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quinta-feira, 25 de novembro de 2021

SÓ BOA NOTÍCIA


A OMS já fala em quarta onda de Covid na Europa. "Enquanto não vacinar todo mundo, se abrir mão do uso de máscaras, liberarmos aglomerações e não pedirmos o passaporte da vacina, é esperado que ocorram novas ondas. A doença é cíclica e novos ciclos serão evitados vacinando a população", diz a epidemiologista Carla Domingues

No Brasil, que registra 22.030.182 contaminados e 613.066 mortos, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, autoridades de alguns estados brasileiros já confirmaram a retomada do carnaval no ano que vem

No estado de São Paulo, ao mais de 70 dos 645 municípios decidiram cancelar a festa dos foliões em 2022 — embora as taxas de ocupação estejam baixas e os índices da doença registrem melhoras no comparativo com os piores meses da pandemia, na avaliação de alguns gestores municipais o momento é de cautela

Como diz o ditado, quem procura acha (e quem insiste acha mais depressa).

Entrementes, a novela das prévias tucanas continua dando o que falar. Com Eduardo Leite no papel de vilão. Mas cada qual tem direito de escolher a corda com a qual quer se enforcar, e o governador do Rio Grande do Sul exerceu esse direito. Seu posicionamento "vai e vem" e algumas acusações, digamos, levianas, serviram de munição para seus adversários e alargaram ainda mais a cizânia intramuros no Tucanistão. O PSDB anunciou nesta terça-feira (23) que contratou um novo aplicativo e espera concluir votação até o próximo domingo. Até o presente momento (são 12h30 de quarta), o troço não funcionou.

Em entrevista à CNN na noite de terça-feira, Sergio Moro criticou "falsas narrativas" sobre suas decisões, disse que condenação de Lula "era o que determinavam as provas" e que é “forçoso reconhecer” que o STF cometeu um “gritante erro judiciário” ao anular a condenação do molusco. Disse ainda que uma das motivações para aceitar o convite de Bolsonaro para assumir o ministério da Justiça foi evitar que a Lava-Jato tivesse mesmo destino da Operação Mãos Limpas. Pena que faltou combinar com os russos, digo, com os corruptos.

Falando em corruptos, a CCJ da Câmara (detalhe: CCJ significa "comissão de constituição e 'JUSTIÇA'". Pausa para as gargalhadas) aprovou na última terça-feira, por 35 votos a 24, a admissibilidade de uma PEC que revoga a PEC da Bengala e reduz em 5 anos a idade para a aposentadoria compulsória de servidores públicos (aí incluídos os semideuses da toga). 

Se o projeto for aprovado, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski (ambos nascidos em 1948) terão de trocar a suprema toga pelo supremo pijama. O não seria ruim se não desse ao despirocado do Planalto a oportunidade de nomear mais dois vassalos, "abrilhantando", assim, um plenário que já conta com Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Nunes Marques, enfim, a pior composição de toda a história do Tribunal.

Falando em "pior composição", o casamento do capitão-negação com o PL do mensaleiro Valdemar Costa Neto, que estava previsto para ocorrer no último dia 22, mas foi suspenso após os noivos trocarem elogios (o capitão mandou o mensaleiro à puta que o pariu, e o mensaleiro mandou o capitão tomar no cu), foi remarcado para o próximo dia 30. E já que falamos no capetão, seu ex-factótum ressurgiu das brumas para conceder uma entrevista ao SBT News.

Acusado de ser o articulador das rachadinhas do primogênito do Sultão do Bolsonaristão, Queiroz disse à repórter Débora Bergamasco que "rachadinha nunca existiu" e que não conhece o mafioso de comédia Frederick Wassef — em casa de quem se escondeu durante cerca de um ano até ser capturado. E mais adiante: O pessoal queriam [sic] me matar, tem que ficar bem enfatizado isso. Eu ia ser queima de arquivo para cair na conta do presidente [Jair Bolsonaro], como aconteceu com o capitão Adriano [da Nóbrega, miliciano morto na Bahia em fevereiro de 2020”. Faltou explicar por que ele seria "queima de arquivo" no caso de uma rachadinha que "nunca existiu", mas enfim...

Ao comentar a disputa de 2022, Bolsonaro disse que não está preocupado com o demiurgo de Garanhuns nem com o ex-juiz da Lava-Jato, e que "Lula 'não tem mais futuro' e que o tempo do PT 'passou'". Bom seria se fosse verdade. Como bem observou o senador Omar Aziz, referindo-se à qualidade, digamos, discutível de tudo que sai da boca do "mito", por onde passa, Bolsonaro espalha fezes.

Falando no ex-presidiário — convertido "ex-corrupto" pela graça suprema —, em entrevista ao jornal El País o parteiro do Brasil Maravilha minimizou a ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua e teve o desplante de comparar o tempo em que o ditador e a chanceler alemã Angela Merkel estão no poder: "Por que que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?”. E mais: “Eu não posso julgar o que aconteceu na Nicarágua. No Brasil eu fui preso”. Como se não bastasse, O PT divulgou uma nota nesta chamando de falso e de má-fé afirmar que Lula teria apoiado ditaduras de esquerda. É a prova provada de que falar merda não é prerrogativa exclusiva do atual inquilino do Planalto. 

Para concluir (em respeito aos leitores que, como eu, ficam com o estômago virado diante de tanta desfaçatez), Paulo Guedes, que é sócio de uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, havia dito em outubro que “perdeu muito dinheiro” ao aceitar entrar para o governo. O pronunciamento foi feito depois que documentos mostram que tanto Posto Ipiranga quanto o atual presidente do Banco Central são donos de empresas em paraísos fiscais. 

Em 2014, o superministro tinha cerca de US$ 8 milhões investidos em uma shelf company — empresas fundadas em paraísos fiscais, mas que podem permanecer anos sem atividade à espera de que alguém lhes dê função. Nesta terça-feira, em audiência na Câmara, ele afirmou que foi orientado por advogados a usar a offshore para fazer investimentos e não ter metade de seu dinheiro "apropriado pelo governo americano".

Guedes esqueceu de mencionar que a tal "apropriação" só aconteceria se ele investisse diretamente em empresas norte-americanas como pessoa física — nos EUA, heranças são tributadas em quase 50% (no Brasil, herdeiros pagam entre 3% e 8% sobre o bem transmitido após a morte, a depender do Estado).

A declaração do grande economista chocou alguns parlamentares. “O senhor dizer que coloca o seu dinheiro em offshore para não pagar imposto é quase um tapa na cara do povo brasileiro, que paga tributos, os pequenos e micro que são sobretaxados, enquanto temos um paraíso para acionistas de offshore e especuladores”, disse a deputada psolista Fernanda Melchionna.

O Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe investimentos em bens cujo valor ou cotação possam ser afetadas por medidas sobre as quais a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função. Em ao menos duas ocasiões, os deputados apontam que decisões de Guedes podem ter impactado seus próprios investimentos, como no caso do projeto de reforma tributária encaminhado ao Congresso e na decisão do Conselho Monetário Nacional de dispensar contribuintes de declararem seus ativos no exterior em valores inferiores a um milhão de dólares.

Por último, mas não menos importante, fala-se em dividir o Estado do Pará para criar o Estado do Tapajós. Mais um governador e respectiva assessoria (com carros oficiais e toda a mordomia de estilho), mas uma Assembleia Legislativa (idem, idem) e por aí afora. Isso quando o país está falido e o povo não tem merda no cu para cagar, se me perdoam o linguajar.

E viva o eleitor brasileiro.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

DIVIDIR PARA NÃO CONQUISTAR

 

"Dividir para conquistar" é uma estratégia (utilizada por Júlio César, Felipe da Macedônia e Napoleão Bonaparte, entre outros) que consiste em fragmentar as forças inimigas para então derrotá-las. No Brasil contemporâneo, esse precioso ensinamento vem sendo desprezado pela assim chamada "terceira via", que parece incapaz (pelo menos até o presente momento) de se unir em torno de um nome que possa despachar para o quinto dos infernos as ambições da desprezível parelha Lula/Bolsonaro.

O PSDB ficou de ir "às urnas" neste domingo (o fato de eu ter escrito esta postagem na manhã ontem explica o tempo verbal) para decidir se será João Doria, Eduardo Leite ou Arthur Virgílio o tucano que pegará em lanças para derrotar a execrável dupla retromencionada. Para piorar, nada garante que os derrotados apoiarão o vencedor, e um racha no partido dificultará ainda mais a missão do emplumado que vencer disputa interna.

Os govenadores de SP e do RS se digladiaram numa campanha acirrada e com alguns ensaios de golpes abaixo da cintura, ao passo que o ex-senador, ex-prefeito de Manaus figurou como azarão — só o ego inflado e o fato de ser um dos caciques da sigla explicam sua participação na disputa. Com orçamento estimado em quase R$ 5 milhões — financiado pelo partido com recursos do Fundo Partidário (dinheiro público, em última análise) — essas avis rara percorreram todos os Estados em busca de apoio dos eleitores (pessoas que se filiaram ao PSDB até maio deste ano e se cadastraram para a votação até o último dia 15). Doria e Leite recorreram também a disparos em massa de mensagens.

