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sábado, 20 de junho de 2020

A POLÍTICA É COMO AS NUVENS...



A melhor maneira de não se decepcionar com as pessoas é não esperar demais delas. E esperar que Jair Bolsonaro fizesse um bom governo seria querer demais.

Apenas para relembrar alguns episódios que lustram o reluzente currículo do presidente, o general-ditador Ernesto Geisel referiu-se ao então oficial da ativa como um “caso completamente fora do normal, inclusive mau militar“ (o capitão teve sua carreira no exército abortada por indisciplina e insubordinação), e os anais da Câmara Federal comprovam que o parlamentar medíocre em que se transformou o mau militar conseguiu o prodígio de aprovar dois míseros projetos ao longo de quase 28 anos como deputado do baixo clero.

Pode-se gostar ou não do capitão da caverna das trevas — e fica mais difícil gostar dele a cada dia —, mas não se pode acusá-lo de estelionato eleitoral, nem sua gestão manifestamente inepta, incompetente, desnorteada, fisiologista, ideológica e lunática, de não proporcionar fortes emoções.

Parte dos 57,7 milhões de votos que elegeram o candidato Bolsonaro a presidente Bolsonaro proveio não dos bolsomínions atávicos e outros bolsonaristas de raiz, mas de eleitores que se viram sem alternativa para impedir a volta da quadrilha petista ao Planalto com a eleição do patético bonifrate do então presidiário de Curitiba, pois engrossar a ala dos 42 milhões de brasileiros que votaram em branco, anularam o voto ou se abstiveram de votar só fortaleceria o aprendiz de desempregado que deu certo.

Guardadas as devidas proporções, fizemos em 2018 o que Bolsonaro tem feito desde seus primeiros no Planalto: cavar ainda mais fundo para tentar sair do buraco. Felizmente, noves fora a inexorabilidade da morte, para tudo nesta vida há remédio, conquanto seja importante atentar para a dosagem, pois é justamente a dose que diferencia o fármaco do veneno. Dizendo de outra maneira, uma dose insuficiente da medicação não cura, mas uma overdose pode matar o paciente.    

Por mal de nossos pecados, não bastasse a tempestade perfeita que desabou sobre o mundo na forma de uma crise sanitária de proporções bíblicas, combinada com uma recessão econômica para ninguém botar defeito, temos na ponte de comando desta nau de insensatos um oficial incapaz de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna. Do jeito que a coisa vai, ou trocamos o comandante, ou o naufrágio será inevitável.

Política é como nuvem; você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela já mudou...”, dizia Magalhães Pinto. E com efeito. Ao observar o cenário político que se descortinou ao longo da semana que termina amanhã — de acordo com a Organização Internacional de Padronização (ISO), o primeiro dia da semana é a segunda-feira, a despeito de religiões como o islamismo, catolicismo e judaísmo, considerarem o domingo aparece como sendo o primeiro dia da semana —, chamou-me a atenção uma ironia do destino, da qual tratarei depois de uma breve contextualização.

Até não muito tempo antes das eleições passadas, as chances de um certo deputado federal tosco e inexpressivo — mas polêmico e dono de uma grosseria a toda prova — vencer a disputa presidencial, sobretudo sendo filiado a um partido nanico e igualmente inexpressivo (o oitavo em seus 30 anos de vida pública), que havia elegido 1 deputado em 2014 e não tinha dinheiro nem tempo de rádio e televisão, eram as mesmas de o inferno congelar. Mas a onda a favor desse candidato inexpressivo e contra o PT emplacou não só o dito-cujo, mas também promoveu o partido até então inexpressivo a dono da segunda maior bancada na Câmara (atrás apenas do PT).

O ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro e o ex-fuzileiro naval e juiz federal Wilson Witzel defendiam bandeiras similares para áreas como segurança e costumes. Witzel surfou na onda do crescimento do PSL e passou de ilustre desconhecido a favorito entre os candidatos ao governo fluminense quando desenvolveu agendas em conjunto com o então candidato a senador Flávio Bolsonaro (o tal deputado da rachadinha). Mas vento soprou e as nuvens mudaram: Bolsonaro e Witzel passaram de aliados políticos a desafetos depois que o já então governador fluminense cometeu o “pecado mortal” de não atribuir sua vitória ao já então presidente da República, e, pior, aventar em entrevista à GloboNews a possibilidade de disputar a presidência em 2022.

No último dia 10, Bolsonaro comemorou a aprovação da abertura de processo de impeachment de Witzel, por suspeitas de superfaturamento na compra de respiradores e irregularidades na construção de hospitais de campanha para o combate ao coronavírus. O governador chegou a ser alvo de operação da PF no Palácio das Laranjeiras. Na segunda-feira passada, Bolsonaro festejou a publicação (no DOERJ) da abertura do processo de impeachment contra o desafeto, mas na quinta-feira desta mesma conturbada semana, quando a Alerj instalou a comissão especial que irá analisar o processo de impeachment contra Witzel, não houve clima para o presidente comemorar: o ex-PM Fabrício Queiroz, seu amigo de três décadas e ex-chefe de gabinete do primeiro-filho (o da rachadinha) foi preso logo pela manhã, numa casa em Atibaia (SP).

