POBRE, QUANDO
METE A MÃO NO BOLSO, SÓ TIRA OS CINCO DEDOS.
Foram milhares de anos até o computador evoluir do
ÁBACO ― criado há mais de 3.000 anos
no antigo Egito ― para a PASCALINA ―
geringonça desenvolvida no século XVII pelo matemático francês Blaise Pascal e aprimorada mais adiante
pelo alemão Gottfried Leibniz, que
lhe adicionou a capacidade de somar e dividir. Mas o “processamento de dados” só viria
com o Tear de Jacquard ― primeira
máquina programável ―, que serviu de base para Charles Babbage projetar um dispositivo mecânico capaz de computar
e imprimir tabelas científicas, precursor do tabulador estatístico de Herman Hollerith, cuja empresa viria se
tornar a gigante IBM.
Nos anos 1930,
Claude Shannon aperfeiçoou o
Analisador
Diferencial (dispositivo de computação movido a manivelas) mediante a
instalação de circuitos elétricos baseados na
lógica
binária, e alemão
Konrad Zuze criou o
Z1 (primeiro
computador binário digital). Com a deflagração da
Segunda Guerra
Mundial, a necessidade de decifrar mensagens codificadas e calcular
trajetórias de mísseis levou os EUA,
a Alemanha e a Inglaterra a
investir no desenvolvimento do
Mark 1, do
Z3 e do
Colossus,
e, mais adiante, com o apoio do exército norte-americano, pesquisadores da
Universidade
da Pensilvânia construírem o
ENIAC ― um monstrengo de
18 mil válvulas e 30 toneladas que produziu um enorme blecaute ao ser ligado,
em 1946, e era capaz somente de realizar 5 mil somas, 357 multiplicações ou 38
divisões simultâneas por segundo ― uma performance incrível para a época, mas
que qualquer videogame dos anos 90 já superava “com um pé nas costas”. Para
piorar, de dois em dois minutos uma válvula queimava, e como a máquina só
possuía memória interna suficiente para manipular dados envolvidos na tarefa em
execução, qualquer modificação exigia que os programadores corressem de um lado
para outro da sala, desligando e religando centenas de fios.
O EDVAC, criado no final dos anos 1940, já dispunha de memória, processador e dispositivos de entrada e saída de dados, e
seu sucessor, o UNIVAC, usava fita magnética em vez de
cartões perfurados, mas foi o transistor que revolucionou a
indústria dos computadores, quando seu custo de produção foi barateado pelo uso
do silício como matéria prima. No final dos anos 1950, a IBM lançou
os primeiros computadores totalmente transistorizados (IBM 1401 e 7094)
e mais adiante a TEXAS INSTRUMENTS revolucionou o mundo da
tecnologia com os circuitos integrados (compostos por
conjuntos de transistores, resistores e capacitores), usados com total sucesso
no IBM 360, lançado em 1964). No início dos anos 70, a INTEL desenvolveu
uma tecnologia capaz de agrupar vários CIs numa única peça, dando origem aos microchips, e
daí à criação de equipamentos de pequeno porte foi um passo. Vieram então o ALTAIR
8800, vendido sob a forma de kit, o PET 2001, lançado em 1976 e
tido como o primeiro microcomputador pessoal, e os Apple I e II (este
último já com unidade de disco flexível).
O sucesso estrondoso da Apple
despertou o interesse da IBM no
filão dos microcomputadores, levando-a a lançar seu PC (sigla
de “personal computer”), cuja
arquitetura aberta e a adoção do MS-DOS, da Microsoft, se tornaram um padrão de mercado.
De olho no desenvolvimento de uma interface gráfica com sistema de janelas,
caixas de seleção, fontes e suporte ao uso do mouse ― tecnologia de que a XEROX dispunha
desde a década de 70, conquanto só tivesse interesse em computadores de grande
porte ―, a empresa de Steve Jobs fez
a lição de casa e incorporou esses conceitos inovadores num microcomputador
revolucionário. Aliás, quando Microsoft lançou o Windows ― que
inicialmente era uma interface gráfica que rodava no DOS ― a Apple já estava
anos-luz à frente.
