terça-feira, 14 de outubro de 2025

WINDOWS 10 — FIM DO SUPORTE

TUDO É ENGRAÇADO QUANDO ACONTECE COM OS OUTROS.

Lançado como serviço em julho de 2015, o Windows 10 seria a "versão definitiva" — já que o Patch Tuesday  e as atualizações semestrais a manteriam up-to-date. 


Em outubro de 2021, a Microsoft lançou oficialmente  que o sucessor da "versão definitiva" e anunciou que esta deixaria de ser suportada em 14 de outubro de 2025 (ou seja, hoje).


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Em julho, Donald Trump alegou que Bolsonaro recebia um "terrível tratamento" das mãos de um Judiciário "injusto"; Em setembro, quando anunciou na ONU a "boa química" com Lula, a novidade foi a condenação do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Como ele próprio gosta de apregoar, o inquilino da Casa Branca tem horror a perdedores. Condenado, Bolsonaro perdeu a liberdade e passou a integrar a categoria pela qual seu ídolo nutre ojeriza.

Não surpreende que, no encontro arquitetado para parecer casual e na conversa ao telefone entre Lula e Trump, a preocupação com Bolsonaro tenha sumido e nenhuma referência tenha sido feita ao dito injustiçado. Eduardo Bolsonaro, dublê de traidor da pátria e estrategista do pai, considerou a alegada afinidade de Trump como coisa "de gênio" para atrair Lula a uma arapuca de humilhação, além de chamar de "golaço" a decisão de nomear o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir os preparativos de um encontro pessoal entre os mandatários de Brasil e EUA.

Nessa concepção, o feitio extremista de Rubio se encaixaria perfeitamente na construção da armadilha. Ocorre que o equivalente americano ao nosso chanceler é, antes de tudo, radicalmente obediente ao chefe, como se viu no convite a Mauro Vieira para conversar nos EUA. 

Se Trump decidir que a aproximação é para valer, assim será, queira Eduardo ou não. Se o plano for o da cilada, também será. A pergunta que se coloca é: qual o ganho que Trump teria com a esparrela, se já ficou claro o resultado das escaramuças engendradas na mente atribulada do filho do pai?

Por mais por fora da cena política daqui que esteja a equipe trumpista, não há miopia ideológica que turve a visão de evidência tão reluzente. A calopsita alaranjada é desatinada, mas no setor de disparates também há brasileiros que não ficam nada a dever.


Com o fim do suporte, 646 milhões dos 1,4 bilhão de PCs em todo o planeta ficarão mais vulneráveis a ataques que exploram falhas de segurança — um exemplo marcante foi o ransomware WannaCry, que infectou mais de 200 mil máquinas em 150 países e exigia um “resgate” de US$ 300 para liberar os arquivos "sequestrados”.  Além disso, aplicativos, navegadores e jogos mais recentes deixarão de rodar na versão desatualizada, novos componentes de hardware não serão reconhecidos, e a falta de atualizações de segurança comprometerá a eficácia até dos melhores antivírus. O Microsoft 365 deve continuar funcionando até 10 de outubro de 2028, mas sem um sistema atualizado a ocorrência de falhas e instabilidades tende a ser maior.

 

A empresa justifica que o Windows 11 exige TPM 2.0, o que deixa centenas de milhões de PCs de fora, e recomenda aos usuários que reciclem seus computadores antigos e comprem novos com a nova versão da sistema já instalada. Sobre a possibilidade centenas de milhões de computadores virarem 2 milhões de toneladas de lixo eletrônico, ela fechou um acordo com uma empresa para coletar e reciclar os equipamentos, mas ele só vale nos EUA. 

 

Na Europa, uma coalizão de 22 associações apresentou uma petição pedindo atualizações gratuitas até 2030, beneficiando países como Portugal, França, Espanha, Alemanha, Dinamarca e Noruega. Nos demais, ou o usuário paga US$ 30 pelas “Atualizações de Segurança Estendidas”, ou migra para plataformas alternativas, como o Linux, já que nada indica que Microsoft não tencione abrandar as exigências para permitir que mais pessoas migrem para o Windows 11. 

