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sábado, 6 de maio de 2023

MS PAINT E ALTERNATIVAS PARA MAC

ÀS VEZES, ACREDITO QUE HÁ VIDA EM OUTROS PLANETAS, NOUTRAS, ACREDITO QUE NÃO. EM QUALQUER DOS CASOS, A CONCLUSÃO É ASSOMBROSA.

 

Em 1985, quando desenvolveu a primeira versão de uma interface gráfica baseada no MS-DOS, a Microsoft incluiu entre seus componentes nativos um de imagens rudimentar, que batizou de Paintbrush. Depois de ajudar milhões de usuários a desenhar ou fazer edições simples em fotos e figuras por mais de três décadas, o programinha foi substituído pelo Paint 3D, implementado no Windows 10 pelo Win10 Creators Update. Devido à chiadeira, a gigante de Redmond resolveu disponibilizar o Paint tradicional, sem custo, na Microsoft Store

 

O Paint 3D é mais versátil que seu antecessor, mas menos amigável (a despeito de a mãe da criança afirmar o contrário). Para quem se limita a salvar imagens em formatos diferentes e/ou fazer edições simples, como redimensionar, colorir, recortar, copiar, colar, etc., ele substitui com vantagens apps como o Gimp e o Paint.Net e webservices como o Pixlr e o FotoFlexer.

 

Infelizmente, não existe uma versão do Paint específica para o macOS (como não existe uma versão do navegador Safari para Windows), mas o sistema da Apple oferece um programinha que entra em ação quando abrimos um arquivo de imagem e inclui uma gama de ferramentas básicas que o tornam um substituto decente do Paint. Para abri-lo, dê um clique direito sobre um arquivo de imagem, clique em Abrir Com > Pré-Visualização, localize o ícone de marcação no canto superior direito da janela do app e clique nele para ter acesso às ferramentas disponíveis. Se, por exemplo, você quiser circundar um objeto numa imagem para chamar a atenção para ele, selecione a ferramenta Anotar (a terceira a partir da esquerda) e desenhe o círculo ao redor do objeto. 

 

Por padrão, o programinha ajeita a forma desenhada, fazendo com que ela fique perfeitamente oval, quadrada ou triangular. Mas é possível manter a linha com desenho livre, bastando selecionar essa opção em um pequeno menu local. Caso deseje modificar a linha, escolha Forma (quarto ícone a partir da esquerda) e defina a espessura de linha apropriada. Em seguida, cliquem em Cor da Borda (quarto ícone a partir da direita) para alterar a cor da linha em si. 

 

Pré-Visualização dispõe de uma ferramenta de balde — se desenhar uma forma fechada, você pode selecionar a ferramenta Cor de Preenchimento (terceiro ícone a partir da direita) e escolher a cor que deseja usar para preencher o objeto. As demais ferramentas — Formas, Texto, Assinatura, Ajustar Cor, etc. — são parecidas com as do Paint, mas utilizá-las com desenvoltura requer um tempo de adaptação. 


Para quem precisa de mais recursos, aplicativos como o Capto e o Tayasui Sketches são sopa no mel, embora sejam gratuitos apenas durante o período de teste (7 dias). Em último caso, pode-se recorrer ao Paint Online, mais espartano que a versão embutida no Windows, mas quem não tem cão...

quarta-feira, 19 de abril de 2023

QUE BARBARIDADE!


Ao encerrar sua passagem relâmpago pelo Ministério da Saúde, Nelson Teich salientou que "a vida é feita de escolhas". Muitos anos antes disso, o Conselheiro Acácio já dizia que "as consequências vêm sempre depois".
 
A Lava-Jato teve início em 2008, mas só ganhou notoriedade a partir de 2014. Foi devido a ela que Sergio Moro, responsável pelos processos do braço paranaense da operação, viveu seus dias de glória à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba. 

Além de expor as entranhas putrefatas do sistema político, a Lava-Jato propiciou a condenação de corruptores e corruptos de alto coturno e recuperou bilhões de reais desviados durante os governos petistas. Mas não mal que sempre dure nem bem que nunca termine. 
 
Em 2018, para conquistar o apoio da classe média, Bolsonaro convidou Moro para chefiar o "super ministério" da Justiça e Segurança Pública. Edulcorado pela promessa de ser indicado para o STF, o juiz abriu mão de 22 anos na magistratura para embarcar numa canoa que deveria saber furada, e desde então vem trilhando um a um os nove círculos do inferno.
 
Após 1 ano e 4 meses engolindo sapos e bebendo a água suja da lagoa bolsonarista, Moro finalmente desembarcou do governo. E foi acusado de traição. Não muito depois, a vaza-jato transformou o herói da pátria em pária. 
Sem o apoio prometido pelo Podemos, Moro migrou para o União Brasil. Teve as asas podadas por Luciano Bivar, mas conseguiu se eleger senador pelo Paraná

Se Moro tivesse permanecido à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, é bem possível que a prisão em segunda continuasse valendo, que Lula ainda estivesse cumprindo pena e que a vaza-jato tivesse ido para a lata do lixo da História. Mas, de novo, a vida é feita de escolhas e as consequências sempre vêm depois.