ATUALIZAÇÃO: Problemas de instabilidade no aplicativo levaram o PSDB a suspender a votação eletrônica. Ainda não foi definida uma nova data para reabertura do processo para que todos os filiados que não puderam votar no pleito de ontem possam fazê-lo oportunamente. Para o grupo de Doria, o ideal seria abandonar de vez o aplicativo e ampliar o uso das urnas eletrônicas (cedidas pela Justiça Eleitoral e instaladas em Brasília, neste domingo, para as demais capitais e cidades com, no mínimo, 200 mil habitantes. Aliados de Leite, por sua vez, pregam usar cédulas de papel. Como se vê, tomar decisões é um grave problema para o tucanato. Sempre que houver mais de um banheiro no imóvel, tucano que é tucano mija no corredor!

Segundo a revista Veja, é a primeira vez que um partido faz prévias nacionais para a escolha do candidato. Tradicionalmente, as legendas escolhem a chapa por aclamação, em uma decisão dos presidentes e demais dirigentes de cada sigla. O PSDB, sempre em cima do muro (dizem que os tucanos são tão indecisos que mijam no corredor casa haja mais de um banheiro na casa) optou por um modelo em que todos os filiados puderam se inscrever para a votação, mas com votos tendo um peso diferente na apuração final. A adesão foi baixa: dos mais de 1,3 milhão de filiadas, apenas 39 mil fizeram o cadastramento.

E inegável que a disputa interna exacerbe as divergências pré-existentes na sigla, mas espera-se que os postulantes preteridos ponham de lado suas diferenças e apoiem o vencedor em prol do objetivo em comum, que é derrotar o verdugo do Planalto ou o pontífice da seita do inferno. Comenta-se à boca pequena que Leite e Virgílio são mais maleáveis do que Doria, que não abrirá mão de disputar a Presidência.

Oficialmente, o circo eleitoral começa em 16 de agosto do ano que vem, dez dias antes do purgativo "horário político gratuito" no rádio e na tv — gratuito no nome, pois quem paga a fatura desse anacronismo somos nós. Bolsonaro e Lula estão em campanha desde sempre. O capetão-cloroquina — que prometeu acabar com o instituto da reeleição e afirmou que não nasceu para ser presidente, mas, sim, para ser militar — fez da reeleição seu projeto de governo (ou de poder, melhor dizendo; governar que é bom, néris de pitibiriba). Já o ex-presidiário de Curitiba pulou do xilindró para o palanque, na certeza de que a suprema banda podre lavaria sua ficha imunda e transformá-lo-ia em "ex-corrupto", permitindo-lhe dispensar o bonifrate em 2022.

Não se sabe ao certo quantos serão os candidatos à Presidência no ano que vem, mas sabe-se que o único sem partido é o atual inquilino do Planalto. Nossa legislação eleitoral veda candidaturas avulsas, mas não faltam siglas para todos os gostos (são 33 partidos registrados no TSE e mais de 70 em "fase de formação").

Devido a de$entendimento$ com o laranjal de Luciano Bivar, Bolsonaro deixou o PSL em novembro de 2019 e vem buscando desde então um partido para chamar de seu. Depois que o "Aliança pelo Brasil" foi para a cucuia, o capitão passou a buscar uma quadrilha, digo, uma agremiação que o aceite e lhe dê a chave do cofre. O senador Flávio Rachadinha, príncipe herdeiro do sultão do bananistão, e que já passou pelo PP (duas vezes), PFL, PSC, PSL e Republicanos, migrou para o Patriota em maio com o objetivo de organizar a mudança do papai — que acabou não acontecendo.

Bolsonaro já arrastou a asa para o PP do senador Ciro Nogueira e do deputado-réu Arthur Lira e flertou com o Republicanos, sempre com Valdemar Costa Neto, babalorixá do PL, atuando nos bastidores. Ao final, o charme do mensaleiro e ex-presidiário conquistou seu coração, mas a troca de gentilizas ocorrida durante o feriadão da proclamação da República — com direito a "vá pra puta que pariu" e "vá tomar no cu, você e seus filhos" (gente fina é outra coisa) — resultou na suspensão do enlace.

Tudo indica que o casamento ocorrerá de um jeito ou de outro. Segundo o Messias que não miracula, suas chances de ingressar no PL eram de 99,9%. Trata-se não de uma paixão avassaladora, mas de simples pragmatismo: o noivo precisa formalizar a união para "governar" até 2022 e, eventualmente, evitar a cadeia, e portanto deve engolir o xingamento e aceitar as puladas de cerca de Valdemar com Lula — desde que, para manter as aparências, seu consorte evite traí-lo em público.

O affair de Bolsonaro com o Centrão soa como uma velha canção aos nosso ouvidos. Desde que foi expelido do quartel, em 1987, o capitão insurreto perambulou por oito legendas, todas de aluguel. Meses atrás, deu a chave do reino ao senador pepista Ciro Nogueira — que foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil — e colocou o próprio destino nas mãos do também pepista deputado Artur Lira — o réu que preside a Câmara e mantém trancados a sete chaves cerca de 140 pedidos de impeachment. Assim, a intenção de se amancebar com a agremiação do mensaleiro e ex-presidiário Costa Neto um dos expoentes do Centrão, com atuação fisiológica ao longo de vários governos — não causa estranheza; pelo contrário: sua alteza irreal deve se sentir em casa entre as marafonas do PL

Com a terceira maior bancada da Câmara, o partido do ex-desafeto (a quem Bolsonaro chamou de corrupto e presidiário durante a campanha de 2018) abocanha fatias consideráveis de fundo eleitoral e tempo de TV, bem como tem razoável capilaridade: em 2020, elegeu 345 prefeitos, ficando em 6° lugar no ranking das legendas que mais elegeram representantes nas prefeituras. Assim, tudo leva a crer que o adiamento do “casamento” não passou de mero acidente de percurso.

Na última quarta-feira, Costa Neto "recebeu carta branca" de seus cupinchas para negociar a devolução do anel de noivado ao dedo do nubente. O problema (ou um dos problemas) é que o ingresso do capetão no partido impedirá (ou pelo menos dificultará) que lideranças do PL apoiem adversários do governo nas próximas eleições, e alguns caciques da sigla são unha-e-carne com Lula e administrações petistas no nordeste.

A récua de muares descerebrados que por alguma razão ainda levam fé na lisura do "mito" podem achar constrangedor ver seu amado líder dividindo espaço na legenda com notórios investigados e suspeitos de envolvimento em escândalos — como o próprio cacique da tribo, que foi condenado e preso no mensalão. Mas Bolsonaro sempre foi adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos. E ainda que assim não fosse, o que é um peido para quem está cagado? Noves fora os inquéritos a que o mandatário de fancaria responde (e que já o teriam apeado do cargo se esta banânia fosse um país sério), quatro de seus cinco filhos (a exceção é a caçula, que tem apenas 11 anos) são alvo de investigações.

A filiação ao PL não será um seguro contra traições, já que o partido sempre se notabilizou pela atuação fisiológica no Congresso e por gravitar no entorno de quem tem mais chances de vencer eleições. Suas carpideiras acompanham o caixão até a beira da cova, mas não pulam dentro dela junto com o defunto. Se Costa Netto resolver não lançar candidato próprio à Presidência no ano que vem, e essa decisão for tomada a partir de abril, quando o prazo de filiação partidária já tiver expirado, o verdugo do Planalto estará fora do pleito.

Receber Bolsonaro interessa ao mensaleiro porque anaboliza as chances do partido de aumentar a bancada no Congresso — que conta atualmente com 43 deputados e 4 senadores. O tamanho da bancada na Câmara é determinante na distribuição dos recursos dos fundos eleitoral e partidário, e se a escumalha que segue o capetão acompanhá-lo na mudança de sigla, Costa Neto será o morubixaba de uma das maiores tribos da nação tupiniquim. Mas é bom lembrar que, se Bolsonaro for derrotado nas urnas — possibilidade que se torna mais provável a cada dia —, o poder de negociação do partido com o futuro inquilino do Planalto ficará fragilizado.

Eleições presidenciais no Brasil costumam guardar semelhanças com os pleitos anteriores, mas, paradoxalmente, são as diferenças que acabam pautando os resultados. Para além disso, o imprevisto sempre pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. Cito como exemplo a facada que o então candidato do PSL à Presidência levou em Juiz de Fora, a um mês do primeiro turno do pleito de 2018. Não fosse esse lamentável incidente, Bolsonaro não teria escapado de ser feito picadinho pela grandiloquência de Ciro Gomes nos debates televisivos (pode-se simpatizar ou não com o cearense de Pindamonhangaba, mas jamais menosprezar sua oratória.

Segundo o cientista político Murillo de Aragão, desde a volta das eleições diretas que algum grande tema vem prevalecendo, ora vindo do establishment político, ora como uma surpresa. Collor e Bolsonaro, ainda que solidamente incrustados no sistema, surgiram como surpresas para o eleitorado. FHC se viabilizou com o sucesso do Plano Real e foi eleito em 1994 e 1998, ambas as vezes no primeiro turno, graças ao poder que conquistou com o desempenho econômico e a fragilidade da narrativa de Lula, então seu maior adversário.

Em 2002, o picareta dos picaretas se firmou como “surpresa”, mesmo tendo mais de vinte anos de vida pública, e se elegeu na esteira dos equívocos dos barões do Tucanistão e de sua maneira desgastada de fazer política. A era lulopetista se estendeu por mais de 13 anos graças a uma combinação de fatores — entre os quais o desempenho econômico, que então avançava por águas mansas, com as velas enfunadas pelos ventos benfazejos soporados do exterior — que dificilmente se repetirá no médio prazo.