Segundo o caseiro, Fabrício Queiroz estava mocosado ali havia mais de um ano. O dono do imóvel, Frederick Wassef, é advogado de Flávio Bolsonaro e se jacta de ser íntimo do clã presidencial, verdadeiro arroz de festa nos Palácios do Planalto e da Alvorada. Na última quarta-feira, ele compareceu à posse do novo ministro de Comunicações, Fábio Faria. No dia seguinte, depois que seu hóspede ilustre foi preso, o digníssimo anfitrião tornou-se apenas “o advogado de Flávio”. Não demora e os defensores lunáticos do general da banda começarão a dizer que os dois sequer se conheciam. Frederick o quê? Nunca ouvi falar.

Em nota, a advogada Karina Kufa, que defende o presidente nas ações eleitorais que pedem a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão e cuida dos detalhes legais da criação do partido Aliança pelo Brasil, disse que Wassef representa apenas Flávio. “Todas as ações do senhor Jair Messias Bolsonaro, sejam elas cíveis, criminais ou eleitorais, em curso no poder judiciário, exceto aquelas de competência da AGU, estão sob a responsabilidade deste escritório, cuja única sócia é sua fundadora, Karina Kufa”.

A gargalhada do diabo: de aliados, o presidente e o governador passaram a desafetos, e agora ambos pisam em brasas. Contra o primeiro já tramita um processo de impeachment; o segundo é investigado no STF por interferência na PF e pode ser arrastado para o olho do furação Queiroz/Flávio Bolsonaro.

Como se vê, as nuvens mudaram. Resta saber como se comportarão ao longo dos próximos dias. Mas isso a gente só vai saber nos próximos dias.

domingo, 5 de setembro de 2021

FALTAM DOIS DIAS...

 

A dicotomia semeada décadas atrás pelo demiurgo de Garanhuns com seu abjeto "nós contra eles" se espalhou como metástase e alcançou os píncaros com a oposição do bolsonarismo boçal ao lulopetismo corrupto (como bem sabe quem "frequenta" redes sociais, onde fake news disputam espaço com toda sorte de vitupérios trocados entre defensores atávicos dos dois extremos do espectro político-ideológico). 

Longe de mim defender a censura ou seja lá o que for que impeça as pessoas de expressar livremente suas opiniões (afinal, quem dá voz a burros não pode reclamar dos zurros). Mas para tudo deve haver limites, e a polarização desbragada não é exceção, sobretudo quando ela chega ao ponto de criar um clima de incerteza que desestimula investimentos, prejudica a formação de consensos mínimos para reformas e afeta o funcionamento das instituições e a governabilidade do país.

Estamos prestes a assistir mais dois dias de comícios, um “em defesa das liberdades” e outro “contra o fascismo”, num exercício de grandiloquência a gosto pela toxina política poucas vezes visto por estas bandas. O diabo é que a hiperpolarização transborda, inundando com a lógica da política as demais áreas da vida. As amizades, por óbvio, começam a balançar quando João vai à Paulista no dia 7 e a Catarina, no dia 12. Daí o traço do exagero. O debate feito à moda do espantalho. A ideia de que o outro lado é “inadmissível”, pois nós somos a “própria democracia”.

A polarização aguda está longe de ser um fenômeno da base da sociedade. Seu ecossistema é o da minoria barulhenta, que dá o tom do debate público, em especial na Internet. A democracia digital se tornou um gigantesco mecanismo de seleção adversa. Em vez de selecionar gente ponderada para liderar, disposta a gerar consensos e resolver problemas (pasmem: é para isso que a política foi inventada), tende a premiar o bufão ou o “grande moralista”. O senador que lacra na CPI, o deputado que bomba detonando o STF (achando que não acabará na cadeia) e assim por diante.

O resultado disso é a mediocrização do debate público. A maioria dos temas importantes da vida pública não se encaixa na lógica do tudo ou nada, e só ao pequeno mundo político interessa ir contra ou a favor de alguma coisa apenas porque ajuda ou atrapalha o governo.

Há, em regra, boas razões a favor e contra qualquer política relevante. Há ajustes a fazer e gente diferente a ser escutada. Mas a polarização doentia expulsa a sutileza e a atenção a efeitos adversos de qualquer decisão e, de quebra, torna boa parte da imprensa acrítica, ao confundir senso crítico com a adoção de uma agenda política — que em geral se resume a variações sem fim dos mesmos xingamentos.

