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terça-feira, 9 de setembro de 2025

A QUE PONTO CHEGAMOS!

NÃO É POSSÍVEL CONVENCER UM FANÁTICO DE COISA ALGUMA, POIS SUAS CRENÇAS NÃO SE BASEIAM EM EVIDÊNCIAS, MAS SIM NUMA PROFUNDA NECESSIDADE DE ACREDITAR.   


O saudoso Ivan Lessa ensinou que o brasileiro esquece a cada 15 anos o que aconteceu nos últimos 15 anos. Isso explica por que a récua de muares supostamente capacitada a votar repete a cada eleição o erro que Pandora cometeu uma única vez.

 

Depois de 21 anos de ditadura e 29 de jejum de urna, os brasileiros recuperaram o direito de votar para presidente. Na eleição solteira de 1989, o cardápio incluía Ulysses Guimarães, Mario Covas e Leonel Brizola, mas o esclarecidíssimo eleitor achou por bem despachar para o segundo turno um caçador de marajás demagogo e populista e um ex-metalúrgico populista e demagogo

 

Collor derrotou Lula em 1989 e Fernando Henrique, em 1994 e 1998 — ambas as vezes no primeiro turno. Mas faltaram ao tucano de plumas vistosas novos coelhos para tirar da velha cartola e assim Lula venceu José Serra em 2002 e Geraldo Alckmin em 2006 — a despeito do escândalo do mensalão. Quatro anos depois, ainda com a popularidade maior que o ego, travestiu de “gerentona” uma incompetente de quatro costados  e a incumbiu de manter aquecida a poltrona que ele pretendia disputar novamente em 2014.

 

Dilma derrotou Aécio no segundo turno, mas foi afastada do cargo em abril de 2016 e apeada em definitivo no final de agosto, quando então seu vice, Michel Temer, foi efetivado no cargo. Num primeiro momento, a troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba: depois de 13 anos ouvindo garranchos verbais de um ex-retirante semianalfabeto e frases desconexas de uma gerentona de araque, um presidente que sabia falar — e até usar mesóclises — foi um refrigério. 

 

Temer conseguiu baixar a inflação e aprovar o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu prometido "ministério de notáveis" se revelou uma notável confraria de corruptos, e sua "ponte para o futuro", uma patética pinguela. Depois que uma conversa de alcova com Joesley Batista veio a público, o emedebista pensou em renunciar, mas foi demovido pelo então deputado Carlos Marun, que se encarregou de escudá-lo das “flechadas de Janot”. 

 

Nosso folclórico “Vampiro do Jaburu” terminou seu mandato-tampão como um pato manco e transferiu a faixa ao pseudopatriota eleito em 2018 para evitar que o Brasil fosse governado por um fantoche de presidiário. Mas foi pior a emenda que o soneto: a nefasta gestão de Bolsonaro — um mau militar e parlamentar medíocre de viés golpista — levou o STF a anular as condenações de Lula, embora elas já tivessem transitado em julgado no STJ quando o ministro Fachin, relator da Lava-Jato na Suprema Corte, acolheu a tese da incompetência territorial da 13ª Vara Federal de Curitiba — que ele próprio já havia rejeitado mais de dez vezes. 

 

Assim que o plenário da Corte reverteu (por 6 votos a 5) a jurisprudência que permitia o cumprimento antecipado da pena após condenação em segunda instancia, o petista deixou a cela VIP onde ficou hospedado por míseros 580 dias e, tão logo foi “descondenado” e reabilitado politicamente (por uma sequência de decisões teratológicas), voltou ao palanque e se derrotou Bolsonaro por uma vantagem de 1,8% dos votos válidos.

 

Evitar mais quatro anos (ou sabe Deus quantos) sob a batuta do capetão-golpista era crucial, mas reconduzir o criminoso à cena do crime era opcional. Ainda assim, a quimérica “terceira via” — tanto com João Dória quanto com Henrique Mandetta, Sergio Moro e Simone Tebet — não prosperou, e Lula, que jamais desceu do palanque, segue candidatíssimo a um nada improvável quarto mandato. Mas querer nem sempre é poder.

