domingo, 19 de maio de 2024

AZEITE, MANTEIGA OU MARGARINA? (CONTINUAÇÃO)

UM BOM MENTIROSO PODE ATÉ SE ATRAPALHAR COM A VERDADE, MAS JAMAIS MUDA SUA VERSÃO DOS FATOS.


A demissão de Jean Paul Prates era esperada, mas a confirmação, na última terça-feira, causou um prejuízo de R$ 34 bilhões à Petrobras e uma queda de 0,38% no Ibovespa. Trata-se de mais um desserviço prestado ao país pelo macróbio xamã do PT, que, acompanhado da inevitável cuidadora e de uma dezena de ministros, converteu em comício a solenidade em que anunciou novas medidas em socorro dos flagelados gaúchos. 
A alturas tantas da autolouvação, o mandatário disse que pretende chegar aos 120 anos (que Deus nos livre e guarde!) e disputar "mais umas dez eleições". Parecendo não se dar conta de que Bolsonaro se tornou um bode expiatório gasto, afirmou que o país "foi desprezado por causa de um incivilizado que chegou à Presidência", e que "esse tipo de gente, mais dia menos dia, vai ser banida da política brasileira". 
Coroando a politização do dilúvio, o aspirante a Matusalém assinou o ato de nomeação do petista Paulo Pimenta, atual chefe da Secom e virtual candidato ao governo do RS em 2026, para a função de ministro extraordinário da reconstrução do Rio Grande do Sul, federalizando, por assim dizer, a crise estadual e, de quebra, constrangendo o governador, que planeja concorrer a um segundo mandato.
Lula demora a perceber que, pela lógica, os dividendos eleitorais viriam por gravidade; a politização não só foi desnecessária como também desrespeitosa.

Com o preço do azeite nas alturas, os "óleos compostos" tornaram-se uma opção natural para a combalida classe média tupiniquim. No entanto, apesar de a denominação sugerir que a tal composição seja 50% azeite e 50% óleos vegetais (de soja, girassol, amendoim etc.), a azeitona geralmente passa longe. Como se não bastasse, maus fabricantes adicionam lampante (gordura obtida das azeitonas sãs, mas com graus de acidez acima de 2,% e diversos defeitos sensoriais) a suas misturebas, o que as torna inadequadas ao consumo humano. 
 
Notícias de que a gordura saturada presente (não só, mas também) na manteiga é nociva à saúde levou muita gente a substituí-la pela gordura poli-insaturada das margarinas. A diferença está na origem e na estrutura molecular das gorduras: a saturada é de origem animal e a insaturada — que se divide em monoinsaturada, quando suas moléculas têm uma única dupla ligação de carbono, e polinsaturada, quando as moléculas têm duas ou mais ligações de carbono —, de origem vegetal, embora seja encontrada também em peixes como atum, salmão, cavala e truta. 

Mas o mundo gira, a Lusitana roda, a terra plana capota e não há nada como o tempo para passar. Café, pão branco, ovos, chocolate e vários outros alimentos já foram de vilões a heróis e vice-versa uma porção de vezes. A pergunta que se coloca é: o que é melhor (ou menos pior?) para a saúde? Manteiga ou margarina? Responder a isso não é fácil. Toda gordura era "ruim" até alguém dividir o colesterol em "bom" e "mau" e as gorduras, em saturadas e insaturadas. Embora haja consenso sobre os malefícios causados à saúde pela gorduras saturadas, os benefícios proporcionados pelas gorduras poli-insaturadas dividem os pesquisadores

De acordo com um estudo publicado no Journal of the American College of Cardiology, o HDL (vulgo "colesterol bom") pode não ser tão bom assim: a despeito de os riscos de doenças cardíacas estarem relacionados a baixos níveis desse colesterol em adultos brancos, o mesmo acontece com a população negra, e altos níveis de HDL não foram associados à redução dos riscos em nenhum dos grupos estudados.

Estudos clínicos realizados com 59 mil voluntários que mudaram a dieta por pelo menos dois anos não comprovaram de forma cabal que a troca da gordura saturada por carboidratos ou proteínas reduza significativamente os riscos de enfarte e outros problemas cardíacos. Por outro lado, um estudo conduzido pela Universidade de Cambridge concluiu que "não há evidências irrefutáveis" que justifiquem a supressão da gordura saturada da alimentação, e que "a manteiga faz parte de uma dieta saudável". A reboque da publicação dessas conclusões, o consumo de manteiga voltou a crescer — e só não cresceu mais devido à alta no preço dos laticínios (detalhes no capítulo anterior).

A manteiga é produzida a partir da gordura do leite de vaca, cabra, ovelha. Na indústria, o processo começa com a separação e pasteurização da nata, que é agitada e batida em cubas industriais. Essa batedura libera resíduos de leitelho, que são removidos pela lavagem com água fria. Na sequência, os fabricantes acrescentam sal (o percentual varia de 2% a 6% da receita) e misturam bem a massa, para que ela fique homogênea. 
 