O capital político acumulado pelo petralha lhe assegurou a reeleição em 2006, a despeito do mensalão, e a eleição de sua nefasta sucessora em 2010 e 2014, a despeito da notável incompetência da desinfeliz. Mas então Bolsonaro surgiu do nada, como um rebento bastardo da Lava-Jato e da "descorrupção" que a força-tarefa de Curitiba produziu no establishment político. E a adesão do juiz Sergio Moro à campanha fez com que uma parcela considerável dos brasileiros apoiasse o "mito" — que, como não tardariam a descobrir, tinha pés de barro, calcanhares de vidro e culpa no cartório.

A incompatibilidade chapada entre bolsonarismo e o lavajatismo favorece o ex-presidiário convertido a "ex-corrupto", mas diz um velho ditado que toda araruta tem seu dia de mingau. As denúncias de corrupção endêmica que marcaram as gestões petistas certamente voltarão à baila durante a campanha, e poderão atrapalhar os planos do demiurgo eneadáctilo.

Como dito, todos os pleitos presidenciais desde a redemocratização foram abrilhantados por algum evento inesperado, que acabou afetando as campanhas. A pergunta que se coloca é: o que nos reserva a próxima eleição? The answer, my friend, is blowing in the wind. Mas isso não nos impede de fazer algumas conjecturas.

Até onde a vista alcança, o que se vislumbra é um "trisal" formado pela conjuntura econômica, pela pandemia e pelos índices de rejeição (repulsa?) aos dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto, mas a questão do combate à corrução poderá ser relevante para certos setores do eleitorado, podendo converter esse trisal num "ménage a quatre".

A economia estará atrelada ao consumo, renda, retomada das atividades e comportamento da inflação; a pandemia terá seu papel reforçado pelos "equívocos" do governo e o espantoso número cadáveres — potencializado pelo negacionismo de um mandatário psicopata.

Um cálculo mostra que, para cada vítima do vírus maldito (falo do SARS-CoV-2, não do negacionista), pelo menos 100 pessoas são afetadas emocionalmente, o que perfaz mais de 60 milhões de eleitores passíveis de ser influenciados por essa tragédia na hora de votar, ainda que a vacinação continue avançando e o número de mortes diminuindo.

A julgar pelas pesquisas, a substantiva rejeição reduziria a pó as chances de o atual inquilino do Planalto ter o contrato renovado, mas há que levar em conta que no Brasil até o passado é incerto. Por enquanto, o sumo pontífice da seita do inferno é beneficiado pelo recall positivo, mas, quando a campanha esquentar, todos os equívocos e as denúncias que marcaram as gestões do PT aflorarão como a merda que transborda de uma privada entupida quando um incauto aciona a descarga.

Ao fim e ao cabo, os três temas poderão servir de ponte para que um candidato alternativo transite com sucesso em meio à polarização, sobretudo se ele trouxer uma boa abordagem para o quarto tópico: o combate à corrupção. O que nos leva a Sergio Moro, cuja pré-candidatura já foi objeto de postagens recentes e voltará a sê-lo em meus próximos textos, já que este se estendeu mais do que eu pretendia.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA? (CAPÍTULO III)

 

Bolsonaro já foi filiado a nove partidos — PDCPDCPP (duas vezes), PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e PSL —, todos do "Centrão", daí ele “se sentir em casa” no PL, a despeito de já ter chamado o dono da casa de “corrupto e condenado”, de tê-lo mandado à puta que pariu e de ouvir dele um sonoro "vá tomar no cu" extensivo a seus ilustres rebentos. 

Quando se trata de política, o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã e vice-versa. Em novembro, depois de um noivado tão curto quanto conturbado, a DR do Sultão do Bolsonaristão com o partido do mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto foi superada e o casório, que havia sido suspenso, celebrado com pompa, circunstância, juras de amor eterno e votos de fidelidade imorredoura.

Resta saber se a lua de mel vai durar até março ou se o coração do “mito” mudará de dono pela 11ª vez, lembrando que ele precisa estar filiado a uma legenda para disputar a Presidência — ou uma cadeira no Senado ou na Câmara que lhe assegure foro privilegiado. Afinal, Bolsonaro é investigado em 6 inquéritos, e o relatório final da CPI do Genocídio lhe atribuiu pelo menos 9 delitos (entre crimes comuns, de responsabilidade e contra a humanidade).       

O então deputado federal que aprovou dois projetos e foi alvo de mais de 30 processos ao longo de sete mandatos cresceu o olho para o Planalto em 2014, ano da reeleição do Pacheco de terninho que sem jamais ter disparado um tiro virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante virou projeto de gerente competente; sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de palanque; sem ter tido um único voto na vida até 2010 virou presidenta do Brasil

Na época, o capetão disse ao jornal O GLOBO que pretendia disputar a Presidência e que a página "Jair Bolsonaro Presidente 2014", criada no Facebook por "militantes da direita e apoiadores", já contava com mais de 12 mil seguidores. Em 2015, ele já aparecia nas pesquisas com 4% das intenções de voto. Em 2016, subiu para 7%, e no ano seguinte, para 15%.

Em 2017, ao saber que o então pré-candidato à Presidência estaria num clube de golfe no Rio, o advogado Gustavo Bebianno correu para encontrá-lo, levando consigo cópias impressas de centenas de emails (que jamais foram respondidos) como prova da antiguidade de sua admiração. Mais adiante, o causídico defendeu seu ídolo em diversos processos — entre os quais a folclórica ação por incitação ao estupro movida pela deputada petista Maria do Rosário, que poderia ter inviabilizado a candidatura do capetão —, sem lhe cobrar um tostão de honorários.

Depois de trocar o PP pelo PSC, Bolsonaro teve um breve affair com o PEN (que virou Patriota para acolhê-lo). A lua de mel terminou quando ele descobriu que o partido havia patrocinado uma ação no STF questionando a prisão em segunda instância (tema que interessava sobretudo a Lula e ao PT e feria de morte seu discurso antipetista). 

Em março de 2018, o já pré-candidato foi aconselhado por Bebianno a juntar trapos com o nanico PSL. Foi Bebianno quem coordenou a campanha presidencial e quem presidiu o PSL durante as eleições. De acordo com o empresário Paulo Marinho, que abrigou na própria casa o comitê de campanha, houve três grandes responsáveis pela vitória do sociopata: Bebianno, o publicitário Marcos Carvalho e o esfaqueador inimputável Adélio Bispo de Oliveira, nessa ordem. O resto é folclore.

Bolsonaro explorou politicamente a facada que quase lhe custou a vida e, valendo-se da condição de convalescente, fugiu dos debates televisivos, que inevitavelmente exporiam seu acachapante despreparo. Impulsionado pelo antipetismo, acabou sendo eleito e levando a reboque 52 deputados federais, 4 senadores e 3 governadores.

Observação: Vale lembrar que em 2018 a parcela pensante do eleitorado votaria no demônio em pessoa para evitar que o país fosse presidido por um presidiário. Como o Tinhoso não se candidatou, o jeito foi apoiar seu preposto — um político tosco, polêmico, oportunista, populista, parlapatão, admirador confesso dos anos de chumbo da ditadura militar e defensor de opiniões peculiares, digamos assim, sobre tudo e todos. E deu no que deu.

Continua...

terça-feira, 5 de março de 2019

GOVERNO BOLSONARO EM RITMO DE CARNAVAL



Sabemos porque Jair Bolsonaro derrotou o poste-fantoche do presidiário de Garanhuns por uma diferença de quase 11 milhões de votos; o que não sabemos é como será o seu governo. A julgar pelo que se viu desde que o presidente assumiu, há que torcer para que a performance da trupe melhore. Mas de uma coisa estou certo: como na fábula do Velho, o Menino e Burro, Bolsonaro será impiedosamente bombardeado, diga o que disser, faça o que fizer. E as críticas virão tanto da ala dos descontentes, que queriam o PT no poder, como dos que não entendem por que o atual governo ainda não resolveu todos os problemas que o PT criou ao longo de treze anos e fumaça, com destaque para os 5 anos, 4 meses e 12 dias em que a calamidade em forma de gente, que atende por Dilma Rousseff, fez o diabo para quebrar o país.

A crítica política em forma de sátira e protestos tomou conta de parte dos foliões neste carnaval. O destaque foi a relação do zero um com o enrolado e inexplicado Fabrício Queiroz, e com zero dois, que ameaçou voltar para o Rio depois de articular a demissão de Bebianno — e ora ameaça ficar por Brasília (detalhes mais adiante). 

No bloco Ladeira Abaixo, em Belo Horizonte, os foliões cantaram em coro debaixo de chuva “ai, ai, ai, Bolsonaro é o carai” — mesmo refrão repetido no bloco Eu Acho É Pouco, em Olinda. Em alguns momentos, era seguido por outro: “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”, e até o antigo refrão “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” apareceu.

Também em BH, o bloco Tchanzinho Zona Norte mesclou versos como “Lula livre”, “olê, olê, olá, Lula”, “ele não” e “Bolsonaro é o caralho”, causando confusão. Segundo uma das produtoras do bloco, a manifestação foi espontânea e acabou repetida no palco, mas o capitão da PM responsável pela segurança no local alertou que, se seguissem criticando Bolsonaro e defendendo Lula, “que é um vagabundo”, a corporação retiraria seu efetivo (o porta-voz da corporação, major Flávio Santiago, disse que o que motivou a intervenção foi o risco de briga generalizada que os coros poderiam causar). Não vejo como não dar razão ao capitão.