 

Muitas pessoas até tentaram burlar as restrições com ferramentas como Rufus , Flyby11 e Tiny11, mas acabaram reinstalando o Windows 10 — que, sejamos francos, continua sendo mais rápido e confiável. Nas máquinas com disco rígido convencional, então, o Windows 11 é uma carroça — meu Dell Inspiron i7 só voltou a ser “usável” depois que troquei o HDD original por um SSD NVMe — que é quase sete vezes mais rápido que um SSD Sata III (que já é dez vezes mais rápido que um HDD eletromecânico).

 

A estratégia não é novidade: a Microsoft já usou táticas semelhantes para promover outras de suas ferramentas e serviços, como o navegador Edge e o assistente de inteligência artificial Copilot. Outro ponto de insatisfação entre os usuários é que as notificações em tela cheia — que não podem ser desativadas — que surgem mesmo quando o usuário já recusou dicas e sugestões nas configurações do sistema.

 

Resumo da ópera: a Microsoft até oferece meios de prolongar a vida útil do Windows 10, mas, na prática, quer mesmo é forçar os usuários a comprarem máquinas novas com hardware compatível.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 50ª PARTE (AINDA SOBRE OVNIS)

ONDE HÁ FUMAÇA HÁ FOGO.

Suspeitas de que alienígenas visitam a Terra não vêm de hoje (vide capítulo 40). Há inúmeros relatos de avistamentos de OVNIs — acrônimo de "objetos voadores não identificados" —, mas faltam argumentos convincentes de que se trata de balões meteorológicos, drones ou projetos desenvolvidos em segredo pelos EUA, Rússia ou China. 

 

Observação: O acrônimo UFO — de "unidentified flying object" — deu lugar a UAP — de "unidentified anomalous phenomena" —, mas a explicação oficial ainda é a mesma na maioria dos casos, ou seja, que não necessariamente têm origem extraterrestre. Até recentemente, os UAPs eram classificados oficialmente como fenômenos atmosféricos mal interpretados ou alucinações coletivas fomentadas por teorias da conspiração, mas, aos poucos, o entendimento das autoridades vem mudando (mais detalhes no capítulo anterior).


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Quando um quer, dois brigam. Quando dois querem, aí mesmo é que o pau come. Ninguém sabe qual vai ser o resultado da próxima sucessão. Mas parece claro que a Presidência da República vai ser disputada em 2026 a paus e pedras. 

Os dois lados ruminam certas dúvidas, nenhuma delas certa. Lula subiu nas penúltimas pesquisas, mas não disparou. Os rivais estão zonzos, mas não morreram. A incerteza deveria conduzir ao diálogo, não à desavença.

A eleição presidencial ainda mora longe. O desalinho das contas nacionais mora ao lado. Seja quem for o eleito, terá que lidar com um buraco de mais de 92% de despesas obrigatórias consumindo todo quase todo o dinheiro arrecadado com impostos.

Se a briga prematura de governo e oposição serve para alguma coisa é para cavar um buraco ainda maior.

 

Eventos famosos, como o Projeto Mogul — que usava balões metálicos para espionagem — foram atribuídos a programas militares secretos. A existência de naves alienígenas acidentadas jamais foi confirmada oficialmente, mas tampouco se conseguiu explicar a capacidade de pairar no ar como helicópteros e acelerar a velocidades hipersônicas desses objetos, que parecem ser muito mais avançados que qualquer coisa construída neste planeta. 

 

O célebre Caso Roswell merece destaque especial. Em 1947, o Roswell Army Air Field reconheceu que um "disco voador" havia caído na área rural da cidade de Roswell, no Novo México (EUA). Num segundo comunicado à imprensa, a nova versão dizia tratar-se de um balão meteorológico. O episódio transformou a cidade em ícone da ufologia e a Area 51, em palco de teorias conspiratórias envolvendo naves e seres alienígenas. Décadas depois, Bill Clinton determinou uma investigação federal sobre "o que estava acontecendo lá", e a CIA finalmente reconheceu a existência da base militar no deserto de Nevada, mas assegurou que ela era usada apenas em projetos secretos de vigilância aérea. 

 

Em 2010, dezenas de oficiais norte-americanos avistaram objetos não identificados pairando sobre silos de mísseis nucleares na Base Aérea de Malmstrom, em Montana. O ex-capitão Robert Salas relatou ter ficado a poucos metros de uma nave vermelha, brilhante, que flutuava acima do portão da frente da instalação. No Brasil, o caso Trindade, a Operação Prato e o ET de Varginha são exemplos emblemáticos de contatos imediatos de diversos graus.