A polarização obsessiva esgarça as instituições, mas é essencialmente um tema da cultura política de nossas democracias. Vivemos em paz, mas é a estética da guerra que parece dar o tom no atual cenário político. Daí o interesse renovado pela obra de Carl Schmitt. Suas construções sombrias, feitas nos anos difíceis que assistiram ao fim da República de Weimar, parecem pairar sobre a política atual.

Da ideia de que a vida política “é a vida essencial”, a descrença na suavidade e nas abstrações da democracia liberal advém a ideia de que é a inimizade, e não o diálogo, que define o sentido da política. Nada das palavras doces de Joe Biden sobre converter inimigos em adversários. O elemento natural da política é a relação amigo-inimigo. Definimo-nos como comunidade política, precisamente sabendo quem é nosso “outro”, e o limite disso tudo é a guerra, não o direito.

A democracia liberal, nessa visão, com seu respeito ao pluralismo, direitos individuais e toda a parafernália de freios e contrapesos, torna-se algo como uma fantasia. É evidente que não estamos nesse ponto, entre outras razões porque não estamos na Alemanha dos anos 30. Mas há nuvens no horizonte.

Meio século depois da adesão de Schmitt ao nazismo, Norberto Bobbio fazia uma conferência em Milão sobre a Mitezza — a serenidade ou “moderação” como a virtude desejável na democracia. Seu argumento, depois transformado em livro, prefaciava um tempo em que não há mais tiroteios pelas ruas, mas os modos da guerra, seus jeitos e sua intolerância, pareciam sobreviver. E isso não era bom. Daí sua pregação algo utópica sobre a Mitezza. A virtude das pessoas simples que não desejam o poder pelo poder. A virtude horizontal, das pessoas que se miram na altura dos olhos, como iguais em legitimidade e direitos. A virtude “fraca”, diz Bobbio, por definição “impolítica”, novamente contrastando com Schmitt, nos lembrando que a política não é tudo, que ela tem limites e que o poder não pertence aos homens, mas ao direito. E, por fim, uma virtude estética: a suavidade ao invés da arrogância.

O 7 de setembro se aproxima e ninguém sabe o que esperar. A promessa bolsonarista era algo realmente perigoso, com muita gente armada, incluindo policiais, ameaça escancarada de invasão do STF e golpe de Estado. Mas o tom baixou, e o foco foi deslocado para uma defesa vaga da “liberdade” — não no conceito moderno, em que a liberdade de um termina onde começa a do outro, mas no da lei do mais forte: liberdade para desmatar, recusar máscaras e vacinas, comprar fuzil, mentir, difamar, ameaçar.

É repugnante, mas não configura risco real. A mudança de foco, entretanto, não tranquiliza. Ninguém controla uma turba depois de insuflada, e ela vem sendo insuflada há muito tempo. O próprio presidente voltou a subir o tom. “Nunca outra oportunidade para o povo brasileiro foi ou será tão importante quanto esse nosso próximo 7 de setembro (...) chegou a hora de nós, no dia 7, nos tornarmos independentes para valer (...) esse norte será dado com muita força no próximo dia 7 (...) eu tenho três alternativas: estar preso, estar morto ou a vitória (...) se você quer paz, prepare-se para a guerra.”

Em que pese Bolsonaro ser bravateiro, o recado é claro. Além disso, o presidente é naturalmente beligerante, deixa-se açular com facilidade e age por impulso: uma vez no palanque, diz o que a multidão quer ouvir. Não é impossível que uma frase sua leve à invasão do Supremo ou do Congresso. (É bom lembrar que Trump jamais ordenou a seus fãs que invadissem o Capitólio; ele disse apenas que protestassem, mas o “protesto” foi o que se viu.)

A situação no Brasil é crítica. Aproximamo-nos dos 600.000 mortos, e vão morrer muitos mais antes que a pandemia esteja sob controle. O crescimento está comprometido, o desemprego está nas alturas, a inflação e os juros sobem, o risco de apagão é real. E há a CPI. Ninguém no governo tem competência ou credibilidade para reverter a situação. Não apenas a esquerda reclama de Bolsonaro, mas também jornalistas, economistas, empresários, industriais, banqueiros, o setor moderno do agronegócio, e até militares.

Ninguém mais aguenta tanto desgoverno. A popularidade do presidente cai, a rejeição sobe. A reeleição parece remota, e Bolsonaro dá mostras de que teme ser preso quando deixar o poder (não sem motivo, pois se multiplicam as acusações de que cometeu crimes).

As manifestações do 7 de setembro não têm o poder de melhorar a situação do presidente. Se fracassarem, ele ficará ainda mais fragilizado do que já está; se forem grandes e pacíficas, ele terá dado uma demonstração de força, mas isso não tornará o cenário menos crítico nem aumentará suas chances de ser reeleito. Já se houver arruaça à sua revelia, o clamor pelo impeachment crescerá. E se, acuado, ele partir para o tudo ou nada e tentar o golpe, os militares, como já deixaram claro, não o seguirão. O dano será grande, mas Bolsonaro cairá. Em vez de ser preso no futuro, será preso agora. (O que não deixará de ser, de certa maneira, uma proclamação de independência — para ele e para todos nós.)

