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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

MENTIRAS QUE SOAM VERDADEIRAS

É MELHOR UM FIM HORROROSO DO QUE UM HORROR SEM FIM.  

A maioria de nós já ouviu dizer que avestruzes enterram a cabeça na areia quando estão assustados, que preguiças são preguiçosas, que porcos são sujos, que golfinhos estão sempre sorrindo, que elefantes nunca esquecem, que Lula foi absolvido e que Bolsonaro foi condenado injustamente. Só que nada disso é verdade. 


No que tange aos avestruzes, as fêmeas colocam a cabeça no buraco que usam como ninho para virar os ovos várias vezes durante o dia — se realmente enterrassem a cabeça para não ver o perigo, como diz a lenda, as pobres aves morreriam asfixiadas. 


As preguiças se movem devagar porque seu metabolismo as obriga a economizar energia, e como não andam sobre as solas dos pés, mas se arrastam com suas longas garras, sua locomoção nas árvores e no solo é lenta e desajeitada. Por outro lado, elas se movem velozmente na água e dormem cerca de 10 horas por dia — bem menos que os gatos e outros animais domésticos.


Os porcos são animais naturalmente asseados. Eles defecam longe de onde comem, dormem e acasalam, mas, como não conseguem suar, refrescam-se chafurdando na lama — o que lhes dá a aparência de sujos. Por outro lado, é impossível manter-se limpo quando se vive confinado num chiqueiro pequeno, superlotado e imundo.


Os golfinhos são brincalhões e parecem sorrir porque o formato de suas mandíbulas cria essa ilusão. Mas são incapazes de mudar de expressão, e podem ser surpreendentemente desagradáveis e traiçoeiros, chegando a atacar outros mamíferos marinhos e até pessoas quando se sentem ameaçados.


Os elefantes possuem o maior cérebro entre os mamíferos terrestres. Seu lobo temporal — extremamente desenvolvido — permite memorizar cheiros, vozes, lugares, hierarquias, vínculos familiares e comandos de voz. Eles são capazes de reconhecer outros elefantes — e até humanos — após décadas de separação, bem como de manter relações complexas dentro da manada, que a matriarca conduz por rotas migratórias antigas, guiada por lembranças de locais com água e comida.


Assim como afirmar que “os elefantes não esquecem” é uma simplificação poética embasada na ciência, dizer que os eleitores brasileiros fazem, a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade, é uma simplificação poética embasada na mitologia grega.


Celebrizada pelo jornalista Ivan Lessa, a máxima segundo a qual os brasileiros esquecem, a cada 15 anos, o que aconteceu nos últimos 15, ilustra a quintessência da falta de memória — ou de preparo — do nosso eleitorado. Aliás, em momentos distintos da ditadura, Pelé e o ex-presidente João Figueiredo alertaram para o risco de misturar brasileiros e urnas em eleições presidenciais. Ambos foram muito criticados, mas como contestá-los, se lutamos tanto pelo direito de votar para presidente e elegemos gente como Lula, Dilma e Bolsonaro?


Em 135 anos de história republicana, 35 brasileiros foram alçados à Presidência pelo voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado. Em agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros ladrilhou o caminho para o golpe de 1964, que depôs João “Jango” Goulart do Palácio do Planalto e deu início a duas décadas de ditadura militar.


Em 1989, depois de 29 anos sem votar para presidente e podendo escolher entre Ulysses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola — de um cardápio com mais de 20 postulantes — a plebe ignara preferiu despachar Collor e Lula para o segundo turno. O caçador de marajás de mentirinha derrotou o desempregado que deu certo por 683.920 a 215.177 votos válidos, provando que memória histórica e senso crítico não são pré-requisitos para exercer o direito de voto.


Collor foi empossado em março de 1990 e penabundado em dezembro de 1992. Em 1994, graças ao bem-sucedido Plano Real, Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda de Itamar Franco, elegeu-se presidente no primeiro turno. Picado pela “mosca azul”, comprou a PEC da Reeleição.


Como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, o tucano de plumas vistosas renovou seu mandato no ano seguinte — novamente no primeiro turno. Mas não há nada como o tempo para passar. Em 2002, sem novos coelhos para tirar da velha cartola, não conseguiu eleger seu sucessor: Lula derrotou José Serra por 61,27% a 38,73% dos votos válidos.