Neste arremedo de banânia, os políticos se elegem para roubar, roubam para se reeleger e legislam em causa própria e/ou para favorecer seus bandidos de estimação. Mesmo que seja flagrada na porta do galinheiro com penas grudadas no focinho, a raposa é considerada inocente até vomitar a galinha, devolver-lhe a vida e tornar a comê-la dentro do galinheiro, sob as vistas das corujas supremas — que só enxergam o que lhes convêm e quando lhes convém.
 
Sob um mandatário com uma capivara invejável e quatro filhos investigados, era esperado que processos foram anulados, que condenações fossem canceladas e que agentes públicos corruptos recuperassem a liberdade e os direitos políticos. É como se nossas cortes interpretassem as leis de modo a ensejar a sobrevivência do Brasil velho, corrupto, subdesenvolvido e desigual, governado por parasitas da máquina pública e lobistas de favores e privilégios.
 
Todos são iguais perante a lei, mas a conversão do direito de defesa em impunidade resultou num Estado de exceção onde as pessoas que mandam valem mais que todas as outras. Só falta agora escreverem com todas as letras que ninguém mais pode ser preso no Brasil por cometer crimes de corrupção. 

No faroeste à brasileira, só os fora-da-lei têm direito a final feliz, como atestam os mais recentes episódios da novela em que perseguir defensores da lei e castigar juízes, procuradores e policiais envolvidos na Lava-Jato tornou-se tão rotineiro quanto os duelos nos minutos finais dos bangue-bangues macarrônicos, só que, nos filmes, é o mocinho que vence o bandido e sai cavalgando rumo ao sol poente. 
 
Depois de conseguir as 27 assinaturas necessárias para o desarquivamento do projeto de lei que trata da prisão em segunda instância que ele próprio apresentou quando ainda era ministro — e que acabou sendo automaticamente arquivado porque não foi apreciado na legislatura anterior —, Moro experimentou mais uma vez o contra-ataque establishment: um vídeo divulgado nas redes sociais em que ele fala em "comprar habeas corpus do Gilmar Mendes" levou a subprocuradora-geral Lindôra Araújo a denunciá-lo por calúnia.
 
De acordo com a subprocuradora, o senador "agiu com a nítida intenção de macular a imagem e a honra objetiva do ofendido, tentando descredibilizar a sua atuação como magistrado da mais alta Corte do País", e que a polêmica frase foi dita "na presença de várias pessoas, com o conhecimento de que estava sendo gravado por terceiro, o que facilitou a divulgação da afirmação caluniosa, que tornou-se pública em 14 de abril de 2023, ganhando ampla repercussão na imprensa nacional e nas redes sociais".
 
Moro reconheceu que sua fala foi infeliz, mas demonstrou indignação com a ação da PGR 
— segundo ele, as palavras foram tiradas do contexto de brincadeira e manipuladas por pessoas que querem incriminá-lo falsamente e indispô-lo com o STF (detalhes neste vídeo). 

De acordo com a revista Fórum — cujos editores morreriam afogados se Lula se aboletasse numa banheira de hidromassagem —, Moro entrou em "modo desespero" e está "provando do próprio veneno". Na avaliação dos juristas ouvidos pelo pasquim, a condenação do político é líquida e certa.
 
Na visão do deputado Deltan Dallagnol, a denúncia é inepta, absurda, e denota alinhamento com governo Lula em clara perseguição ao ex-juiz. O ex-coordenador da Lava-Jato em Curitiba lembrou que Gilmar "caluniou e injuriou os procuradores da Lava-Jato várias vezes", chamou a força-tarefa de "organização criminosa" e se referiu a seus integrantes como "cretinos", "gângsters", "espúrios" e "crápulas". 
 
Vale relembrar também, por oportuno, que em março de 2018 o ministro Luís Roberto Barroso chamou o colega de toga de "fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país (...) uma pessoa horrível, mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia", e em outubro do mesmo ano, ao comentar sobre uma corrupção estrutural e sistêmica envolvendo recursos públicos e a impunidade no país, disse que havia
 no STF "gabinete distribuindo senha para soltar corrupto sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos". Ao ser questionado sobre quais gabinetes se encontrariam nessa situação, Barroso sorriu e ficou em silêncio.

Resumo da ópera:  


Conhecida pela seletividade aguçada, Lindôra Araújo costumava confundir ofensa com liberdade de expressão quando o ofensor era Bolsonaro, anotou Josias de Souza em sua coluna. Com Moro, prossegue o jornalista, ela não quis saber de "brincadeira": acusou-o caluniar o ministro e pediu condenação, cadeia e perda do mandato. 


Josias pondera ainda que uma improvável condenação não resultaria em prisão, pois o suposto crime não prevê tal punição. Em última análise, Moro foi presenteado com uma contenda contra um dos mais impopulares ministros do STF, que decidiu acionar a PGR por acreditar que o senador precisa se responsabilizar pelo que diz. 


Conhecido pelo destempero, Gilmar gosta de falar o que não aprecia ouvir. Já se divertiu diante das câmeras da TV Justiça referindo-se aos procuradores da Lava-Jato como "gentalha", disse que integravam "máfias" e "organizações criminosas" e que "força-tarefa é sinônimo de patifaria". Se um extraterrestre descesse em Brasília num desses instantes em que autoridades trocam chumbo, informaria ao seu planeta que, na Terra, políticos e magistrados brincam num parque de diversões chamado Código Penal. 


A cena pública brasileira tornou-se um ambiente divertidamente degenerado.

domingo, 16 de abril de 2023

TÁ BOM OU QUER MAIS?

