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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

NÃO PODE DAR CERTO — TERCEIRA PARTE

 

Para tudo há limites, e a paciência desde humilde escriba não é exceção. Daí eu ter buscado um descanso do desalentador cenário político contemporâneo nesta breve regressão ao passado, onde tudo começou. Aliás, vale destacar que a inflação tupiniquim não teve início durante a ditadura militar nem na velha república. Diferentemente de como costumamos imaginar, ela remonta à época da colonização, lá pelos idos de 1577, quando se apontou em documentos oficiais um aumento no preço da arroba de açúcar provocado por um crescimento na demanda internacional, um reajuste de 18% naquele ano. 

A despeito de ser bastante primitiva, a economia colonial tinha no preço de sua principal commodity o indexador de produtos e serviços, e o resultado foi um aumento em cascata no custo de vida dos então mirrados núcleos urbanos tupiniquins, o que inaugurou uma cultura inflacionária capaz de resistir por mais de 400 anos.

No decorrer dos séculos, outros episódios ligados a acontecimentos específicos provocaram surtos inflacionários, mas nada se compara aos registros modernos, quando, no final dos anos 1980, o Brasil agonizava com a realidade da hiperinflação. Em 1989, último ano do governo Sarney, o índice anual chegou a estratosféricos 1.764,8%; em 1993, durante a gestão de Itamar Franco, registrou-se o inacreditável recorde de 2.477% em doze meses. 

Eram tempos em que o dinheiro perdia o valor da noite para o dia, os salários sofriam reajustes sem nunca recuperar de fato as perdas e as máquinas remarcadoras de preços funcionavam sem cessar nos supermercados. A classe média recorria a aplicações financeiras como o overnight para se proteger dos prejuízos — um recurso inexistente para os mais pobres, que eram justamente os que mais sofriam as consequências da escalada ensandecida dos preços.

Essa dinâmica foi encerrada em 1994, com o Plano Real — um engenhoso e eficaz conjunto de medidas lastreadas numa nova moeda pareada com o dólar, cujos frutos foram colhidos até o final do ano passado, quando o dragão da inflação voltou a soltar fumaça pelas ventas. A mais recente estimativa dos economistas prevê uma taxa de 8,51% para 2001 (no acumulado do últimos 12 meses, o índice foi de 9,68% e agora bate às portas dos dois dígitos, devido, sobretudo, a aumentos diuturnos no preço de alimentos, energia elétrica, combustíveis e gás de cozinha, entre outros).

Não voltamos aos anos 1980, mas é nítido que a tendência inflacionária esteja dando sinais de que vai despertar. Isso se deve aos impactos econômicos produzidos pela pandemia, mas também — e principalmente — à instabilidade política gestada e parida sob a funesta gestão do mandatário de fancaria que, como um câncer, ameaça evoluir para metástase e se tornar inoperável. Uma evidência incontestável é a cotação do dólar, nas alturas graças às promessas não cumpridas feitas pelo Posto Ipiranga bolsonariano, que agora posa de sectário incondicional do bolsonarismo boçal. Mas tudo a seu tempo. Voltemos ao nosso retrospecto.  

Juscelino Kubitschek de Oliveira assumiu a Presidência em 31 de janeiro de 1956 e transferiu a faixa para o populista manguaceiro Jânio da Silva Quadros exatos cinco anos depois. Nesse interregno, a raposa mineira, cujo bordão de campanha era 50 anos em 5, construiu Brasília e abriu a economia para o capital internacional, atraindo o investimento de grandes empresas — entre as quais as montadoras Ford, Volkswagen, Willys e General Motors.

JK criou uma miríade de empregos (diretos e indiretos), mas deixou o país mais dependente do capital externo. Por outro lado, os rios de dinheiro canalizados para a construção de uma cidade do zero, no meio do nada, inflou barbaramente a dívida externa. Isso sem mencionar que as novas oportunidades de emprego provocaram um êxodo rural desordenado, e a migração de trabalhadores do campo para as cidades e de nordestinos e nortistas para grandes capitais do sudeste prejudicou a produção agrícola e fomentou o aumento da pobreza, da miséria e da criminalidade.

Transferir o Distrito Federal para o interior do país era uma ideia antiga, defendida desde o período colonial, e que passou por vontades políticas distintas e muitas mudanças de governo até se transformar em realidade. Não obstante, como sói acontecer em terras canarinhas, havia objetivos escusos nesse projeto. 

A pretexto de contribuir para o desenvolvimento da região Centro-Oeste — que também recebeu um grande número de migrantes nordestinos —, pretendia-se manter o centro das decisões afastado de uma região densamente povoada, de modo a reduzir a quase zero as manifestações de rua contra o governo federal.

JK enfrentou sérias dificuldades, mas conseguiu manter boas relações com o Congresso e fazer acordos com diversos movimentos políticos e sociais. Seu partido, o PSD, era muito representativo na zona rural, e o presidente contava ainda com o apoio do PTB, que era influente na zona urbana.