 

Radares não têm crença, mas, afora os documentos oficiais e fotografias de UAPs — que são alvo de escrutínio constante por meio de ferramentas de análise de imagens —, as evidências com que os ufólogos trabalham são, em sua maioria, testemunhos pessoais submetidos a testes de confiabilidade pelos próprios ufólogos, que não raro conduzem a novas perguntas. Segundo o autor da tese "Objetos intangíveis: ufologia, ciência e segredo", a ufologia toma emprestados elementos das diversas disciplinas científicas, mas utiliza seus próprios métodos e questiona a ciência por ignorar relatos sobre os avistamentos que teriam potencial para fazê-la "progredir". 

 

É fato que a NASA colocou astronautas na Lua e enviou sondas para o espaço interestelar. Mas também é fato que nenhuma tecnologia desenvolvida até agora permitiu cruzar o cosmos a velocidades próximas à da luz ou criar atalhos no espaço-tempo através dos quais seja possível percorrer milhões ou bilhões de quilômetros em questão de minutos (ao menos até onde sabemos). No entanto, já dizia o poeta que não há nada como o tempo para passar. Os físicos trabalham atualmente com modelos teóricos que incluem buracos de minhoca, dilatação temporal e até universos paralelos — ideias tão ousadas foi a possibilidade de cruzar o mar sem cair da borda do mundo durante as Grandes Navegações. Talvez ainda estejamos na era das caravelas da física temporal, mas quem sabe o que o "Concorde da cronologia" nos trará nos próximos séculos?

 

No livro Eram os Deuses Astronautas? (1968), Erich von Däniken oferece explicações intrigantes para diversos enigmas que a história não conseguiu elucidar. Segundo sua Teoria dos Antigos Astronautas, alienígenas visitam a Terra há milhares de anos, e foram tomados como "deuses" pelos antigos egípcios, gregos, maias e outros povos, como evidenciam pinturas e esculturas encontrada por arqueólogos. "Autores "sérios" como Pierre Houdin e Bob Brier atribuem ao trabalho do pesquisador suíço a pecha de “pseudociência”, mas talvez haja uma ponta de inveja nessa crítica, considerando que os livros do “pseudocientista” foram traduzidos para mais de 30 idiomas, venderam dezenas de milhões de cópias e inspiraram a popular série Alienígenas do Passado, do History Channel.

 

Cada um pode acreditar no que bem entender — da probidade da autoproclamada "alma viva mais honesta do Brasil" ao "patriotismo" do penúltimo inquilino do Palácio do Planalto; da planicidade da Terra à existência de seres reptilianos que habitam as profundezas do planeta. Eu, a exemplo de São Tomé (que só acreditou na ressureição de Cristo depois de ver e tocar em suas chagas), prefiro ver para crer. Entre narrativas religiosas que tentam explicar mistérios que as próprias religiões não entendem, e teorias baseadas em evidências levantadas pela ciência, eu prefiro estas àquelas. 

 

Entre os anos de 1948 e 1968, o Projeto Blue Book identificou 1.268 relatos de UFOs, dos quais 701 permanecem envoltos em mistério. E o mesmo se aplica a 143 dos 144 avistamentos que o Pentágono registrou nas últimas duas décadas. Um ex-diretor do AATIP — entregou ao The New York Times vídeos gravados por caças da Marinha em 2004, 2014 e 2015. Num deles, que ficou conhecido como Incidente Nimitz, um objeto oval sem asas nem propulsores visíveis executava manobras aparentemente impossíveis do ponto de vista aerodinâmico. 

 

Um relatório produzido pela ODNI catalogou 510 casos de UAPs. Dos 366 que foram investigados, 26 eram sistemas de aeronaves não tripuladas (UAS) ou drones, 163 eram balões ou "artefatos semelhantes a balões", meia dúzia foi considerada "desordem” (como pássaros, sacolas plásticas de compras flutuando no ar, e por aí vai) e 171 foram classificados como avistamentos de UAPs "não caracterizados e não atribuídos (sobretudo os que demonstram características de voo incomuns ou capacidades de desempenho que requerem análises mais aprofundadas).  