Na Presidência, Bolsonaro colecionou 150 pedidos de impeachment e abrilhantou sua capivara com um novo processo a cada seis dias. Fora do trono, sem as prerrogativas do cargo e o escudo do antiprocurador-geral da República, continua dispondo do amparo financeiro do Erário para custear sua defesa. Em outras palavras, além de financiar a bilheteria por meio século, o contribuinte brasileiro é obrigado a arcar com o custo dos incêndios judiciais que esse sujeito provocou no circo durante. 


Observação: O ex-presidente mora no déficit público desde 1973, quando virou o soldado que o general Ernesto Geisel classificou posteriormente de mau militar. Enxotado da caserna, elegeu-se vereador, deputado federal e presidente da República. Construiu o conglomerado da rachadinha e amealhou notável patrimônio


manifestação do MPE a favor da suspensão dos direitos políticos do "mito" conduz à reta final a ação deve deixá-lo fora das eleições municipais de 24 e 28 e das presidenciais de 26 e 30. Estima-se que o julgamento ocorra entre o final deste mês de abril e a primeira quinzena de maio, e, a exemplo das outras 15 que ações aguardam na fila, a conduta atribuída ao ex-mandatário é no mínimo psicótica: um presidente que disputa a reeleição e reúne embaixadores estrangeiros para desqualificar o sistema eleitoral e as urnas que o elegeram durante três décadas não é senão um suicida. 

Durante sua carreira política, Bolsonaro fez o pior o melhor que pôde. No Planalto, esqueceu de maneirar. Diante de sua provável inelegibilidade, planeja retratar-se como vítima de uma "injustiça" enquanto faz jus ao salário que passou a receber do PL atuando como cabo eleitoral do partido nas eleições municipais de 2024. Imagina que a exposição o manterá politicamente ativo, facilitando sua volta como candidato ao final da quarentena. 


Observação: O exílio de três meses na Flórida e o escândalo das joias sauditas impuseram prejuízo ínfimo à imagem de Bolsonaro aos olhos de seus apoiadores, daí a decisão de pegar em lanças para tentar reaver seus direitos políticos (caso se confirme no TSE a suspensão por oito anos). Ainda que as tentativas fracassem, como parece provável, acredita-se que o "injustiçado" consiga transferir votos em 2026 para um candidato de sua predileção.


Afora a crença de que a liderança de Bolsonaro é inoxidável, os planos do PL esbarram noutra peculiaridade: o êxito da estratégia depende do insucesso de todos os outros atores. Para que o capetão se mantenha politicamente tinindo até 2026, será preciso que Lula 3.0 seja um fiasco e que Tarcísio de Freitas, visto no momento como principal opção da direita, faça uma gestão tão ruim no governo de São Paulo que não consiga ganhar luz própria.


Fato é que há um corre-corre em torno do quase-defunto político. A impressão que se tem é a de que estão tentando ressuscitar o morto, mas quem olhar mais de perto percebe que tudo não passa de uma briga pelo espólio do bolsonarismo. Numa ponta do caixão está Tarcísio de Freiras; na outra, Valdemar Costa Neto, abraçado a Michelle; e no meio, o ex-chefe da Casa Civil Ciro Nogueira, tentando costurar desde logo a chapa Tarcísio-Michelle.

Com Josias de Souza.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

O PROJETO BLUE BOOK E A OPERAÇÃO PRATO

UNS PENSAM, OUTROS PENSAM QUE PENSAM.


Cerca de 10% dos mais de 12 mil relatos de testemunhas, fotografias, dados astronômicos e registros meteorológico colecionados pelo projeto Blue Book foram considerados inexplicáveis por pelo menos pelo três comissões patrocinadas pela CIA e pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia.  


Divulgado no início de 1969, o Relatório Condon descartou a “hipótese extraterrestre”, e a Aeronáutica anunciou desativação do projeto. Os ufólogos consideraram essa medida mais uma tentativa de esconder a verdadeira investigação sobre a presença de alienígenas em nosso planeta. O astrofísico  Josef Allen Hynek, que era cético em relação aos alienígenas até analisar centenas de casos e chagar à conclusão de que havia fortes indícios da visita de ETs ao nosso planeta, passou a defender enfaticamente um estudo mais sério sobre UFOs.

 

Relatos de avistamentos foram registrados nas décadas seguintes, com contornos cada vez mais espetaculares e testemunhos de abduções. O mecânico Paul Villa, morador de Albuquerque (Novo México), disse que foi convocado telepaticamente para comparecer num determinado local no dia 16 de junho de 1963, que conversou com os alienígenas e fotografou sua nave. O exame das fotos demonstrou que o objeto era uma maquete de espaçonave com meio metro de diâmetro, mas Villa acreditava mesmo ter entrado em contato com ETs, e forjou as fotos para dar credibilidade a sua história.

 

O fotógrafo da guarda costeira Shell Alpert relatou o avistamento de quatro luzes brilhantes através da janela de seu escritório em Salem, Massachusetts. Elas perderam a intensidade quando ele estava prestes a fotografá-las, mas voltaram a brilhar novamente quando ele foi em busca de um colega, permitindo-lhe bater a foto antes de desaparecerem. Para os analistas, a foto foi forjada mediante dupla exposição. Onze anos depois (o episódio teria ocorrido em 16 de julho de 1952), o caso foi novamente examinado e o veredicto foi de que a câmera havia captado reflexo das luzes da sala no vidro da janela.