Em 7 de agosto de 1976, a imprensa noticiou que o ex-presidente havia morrido quando ia de sua fazenda em Luziânia (GO) para Brasília. JK havia realmente planejado a viagem, mas desistiu na última hora, e a fazenda, na época, não tinha telefone. Quando soube dos rumores, ele disse a seu secretário particular Serafim Jardim: "Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram".

Duas semanas após o alarme falso, o Chevrolet Opala em que JK viajava colidiu violentamente com uma carreta carregada de gesso no antigo quilômetro 165 da rodovia Presidente Dutra. Especulou-se que seu motorista, Geraldo Ribeiro, tivesse perdido o controle do carro após levar um tiro na cabeça. O perito criminal Alberto de Minas declarou ter visto um buraco de tiro no crânio do motorista, mas foi impedido de fotografar pelos policiais. Segundo análise do legista Márcio Alberto Cardoso, o fragmento metálico encontrado — supostamente um projétil de arma de fogo — era um prego enferrujado do caixão.

Uma das muitas teorias conspiratórias acerca da morte de JK sustenta que um explosivo foi colocado durante uma parada no hotel-fazenda Villa-Forte, em Resende (RJ), cujo dono, brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, era ligado ao SNI e tinha sido professor de Figueiredo. Outra versão diz que os freios do Opala foram sabotados. O motorista do caminhão que colidiu com o veículo que levava o ex-presidente declarou que, segundos antes da batida, viu Geraldo Ribeiro "debruçado, com a cabeça caída entre o volante e a porta do automóvel”, e que não tinha dúvidas de que "o condutor se encontrava desacordado e inconsciente, e já não controlava o veículo, antes do impacto". 

Já o motorista do ônibus acusado de bater na lateral do Opala e fazê-lo se desgovernar disse que, depois do acidente, foi procurado por dois homens, que lhe ofereceram dinheiro para que assumisse a culpa. A versão foi endossada por um passageiro do ônibus, segundo o qual o carro bateu numa mureta antes de se chocar com o caminhão. Pela versão oficial, o ônibus teria “abalroado” o veículo, desgovernando-o.

Os peritos refutaram as teses de explosão e sabotagem. Não havia resíduos de explosivo na carcaça do carro nem indícios de que o freio tivesse sido sabotado. De acordo com os laudos, o ônibus bateu de lado no Opala, mas os passageiros não perceberam porque foi um "toque sutil" para um veículo de 12 toneladas. Na época do acidente, os peritos apuraram que havia vestígios da tinta do Opala na lateral do ônibus e vice-versa. Pelas marcas dos pneus no asfalto, o motorista tentou recuperar o controle da direção antes de colidir com a carreta, o que indica que ele não estava desacordado. 

A morte de JK não foi satisfatoriamente explicada até hoje, o que só reforça o fato de que o ex-presidente era temido e visado pelos militares. Por outro lado, isso não significa que ele tenha sido assassinado. Mais de trezentas mil pessoas assistiram ao funeral de JK em Brasília, onde a multidão cantou a música que o identificava o político mineiro: Peixe Vivo

Seu corpo do ex-presidente foi exumado em 1986, mas os peritos concluíram pelo "acidente de trânsito" (mais detalhes no livro "JK, Onde Está a Verdade"). Em 2001, a Câmara Federal instituiu uma Comissão Externa para averiguar as suspeitas de assassinato, mas a conclusão foi a mesma. Em 2012, a Comissão Nacional da Verdade — que analisa os crimes políticos ocorridos entre 1946 e 1988 — decidiu rever o inquérito, mas concluiu que a morte foi acidental.

Voltemos a Jânio Quadros, depois de lecionar português e geografia em colégios tradicionais de São Paulo e direito processual penal na Faculdade Presbiteriana Mackenzie, em 1947 o demiurgo mato-grossense se elegeu suplente de vereador pelo PDC. Com a cassação dos mandatos de parlamentares do partido comunista, ele passou a titular e exerceu o cargo até 1950, quando conquistou uma cadeira na Câmara Federal. Na sequência, foi prefeito de São Paulo e governador do Estado. 

Em 1958, Jânio foi eleito deputado federal pelo Paraná, mas viajou para o exterior e não participou de uma única sessão no Congresso. Ao retornar, disputou a presidência de República e obteve 48,26% dos votos, derrotando Henrique Lott (32,94%) e Adhemar de Barros (18,79%). No mesmo pleito, João Goulart, do PTB, foi reeleito vice-presidente (vale destacar que a Constituição de 1946, vigente à época, não exigia a formação de uma chapa com candidatos a presidente e vice do mesmo partido, de modo que qual era eleito em uma votação separada).

Jânio foi empossado Presidente em 31 de janeiro de 1961 e renunciou em 25 de agosto daquele ano. Durante seus seis meses e pouco no Planalto, ele se manteve em evidência criando factoides (qualquer semelhança com Bolsonaro não é mera coincidência), mas jamais contou com o apoio do Congresso. 