Em 2006, apesar do escândalo do mensalão, o petista venceu Geraldo Alckmin por 60,83% a 39,17% dos votos válidos. Em 2010, visando manter aquecida a poltrona que tencionava disputar dali a quatro anos, fez eleger um “poste” — Dilma Rousseff —, que pegou gosto pelo poder, fez o diabo para se reeleger, entrou em curto-circuito e foi desligada em 2016, pondo fim a 13 anos e fumaça de lulopetismo corrupto.


Com o impeachment da mulher sapiens, Michel Temer passou de vice a titular do cargo. Num primeiro momento, a troca de comando pareceu alvissareira. Depois de mais de uma década ouvindo garranchos verbais de um semianalfabeto e frases desconexas de uma destrambelhada que não sabia juntar sujeito e predicado, ter um presidente que sabia falar — até usando mesóclises — foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba. Mas há males que vêm para o bem e bens que vêm para pior.


O prometido “ministério de notáveis” revelou-se uma notável agremiação de corruptos, e a “ponte para o futuro”, uma patética pinguela. Depois que sua conversa de alcova com Joesley Batista veio a lume, Temer pensou em renunciar, mas foi demovido por sua tropa de choque.


Escudado das flechadas de Janot pelas marafonas da Câmara, o nosferatu que tem medo de fantasma concluiu seu mandato-tampão como pato manco e transferiu a faixa para um mix de mau militar e parlamentar medíocre travestido de outsider antissistema, que se tornou o pior mandatário tupiniquim desde Tomé de Souza.


Para provar que era amigo do mercado e obter o apoio dos empresários, o estadista que sempre acreditou em Estado grande e intervencionista e lutou por privilégios para corporações que se locupletam do Estado há décadas, foi buscar Paulo Guedes..


Para provar que era inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média, o deputado adepto das práticas da baixa política, amigo de milicianos, que em sete mandatos aprovou apenas dois projetos e passou por oito partidos diferentes, todos de aluguel, foi buscar Sérgio Moro. 


Para obter o apoio das Forças Armadas, o oficial de baixa patente, despreparado, agressivo e falastrão, condenado por insubordinação e indisciplina e enxotado da corporação, foi buscar legitimidade numa penca de generais saudosos da ditadura.


Bolsonaro obrigou Moro a reverter uma nomeação, tomou-lhe o Coaf, forçou-o a substituir um superintendente da PF e esnobou seu projeto contra a corrupção. O ex-juiz fingiu que não viu, tentou negociar e, por fim, desembarcou do governo para tentar salvar o pouco prestígio que lhe restava.


Bolsonaro desautorizou Guedes, interferiu em seu ministério, sabotou seus projetos e, com o Centrão, enterrou de vez a agenda econômica. A maneira como gerenciou a pandemia de Covid foi catastrófica. Os crimes comuns e de responsabilidade cometidos pelo aspirante a genocida só ficaram impunes graças à leniência de Rodrigo Maia e Arthur Lira, que presidiram a Câmara durante sua gestão, e à cumplicidade de Augusto Aras, seu antiprocurador-geral.


Bolsonaro jamais escondeu a admiração pela ditadura militar e a vocação para o autoritarismo. Em 2019, poucos meses após a posse, reconheceu que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar, embora tenha passado menos anos no Exército do que na política e, ao longo de 27 anos no baixo clero da Câmara, tenha apresentado 172 projetos, relatado 73 e aprovado apenas dois.


Na eleição de 2014, ao ver o poste de Lula derrotar o neto corrupto de Tancredo, Bolsonaro resolveu disputar a Presidência “com a cara da direita”. Ignorado pelo PP, que apoiou a campanha de Dilma, lançou seu ultimato: “Ou o partido sai da latrina ou afunda de vez”. Graças à Lava-Jato, a sigla afundou de vez. Graças à sua pregação antipetista, Bolsonaro renovou seu mandato como deputado mais votado do Rio de Janeiro, saltando de 120,6 mil votos em 2010 para 464,5 mil em 2014.


Derrotado em 2022 graças à sua nefasta gestão, Bolsonaro pôs em marcha a tentativa de golpe que lhe rendeu a condenação a 27 anos e 3 meses de prisão, além do pagamento de multa e indenização. O acórdão publicado na terça-feira (22) abriu o prazo de cinco dias para a interposição de embargos de declaração e de 15 dias para embargos infringentes.