Ao saber que a manteiga é rica em gordura saturada e colesterol, muita gente passou a usar margarina, que é produzida a partir da batedura de óleo com água e acrescida de adicionados emulsificantes, corantes etc. O problema é que o hidrogênio usado para converter os óleos líquidos em gorduras sólidas e conferir a "cremosidade" que facilita o espalhamento do produto enseja a formação de "gorduras hidrogenadas" — ou "trans" —, que são tão (ou mais) prejudiciais à saúde do que a gordura da manteiga. 

A ideia de que uma alimentação pobre em gordura contribui para a redução de doenças cardíacas vem sendo questionada nas últimas décadas. Diversos experimentos demonstraram que uma dieta que incluiu alimentos ricos em gordura poli-insaturada, como nozes e azeite de oliva extravirgem, é benéfica à saúde. Segundo alguns especialistas, o importante é limitar o consumo de gordura saturada a no máximo 10% das calorias diárias (Isso é equivalente a 22 gramas desse tipo de gordura em uma dieta de 2.000 calorias, o que representa cerca de duas colheres de sopa de manteiga).

A manteiga é considerada um ingrediente culinário processado, ao passo que a margarina integra o rol dos alimentos ultraprocessados, que são associados ao diabetes tipo 2 e a doenças cardíacas. Por não haver evidências de longo prazo que comparem especificamente os efeitos nocivos causados à saúde pela manteiga e pela margarina, o consumidor está no mato sem cachorro, ou melhor, peca por ter cachorro e peca por não ter.


O embate entre defensores da manteiga e da margarina parece estar longe de terminar. Se alguns estudos desaconselham dietas com alto teor de alimentos ultraprocessados, outros afirmam que eles são ricos em vitaminas e outros nutrientes benéficos. O pão integral industrializado e os cereais matinais são alimentos ultraprocessados, mas também são ótimas fontes de fibras. No fim das contas, tudo depende da quantidade de gordura que cada um ingere no dia a dia. Até porque julgar alimentos e nutrientes isoladamente não basta, é preciso levar em conta a quantidade e a frequência com que eles são consumidor, o padrão alimentar seguido, a presença de doenças e/ou comorbidades e o estilo de vida de cada indivíduo.

 

Quem segue uma dieta balanceada e saudável dificilmente terá problemas se espalhar manteiga de alto sabor sobre uma torrada uma vez por semana, mas é essa parcimônia não é observada pela maioria das pessoas. Mal comparando, seria como alguém ir a uma festa, "tomar todas" e culpar a azeitona da empadinha pela ressaca da manhã seguinte. A meu ver, a única vantagem da margarina é poder tirá-la da geladeira e espalhar facilmente sobre o pão — no caso das manteigas com alto teor de gordura, precisamos usar martelo e talhadeira, e mesmo assim acabamos com enorme pedaços do produto no pão.


Continua...

sábado, 18 de maio de 2024

TRISTE BRASIL...


Segundo a sabedoria popular, até um burro cego consegue, vez por outra, mordiscar a cenoura. Como que para comprovar esse antigo ditado, o STF — que já proibiu o cumprimento antecipado da pena por condenados 2ª instância, anulou os processos de Lula e o reconduziu o "descondenado" ao tabuleiro da sucessão presidencial em 2022 — formou maioria na última quinta-feira para rejeitar um pedido de Habeas Corpus apresentado por um advogado que não integra a lista de representantes de Bolsonaro, com o objetivo era encerrar a investigação que apura a "suposta" tentativa de golpe de Estado e impedir uma eventual prisão do ex-presidente. 
Até o meio-dia de ontem, quando em que eu conclui este texto, a ministra Cármen Lúcia e os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Dias Toffoli e Edson Fachin haviam acompanhado o voto do relator, ministro Nunes Marques, relator do caso, contrário à concessão do pedido. Alexandre de Moraes se declarou impedido.
Falando no diabo, o "mito" recebeu alta do Hospital Vila Nova Star (na capital paulista), depois de passar 13 dias internado por conta de um quadro de erisipela. Como diz outro velho ditado, "vaso ruim não quebra fácil".

Alguns chavões são tão enjoativos quanto inesquecíveis. "Há males que vêm para pior" é um deles, e "O que não tem remédio remediado está" é outro exemplo lapidar. Ambos calçam como uma luva no cenário político tupiniquim, já que o atual governo é uma edição revista e piorada das gestões de
Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2016), que desaguaram no mandato-tampão do Vampiro do Jaburu (2016-2018), no desgoverno protagonizado pelo pior mandatário desde Tomé de Souza (2019-2022) e na volta do demiurgo de Garanhuns (2022-?), que almeja viver até os 120 anos e disputar outras 10 eleições (que Deus nos livre e guarde dessa catástrofe).