Ao perceber que Jânio fugia ao controle das lideranças da UDN, o então governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, arvorou-se em porta-voz da campanha contra o presidente. Não tendo como acusá-lo por corrupção — tática que havia usado contra seus dois antecessores —, Lacerda denunciou uma suposta trama palaciana e acusou o ministro da Justiça de tê-lo convidado a participar de um golpe de Estado para fechar o Congresso.

O pronunciamento, feito em 24 de agosto de 1961, foi transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão. No dia seguinte, depois de receber uma reprimenda dos três ministros militares em meio às comemorações do Dia do Soldado, Jânio apresentou sua carta-renúncia.

Em edição extraordinária, o Repórter Esso — principal noticiário da época — atribuiu a renúncia a "forças ocultas", e foi essa a versão que entrou para a história, ainda que o ex-presidente jamais tivesse proferido tais palavras. Certa vez, questionado sobre a renúncia por uma convidada durante um almoço em casa de amigos, Jânio respondeu: “Renunciei porque a comida no Palácio da Alvorada era uma droga como é aqui, e a companhia era quase tão ruim quanto a companhia daqui”. E foi-se embora sem sequer se despedir do anfitrião.

Outra resposta atravessada de Jânio sobre a renúncia é a folclórica frase "Fi-lo porque qui-lo", que não passa de lenda urbana. Mas ele disse algo parecido numa reunião com os governadores, durante o anúncio de reformas educacionais, quando o ministro da Educação, pego de surpresa pelo anúncio, perguntou-lhe por que não havia sido avisado com antecedência. Jânio respondeu: “Fi-lo porque estou convencido de que é a melhor solução; fi-lo porque esta nação tem pressa e fi-lo porque sou presidente. Como vê, senhor Ministro, fi-lo porque qui-lo.” 

O detalhe é que o manguaceiro dominava como poucos o idioma de Camões, e sabia melhor que ninguém que a forma correta seria "filo porque o quis".

Continua...

sexta-feira, 14 de julho de 2023

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO



Segundo o ministro da Defesa, José Múcio, o fato de Mauro Cid comparecer fardado à CPMI dos Atos Golpistas não afrontou a Comissão. Mas gastar oito dos 15 minutos da manifestação inaugural jactando-se de sua formação militar e vinculando ao Exército os atos que praticou como esbirro de Bolsonaro foi um acinte, a exemplo de sua recusa a responder qualquer pergunta, inclusive sobre a própria idade (!?). Ao instruírem-no a se apresentar de farda, seus superiores transformam um drama criminal num processo de desmoralização das FFAA; ao transformarem a inquirição num show de horrores intercalado por exibições de despreparo, os parlamentares produziram material para a convocação de uma outra CPI para investigar a inutilidade de certas CPIs


Ao informar que ficaria em silêncio para não se autoincriminar, o não-depoente reconheceu estar encrencado em oito inquéritos (por participação nas manifestações golpistas de 8 de janeiro, nos atos antidemocráticos de 2019, no caso das joias sauditas e na fraude nos cartões de vacinação, e por cumplicidade com as milícias digitais bolsonaristas na propagação de fake news, pagamento em dinheiro vivo de despesas da ex-primeira-dama e vazamento de inquérito sigiloso). Nenhuma dessas atividades está inserida no rol que o Exército chamou de "temas referentes à função" para a qual ele fora designado. 


Se estivesse em trajes civis, Cid teria desonrado apenas a si próprio; fardado, empurrou as Forças Armadas para dentro de inquéritos que enferrujam a reputação de um oficial cuja carreira estava fadada a atingir o generalato e cujo silêncio transformou o nada numa palavra que ultrapassa tudo. CPMI, por sua vez, deixou claro que seu funcionamento dificilmente resultará em algo útil. Planejada pela oposição e controlada pelo governo, a comissão transformou-se numa versão coletiva da velha prática de jogar dinheiro público pela janela. Se pudesse, o contribuinte acionaria o Procon. Como a inutilidade legislativa não se encaixa no ramo do Direito do Consumidor, resta torcer para que os parlamentares desenvolvam por conta própria o senso do ridículo.


***


A morte de políticos em circunstâncias trágicas é terreno fértil para teorias da conspiração. A viagem sem volta de Adriano da Nóbrega, Gustavo Bebianno, PC Farias, Luís Eduardo Magalhães, Eduardo CamposUlysses Guimarães, Celso Daniel, Toninho do PT e Juscelino Kubitschek (entre outros) para a terra dos pés juntos levantou suspeitas pelas mais diversas razões (um sabia demais, outro pretendia denunciar esquemas de corrupção, outro foi vítima de vingança, e por aí segue a procissão). 

