarde descreveriam os buracos negros, mas morreu sem ter certeza da existência desses corpos celestes — cuja imagem direta só foi capturada em 2019, quando o Event Horizon Telescope fotografou o M87.

 

Como também, ainda que a dilatação temporal prevista na Relatividade Geral seja incontestável, avançar décadas (ou séculos) no futuro, como nos filmes de ficção científica, esbarra em limitações relativísticas e exige energias muito além da capacidade das tecnologias atuais. Ainda assim, se as prosaicas caravelas evoluíram para transatlânticos, e as geringonças dos bicicleteiros Wilbur e Orville Wright para aeronaves capazes de superar a velocidade do som, a construção de espaçonaves que alcancem velocidades próximas à da luz (cerca de 1,08 bilhão de quilômetros por hora) pode ser apenas uma questão de tempo. 


Só não se pode dizer quanto tempo: a sonda mais rápida lançada até agora alcançou 692 mil quilômetros por hora (0,064% da velocidade da luz) em dezembro do ano passado. A essa velocidade, seria possível cruzar os Estados Unidos de ponta a ponta em apenas 23 segundos, chegar à Lua em meia hora, ao Sol em 9 dias (lembrando que a distância média entre a Terra e o Sol é de 150 milhões de quilômetros, percorrida pela luz em 8 minutos e 13 segundos) e ao buraco negro mais próximo do nosso sistema solar em 2,4 milhões de anos — viagem que, à velocidade da luz, levaria cerca de 1,5 mil anos. Mesmo sendo a nave mais rápida já construída pela humanidade, a PSB ainda é cerca de 1.560 vezes mais lenta do que a luz.

 

Cabe aqui abrir um parêntese para traçar um paralelo entre as viagens no tempo e a existência de seres alienígenas. Como sugeriu Carl Sagan, se não existe vida fora da terra, o Universo é um enorme desperdício de espaço. Não me refiro a bioassinaturas de gases que, na Terra, são produzidos apenas por processos biológicos (como as identificadas recentemente pelo Telescópio Espacial James Webb), nem aos "homenzinhos verdes" descritos pelos ficcionistas dos anos 1950/60, mas a seres inteligentes, capazes de realizar viagens interestelares.

 

Também nesse campo a história oferece terreno fértil para teorias da conspiração. Um exemplo clássico é a crença de que o avanço tecnológico se tornou mais expressivo a partir dos anos 1950 devido à engenharia reversa de naves alienígenas, especialmente alimentada por suposições envolvendo a Área 51. Outra suposta evidência de presença alienígena remonta à construção das pirâmides de Gizé. A maior delas, com 174 metros de altura por 230 metros de largura, é composta por mais de dois milhões de blocos de pedra de até 80 toneladas cada. 

 

Na versão oficial, dezenas de milhares de trabalhadores egípcios teriam usado cinzéis para cortar os enormes blocos de pedra, toras de madeira para rolá-los por centenas de quilômetros pelo deserto, rampas em espiral para empilhá-los, e simples ábacos para calcular o alinhamento dos monumentos com os pontos cardeais e a constelação de Orion. Curiosamente, a maior das três pirâmides (Quéops) foi erguida por volta de 2600 a.C., mas sua latitude (299.792°N) corresponde numericamente à velocidade da luz (299.792.458 m/s) — um número que só seria conhecido 4.500 anos depois. Ademais, se os antigos egípcios tivessem medido a velocidade da luz, eles a teriam registrado como 571.033.253 côvados por segundo, uma vez que o sistema métrico só foi criado em 1791 d.C.

 

Como explicar que os Contos das Mil e Uma Noites descrevessem tapetes voadores e cavernas que se abrem ao comando "Abre-te Sésamo" milhares de anos antes da invenção de aviões e portas automáticas?  De duas, uma: ou a imaginação dos "escritores das arábias" era muito mais prodigiosa que a dos ficcionistas de hoje, ou suas "fantasias" retratavam coisas que, de algum modo, eles já conheciam.


Teorias da conspiração bem construídas são cativantes, sobretudo quando as explicações que propõem parecem mais aceitáveis do que as oficiais. Até recentemente, o Pentágono negava toda e qualquer evidência de OVNIs (ou UAPs, como passaram a ser chamados), mas isso mudou nos últimos anos diante da miríade de avistamentos inexplicáveis relatados por pilotos da Força Aérea e da Marinha dos EUA, controladores civis e aeronautas dos mais diversos países. 

 

Muitos desses avistamentos envolvem objetos com capacidades que superam a tecnologia conhecida — acelerações e manobras extremas, ausência de fontes de propulsão visíveis, etc. — e são corroborados por dados de radar, infravermelho e sistemas eletro-ópticos. O governo americano continua enfatizando que "natureza não identificada" não significa necessariamente "origem alienígena" — essa hipótese só é admitida, e com relutância, quando não existe nenhuma outra explicação se sustenta.

 

Continua... 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

NÃO É BEM POR AÍ...