Os embargos de declaração servem apenas para pedir esclarecimentos sobre o texto do acórdão — nada de rediscutir o mérito. Já os embargos infringentes permitiriam um novo julgamento no plenário, mas o Supremo já decidiu em outros casos que eles só são admissíveis quando há pelo menos dois votos favoráveis à absolvição — condição que, adivinhe, não se aplica à condenação do ex-presidente. Ele cumpre prisão domiciliar desde agosto e pode ser enviado ao Complexo Penitenciário da Papuda antes do final do ano.


Há males que o tempo cura, males que vêm para pior e males que pioram com o passar dos anos. Lula 3.0 é uma reedição piorada das versões 1 e 2 e, como nada é tão ruim que não possa piorar, o macróbio quer, porque quer, disputar a reeleição em 2026 — para nossa alegria (risos nervosos).


Vale lembrar que o ministro Fachin tomou a decisão teratológica de anular as condenações de Lula em caráter eminentemente processual. Como o mérito não foi analisado, o ex-presidiário não foi absolvido. Em outras palavras, o ministro agiu como um delegado que manda soltar um criminoso porque ele foi preso em flagrante pela Guarda Civil Metropolitana, e não pela Polícia Militar. Mesmo assim, o macróbio eneadáctilo alega que foi inocentado — e sua claque amestrada acredita.


As consequências da inconsequência do eleitorado tupiniquim são lamentadas todos os dias, inclusive por quem abriu a Caixa de Pandora achando que estava escolhendo o menor de dois males — o que só se justificaria se não houvesse outra opção. Tanto em 2018 quanto em 2022 havia alternativas; só não viu quem não quis ou não conseguiu, porque sofre do pior tipo de cegueira, que é a mental.

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Reza uma velha (e filosófica) anedota que quando Deus estava distribuindo benesses e catástrofes naturais pelo mundo recém-criado, um anjo apontou para o que seria futuramente o Brasil e perguntou: Senhor, por que brindas essa porção de terra com clima ameno, praias e florestas deslumbrantes, grandes rios e belos lagos, mas não desertos, geleiras, vulcões, furacões ou terremotos? E o Criador respondeu: Espera para ver o povinho filho da puta que vou colocar lá.


Resumo da ópera:


Bolsonaro foi eleito em 2018 graças ao antipetismo, mas a emenda ficou pior que o soneto. Sua nefasta passagem pelo Planalto resultou na “descondenação” de Lula e culminou com seu terceiro mandato, que vem se revelando pior do que os anteriores. E a possibilidade de ele se reeleger é assustadoramente real, mesmo porque, ironicamente, seu maior cabo eleitoral é Bolsonaro — e seus filhos despirocados, claro.


Se Sérgio Moro não tivesse trocado a magistratura pelo ministério da Justiça no desgoverno do capetão, é possível que a Lava-Jato ainda estivesse ativa e operante, e Lula ainda estivesse cumprindo pena em Curitiba, na Papuda ou no diabo que o carregue. Tanto ele quanto Bolsonaro são cânceres que evoluíram para metástases e, portanto, se tornaram inoperáveis. Mais cedo ou mais tarde, a Ceifadora livrará o Brasil desse mal. Até lá, a abjeta polarização seguirá a todo vapor — a menos que uma “terceira via” surja e se consolide ao longo do ano que vem.


Políticos incompetentes e/ou corruptos que ocupam cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se estão lá, é porque foram eleitos por ignorantes polarizados, que brigam entre si enquanto a alcateia de chacais se banqueteia e ri da cara deles — e dos nossos, de brinde.


Einstein teria dito que o Universo e a estupidez humana são infinitos, mas salientou que, no tocante ao Universo, ele ainda não tinha 100% de certeza. Alguns aspectos de suas famosas teorias não sobreviveram à passagem do tempo, mas sua percepção da infinitude da estupidez humana deveria ser bordada com fios de ouro nas asas de uma borboleta e pendurada no hall de entrada do Congresso.


Não há provas de que boas ações produzam bons resultados. A lei do retorno é mera cantilena para dormitar bovinos, mas insistir no mesmo erro esperando produzir um acerto é a melhor definição de imbecilidade que conheço, e más escolhas inevitavelmente geram péssimas consequências — como temos visto a cada eleição presidencial desde 2002.


Triste Brasil.


terça-feira, 9 de setembro de 2025

A QUE PONTO CHEGAMOS!

NÃO É POSSÍVEL CONVENCER UM FANÁTICO DE COISA ALGUMA, POIS SUAS CRENÇAS NÃO SE BASEIAM EM EVIDÊNCIAS, MAS SIM NUMA PROFUNDA NECESSIDADE DE ACREDITAR.   