 

A versão segundo a qual PC Farias foi morto pela namorada, que se suicidou em seguida, não convence nem a Velhinha de Taubaté, embora tenha bastado para o STF a determinar o arquivamento do inquérito que investigava o deputado Augusto Farias (mais detalhes nas postagens finais da sequência Collor lá...). Claro que teorias conspiratórias não envolvem somente políticos, e que algumas são tão bizarras que chegam a ser risíveis. Para muitos lunáticos, a alunissagem da Apollo 11 foi encenada num deserto dos EUA, seres evoluídos habitam as profundezas da Terra, Keanu Reeves é imortal, a longevidade da rainha Elizabeth II devia-se à ingestão regular de carne humana, Bolsonaro foi um grande presidente e Lula é a alma viva mais honesta do Brasil.

 

Durante sua campanha, Juscelino Kubitschek prometeu 50 anos de progresso em 5 anos de governo. Eleito presidente, construiu Brasília, abriu a economia para o capital internacional e criou um sem-número de empregos (diretos e indiretos). Como nada é perfeito, rios de dinheiro canalizados para erguer do nada uma cidade no meio do nada inflou barbaramente a dívida externa. Além disso, as novas oportunidades de emprego ensejaram um êxodo rural desordenado, e a migração de trabalhadores do campo para as cidades prejudicou a produção agrícola e fomentou o aumento da pobreza, da miséria e da criminalidade. Em meados dos anos 1970, JK soube pela imprensa que ele teria morrido quando ia de sua fazenda em Luziânia (GO) para Brasília. Ele disse a seu secretário: "Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram". Mas não há nada como o tempo para passar: duas semanas depois, ele morreu quando o Chevrolet Opala em que viajava colidiu com uma carreta.

 

Teorias conspiratórias sustentam que o motorista do ex-presidente levou um tiro na cabeça — tese corroborada pelo condutor da carreta, que disse tê-lo visto "debruçado entre o volante e a porta do automóvel". Mas as marcas dos pneus no asfalto indicam que houve uma tentativa de recuperar o controle do veículo antes da colisão — o que não poderia ter feito por alguém que estivesse morto ou inconsciente. Já o motorista do ônibus que contribuiu para o acidente ao "esbarrar" no carro relatou que dois homens lhe ofereceram dinheiro para assumir a culpa. Um passageiro afirmou que o motorista perdeu o controle di carro porque bateu na mureta, mas a perícia encontrou vestígios da tinta do Opala na lateral do ônibus e vice-versa (os passageiros não perceberam a "leve colisão" por estarem num veículo de 12 toneladas). 

 

Segundo outra teoria, um explosivo foi colocado no carro durante uma parada no hotel-fazenda do brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte — que era ligado ao SNI, e uma terceira sustenta que os freios do Opala foram sabotados. Mas a perícia não encontrou resíduos de explosivo na carcaça do carro nem problemas com o sistema de freios. O perito criminal Alberto Carlos de Minas disse que viu um buraco de bala no crânio do motorista de JK, mas os policiais o impediram de fotografar. 

 

Sem acreditar que a morte de Juscelino foi acidental, Serafim Jardim, seu secretário e autor do livro Juscelino Kubitschek — Onde está a verdade? pediu a exumação do corpo do motorista em 1996. De acordo com o médico-legista Márcio Alberto Cardoso, que acompanhou a exumação, não havia perfurações ou fratura no crânio, apenas o fragmento de um prego daqueles usados para fixar a estrutura de pano nos caixões".

 

A versão de que JK foi vítima de conspiração voltou a ser derrubada em 2001. Convidados para auxiliar nos trabalhos da comissão criada para elucidar os fatos, os peritos criminais Ventura Raphael Martello Filho e João Bosco de Oliveira concluíram que tudo não passou de um acidente. "Com 40 anos de experiência, não consegui descobrir, por meio de laudos, fotos, recursos técnicos e análise do local, que houve ali outra coisa a não ser um acidente de trânsito. O parecer técnico foi feito. Há uma série de impropriedades e argumentos infantis", disse Martello.

 

Mais de trezentas mil pessoas assistiram ao funeral de JK em Brasília, E entoaram a música que se tornou símbolo do ex-presidente: Peixe Vivo. Mas o
 caso continua imerso em brumas, ainda que o fato de o político mineiro ser malvisto pela cúpula do Exército não significa que sua morte tenha resultado de uma conspiração dos militares. 

Continua...

quarta-feira, 6 de julho de 2022

SE NÃO FOSSE TRÁGICO SERIA CÔMICO

 

"É UM ABSURDO ESSA COISA DI PARCERIA COM O PT, TÁ LIGADO? NÓIS É BANDIDO, MAIS TEM VERGONHA NA CARA. TÁ PENSANO O QUÊ?! NÓIS NUM VAI NA MISSA PRA PEDI VOTO EM ANO DE ELEIÇÃO. NÓIS NUM É LOCO. NÓIS MATA, MAIS NUM MANIPULA FOTO. NÓIS ESQUARTEJA, MAIS NUM CHEGA NEM PERTO DUMA URNA ELETRÔNICA. O BAGULHO É LOCO, MAIS TUDO TEM LIMITE. TUDO!"