Ao optar pela criação do Ministério Extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul e nomear o petista Paulo Pimenta mestre de cerimônias do dilúvio, Lula adotou um comportamento oposto ao exibido por Bolsonaro durante a pandemia, mas atraiu as enchentes gaúchas para dentro do Palácio do Planalto. No conteúdo, o xamã petista acertou em cheio ao desqualificar, por contraste, o sadismo que veio antes — na pandemia, ao se apresentar como um estorvo para um país que precisava cuidados científicos e tranquilidade político, Bolsonaro tornou-se candidato favorito à derrota em 2022. Na forma, porém, o petista errou ao iniciar com o pé esquerdo a implementação do seu plano para federalizar a hecatombe ambiental.
 
Em vez de politizar a tragédia nomeando um candidato não declarado ao governo gaúcho em 2026, Lula poderia ter escolhido um nome "menos partidário" ou, melhor ainda, formar um comitê tripartite, no qual seu apadrinhado defenderia os pontos de vista do governo federal num colegiado em que soariam também as vozes do governador tucano Eduardo Leite e dos prefeitos de cidades invadidas pelas águas. Pesquisa Quaest informou que a maioria dos brasileiros (55%) avalia que o Sun Tzu de Garanhuns não merece ser reeleito. A comoção produzida pela enchente gaúcha se apresentou como uma oportunidade para demonstrar o contrário. Embora ele tenha dado mostras de que não tem medo de tempestade, resta saber se terá competência para conduzir o barco.
 
Formou-se em torno do Rio Grande do Sul um cinturão nacional de bons sentimentos, mas o apagão de dados climáticos e as falhas na prevenção de desastres clamam pela solidariedade de um bom inquérito. Tragédias ambientais não desastres naturais, mas, no Brasil, assumem ares de flagelos estatais. No ano passado, 75 pessoas morreram no RS — 16 nas inundações de junho, 54 nas cheias de setembro e cinco nas águas de novembro. Pelas últimas contas, o dilúvio atual já produziu mais de 170 cadáveres.
 
Em sua coluna no UOL, Josias de Souza anotou que, há oito meses, o MPF instaurou um inquérito civil para apurar as responsabilidades de órgãos públicos. Na época, a investigação se restringia a cerca de 30 municípios da regiões da Serra e dos Vales gaúchos. Agora, com quase 90% das cidades parcialmente submersas, diz-se que é hora de salvar vidas, não de buscar culpados. Mas uma coisa não prescinde da outra. 
 
Os refugiados do clima vivem uma época de faltas e de excessos. Falta de moradia, de segurança e de estabilidade financeira. Excesso de mortos, de lama e de ansiedade. O suplício talvez fosse menor no futuro se os avisos funerários de hoje viessem com os nomes dos gestores públicos responsáveis pela hecatombe. Eles são responsáveis pelo que fazem e, sobretudo, pelo que deixam de fazer. A omissão é um novo nome para negacionismo.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

O QUE É E COMO USAR O GOOGLE PASSKEY

ACTA NON VERBA.


Todo povo de merda tem os políticos de merda que merece. O ex-presidiário e dono do PL Valdemar Costa Neto levou ao baralho da sucessão interna das casas do Congresso Nacional a carta da anistia de Bolsonaro. "Vamos colocar isso na mesa, sim", disse o ex-mensaleiro à Globo. "Tanto na eleição da Câmara quanto na do Senado." 
O PL é o maior partido da Câmara e dispõe da segunda maior bancada no Senado. A ideia é que essa tropa marche para o colo dos candidatos que se dispuserem a desfraldar a bandeira da anistia do capitão — com perdão criminal e cancelamento da inelegibilidade — na sucessão de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, cujos reinados terminam em fevereiro. A proposta de reabilitação eleitoral é tão absurda quanto a ideia de um perdão preventivo na esfera criminal — aliás, trata-se de uma confissão de culpa de quem tratava a trama golpista como uma ficção. 
Em fevereiro, discursando na paulista, Bolsonaro disse que queria passar uma borracha no passado e pronunciou um vocábulo desconhecido dos seus lábios: "Conciliação". A certa altura, juntou-se aos "pobres coitados" na fila do perdão: "Nós não podemos concordar que um poder tire do palco político quem quer que seja." Valdemar retoma agora a pregação: "O Bolsonaro está inelegível por uma fala, por um encontro", diz, evocando a reunião de 2022 com embaixadores. Refere-se ao banimento das urnas por oito anos, decretado pelo TSE, como "um absurdo".
Costuma-se dizer que certos políticos têm duas caras, mas Bolsonaro tem três: a de "conciliador", que exibe quando lhe convém (uma alegoria sem amparo na realidade); a de criminoso, que sempre teve (e que foi potencializada); e a limpinha (que ele pensa que ainda pode ter), que depende de uma capitulação coletiva. 
Significa dizer que o Brasil inteiro precisaria se condenar para que esse dejeto da escória da humanidade fosse liberado de suas culpas. 
Val destacar que, segundo o Datafolha, a ideia de grudar uma anistia no 8 de janeiro não agradou a 63% dos entrevistados.