O saudoso Ivan Lessa ensinou que o brasileiro esquece a cada 15 anos o que aconteceu nos últimos 15 anos. Isso explica por que a récua de muares supostamente capacitada a votar repete a cada eleição o erro que Pandora cometeu uma única vez.

 

Depois de 21 anos de ditadura e 29 de jejum de urna, os brasileiros recuperaram o direito de votar para presidente. Na eleição solteira de 1989, o cardápio incluía Ulysses Guimarães, Mario Covas e Leonel Brizola, mas o esclarecidíssimo eleitor achou por bem despachar para o segundo turno um caçador de marajás demagogo e populista e um ex-metalúrgico populista e demagogo

 

Collor derrotou Lula em 1989 e Fernando Henrique, em 1994 e 1998 — ambas as vezes no primeiro turno. Mas faltaram ao tucano de plumas vistosas novos coelhos para tirar da velha cartola e assim Lula venceu José Serra em 2002 e Geraldo Alckmin em 2006 — a despeito do escândalo do mensalão. Quatro anos depois, ainda com a popularidade maior que o ego, travestiu de “gerentona” uma incompetente de quatro costados  e a incumbiu de manter aquecida a poltrona que ele pretendia disputar novamente em 2014.

 

Dilma derrotou Aécio no segundo turno, mas foi afastada do cargo em abril de 2016 e apeada em definitivo no final de agosto, quando então seu vice, Michel Temer, foi efetivado no cargo. Num primeiro momento, a troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba: depois de 13 anos ouvindo garranchos verbais de um ex-retirante semianalfabeto e frases desconexas de uma gerentona de araque, um presidente que sabia falar — e até usar mesóclises — foi um refrigério. 

 

Temer conseguiu baixar a inflação e aprovar o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu prometido "ministério de notáveis" se revelou uma notável confraria de corruptos, e sua "ponte para o futuro", uma patética pinguela. Depois que uma conversa de alcova com Joesley Batista veio a público, o emedebista pensou em renunciar, mas foi demovido pelo então deputado Carlos Marun, que se encarregou de escudá-lo das “flechadas de Janot”. 

 

Nosso folclórico “Vampiro do Jaburu” terminou seu mandato-tampão como um pato manco e transferiu a faixa ao pseudopatriota eleito em 2018 para evitar que o Brasil fosse governado por um fantoche de presidiário. Mas foi pior a emenda que o soneto: a nefasta gestão de Bolsonaro — um mau militar e parlamentar medíocre de viés golpista — levou o STF a anular as condenações de Lula, embora elas já tivessem transitado em julgado no STJ quando o ministro Fachin, relator da Lava-Jato na Suprema Corte, acolheu a tese da incompetência territorial da 13ª Vara Federal de Curitiba — que ele próprio já havia rejeitado mais de dez vezes. 

 

Assim que o plenário da Corte reverteu (por 6 votos a 5) a jurisprudência que permitia o cumprimento antecipado da pena após condenação em segunda instancia, o petista deixou a cela VIP onde ficou hospedado por míseros 580 dias e, tão logo foi “descondenado” e reabilitado politicamente (por uma sequência de decisões teratológicas), voltou ao palanque e se derrotou Bolsonaro por uma vantagem de 1,8% dos votos válidos.

 

Evitar mais quatro anos (ou sabe Deus quantos) sob a batuta do capetão-golpista era crucial, mas reconduzir o criminoso à cena do crime era opcional. Ainda assim, a quimérica “terceira via” — tanto com João Dória quanto com Henrique Mandetta, Sergio Moro e Simone Tebet — não prosperou, e Lula, que jamais desceu do palanque, segue candidatíssimo a um nada improvável quarto mandato. Mas querer nem sempre é poder.

 

É claro como o sol do meio-dia que Bolsonaro e seus cúmplices do “núcleo crucial da trama golpista” serão condenados na próxima sexta-feira, e podem "pegar" mais de 40 anos de prisão se as penas máxima previstas para os cinco crimes forem aplicadas. Sem embargo, o 7 de Setembro foi marcado por manifestações contra e a favor do perdão aos atos golpistas — na Praça da República, 8,8 mil manifestantes entoaram gritos de “sem anistia” e exaltaram a soberania nacional; na Avenida Paulista e em Copacabana, 84,9 mil bolsonaristas pediram “anistia já”, criticaram o STF e elogiaram os EUA — com direito a uma enorme bandeira americana. 