 

É claro como o sol do meio-dia que Bolsonaro e seus cúmplices do “núcleo crucial da trama golpista” serão condenados na próxima sexta-feira, e podem "pegar" mais de 40 anos de prisão se as penas máxima previstas para os cinco crimes forem aplicadas. Sem embargo, o 7 de Setembro foi marcado por manifestações contra e a favor do perdão aos atos golpistas — na Praça da República, 8,8 mil manifestantes entoaram gritos de “sem anistia” e exaltaram a soberania nacional; na Avenida Paulista e em Copacabana, 84,9 mil bolsonaristas pediram “anistia já”, criticaram o STF e elogiaram os EUA — com direito a uma enorme bandeira americana. 

 

Tarcísio de Freitas transformou sua aparição no alto do caminhão de som num espetáculo pornográfico. Despido desavergonhadamente do que seria seu maior patrimônio político — a presunção de moderação — o governador paulista cavalgou o Kama Sutra em posições ideológicas exóticas. “Ninguém aguenta mais a tirania de Alexandre de Moraes”. Gilmar Mendes saiu em defesa do colega de toga: “o que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe”.

 

Tarcísio sabe que a condenação consolidará o expurgo do "mito" das urnas, mas, de olho no espólio, soou tão radicalmente inaceitável quanto seu padrinho político. Para criador e criatura, o cinismo é uma forma de patriotismo, mas a candidatura do governador ao Planalto apodreceu antes de amadurecer, enquanto sua reeleição em São Paulo, antes provável, vai se tornando um roliço ponto de interrogação. 


Como era de esperar, o pano de fundo das manifestações foi impregnado de 2026. O ex-presidiário prevalece sobre qualquer rival em todas as pesquisas, enquanto o futuro presidiário ora veste a fantasia de vítima, ora a alegoria de “réu dodói”. Só não troca o papel de candidato fake, embora 65% dos eleitores avaliem que devesse admitir a morte política e apressar o testamento do que lhe restou de espólio eleitoral. Sem falar que 61% dos entrevistados pelo Datafolha fizeram cara de nojo para presidenciáveis que prometem anistiar o "ex-mito" de suas culpas.

 

A persistência com que o ódio de uma fação extremada mobiliza multidões não serve senão para aguçar a extrema angústia de brasileiros que já estão com o saco cheio de tudo o que não se pareça com um projeto consistente de futuro. E essa gente não costuma gritar no meio da multidão — ao contrário, prefere o escondidinho da cabine eleitoral.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

WINDOWS SANDBOX — FINAL

QUEM DANÇA EM TODOS OS CASAMENTOS CHORA EM TODOS OS FUNERAIS. 

 

Por ser extremamente popular (72% de participação no mercado mundial), o Windows é mais suscetível a pragas e mais visado pelos cibercriminosos do que os concorrentes, mas conta com antimalware e firewall nativos tão eficientes quanto as melhores soluções de varejo.

Guardadas as devidas diferenças, o mesmo raciocínio se aplica ao Android (70%) e ao iOS (28%). No sistema do Google, o Play Protect checa automaticamente a segurança dos aplicativos no momento da instalação, mas pode ser convocado a qualquer momento, bastando acessar a Play Store, tocar em sua foto de perfil, selecionar a opção Play Protect e pressionar o botão Verificar. 


A Apple não oferece nada parecido para o iOS, e tampouco recomenda soluções de terceiros, mas dificulta a instalação de aplicativos fora da App Store e submete os programas criados por desenvolvedores parceiros a uma rigorosa revisão — que não é infalível, mas reduz os riscos de malware. 