Google Passkey é uma tecnologia que permite acessar a conta Google e demais serviços a ela conectados usando um par de chaves criptográficas em vez tradicional senha alfanumérica. Grosso modo, ela funciona como o desbloqueio do celular por impressão digital, reconhecimento facial ou PIN.  Quando você se loga, o servidor da conta envia um "desafio" para o autenticador, que o soluciona e envia a resposta sem que nenhuma informação confidencial seja transmitida  para autenticar o usuário, o servidor não precisa da chave privada, apenas da chave pública e dos dados assinados. Isso torna o processo muito mais seguro, já que, sem as chaves privadas correspondentes, as chaves públicas são inúteis.
 
O Google Passkey dispensa a memorização de combinações alfanuméricas complexas. É comum as pessoas criarem senhas fáceis de lembrar (e, consequentemente, fáceis de quebrar) e usarem a mesma senha do email, por exemplo, em redes sociais, sites de compras etc. E isso é um prato cheio para os fraudadores de plantão. 

Observação: Basta usar um gerenciador de senhas para não ter de memorizar (ou anotar num post-it grudar na tela do monitor ou na capinha do celular) dezenas de combinações alfanuméricas complexasO próprio Google disponibiliza um gerenciador que sugere senhas fortes, salva-as (bem como as senhas criadas pelos usuários) num local seguro e as preenche automaticamente sempre que for necessário. Para usá-lo, bastar abrir o Chrome, clicar (ou tocar) nos três pontinhos e, em Gerenciador de senha, ativar a opção Oferecer para salvar senhas.
 
Além de serem complexas, exclusivas (para cada usuário a cada acesso) e dispensarem memorização, as passkeys não podem ser usadas em golpes de phishing, pois os cibervigaristas não têm como levar as vítimas a digitá-las num site falso. 

Google Passkey já foi ativado em mais de 400 mil contas e autenticou usuários mais de 1 bilhão de vezes nos últimos dois anos, superando as formas legadas de autenticação de dois fatores. A tecnologia foi implantada no Chrome em dezembro de 2022 e estendida a todas as contas do Google em todas as plataformas. Agora, a empresa vem ampliando a Proteção Cruzada de Conta para mais aplicativos e serviços de terceiros (para saber mais, clique aqui e/ou assista a este vídeo).
 
Ativar o Google Passkey leva menos de um minuto: basta acessar a página do Google, fazer o login com nome de usuário e senha do Gmail, abrir a sessão Segurança (no menu à direta), selecionar Chaves de Acesso > Usar chaves de acesso, e está pronto. 

Da próxima vez que se logar em sua conta do Google, você receberá uma mensagem confirmando o uso da ferramenta por meio de impressão digital, reconhecimento facial ou código de desbloqueio de tela. Para concluir o processo, será preciso ativar a conexão Bluetooth e confirmar o smartphone conectado à sua conta um gerenciador de senhas. 

Observação: Se o aparelho não estiver à mão, ainda será possível fazer o login usando a senha ou outros métodos disponibilizados em "Tente de outro jeito".

quinta-feira, 16 de maio de 2024

CONSCIÊNCIA E VIDA APÓS A MORTE (PARTE IV)

O IMPOSSÍVEL É A MATÉRIA DOS SONHOS.


Ao trocar o comando da Petrobras porque quer reativar antigos projetos, como o da refinaria pernambucana de Abreu e Lima e o do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, Lula roda um filme concebido em seu primeiro mandato, que ganhou impulso no segundo, deu em corrupção e prejuízo e, sob Dilma, serviu de combustível para a crise que forneceu nitroglicerina ao impeachment da presidanta.
Na aparência, Jean Paul Prates caiu em desgraça por defender a distribuição de metade dos dividendos extras da Petrobras. Lula dizia que a estatal deve servir ao povo, não aos dinossauros do mercado, mas Haddad mostrou ao macróbio que os interesses do povo seriam mais bem atendidos se a fatia do bolo pertencente à União chegasse rapidamente aos cofres do Tesouro, e os dividendos foram, afinal, distribuídos.
Lula definiu 2024 como tempo de semeadura do seu terceiro mandato, e receava que Prates rebarbasse as prioridades do Planalto. Na Petrobras, o petista age como se desejasse colher bons frutos de uma horta amaldiçoada, e trata erva daninha como se fosse uma planta de virtudes incompreendidas. 
Triste Brasil.

De acordo com o fisicalismo — que é o cientificismo reducionista e materialista aplicado à neurociência —, o cérebro produz a mente. Segundo Shakespeare, há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia. Os fisicalistas desdenham das experiências de quase-morte, escarnecem de quem afirma se lembrar de vidas passadas e negam a mediunidade — mas não oferecem uma explicação convincente para casos notórios, como os da norte-americana Leonora Piper e do brasileiro Chico Xavier.
 
Ainda não existam provas irrefutáveis de que a consciência (ou alma, ou espirito) sobrevive à morte física, mas não faltam indícios de que levam água a esse moinho. Parafraseando o cosmólogo e romancista Carl Sagan, "ausência de evidências não é evidência de ausência" (na verdade, essa ideia foi desenvolvida por William Wright em 1887; Sagan apenas popularizou o aforismo num livro que escreveu sobre a existência de seres extraterrestres). 
 
