Certa vez, acertei uma milhar seca no jogo do bicho. Afora
isso, nunca fui bom de palpite. Mas adivinhar é uma coisa, inferir com base na
observação é outra. E foi a partir da observação que “cantei a bola” do impeachment
de Dilma antes mesmo de Eduardo Cunha
autorizar a abertura do processo.
Mais adiante, previ que o dublê de anta e egun despachado não se elegeria senadora, e que Bolsonaro derrotaria a patética marionete do ventríloquo presidiário, a despeito das previsões do Ibope, Datafolha e distinta companhia. Posso ter errado ao apostar na renúncia de Temer quando Lauro Jardim publicou em O Globo detalhes espúrios da conversa de alcova entre o emedebista e o moedor de carne bilionário, mas soube-se mais adiante que o vampiro do Jaburu só não pediu o boné porque foi dissuadido por sua tropa de choque — comandada pelo então pitbull palaciano Carlos Marun, que é sempre o primeiro (e talvez o único) a visitar o ex-chefe quando este é preso preventivamente.
Apostar que a rachadinha corria solta no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj seria o mesmo que, na Belém do Pará dos anos 1980, prever chuva para o final da tarde. Hoje, até o tempo deixou de ser sério no Brasil, mas, no caso do ex-deputado e ora senador, que se arrasta desde o ano passado, só um completo imbecil acreditaria nas desculpas esfarrapadas dos envolvidos.
Mais adiante, previ que o dublê de anta e egun despachado não se elegeria senadora, e que Bolsonaro derrotaria a patética marionete do ventríloquo presidiário, a despeito das previsões do Ibope, Datafolha e distinta companhia. Posso ter errado ao apostar na renúncia de Temer quando Lauro Jardim publicou em O Globo detalhes espúrios da conversa de alcova entre o emedebista e o moedor de carne bilionário, mas soube-se mais adiante que o vampiro do Jaburu só não pediu o boné porque foi dissuadido por sua tropa de choque — comandada pelo então pitbull palaciano Carlos Marun, que é sempre o primeiro (e talvez o único) a visitar o ex-chefe quando este é preso preventivamente.
Apostar que a rachadinha corria solta no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj seria o mesmo que, na Belém do Pará dos anos 1980, prever chuva para o final da tarde. Hoje, até o tempo deixou de ser sério no Brasil, mas, no caso do ex-deputado e ora senador, que se arrasta desde o ano passado, só um completo imbecil acreditaria nas desculpas esfarrapadas dos envolvidos.
No último sábado, a Folha
publicou uma matéria de capa sobre o compartilhamento que Jair Bolsonaro fizera na
véspera, pelo Twitter, de um texto apócrifo (escrito
pelo analista da Comissão de Valores Mobiliários Paulo Portinho)
que fala de pressões dos poderes e dificuldades de governar. O Congresso
interpretou o tuíte como mais um ataque do capitão ao que ele classifica de velha política, mas era impossível não
vislumbrar uma possibilidade de renúncia no
ar, sobretudo se o país continuar “disfuncional” e o capitão teimar em
continuar jogando para a torcida de bolsomínions,
olavetes e outros desajustados — que,
a exemplo do presidente e dos seus filhos, se deixam levar pelas teorias
conspiratórias do “Homem de Virgínia”
(falo do astrólogo-ideólogo que mora em Richmond,
mas faço um trocadilho com um seriado televisivo da década de 1960,
do qual certamente a maioria dos gatos pingados que leem minhas postagens
jamais ouviu falar).
A Folha fala numa
espécie de "cenário Jânio Quadros" (mais detalhes na próxima postagem), o que não me parece algo fora de propósito. Até porque, diz a matéria, circulou
no Alto Comando do Exército um relato em que Bolsonaro teria dito que poderia renunciar se as dificuldades
continuassem. Assessores palacianos negaram essa versão e afirmaram que presidente apenas expressou o que sempre disse durante a campanha. Já O Globo disse que, diante das
dificuldades conhecidas no relacionamento entre o governo e o Congresso, os
parlamentares decidiram liderar o processo de reformas necessárias para o país
e vão deixar as propostas do Palácio do Planalto em segundo plano. E com
efeito: numa reunião de líderes do Centrão
ficou acertado que o Congresso assumirá a formatação da reforma
da Previdência. O Estado
também comentou a reunião e a decisão dos deputados, destacando as declarações de Ramos, para quem apresentar um novo
texto é a única forma de aprovar a reforma neste momento. Todos esses jornais lembraram que as tensões da última sexta-feira elevaram a cotação do dólar a
vertiginosos R$ 4,10 e fizeram o Ibovespa fechar abaixo dos 90 mil
pontos.
O comportamento recente de Bolsonaro tem explicações
múltiplas de assessores. Interlocutores afirmam que parlamentares pedem cargos
no governo como condição para votarem a favor das reformas, mas fala-se à boca pequena
que o chefe do Executivo está acuado pelo avanço das investigações sobre o zero um, que culpa o Congresso pelos atrasos na tramitação do projetos do governo e que, por
isso, decidiu mobilizar seus apoiadores contra deputados.
Ricardo Noblat
relembra que Fernando Collor, acuado
por denúncias de corrupção, convocou seus apoiadores a ocupar as ruas com
camisas verde amarelas no dia 7 de setembro de 1992, dois anos e meio depois de
ter sido empossado. Poucos o fizeram, talvez por vergonha, talvez porque
tivessem algo melhor a fazer durante o feriado. Em compensação, multidões foram
às ruas naquele mesmo dia vestidas com camisetas pretas. Collor cairia três meses depois.
Neste momento, a situação de Bolsonaro ainda está longe de
poder ser comparada com a de Collor.
Mas isso não o impediu de estimular seus devotos a convocarem manifestações a
seu favor para o próximo domingo (26). E se as manifestações não reunirem tanta
gente? E se elas forem menores do que as que aconteceram na semana passada
contra o corte de verbas para a Educação, que atraíram mais de dois milhões de
pessoas em cerca de 200 municípios tupiniquins? E se multidões forem às ruas na
mesma data vestidas com camisas pretas? Novas manifestação de opositores do
governo estão agendadas para o próximo dia 30. Por que o governo deveria a essa
altura submeter-se ao teste das ruas? As pesquisas desaconselham. Se o teste
lhe desfavorecer, não diga Bolsonaro
mais tarde que nada teve a ver com isso. Ou que não foi avisado.