 

Em um episódio da série Unidentified com Demi Lovato, a própria apresentadora disse que foi abduzida por alienígenas. A modelo brasileira Isabeli Fontana relatou uma experiência inusitada durante a gravidez. Fábio Jr. contou à revista IstoÉ que viu duas naves pairando sobre seu carro. A ex-BBB Flávia Viana disse ter avistado um OVNI na cidade mineira de Três Pontas. O ator Rodrigo Andrade compartilhou em suas redes sociais um vídeo no qual um "objeto luminoso" acompanhou o avião em que ele viajava por cerca de 25 minutos — e que mudou de cor e de tamanho várias vezes antes de desaparecer. 

 

O jornalista e apresentador Amaury Jr contou que já avistou mais de 40 objetos esféricos e em forma de prato em sítio, no município paulista de Vinhedo. A cantora Elba Ramalho revelou ter sido "chipada" por extraterrestres enquanto dormia. Suzana Alves — mais conhecida como Tiazinha — filmou um OVNI na Marginal Pinheiros, em São Paulo, por cerca de 30 segundos. Tarcísio Meira contou que ele, a mulher e outras seis pessoas testemunharam quatro objetos voando em formação assimétrica que ficaram parados por cerca de um minuto antes de desaparecer. O cantor Xororó observou uma nave com uma luz bem forte quando dirigia por uma estrada do interior de São Paulo, e disse que teria parado e tentado um contato se sua mulher e os filhos não estivessem no carro com ele. 

 

Observação: Não sei se esses depoimentos são confiáveis, mas sei que passei por uma experiência semelhante à do sertanejo nos anos 1960, quando passava férias no sítio dos meus avós, numa bucólica cidadezinha do interior paulista. Um primo que estava comigo também viu a luz, que continuou sobre nós enquanto fugíamos em desabalada carreira, e então se tornou um pontinho no céu e desapareceu. Voltei ao sítio outras vezes em outros anos, mas nunca vi nada parecido. Reencontrei esse primo uma dezena de vezes nos últimos 60 anos, mas, curiosamente, nunca falamos no assunto.   

 

Durante um conversa descontraída com alguns colegas do Los Alamos National Laboratory, em 1950, o físico italiano Enrico Fermi levantou a seguinte questão: "Onde está todo mundo?" Um quarto de século depois, em seu único livro de ficção — Contact —, o astrofísico Carl Sagan escreveu "The universe is a pretty big place. If it's just us, seems like an awful waste of space" (O universo é um lugar muito grande. Se somos só nós, parece um terrível desperdício de espaço). E com efeito. 

 

Em condições ideais (noite sem lua, com atmosfera limpa e seca e sem poluição luminosa), conseguimos avistar de 2.500 a 3.000 estrelas no céu noturno. Considerando que enxergamos apenas metade da esfera celeste de cada vez, o total de estrelas visíveis a olho nu fica entre 5.000 e 6.000, mas estima-se que existam cerca de 100 bilhões de galáxias no Universo, as menores com alguns milhões de estrelas e as maiores com centenas de bilhões. Nem todos esses dez sextilhões de "sóis" têm planetas girando a seu redor, mas boa parte deles é orbitada.

 

Depois que o primeiro exoplaneta foi avistado (há cerca de 30 anos), outros milhares foram sendo observados não só em sistemas solares semelhantes ao nosso, mas também orbitando anãs vermelhas e estrelas de nêutrons ultradensas. Em 2022, o Projeto TESS confirmou a existência de cerca de 5.000 exoplanetas — atualmente, entre confirmados e aguardando confirmação, são mais de 8.000. Somente na Via Láctea há centenas de bilhões de "mundos" sobre os quais quase nada sabemos. 


Observação: Há desde mundos pequenos e rochosos, como a Terra, e gigantes gasosos maiores que Júpiter, como os assim chamados “Júpiteres quentes” — corpos celestes com semelhanças físicas com Júpiter, mas que orbitam muito mais próximos de suas estrelas, donde sua natureza "quente". Há ainda as “superterras” — planetas rochosos maiores que a Terra —, os "mininetunos" — versões menores que o "nosso" Netuno —, planetas que orbitam duas estrelas ao mesmo tempo ou que giram em torno de restos colapsados de estrelas mortas. O Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, cujo lançamento está previsto para 2027, descobrirá novos exoplanetas, e Missão ARIEL, prevista para 2029, analisará as atmosferas dos exoplanetas com base em suas nuvens e neblinas.