Com Fernando Schüller e Ricardo Rangel

sexta-feira, 7 de junho de 2019

O PACTO INSTITUCIONAL PARA INGLÊS VER



A postura de enfrentamento é da natureza de Jair Bolsonaro. Recuos e tentativas conciliatórias há, mas parecem carecer de sinceridade, pois o presidente é useiro e vezeiro e desdizer o que disse — e até o que desdisse. Às vezes, ele age como um estrategista de alto coturno; noutras, como um parlapatão irresponsável. Mas mais irresponsáveis ainda foram os eleitores — refiro-me ao primeiro turno, pois na fase final já não havia para onde correr.

Voltando ao capitão, há quem veja sua beligerância atávica, no velho estilo estudantil “não levo desaforo pra casa”, como um papel que ele interpreta, mas eu acho que isso faz parte de sua personalidade. É como o escorpião da fábula, que convence o sapo a levá-lo nas costas até o outro lado do rio, argumentando que ambos morrerão se ele aguilhoá-lo, mas tasca-lhe a ferroada mesmo assim, porque é da sua natureza e não há nada que ele possa fazer para mudar.

Se o presidente é como é, os deputados e senadores também são como são: demagogos, fisiologistas, venais, interesseiros. Com raríssimas exceções, eles só se preocupam com o próprio umbigo, às favas com os interesses da nação. O presidente da Câmara, por exemplo, brinca de cabo-de-guerra com o chefe do Executivo enquanto uma caudalosa enxurrada de desditos, desmentidos, acordos, pactos e que tais tentam demonstrar o indemonstrável. A exemplo daquelas famílias numerosas do início do século passado, que posavam para a posteridade diante da câmera de um lambe-lambe, Bolsonaro e Maia — e por vezes Alcolumbre — são todos sorrisos, tapinhas nas costas e apertos de mão, mas só nas fotos.

Em entrevista à Globo no último domingo, Maia, que foi lembrado de forma nada elogiosa nas manifestações do último dia 26, disse que falta ao Planalto um plano de governo, que a reforma previdenciária não é a panaceia para todos os males, que o país ruma para um “colapso social” e que nada está sendo feito para impedir que isso aconteça. Na sequência, detonou o tal pacto institucional, afirmando que Toffoli apresentou uma proposta “mais de princípios” e o governo, uma contraproposta “mais política, mais ideológica”, que “Lorenzoni entregou um documento que ninguém leu”, que ficou parecendo que o pacto fora fechado “em cima daquele texto”, e que ele (Maia) só poderia firmar qualquer pacto se “tivesse apoio majoritário” dos partidos, o que dificilmente conseguirá. Aproveitando o embalo, criticou o folclórico ministro da Educação, que não poderia se comportar como "um ator da Disney". Com aliados assim, quem precisa de inimigos?

De acordo com a revista VEJA, o pacto proporcionou uma bela imagem, mas enfrenta resistência de parlamentares e magistrados. No Supremo, o ministro Marco Aurélio (que, graças ao bom Deus, deixa a Corte no ano que vem) botou mais lenha na fogueira ao declarar que Toffoli não tem procuração do tribunal para negociar pactos com outros poderes (e a verdade é que ele não tem mesmo).

No Congresso, o governo continua a colher derrotas. Alcolumbre disse que não vai pôr em votação a medida provisória assinada pelo então presidente Michel Temer (com a anuência de Bolsonaro), que flexibiliza o Código Florestal. Ele alega que a casa não terá tempo suficiente para debatê-la, mas, nas entrelinhas, reforça o coro puxado por Maia sobre a necessidade de pôr um freio na edição de medidas provisórias pelo presidente da República. Na Câmara, os reveses também são sucessivos. Sob a batuta de Maia — cuja caneta, segundo Bolsonaro, tem menos tinta e poder —, os deputados engessara ainda mais o Orçamento da União, anularam um decreto presidencial sobre sigilo de informações, deram início à tramitação de uma proposta de reforma tributária diferente da defendida por Paulo Guedes e, caso da Previdência, declararam que não têm compromisso com a aprovação integral do projeto elaborado pelo superministro. Ambos prometem patrocinar mudanças no texto, para que ele fique mais ao feitio dos congressistas que do Executivo, demonstrando que há uma disputa clara pela paternidade do avanço da agenda econômica.