 

Em janeiro de 1967, os irmãos Dan e Grant Jaroslaw disseram ter visto um objeto em forma de disco voando à baixa altitude e se movimentando rapidamente nos céus de Michigan. Uma foto foi tirada, mas não ficou clara o suficiente para que o objeto fosse identificado, e os investigadores arquivaram o caso. Anos depois, os irmãos admitiram que haviam fotografado um modelo de espaçonave.

 

Uma foto tirada na Itália em 1960 na Itália, mostrando três OVNIs com cerca de 15 metros de diâmetro, foi enviada ao Projeto Blue Book. Os investigadores observaram que os objetos eram muito mais escuros que os demais elementos da imagem, e que estavam fora de foco, sugerindo que negativo poderia ter sido retocado.

 

Dezenas de oficiais da Força Aérea Brasileira estiveram envolvidos em uma missão sigilosa, no Pará, no final dos anos 1970. Denominada Operação Prato, ela é uma espécie de caso Roswell tupiniquim, com missões secretas, histórias e fenômenos sem explicação. A diferença é que, enquanto os militares americanos primeiro admitiram e depois negaram a existência dos OVNIs, os oficiais do I Comando Aéreo Regional em Belém afirmaram taxativamente que viram diversas vezes os objetos sobrevoarem a Amazônia.
 
Há 25 quilos de material, com descrições, croquis e fotos de UFOs reunidos ao longo das décadas de 1950, 60 e 70. Os arquivos mostram ainda que a Aeronáutica manteve o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (
Sioani), formado por pesquisadores civis e autoridades militares, funcionando nas instalações do IV Comar entre 1969 e 1972. O material liberado detalha a doutrina desse departamento e revela cerca de 70 casos apurados, todos retratados com desenhos feitos pelos militares.

 

Continua...

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

EXTENSÃO DE VPN PARA SAFARI

O VERDADEIRO OTÁRIO SEMPRE ENCONTRA UMA MANEIRA DE CONVENCER A SI MESMO.

Ao longo das últimas 3 décadas, tive breves relacionamentos (prevaricações motivadas por dever de ofício) com o Linux e o Mac, mas continuei fiel ao Windows até o ano passado, quando o upgrade para o Win11 transformou meu Dell Inspiron numa carroça.


Bastou uma semana com o Mac Pro para eu me apaixonar pelo macOS. Para não dizer que não sinto falta do Windows, tenho saudades do MS Paint  que usava desde o tempo em que ele ainda se chamava Paintbrush


A pré-visualização que o macOS integra é espartana. A oferta de editores de imagem para o sistema da maçã é mais limitada do que para Windows e as opções disponíveis na App Store custam os olhos da cara. Webservices como Pixlr e FotoFlexer até cumprem o que prometem, mas não chegam a empolgar.


Passando ao mote desta postagem, a muralha inexpugnável que os macmaníacos cantam em verso e prosa não passa de folclore. O Windows sempre foi mais visado pelos cibercriminosos devido a sua enorme popularidade, mas o crescimento da base de usuários dos produtos da Apple vem chamando a atenção dos crackers e distinta companhia. 


Diferentemente do Windows, o macOS não dispõe de antivírus e firewall nativos, e não há muitas soluções de varejo desenvolvidas especificamente para essa plataforma (a quem interessar possa, eu uso e recomendo o Kaspersky Internet Security, que mudou de nome ganhou novos recursos, mas continua provendo proteção responsável a preços módicos).

 

Usar uma VPN é recomendável, mas há bem menos opções para Safari do que para Chrome, FirefoxOperaBrave, MS Edge etc., mas a boa notícia é que todos esses browsers têm rodam no macOS


Diferentemente das redes virtuais privadas, as extensões VPN são basicamente servidores proxy que redirecionam o tráfego e criptografam os dados, mas só funcionam com o navegador ao qual estão associadas — ou seja, qualquer tráfego proveniente de outro browser ou aplicativo continuará exposto. 


A vantagem de usar uma VPN é que ela criptografa todo o tráfego enviado ou recebido por qualquer navegador ou aplicativo — cada bit é redirecionado através de um ou mais servidores, num processo conhecido como tunelamento de VPN. Para mais detalhes, leia a sequência iniciada nesta postagem.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

DE NOVO É NATAL

Natal celebra o momento histórico em que, segundo os cristãos, Deus veio à Terra em forma de criança para salvar a humanidade. Mas é bom lembrar que Jesus era judeu e que não há comprovação de que tenha nascido no dia 25 de dezembro. Dos quatro evangelistas, somente Mateus e Lucas mencionam seu nascimento; o primeiro relata que Maria e José eram naturais de Belém e chegaram a Jerusalém como refugiados; o segundo informa que os pais do menino-deus eram nativos de Nazaré e se mudaram para Jerusalém devido a um suposto recenseamento cuja realização fora determinada por Herodes.

 

Sabe-se que os Sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias em 2700 a.C., que a origem de muitas celebrações cristãs remonta às festividades pagãs e que o Natal adveio da Saturnália — um banquete acompanhado de troca de presentes que os romanos promoviam, todo final de ano, no templo de Saturno (para saber mais, clique aqui). 