 

Tarcísio de Freitas transformou sua aparição no alto do caminhão de som num espetáculo pornográfico. Despido desavergonhadamente do que seria seu maior patrimônio político — a presunção de moderação — o governador paulista cavalgou o Kama Sutra em posições ideológicas exóticas. “Ninguém aguenta mais a tirania de Alexandre de Moraes”. Gilmar Mendes saiu em defesa do colega de toga: “o que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe”.

 

Tarcísio sabe que a condenação consolidará o expurgo do "mito" das urnas, mas, de olho no espólio, soou tão radicalmente inaceitável quanto seu padrinho político. Para criador e criatura, o cinismo é uma forma de patriotismo, mas a candidatura do governador ao Planalto apodreceu antes de amadurecer, enquanto sua reeleição em São Paulo, antes provável, vai se tornando um roliço ponto de interrogação. 


Como era de esperar, o pano de fundo das manifestações foi impregnado de 2026. O ex-presidiário prevalece sobre qualquer rival em todas as pesquisas, enquanto o futuro presidiário ora veste a fantasia de vítima, ora a alegoria de “réu dodói”. Só não troca o papel de candidato fake, embora 65% dos eleitores avaliem que devesse admitir a morte política e apressar o testamento do que lhe restou de espólio eleitoral. Sem falar que 61% dos entrevistados pelo Datafolha fizeram cara de nojo para presidenciáveis que prometem anistiar o "ex-mito" de suas culpas.

 

A persistência com que o ódio de uma fação extremada mobiliza multidões não serve senão para aguçar a extrema angústia de brasileiros que já estão com o saco cheio de tudo o que não se pareça com um projeto consistente de futuro. E essa gente não costuma gritar no meio da multidão — ao contrário, prefere o escondidinho da cabine eleitoral.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

WINDOWS SANDBOX — FINAL

QUEM DANÇA EM TODOS OS CASAMENTOS CHORA EM TODOS OS FUNERAIS. 

 

Por ser extremamente popular (72% de participação no mercado mundial), o Windows é mais suscetível a pragas e mais visado pelos cibercriminosos do que os concorrentes, mas conta com antimalware e firewall nativos tão eficientes quanto as melhores soluções de varejo.

Guardadas as devidas diferenças, o mesmo raciocínio se aplica ao Android (70%) e ao iOS (28%). No sistema do Google, o Play Protect checa automaticamente a segurança dos aplicativos no momento da instalação, mas pode ser convocado a qualquer momento, bastando acessar a Play Store, tocar em sua foto de perfil, selecionar a opção Play Protect e pressionar o botão Verificar. 


A Apple não oferece nada parecido para o iOS, e tampouco recomenda soluções de terceiros, mas dificulta a instalação de aplicativos fora da App Store e submete os programas criados por desenvolvedores parceiros a uma rigorosa revisão — que não é infalível, mas reduz os riscos de malware. 


Observação: Os softwares disponibilizados pela Google Play Store também são verificados, mas não com o mesmo rigor, e os usuários podem instalar APKs de fontes pouco confiáveis.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


A Receita Federal revelou na quinta-feira 28 que uma organização criminosa ligada ao PCC movimentou R$ 52 bilhões em postos de combustíveis entre 2020 e 2024. A sofisticação do esquema chamou atenção dos investigadores, que identificaram o envolvimento de pelo menos 40 fundos de investimentos no maior centro financeiro do país, utilizando fintechs para inserir os valores no sistema financeiro formal.

Diante dos números bilionários, Fernando Haddad apresentou sua receita: "secar a fonte dos recursos para impedir que a atividade criminosa seja abastecida". A lógica é simples e, à primeira vista, irrefutável: “Se você prende uma pessoa, mas o dinheiro fica à disposição do crime, essa pessoa é substituída por outra. Estamos falando de operações que bloquearam mais de 100 imóveis, veículos e patrimônios que podem chegar aos bilhões. Assim você efetivamente estrangula o crime”, ensinou o ministro da Fazenda.

A proposta de intervenção estatal para "secar" recursos no sistema financeiro desperta ecos incômodos na memória econômica brasileira. Em 1985, José Sarney tentou uma fórmula mágica — o "canetaço" — para controlar a inflação galopante herdada dos desgovernos militares. Não funcionou. Fernando Collor foi ainda mais radical: congelou ativos financeiros, incluindo valores em contas-correntes e cadernetas de poupança, como forma de "enxugar a liquidez" e exterminar o "Dragão da Inflação". As consequências foram desastrosas: quebra de contratos, paralisia da economia e um trauma coletivo que marcou uma geração de brasileiros. Em outras palavras, a emenda ficou pior que o soneto.