 
Perde-se uma eleição por diversas razões. A principal é a falta de votos, e as demais não vêm ao caso. 
 
Depois de anos de desconversa, o dublê de ex-presidente e ex-presidiário se viu forçado pela conjuntura a admitir uma obviedade: houve desvios durante os governos petistas. Em entrevista à CNN, reconheceu os desvios na Petrobras, enalteceu medidas de controle adotadas nas administrações petistas e apontou as perversões da gestão Bolsonaro. Só não explicou como fará, caso retorne ao Planalto, para evitar que a roubalheira se repita.
 
Lula reiterou que acabará com o orçamento secreto — versão institucional do mensalão e do petrolão. Como fazer? "Política é a arte de conversar", disse. "Você conversa com quem está na cadeira, eleito como deputado, como senador, goste ou não goste. Você conversa com quem tem poder de decisão." (Hoje, "poder" é apenas um outro nome para Centrão).
 
Perguntou-se a Lula se sabia do loteamento político na Petrobras. E ele: Isso "acontece na democracia de qualquer país do mundo". Declarou que, eleito, os partidos que integram sua coligação "vão ter direito de indicar" pessoas para postos na engrenagem federal. Insistiu: "Isso faz parte da democracia." Disse a certa altura: "As pessoas que eu indiquei para a Petrobras eram pessoas com mais de 30 anos [na empresa]. Não era um corpo estranho."
 
Observação: Chama-se Paulo Roberto Costa (ou chamava-se, melhor dizendo, pois morreu há poucas semanas) o primeiro delator da roubalheira na Petrobras. Lula o chamava de "Paulinho". Em depoimento, Paulinho declarou ter trabalhado por 27 anos na estatal "sem nenhuma mácula". De repente, foi indicado para a diretoria de Abastecimento pelo PP de Arthur Lira e Ciro Nogueira, os reis do orçamento secreto da era Bolsonaro. Foi a partir do apadrinhamento político que Paulinho meteu-se em corrupção. Disse que passou a operar segundo a regra da oração de São Francisco: "É dando que se recebe".
 
Ao confundir o aparelhamento que levou ao assalto com "coisa da democracia", Lula revela que nada aprendeu. Ou nada esqueceu. Repetindo os métodos, chegará aos mesmos resultados. Nesse jogo, dão as cartas personagens como Lira, NogueiraValdemar Costa Neto — ex-sócios do petrolão ou do mensalão, que agora mamam nas tetas no orçamento secreto e são a favor de tudo ou contra qualquer outra coisa, desde que possam plantar bananeira dentro dos cofres estatais.

ObservaçãoAntes de iniciar a entrevista, William Waack lamentou a ausência de Bolsonaro — o único que não deu retorno às várias tentativas da emissora de agendar data e horário para que o candidato à reeleição apresentasse suas propostas de governo. Curiosamente, o presidente aceitou o convite do SBT para participar do quadro "Candidatos com Ratinho".

Em 2018, cavalgando um PSL nanico, Bolsonaro chegou ao Planalto numa campanha que declarou à Justiça Eleitoral gastos de míseros R$ 2,5 milhões. Hoje, reclama da penúria milionária, enquanto disputa o caixa do PL com uma legião de candidatos ao Legislativo.
 
A título de contextualização, Bolsonaro percorreu três décadas de vida pública a bordo de 9 partidos, todos do Centrão. Em 2019, devido a divergências sobre a distribuição das verbas milionárias dos fundos partidário e eleitoral, deixou o laranjal do PSL e tentou fundar o "Aliança pelo Brasil". Como não conseguiu reunir nem a metade das assinaturas necessárias, flertou com o PTB, o PRTB, o Patriota e o PP e finalmente se amancebou com o PL

O enlace com o mensaleiro e ex-presidiário Costa Neto aconteceu após um namoro turbulento, com direito a "intensa troca de mensagens" do mais alto nível — como "vá para a puta que pariu" e “vão tomar no cu você e seus filhos”. Mas, no discurso proferido durante a cerimônia de filiação, Bolsonaro disse sentir-se em casa

Observação: Na convenção partidária de 2018, o general-menestrel e futuro chefe do GSI cantarolou uma paródia do samba Reunião de Bacana e acrescentou: "Querem reunir todos aqueles que precisam escapar das barras da lei num só núcleo. Daí criou-se o Centrão. O centrão é a materialização da impunidade". Como se vê, o mundo gira e a Lusitana roda.
 
O PL de Costa Neto distribuiu a seus candidatos notáveis R$ 312 milhões em verbas públicas. Entre os presidenciáveis, Bolsonaro é um dos que mais arrecadaram doações de pessoas físicas — cerca de R$ 11 milhões até agora. Ainda assim, seu primogênito e articulador de campanha leva os lábios ao trombone para alardear que as doações "estão sendo realizadas de forma muito lenta" (e pede aos eleitores doações por Pix). Em outras palavras, o candidato que posou de antissistema e se jactou da campanha barata em 2018 agora atribui (por antecipação e pela boca do senador das rachadinha) sua possível derrota nas urnas a uma suposta falta de dinheiro.
 