Observação: Os softwares disponibilizados pela Google Play Store também são verificados, mas não com o mesmo rigor, e os usuários podem instalar APKs de fontes pouco confiáveis.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


A Receita Federal revelou na quinta-feira 28 que uma organização criminosa ligada ao PCC movimentou R$ 52 bilhões em postos de combustíveis entre 2020 e 2024. A sofisticação do esquema chamou atenção dos investigadores, que identificaram o envolvimento de pelo menos 40 fundos de investimentos no maior centro financeiro do país, utilizando fintechs para inserir os valores no sistema financeiro formal.

Diante dos números bilionários, Fernando Haddad apresentou sua receita: "secar a fonte dos recursos para impedir que a atividade criminosa seja abastecida". A lógica é simples e, à primeira vista, irrefutável: “Se você prende uma pessoa, mas o dinheiro fica à disposição do crime, essa pessoa é substituída por outra. Estamos falando de operações que bloquearam mais de 100 imóveis, veículos e patrimônios que podem chegar aos bilhões. Assim você efetivamente estrangula o crime”, ensinou o ministro da Fazenda.

A proposta de intervenção estatal para "secar" recursos no sistema financeiro desperta ecos incômodos na memória econômica brasileira. Em 1985, José Sarney tentou uma fórmula mágica — o "canetaço" — para controlar a inflação galopante herdada dos desgovernos militares. Não funcionou. Fernando Collor foi ainda mais radical: congelou ativos financeiros, incluindo valores em contas-correntes e cadernetas de poupança, como forma de "enxugar a liquidez" e exterminar o "Dragão da Inflação". As consequências foram desastrosas: quebra de contratos, paralisia da economia e um trauma coletivo que marcou uma geração de brasileiros. Em outras palavras, a emenda ficou pior que o soneto.

O bloqueio de patrimônio criminoso é ferramenta jurídica estabelecida, respaldada pelo devido processo legal, e não se compara aos confiscos indiscriminados do passado, que atingiram poupadores honestos. Ainda assim, a história nos ensina cautela. Quando o Estado promete soluções simples para problemas complexos — sejam eles a inflação descontrolada ou o crime organizado —, convém lembrar que a linha entre a intervenção cirúrgica e o remédio que mata o paciente pode ser mais tênue do que imaginamos.

 

Tecnicamente, a distribuição de aplicativos para o iPhone fica restrita à App Store, mas a possibilidade de baixá-los dos sites dos respectivos desenvolvedores e de lojas alternativas (marketplaces) existe na União Européia desde a versão 17.5. Como os apps rodam em sandboxes, "tudo que acontece numa sandbox fica na sandbox", mas somente uma boa suíte de segurança — ainda que com acesso limitado ao sistema — protege o usuário de ataques de rede, links de phishing, softwares com acesso não autorizado a dados, sites falsos, spyware e ameaças que exploram vulnerabilidades em browsers e aplicações web. 


Falando em sandbox, a Microsoft finalmente integrou ao Windows um ambiente virtual onde é possível executar aplicativos ou arquivos suspeitos sem pôr em risco o sistema como um todo. Quando essa sandbox é fechada, tudo que foi feito lá desaparece como se nunca tivesse existido: arquivos, alterações no sistema, programas instalados, nada é salvo ou mantido após o encerramento. Se um arquivo tentar instalar um vírus, por exemplo, esse vírus ficará restrito ao ambiente virtual, e desaparecerá junto com ele sem deixar rastros. É como se houvesse um computador separado dentro do próprio PC, pronto para ser usado e descartado sem consequências. 


Windows Sandbox requer Windows 10 Pro, Enterprise ou Windows 11 com pelo menos 4 GB de RAM — a quantidade recomendável é 8 GB ou mais — e suporte à virtualização ativado no BIOS ou na UEFI, conforme o caso (saiba mais sobre virtualização nesta postagem). Para habilitar o recurso, vá ao Painel de Controle > Programas > Ativar ou desativar recursos do Windows, marque a opção Windows Sandbox, reinicie o computador (note que a sandbox só aparece na lista de recursos do Windows em computadores que atendem aos aos requisitos retrocitados). 