 

Muita coisa anda em falta no Brasil. De salsicha em lata a biscoito Salpet. De político com vergonha na cara a eleitor consciente. Mas sobram crimes mal resolvidos e, consequentemente, teorias conspiratórias. Cito como exemplos o "suicídio" de Getúlio Vargas (1954); o "acidente" rodoviário que matou Juscelino Kubitscheck (1976); os "acidentes aéreos" que mataram Ulysses Guimarães (1992), Eduardo Campos (2014) e Teori Zavascki (2017); a estranha morte de PC Farias; os assassinatos de Toninho do PT (2001) e Celso Daniel (2002); o atentado contra Bolsonaro (2018); o assassinato de Marielle Franco (2018); a morte de Gustavo Bebianno (2020); a execução de Adriano da Nóbrega (2020); e por aí segue o féretro, digo, segue a procissão.

 

Sérgio Gomes da Silva, mais conhecido como "O Sombra", foi apontado em 2003 como o mentor intelectual da execução de Celso Daniel. O processo foi anulado em 2014, Sombra morreu de câncer em 2016 e o crime continua envolto em sombras. Em sua delação premiada, Antonio Palocci referendou a versão oficial, descartando qualquer vínculo com a cúpula do PT (talvez medo de acabar como Celso Daniel).

 

Observação: Uma década antes de o escândalo do Petrolão vir a público, o co-fundador do PT Cesar Benjamin denunciou uma série de financiamentos de bancos e empreiteiras para a campanha de Lula à Presidência. Perguntado pela revista Época se achava que esses episódios tinham ligação com a morte de Celso Daniel, ele respondeu: “Eu não acho, tenho certeza. E houve muitos cadáveres morais. Este foi o físico.” (Não só aquele diga-se; outras sete pessoas ligadas ao caso morreram, entre elas o legista que atestou que o prefeito foi barbaramente torturado antes de ser assassinado). Em 2015, já desfiliado da sigla, Benjamin postou no Facebook um texto pra lá de sugestivo. 

 

Também em delação premiada à PF, o ex-mensaleiro Marcos Valério afirmou que foi encarregado de pagar R$ 6 milhões pelo silêncio do empresário Ronan Maria Pinto, que teria informações sobre a ligação do PT e o PCC com a morte do ex-prefeito de Santo André, e estaria chantageando Lula et caterva (saiba mais sobre o Mensalão e o assassinato de Celso Daniel no livro O CHEFE). Valério disse que, na época (2005), administrava um caixa clandestino do PT de R$ 100 milhões, e que "(...) eu tinha muito mais que os seis milhões na mão deles, eu tinha umas dez vezes mais que isso na mão, então, pagar os 6 milhões não era o problema".

 

De acordo com a Gazeta do Povo, a notícia não fez nem cócegas na burguesia petista. "Muito estranho ressuscitarem Marcos Valério e até Celso Daniel a poucos meses da eleição", disse um sindicalista. "Tinha que ser careca mesmo!", desprezou um professor universitário. "Vocês vão ter que engolir o Lula", afirmou ou argumentou ou ameaçou alguém que passou atrás do jornalista Paulo Polzonoff Jr., autor da matéria. Nas cadeias, contudo, a reação foi bem diferente. 

 

Segundo matéria publicada em VEJA, Marcos Valério é um homem de muitos segredos. No escândalo do mensalão, pelo qual foi condenado a 37 anos de cadeia, atuou como operador de pagamentos a parlamentares em troca de apoio no Congresso ao então presidente Lula. Quase dez anos depois, a revista revela trechos inéditos da delação premiada que o publicitário fechou com a PF — e que foi homologada pelo então decano do STF, ministro Celso de Mello. Em um de seus mais emblemáticos depoimentos, Valério afirma que ouviu do então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, detalhes sobre o que seria a relação entre petistas e a principal facção criminosa do país.


Valério informou que o empresário do ramo dos transportes Ronan Maria Pinto chantageava o então presidente para não revelar o que supostamente seria uma bala de prata contra o partido: detalhes de como funcionava o esquema de arrecadação ilegal de recursos para financiar petistas. O delator afirma que soube da suposta chantagem contra Lula após conversar PereiraDe acordo com o delator, o então secretário-geral petista o informou que Ronan ameaçava revelar que o PT recebia clandestinamente dinheiro de empresas ônibus, de operadores de transporte pirata e de bingos e que, neste último caso, os repasses financeiros ao partido seriam uma forma de lavar recursos do crime organizado. Valério é claro ao explicar a quem se referia ao mencionar, genericamente, crime organizado: o PCC.

 

Em uma série de depoimentos à PF, que VEJA publicou com exclusividade, o operador do mensalão informa que o então prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002 em um crime envolto em mistérios, havia produzido um dossiê detalhando quem, dentro dos quadros petistas, estava sendo financiado de forma ilegal. 