Escorar-se na falta de evidências para negar a existência de seja lá o que for é afrontar a Ciência 
 que amplia os limites do conhecimento transitando entre o conhecido e o desconhecido. Os fenômenos que abordei ao longo desta despretensiosa sequência existem; explicá-los é outra história, mas refutá-los de plano é o mesmo que retroceder pelo caminho que levou a humanidade do obscurantismo ao iluminismo. Portanto, em sendo reais os fenômenos e em não havendo fraude envolvida, negá-los é comprovar o que disse Albert Einstein sobre a infinitude da estupidez humana.
 
Em 1616, por ordem do papa Paulo V, o 
cardeal Roberto Belarmino notificou Galileu Galilei sobre um vindouro decreto da Congregação do Index condenando o heliocentrismo. O teólogo carmelita Antonio Foscarini escreveu um texto em defesa de Galileu e submeteu-o a Belarmino, que respondeu com as seguintes palavras (a tradução é do livro Galileu, pelo copernicanismo e pela Igreja, de Annibale Fantoli). 

Em seu livro, Fantoli rejeita tanto a noção de que Belarmino era um sujeito de genial "mentalidade científica" quanto a ideia de que ele era um tapado que não conseguia perceber o que estava tão evidente. Diz que o Concílio de Trento só tratava das matérias da fé no primeiro caso (por parte do objeto), e que Belarmino era bem consciente disso, motivo pelo qual admitiu em sua resposta a possibilidade de o Sol e a Terra não estarem posicionados exatamente como descrito na Bíblia. 

Belarmino nos ensinou uma lição importante: nunca desprezar as evidências. Se alguma evidência não ornar com algum trecho bíblico, provavelmente é porque a interpretação da Bíblia é que está errada. Fica o recado para quem acredita que Deus criou o mundo em 3761 a.C. — ou, mais exatamente, no dia 23 de outubro de 4004 a.C., como o arcebispo irlandês James Ussher escreveu em The Annals of the World (publicado em 1658).
 
Continua...

quarta-feira, 15 de maio de 2024

PERDA DE MEMÓRIA — CONTINUAÇÃO

QUEM AVISA AMIGO É.

Se ainda caminhasse entre os vivos e gozasse de um mínimo de lucidez, Bertha Von Suttner — a primeira pacifista da história e recebedora do Nobel da Paz de 1905 — diria que as posições de Hamas e Israel são inconciliáveis, e que um cessar-fogo definitivo não será celebrado pela vontade dos conflitantes. 
O Hamas quer apagar Israel do mapa e fulminar todos os israelenses e judeus do Oriente Médio. Netanyahu quer reduzir o Hamas a pó, e Yahya Sinwar, cuja ambição é estender seus tentáculos pela Cisjordânia e ocupar a West Bank (área do rio Jordão ao Mediterrâneo), receia perder Gaza para Israel, pois sabe que, sob uma autoridade não corrupta, não haverá a menor chance de o Hamas influenciar os palestinos, e receia que, se buscar exílio no Irã, terá o Mossad em seus calcanhares. Resumo da ópera: de um lado existe um terrorista fundamentalista assassino e do outro, um populista autocrático, corrupto e sanguinário.

Esquecer o número do próprio telefone ao preencher um cadastro numa loja, por exemplo, é um lapso de memória que faz parte do processo de envelhecimento. Episódios assim só devem ser tomados como indicativo do Mal de Alzheimer ou de demência se forem recorrentes e envolverem tanto as memórias de curto e longo prazo quanto a capacidade de lembrar nomes e tarefas rotineiras. 
 
Para os mais jovens, usar smartphones é tão natural quanto respirar; para idosos 
que se sentiam na antessala do inferno quando programavam o videocassete dos anos 1980, dominar novos gadgets é uma provação. Mas o problema só se torna preocupante quando o período de adaptação se eterniza — ou quando a pessoa esquece de pagar as contas, não sabe se almoçou ou tomou banho, e por aí vai... 

Esquecer uma ou outra conversa faz parte do combo da "Melhor Idade" (como dizem os que ainda não chegaram lá), mas não se lembrar de uma discussão acalorada, por exemplo, só se justifica em casos de amnésia alcoólica (até porque não se pode lembrar do que a memória não registrou).
 
Se você ainda tem "na ponta da língua" o telefone de amigos de infância e não consegue memorizar o número do celular do(a) parceiro(a) ou do(a) filho(a), é porque o hábito de usar máquinas para buscar informações inibe a construção de memórias de longo prazo. Nesse processo 
 conhecido como "amnésia digital" — a pessoa não memoriza informações importantes por saber que elas estão no celular ou podem ser obtidas facilmente na Internet.
 
Contar a mesma história mais de uma vez não é incomum, mas repeti-la várias vezes no mesmo dia é preocupante. Desorientações eventuais acontecem, mas ir ao mercado e não achar o caminho de volta para casa sugere
 um declínio incomum da memória — ainda que não seja necessariamente um prenúncio de Alzheimer ou de demência. 