Para usar a ferramenta, basta clicar no ícone do Windows Sandbox, no menu Iniciar, copiar o arquivo do sistema principal, colar dentro da janela da sandbox e executá-lo normalmente, como se estivesse em outro computador. Isso inclui instaladores, aplicativos portáteis, arquivos compactados com programas internos e até documentos que pareçam estranhos. Mas é importante não transferir arquivos de dentro da sandbox de volta para o seu PC real sem ter certeza de que eles estão limpos.

 

A despeito das semelhanças com uma máquina virtual tradicional, o Windows Sandbox é mais simples e rápido, pois não exige configuração prévia, instalação de sistema ou alocação de recursos, além de ocupar menos espaço na memória. É só abrir e usar, lembrando que, embora seja uma forma prática de evitar problemas, especialmente com ameaças como ransomware, trojans e spywares, ele não substitui antivírus e firewall, nem tampouco dispensa cuidados com emails suspeitos e downloads desconhecidos. 


Divirta-se.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

SOBRE SAUDADE, SAUDOSISMO E ALIENAÇÃO.

HÁ QUE EXTIRPAR O CARCINOMA ANTES QUE SE TORNE METÁSTASE.

A palavra saudade (do latim solitas, que significa solidão) não é exclusiva da língua portuguesa. No inglês, homesickness equivale a saudades de casa, e to miss expressa o sentimento de falta de alguém. Expressões com significados semelhantes existem no espanhol — te extraño —, no francês — j’ai regret — e no alemão — Ich vermisse —, mas saudade ficou em 7º lugar entre as palavras mais difíceis de traduzir, segundo a Today Translations. 

 

Sentir saudades de algo bom que se foi é saudável, mas romantizar um passado que nunca existiu é caso de internação. Dizer que a vida era melhor quando não havia Internet nem celulares é cultuar o retrocesso, e almejar a volta da ditadura militar é passar recibo de que Einstein estava certo sobre a infinitude da estupidez humana e José Saramago, sobre o pior tipo de cegueira ser a mental.

 

Em "O Alienista", a obsessão de um psiquiatra por definir o limite entre sanidade e loucura acaba aprisionando toda uma cidade. Ao final, a única pessoa racional é o próprio alienista, que se condena como o único alienado. No mundo real, só a falta de manicômios por que tantos eleitores que expeliram o cérebro na primeira evacuação repetem a cada dois anos, nas urnas, o que Pandora fez com sua caixa uma única vez. 

 

Em momentos distintos da ditadura militar, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o risco de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Como ninguém os levou a sério, a vitória Collor sobre Lula na eleição de 1989 — a primeira pelo voto direto desde 1960 — resultou em um dos piores governos desde Tomé de Souza. Com impeachment do pseudocaçador de marajás, o vice Itamar Franco passou a titular, e o sucesso do Plano Real assegurou a vitória de Fernando Henrique em 1994.

 

O tucano de plumas vistosas foi o mais próximo de um estadista que presidiu o Brasil desde a redemocratização, mas sucumbiu à mosca azul e se tornou mentor, fomentador e primeiro beneficiário da PEC da Reeleição, abrindo espaço para Lula e Dilma se reelegerem. Michel Temer terminou seu mandato tampão a duras penas e não concorreu à reeleição; Bolsonaro disputou, foi derrotado e partiu para o golpe — que só não prosperou por falta de apoio das Forças Armadas.