O que Daniel não sabia, disse o delator aos investigadores, é que a arrecadação clandestina por meio de empresas de ônibus não beneficiava apenas a cúpula partidária: vereadores e deputados petistas que mantinham relações com o crime organizado estavam recebendo livremente dinheiro sujo. Na versão do operador do mensalão, o dossiê elaborado pelo prefeito assassinado simplesmente sumiu.

 

Ainda segundo a reportagem, após o assassinato de Daniel o partido cuidou de afastar os políticos envolvidos com o PCC. "A posteriori, o PT fez uma limpa, tirando um monte de gente, vereador, que era ligado ao crime organizado. Vocês podem olhar direitinho que vocês vão ver que o PT fez uma limpa, expulsando do partido essas pessoas", disse Valério.

 

VEJA tentou falar com Silvio Pereira, que não retornou os contatos. Paulo Okamoto, um dos atuais coordenadores da campanha de Lula, demonstrou irritação ao ser questionado sobre as acusações de Valério sobre ligações do partido com a facção criminosa. “Tem que perguntar para o pessoal do PCC. Eu não tenho nada para te informar sobre isso”, afirmou.


A Lava-Jato descobriu que metade dos R$ 12 milhões de um empréstimo ilegal solicitado por José Carlos Bumlai ao banco Schahin, a pedido do PT, foi usado para pagar Ronan. Semanas atrás, a Polícia Civil deflagrou operação contra esquema de lavagem de dinheiro para o PCC. Um dos alvos foi o vereador Senival Moura, líder do PT na Câmara de Vereadores de São Paulo e dono de frota de ônibus. Em outra frente recente, o Denarc de São Paulo acusa João Muniz Leitecontador de confiança da família de Lula, de lavar dinheiro para o mesmo grupo criminoso. Muniz também foi alcançado pela Lava-Jato.


Encerro com um texto (resumido) de Rodrigo Constantino, que, a meu ver, peca por defender incondicionalmente o governo Bolsonaro, mas é cirúrgico quando se trata de dar os nomes aos bois do PT.


"Ligações entre o PT e o crime organizado não chegam a surpreender, considerando que Lula e Fidel Castro fundaram o abjeto Foro de São Paulo. Um vereador petista de SP é denunciado por lavar dinheiro do PCC em operação de ônibus. O contador de Lula era também responsável por lavar dinheiro do PCC, segundo denúncia. Quanta coincidência, não? 


'A esquerda radical e o crime organizado sempre dividiram afinidades ideológicas e pragmáticas. Não obstante, militantes disfarçados de jornalistas não querem investigar nada disso. Não querem sequer repercutir as denúncias de gente de dentro dessas quadrilhas, como o deputado do partido de Evo Moralles que denunciou o financiamento do narcotráfico às campanhas deles. O braço direito do ditador Nicolás Maduro é notório traficante. Cuba virou hub do tráfico de drogas internacional e do terrorismo sob os Castro


'Quem pode fingir surpresa quando o assunto é a ligação do comunismo com o tráfico de drogas? É lamentável o esforço da imprensa em ajudar o líder da quadrilha petista a voltar ao poder no Brasil."

 

Perfeito.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

PROTESTOS E VANDALISMO NO DF — O APERITIVO

 

Tivemos apenas duas trocas de comando da oposição para a situação desde a redemocratização: de Fernando Henrique para Lula em 2003 e de Michel Temer para Bolsonaro em 2019. Na última segunda-feira, porém, assistimos ao prelúdio do que pode acontecer no dia 1º de janeiro: o que era para ser uma simples diplomação dos candidatos eleitos a presidente e vice acabou em tumulto: três carros e cinco ônibus foram queimados. 


Os atos de vandalismo terminaram sem presos. Brasília amanheceu a terça-feira (13) com equipes da PMDF em frente ao prédio-sede da PF, para reforçar a segurança da região. Questionada a respeito de prisões, a corporação passou a bola para a Secretaria de Segurança Pública", mas o secretário Júlio Danilo disse que "ainda não tinha essa informação". A polícia dispersou cerca de 200 manifestantes usando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Vias próximas à sede da PF, na área central de Brasília, foram fechadas. Em nota, a PM do DF afirmou que os protestos começaram após a prisão temporária do líder indígena José Acácio Serere Xavante, que fez ataques às urnas eletrônicas e chamou o presente do TSE de "ladrão e bandido". 