Observação: Lapsos de memória podem ser causadas por medicamentos específicos, estresse, fadiga, depressão e até por perda da audição, que compromete tanto a locomoção quanto a participação em conversas — a boa notícia é que os aparelhos auditivos modernos são praticamente "invisíveis" mas é preciso adotá-los o quanto antes para garantir sua eficácia. 
 
Quem já entrou nos "enta" deve fazer check-ups regulares, tomar os medicamentos prescritos e seguir religiosamente as orientações médicas. Quem já passou dos 60 (ou está quase lá) deve estabelecer uma rotina regular, m
anter a pressão e a glicose sob controle, dormir o suficiente, seguir uma dieta saudável e equilibrada e evitar o consumo excessivo de álcool e tabaco. Para manter o cérebro ativo, você pode resolver palavras cruzadas, montar quebra-cabeças e dedicar-se a outras atividades que estimulam o raciocínio e a memória.

Vale também aprender coisas novas, como um novo idioma, um instrumento musical, uma habilidade artística, pois aprendizado estimula o cérebro e fortalece a memória. Praticar regulamente exercícios físicos — como caminhar, pedalar e nadar — beneficia a circulação sanguínea, a oxigenação do cérebro e, por tabela, a memória. Para evitar percalços, use agendas, alarmes e outros recursos que alertem para compromissos e tarefas importantes — aliás, anotar coisas costuma ser uma ótima estratégia contra o esquecimento eventual. 

terça-feira, 14 de maio de 2024

CONSCIÊNCIA E VIDA APÓS A MORTE — PARTE III

DIPLOMACIA É A ARTE DE MANDAR ALGUÉM À MERDA FAZENDO COM QUE ESSE ALGUÉM FIQUE ANSIOSO PELA VIAGEM.

 

Como sói acontecer diante de calamidades, o país se uniu para acudir as vítimas do drama gaúcho. Mas alguns políticos preferem surfar na onda da polarização. A desavença que opõe o prefeito bolsonarista de Farroupilha e o ministro petista da Secom é a penúltima evidência de que nenhuma borrasca é capaz de pôr termo à dicotomia nesta banânia. Num momento delicado, em que a população está abrigada precariamente, sem água e passando frio, era de esperar uma união de forças para aliviar esse sofrimento, mas bolsonaristas têm usado as redes sociais para disseminar fake news, espetacularizar a tragédia e jogar lenha na fogueira da cizânia. A postagem de Eduardo Bolsonaro é um exemplo de oportunismo e hipocrisia. A exemplo do pai negacionista e golpista, o filho pacóvio insulta a ciência ao troçar do extremo climático — que é um fenômeno mundial e vem sendo negligenciado em âmbito geral. Quantos ainda terão de morrer para a questão tratada da maneira adequada? Na hora do desastre, a consciência brota, mas, nas eleições, ela se recolhe a sua insignificância. Triste Brasil.


Evidências são indícios que apontam para a ocorrência de fatos; fatos são os acontecimentos propriamente ditos; e provas são os meios usados para demonstrar que os fatos efetivamente ocorreram. Na percepção distorcida e limitada dos que padecem de cegueira mentalEQMs (detalhes no capítulo anterior) não são evidências de coisa alguma; os céticos as veem como um fato, mas não como provas da existência da "alma imortal" ou de que a consciência sobrevive à morte clínica; para os que têm a mente aberta e cultivam o saudável hábito de raciocinar, esse fenômeno dá o que pensar. 

 

As experiências de quase morte que acontecem quando não há atividade no córtex frontal (morte clínica) são documentadas a partir de relatos feitos pelos próprios pacientes após a reanimação. Se não há registros de EQMs em casos de morte encefálica, é porque a irreversibilidade dessa condição exclui a possibilidade de reanimação. Em outras palavras, se o paciente já atravessou a via de mão única que leva ao "lado de lá", não há como colher seu depoimento — a não ser que ele compareça a uma sessão de mesa branca ou reencarne e preserve lembranças da vida anterior.

 

O "roteiro" da maioria das EQMs documentadas é quase sempre o mesmo: a pessoa "trazida de volta" relata que viu próprio corpo morto, foi "sugada" para um túnel de luz, reviu a própria vida como num filme e reencontrou parentes já falecidos, mas, por algum motivo, sentiu que precisava retornar ao corpo. Algumas descrevem um profundo sentimento de paz e um estando ampliado de consciência, mas os relatos mais impressionante são os que incluem detalhes do que aconteceu enquanto elas estavam clinicamente mortas, e esses detalhes são confirmados por médicos, parentes e outras pessoas que assistiram aos procedimentos de reanimação. 

 

Isso nos leva à seguinte pergunta: se a consciência é produzida pelo cérebro, como ela pode continuar existindo depois que o cérebro parou de funcionar? Não há uma resposta fácil, a não ser para quem se escora em dogmas meramente impositivos — se Deus quis assim, então é assim e ponto final. À luz da ciência, o buraco é mais embaixo (a propósito, sugiro ler o livro "Experiências de Quase Morte – Ciência, mente e cérebro", do neurocirurgião Edson Amâncio).