Nos bastidores, a atuação do presidente da Câmara é vista como uma tentativa de implantar um “parlamentarismo branco”. Há políticos, no entanto, que defendem passos mais ousados. Um grupo suprapartidário de senadores, que reúne quadros do PSDB ao PT, tem debatido a possibilidade de pôr em votação uma emenda constitucional para implantar o parlamentarismo no Brasil a partir de 2022, o que reduziria os poderes de Bolsonaro caso seja reeleito. Outra ideia em estudo é votar o chamado recall do mandato presidencial, que também só valeria a partir de 2022. Ele funcionaria como uma espécie de plebiscito para que os eleitores decidam sobre a continuidade ou não do governo. Apesar das conversas, prevalece por enquanto o entendimento (correto, por sinal) de que ainda não é hora de tirar tais projetos da gaveta, para não conturbar um ambiente político já devidamente conturbado.

A PEC previdenciária será aprovada (só não se sabe com que alcance), mas apenas porque a sociedade civil tem exercido pressão sobre o Congresso, e há nada que os políticos temam mais do que o rugido das ruas. Suas insolências não querem ficar com a pecha de culpados por obstruir a colagem dos cacos da Economia, mas é nítida sua intenção de pôr cabresto em Bolsonaro através da limitação dos poderes do Executivo. Segundo a Folhaesse antigo desejo de deputados e senadores está no topo da lista de ações do “parlamentarismo branco” promovido em meio à desarticulação política do governo.

Observação: Criadas pela Constituição de 1988 em substituição aos decretos-lei da ditadura, as medidas provisórias são o principal instrumento do presidente para legislar, pois têm força de lei, embora precisem ser aprovadas em até 120 dias pelo Congresso para virarem, de fato, uma lei. Por enquanto, não há limite para o uso desse instrumento — em cinco meses de mandato, Bolsonaro editou nada menos que 14 medidas provisórias.

A política é como as nuvens no céu. A gente olha e elas estão de um jeito; olha de novo e elas já mudaram. Um dia depois de ler entrevistas nas quais Rodrigo Maia declarou que a falta de agenda do governo conduz o país ao colapso social, Bolsonaro, em visita à Câmara, tratou o presidente da Casa com respeito e fidalguia, e foi tratado por ele com ensaiada amabilidade — Maia chegou a chamar de projeto de lei importante a peça que o visitante lhe entregou, uma proposta considerada secundária e extemporânea, concebida para afagar motoristas infratores, sobretudo entre os caminhoneiros. Foi o segundo encontro dos dois desde a manifestação pró-governo. No primeiro, discutiu-se o tal pacto entre os Poderes.

Que conclusão se pode extrair de tanta desavença que evolui do cheiro de queimado para a conciliação — e vice-versa — como se tudo se resolvesse num passe de mágica?  Segundo o evangelho de Josias de Sousa, a explicação é a seguinte:

Por um lado, é bom que Bolsonaro e Maia continuem a se falar; por outro, o tipo de relacionamento que a dupla mantém apenas reforça a convicção de que a política é o território da falsidade, da hipocrisia. É como se eles informassem à plateia que não convém levá-los a sério. Coube ao presidente da Comissão Especial sobre a reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos, gritar no Twitter o que Maia e os parlamentares do centrão cochicham em privado: "…O presidente Bolsonaro não tem noção de prioridade e do que é importante pro país. Enquanto estamos num seminário sobre reforma da Previdência ele está vindo pra Câmara apresentar PL (projeto de lei) que trata de aumentar pontos na carteira de maus motoristas."

E cosi la nave va.   

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

ACABOU O CARNAVAL (FINAL)

 

Antes de encerrar esta sequência — ou interrompê-la, melhor dizendo, já que é inevitável retomar o assunto mais adiante —, relembro um brocardo atribuído a Magalhães Pinto: "Política é como as nuvens; a gente olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram". E vou mais além: "Escrever sobre política é como trocar pneu com o carro em movimento", pois o cenário, caleidoscópico, muda numa questão de segundos. 

 

Em seus quatro anos de mandato, Bolsonaro moveu montanhas para converter o Brasil numa autocracia de bananas, e, nesta banânia em particular, a Justiça não só tarda como nem sempre chega. Não houvesse na Praça dos Três Poderes uma filial da Pizzaria do Inferno, eu diria que a prisão do "imbrochável seriam favas contadas — como disse sobre a de Lula muito antes de sua condenação no processo do triplex. Mas é impossível não lembrar que Bolsonaro foi alvo de 150 pedidos impeachment e colecionou dezenas de acusações por crimes comuns, e que tudo foi parar na lata do lixo devido à inércia de Rodrigo Maia, à cumplicidade de Arthur Lira e à subserviência do antiprocurador Augusto Aras (que acreditou na promessa de uma vaga no STF, mas ficou a ver navios). 

 

O petismo experimentou forte crescimento até 2002 — ano em que Lula finalmente ascendeu ao Planalto após três derrotas consecutivas para o PSDB — em 1989, 1994 e 1998 —, mas começou a declinar em 2013. Em 2016, o impeachment de Dilma acirrou a polarização semeada por seu criador e mentor com o "nós contra eles", e a rejeição ao PT e seus satélites anabolizou a extrema direita, ensejando a vitória de Bolsonaro em 2018. Mas não há nada como o tempo para passar e o vento para mudar. 