Observação: Dando tempo e jeito, assista a este vídeo:


Mudando de pato para ganso, a mídia quase não repercutiu a curiosa decisão do desembargador Néviton Guedes, do TRF-1, que, na última quarta-feira, acolheu um mandado de segurança interposto pela OAB contra a busca e apreensão realizada no escritório do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, coordenador da defesa do esfaqueador Adélio Bispo, bem como contra a quebra do sigilo bancário e telefônico e a realização de perícias nos materiais apreendidos e que envolvam o sigilo profissional do causídico. Na prática, isso paralisa a última linha de apuração da PF sobre o caso, que é a identificação de quem está por trás da defesa de Adélio e que também poderia ter interesse no atentado (volto a este assunto numa próxima postagem).

Deputados do “Centrão” — ou "Blocão" — prometem emperrar a reforma da Previdência caso seus interesses não sejam atendidos. (Quanto patriotismo. Ou eu deveria dizer fisiologismo?). Depois que os parlamentares reclamaram da inércia de Bolsonaro nas redes sociais, o presidente se comprometeu com os líderes dos partidos que podem votar a favor da reforma a fazer uma defesa mais enfática do tema com a "inestimável" ajuda do zero dois. Na terça-feira passada, Carluxo criticou pelo Twitter o silêncio de "deputados eleitos por Bolsonaro" e fez um apelo para que eles defendam o texto da PEC. A crítica causou mal-estar no Congresso. "Eu não vejo autoridade no filho do presidente para dar pito nem mesmo nos seus companheiros, colegas vereadores da Câmara Municipal, quanto mais em deputado federal eleito pela população", disse o líder do DEM na Câmara e do Centrão, Elmar Nascimento. "A gente não vai votar a reforma da Previdência porque o filho do presidente quer. Vamos votar pelo Brasil. Temos convicção de que o País precisa da aprovação dessa reforma". De novo: quanto patriotismo!

Para quem não se lembra, zero dois teve papel determinante na demissão de Gustavo Bebianno. Após o episódio, e graças a alguma pressão da cúpula militar, que não vê com bons olhos envolvimento da prole presidencial em questões administrativas do governo, o pitbull do papai voltou para o Rio, supostamente para reassumir suas funções na Câmara Municipal. Mas o afastamento durou pouco: segundo reportagem da Folha, ele se reuniu nesse início de semana com o secretário de Comunicação Social, Floriano Barbosa, para discutir estratégias para defender a reforma da Previdência.

Bolsonaro-pai parece apreciar a ajuda de Bolsonaro-filho-do-meio para promover a PEC da Previdência e conseguir mais apoiadores — não só no Congresso, mas também na sociedade civil. Na última terça-feira, o pimpolho postou no Twitter: "Gostaria de ver mais deputados eleitos por Bolsonaro defendendo a não tão popular, mas necessária proposta da nova previdência. Sabemos que alguns já o fazem, mas qualquer um vê que a esmagadora maioria nem toca no assunto. Um time tem que jogar junto interessado só no Brasil". Até aí não há como discordar.

A propaganda é a alma do negócio, dizem, mas sem dinheiro o coisa não anda, sobretudo no antro de corruptos que se tornou o Congresso Nacional. Assim, outra estratégia do Planalto para enfunar as velas da reforma previdenciária é adoçar a boca, digo, o bolso dos congressistas de primeira viagem com repasses individuais de R$ 5 milhões, visto que eles só terão direito a emendas parlamentares a partir do ano que vem.

Dos 513 deputados, 243 estão no primeiro mandato; no Senado, 46 dos 81 são novos. Uma simples conta de padeiro nos leva ao total de R$ 1,4 bilhão — isso sem incluir as emendas impositivas para os deputados e senadores que foram reeleitos (cada um receberá R$ 15,4 milhões, o que perfaz o total de R$ 9,2 bilhões). Embora sejam obrigatórias, as emendas sempre funcionaram como moeda de troca em momentos de votações cruciais para o governo, como é o caso da reforma da Previdência — e foi o caso das denúncias de Janot, que levaram Temer a torrar seu capital político e o nosso dinheiro para comprar o apoio das marafonas da Câmara Federal e se escudar das “flechadas” do então PGR.

A despeito do discurso oficial contrário à barganha política, o governo deve liberar, além das emendas para os veteranos e do crédito para os calouros, cargos de segundo escalão. Responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso, o ministro Onyx Lorenzoni avisou aos políticos que eles poderão fazer indicações para cargos em repartições federais nos Estados, desde que preenchidos “critérios técnicos”, como determina a Controladoria-Geral da União, e advertiu que ministros terão poder de veto sobre as indicações.

“Se fosse toma lá, dá cá, os repasses seriam só para os deputados e senadores aliados, mas não é isso. Todos os novatos vão receber, independentemente de partidos, para colocar nas suas bases”, defendeu o ex-deputado e atual secretário especial da Casa Civil para a Câmara, Carlos Manato. Pode até ser. Mas o problema é que até agora o governo são conseguiu consolidar uma base de sustentação no Congresso e só conta com a adesão formal do seu partido, que tem se mostrado dividido.

Joice Hasselmann, escolhida como líder do governo no Congresso, promete pedir votos até para o PT. “Na pauta de costumes a gente briga, mas, na Previdência, precisamos ter união”, afirma a deputada. Falando na quadrilha, o líder da ORCRIM na Câmara, Paulo Pimenta, classificou como “uma vergonha” a liberação do crédito para os novatos. “É fisiologismo e contraria tudo o que Bolsonaro disse na campanha”, afirmou o petralha, “esquecendo-se” muito convenientemente de que verba também deve beneficiar a oposição. E isso depois que Lula e seus asseclas rapinaram a Petrobras em prol de seu espúrio projeto de poder (e de encher os bolsos, deles próprios e de parentes, amigos e apaniguados). Não fosse trágico, o pronunciamento desse projeto mal-ajambrado de monte de merda seria cômico. Mas essa corja não tem jeito; é como o escorpião da fábula, que convence o sapo a levá-lo nas costas até o outro lado do rio, alegando que, se ferroá-lo, ambos morrerão, e então lhe casca o ferrão, simplesmente porque agir assim é da sua natureza, não há nada que ele possa fazer para mudar. Quer um exemplo? Então vamos lá:

PT disse que vai acionar a Corregedoria da PF contra Danilo Campetti, um dos agentes que fizeram a escolta de Lula durante o velório e a cerimônia de cremação do neto do petralha, no último sábado. Campetti integrou a equipe que cuidou da segurança do então candidato Bolsonaro e ostenta nas redes sociais uma aversão ao PT e um engajamento ao hoje presidente Bolsonaro. Também contrariou a escumalha vermelha o fato de o agente aparecer em imagens ao lado de Lula ostentando no colete à prova de balas um emblema da SWAT (divisão de táticas especiais da polícia dos Estados Unidos onde ele fez cursos de especialização).

De novo: Se não fosse trágico, seria cômico! Para concluir, relembro esta perola do Ultraje a Rigor.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Segurança digital e humor de sexta-feira

Nunca a Internet foi tão insegura: numa guerra digital sem precedentes, sites de governos e empresas de todo o mundo tiveram dados sigilosos roubados ou foram tirados do ar. No Brasil, a maioria das investidas foi desfechada mediante ataques DDoS (que consiste basicamente em bombardear determinado site com um volume de requisições superior ao que ele pode suportar). E talvez você até tenha participado desse furdunço – ainda que involuntariamente –, pois, para obter o poder de fogo necessário a ataques dessa magnitude, os cybercriminosos arregimentam milhares de computadores de usuários “comuns” (saiba mais em http://fernandomelis.blogspot.com/2008/03/zumbis.html).
Quando eu “cometi” meus primeiros artigos sobre segurança digital, no final do século passado, o uso doméstico da Internet era incipiente e a propagação dos vírus, lenta. Inicialmente, eles se limitavam a exibir mensagens pornográficas ou produzir sons bizarros, mas logo passaram a danificar arquivos e desestabilizar os sistemas infectados (para saber mais, clique aqui).

Observação: O primeiro antivírus surgiu em 1988, quando o indonésio Denny Yanuar Ramdhani desenvolveu um programa destinado a imunizar sistemas contra o vírus de boot paquistanês “Brain”, criado dois anos antes. Pouco tempo depois a IBM lançaria o primeiro “antivírus comercial”, sendo logo seguida por outras empresas, dentre as quais a SYMANTEC e a MCAFEE, que ocupam respectivamente o primeiro e o segundo lugar no ranking dos fabricantes de softwares de segurança, seguidas pela TRENDMICRO e pela KASPERSKY.