O bloqueio de patrimônio criminoso é ferramenta jurídica estabelecida, respaldada pelo devido processo legal, e não se compara aos confiscos indiscriminados do passado, que atingiram poupadores honestos. Ainda assim, a história nos ensina cautela. Quando o Estado promete soluções simples para problemas complexos — sejam eles a inflação descontrolada ou o crime organizado —, convém lembrar que a linha entre a intervenção cirúrgica e o remédio que mata o paciente pode ser mais tênue do que imaginamos.

 

Tecnicamente, a distribuição de aplicativos para o iPhone fica restrita à App Store, mas a possibilidade de baixá-los dos sites dos respectivos desenvolvedores e de lojas alternativas (marketplaces) existe na União Européia desde a versão 17.5. Como os apps rodam em sandboxes, "tudo que acontece numa sandbox fica na sandbox", mas somente uma boa suíte de segurança — ainda que com acesso limitado ao sistema — protege o usuário de ataques de rede, links de phishing, softwares com acesso não autorizado a dados, sites falsos, spyware e ameaças que exploram vulnerabilidades em browsers e aplicações web. 


Falando em sandbox, a Microsoft finalmente integrou ao Windows um ambiente virtual onde é possível executar aplicativos ou arquivos suspeitos sem pôr em risco o sistema como um todo. Quando essa sandbox é fechada, tudo que foi feito lá desaparece como se nunca tivesse existido: arquivos, alterações no sistema, programas instalados, nada é salvo ou mantido após o encerramento. Se um arquivo tentar instalar um vírus, por exemplo, esse vírus ficará restrito ao ambiente virtual, e desaparecerá junto com ele sem deixar rastros. É como se houvesse um computador separado dentro do próprio PC, pronto para ser usado e descartado sem consequências. 


Windows Sandbox requer Windows 10 Pro, Enterprise ou Windows 11 com pelo menos 4 GB de RAM — a quantidade recomendável é 8 GB ou mais — e suporte à virtualização ativado no BIOS ou na UEFI, conforme o caso (saiba mais sobre virtualização nesta postagem). Para habilitar o recurso, vá ao Painel de Controle > Programas > Ativar ou desativar recursos do Windows, marque a opção Windows Sandbox, reinicie o computador (note que a sandbox só aparece na lista de recursos do Windows em computadores que atendem aos aos requisitos retrocitados). 


Para usar a ferramenta, basta clicar no ícone do Windows Sandbox, no menu Iniciar, copiar o arquivo do sistema principal, colar dentro da janela da sandbox e executá-lo normalmente, como se estivesse em outro computador. Isso inclui instaladores, aplicativos portáteis, arquivos compactados com programas internos e até documentos que pareçam estranhos. Mas é importante não transferir arquivos de dentro da sandbox de volta para o seu PC real sem ter certeza de que eles estão limpos.

 

A despeito das semelhanças com uma máquina virtual tradicional, o Windows Sandbox é mais simples e rápido, pois não exige configuração prévia, instalação de sistema ou alocação de recursos, além de ocupar menos espaço na memória. É só abrir e usar, lembrando que, embora seja uma forma prática de evitar problemas, especialmente com ameaças como ransomware, trojans e spywares, ele não substitui antivírus e firewall, nem tampouco dispensa cuidados com emails suspeitos e downloads desconhecidos. 


Divirta-se.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

SOBRE SAUDADE, SAUDOSISMO E ALIENAÇÃO.

HÁ QUE EXTIRPAR O CARCINOMA ANTES QUE SE TORNE METÁSTASE.

A palavra saudade (do latim solitas, que significa solidão) não é exclusiva da língua portuguesa. No inglês, homesickness equivale a saudades de casa, e to miss expressa o sentimento de falta de alguém. Expressões com significados semelhantes existem no espanhol — te extraño —, no francês — j’ai regret — e no alemão — Ich vermisse —, mas saudade ficou em 7º lugar entre as palavras mais difíceis de traduzir, segundo a Today Translations. 

 

Sentir saudades de algo bom que se foi é saudável, mas romantizar um passado que nunca existiu é caso de internação. Dizer que a vida era melhor quando não havia Internet nem celulares é cultuar o retrocesso, e almejar a volta da ditadura militar é passar recibo de que Einstein estava certo sobre a infinitude da estupidez humana e José Saramago, sobre o pior tipo de cegueira ser a mental.