 

Instituído pelo Papa Gregório XIII no final do século XVI, o Calendário Gregoriano se popularizou mundo afora porque a Europa era a maior exportadora de cultura na Idade Média, e usar o sistema de marcação de tempo criado pela Igreja Católica facilitava o relacionamento entre as nações. No Brasil, a comemoração do Natal se deve aos holandeses, que ocuparam Recife e Olinda no século XVII (as duas cidades premiam até hoje as fachadas de casas, prédios e lojas por suas decorações natalinas). 

 

No início dos anos 1960, quando eu comecei a me entender por gente, as crianças perdiam os dentes-de-leite antes de descobrir que Papai Noel era apenas o Espírito do Natal — que surgia no início de dezembro e "crescia" como o apito de um trem que se aproxima da estação. As pessoas penduravam guirlandas nas portas das casas, montavam presépios e enfeitavam as árvores de Natal (não necessariamente nessa ordem). Naquela época, os votos de boas festas soavam sinceros. 

 

Ainda que muitos lojistas desembalam a decoração natalina em meio ao rescaldo da Black Friday, o clima festivo e o espírito de camaradagem — que campeavam soltos todo final de ano, independentemente da fé ou da crença religiosa das pessoas — parecem não existir mais. Ainda há quem monte árvores de Natal e decore janelas e varandas com pisca-piscas, mas o clima é artificial e os votos carecem de calor humano.


Observação: Acredita-se que a tradição da árvore de Natal teve início no século XVI, quando Martinho Lutero utilizou galhos de árvores, algodão, velas acesas e outros enfeites para emular a imagem de um pinheiro coberto de neve e tendo como plano de fundo o céu estrelado. A ideia de montar um presépio para recriar o cenário do nascimento do Menino Jesus é atribuída a São Francisco de Assis. 

 

Acredita-se que a imagem do velhote barrigudo, de bochechas rosadas e barbas brancas tenha sido inspirada em São Nicolau, mas casacos de pele (bordados de vermelho ou verde), mitras, estolas e luvas não eram usados na costa mediterrânea quando o dito-cujo caminhava entre os vivos. Primeiro, porque o cristianismo era uma religião minoritária, perseguida e proibida; segundo, porque Nicolau era pobre — e ainda que assim não fosse, ele dificilmente sairia pelas ruas todo paramentado, pois a miséria campeava solta e os roubos eram frequentes.

 

Nada indica que Nicolau se tenha destacado pela disposição e alegria com que foi posteriormente retratado. No incidente mais importante de sua vida, registrado pela primeira vez em meados do século VI, ele interrompeu uma execução e confrontou um juiz até que este admitisse ter aceitado suborno. Um artigo da revista National Geographic, que segue a transformação de Nicolau de santo a Papai Noel, cita um conto segundo o qual o religioso teria entregado secretamente três sacos de ouro para o pai de três moças pobres oferecer como dote, salvando-as de uma vida de prostituição

 

Ao descrever a metamorfose festiva de bispo, o site do History Channel menciona que o conto dos três dotes é "uma das mais conhecidas histórias de São Nicolau". A despeito de essa lenda promover o santo a entregador de presentes, outra história mais sombria reza que, em meados do século X, na Baixa Saxônia, o bom velhinho teria trazido de volta à vida três crianças que um criminoso esquartejara e colocara em barris de madeira (para com elas fazer compota). Artistas itinerantes encenaram esse drama em cidades e vilarejos de toda a Europa, e assim São Nicolau se tornou padroeiro e protetor das crianças (para saber mais sobre a vida do santo, clique aqui). 

 

Oportuno salientar que no final do século XIX os líderes cristãos dos Estados Unidos (em sua grande maioria protestantes) proibiram as celebrações natalinas por considerá-las pagãs. Mas as pessoas queriam comemorar, sobretudo os trabalhadores braçais, que ficavam ociosos durante o inverno e não raro se embriagavam e saíam às ruas para farrear e saquear. E foi assim, de acordo com o historiador canadense Gerry Bowler, que a classe alta nova-iorquina criou a Sociedade São Nicolau de Nova York, que basicamente reescreveu a história do Natal.

 

A festa de São Nicolau era celebrada em 6 de dezembro (data da morte do religioso) até o início do século XIX, quando a Reforma Protestante acabou com os santos cristãos e o Natal também foi abolido em grande parte da Europa. Na Holanda, porém, uma figura tradicional continuou viva: o Sinterklaas, que usava uma mitra (chapéu alto e pontudo) de cor vermelha, tinha uma longa barba branca, como São Nicolau. Foi ele que inspirou os nova-iorquinos a tirar os bêbados da rua e presentear as crianças.

 

Mais adiante, o escritor Washington Irving escreveu uma série de contos em que São Nicolau voava pelas casas fumando cachimbo e deixando presentes para as crianças bem-comportadas. Anos depois, um poema anônimo publicado na revista britânica The Children’s Friend citava um personagem chamado Santeclaus — um velho gorducho dirigia um trenó puxado por renas e deixava presentes nas meias das crianças. Por fim, um estudioso episcopal chamado Clement Clarke Moore escreveu um poema conhecido como The Night Before Christmas, no qual São Nicolau entrava pelas chaminés. A história foi rapidamente difundida pelos Estados Unidos e, no início do século XIX, São Nicolau foi padronizado como Santa Claus, o nosso Papai Noel.