 

Depois de gozar 580 dias de férias compulsórias em Curitiba, Lula deixou sua suíte VIP na carceragem da PF, foi "descondenado" e reabilitado politicamente por togas camaradas e derrotou Bolsonaro com a menor diferença de votos entre postulantes à Presidência no segundo turno desde a redemocratização. A propósito, volto a frisar que extirpar o câncer do bolsonarismo antes que ele evoluísse para metástase era fundamental, mas trazer o PT de volta ao Planalto era opcional. As demais opções eram desalentadoras, mas mesmo assim...

 

Ao vestir a faixa presidencial pela terceira vez, o pontifex maximus da seita do inferno pareceu acreditar que fora eleito o cargo de Deus. Sem se dar conta de que já não esbanja carisma como em 2010 — quando se orgulhava de eleger até poste —, confunde o Planalto com o Olimpo da mitologia grega. Para acomodar aliados da falaciosa "frente democrática", criou dezenas de novos ministérios. Para as pastas já existentes, nomeou antigos aliados — muitos dos quais foram sepultados no julgamento do Mensalão ou submergiram quando a (hoje finada) Lava-Jato expôs as entranhas pútridas do Petrolão. 

 

Lula recebeu em Palácio — e com pompa e circunstância — o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Presenteou Dilma, a inolvidável, com a presidência do Banco do Brics. Indicou para o STF seu amigo e advogado particular Cristiano Zanin e seu ministro da Justiça Flávio Dino. Para ocupar o lugar do ministro declaradamente comunista, chamou de volta da aposentadoria o velho "cumpanhêro" Ricardo Lewandowski — cujos ombros ele próprio cobriu com a suprema toga em 2006, a pedido da então primeira-dama, que era amiga da mãe do magistrado. 

 

No primeiro ano de sua terceira gestão, O primeiro-casal passou visitou 26 países a expensas dos contribuintes. Na última sexta-feira, depois de visitar o Egito, Lula e Janja — que encarna o papel de presidenta-adjunta — iniciaram um passeio de três dias pela Etiópia. Mas não é só: Janeiro nem tinha acabado e os ministros Daniela Carneiro Juscelino Filho já estavam enroscados — ela, devido a uma esquisita relação eleitoral com milícias da Baixada Fluminense, e ele, ao uso do dinheiro de emendas parlamentares para beneficiar a fazenda da família. Daniela deixou a pasta do Turismo em julho, mas Juscelino segue no comando das Comunicações, a despeito de novos enroscos terem vindo à luz — de diárias e requisição de jatinhos da FAB para viagens pessoais a emprego de funcionário-fantasma e uso do gabinete pelo sogro para receber empresários e realizar despachos.

 

Lula está velho e rabugento. No ano passado, a dor no joelho não o deixava dormir direito. Uma "pneumonia leve" resultou no adiamento de sua viagem à China. O petista disse que estava poupando a voz para o encontro com Xi-Jinping, mas vale lembrar que nem o líder chinês fala português, nem o brasileiro domina o mandarim — na verdade, Lula mal consegue se expressar em português sem assassinar o vernáculo. 


Dias atrás, na Etiópia, Lula voltou a se referir à ação militar israelense em Gaza de "genocídio" e comparou a situação com o HolocaustoA fala foi considerada antissemita por entidades judaicas e israelitas e acendeu o pavio de mais uma crise diplomática. Benjamin Netanyahu disse que o brasileiro "cruzou a linha vermelha" com essa comparação "vergonhosa", e determinou que o embaixador do Brasil em Israel seja chamado às falas. Se serve de consolo, o Hamas agradeceu a declaração do Sun Tzu de Garanhuns, que, segundo o grupo terrorista, descreveu com perfeição o que acontece na Palestina. Alguém deveria fazer a ele a pergunta que o rei Juan Carlos fez a Maduro em 2007¿Por qué no te callas?
 
Saber quando calar é uma virtude, sobretudo quando um governo que mal começou começa mal sob muitos aspectos. Lula queria a cabeça de Roberto Campos Neto, como se a Selic estivesse em 13,75% por um capricho do presidente do BC, e não como tentativa de conter a inflação. O mal que o xamã do PT disse desejar "a esse cidadão que chefia o Banco Central" perdeu a relevância diante da incapacidade de Lula de fazer bem a si mesmo e a seu governo. Enquanto o bumbo de Haddad assegurava que a nova regra fiscal e a reforma tributária fariam deslanchar a economia, seu chefe sinalizava a investidores que ansiavam pelo nascer do Sol que a alvorada talvez, quem sabe, só chegaria em abril. Ela não chegou, e dinheiro não gosta de dúvidas e imprevistos.
 