 

Se formos um pouco mais além e consideramos que algumas hipotéticas civilizações sejam mais desenvolvidas que a nossa, como negar a possibilidade de extraterrestres viajarem pelo cosmos em busca de outros mundos? O surgimento de vida (da forma como a conhecemos) é um processo complexo, que precisa superar inúmeras barreiras, sobretudo quanto tomamos a Terra como exemplo de "planeta habitável típico". Por outro lado, se outras civilizações alcançaram um estágio de desenvolvimento semelhante ao nosso, por que não conseguimos detectar sinais de rádio ou de outro tipo de tecnologia alienígena avançada, como os que somos capazes de produzir?

 

Entre o silêncio das estrelas e o burburinho das teorias, o mistério persiste. E the answer, my friend, is blowing in the wind.

 

Continua...

domingo, 12 de outubro de 2025

PIPOCAS COM CALDA DE CARAMELO

SE VIVER É SONHAR, ACORDAR É MORRER.

Outubro, conhecido como mês das crianças, termina com o Halloween — cuja origem é incerta. Acredita-se que essa tradição tenha começado com o Samhain dos antigos celtas, que celebravam a passagem do ano em 31 de outubro. 

Os Estados Unidos incorporaram a festa ao seu calendário por influência dos ingleses, e assim, na noite de 31 de outubro, casas e ruas são decoradas com temas “assustadores”, enquanto crianças fantasiadas de bruxas, múmias e fantasmas ameaçam pregar peças em quem lhes negar guloseimas.

O costume de pedir doces remonta à antiga tradição celta de oferecer comida para apaziguar os maus espíritos, e a vela dentro da abóbora tem origem no folclore irlandês. Quanto ao indefectível Jack-o'-lantern, reza a lenda que Jack era um beberrão que enganou o diabo e conseguiu escapar do inferno, mas não foi aceito no céu e passou a vagar pelas noites carregando uma lanterna improvisada — não feita com uma abóbora, mas com um nabo iluminado por uma brasa de carvão.

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Em mandatos anteriores, Lula selecionava ministros para o Supremo levando em conta sobretudo os serviços que os indicados lhe poderiam prestar. Hoje, ele privilegia os serviços já prestados. Mantido esse padrão, o AGU Jorge Messias — o ˝Béssias˝ — é favorito na corrida pela vaga que se abriu com a aposentadoria precoce do ministro Barroso. 

Béssias adiciona ao notório saber jurídico exigido pela Constituição os critérios do companheirismo e da lealdade prévia. Comandava a Subchefia de Assuntos Jurídicos do Planalto em 2016, quando Moro levantou o sigilo do célebre grampo em que Dilma avisou a Lula que "Béssias" estava a caminho, levando o ato de sua nomeação para a Casa Civil. Revogado por Gilmar Mendes, o termo de posse perdeu o efeito. Dilma foi deposta meses depois, e Lula foi para a cadeia em abril de 2018. Numa entrevista de 2019, o ex-presidente Temer declarou que a gerentona de araque teria concluído o mandato se Lula fosse chefe da Casa Civil.

Em 2023, quando sinalizou que indicaria seu advogado na Lava-Jato, o xamã petista disse que "todo mundo compreenderia": "É meu amigo, meu companheiro." Ao vestir a toga em Flávio Dino, declarou: "Sempre sonhei que deveríamos ter na Suprema Corte um ministro com a cabeça política".

Há sobre a mesa nomes alternativos, como os do senador Rodrigo Pacheco e do ministro do TCU Bruno Dantas, mas são ˝azarões˝ — fala-se em Fernandinho Beira-Mar e Marcola, mas isso não passa de intriga da oposição.

As escolhas companheiras excitam o bolsonarismo. Mas a oposição cobra virtude sentada nos próprios vícios. Bolsonaro dispensou os pudores ao referir-se a Nunes Marques como "10% de mim dentro do Supremo". Com André Mendonça, elevou a gorjeta para 18%, mas errou na conta: "Agora, tem dois ministros que representam 20% daquilo que gostaríamos que fosse decidido e votado".

No fundo, esquerda e direita querem as mesmas coisas: uma maioria de magistrados leais, uma Procuradoria que denuncie crimes alheios e um Supremo que prenda os outros, soltando os seus. No entanto, depois que a toga repousa sobre o ombro do escolhido, a lealdade tende a virar uma abstração.