 

Bolsonaro iniciou sua trajetória militar em 1973, mas deixou a caserna pela porta lateral depois que a revista Veja revelou que ele e outro capitão pretendiam explodir bombas em instalações militares como forma de pressionar o comando por melhores salários. Eles foram condenados por unanimidade, mas o STM os absolveu por 9 votos a 4 (mais detalhes em O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel). Depois de deixar a caserna pela porta lateral, o futuro presidente golpista foi vereador e sete vezes deputado federal, passou por nove partidos (todos do Centrão) e acabou no PL do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, onde disse estar se sentindo em casa

 

A despeito de não passar de projeto mal-ajambrado de mau militarparlamentar medíocre e admirador confesso da ditadura, ele derrotou Haddad em 2018 porque a parcela pensante do eleitorado rejeitou a ideia de ter no Planalto um bonifrate do então presidiário mais famoso do Brasil. Mas emenda ficou pior que o soneto. Bolsonaro conspirou contra o Estado Democrático de Direito em manifestações, motociatas e outros atos de cunho eminentemente golpista. Em 2021, durante um comício em Santa Catarina, referiu-se ao ministro Barroso — então presidente do TSE — como "aquele filho da puta". Discursando nas festividades de 7 de Setembro, levou seus apoiadores ao delírio xingando Moraes de canalha e afirmando que descumpriria as decisões do magistrado. 

 

Se o Brasil fosse uma democracia que se desse ao respeito, Bolsonaro teria sido impichado e processado criminalmente. Mas Rodrigo Maia e Arthur Lira engavetaram mais de 140 pedidos de impeachment, e o antiprocurador-geral Augusto Aras fez o mesmo com dezenas de denúncias por crimes comuns. Para piorar, sua indigesta gestão resultou na "descondenação" de Lula, que o derrotou em 2022. Evitar que um mandatário negacionista, sociopata e aluado se perpetuasse no poder era imperativo, mas eleger Lula era opcional — era "reconduzir o criminoso à cena do crime" (como disse Geraldo Alckmin quando ainda era tucano).  

 

Mas o que esperar de um país onde 29% da população com idades entre 15 e 64 anos é composta de analfabetos funcionais? Onde não se investe em educação porque povo ignorante é mais fácil de manipular com promessas assistencialistas, como Bolsa Família e assemelhadas? Povo instruído não se contenta com circo medíocre nem troca facilmente o voto por saco de cimento, vale gás ou selfie com seu bandido de estimação. Manter o rebanho ignorante é fundamental quando se governa com promessas vazias, slogans publicitários e programas que, em vez de emancipar, amarram.

 

Isso explica por que os brasileiros se dividem entre um ex-presidiário e um psicopata genocida de viés golpista. Mesmo inelegível até 2030 e com uma condenação esperando para acontecer, o "mito" segue liderando a extrema-direita, que o vê como um ex-presidente de mostruário perseguido por um algoz que, entre outras "injustiças", decretou sua prisão domiciliar. Também explica por que o Congresso está apinhado de parlamentares fisiologistas e corruptos, que colocam os próprios interesse acima dos interesses de quem deveriam representar, e por que nosso país é governado como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra pela porta das urnas e sai reciclada, mas ainda como merda, na posse do novo governante. 

 

Quem observa o Congresso de longe fica com a impressão de que Câmara e Senado viraram hospícios, e quem vê de perto descobre que o manicômio é momentaneamente administrado pelos loucos. Entre os espasmos que marcaram a volta das férias — Bolsonaro em prisão domiciliar e seu filho posando de herói da resistência democrática —, surge a maior das excentricidades: amotinada nos plenários das duas Casas, a facção bolsonarista exige a aprovação de um "pacote da paz" — que, trocando em miúdos, seria um pacote "salva-Bolsonaro, já que busca uma lei ou emenda constitucional para um indivíduo certo. Além da anistia, a sem-vergonhice inclui o impeachment de Moraes e o fim do foro privilegiado, com a anulação do julgamento da trama golpista no Supremo e a transferência do caso para a primeira instância do Judiciário, onde tudo voltaria à estaca zero. Tudo em nome da democracia, naturalmente. 