 

Durante a diplomação, o ministro Alexandre de Moraes ressaltou a vitória plena e incontestável da democracia e do Estado de Direito contra os ataques antidemocráticos e a desinformação, e garantiu que os grupos radicais serão "integralmente responsabilizados para que isso não retorne nas próximas eleições". Vale lembrar que o presidente de turno do TSE também é ministro do STF e relator de diversas investigações envolvendo esses grupos. Em seu discursoLula agradeceu os eleitores e criticou Bolsonaro


Apoiadores do presidente, frustrados com o silêncio de seu "mito" falaram em "abandonar a causa" e em "fazer papel de bobo esperando uma revolução". Houve até quem atribuísse o vandalismo a “infiltrados”"Depois que surgem os efeitos práticos de todas as ações e pregações de um grupo político, esse grupo tenta se eximir de qualquer responsabilidade atribuindo as condutas mais perversas, mais vândalas, ao grupo político adversário. É lamentável que não tenha havido uma ação da polícia para prender aqueles que estavam depredando patrimônio público e privado. Não importa se é de direita ou se é de esquerda, quem faz isso é criminoso", comentou Felipe Moura Brasil em sua coluna no UOL.


Arthur Lira, o presidente da Câmara eleito graças a Bolsonaro e ao "orçamento secreto", disse que os protestos fazem parte da democracia, mas que "repudia veementemente" a desordem e a violência. Já o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, chamou os vândalos de "minoria raivosa"No final da noite, o Secretário de Segurança Júlio Danilo declarou que a ordem havia sido reestabelecida. O governador Ibaneis Rocha disse que “a ordem é para prender os vândalos”, e o ministro da Justiça, Anderson Torres, que manteve estreito contato com a SSP e o governo do DF a fim de conter a violência. Em razão do tumulto, a PM reforçou a segurança de Lula, Alckmin e de grande parte a equipe de transição.

 

Após  protesto violento de bolsonaristas, as redes sociais foram tomadas por rumores de que Lula seria retirado do hotel em que está hospedado, mas a informação foi negada pela equipe de transição. Ainda na noite de segunda-feira, o governador do DF prometeu reforçar a segurança e prender os vândalos.  O futuro Ministro da Justiça convocou uma coletiva de imprensa para garantir que o presidente eleito está em “absoluta segurança” e tomará posse em 1º de janeiro de 2023.

 

Na manhã de terça-feira, a PMDF informou que ainda havia pontos de bloqueio nas vias, com ônibus queimados, e que esses trechos estavam fechados para "desobstrução e limpeza”. O metrô não teve interferências e operava sem interrupções. Mas o centro de Brasília mais parecia um campo de guerra, com carros e ônibus incendiados, explosões, tiros, bombas e um rastro de destruição por onde passaram manifestantes bolsonaristas na noite anterior. 


As ações precisam ser punidas caso o Brasil não queira oficializar o status de simulacro de democracia, uma possibilidade cada vez mais real desde que o atual inquilino do Planalto chegou ao poder e almeja perpetuar-se nele. Nada mais adequado para um projeto de ditador que, às vésperas do prazo de deixar o poder, haja uma série de distúrbios civis para que uma operação de garantia da lei e da ordem seja decretada e, assim, as ruas da capital federal sejam tomadas por militares. Seria a antessala de um golpe tão desejado pela extrema direita. Houvesse forças militares leais à democracia, Bolsonaro já teria sido preso ou forçado a renunciar numa reedição do golpe da legalidade que assegurou a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart em 1956, como presidente e vice-presidente da República respectivamente. Mas Lula e Alckmin não dispõem de um general Lott disposto a debelar o golpismo. Sem divisões e armas, por quanto tempo o ministro Alexandre de Moraes conseguirá conter o avanço do terrorismo bolsonarista? 

As duas semanas e meia que nos separam da posse de Lula e Alckmin serão as mais tensas desde o fim da ditadura militar. Derrotado aos olhos do mainstream político, Bolsonaro sugeriu aos apoiadores que montaram guarda em frente ao Alvorada que pode resistir ao fim de sua presidência dependendo do alcance do movimento golpista. "Nada está perdido", disse o presidente.

O sangue de brasileiros que jorrar pelas mãos de outros compatriotas daqui por diante será não apenas responsabilidade de Jair Messias, mas daqueles que, contra todas as evidências de golpismo, nele votaram nos dois turnos da última eleição. Não há inocentes nessa história. Depois de quatro anos de desgoverno e bravatas autoritárias, o caráter golpista de Bolsonaro não deveria ser segredo para mais ninguém. Enquanto nada estiver perdido para o filhote da ditadura, todos os riscos estarão à mercê da democracia e, portanto, das nossas vidas. 

Ou o Brasil se livra do bolsonarismo ou seus terroristas acabam de vez com qualquer projeto viável de nação.


Com Vinícius Rodrigues Vieira

sábado, 20 de julho de 2024

CÂMBIO MANUAL, AUTOMÁTICO OU AUTOMATIZADO? (PARTE II)

AS MÍDIAS SOCIAIS DERAM DIREITO DE FALA A APEDEUTAS QUE ATÉ ENTÃO SÓ FALAVAM DE POLÍTICA NA MESA DO BAR, DEPOIS DE ENTORNAR MEIA DÚZIA DE BREJAS.