Para encurtar a história, a IBM preferiu lançar seu PS/2, de arquitetura fechada e
proprietária, a utilizar então revolucionário processador 80386 da INTEL, mas a Compaq convenceu os fabricantes a continuar utilizando a arquitetura aberta.
Paralelamente, o estrondoso sucesso do Windows 3.1 contribuiu
para liquidar de vez a parceria Microsoft/IBM, conquanto ambas as
empresas buscassem desenvolver, cada qual à sua maneira, um sistema
que rompesse as limitações do DOS. Depois de uma disputa tumultuada
entre o OS/2 WARP e o Windows 95 (já não mais
uma simples interface gráfica, mas um sistema operacional autônomo, ou quase
isso), a estrela de Bill Gates brilhou, e o festejado Win98 sacramentou
a Microsoft como a “Gigante do Software”.
O resto é história recente: a arquitetura aberta se
tornou padrão de mercado, o Windows se firmou como sistema
operacional em todo o mundo (a despeito da evolução das distribuições LINUX e
da preferência de uma seleta confraria de nerds pelos produtos da Apple)
e a evolução tecnológica favoreceu o surgimento de
dispositivos de hardware cada vez mais poderosos, propiciando a criação de
softwares cada vez mais exigentes.
Enfim, foram necessários milênios para passarmos do ábaco aos primeiros mainframes, mas poucas décadas, a
partir de então, para que "pessoas comuns" tivessem acesso aos assim
chamados computadores pessoais ― ou microcomputadores ―, que até não muito
tempo atrás custavam caríssimo e não passavam de meros substitutos da máquina
de escrever, calcular, e, por que não dizer, do baralho de cartas e dos então
incipientes consoles de videogame. Em pouco mais de três décadas, a evolução
tecnológica permitiu que os desktops
e laptops das primeiras safras
diminuíssem de tamanho e de preço, crescessem astronomicamente em poder de
processamento, recursos e funções, e se transformassem nos smartphones e
tablets atuais, sem os quais, perguntamo-nos, como conseguimos viver durante tanto tempo.
Continuamos no próximo capítulo. Até lá.
SOBRE MICHEL TEMER, O PRIMEIRO PRESIDENTE DENUNCIADO NO EXERCÍCIO DO
CARGO EM TODA A HISTÓRIA DO BRASIL.
Michel Temer já foi de tudo um pouco nos últimos tempos. De deputado
federal a vice na chapa da anta vermelha; de presidente do PMDB (por quinze anos) a presidente da Banânia; de depositário da
nossa esperança de tornar a ver o país crescer a “chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”; e de tudo isso a
primeiro presidente do Brasil a ser denunciado no exercício do cargo.
Joesley Batista, o megamoedor de carne que multiplicou seu
patrimônio com o beneplácito da parelha de ex-presidentes petistas ― que sempre
valorizaram meliantes como Eike Batista
e o próprio Joesley (é curiosa a
coincidência no sobrenome, mas acho que não passa disso) ―, promoveu Temer ao lugar que, por direito,
pertence a Lula, e a este atribuiu
“somente” a institucionalização da corrupção na política tupiniquim.
Há quem afirme que a promoção de Temer foi inoportuna e despropositada.
Afinal, não foi ele quem sequestrou e depenou o Brasil durante 13 anos, ou roubou o BNDES e passou uma década
enfiando bilhões de dólares na Friboi
― que acabou se tornando a gigante J&F,
controladora da maior processadora de proteína animal do planeta. Tampouco foi
ele quem torturou São José Dirceu para forçá-lo a reger na Petrobras o maior assalto da história
do ocidente, recebeu uma cobertura tríplex no Guarujá da OAS de Leo Pinheiro e, ao ser pego com as calças na mão e manchas de batom
na cueca, atribuiu a culpa à esposa Marisa,
digo, Marcela).
Gozações à parte, as opiniões
divergem quanto à delação de Joesley
e companhia. Há quem ache que a contrapartida dada pelo MPF e avalizada por Fachin
foi exagerada (a despeito da multa bilionária que os delatores terão de pagar,
que representa a punição mais “dolorosa” para gente dessa catadura). Outros,
como certo ministro do Supremo e presidente do TSE, reprovam o acordo por serem sistematicamente contrários à
Lava-Jato e às delações premiadas, às prisões preventivas prolongadas (sem as quais
a Lava-Jato nem existiria, ou, se existisse, ainda estaria engatinhando). Felizmente,
7 dos 11 ministros do STF já se votaram pela manutenção de Fachin na relatoria dos processos oriundos da delação da JBS e pela validade da delação
propriamente dita (assunto que eu detalhei na semana passada).