 

Em "O Alienista", a obsessão de um psiquiatra por definir o limite entre sanidade e loucura acaba aprisionando toda uma cidade. Ao final, a única pessoa racional é o próprio alienista, que se condena como o único alienado. No mundo real, só a falta de manicômios por que tantos eleitores que expeliram o cérebro na primeira evacuação repetem a cada dois anos, nas urnas, o que Pandora fez com sua caixa uma única vez. 

 

Em momentos distintos da ditadura militar, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o risco de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Como ninguém os levou a sério, a vitória Collor sobre Lula na eleição de 1989 — a primeira pelo voto direto desde 1960 — resultou em um dos piores governos desde Tomé de Souza. Com impeachment do pseudocaçador de marajás, o vice Itamar Franco passou a titular, e o sucesso do Plano Real assegurou a vitória de Fernando Henrique em 1994.

 

O tucano de plumas vistosas foi o mais próximo de um estadista que presidiu o Brasil desde a redemocratização, mas sucumbiu à mosca azul e se tornou mentor, fomentador e primeiro beneficiário da PEC da Reeleição, abrindo espaço para Lula e Dilma se reelegerem. Michel Temer terminou seu mandato tampão a duras penas e não concorreu à reeleição; Bolsonaro disputou, foi derrotado e partiu para o golpe — que só não prosperou por falta de apoio das Forças Armadas.

 

Bolsonaro iniciou sua trajetória militar em 1973, mas deixou a caserna pela porta lateral depois que a revista Veja revelou que ele e outro capitão pretendiam explodir bombas em instalações militares como forma de pressionar o comando por melhores salários. Eles foram condenados por unanimidade, mas o STM os absolveu por 9 votos a 4 (mais detalhes em O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel). Depois de deixar a caserna pela porta lateral, o futuro presidente golpista foi vereador e sete vezes deputado federal, passou por nove partidos (todos do Centrão) e acabou no PL do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, onde disse estar se sentindo em casa

 

A despeito de não passar de projeto mal-ajambrado de mau militarparlamentar medíocre e admirador confesso da ditadura, ele derrotou Haddad em 2018 porque a parcela pensante do eleitorado rejeitou a ideia de ter no Planalto um bonifrate do então presidiário mais famoso do Brasil. Mas emenda ficou pior que o soneto. Bolsonaro conspirou contra o Estado Democrático de Direito em manifestações, motociatas e outros atos de cunho eminentemente golpista. Em 2021, durante um comício em Santa Catarina, referiu-se ao ministro Barroso — então presidente do TSE — como "aquele filho da puta". Discursando nas festividades de 7 de Setembro, levou seus apoiadores ao delírio xingando Moraes de canalha e afirmando que descumpriria as decisões do magistrado. 

 

Se o Brasil fosse uma democracia que se desse ao respeito, Bolsonaro teria sido impichado e processado criminalmente. Mas Rodrigo Maia e Arthur Lira engavetaram mais de 140 pedidos de impeachment, e o antiprocurador-geral Augusto Aras fez o mesmo com dezenas de denúncias por crimes comuns. Para piorar, sua indigesta gestão resultou na "descondenação" de Lula, que o derrotou em 2022. Evitar que um mandatário negacionista, sociopata e aluado se perpetuasse no poder era imperativo, mas eleger Lula era opcional — era "reconduzir o criminoso à cena do crime" (como disse Geraldo Alckmin quando ainda era tucano).  

 

Mas o que esperar de um país onde 29% da população com idades entre 15 e 64 anos é composta de analfabetos funcionais? Onde não se investe em educação porque povo ignorante é mais fácil de manipular com promessas assistencialistas, como Bolsa Família e assemelhadas? Povo instruído não se contenta com circo medíocre nem troca facilmente o voto por saco de cimento, vale gás ou selfie com seu bandido de estimação. Manter o rebanho ignorante é fundamental quando se governa com promessas vazias, slogans publicitários e programas que, em vez de emancipar, amarram.

 

Isso explica por que os brasileiros se dividem entre um ex-presidiário e um psicopata genocida de viés golpista. Mesmo inelegível até 2030 e com uma condenação esperando para acontecer, o "mito" segue liderando a extrema-direita, que o vê como um ex-presidente de mostruário perseguido por um algoz que, entre outras "injustiças", decretou sua prisão domiciliar. Também explica por que o Congresso está apinhado de parlamentares fisiologistas e corruptos, que colocam os próprios interesse acima dos interesses de quem deveriam representar, e por que nosso país é governado como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra pela porta das urnas e sai reciclada, mas ainda como merda, na posse do novo governante. 