Embora não haja consenso quanto ao número de malwares existentes atualmente – já que cada empresa de segurança utiliza metodologias próprias para classificá-los conforme suas famílias e variantes –, a coisa deve andar pela casa dos 20 milhões (em 2006, eram “apenas” 334.000)*. Para piorar, o objetivo precípuo da esmagadora maioria dessas pragas passou a ser o acesso remoto aos sistemas e a captura de informações confidenciais dos internautas (tais como senhas bancárias e números de cartões de crédito). Ou ambas as coisas, já que um mesmo programinha tanto pode roubar senhas quanto utilizar o PC infectado para enviar spam ou “alistá-lo” num exército de zumbis controlado remotamente.
Segundo a empresa de segurança russa Kaspersky, um novo software malicioso é descoberto a cada dois segundos (até poucos anos atrás, era um a cada 5 minutos)*. No ano passado, em comparação com 2009, foram colocados na rede 87% mais malwares ladrões de senhas e 135% mais cavalos de tróia*. E tudo indica que a bandidagem não deve demorar a concentrar suas baterias nos smartphones e tablets.
Enfim, se há cerca de 10 anos os crackers cometiam suas estripulias para ganhar popularidade e reconhecimento entre seus pares, hoje eles buscam meios de ganhar dinheiro – em outras palavras, o que era uma atividade exibicionista de fundo de quintal se transformou num negócio globalizado, com quadrilhas organizadas e funções divididas.
Tem gente que vê as pragas digitais como uma simples estratégia de marketing (para encher as burras dos fabricantes de soluções de segurança) e por isso desdenha atualizações de softwares e se acha capaz de escapar de quaisquer armadilhas. Não espere até ter surpresas no extrato bancário ou na fatura do cartão de crédito para rever seus conceitos. Hábitos de navegação saudáveis e arsenais de segurança responsáveis são requisitos cruciais para nossa sobrevivência nessa “terra de ninguém”. Demais disso, confiar desconfiando: obtenha uma segunda (ou terceira, ou quarta) opinião sobre a saúde do sistema com serviços online gratuitos como a da F-Secure. Para outras opções, clique aqui.

(*) Fonte: “Guerra Anônima” (INFO#306, Agosto/11).

Passemos agora à nossa tradicional piadinha de sexta-feira:

No primeiro dia de aula numa escola secundaria dos EUA, a professora apresentou aos alunos um novo colega, Satiro Suzuki, do Japão. A aula começa, e a professora pergunta:
- Vamos ver quem conhece a história americana. Quem disse: “Dê-me a liberdade ou a morte”?
Silêncio total. Apenas Suzuki levanta a mão e diz:
- Patrick Henry, em 1775.
E quem disse: “O estado é o povo, e o povo não pode afundar-se”?
- Abraham Lincoln, em 1863.
A professora olha os alunos e diz:
- Vocês não têm vergonha? Suzuki é japonês e sabe mais sobre a história americana do que vocês!
Então, ouve-se um murmúrio:
- Vá tomar no cu, japonês filho da puta!
- Quem foi? - Grita a professora.
Suzuki levanta a mão e responde:
- General McArthur, em 7 de dezembro de 41, em Pearl Harbour, e Lee Iacocca, em 1982, na Assembléia Geral da Chrysler.
Silêncio total. Apenas um murmúrio no fundo da sala:
- Acho que vou vomitar.
- Quem disse isso?
E Suzuki:
- George Bush (pai) ao Primeiro-Ministro Tanaka, durante um almoço em Tókio, em 1991.
Um dos alunos grita:
- Chupa o meu pau!
E a professora, irritada:
Basta! Quem foi agora?
E Suzuki, sem hesitações:
- Bill Clinton à Mônica Lewinsky, na Sala Oval da Casa Branca, em Washington, em 1997.
Outro aluno se levanta e grita:
- Suzuki é uma merda!
E Suzuki responde:
- Valentino Rossi, no Grande Prêmio de Moto no Rio de Janeiro, em 2002.
A turma fica histérica, a professora se descontrola, a porta se abre e entra o diretor:
- Que merda é essa, nunca vi uma confusão destas!
Suzuki:
- Lula para o ministro da Aeronáutica, a respeito do caos aéreo em Dez/2006, Brasília.
E outro aluno, num sussurro:
- Ai, agora fodeu de vez!
Suzuki:
- Lula de novo, após a queda do avião da TAM.

Um ótimo final de semana a todos, e até a próxima.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

BOLSONARO DE PARTIDA DO PARTIDO AO QUAL NÃO SE FILIOU


Quem se casa vincula-se ao cônjuge e à família do dito-cujo. Bolsonaro descobriu isso no último domingo, durante seu périplo pelas arábias. Consta que ele e o pajé do PLValdemar Costa Neto, rechearam uma "troca intensa de mensagens" com expressões do mais alto nível — tais como "vá para a puta que pariu" e “vão tomar no cu você e seus filhos” —, e que o motivo do entrevero foi o diretório do partido em São Paulo (reduto de Doria), que Bolsonaro quer deixar sob comando do Bananinha.

Costa Neto disse ao capetão que ele pode ser o presidente da República, mas quem manda no partido é o presidente do partido. Segundo a versão oficial da esbórnia, a cerimônia de filiação, que estava marcada para o próximo dia 22, foi adiada sine die. Mas até as emas do Alvorada sabem que não se trata apenas de um adiamento, e que a implicância do "mito" não é com o apoio do PL a Lula ou a Ciro, mas a João Doria.

Bolsonaro está sem partido há cerca de dois anos, desde sua ruptura com o PSL. Trocar de sigla não é problema para ele, que desde 1987, quando foi expelido da caserna e ingressou na política, sempre balizou sua atuação em assuntos caros aos fardados, tanto como vereador pelo PDC — de 1989 a 1991 — quanto como deputado federal — de 1991 a 2018 — e passou por nada menos que oito legendas — PDC, PP (duas vezes), PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e PSL.

Após deixar o PSL em meio a "divergências orçamentárias", o presidente tentou fundar o "Aliança pelo Brasil", mas não conseguiu granjear nem metade das assinaturas necessárias. Desde então, flertou com o PTB, o PRTB, o Patriota e o PP e acabou noivando com o PL. No entanto, divergências sobre o controle do dote e a definição dos palanques estaduais resultaram no rompimento (se irreversível ou não, só o tempo dirá).  

Outro problema que se coloca: se realmente quiser disputar a reeleição, Bolsonaro tem até março do ano que vem para se filiar ao PL ou outro partido qualquer. Se, a partir de então, esse partido desistir de lançar candidato próprio à Presidência, nosso indômito mandatário ficará a ver navios. E pelo binóculo.

Costa Neto já teve alianças díspares (para dizer o mínimo) em sua longa trajetória na política. Em 2002, por exemplo, ele apoiou a primeira eleição de Lula — indicando, inclusive, o então senador mineiro José Alencar para vice na chapa do petista. Agora, a inusitada (para não dizer esdrúxula) aproximação entre o petralha e o picolé de chuchu (que está em via de se tornar ex-tucano) estraga os planos dos bolsonaristas, que viam em Alckmin um dos possíveis aliados no maior colégio eleitoral do país.

Filiar-se ao PL, ao PSC, ao PDC, ao PCC, ao PQP ou a qualquer outro partido não deixará Bolsonaro diferente. Ao se aliar ao rebotalho, à escumalha, à escória político partidária, ele estará apenas voltando a ser quem sempre foi antes do teatro de 2018.

Para quem já estava "de caso" com o PP — de prontuários notórios como Paulo MalufArthur Lira e Ciro Nogueira —, trocar alianças com o PL é mais do mesmo. Mas vale lembrar que em 2018, quando o pajé do PL o preteriu por Alckmin, Bolsonaro postou nas redes sociais: "Agora [a imprensa] diz que aceno para corruptos e condenados; é a velha imprensa de sempre, não sabem fazer outra coisa a não ser mentir e mentir”. E se referiu a Costa Neto como “corrupto e condenado” (preso no mensalão, quando foi condenado a sete anos de reclusão, o ex-deputado foi um dos nomes mais cortejados em 2018 para alianças políticas).

Atualização: De acordo com o blog da Andréia Sadi, a filiação de Bolsonaro ao PL na mesma semana em que Sérgio Moro defendeu o combate à corrupção em seu discurso de filiação ao Podemos repercutiu mal nas redes sociais. E o capetão não pode se dar ao luxo de desagradar a récua de lunáticos que ainda o apoia. Nunca é demais lembrar que o dono do partido-noivo foi condenado no julgamento do mensalão a 7 anos e 10 meses de prisão e preso em 2013. Como isto aqui é Brasil, o mensaleiro passou a cumprir prisão domiciliar em 2014 e foi perdoado em 2016 pelo ministro Luís Roberto Barroso, que acolheu um parecer da então PGR Raquel Dodge.

Coisas da política tupiniquim.

domingo, 21 de novembro de 2021

HAJA SORDIDEZ

 

A política é a arte do possível, mas está se torando impossível aturar o desgoverno em curso e conviver com a perspectiva de mais quatro anos de bolsonarismo boçal ou, alternativamente, com a volta do lulopetismo ladrão. Não que a ladroagem seja exclusividade da patuleia, longe disso. Basta puxar a capivara de Valdemar Costa Neto para ver o tipo de gente com quem o ainda presidente desta banânia "está noivando" — no fundo, ambos são farinha do mesmo saco, haja vista a troca de gentilezas por mensagem em que o ex-desafeto e ora aliado mandou Bolsonaro tomar no cu.

Nome icônico das trevas da malandragem, antológico ficha-suja, mensaleiro-mor, aliado guloso nas tramoias de Lula, o expoente máximo do PL resolveu, em 2018, apoiar a candidatura de Alckmin. O "mito", sentindo-se preterido, chamou Costa Neto de “corrupto e condenado”. Mas é sabido que, na política, o desafeto de hoje é o aliado de amanhã (ou vice-versa). Assim, depois de se abraçar ao PP de Arthur Lira e Ciro Nogueira, nosso intrépido Messias resolveu buscar no PL do mensaleiro corrupto e condenado o respaldo partidário que lhe permitirá disputar a reeleição.