 

É improvável que eles consigam deter a condenação de Bolsonaro em setembro, mas Hugo Motta só conseguiu voltar à mesa da presidência da Câmara na noite de quarta-feira, após longa negociação com a oposição mediada por seu antecessor, Arthur Lira. Segundo o deputado bolsonarista Sóstenes Cavalcante, o presidente da Câmara se comprometeu a colocar em pauta os projetos da anistia e o que coloca fim ao foro privilegiado. Num abraço de afogados, Motta levou junto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. 

 

A anistia "é o esquecimento de uma ou mais infrações criminais" — ou seja, extingue totalmente a punição e os seus efeitos — e pode ser concedida antes de uma condenação. Com uma eventual anistia a crimes comuns e eleitorais, Bolsonaro sairia "zero quilômetro", pronto para concorrer à próxima eleição presidencial — mais ou menos como o STF fez com Lula ao anular suas condenações). Mas vale destacar que anistia tem natureza de lei penal, sendo da competência do Congresso Nacional. Como lei, dependerá de sanção do presidente da República — a menos que saia pela via da emenda constitucional. Por ter natureza de lei, a anistia é interpretada e aplicada pelo Poder Judiciário. E aí o buraco é mais embaixo.

 

No que tange ao processo criminal referente às imputações criminosas de golpe de Estado, atentado violento ao estado democrático de Direito, associação criminosa etc., muito já se discutiu sobre o foro competente. Alegou-se que, sem o manto da presidência nem cargo parlamentar, Bolsonaro não deveria ser julgado pelo STF. Mas a corte chamou a competência para si em razão de se tratar de imputações de crimes contra o Estado nacional e a sua constituição. Foro é matéria processual e, como tal, não se aplica retroativamente. Caso o STF condene Bolsonaro antes de uma eventual alteração legislativa processual, a decisão terá plena validade. 

 

Desde que assumiu o mandato presidencial, Bolsonaro preparou um golpe de Estado para se perpetuar no poder. A intentona não prosperou, mas o golpismo progrediu e passou a atacar a soberania nacional com condutas no estrangeiro a cargo do filho Eduardo, que convenceu Trump — seja por carta barganhando pela impunidade do pai, seja pelo tarifaço e pela arbitrária aplicação da Lei Magnitsky — a se imiscuir em nossas questões, a despeito da Carta das Nações Unidas, que garante a soberania dos Estados nacionais e autodeterminação dos povos.

 

Por tudo isso, nem com anistia, borrachas, deslocamentos de foros e alegadas nulidades e abusos, os democratas deverão jogar a toalha em favor de tiranos de plantão, que vão prosseguir com o esforço para salvar Bolsonaro, nem que isso custe colocar o Congresso e o país em polvorosa. Tiranos são tão perversos que Tomás de Aquino, doutor e santo da Igreja, defendeu a legitimidade do tiranicídio.

 

Resumo da ópera: Tudo visto e examinado, fica evidente  que o culpado por esse e outros descalabros é do populacho que o Criador designou para a porção de terra que viria a ser o país do futuro que nunca chega porque tem um imenso passado pela frente. Com um povo que tem bandidos de estimação, que reconduz criminosos à cena do crime, que canta o hino nacional para pneu de trator, envia sinais de celular para ETs e atende prontamente quando convocado para defender a anistia de um golpista, país nenhum pode dar certo.


Triste Brasil.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 38ª PARTE

PENSE, ACREDITE, SONHE E OUSE.

É possível chegar à Lua em menos de três dias e a Marte em cerca de seis meses meses, mas uma missão tripulada ao planeta vermelho pode durar mais de um ano, dependendo da logística da viagem e do tempo de permanência em solo marciano.

Considerando que Suni Williams e Butch Wilmore ficaram nove meses na ISS e Frank Rubio orbitou a Terra durante 371 dias, passar algumas semanas em Marte não é uma coisa de outro mundo (embora o seja literalmente). Além disso, a NASA vem desenvolvendo novas tecnologias para tornar as missões mais seguras, e a Rússia está testando um motor elétrico de plasma, capaz de reduzir o tempo de viagem a menos de 60 dias.