 

A imagem do bom velhinho que Thomas Nast criou para revista Harper's Weekly durante a guerra civil norte-americana lembrava um duende. Até o início dos anos 1930, ele foi retratado vestindo uma indumentária de cor marrom. Depois que a campanha publicitária da Coca-Cola vinculou o refrigerante às festas natalinas, o velhote ganhou o barrigão, as barbas brancas, o casaco vermelho de gola e punhos brancos, o cinto largo e as botas pretas.

 

Entre 1931 e 1964, o ilustrador Haddon Sundblom pintou cenas encantadoras da casa de Papai Noel para a Coca-Cola, e Norman Rockwell o retratou como um velhote bonachão. As pessoas gostaram tanto dos anúncios que a fabricante de refrigerantes recebeu uma enxurrada de cartas quando o cinto preto de Papai Noel foi exibido de cabeça para baixo; quando o personagem apareceu sem a aliança de casamento, milhares de fãs escreveram para perguntar o que havia acontecido com a Senhora Noel.

 

Seja qual for a versão verdadeira, faço votos de que Papai Noel se lembre de nós em mais este Natal, a despeito da cizânia e da desgraceira com que o noticiário nos brinda diuturnamente. Quanto ao tradicional "presentinho", nos últimos anos ele virou "lembrancinha" — isso quando não foi rebaixado a um prosaico cartão de Natal virtual (para economizar o selo de correio).


Observação: Vale destacar que os tradicionais "pinheirinhos de Natal" são na verdade tuias — coníferas pertencentes à família das Cupressáceas, que têm formato, cor e cheiro característicos dos dias 24 e 25 de dezembro.  

Havendo interesse e sobrando tempo, assista a este vídeo. E não deixe de assistir também ao clipe abaixo. Duvido que você não caia na gargalhada. Afinal, dizem que rir é o melhor remédio. 

quarta-feira, 27 de julho de 2022

TRISTE BRASIL

Faltando pouco mais de dois meses para o primeiro turno das eleições, sem uma "terceira via" estruturada, capaz de furar essa maldita polarização, é provável que o ex-presidiário vença o ex-capitão que, por alguma razão, ainda ocupa o Planalto e, como se tudo o que fez não bastasse, quer porque que continuar no poder por mais 4 anos. Triste Brasil. 


Diante dessa perspectiva desoladora, interrompo temporariamente a sequência sobre o desempregado que deu certo para transcrever um texto do especialista em relações internacionais Daniel Buarque, autor dos livros "O Brazil é um país sério?" e "Brazil, um país do presente" (o artigo foi publicado originalmente na revista eletrônica Crusoé).


Se Jair Bolsonaro esperava convencer o mundo de que há uma conspiração para tirá-lo do poder por meio de fraudes nas eleições de outubro, sua ideia de reunir mais de 40 embaixadores para apresentar sua teoria deu muito errado. Sem que fosse apresentada uma única prova das “denúncias”, ninguém saiu do Palácio do Alvorada acreditando que há problemas de segurança nas urnas brasileiras. Pelo contrário, o encontro serviu para consolidar a expectativa internacional de tensão nas eleições de outubro, com percepção de alto risco de ruptura democrática.

 

A impressão externa deixada pelo “brienfing” (sic) de segunda-feira (17) foi a de um presidente que quer se manter no governo a qualquer custo e que está preparando o terreno para tentar reverter uma possível derrota nas urnas. Para os embaixadores, jornalistas e analistas estrangeiros, o encontro foi como um prenúncio do golpe que o presidente quer dar, caso venha a perder o poder.

 

Isso ficou muito evidente no posicionamento público de quem acompanhou o encontro. Um dia depois da apresentação de Bolsonaro, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília publicou um comunicado defendendo que as eleições brasileiras são um modelo para o mundo. A nota dizia, ainda, que o governo americano confia na força das instituições do Brasil — reiterando o pensamento da administração de Joe Biden.

 

A Transparência Internacional, ONG que tem muito mais credibilidade no mundo do que o atual governo brasileiro, também rejeitou as bravatas do presidente e publicou um desmentido mostrando as informações falsas apresentadas por ele. Além disso, embaixadores ouvidos pela imprensa após o evento tornaram público o seu desconforto com o clima de ameaça à democracia, especialmente pela menção do presidente às Forças Armadas.

 

A imprensa internacional refletiu bem a falta de credibilidade de Bolsonaro na cobertura do encontro. O jornal francês Le Monde disse que o presidente tenta torpedear o sistema eleitoral. O diário britânico The Guardian e a agência de economia Bloomberg deixaram claro que as acusações sem base apresentadas pelo presidente já foram desmentidas. O New York Times falou sobre o medo internacional de que Bolsonaro rejeite o resultado das eleições. O Washington Post também apontou que o presidente está preparando o terreno para rejeitar o resultado das urnas. Em todos os relatos estava presente o fato de pesquisas de intenção de voto apontarem uma possível vitória de Lula nas eleições.

 

É interessante notar como essa cobertura externa tem sido repetitiva. Qualquer busca por notícias em inglês, francês e espanhol mostra que é fácil confundir os títulos das reportagens desta semana com centenas de outras publicadas desde 2020. “Bolsonaro escala a retórica sobre fraude eleitoral“, dizia a agência Reuters, há quase dois anos. “Bolsonaro é investigado por alegações de fraude sem provas“, deram a CNN e o Financial Times, em agosto de 2021. Em maio deste ano, a revista Vanity Fair chamava Bolsonaro de “fan-boy” do ex-presidente americano Donald Trump e dizia que ele estava se preparando para rejeitar uma derrota eleitoral.