Sem saudosismos, receios ou peso na consciência, graças apenas à conjuntura e aos agrados e gracejos de um certo capitão, Costa Neto mudou diametralmente de lado. Apaixonou-se, digamos assim — para ficarmos na linguagem tão ao gosto e peculiar do inquilino acidental do Planalto. Fazer o quê? Vida que segue. Virou casaca, como se diz popularmente, para se aboletar no poleiro de quem paga melhor ou pode render mais dividendos. Quem há de lhe jogar pedras por isso? Só quem não o conhece.

Dentre outras virtudes, o Valdemar de quem falamos aqui é ex-presidiário. Mofou um bom tempo na cadeia para cumprir parte da pena de sete anos por uma penca de crimes que lhe foram imputados — os demais seguem na morosa análise processual ou descansam nos escaninhos da Justiça. Como é típico dos colarinhos brancos com interligações influentes na alta-roda brasiliense, o mensaleiro foi agraciado com o regime semiaberto em troca de trabalhos nada forçados na padaria de um amigo. E de padeiro a parceiro preferencial do presidente desta banânia, sem escalas. Lá atrás, teve apenas de ostentar — com a discrição devida, mas não sem a galhardia de quem parece acreditar que carrega um troféu por bom comportamento — a tão em voga tornozeleira eletrônica. Cumprido o prazo inicial, foi beneficiado por um indulto mal-ajambrado.

Valdemar é, indiscutivelmente, um prodígio da política rasteira. Com os trunfos que nunca perdeu, regressa triunfalmente, metendo o pé direito no tapete vermelho do Planalto que o leva ao pináculo do poder central. Com um plantel de realizações dignas de mafiosos de alto calibre, firmou o enlace matrimonial, dando as mãos a um entusiasmado mandatário que fez dele a “noiva escolhida” para uma jornada de campanhas eleitorais e acertos visando a prosperidade de ambos. Serão felizes para sempre? Vai saber.

Foi Bolsonaro quem primeiro falou em escolher “a namorada mais bonita” para o casamento. Quem quiser pode criticar à boca pequena o gosto duvidoso nesse sentido. Mas, como manda a boa etiqueta, é melhor ninguém meter a colher no relacionamento dos dois. Fechemos, pois, o foco sobre o “noivo” e suas preferências.

O Bolsonaro de outros tempos, quando ainda trovejava indignação contra malfeitos para convencer a turba de que era o candidato mais adequado a ocupar a Presidência, tratava o mandachuva do PL como tratava o Centrão. O filho zero três, seu preferido e malcriado Carlos Bolsonaro, não teve papas na língua para tratar (no passado, é claro!) o radiativo mensaleiro pelo termo que lhe consagrou: “ladrão”. 

Relatava Carluxo em suas redes sociais as propinas supostamente angariadas pelo antes desafeto em contratos fraudados na usina de Furnas. Depois, quando o papai resolveu estreitar a relação, trazendo o antigo opositor para o altar, simplesmente surrupiou o post de acusações, dada a necessidade de apagar as “injúrias” com as quais tratava esse ainda aventureiro do PL.

Assim caminha a velha e carcomida política tupiniquim, coroando os arrivistas de sempre. Bolsonaro, camuflado de mensaleiro por circunstância do matrimônio — mas também por força da ambição desmedida que o levou a arquitetar um desavergonhado orçamento secreto —, tinha ânsia de realizar o toma-lá-dá-cá para conquistar o objetivo maior da reeleição. Não hesitou em furar o teto fiscal, calotear credores e pegar a grana pesada da ordem de mais de R$ 90 bilhões para gastar à vontade. Aliou-se a fiéis do baixo clero, de Arthur Lira a Roberto Jefferson, e convidou a escória, a escumalha, o rebotalho, enfim, tudo que há de pior, para se sentar seu lado.

Valdemar veio para assenhorar a lambança. Ao firmar o acordo pré-nupcial, decerto os dois amarraram uma bem detalhada divisão de bens. Como manda o figurino, antes mesmo de consumado o enlace. Teve espaço até para um ménage à trois, trazendo para a roda — ou para a alcova — o antes dileto do "mito", agora ministro, Ciro Nogueira. Os três entabularam os entendimentos para uma espécie de “trisal” rumo à vitória nas eleições. Se serão bem-sucedidos é outra conversa. Como o papel tudo aceita, deixa estar.

Com a cara de pau lambuzada de óleo de peroba, Bolsonaro sequer ruboriza diante de tamanha promiscuidade. Chafurda na esbórnia política que tanto questionou, e ainda tenta posar de bacana. Justificar o inexplicável. Seu negacionismo e mitomania patológicos não são capazes de disfarçar a perda do senso de ridículo (se é que alguém pode perder algo que nunca teve). Resta ao presidente a desfaçatez indolente (perdoem a rima, não foi intencional).

Preparando-se para formalizar a mais abominável articulação de sequestro de dinheiro público da história do País, o sultão do Bolsonaristão planeja embolsar recursos extras para emendas secretas e o famigerado Fundo Eleitoral, que já perfaria cerca de R$ 5 bilhões. As emendas extras contariam na casa de R$ 16 bilhões. É dinheiro dos contribuintes, do aposentados. Verbas que tinham, por preceito constitucional e direito privado dos credores, outro destino e obrigações já contratadas, mas que foram negligenciadas, relegadas, caloteadas sem a menor cerimônia.

Bolsonaro quer se refestelar na farra da campanha. Depois do casamento custoso, será preciso meter a mão grande na bufunfa por meio de um orçamento secreto imoral, consagrando a nova era da roubalheira aberta. Sim, porque ela é desenhada e executada à luz do dia, para quem quiser ver. Com um balcão de negócios montado no Palácio e no Congresso, tem gerente do caixa, interlocutores, ameaças com cobranças caras, aos moldes da agiotagem salafrária, para cooptar o apoio de parlamentares arredios e outros nem tanto.

Em meio a tudo isso, o acerto de Bolsonaro e Valdemar é daqueles que entram para a história do crime organizado. Liberou geral! A farra parece tomar conta de vez em Brasília. A inflação descontrolada está aí. O desemprego também. Os juros altos, idem. Tudo piorou para cada um dos contribuintes que quitam a fatura dessa festa. Valdemar, Lira, Ciro, Jefferson, Bolsonaro et caterva minaram a democracia representativa e agora constroem o que há de pior nas entranhas de nossa República Federativa. 

Ai de nós. Só nos resta rezar e esperar as urnas.

Com Carlos José Marques

quarta-feira, 6 de março de 2019

MAS É CARNAVAL... OU ERA


NÃO HÁ PORRE QUE SEMPRE DURE NEM RESSACA QUE NUNCA TERMINE.

A exemplo do Réveillon, o Carnaval estimula o consumo de bebidas alcoólicas. Só que a “passagem de ano” é comemorada numa noite, e o reinado de Momo dura quase uma semana. O resultado é uma ressaca cruel, com direito a dor de cabeça, boca seca, língua saburrosa, corpo dolorido, fadiga, tremores e outros desconfortos fáceis de evitar: basta não encher a cara. Como é sempre mais fácil falar do que fazer, seguem algumas dicas para o antes e o depois.

Se você tem problemas com a balança, lembre-se que uma latinha de cerveja (ou garrafinha tipo long neck) tem de 150 a 200 calorias. Para queimá-las, um sujeito de 70 quilos precisa andar pelo menos dois quilômetros. Claro que folião que se preza pula feito perereca; ou seja, gasta energia. Mas, ao contrário do dinheiro, as calorias são mais fáceis de ganhar do que de gastar. Sobretudo se o distinto tem tendência a engordar, que aí basta tirar a tampa da caixa da pizza, quando ela chega quentinha, e respirar fundo... Se comer, então... Outra coisa: o álcool da cerveja é o mesmíssimo álcool do uísque, do vinho, da vodca, do gim, do conhaque, e por aí vai. O que muda é só a concentração. Todavia, se você encontrar vodca por preço inferior ao de cachaça Velho Barreiro, 51, Tatuzinho e outras "derruba-peão", passe longe, porque o troço deve ser venenoso.

Evite beber de barriga vazia (o álcool é absorvido mais lentamente quando há alimento no estômago, mas comer exageradamente antes de beber pode levar o incauto a colocar tudo para fora no meio da festa). Há quem recomende evitar a mistura de bebidas destiladas com fermentadas, mas isso não faz diferença na ressaca, a não ser pelo fato de a mistura "alterar o paladar" do beberrão e lavá-lo a ingerir uma quantidade maior de álcool.

Comer algo gorduroso (como miolo de pão com bastante manteiga ou embebido em azeite) antes de beber também ajuda, da mesma forma que comer frutas ou tomar suco, refrigerante ou água entre as biritas manter o organismo hidratado reduz a concentração do álcool, facilita sua metabolização pelo organismo e, consequentemente, minimiza os sintomas da ressaca que há de vir. Tenha em mente que o álcool, para ser processado, precisa de carboidratos (daí porque se trata coma alcoólica com injeção de glicose). Portanto, evitar massas e assemelhados para "compensar" as calorias da bebida e prevenir um indesejável ganho de peso não costuma ser boa ideia.