Observação: O próprio Costa Neto também reclamou da hipotética pindaíba, mas é bom lembrar que sua prioridade não é reeleger Bolsonaro, e sim aumentar a bancada do PL na Câmara, de maneira a arrancar mais dinheiro dos cofres públicos a partir da próxima legislatura.
 
O senador das rachadinhas não notou, mas o principal problema da campanha do pai não é pecuniário. Nenhuma campanha à reeleição será rica o suficiente para comprar um passado de realizações para um administrador que não tem o que mostrar.
 
Com Josias de Souza 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XIX)

 

Em maio de 2019, num ato falho que beirou o sincericídio, Bolsonaro disse a seus baba-ovos: “não nasci para ser presidente, mas sim para ser militar.” E completou: “Não tenho qualquer ambição. Não me sobe à cabeça o fato de ser presidente. Eu me pergunto, eu olho pra Deus e falo: o que eu fiz para merecer isso? É só problema, mas temos como ir em frente, temos como mudar o Brasil.”

Nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria que um presidente que sempre foi amigo de milicianos, partidário da baixa política, adepto das rachadinhas e que jamais havia administrado coisa alguma — nem mesmo carrinho de pipoca em porta de cinema, como registrou José Nêumanne em sua coluna no Estadão — faria um bom governo, mas poucos imaginavam que sua passagem pela Presidência seria tão nefasta.

Covid não estava no programa, mas não é justo atribuir exclusivamente ao vírus maldito todas as agruras infligidas ao povo brasileiro nos últimos três anos, sobretudo porque o despreparo e o negacionismo do pajé da cloroquina foram determinantes para esse resultado.

Em 27 anos de vida pública, o ex-capitão que deixou a caserna pela porta de serviço (ou do desserviço) foi filiado a oito partidos, todos de aluguel. Mas na política o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã. E vice-versa.

Dois anos depois de se desfiliar do PSL — e de o projeto de criar um partido para chamar de seu dar com os burros n’água — Bolsonaro se amancebou com o PL do mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto. Detalhe: quando sua alteza ainda se esforçava para aparentar lisura e probidade, um de seus escudeiros cantarolava “se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão” (parodiando o pagode Reunião de Bacana).

Durante a campanha, o próprio Bolsonaro chamou o cacique do PL de “corrupto e condenado”. Em novembro passado, depois de ter flertado com um dúzia de legendas, chegou a mandar o dito-cujo à puta que o pariu — e ouviu em resposta um enfático “vá tomar no cu” (você e seus filhos).

Nos últimos três anos, Bolsonaro não desceu do palanque um dia sequer. Estimulou (e participou pessoalmente) de diversas manifestações antidemocráticas. Flertou incontáveis vezes com o autogolpe. Fomentou um sem-número de crises institucionais. Entre inúmeras motociatas (inclusive em dias úteis e horário do expediente) e uma blindadociata, chamou o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, de “filho da puta”, e o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de  “canalha”. Quando a situação ameaçou sair do controle, foi chorar as pitangas na barra da saia do Vampiro do Jaburu, que redigiu, a seu pedido, uma patética carta de retratação.

Continua...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA? (CAPÍTULO III)

 

Bolsonaro já foi filiado a nove partidos — PDCPDCPP (duas vezes), PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e PSL —, todos do "Centrão", daí ele “se sentir em casa” no PL, a despeito de já ter chamado o dono da casa de “corrupto e condenado”, de tê-lo mandado à puta que pariu e de ouvir dele um sonoro "vá tomar no cu" extensivo a seus ilustres rebentos. 

Quando se trata de política, o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã e vice-versa. Em novembro, depois de um noivado tão curto quanto conturbado, a DR do Sultão do Bolsonaristão com o partido do mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto foi superada e o casório, que havia sido suspenso, celebrado com pompa, circunstância, juras de amor eterno e votos de fidelidade imorredoura.

Resta saber se a lua de mel vai durar até março ou se o coração do “mito” mudará de dono pela 11ª vez, lembrando que ele precisa estar filiado a uma legenda para disputar a Presidência — ou uma cadeira no Senado ou na Câmara que lhe assegure foro privilegiado. Afinal, Bolsonaro é investigado em 6 inquéritos, e o relatório final da CPI do Genocídio lhe atribuiu pelo menos 9 delitos (entre crimes comuns, de responsabilidade e contra a humanidade).       

O então deputado federal que aprovou dois projetos e foi alvo de mais de 30 processos ao longo de sete mandatos cresceu o olho para o Planalto em 2014, ano da reeleição do Pacheco de terninho que sem jamais ter disparado um tiro virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante virou projeto de gerente competente; sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de palanque; sem ter tido um único voto na vida até 2010 virou presidenta do Brasil

Na época, o capetão disse ao jornal O GLOBO que pretendia disputar a Presidência e que a página "Jair Bolsonaro Presidente 2014", criada no Facebook por "militantes da direita e apoiadores", já contava com mais de 12 mil seguidores. Em 2015, ele já aparecia nas pesquisas com 4% das intenções de voto. Em 2016, subiu para 7%, e no ano seguinte, para 15%.