Voltando às gostosuras, a pipoca caramelizada agrada a crianças de todas as idades — sobretudo às que já têm, ou ainda têm, dentes para mastigar. Vestígios do milho Zea mays everta encontrados em cavernas no México sugerem que a pipoca já fazia sucesso milhares de anos antes de se tornar a estrela das sessões de cinema. Hoje, o consumo dessa guloseima e de refrigerantes responde por mais de 80% da receita das salas de exibição.

Em 1981, a gigante americana General Mills registrou a primeira patente de pipocas de micro-ondas. Considerando que um balde de pipoca e um refrigerante grande chegam a custar cerca de R$ 50 nos cinemas, enquanto um pacote de 100 gramas de pipoca com cobertura de manteiga para micro-ondas sai por volta de R$ 5, e um pacotinho de 400 gramas de milho premium custa cerca de R$ 7 — mas rende muito mais — assistir a filmes por streaming comendo pipoca sai bem mais barato que ir ao cinema.

Voltando à pipoca caramelizada, trata-se de uma versão em que uma calda de açúcar espessa e brilhante confere um sabor doce e crocante irresistível. Você vai precisar de:

  • 3 colheres (sopa) de milho para pipoca

  • 3 colheres (sopa) de açúcar

  • 2 colheres (sopa) de água

  • 2 colheres (sopa) de óleo (ou azeite, ou manteiga)

Aqueça o óleo numa panela em fogo baixo, acrescente o milho, tampe e sacuda de tempos em tempos. Quando o intervalo entre os estouros for superior a 3 segundos, desligue o fogo, transfira as pipocas para uma travessa e reserve.

Na panela vazia, derreta o açúcar, mexendo para que não grude. Quando a calda estiver dourada, retire a panela do fogo, junte a pipoca e mexa delicadamente com uma espátula até que todas estejam envolvidas pela calda. Sirva em seguida.

Bom proveito!

sábado, 11 de outubro de 2025

O TEMPO EM UM SEGUNDO

O TEMPO PASSA, O TEMPO VOA, E A POUPANÇA BAMERINDUS… FALIU.

Nossos ancestrais começaram a buscar maneiras de medir a passagem do tempo quando perceberam padrões no amanhecer e no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. 


Em meados do terceiro milênio a.C., os egípcios criaram seu primeiro calendário, e os sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias. Já no século XVI d.C., o papa Gregório XIII substituiu o calendário solar implantado por Júlio César em 46 a.C. pelo modelo que hoje é adotado por 189 dos 193 países-membros da ONU.


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Há cinco meses, um empate técnico com Lula na pesquisa Quaest deu a Tarcísio de Freitas o status de super-homem do Centrão. Desde então, a musculatura eleitoral do governador de São Paulo definha. No mês passado, o empate estatístico virou desvantagem de oito pontos. Agora, a nova rodada revela que o petista bateria o bolsonarista com vantagem de 12 pontos se o segundo turno fosse hoje..

Nada mudou mais em Tarcísio nos últimos cinco meses do que a retórica: ele exacerbou o timbre bolsonarista, questionou a condenação de Bolsonaro; meteu-se na articulação do pedido de urgência para a anistia na Câmara, atacou o Supremo e chamou Alexandre de Moraes de "tirano". Mas o bolsonarismo desenfreado de Tarcísio produziu efeito inverso do pretendido.

As radiações de Bolsonaro parecem exercer sobre Tarcísio os efeitos de uma espécie kriptonita, o mineral usado na ficção pelos inimigos do super-homem para minar seus superpoderes. A diferença entre realidade e ficção é que o governador não precisou de nenhum Luthor para se tornar um presidenciável mais fraco. Pulou voluntariamente no colo do "mito".

Hoje, numa disputa direta contra Lula, Michelle Bolsonaro ostenta a mesma desvantagem de 12 pontos atribuída a Tarcísio. Não fosse pela rejeição de madame, refugada por 63% do eleitorado, o Centrão talvez desligasse o ´super-homem´ da tomada.


Os primeiros relógios de sol marcavam o tempo com base na sombra projetada por uma haste. Mais tarde vieram os relógios de água e de areia, amplamente utilizados por diversas civilizações até o século X d.C., quando surgiu o relógio mecânico. Cerca de 500 anos depois, apareceram os relógios de pêndulo, bem mais precisos, e, por volta da mesma época, o relógio de bolso virou símbolo de status e pontualidade — ou, ao menos, da intenção de tê-la.