 

Ao organizar sua apresentação de segunda, Bolsonaro minimizou a inteligência dos diplomatas e analistas internacionais. Até porque todos já acompanham os ataques do presidente ao Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. Por causa disso,  consolidou-se a percepção de que o presidente brasileiro tentará repetir a insurreição liderada por Donald Trump no dia 6 de janeiro, quando seus apoiadores invadiram o prédio do Capitólio, em Washington. Esses estrangeiros acompanham o noticiário tanto no Brasil quanto no resto do mundo e já sabem das mentiras que o presidente propaga como conspiração contra ele.

 

A postura da imprensa estrangeira neste caso se junta a uma visível deterioração da imagem internacional do Brasil, desde 2013. Nesse ano, os protestos que ficaram conhecidos como as Jornadas de Junho romperam a narrativa internacional de emergência do Brasil. A crise econômica da década passada enterrou a visão de que o país era a “bola da vez”.


Hoje, é a imagem específica do presidente que é muito negativa. Desde que o atual governo tomou posse, o Brasil perdeu prestígio internacional ao se tornar mais um país governado por um líder que fazia parte de uma onda global iliberal. O país abandonou uma postura construtiva em fóruns internacionais, perdeu o status de ator importante na defesa ambiental, deixou de ter relevância na política regional da América Latina, foi visto como um dos maiores negacionistas durante a pandemia, comprou brigas desnecessárias com parceiros comerciais importantes e perdeu o apoio americano após a chegada de Biden à Casa Branca. 

 

O Brasil parece de fato ter aceitado se tornar um “pária”, como defendeu o ex-chanceler Ernesto AraújoAo contrário do que Bolsonaro tentou vender durante recente viagem aos Estados Unidos, o Ocidente não acredita em sua retórica reciclada da Guerra Fria e não vê no ex-presidente Lula uma ameaça comunista. Há fortes críticas a Lula, que o ex-presidente Barack Obama associou à máfia em sua autobiografia, mas há também a lembrança de um período de relações saudáveis e de estabilidade do Brasil. O PT ainda guarda uma retórica antiamericana, mas no passado Lula se deu muito bem com George W. Bush e com o próprio Obama, que o chamou de “o cara”.

 

Em entrevistas recentes, pesquisadores de think tanks americanos deixaram claro que os Estados Unidos esperam o início de um novo governo — seja ele qual for — para definir os rumos das relações bilaterais. O mesmo vale para a União Europeia, cujo acordo com o Mercosul foi travado especialmente pela postura de Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Até potências lideradas por governos autocratas, que não teriam motivos para defender a democracia brasileira, como Rússia e China, tampouco teriam razões para se associar agora a um presidente que não inspira confiança. Está posto que essa provável tentativa de reverter o resultado das urnas não deve ter apoio internacional. Apesar da empolgação recente do apresentador americano Tucker Carlson, da Fox News, e do apoio que Bolsonaro pode ter dos poucos governos iliberais que ainda se sustentam, como os da Hungria e da Polônia, o retrato que se pinta do Brasil e do seu presidente no mundo é majoritariamente negativo. 

 

Bolsonaro, portanto, fracassou na tentativa de angariar apoio global à narrativa de que é perseguido e de que haverá um complô para que ele não vença as eleições. Mas achar que esse era seu objetivo ao reunir os diplomatas pode ser uma interpretação equivocada. Talvez Bolsonaro já não esperasse mesmo convencer ninguém e estivesse preocupado apenas em reforçar o discurso para seus apoiadores dentro do Brasil. A esse grupo pequeno, mas persistente, ele se coloca como o verdadeiro defensor da democracia, alegando desde já que tentou mostrar a “verdade” ao mundo, e passando até a incluir a comunidade internacional dentro do que vê como conspiração contra ele.

 

Pode parecer um projeto insano, mas é algo que pode manter viva a chama do bolsonarismo, mesmo com uma possível derrota nas urnas. Esse modelo já está funcionando com Donald Trump, que planeja se candidatar novamente em 2024. Mesmo derrotado e ignorado pelas grandes figuras da política global, o republicano continua propagando a “grande mentira”, batendo na tecla da fraude eleitoral de 2020. Desse jeito, Trump está conseguindo se manter como força política de peso nos Estados Unidos. Não seria estranho se este fosse também o projeto de Bolsonaro.

domingo, 24 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (QUARTA PARTE)

 

Apadrinhado pelo general Golbery do Couto e Silva, Lula teria tomado "aulas de sindicalismo" na Jonhs Hopkins University. Quem esposa essa tese afirma que a ideia do "Bruxo" era fazer com que o pelego parecesse de esquerda e servisse ao sistema dominante, e que a função precípua do PT — que teria sido fundado por inspiração do próprio Golbery — fosse impedir a vitória de Leonel Brizola, o único líder reconhecido pelo regime militar como oposição. 


Não há provas disso, mas sabe-se que Lula foi ao Japão em 1975, a convite da Toyota, e que voltou às pressas quando soube que o irmão Frei Chico — esse, sim, comunista de quatro costados — estava preso na sede do Doi-Codi (mesmo local em que o jornalista Vladimir Herzog foi torturado e "suicidado"). Mas isso é outra conversa

 

Lula ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje quando ainda era metalúrgico, mas foi somente em 1982, quando disputou (e perdeu) o governo de São Paulo, que ele o incorporou oficialmente ao nome  até então, "Luiz Inácio" era um ilustre desconhecido. 