Em 2017, ao saber que o então pré-candidato à Presidência estaria num clube de golfe no Rio, o advogado Gustavo Bebianno correu para encontrá-lo, levando consigo cópias impressas de centenas de emails (que jamais foram respondidos) como prova da antiguidade de sua admiração. Mais adiante, o causídico defendeu seu ídolo em diversos processos — entre os quais a folclórica ação por incitação ao estupro movida pela deputada petista Maria do Rosário, que poderia ter inviabilizado a candidatura do capetão —, sem lhe cobrar um tostão de honorários.

Depois de trocar o PP pelo PSC, Bolsonaro teve um breve affair com o PEN (que virou Patriota para acolhê-lo). A lua de mel terminou quando ele descobriu que o partido havia patrocinado uma ação no STF questionando a prisão em segunda instância (tema que interessava sobretudo a Lula e ao PT e feria de morte seu discurso antipetista). 

Em março de 2018, o já pré-candidato foi aconselhado por Bebianno a juntar trapos com o nanico PSL. Foi Bebianno quem coordenou a campanha presidencial e quem presidiu o PSL durante as eleições. De acordo com o empresário Paulo Marinho, que abrigou na própria casa o comitê de campanha, houve três grandes responsáveis pela vitória do sociopata: Bebianno, o publicitário Marcos Carvalho e o esfaqueador inimputável Adélio Bispo de Oliveira, nessa ordem. O resto é folclore.

Bolsonaro explorou politicamente a facada que quase lhe custou a vida e, valendo-se da condição de convalescente, fugiu dos debates televisivos, que inevitavelmente exporiam seu acachapante despreparo. Impulsionado pelo antipetismo, acabou sendo eleito e levando a reboque 52 deputados federais, 4 senadores e 3 governadores.

Observação: Vale lembrar que em 2018 a parcela pensante do eleitorado votaria no demônio em pessoa para evitar que o país fosse presidido por um presidiário. Como o Tinhoso não se candidatou, o jeito foi apoiar seu preposto — um político tosco, polêmico, oportunista, populista, parlapatão, admirador confesso dos anos de chumbo da ditadura militar e defensor de opiniões peculiares, digamos assim, sobre tudo e todos. E deu no que deu.

Continua...

terça-feira, 30 de novembro de 2021

BOLSONARO DESPRESIDE E O CENTRÃO DESGOVERNA


Guindado à Presidência com a promessa demagógica, autoritária e irrealizável de livrar o Brasil dos grilhões do presidencialismo de coalizão, o protagonista do maior estelionato eleitoral da história desta banânia (sorry, Dilma) e pior presidente desde a democratização (sorry again, Dilma) acabou entregando ao Centrão "a alma de seu governo", o que, de certa modo, foi uma volta às origens: desde que ingressou na vida pública, Bolsonaro foi filiado ao PDC, PDC, PP (duas vezes), PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e PSL, todos do assim chamado "Centrão" (faltam PCC e o PQP, mas isso é outra conversa).

Em novembro de 2019, devido a desentendimentos com Luciano Bivar, o sultão do bananistão deixou o laranjal para plantar o Aliança pelo Brasil. Mas faltou estrume (a Justiça Eleitoral exige 492 mil assinaturas para a criação de um partido, e ele conseguiu somente 154 mil) e o projeto foi pra ponte que partiu. Desde então, sua alteza irreal flertou com uma dúzia de partidos (todas do Centrão), até se decidir finalmente a trocar alianças com o PL do mensaleiro e ex-presidiário — a quem ele chamava de “corrupto e condenado” e mandou pra puta que pariu no domingo 14, e de quem ouviu (leu, melhor dizendo) um retumbante "vá tomar no cu". Mas a DR acabou superada e o enlace, que havia sido suspenso, ficou para o final da tarde de hoje, com direito a juras de amor eterno e fidelidade imorredoura. Glória a Deus, como diria o folclórico Cabo Daciolo.  

Bolsonaro cresceu o olho para o Palácio do Planalto durante o desgoverno Dilma. Em 2014, o então deputado federal disse ao jornal O GLOBO que pretendia disputar a Presidência e que a página "Jair Bolsonaro Presidente 2014", criada no Facebook por "militantes da direita e apoiadores", já contava com mais de 12 mil seguidores (na época, o perfil oficial do então deputado tinha mais de 340 mil admiradores). Em 2015, ele já aparecia nas pesquisas com 4% das intenções de voto. Em 2016, subiu para 7% em 2016 e para 15% no ano seguinte.

Para minimizar os efeitos da pecha de sectário e da notória falta de conhecimento em relação a temas importantes para alguém que aspirava a comandar o país, o parlamentar passou a modular o discurso e terceirizar a elaboração de propostas em algumas áreas cruciais. Faltou combinar com Ciro Nogueira — presidente do PP —, que sempre fugia do assunto.