 
A fabricante de carrocerias Grassi começou a montar ônibus no Brasil em 1908 (e continuou montando até 1970) e a Ford, a montar o Modelo T (que foi carinhosamente apelidado de "Ford Bigode") em 1919. A General Motors implantou sua linha de montagem em 1925 e a Harvester começou a montar caminhões em 1926. Mas os automóveis feitos aqui só começaram a trafegar pelas ruas e estradas tupiniquins em 1945; até então, o Brasil mantinha uma frota envelhecida de carros, utilitários e caminhões americanos e europeus dos anos 30. Mas não há nada como o tempo para passar. 
 
De 1941 até o fim da Segunda Guerra Mundial, o número de fábricas de autopeças cresceu dez vezes no Brasil. Entre 1945 e 1952, o país gastou mais com veículos e produtos automotivos do que importando petróleo e derivados ou trigo. No início da década de 50, carros ingleses e alemães começaram a disputar espaço com os americanos. Em 1956, o presidente Juscelino Kubitschek (aquele dos 50 anos em 5) instituiu o GEIA, mas aí veio o golpe de 64 e as barreiras 
quase impostas às importações pelos retrógrados governos militares. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A decisão da PGR de denunciar ao STF os detratores de Alexandre de Moraes e família ainda vai dar pano pra manga. Em fevereiro, a PF concluiu a investigação sem indiciar ninguém, mas o Maquiavel de Marília determinou a realização de diligências complementares. 
Depois que o delegado do caso, Hiroshi Sakaki, foi substituído pelo chefe dele, Thiago Severo, a severidade se abateu sobre o inquérito, elevando-o da trilha do arquivo para o ápice de um triplo indiciamento: Desconsiderando o parecer técnico da própria PGR, o procurador-geral Paulo Gonet decidiu denunciar os acusados. 
Há inquéritos que sobem e inquéritos que descem. No caso da agressão sofrida pelo ministro Alexandre, assistiu-se ao sobe e desce no âmbito de um mesmo inquérito. A gangorra deixou bamba a denúncia da PGR: embora nenhum dos denunciados disponha de foro privilegiado, caberá ao STF decidir se os envia ou não ao banco dos réus.
 
O câmbio manual reinou absoluto até 1969, quando a Ford lançou uma versão mais requintada do Galaxie com transmissão automática de 3 velocidades por comando hidráulico (que era sinônimo de respostas lentas e consumo elevado). Mais adiante, o Ford Del Rey (edição premium do Corcel II), o Chevrolet Opala (e suas versões Comodoro e Diplomata), o Monza, também da GM, e o Volkswagen Santana ganharam caixas automáticas de 3 e 4 velocidades (controlados por um processador, que as tornava mais rápidas e precisas que a do Landau). Mas todos venderam bem menos do que os modelos com câmbio manual.
 
Com o fim da reserva de mercado e a liberação das importações no governo Collor, nossas "carroças" ganharam injeção eletrônica de combustível, freios ABS, travas e vidros elétricos, ar-condicionado e outros mimos impensáveis no tempo dos jurássicos fuscas, brasílias, chevettes, corcéis e assemelhados. Os primeiros motores a álcool surgiram no final dos anos 1970, mas eram carburados, e o slogan "Carro a álcool, você ainda vai ter um" ganhou ares de praga de madrinha. O advento da injeção eletrônica possibilitou o desenvolvimento dos motores "flexíveis", capazes de funcionar com gasolina, álcool ou uma mistura desses dois combustíveis em qualquer proporção, já que a centralina faz os ajustes necessários automaticamente. Mas isso é outra conversa.
 
Ainda que tardiamente, os brasileiros foram seduzidos pelo conforto proporcionado pelo câmbio automático. Isso inclui aqueles que não abrem mão de uma tocada mais esportiva, já que a troca de marchas "sequencial" proporciona um desempenho semelhante (quando não superior) ao dos veículos com câmbio manual. O questão é que, a exemplo dos pães de forma, que custam mais caro na versão sem casca, a eliminação do pedal de embreagem aumenta o preço final dos veículos de 5% a 20% (conforme a marca e o modelo).
 
De olho nos consumidores que não hesitariam em dar adeus pedal da embreagem se a alternativa não custasse tão caro, a Fiat lançou o Palio Citymatic em 1999. Nesse modelo, a embreagem era acionada por um sensor na alavanca de câmbio que percebia quando o motorista tirava o pé do acelerador. Mas o fiasco de vendas foi tamanho que a GM só apresentou sua versão de câmbio automatizado em 2007, com a Meriva Easytronic — e logo foi seguida pela VW e pela Ford
 
Tanto o câmbio automático "puro" (com conversor de torque) quanto o automatizado (ou robotizado) desobrigam o motorista de acionar a embreagem e trocar manualmente as marchas, mas são tecnologias diferentes. Os automatizados são menos caros e mais fáceis de manter porque utilizam a mesma caixa de câmbio manual combinada com um "robô" que aciona a embreagem e troca das marchas. Veremos isso em detalhes ao longo dos próximos capítulos.