Por falar em apelidos, Brizola, que chamava o petista de "cachaceiro", disse em 1989 que "a política é a arte de engolir sapos", daí o apodo "sapo barbudo". Em 2002, quando Lula disputou a Presidência pela quarta vez (e finalmente se elegeu), surgiu o "Lulinha paz e amor". Em 2006, durante sua campanha pela reeleição, a adversária Heloísa Helena se referiu a ele como "sua majestade barbuda". 


Nas planilhas de propina da Odebrecht, o molusco figurava como "amigo" e "Brahma". Nos bastidores do poder, era chamado de "chefe", "grande chefe" e "nine". Em março de 2016, após ter ser conduzido coercitivamente à PF para depor, o capiroto esbravejou: “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve”


Nenhuma cognominação supera aquela que o próprio Lula se concedeu em janeiro de 2016, quando disse não existir no Brasil uma viva alma mais honesta que ele. Pausa para as gargalhadas.

 

Influenciado ou não pelo "Bruxo", Lula fundou em 1980 o partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não raciocinam. O partido que não apoiou Tancredo Neves na eleição indireta de 1985 (e ainda expulsou três deputados que votaram na raposa mineira) também se posicionou contra a Constituição de 1988, o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal


Observação: Fato é que Brizola não conseguiu se eleger Presidente, e que esse fragmento de nossa história foi contado pelo próprio Golbery e por importantes personalidades políticas da época. Segundo Emílio Odebrecht, o artífice do golpe teria dito que Lula não tinha nada de comunista, que não passava de um bon vivant. 

 

Como dito, Lula deixou de ser operário em 1980, mas já não dava expediente em chão de fábrica desde 1972. Mais da metade de seus "gloriosos dias" foi dedicada à "arte da política", não ao batente diário. É certo que ele teve uma infância difícil e começou a trabalhar aos 7 anos, mas também é certo que se tronou avesso ao batente, preferindo viver de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos e desfrutar do poder de maneira indecorosa — mas sem jamais deixar de cultuar a imagem de político habilidoso, honesto e provido de um senso de justiça social sem paradigma na história deste país.


Observação: É preciso reconhecer o extraordinário carisma de Lula (daí a alcunha "encantador de burros"). O cara veio da merda, mal se alfabetizou, comeu o pão que seu compadre amaçou e se tornou o maior líder sindical do país. Que diferença faz se manipulava os "cumpanhêros" em benefício próprio, se insuflava greves que encarrava logo em seguida, após negociar a portas fechadas com "os patrões"? A "metamorfose ambulante" sempre foi um animal político. Quando encontrou quem pagasse a conta, trocou o pão de forma de cada dia por filé; os cigarros baratos por charutos cubanos; a cachaça vagabunda por scotch 12 anos... Não é isso que fazem nossos ímprobos políticos, que se elegem para roubar e roubam para se reeleger? Lula e o PT desempenharam um papel relevante na luta pelas Diretas... Infelizmente, bastou ascenderem ao poder para... enfim, acho que deu para entender.


Dois anos depois de fundar o PTLula concorreu ao governo de São Paulo, mas terminou em quarto lugar. Em agosto de 1983, participou da fundação da CUT. Em 1986, foi o deputado federal mais votado do país. Na sequência, disputou a Presidência quatro vezes. Em 1989, foi derrotado no segundo turno por Fernando Collor Mello. Em 1992, perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso, que tornou a derrotá-lo em 1998, também no primeiro turno. Em 2002, venceu o tucano José Serra, dando início à era lulopetista, que só foi interrompida 13 anos 4 meses e 12 dias depois, com o afastamento de Dilma. 

 

No primeiro ano do governo Lula, a petralhada pôs em movimento um esquema de compra de apoio parlamentar, que ficou conhecido como Mensalão quando veio a público, em 2005, depois que Maurício Marinho foi filmado recebendo propina nos Correios e o então deputado petebista mensaleiro Roberto Jefferson — que hoje é bolsonarista desde criancinha — revelou os detalhes sórdidos da maracutaia


Petistas de alto coturno — como Dirceu, Genoíno, Vaccari, Delúbio et caterva — foram condenados na célebre ação penal 470, mas Lula, que foi o maior beneficiário do esquema, disse que "nunca soube de nada" e, pasmem!, não só escapou ileso como foi reeleito em 2006 e empalou o país com sua vomitativa sucessora (sobre a qual falaremos mais adiante). 

 

O Brasil chocou o "ovo da serpente" (ou da jararaca) durante décadas, e o filhote, que nasceu forte e esfomeado, devorou a economia popular. Os brasileiros demoraram a admitir o estrago que seu monstrinho de estimação estava causando. Quando essa percepção finalmente se tornou inevitável, o país encarou o ofídio peçonhento e o colocou de castigo, acreditando que assim ele passaria a se comportar direitinho. Mas a bibliografia antiofídica da Lava-Jato indica que, em 2005, quando o petralha pedia perdão aos brasileiros pelo Mensalão, o PT tratava da compra escandalosa da refinaria de Pasadena


É compreensível. Gente boa só consegue se arrepender de um roubo de cada vez. Perdoar a quadrilha é uma ótima forma de continuar chocando o ovos de serpentes simpáticas e revolucionárias. Triste Brasil.


Continua...