Após a reeleição de Dilma, o capitão trocou o PP pelo PSC, que também lhe negou legenda para disputar a Presidência. Em 2017, ele finalmente compreendeu que teria mais chances numa sigla menor, e, depois de flertar com o nanico PEN, acabou filiando-se ao PSL. O resto é história recente.

Para provar que era amigo do mercado e obter o apoio dos empresários, o estatista que acreditava em Estado grande e intervencionista, que sempre lutou por privilégios para corporações que se locupletavam do Estado havia décadas foi buscar Paulo Guedes, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. Para provar que era inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média, o adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos foi buscar Sergio Moro, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. Para obter o apoio das Forças Armadas, o ex-militar agressivo e falastrão, que foi enxotado da corporação por indisciplina e subordinação, foi buscar legitimidade em uma fieira de generais, que embarcaram em uma canoa que deveriam saber furada.

Uma vez eleito e empossado, Bolsonaro obrigou Moro a reverter uma nomeação, tomou-lhe o Coaf, forçou-o a substituir um superintendente da PF, esnobou seu projeto contra a corrupção e, vendo que o ex-juiz não cumpriria a missão de blindar sua prole (*), obrigou-o a engolir dúzias de sapos e beber toda a água da lagoa. O auxiliar fingia não ver, tentava negociar, mas acabou abandonando a canoa para salvar o prestígio que ainda lhe restava.

(*) Em três casamentos, o presidente que acabou com a Lava-Jato porque “não tem mais corrupção no governo teve quatro filhos e uma filha. Desses, somente Laura, que tem 11 anos, não é alvo de investigações. Afora o célebre caso de Zero Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério Público apuram suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro, que incluem tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de manifestações que pediram o fechamento de instituições como o Congresso e o Supremo.

Bolsonaro desautorizou Guedes incontáveis vezes, sabotou seus projetos e, com o Centrão, enterrou de vez a agenda econômica. Em vez de aprender com MandettaMoro e Teich como sair da canoa antes de ela virar, o "superministro" espelhou-se em Pazuello e virou uma espécie de dublê de bonifrate e zero à esquerda.

Já as Forças Armadas, cujo comportamento irrepreensível ao longo das últimas três décadas desfez a imagem negativa associada aos 21 anos de ditadura, perdeu boa parte da admiração e do reconhecimento dos brasileiros. Alguns fardados de alta patente parecem ter desaprendido que, num governo civil, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica não devem obediência cega ao "comandante-em-chefe", e que tampouco é seu papel salvar o presidente de turno. Sua lealdade maior é com o país. Já passou da hora de os militares desembarcarem dessa canoa furada.

É inegável que a popularidade do mandatário e a aprovação de sua gestão venham afundando como martelo sem cabo. Mas seria leviano declará-lo carta fora do baralho. O sultão do bolsonaristão tem fichas próprias para jogar, com os instrumentos que lhe dão o cargo e a base de apoio que ainda o mantém com chances de passar ao segundo turno das eleições de 2022. Para além disso, é preciso ter clareza sobre a profundidade das mudanças sociais e políticas provocadas por sua gestão (calamitosa, mas enfim...) e pela emergência do bolsonarismo: o novo protagonismo das Forças Armadas, a politização de setores das polícias militares, a articulação de grupos e redes de extrema direita, tudo isso numa sociedade que se polariza e empobrece, com mais desigualdade.

Embora as características mais visíveis do presidencialismo multipartidário sejam aparentemente as mesmas, o terreno institucional e o ambiente sociopolítico nos quais o sistema opera sofreram alterações importantes nos últimos anos. Para pior. O Centrão e o bolsonarismo são formas distintas do proverbial atraso brasileiro. Não há dúvidas de que o bolsonarismo seja mais virulento e nocivo à democracia. É fato que a dominância do Centrão reduz os riscos no curto prazo, mas não se deve perder de vista a possibilidade de sua simbiose com o bolsonarismo — hipótese em que o Brasil estaria condenado a seguir, com maior velocidade, no plano inclinado de um gradual e inseguro declínio econômico e social, com muita instabilidade política. Presumir que a democracia poderá escapar sã e salva de um processo como esse é, no mínimo, imprudente.

Se vitoriosa, a fórmula "bolsonarismo atenuado + Centrão guloso" representaria o adeus — talvez definitivo — a qualquer aspiração maior de fazer do Brasil um país desenvolvido no sentido amplo do termo. Perderíamos o bonde da história, que se acelera puxado por uma nova onda de transformações tecnológicas, sob o acicate da mudança climática, que nos transformou em párias internacionais. Diante do que está em jogo, é hora de olhar de frente os enormes riscos que nos desafiam e evitar o autoengano com alívios de curto prazo.