Mas agora é tarde, Inês é morta. A menos, naturalmente, que você se lembre de que leu aqui no Carnaval do ano que vem, no próximo Réveillon ou no happy hour de depois de amanhã, se e quando sentir aquela vontade irresistível de enfiar o pé na jaca.

Se as medidas profiláticas não forem suficientes, a ressaca irá transformar seu dia seguinte na antessala do inferno. E não existem fórmulas mágicas para combatê-la a menos que se esteja em Las Vegas, onde o Hangover Heaven (paraíso da ressaca, numa tradução livre), criado pelo médico Jason Burke, promete solucionar o problema: basta um telefonema para ser atendido por um ônibus que funciona como clínica itinerante e receber uma solução intravenosa com soro fisiológico, vitaminas B1 e B12, anti-inflamatórios, anti-náuseas e outras substâncias destinadas a ajudar na desintoxicação do organismo.

Se você não está em Vegas, mas em algum cu de judas tupiniquim, procure deixar seu corpo processar ou regurgitar o excesso de álcool. Nesse entretempo, não caia na conversa de que ressaca se cura com mais bebida; isso é desculpa de beberrão que quer tomar mais uma cangibrina, e ainda que possa amenizar os sintomas no curto prazo, mais cedo ou mais tarde o nível de álcool no seu organismo terá de baixar.

O segredo, meus caros pés-de-cana, e investir pesado na hidratação. Sobretudo se o porre o fez vomitar ou lhe deu uma poderosa diarreia, que aí a perda de água será potencializada, tornando a reidratação ainda mais importante. Quanto ao que comer no day after, bem, "ouça o seu organismo". Há quem aconselhe evitar comidas ácidas, gordurosas ou de difícil digestão, mas quem, em nome de Deus, acorda com uma ressaca-mãe e tem disposição para encher o rabo de feijoada, se o estômago está irritado pelos efeitos do álcool?

Chá com torradas e afins? Bem, o chá contém água e a água reidrata. Mas não acredite em chazinhos milagrosos, como o de hibisco, nem em outras bobagens supostamente mágicas, como suco verde, de quinoa e outros que tais. Se você gosta de chá, tome o chá que você está acostumado a tomar. Se não gosta, mande ver na água água gelada, na tônica com limão, nos sucos, na água de coco (o melhor reidratante natural que existe) e na água com gás.

Se o(a) amigo(a) ressacado(a) preferir refrigerantes, beba os normais, que contém açúcar (glicose) e, portanto, ajudarão seu organismo a metabolizar o excesso de álcool. Fuja da cerveja, do vinho, enfim, de bebidas alcoólicas em geral, já que, de novo, elas até podem aplacar sua sede carrasca, mas não irão reidratá-lo (antes pelo contrário). Uma possível exceção é o Bloody Mary, que é composto basicamente de vodca, suco de tomate, pimenta (do reino e tabasco), suco de limão, gelo e uma pitada de sal. É tiro e queda na cura da ressaca. Ou pelo menos é o que afirmam (ou afirmavam) bebuns inveterados como Frank Sinatra, Judy Garland, Humphrey Bogart, Sammy Davis Jr., Jerry Lewis, Dean Martin e Elizabeth Taylor, que eram fãs de carteirinha dessa beberagem.

Observação: O Bloody Mary (Maria Sangrenta, numa tradução direta) foi criado pelo francês Fernand Petiot, que comandava o balcão do parisiense Harry’s New York Bar , na França, nos anos de 1920, e teria inventado a mistura de vodca com suco de tomate, molho inglês e pimenta a pedidos. Em épocas de Lei Seca, os americanos procuravam uma bebida de aparência e teor alcoólico mascarados e o Bloody Mary foi a saída perfeita para confundir autoridades. O nome viria depois, em 1934, no bar novaiorquino do Hotel St. Regis Sheraton, nos Estados Unidos. 

Caldos e sopas estão liberados, desde que com pouco sal. Dietas líquidas ajudam a hidratar, mas não irão curar a ressaca num passe de mágica. Jejuns prolongados, horas na sauna ou corridas sob um sol senegalês também não resolvem, até porque seu corpo está desidratado, e isso só contribuirá para desidratá-lo ainda mais. 

Uma ótima quarta-feira de cinzas a todos.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

BOLSONARO DESPRESIDE E O CENTRÃO DESGOVERNA


Guindado à Presidência com a promessa demagógica, autoritária e irrealizável de livrar o Brasil dos grilhões do presidencialismo de coalizão, o protagonista do maior estelionato eleitoral da história desta banânia (sorry, Dilma) e pior presidente desde a democratização (sorry again, Dilma) acabou entregando ao Centrão "a alma de seu governo", o que, de certa modo, foi uma volta às origens: desde que ingressou na vida pública, Bolsonaro foi filiado ao PDC, PDC, PP (duas vezes), PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e PSL, todos do assim chamado "Centrão" (faltam PCC e o PQP, mas isso é outra conversa).

Em novembro de 2019, devido a desentendimentos com Luciano Bivar, o sultão do bananistão deixou o laranjal para plantar o Aliança pelo Brasil. Mas faltou estrume (a Justiça Eleitoral exige 492 mil assinaturas para a criação de um partido, e ele conseguiu somente 154 mil) e o projeto foi pra ponte que partiu. Desde então, sua alteza irreal flertou com uma dúzia de partidos (todas do Centrão), até se decidir finalmente a trocar alianças com o PL do mensaleiro e ex-presidiário — a quem ele chamava de “corrupto e condenado” e mandou pra puta que pariu no domingo 14, e de quem ouviu (leu, melhor dizendo) um retumbante "vá tomar no cu". Mas a DR acabou superada e o enlace, que havia sido suspenso, ficou para o final da tarde de hoje, com direito a juras de amor eterno e fidelidade imorredoura. Glória a Deus, como diria o folclórico Cabo Daciolo.  

Bolsonaro cresceu o olho para o Palácio do Planalto durante o desgoverno Dilma. Em 2014, o então deputado federal disse ao jornal O GLOBO que pretendia disputar a Presidência e que a página "Jair Bolsonaro Presidente 2014", criada no Facebook por "militantes da direita e apoiadores", já contava com mais de 12 mil seguidores (na época, o perfil oficial do então deputado tinha mais de 340 mil admiradores). Em 2015, ele já aparecia nas pesquisas com 4% das intenções de voto. Em 2016, subiu para 7% em 2016 e para 15% no ano seguinte.

Para minimizar os efeitos da pecha de sectário e da notória falta de conhecimento em relação a temas importantes para alguém que aspirava a comandar o país, o parlamentar passou a modular o discurso e terceirizar a elaboração de propostas em algumas áreas cruciais. Faltou combinar com Ciro Nogueira — presidente do PP —, que sempre fugia do assunto.

Após a reeleição de Dilma, o capitão trocou o PP pelo PSC, que também lhe negou legenda para disputar a Presidência. Em 2017, ele finalmente compreendeu que teria mais chances numa sigla menor, e, depois de flertar com o nanico PEN, acabou filiando-se ao PSL. O resto é história recente.

Para provar que era amigo do mercado e obter o apoio dos empresários, o estatista que acreditava em Estado grande e intervencionista, que sempre lutou por privilégios para corporações que se locupletavam do Estado havia décadas foi buscar Paulo Guedes, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. Para provar que era inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média, o adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos foi buscar Sergio Moro, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. Para obter o apoio das Forças Armadas, o ex-militar agressivo e falastrão, que foi enxotado da corporação por indisciplina e subordinação, foi buscar legitimidade em uma fieira de generais, que embarcaram em uma canoa que deveriam saber furada.

Uma vez eleito e empossado, Bolsonaro obrigou Moro a reverter uma nomeação, tomou-lhe o Coaf, forçou-o a substituir um superintendente da PF, esnobou seu projeto contra a corrupção e, vendo que o ex-juiz não cumpriria a missão de blindar sua prole (*), obrigou-o a engolir dúzias de sapos e beber toda a água da lagoa. O auxiliar fingia não ver, tentava negociar, mas acabou abandonando a canoa para salvar o prestígio que ainda lhe restava.

(*) Em três casamentos, o presidente que acabou com a Lava-Jato porque “não tem mais corrupção no governo teve quatro filhos e uma filha. Desses, somente Laura, que tem 11 anos, não é alvo de investigações. Afora o célebre caso de Zero Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério Público apuram suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro, que incluem tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de manifestações que pediram o fechamento de instituições como o Congresso e o Supremo.

Bolsonaro desautorizou Guedes incontáveis vezes, sabotou seus projetos e, com o Centrão, enterrou de vez a agenda econômica. Em vez de aprender com MandettaMoro e Teich como sair da canoa antes de ela virar, o "superministro" espelhou-se em Pazuello e virou uma espécie de dublê de bonifrate e zero à esquerda.

Já as Forças Armadas, cujo comportamento irrepreensível ao longo das últimas três décadas desfez a imagem negativa associada aos 21 anos de ditadura, perdeu boa parte da admiração e do reconhecimento dos brasileiros. Alguns fardados de alta patente parecem ter desaprendido que, num governo civil, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica não devem obediência cega ao "comandante-em-chefe", e que tampouco é seu papel salvar o presidente de turno. Sua lealdade maior é com o país. Já passou da hora de os militares desembarcarem dessa canoa furada.