No comando da pasta da Defesa, Dino não apreendeu armas destinadas ao crime organizado, que cresceu e ficou ainda mais organizado sob sua gestão, mas ganhou sua suprema toga. Anielle Franco — a ministra da "Igualdade Racial" que embolsava mais de R$ 400 mil por ano para não trabalhar numa empresa estatizada — requisitou um jatinho da FAB para assistir a um jogo de futebol no estádio do Morumbi, na capital paulista. E o resto é pinga da mesma pipa.

Apesar disso tudo (e muito mais), torço pelo sucesso do atual governo. Não por patriotismo hipócrita, mas porque mudar de país a esta altura da vida não é uma opção que eu possa me dar ao luxo de exercer. Faço votos de que a derradeira passagem de sua alteza pelo Planalto contribua para mitigar a abjeta polarização que tanto mal fez ao Brasil nos últimos anos, notadamente depois que o capitão-rascunho-do-mapa-do-inferno tomou o lugar que o tucanato ocupou de 1994 até 2014. 
 
Numa sociedade polarizada, um presidente que tem respaldo do Congresso consegue implementar políticas públicas que privilegiam seus apoiadores em detrimento do restante da sociedade. Essa erosão da representação política só não sufocará nossa frágil democracia se o eleitor mediano — que é o esteio da estabilidade e da racionalidade — reassumir seu posto, pois só assim o país escapará da sinuca de bico criada por idiotas de esquerda e extremista boçais de direita. Cabe à esquerda (enquanto poder) suavizar a radicalização interna, e à direita (como oposição) abandonar o extremismo e se reagrupar como um movimento mais ao centro. Sem esse esforço conjunto, o Brasil dificilmente voltará a crescer. Mas, desgraçadamente, não é isso que está acontecendo. 
 
Bolsonaro tem um longo histórico de ataques às instituições. Agora, em face das revelações da Tempus Veritatis, ele lança mão da mesma tática que usou inutilmente contra o STF e o TSE: gente na rua. A manifestação, por si mesma, não é crime. Mas, quando diz querer a "fotografia", confessa que seu objetivo é constranger o Supremo. O chefe do clã das rachadinhas e das mansões milionárias segue firme em seu intento de cassar as prerrogativas das togas — como fez reiteradamente quando presidente. Enquanto ele tentava executar sua catastrófica política de saúde — que correspondia a homicídio em massa —, decisões emanadas do Supremo salvavam milhares de vidas, inclusive garantindo a vacinação.
 
Diante de um inevitável encontro com a cadeia, o "mico" tenta fazer alguma coisa — com o mesmo desespero de quando buscava evitar a eleição do adversário, alertando que depois seria tarde demais. Como bem anotou Reinaldo Azevedo em sua coluna, Bolsonaro será preso. Pode não ser amanhã, mas também pode ser. Só depende dele. 

Que faça besteira e que seja preso. Pelo bem do Brasil.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

COISAS DO PAÍS DO FUTURO QUE NUNCA CHEGA



O Brasil está em plena campanha eleitoral. Não falo das eleições municipais de outubro próximo, cujo cenário ainda é incerto e os candidatos sequer começaram a aquecer os motores, mas da sucessão presidencial, que, se o imprevisto não tiver voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, ocorrerá somente daqui a 30 meses.

Bolsonaro, que durante a campanha prometeu pôr fim à reeleição para os cargos de presidente, governador e prefeito, mal subiu a rampa do Palácio e se declarou candidatíssimo a um segundo mandato. No canto oposto do tablado, o criminoso Lula — condenado em três instâncias no caso do tríplex, em duas no do sítio de Atibaia, réu em mais sete ou oito processos, inelegível à luz da Lei da Ficha-Limpa (que ele próprio sancionou no apagar das luzes de seu segundo mandato) e que só deixou a prisão graças à despudorada “hermenêutica criativa” da facção pró-crime do STF, deve escalar o bonifrate Haddad para representá-lo no pleito, a menos que até surja outra "liderança" petista disposta a se sujeitar ao papel de boneco de ventríloquo. O que é difícil, até porque, desde que fundou o partido em fevereiro de 1980, Lula é o PT e o PT é Lula.

Ao longo de 40 anos, o criador do partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não pensam comandou a quadrilha como um rei absolutista, avesso a delegar poderes por receio de algum acólito se sobressair a ponto de lhe fazer sombra. Agora, o eterno presidente de honra da agremiação criminosa colhe os frutos amargos que ele próprio semeou, como se viu nas eleições de 2016 e 2018.