O Brasil tem lideranças lúcidas e antenadas em diversos meios. O desafio é dar expressão política a essas forças. Primeiro, é preciso compor uma ampla frente política e social para evitar a reeleição de Bolsonaro e qualquer tentativa de desestabilização institucional. Depois, é preciso adotar uma prudente ousadia nas reformas do sistema político brasileiro. É sem dúvida relevante melhorar o seu funcionamento à luz da governabilidade. Nessa linha, importa reduzir a propensão à fragmentação partidária — no que vínhamos avançando com o fim das coligações proporcionais, agora ameaçado, e com a introdução da cláusula de desempenho —, bem como mitigar a tendência a crises institucionais de custosa resolução, para o que a eventual adoção do semipresidencialismo, em momento adequado, possa vir a ser um remédio.

Em vista do tamanho e da profundidade da crise da representação política, é preciso ir além. Trata-se de romper com os mecanismos que se autoalimentam e vêm fechando os partidos e a representação parlamentar para as "forças vivas" da sociedade. Por que um número cada vez maior de pessoas com vocação para a vida pública opta por ingressar em uma carreira da área jurídica ou econômica do Estado, ou se engajar em uma ONG, em lugar de se arriscar no ofício da política parlamentar? Não há resposta simples a essa pergunta, mas ela passa necessariamente pelo rompimento com o virtual monopólio das oligarquias partidárias sobre os polpudos recursos reservados ao financiamento eleitoral. Ou, quem sabe, quebrar o próprio monopólio dos partidos sobre a representação parlamentar, permitindo o lançamento de listas cívicas, mas desde que os eleitos tenham de seguir regras que os obriguem a funcionar como um grupo parlamentar no Congresso.

Essa ideia implica riscos para a "governabilidade", mas tem o mérito de deslocar a ênfase do debate para a dimensão da "representatividade" do sistema político e alargar o campo da discussão sobre as reformas políticas. Sem abrir mão da prudência, é preciso devolver algum encanto à política. Para isso não é preciso derrubar muros na nossa arquitetura institucional, mas é indispensável reformá-la para abrir mais o sistema político a novas formas de organização, expressão e participação da sociedade, seja pela desobstrução dos canais existentes, democratizando os partidos, seja pela criação de novos canais. Para fortalecer a democracia representativa, é preciso renová-la. E esse objetivo não será alcançado com a reeleição de Bolsonaro nem com a volta do lulopetismo corrupto ao poder.

Seria preferível ver Bolsonaro afastado da Presidência e julgado pelos crimes que cometeu durante seu mandato. Em outras palavras, a única saída realmente democrática para o Brasil seria o impeachment do sociopata. O problema é que ela é impedida pelos cleptocratas do Centrão. Se Bolsonaro realmente presidisse alguma coisa, poder-se-ia dizer que, nos moldes do acerto vigente, "o capetão preside e o Centrão governa e dita as regras da reeleição", como escreveu Jose Casado em sua coluna em Veja.

 Bolsonaro preside, o Centrão governa. É regra não escrita, mas confirmada por dois fatos relevantes nos últimos 80 dias. Em setembro, sob forte pressão do agrupamento que é seu esteio parlamentar, o mandatário recuou do confronto aberto com o Supremo e foi chorar as pitangas na barra da saia do ex-presidente Michel Temer, numa carta de rendição que, provavelmente, nem o próprio vampiro do Jaburu assinaria.

Na manhã da última sexta-feira, o capitão anunciou que não haveria restrições em aeroportos ao turismo antivacina. À tarde, ouviu líderes do Centrão. Ao anoitecer estava decidida a exigência do “passaporte vacinal”, como já recomendara a Avisa. Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil e presidente licenciado do PP, foi quem fez o anúncio — via redes sociais. Ontem, a lista de restrições a viajantes foi ampliada.

Bolsonaro se esforça para desmentir os críticos que o acusam de agir como um demente. Ao ignorar recomendações da Anvisa para proteger o Brasil contra o Ômicron, o presidente comprovou que não sofre de insanidade, mas, sim, aproveita cada segundo dela. Há duas semanas, a Anvisa fez circular pela cúpula do governo um par de ofícios sobre a conveniência de reforçar o controle de fronteiras e aeroportos em reação ao aumento de casos de Covid no exterior. Aconselhou, entre outras medidas, a exigência de comprovante de vacinação. Bolsonaro deu de ombros.

Diante da confirmação de que uma nova cepa surgida na África do Sul circula pela atmosfera à procura de encrenca, a Anvisa recomendou, dessa vez em nota técnica trombeteada em público, o controle rigoroso do desembarque de passageiros procedentes de seis países africanos. E nada! Na véspera, por ordem do capetão, o ministro da Justiça afastou a hipótese de exigir prova de imunização dos estrangeiros. "Vacina não impede a transmissão da doença", declarou a sumidade. Dia seguinte, discursando para a récua de descerebrados que se apinha defronte ao Alvorada, o "mito" comentou o surgimento de "uma nova onda" de Covid. Chamou de "loucura" a ideia de restringir voos internacionais. "Tem que aprender a conviver com o vírus", disse.