 
EQMs e vida após a morte são coisas diferentes, mas correlacionadas. Tudo se resume — se é que podemos "resumir" conceitos tão complexos — à incerteza sobre o que acontece "depois" (ou se existe um "depois"). Os religiosos acreditam na imortalidade da alma, mas o que é a religião senão a evolução do misticismo que levou nossos ancestrais a endeusarem o Sol, a Lua, os raios, os trovões, os eclipses e tantos outros fenômenos que hoje sabemos serem naturais? 
 
Os católicos não acreditam em reencarnação. Para eles, a alma é única e eterna, e a morte carimba o passaporte que autoriza os "bons" a ingressarem no Reino dos Céus — depois de uma escala no Purgatório — e despacha os "maus" para as profundezas da Inferno, onde serão cozidos em óleo fervente ou assados em espetos por toda a eternidade (qui caberia abrir um parêntese para discutir o conceito de eternidade, mas vou deixar para fazê-lo em outra ocasião. Quanto ao inferno, recomento a leitura desta anedota sobre o "inferno brasileiro").
 
Os espíritas acreditam que a alma sobrevive à morte física e passa para um novo plano astral, que Deus nos criou simples e ignorantes, sem discernimento do mal e do bem, e que quem pratica o mal reencarna várias vezes, até evoluir espiritualmente, e quem pratica a caridade, o bem e o amor só reencarna se quiser. Segundo o Espiritismo, os espíritos desencarnados possuem a capacidade de se ligar a outros espíritos, encarnados ou não, de acordo com a sintonia e a afinidade dessas almas 
— o que explicaria a existência de lugares com diferentes níveis vibratórios, uns mais sofredores e infelizes, outros mais plenos e felizes.
 
O Judaísmo dá margem a múltiplas interpretações. Os judeus acreditam na sobrevivência da alma, mas não têm um roteiro definido sobre o que acontece depois da morte 
— ou mesmo se existe vida após a morte. Segundo a Cabala, a alma é imortal, e as provações que cada um enfrenta em vida levam a seu aperfeiçoamento. Segundo eles, existem 3 tipos de almas, e o desligamento do corpo não é imediato (podendo levar de 30 dias a 1 ano). Enquanto a alma está ligada ao corpo, não há possibilidade de reencarnação, daí os familiares do finado cobrirem os espelhos da casa e rezarem o Kadish.
 
A exemplo dos católicos, os evangélicos acreditam no juízo final e na existência de Céu, Inferno e Purgatório. A diferença é que, segundo eles, as almas ficarão adormecidas até Jesus voltar à Terra e decidir quem irá com ele para o Reino dos Céus e quem passará a eternidade num lago de enxofre e fogo. Já os protestantes descartam a reencarnação, mas não a existência de Céu e Inferno. Segundo eles, o julgamento ocorre não pelas ações da pessoa em vida, mas pela fé que ela teve na palavra de Deus e pelo amor ao Senhor. 
 
Os budistas acreditam que o espírito reencarna, podendo voltar como gente ou como animal, dependendo de sua conduta durante a vida (esse ciclo se repete até que o espírito se liberte de seu carma). No Japão, além de flores no caixão, uma tigela com arroz cozido, água, um vaso com flores, velas e incenso são colocados sobre uma mesa, para que nada falte ao morto. Para os islâmicos, a vida é uma preparação para outra existência. A morte dá início ao primeiro dia na eternidade, onde as almas dos muçulmanos ficarão aguardando o juízo final. Quem seguiu as leis de Alá e as tradições dos profetas é enviado para o Paraíso; quem foi desviado por Cheitã é despachado para o Inferno.
 
Segundo o Candomblé, as pessoas são formadas por elementos constitutivos perecíveis (corpo) e imperecíveis (ori), e a vida continua por meio da força vital (o ori retorna em outro corpo, mas dentro da mesma família. Não há punição eterna nem ideia preconcebida de Céu e Inferno; a morte é considerada uma passagem para outra dimensão, onde os espíritos se reunirão aos guias e orixás. Já na visão dos umbandistas, o universo é formado por sete linhas, cada qual regida por um orixá, e a morte é considerada uma etapa evolutiva (clique aqui para mais detalhes sobre as religiões afro-brasileiras).
 
No Hinduísmo, a pessoa é a alma, não o corpo físico. Após a morte, a alma se separa do corpo e parte rumo a outra dimensão. Almas evoluídas voltam em altas castas, como a dos brâmanes, composta por filósofos e sacerdotes. Guerreiros e políticos pertencem à casta dos xátrias, e os menos evoluídos reencarnam como comerciantes (casta dos vaishas) ou trabalhadores (casta dos sudras). Quem consegue se desapegar do mundo material e atingir um patamar elevado não está obrigado a reencarnar.
 