O relógio de pulso nasceu das mãos de Abraham-Louis Bréguet a pedido da irmã de Napoleão Bonaparte, mas só se popularizou entre os homens quando Santos Dumont encomendou a Louis Cartier um modelo adaptado para ser usado durante seus voos de balão — afinal, tirar o relógio do bolso em pleno ar não era exatamente prático.


O mecanismo de corda automática, desenvolvido no final da década de 1920, consolidou-se nas seguintes como evolução natural da corda manual. Já nos anos 1960, o quartzo revolucionou a relojoaria ao permitir mecanismos muito mais precisos — inclusive os modelos digitais que dominariam o mercado nas décadas seguintes.


Hoje, monstros sagrados da relojoaria suíça como Rolex, Omega, Breitling e Tissot continuam produzindo peças sofisticadas e caríssimas, mas cuja precisão está a anos-luz dos smartwatches — que, sincronizados com servidores de horário na Internet (como o NTP.br), variam apenas um segundo a cada 30 bilhões de anos. Mas a pergunta que não quer calar é: quanto tempo tem um segundo?


Tecnicamente, um segundo é a unidade básica de tempo — 1/60 de um minuto, que equivale a 1/60 de uma hora, e assim por diante. Portanto, um segundo tem 1.000 milissegundos ou 0,0166667 minutos, certo? Não exatamente. Essa é uma visão prática, mas simplificada, que não considera as complexidades envolvidas na definição científica do segundo, baseada em transições atômicas e padrões de frequência.


A definição formal segue o Sistema Internacional de Unidades (SI), que padroniza medições de grandezas fundamentais — como metros, quilogramas, amperes, kelvins e, claro, segundos. A responsabilidade de manter e revisar essas definições cabe à Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM), que as atualiza periodicamente para refletir os avanços da ciência e da tecnologia.


Em 1967, a 13ª CGPM definiu o segundo como “a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133.” Em 1997, acrescentou-se que essa definição se refere a um átomo de césio em repouso, a uma temperatura de 0 K. Mais tarde, em sua 26ª reunião (2018), a entidade fixou o valor numérico da frequência de transição hiperfina do césio (ΔνCs) como sendo exatamente 9.192.631.770 Hertz — base para todos os relógios atômicos modernos.


A escolha do césio não é casual: suas propriedades atômicas proporcionam uma medição de tempo estável, precisa e universal, livre das variações da rotação terrestre. Antes disso, o segundo era definido como 1/86.400 do dia solar médio, o que se revelou problemático, já que a rotação da Terra oscila levemente devido a fatores como marés, terremotos e até ventos atmosféricos.


Com o avanço da tecnologia atômica, cientistas perceberam que padrões de transição entre níveis de energia de átomos e moléculas eram muito mais confiáveis para medir o tempo. Desde então, o segundo deixou de depender da instabilidade do planeta e passou a se apoiar na constância do universo microscópico.


Atualmente, experimentos com relógios ópticos — que usam átomos como o estrôncio e o itérbio — já superam a precisão dos relógios de césio, e provavelmente darão origem a uma nova redefinição do segundo nas próximas décadas. Afinal, medir o tempo com perfeição continua sendo uma das obsessões mais antigas — e mais humanas — da ciência.

Ironicamente, quanto mais precisamente conseguimos medir o tempo, mais ele parece escapar por entre os dedos. Talvez porque, ao fim e ao cabo, nenhum relógio — por mais atômico que seja — consiga atrasar o inevitável tic-tac da vida.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

DO TELEFONE DE D. PEDRO AO CELULAR

ANTES QUE O MAL CRESÇA, CORTA-SE A CABEÇA.

O italiano Antonio Meucci criou o "telettrofono" em 1856 — vinte anos antes do britânico Alexander Graham Bell patentear o telefone. Mais adiante, o Congresso dos EUA reconheceu a contribuição de Meucci, mas Bell continua sendo considerado o "pai do telefone".

 

O Brasil foi o segundo país do mundo a ter telefone. A primeira linha, instalada em 1877 por ordem de D. Pedro II, ligava a residência imperial ao Palácio de São Cristóvão e às casas dos seus ministros.