Um detalhe encurta a distância que separa a teimosia de Bolsonaro da estupidez. As recomendações da Anvisa estão baseadas na Lei 13.979 — sancionada pelo próprio Bolsonaro em 6 de fevereiro de 2020 —, que prevê, no artigo 3º, que o governo pode adotar medidas excepcionais para o "enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus". Estão enumeradas nesse artigo oito providências. No item de número sete, lê-se o seguinte: "Restrição excepcional e temporária de entrada e saída do país, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por rodovias, portos ou aeroportos." Quer dizer: Bolsonaro ignora recomendações sanitárias inspiradas numa lei sancionada por ele.

Repetindo: em vez de cumprir a lei que surgiu para supostamente proteger os brasileiros durante a pandemia, o capitão prefere ignorar o que assinou para manter sua aliança preferencial com o vírus. O partido Rede Sustentabilidade pedirá ao STF que obrigue o mandatário a seguir as recomendações da Anvisa. A exemplo do que vem ocorrendo desde o início da pandemia, a corte o obrigará a fazer por imposição o que deixa de realizar por opção.

Israel, Bélgica e Hong Kong já detectaram a nova variante. Países da União Europeia, o Reino Unido e a Índia reforçaram o controle de fronteiras e de viagens. A OMS realizou reunião de emergência. As dúvidas quando à resistência da nova cepa às vacinas existentes derrubou os mercados ao redor do mundo. No Brasil, o Ibovespa chegou a cair 4%. E Bolsonaro, que costuma esgrimir uma hipotética preocupação com os efeitos da pandemia na atividade econômica, continua ruminando o seu negacionismo.

Aos poucos, o brasileiro vai descobrindo, afinal, a serventia da passagem de Bolsonaro pelo Planalto. Ele se consolida como um extraordinário protagonista de tríades: o nascer do Sol, a morte e a próxima estupidez do presidente. Descobre-se agora que há também no universo três coisas irrecuperáveis: a pedra atirada, a denúncia adiada pelo Augusto Aras e o prejuízo imposto ao Brasil por um presidente insano.

Como dito alhures, Bolsonaro marcou para esta terça, Dia do Evangélico, seu casamento com o partido de Valdemar Costa Neto. PL e PP são sócios no Centrão, que governa e, agora, também comanda a campanha de reeleição.

Triste Brasil.

Com Josias de Souza

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

SÓ BOA NOTÍCIA


A OMS já fala em quarta onda de Covid na Europa. "Enquanto não vacinar todo mundo, se abrir mão do uso de máscaras, liberarmos aglomerações e não pedirmos o passaporte da vacina, é esperado que ocorram novas ondas. A doença é cíclica e novos ciclos serão evitados vacinando a população", diz a epidemiologista Carla Domingues

No Brasil, que registra 22.030.182 contaminados e 613.066 mortos, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, autoridades de alguns estados brasileiros já confirmaram a retomada do carnaval no ano que vem

No estado de São Paulo, ao mais de 70 dos 645 municípios decidiram cancelar a festa dos foliões em 2022 — embora as taxas de ocupação estejam baixas e os índices da doença registrem melhoras no comparativo com os piores meses da pandemia, na avaliação de alguns gestores municipais o momento é de cautela

Como diz o ditado, quem procura acha (e quem insiste acha mais depressa).

Entrementes, a novela das prévias tucanas continua dando o que falar. Com Eduardo Leite no papel de vilão. Mas cada qual tem direito de escolher a corda com a qual quer se enforcar, e o governador do Rio Grande do Sul exerceu esse direito. Seu posicionamento "vai e vem" e algumas acusações, digamos, levianas, serviram de munição para seus adversários e alargaram ainda mais a cizânia intramuros no Tucanistão. O PSDB anunciou nesta terça-feira (23) que contratou um novo aplicativo e espera concluir votação até o próximo domingo. Até o presente momento (são 12h30 de quarta), o troço não funcionou.

Em entrevista à CNN na noite de terça-feira, Sergio Moro criticou "falsas narrativas" sobre suas decisões, disse que condenação de Lula "era o que determinavam as provas" e que é “forçoso reconhecer” que o STF cometeu um “gritante erro judiciário” ao anular a condenação do molusco. Disse ainda que uma das motivações para aceitar o convite de Bolsonaro para assumir o ministério da Justiça foi evitar que a Lava-Jato tivesse mesmo destino da Operação Mãos Limpas. Pena que faltou combinar com os russos, digo, com os corruptos.

Falando em corruptos, a CCJ da Câmara (detalhe: CCJ significa "comissão de constituição e 'JUSTIÇA'". Pausa para as gargalhadas) aprovou na última terça-feira, por 35 votos a 24, a admissibilidade de uma PEC que revoga a PEC da Bengala e reduz em 5 anos a idade para a aposentadoria compulsória de servidores públicos (aí incluídos os semideuses da toga). 