O fato é que o peemedebista se apequena mais a cada dia, o que não ajuda em nada o país,
como bem sabem os que acompanharam os estertores dos governos Sarney e Collor e de Dilma. Com
novas denúncias e acusações surgindo regularmente, o presidente está
acossado, fragilizado politicamente e, por que não dizer, mais preocupado com
articulações políticas visando à sua defesa do que com a aprovação das tão
necessárias reformas que se predispôs a capitanear.
Na última segunda-feira, Temer juntou ao seu invejável currículo
a experiência inédita de ser denunciado por corrupção ainda no exercício do cargo
(até hoje, nenhum presidente brasileiro havia sido agraciado com tal honraria,
embora quase todos tenham feito por merecê-la). E novas denúncias virão em
breve, até porque Janot resolveu não pôr todos os ovos na mesma cesta. Como a denúncia passa pela CCJ
da Câmara e pelo plenário da casa antes de ser julgada no STF, o Planalto moverá mundos e fundos para barrar o processo, de modo que o fatiamento serve para a PGR
ganhar tempo, visando à possibilidade de novos fatos mudarem os
ventos no Congresso. A meu ver, bastaria que a voz das ruas voltasse a
roncar como roncou no ano passado, durante o impeachment de Dilma, para que a sorte do presidente
fosse selada, mas quem sou eu, primo?
Talvez seja mesmo melhor a gente ficar com diabo que já conhece. Nenhuma liderança expressiva surgiu no
cenário até agora, e a perspectiva de Rodrigo
Maia assumir o comando do País não é das mais alvissareiras. Demais disso,
eleições diretas, neste momento, contrariam flagrantemente a legislação
vigente, e interessariam apenas a Lula
e ao PT, que se balizam na tese do "quanto pior melhor".
O molusco indigesto continua
encabeçando as pesquisas de intenção de voto, mesmo atolado em processos e
prestes a receber sua primeira (de muitas) condenações (veja detalhes na
postagem anterior). Mas não se pode perder de vista que isso se deve em grande
parte ao fato de ele ser o mais
conhecido entre os pesquisados, e que isso lhe assegura também o maior índice de
rejeição. Enfim, muita água ainda vai rolar por debaixo da ponte até outubro do
ano que vem. Se as previsões se confirmarem, Moro deve condenar o sacripanta dentro de mais alguns dias, e uma possível confirmação da sentença pelo TRF-4 jogará a esperada pá de cal nessa versão
petista de conto do vigário.
Infelizmente, deixamos
escapar a chance de abraçar o parlamentarismo no plebiscito de
1993 (graças à absoluta falta de esclarecimento do eleitorado tupiniquim), e
agora só nos resta lidar com a quase impossibilidade de defenestrar um
presidente da República, mesmo que ele já não tenha a menor serventia ou que esteja envolvido em práticas pouco republicanas (haja vista os traumatizantes
impeachments de Collor e de Dilma).
Estão em andamento algumas
tentativas de tapar o sol com peneira, como a PEC do Senador Antonio
Carlos Valadares (PSB/SE), aprovada no último dia 21 pela CCJ do Senado, que inclui na
Constituição a possibilidade revogação
do mandato do presidente, vinculada à assinatura de não menos que 10% dos
eleitores que votaram no último pleito (colhidas em pelo menos 14 estados e não
menos de 5% em cada um deles).
De acordo com o texto aprovado, a proposta será
apreciada pela Câmara e pelo Senado, sucessiva e separadamente, e precisará do
voto favorável da maioria absoluta dos membros de cada uma das Casas. Garantida
a aprovação, será então convocado referendo popular para ratificar ou rejeitar
a medida. O projeto prevê ainda que será vedada a proposta de revogação durante
o primeiro e o último ano de governo e a apreciação de mais de uma proposta de
revogação por mandato.
Por hoje é só, pessoal. Até a próxima.