Para os batistas, quem aceitar Jesus terá uma vida de paz e felicidade no Paraíso, e quem não aceitar, uma vida de dor, angústias e sofrimento no inferno. Já os adventistas acreditam que os mortos dormirão até o momento da ressurreição, quando então os que cumpriram seu papel na Terra ganharão a vida eterna e os demais desaparecerão. Para os sectários da Cientologia — como John Travolta e Tom Cruise — o thetan (espírito) sai em busca do novo corpo no qual retornará à vida. 
 
Observação: Fundada em 1952 pelo escritor de ficção científica L. Ron Hubbard, a Cientologia se define como "o estudo e manejo do espírito em relação a si mesmo, universos, e outras formas de vida". Segundo seus sectários, 75 milhões de anos atrás existiam dezenas de planetas governados como uma confederação por Xenu, um líder maligno que enviou bilhões de espíritos para a Terra. Assim, os terráqueos são reencarnações desses extraterrestres — que são imortais e continuam reencarnando ad aeternum.

Continua... 

segunda-feira, 13 de maio de 2024

PERDA DE MEMÓRIA

HÁ DOIS TIPOS DE USUÁRIOS DE PC: OS QUE JÁ PERDERAM SEUS DADOS E OS QUE AINDA OS VÃO PERDER. 

 

A exemplo do clima, o Brasil é um país marcado por extremos: ou é cheio de problemas, ou é cheio de soluções. Como a extremidade da problemática raramente encontra a beirada da solucionática, o país nunca resolve a encrenca da emergência climática, apenas sobrevive a ela — ou morre, como acontece novamente no Rio Grande do Sul. Marina Silva propôs a adoção de um plano visando permitir ao Estado evoluir do problema para a solução nos municípios mais suscetíveis a desabamentos, enchentes e secas. Há mais de um ano, quando o clima roncou no litoral paulista, a ministra disse basicamente a mesma coisa em entrevista ao UOL NewsNa hora do desastre, não há o que fazer senão socorrer as vítimas. Passada a emergência, ninguém se lembra de acelerar a fase da adaptação. Como o país demora a se ajustar à nova normalidade climática, os desastres se sucedem. Duas vezes é coincidência, três é aviso, quatro é alarme, cinco é destino, infinitas vezes é inépcia. 

Dizem que o homem imitou Deus ao criar o computador a sua imagem e semelhança, daí as memórias da criatura funcionarem de maneira análoga à humana (clique aqui para mais detalhes sobre memórias e aqui para upgrade de RAM). 
 
No tempo do meu avô, dizia-se que saber não ocupa lugar, mas hoje sabemos que nossa memória é limitada e que não há como fazer upgrade  talvez porque nossa expectativa de vida, igualmente limitadas, torne mais que suficiente o trilhão de conexões formadas por mais de 1 bilhão de neurônios. 
 
Observação: Se cada neurônio carregasse uma única lembrança, teríamos um sério problema de espaço. Mas as combinações que eles criam expandem significativamente nossa capacidade de armazenar recordações. Numa analogia com as memórias do computador, o "espaço" disponibilizado por nossa memória é de 2,5 Petabytes; considerando que 1 Petabyte corresponde a 1 milhão de Gigabytes, essa capacidade seria suficiente para armazenar 300 anos de conteúdo transmitido 24/7, em alta resolução, por uma emissora de TV.
 
Tanto o avanço da Ciência quanto as ações de governantes incompetentes podem causar efeitos indesejáveis. Enquanto os planos de combate à inflação implementados durante as gestões de Sarney e Collor produziram desabastecimento generalizado e trouxeram ainda mais inflação, o aumento aumento da expectativa de vida pode resultar em desequilíbrios e acarretar danos à memória humana. 
 
"O envelhecimento não é uma consequência biológica", afirma o gerontólogo Aubrey de Grey. "Se, ao invés de agir sobre o problema já estabelecido, a medicina se antecipasse aos danos celulares e eliminasse as doenças ligadas ao envelhecimento seria possível viver por séculos sem os transtornos da velhice". Para o biogerontologista molecular João Pedro de Magalhães, a chave para a longevidade está na reescrita de nossos "softwares" genéticos: "Se conseguirmos criar células resistentes ao câncer e imunes ao envelhecimento, nossa expectativa de vida aumentará para mais de mil anos, podendo mesmo chegar a 20 mil anos".

Nossa memória é formada por sistemas que desempenham papéis específicos na novela da criação e trabalham em conjunto para fornecer um pensamento coeso. Da mesma forma que o computador, temos e usamos diferentes tipos de memória; a formação de memórias de curto prazo, por exemplo, envolve principalmente o córtex pré-frontal, e a consolidação e o armazenamento de memórias de longo prazo, também por exemplo, áreas como o hipocampo e o córtex cerebral. 

Mensurar a capacidade de chips, módulos e drives de memória computacional é mais fácil do que quantificar a memória humana, pois ela resulta de um processo que ocorre em todo o cérebro  e não numa área específica, como se imaginava até alguns anos atrás — e mediante o qual algumas lembranças são preservadas indefinidamente e outras são rapidamente apagadas, para abrir espaço a novas informações.
 
Continua...