Se o projeto for aprovado, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski (ambos nascidos em 1948) terão de trocar a suprema toga pelo supremo pijama. O não seria ruim se não desse ao despirocado do Planalto a oportunidade de nomear mais dois vassalos, "abrilhantando", assim, um plenário que já conta com Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Nunes Marques, enfim, a pior composição de toda a história do Tribunal.

Falando em "pior composição", o casamento do capitão-negação com o PL do mensaleiro Valdemar Costa Neto, que estava previsto para ocorrer no último dia 22, mas foi suspenso após os noivos trocarem elogios (o capitão mandou o mensaleiro à puta que o pariu, e o mensaleiro mandou o capitão tomar no cu), foi remarcado para o próximo dia 30. E já que falamos no capetão, seu ex-factótum ressurgiu das brumas para conceder uma entrevista ao SBT News.

Acusado de ser o articulador das rachadinhas do primogênito do Sultão do Bolsonaristão, Queiroz disse à repórter Débora Bergamasco que "rachadinha nunca existiu" e que não conhece o mafioso de comédia Frederick Wassef — em casa de quem se escondeu durante cerca de um ano até ser capturado. E mais adiante: O pessoal queriam [sic] me matar, tem que ficar bem enfatizado isso. Eu ia ser queima de arquivo para cair na conta do presidente [Jair Bolsonaro], como aconteceu com o capitão Adriano [da Nóbrega, miliciano morto na Bahia em fevereiro de 2020”. Faltou explicar por que ele seria "queima de arquivo" no caso de uma rachadinha que "nunca existiu", mas enfim...

Ao comentar a disputa de 2022, Bolsonaro disse que não está preocupado com o demiurgo de Garanhuns nem com o ex-juiz da Lava-Jato, e que "Lula 'não tem mais futuro' e que o tempo do PT 'passou'". Bom seria se fosse verdade. Como bem observou o senador Omar Aziz, referindo-se à qualidade, digamos, discutível de tudo que sai da boca do "mito", por onde passa, Bolsonaro espalha fezes.

Falando no ex-presidiário — convertido "ex-corrupto" pela graça suprema —, em entrevista ao jornal El País o parteiro do Brasil Maravilha minimizou a ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua e teve o desplante de comparar o tempo em que o ditador e a chanceler alemã Angela Merkel estão no poder: "Por que que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?”. E mais: “Eu não posso julgar o que aconteceu na Nicarágua. No Brasil eu fui preso”. Como se não bastasse, O PT divulgou uma nota nesta chamando de falso e de má-fé afirmar que Lula teria apoiado ditaduras de esquerda. É a prova provada de que falar merda não é prerrogativa exclusiva do atual inquilino do Planalto. 

Para concluir (em respeito aos leitores que, como eu, ficam com o estômago virado diante de tanta desfaçatez), Paulo Guedes, que é sócio de uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, havia dito em outubro que “perdeu muito dinheiro” ao aceitar entrar para o governo. O pronunciamento foi feito depois que documentos mostram que tanto Posto Ipiranga quanto o atual presidente do Banco Central são donos de empresas em paraísos fiscais. 

Em 2014, o superministro tinha cerca de US$ 8 milhões investidos em uma shelf company — empresas fundadas em paraísos fiscais, mas que podem permanecer anos sem atividade à espera de que alguém lhes dê função. Nesta terça-feira, em audiência na Câmara, ele afirmou que foi orientado por advogados a usar a offshore para fazer investimentos e não ter metade de seu dinheiro "apropriado pelo governo americano".

Guedes esqueceu de mencionar que a tal "apropriação" só aconteceria se ele investisse diretamente em empresas norte-americanas como pessoa física — nos EUA, heranças são tributadas em quase 50% (no Brasil, herdeiros pagam entre 3% e 8% sobre o bem transmitido após a morte, a depender do Estado).

A declaração do grande economista chocou alguns parlamentares. “O senhor dizer que coloca o seu dinheiro em offshore para não pagar imposto é quase um tapa na cara do povo brasileiro, que paga tributos, os pequenos e micro que são sobretaxados, enquanto temos um paraíso para acionistas de offshore e especuladores”, disse a deputada psolista Fernanda Melchionna.

O Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe investimentos em bens cujo valor ou cotação possam ser afetadas por medidas sobre as quais a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função. Em ao menos duas ocasiões, os deputados apontam que decisões de Guedes podem ter impactado seus próprios investimentos, como no caso do projeto de reforma tributária encaminhado ao Congresso e na decisão do Conselho Monetário Nacional de dispensar contribuintes de declararem seus ativos no exterior em valores inferiores a um milhão de dólares.

Por último, mas não menos importante, fala-se em dividir o Estado do Pará para criar o Estado do Tapajós. Mais um governador e respectiva assessoria (com carros oficiais e toda a mordomia de estilho), mas uma Assembleia Legislativa (idem, idem) e por aí afora. Isso quando o país está falido e o povo não tem merda no cu para cagar, se me perdoam o linguajar.

E viva o eleitor brasileiro.