 

Quem observa o Congresso de longe fica com a impressão de que Câmara e Senado viraram hospícios, e quem vê de perto descobre que o manicômio é momentaneamente administrado pelos loucos. Entre os espasmos que marcaram a volta das férias — Bolsonaro em prisão domiciliar e seu filho posando de herói da resistência democrática —, surge a maior das excentricidades: amotinada nos plenários das duas Casas, a facção bolsonarista exige a aprovação de um "pacote da paz" — que, trocando em miúdos, seria um pacote "salva-Bolsonaro, já que busca uma lei ou emenda constitucional para um indivíduo certo. Além da anistia, a sem-vergonhice inclui o impeachment de Moraes e o fim do foro privilegiado, com a anulação do julgamento da trama golpista no Supremo e a transferência do caso para a primeira instância do Judiciário, onde tudo voltaria à estaca zero. Tudo em nome da democracia, naturalmente. 

 

É improvável que eles consigam deter a condenação de Bolsonaro em setembro, mas Hugo Motta só conseguiu voltar à mesa da presidência da Câmara na noite de quarta-feira, após longa negociação com a oposição mediada por seu antecessor, Arthur Lira. Segundo o deputado bolsonarista Sóstenes Cavalcante, o presidente da Câmara se comprometeu a colocar em pauta os projetos da anistia e o que coloca fim ao foro privilegiado. Num abraço de afogados, Motta levou junto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. 

 

A anistia "é o esquecimento de uma ou mais infrações criminais" — ou seja, extingue totalmente a punição e os seus efeitos — e pode ser concedida antes de uma condenação. Com uma eventual anistia a crimes comuns e eleitorais, Bolsonaro sairia "zero quilômetro", pronto para concorrer à próxima eleição presidencial — mais ou menos como o STF fez com Lula ao anular suas condenações). Mas vale destacar que anistia tem natureza de lei penal, sendo da competência do Congresso Nacional. Como lei, dependerá de sanção do presidente da República — a menos que saia pela via da emenda constitucional. Por ter natureza de lei, a anistia é interpretada e aplicada pelo Poder Judiciário. E aí o buraco é mais embaixo.

 

No que tange ao processo criminal referente às imputações criminosas de golpe de Estado, atentado violento ao estado democrático de Direito, associação criminosa etc., muito já se discutiu sobre o foro competente. Alegou-se que, sem o manto da presidência nem cargo parlamentar, Bolsonaro não deveria ser julgado pelo STF. Mas a corte chamou a competência para si em razão de se tratar de imputações de crimes contra o Estado nacional e a sua constituição. Foro é matéria processual e, como tal, não se aplica retroativamente. Caso o STF condene Bolsonaro antes de uma eventual alteração legislativa processual, a decisão terá plena validade. 

 

Desde que assumiu o mandato presidencial, Bolsonaro preparou um golpe de Estado para se perpetuar no poder. A intentona não prosperou, mas o golpismo progrediu e passou a atacar a soberania nacional com condutas no estrangeiro a cargo do filho Eduardo, que convenceu Trump — seja por carta barganhando pela impunidade do pai, seja pelo tarifaço e pela arbitrária aplicação da Lei Magnitsky — a se imiscuir em nossas questões, a despeito da Carta das Nações Unidas, que garante a soberania dos Estados nacionais e autodeterminação dos povos.

 

Por tudo isso, nem com anistia, borrachas, deslocamentos de foros e alegadas nulidades e abusos, os democratas deverão jogar a toalha em favor de tiranos de plantão, que vão prosseguir com o esforço para salvar Bolsonaro, nem que isso custe colocar o Congresso e o país em polvorosa. Tiranos são tão perversos que Tomás de Aquino, doutor e santo da Igreja, defendeu a legitimidade do tiranicídio.

 

Resumo da ópera: Tudo visto e examinado, fica evidente  que o culpado por esse e outros descalabros é do populacho que o Criador designou para a porção de terra que viria a ser o país do futuro que nunca chega porque tem um imenso passado pela frente. Com um povo que tem bandidos de estimação, que reconduz criminosos à cena do crime, que canta o hino nacional para pneu de trator, envia sinais de celular para ETs e atende prontamente quando convocado para defender a anistia de um golpista, país nenhum pode dar certo.


Triste Brasil.