É inegável que a popularidade do mandatário e a aprovação de sua gestão venham afundando como martelo sem cabo. Mas seria leviano declará-lo carta fora do baralho. O sultão do bolsonaristão tem fichas próprias para jogar, com os instrumentos que lhe dão o cargo e a base de apoio que ainda o mantém com chances de passar ao segundo turno das eleições de 2022. Para além disso, é preciso ter clareza sobre a profundidade das mudanças sociais e políticas provocadas por sua gestão (calamitosa, mas enfim...) e pela emergência do bolsonarismo: o novo protagonismo das Forças Armadas, a politização de setores das polícias militares, a articulação de grupos e redes de extrema direita, tudo isso numa sociedade que se polariza e empobrece, com mais desigualdade.

Embora as características mais visíveis do presidencialismo multipartidário sejam aparentemente as mesmas, o terreno institucional e o ambiente sociopolítico nos quais o sistema opera sofreram alterações importantes nos últimos anos. Para pior. O Centrão e o bolsonarismo são formas distintas do proverbial atraso brasileiro. Não há dúvidas de que o bolsonarismo seja mais virulento e nocivo à democracia. É fato que a dominância do Centrão reduz os riscos no curto prazo, mas não se deve perder de vista a possibilidade de sua simbiose com o bolsonarismo — hipótese em que o Brasil estaria condenado a seguir, com maior velocidade, no plano inclinado de um gradual e inseguro declínio econômico e social, com muita instabilidade política. Presumir que a democracia poderá escapar sã e salva de um processo como esse é, no mínimo, imprudente.

Se vitoriosa, a fórmula "bolsonarismo atenuado + Centrão guloso" representaria o adeus — talvez definitivo — a qualquer aspiração maior de fazer do Brasil um país desenvolvido no sentido amplo do termo. Perderíamos o bonde da história, que se acelera puxado por uma nova onda de transformações tecnológicas, sob o acicate da mudança climática, que nos transformou em párias internacionais. Diante do que está em jogo, é hora de olhar de frente os enormes riscos que nos desafiam e evitar o autoengano com alívios de curto prazo.

O Brasil tem lideranças lúcidas e antenadas em diversos meios. O desafio é dar expressão política a essas forças. Primeiro, é preciso compor uma ampla frente política e social para evitar a reeleição de Bolsonaro e qualquer tentativa de desestabilização institucional. Depois, é preciso adotar uma prudente ousadia nas reformas do sistema político brasileiro. É sem dúvida relevante melhorar o seu funcionamento à luz da governabilidade. Nessa linha, importa reduzir a propensão à fragmentação partidária — no que vínhamos avançando com o fim das coligações proporcionais, agora ameaçado, e com a introdução da cláusula de desempenho —, bem como mitigar a tendência a crises institucionais de custosa resolução, para o que a eventual adoção do semipresidencialismo, em momento adequado, possa vir a ser um remédio.

Em vista do tamanho e da profundidade da crise da representação política, é preciso ir além. Trata-se de romper com os mecanismos que se autoalimentam e vêm fechando os partidos e a representação parlamentar para as "forças vivas" da sociedade. Por que um número cada vez maior de pessoas com vocação para a vida pública opta por ingressar em uma carreira da área jurídica ou econômica do Estado, ou se engajar em uma ONG, em lugar de se arriscar no ofício da política parlamentar? Não há resposta simples a essa pergunta, mas ela passa necessariamente pelo rompimento com o virtual monopólio das oligarquias partidárias sobre os polpudos recursos reservados ao financiamento eleitoral. Ou, quem sabe, quebrar o próprio monopólio dos partidos sobre a representação parlamentar, permitindo o lançamento de listas cívicas, mas desde que os eleitos tenham de seguir regras que os obriguem a funcionar como um grupo parlamentar no Congresso.

Essa ideia implica riscos para a "governabilidade", mas tem o mérito de deslocar a ênfase do debate para a dimensão da "representatividade" do sistema político e alargar o campo da discussão sobre as reformas políticas. Sem abrir mão da prudência, é preciso devolver algum encanto à política. Para isso não é preciso derrubar muros na nossa arquitetura institucional, mas é indispensável reformá-la para abrir mais o sistema político a novas formas de organização, expressão e participação da sociedade, seja pela desobstrução dos canais existentes, democratizando os partidos, seja pela criação de novos canais. Para fortalecer a democracia representativa, é preciso renová-la. E esse objetivo não será alcançado com a reeleição de Bolsonaro nem com a volta do lulopetismo corrupto ao poder.

Seria preferível ver Bolsonaro afastado da Presidência e julgado pelos crimes que cometeu durante seu mandato. Em outras palavras, a única saída realmente democrática para o Brasil seria o impeachment do sociopata. O problema é que ela é impedida pelos cleptocratas do Centrão. Se Bolsonaro realmente presidisse alguma coisa, poder-se-ia dizer que, nos moldes do acerto vigente, "o capetão preside e o Centrão governa e dita as regras da reeleição", como escreveu Jose Casado em sua coluna em Veja.

 Bolsonaro preside, o Centrão governa. É regra não escrita, mas confirmada por dois fatos relevantes nos últimos 80 dias. Em setembro, sob forte pressão do agrupamento que é seu esteio parlamentar, o mandatário recuou do confronto aberto com o Supremo e foi chorar as pitangas na barra da saia do ex-presidente Michel Temer, numa carta de rendição que, provavelmente, nem o próprio vampiro do Jaburu assinaria.

Na manhã da última sexta-feira, o capitão anunciou que não haveria restrições em aeroportos ao turismo antivacina. À tarde, ouviu líderes do Centrão. Ao anoitecer estava decidida a exigência do “passaporte vacinal”, como já recomendara a Avisa. Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil e presidente licenciado do PP, foi quem fez o anúncio — via redes sociais. Ontem, a lista de restrições a viajantes foi ampliada.

Bolsonaro se esforça para desmentir os críticos que o acusam de agir como um demente. Ao ignorar recomendações da Anvisa para proteger o Brasil contra o Ômicron, o presidente comprovou que não sofre de insanidade, mas, sim, aproveita cada segundo dela. Há duas semanas, a Anvisa fez circular pela cúpula do governo um par de ofícios sobre a conveniência de reforçar o controle de fronteiras e aeroportos em reação ao aumento de casos de Covid no exterior. Aconselhou, entre outras medidas, a exigência de comprovante de vacinação. Bolsonaro deu de ombros.

Diante da confirmação de que uma nova cepa surgida na África do Sul circula pela atmosfera à procura de encrenca, a Anvisa recomendou, dessa vez em nota técnica trombeteada em público, o controle rigoroso do desembarque de passageiros procedentes de seis países africanos. E nada! Na véspera, por ordem do capetão, o ministro da Justiça afastou a hipótese de exigir prova de imunização dos estrangeiros. "Vacina não impede a transmissão da doença", declarou a sumidade. Dia seguinte, discursando para a récua de descerebrados que se apinha defronte ao Alvorada, o "mito" comentou o surgimento de "uma nova onda" de Covid. Chamou de "loucura" a ideia de restringir voos internacionais. "Tem que aprender a conviver com o vírus", disse.

Um detalhe encurta a distância que separa a teimosia de Bolsonaro da estupidez. As recomendações da Anvisa estão baseadas na Lei 13.979 — sancionada pelo próprio Bolsonaro em 6 de fevereiro de 2020 —, que prevê, no artigo 3º, que o governo pode adotar medidas excepcionais para o "enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus". Estão enumeradas nesse artigo oito providências. No item de número sete, lê-se o seguinte: "Restrição excepcional e temporária de entrada e saída do país, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por rodovias, portos ou aeroportos." Quer dizer: Bolsonaro ignora recomendações sanitárias inspiradas numa lei sancionada por ele.

Repetindo: em vez de cumprir a lei que surgiu para supostamente proteger os brasileiros durante a pandemia, o capitão prefere ignorar o que assinou para manter sua aliança preferencial com o vírus. O partido Rede Sustentabilidade pedirá ao STF que obrigue o mandatário a seguir as recomendações da Anvisa. A exemplo do que vem ocorrendo desde o início da pandemia, a corte o obrigará a fazer por imposição o que deixa de realizar por opção.

Israel, Bélgica e Hong Kong já detectaram a nova variante. Países da União Europeia, o Reino Unido e a Índia reforçaram o controle de fronteiras e de viagens. A OMS realizou reunião de emergência. As dúvidas quando à resistência da nova cepa às vacinas existentes derrubou os mercados ao redor do mundo. No Brasil, o Ibovespa chegou a cair 4%. E Bolsonaro, que costuma esgrimir uma hipotética preocupação com os efeitos da pandemia na atividade econômica, continua ruminando o seu negacionismo.

Aos poucos, o brasileiro vai descobrindo, afinal, a serventia da passagem de Bolsonaro pelo Planalto. Ele se consolida como um extraordinário protagonista de tríades: o nascer do Sol, a morte e a próxima estupidez do presidente. Descobre-se agora que há também no universo três coisas irrecuperáveis: a pedra atirada, a denúncia adiada pelo Augusto Aras e o prejuízo imposto ao Brasil por um presidente insano.

Como dito alhures, Bolsonaro marcou para esta terça, Dia do Evangélico, seu casamento com o partido de Valdemar Costa Neto. PL e PP são sócios no Centrão, que governa e, agora, também comanda a campanha de reeleição.

Triste Brasil.

Com Josias de Souza