Poder-se-ia dizer que o PT é o Circo Marambaia, e Lula, o palhaço sem graça, mas a prudência recomenda muita calma nessa hora. O eleitorado tupiniquim não prima pelas melhores escolhas — e nem poderia, já que é composto majoritariamente de apedeutas, analfabetos funcionais e desinformados de quatro costados —, sem mencionar que na política o cenário muda como mudam as nuvens no céu. Por outro lado, em entrevista à revista eletrônica Conjur, Lula disse que “voltar à Presidência da República não é mais uma obsessão, e que, “embora não descarte a possibilidade de se candidatar” (o que só seria possível se a Lei da Ficha-Limpa fosse revogada ou os processos em que ele foi condenado fossem anulados), prefere dar lugar a políticos mais novos. Haddad fez uma campanha maravilhosa, é 1 cara muito preparado. Agora, quero chegar às eleições de 2022 com muita influência política. Disso, não abro mão, asseverou o deus pai da Petelândia.

Se o pleito presidencial fosse hoje e Sérgio Moro concorresse à presidência, é bem provável que ganhasse de lavada. Mas é bom lembrar que, segundo as mesmas pesquisas que atestam o enorme apreço da população pelo ex-juiz da Lava-Jato, a pastora evangélica Damares Alves — que Bolsonaro escolheu para comandar a pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos — também aparece entre os nomes mais populares entre os integrantes da Esplanada dos Ministérios (durma-se com um barulho desses).

Pôr fim à reeleição não foi a única bandeira que o então candidato Jair Bolsonaro agitou aos quatro ventos ao longo da campanha e enfiou com mastro e tudo em local incerto e não sabido ao ser eleito e subir a rampa do Palácio. Aliás, o mesmo Bolsonaro que aliciou Sérgio Moro com a promessa de lhe dar carta-branca no combate à corrupção e indicá-lo para a próxima vaga que se abrir no STF — chegando mesmo a dizer que bom seria se houvesse “onze sérgios moros no Supremo” — agora submete o ex-juiz da Lava-Jato a um humilhante processo de fritura política, talvez por ter receio de “deixar a árvore do quintal do vizinho crescer a ponto de fazer sombra em seu próprio quintal”.

Depois de dizer que pretende indicar um ministro “terrivelmente evangélico” para o STF (possivelmente o advogado-geral da União, André Mendonça, que, segundo as más-línguas, é um puxa-saco de Dias Toffoli), o capitão resolveu testar a paciência de Moro alardeando a suposta intenção de fatiar o Ministério da Justiça e Segurança Pública e deixar o ex-juiz responsável pela pasta da Justiça — aliás, nada muito diferente da estratégia que o capitão vem utilizando com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, conforme vimos nesta postagem.

Observação: Os ministros Celso de Mello — que está licenciado por problemas de saúde — e Marco Aurélio Mello atingirão a idade em que a aposentadoria dos membros dos tribunais superiores é compulsória em novembro próximo e julho do ano que vem, respectivamente, dando a Bolsonaro a chance de indicar dois nomes para o Supremo durante a atual gestão. Mas nada nada impede que outro togado antecipe voluntariamente seu desligamento (como fez Joaquim Barbosa em julho de 2014) ou bata a cachuleta (como aconteceu com Teori Zavascki em janeiro de 2017). Enfim, vamos dar tempo ao tempo.

Vale frisar que desde o restabelecimento das eleições presidenciais pelo voto direto, apenas o Vampiro de Jaburu teve a brilhante ideia de fatiar o Ministério da Justiça e Segurança Pública, “esvaziando” a pasta da Justiça, comandada por Torquato Jardim, e empoderando Raul Jungmann, que ficou responsável pela Segurança Pública.

Os atritos entre Bolsonaro e Moro não vêm de hoje, mas se intensificaram depois da reunião do presidente com secretários estaduais de Segurança, que não contou com a presença do ministro. Moro disse a aliados, na ocasião, que deixaria o governo se a manobra realmente fosse adiante, mas a reação de seus apoiadores gerou forte pressão nas redes sociais, levando o capitão a engavetar a ideia. Durante sua viagem à Índia, ao ser inquirido pelos repórteres sobre a cisão da pasta, Bolsonaro respondeu: "A chance no momento é zero, tá bom? Não sei amanhã, na política tudo muda, mas não há essa intenção de dividir. Em segurança pública, os números demonstram que estamos no caminho certo. E é a minha máxima, né, em time que está ganhando não se mexe".

O recuo amenizou a situação, mas não dissipou as teorias sobre o futuro de Moro no governo e na política. Segundo o InfoMoney, o receio de o ministro se demitir e concorrer à presidência em 2022 levou o Bolsonaro a recolocá-lo no topo da lista dos preferidos para ocupar a vaga do decano Celso de Mello no STF. A ideia de manter Moro no governo até 2022 e convidá-lo para ser vice em sua chapa também cruzou a mente do capitão, mas, como dito linhas atrás, o problema é que a popularidade do ministro supera a do próprio presidente. No entanto, como dizia o saudoso Magalhães Pinto, "política é como nuvem: você olha e ela está de um jeito, você olha de novo e ela já mudou".