Em 1998, o então presidente Fernando Henrique privatizou as Teles, pondo fim ao abominável Sistema Telebras, implantado em 1972, durante o governo Médici. Com a privatização, as linhas fixas — que custavam os olhos da cara e demoravam décadas para serem instaladas — deixaram de ser consideradas um "bem" declarado ao fisco e negociadas a peso de ouro no mercado negro (em algumas regiões da capital paulista, um terminal chegava a custar tanto quanto um veículo popular 0 km).


A privatização também "democratizou" os celulares: até então, habilitar uma linha móvel era um processo caro e burocrático, a insuficiência de células (antenas) restringia o sinal às capitais e grandes centros urbanos, a profusão de "áreas de sombra" limitava ainda mais o uso dos aparelhos, o preço do minuto de ligação era exorbitante e até as chamadas recebidas eram tarifadas. 


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Lula deveria mandar flores para o domicílio prisional de Jair Bolsonaro, um cartão postal para o filho Eduardo e bombons para os tecelões do Centrão. Há quatro meses, com a impopularidade a pino, o macróbio fazia de tudo para melhorar sua imagem, mas tudo parecia não querer nada com ele. Hoje, as pesquisas lhe sorriem. A distância entre os que reprovam e os que aprovam seu governo, que já foi de 17 pontos, caiu para um ponto. 

Lula sobe a montanha empurrado pelas maluquices dos opositores. O estreitamento da inimizade com Trump lhe deu uma cara de solução para as encrencas que o clã Bolsonaro criou. A aversão das ruas ao combo blindagem-anistia, empinado pelo consórcio centrão-bolsonarista, presenteou-o com o avanço do projeto que isenta Imposto de Renda quem ganha até 5 mil reais — que conta com a aprovação de oito em cada dez eleitores (79%). Além de solidificar a recuperação de eleitores perdidos, Lula colocou um pé fora do quintal petista: sua aprovação junto aos eleitores com renda acima de cinco salários mínimos deu um salto de oito pontos. 

Ironicamente, as últimas novidades produzidas pelos rivais reforçam a opção preferencial pelo erro: na terça-feira, produziu-se na Esplanada um ato chocho pró-anistia; na quinta, Ciro Nogueira visitou Bolsonaro. Quer dizer: a facção bolsonarista permanece acorrentada a uma pauta gasta e o centrão continua agarrado à barra da calça do "mito". 

A dívida do molusco com os rivais vai se tornando impagável.


Andar com um celular no cinto, no bolso ou na bolsa nos anos 1990 era mais símbolo de status do que real necessidade. Isso mudou com a virada do século (detalhes no capítulo de abertura), sobretudo depois que os telefoninhos móveis de longo alcance se transformaram em microcomputadores ultraportáteis. 

 

Buscando fidelizar a clientela, as operadoras passaram a oferecer planos pré-pagos com ligações ilimitadas, franquias de dados e acesso grátis ao WhatsApp e às principais redes sociais. Em 2024, segundo dados da ANATEL, havia 263,4 milhões de celulares ativos no Brasil — cerca de 1,22 por habitante. Samsung, Motorola, Apple e Xiaomi abocanham 36%, 19%, 17% e 16% desse mercado, respectivamente. 


Os produtos da Apple sempre foram um sonho de consumo que poucos conseguem realizar, sobretudo num país com uma das maiores cargas tributárias do mundo. Mas isso não significa que os modelos top de linha concorrentes sejam baratos: no final do ano passado, o Galaxy S24 Ultra — principal aposta da Samsung para fazer frente aos iPhones Pro e Pro Max — partia de R$ 9.499, e o Motorola Razr 50 Ultra 5G, de R$ 7.999 — preço equivalente ao do iPhone 16 básico no site oficial da Apple.


Os smartphones aposentaram os "orelhões" — os poucos que restaram ficam em aeroportos, rodoviárias, shoppings e hipermercados —, reduziram consideravelmente as linhas residenciais fixas — ainda que a instalação seja praticamente imediata e a assinatura mensal gire em torno de R$ 30 — e restringiram o uso do desktop ou do notebook a tarefas que exigem tela de grandes dimensões, teclado físico e mais processamento, armazenamento e memória do que a maioria dos smartphones oferece.

 

Como a versatilidade leva ao uso constante, a autonomia se tornou fundamental na escolha do aparelho, ainda que nem as baterias de 5.000 mAh livram os heavy users de um "pit stop" entre duas recargas completas e os usuários comuns de recorrerem à tomada dia sim, dia não (isso na melhor das hipóteses). 


Continua...