Em escalas cósmicas, Marte está logo ali na esquina, mas os exoplanetas ficam do outro lado da cidade. Para enviar seres humanos a Proxima Centauri b, que dista 39,735 trilhões de quilômetros da Terra, seria preciso desenvolver um sistema de hibernação ou alguma tecnologia capaz de manter os astronautas vivos e saudáveis pelo tempo necessário— 4,2 anos à velocidade da luz (1,08 bilhão de km/h) e 6.500 anos com a velocidade da Parker Solar Probe (692 mil km/h).

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Há décadas vivemos numa caquistocracia. Depois de FHC, esta banânia passou a ser governada como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra pela porta das urnas, muda de aparência, troca de nome e sai como merda com a posse do novo governante. Em 2018, elegeu-se o refugo da escória da humanidade para impedir que o bonifrate do então presidiário mais famoso da história deste país ocupasse o gabinete mais cobiçado do Palácio do Planalto. Como a emenda ficou pior que o soneto, o presidiário foi libertado, descondenado e reabilitado politicamente por togas camaradas para nos livrar do escroto golpista. E deu no que está dando. 

Às vésperas de completar 80 anos, caquético, mais gasto que sapato de vendedor pracista e amargando os piores índices de aprovação popular de toda sua trajetória política, o macróbio vem torrando bilhões do suado dinheiro dos contribuintes em busca de um quarto mandato (que Deus nos livre e guarde dessa desgraça). Enquanto conta os dias que o separam da mais que provável condenação por tentativa de golpe, Bolsonaro posa de vítima e insiste que será candidato em 2026. Diante do risco de ser preso preventivamente, optou pela cautela e desistiu de participar de uma coletiva da oposição na Câmara dos Deputados. 

O filho Eduardo se homiziou na cueca de Trump para conspirar contra o próprio país. Se nada for feito, 03 será remunerado pela pátria para traí-la em tempo integral. Pela lógica, deveria ter sido cassado por atentar contra o artigo do regimento da Câmara que impõe aos deputados o dever de "promover a defesa do interesse público e da soberania nacional". Mas a Câmara é uma Casa ilógica. 

Adaptado para os tempos de tornozeleira, o slogan do bolsonarismo ficou assim: "Anistia acima de tudo, Trump acima de todos". A velha tríade que o integralismo nacional importou do fascismo europeu — Deus, pátria e família — ganhou novos sentidos. Deus é um imperador laranja chocado com a "caça às bruxas"; a pátria se deslocou para o Norte, e a família Bolsonaro, a única que importa, virou célula-mártir de uma conspiração antipatriótica desde que Dudu Bananinha escolheu os Estados Unidos como terra natal.


Quanto à viagens relativísticas — que permitiriam tanto avançar para o futuro quanto voltar ao passado — Einstein demonstrou que o tempo passa mais devagar conforme a velocidade do observador aumenta (dilatação temporal), "congela" quando o observador atinge velocidade da luz e regride numa velocidade superluminal. O tempo negativo é uma realidade matemática e experimental no mundo quântico, mas continua sendo visto como "desfritar um ovo". E inverter a seta do tempo é essencial para saborear um filé de brontossauro com Fred Flintstone na pré-histórica Bedrock.

Para fruir dos efeitos da dilatação temporal, é preciso viajar a velocidades próximas à da luz, o que é inviável com a tecnologia atual. A boa notícia é que há outras opções no cardápio cósmico, como o Cilindro de Tipler — cuja rotação extrema geraria um frame dragging no tecido espaço-temporal, permitindo viajar não apenas pelo espaço, mas também pelo tempo. A má notícia é que sua densidade teria de ser infinita, e seu comprimento, comparável ao do próprio universo. Mas isso é uma questão de implementação, como disse a coruja ao coelho da fábula.

As misteriosas cordas cósmicas — que, apesar do nome, nada têm a ver com a famosa Teoria das Cordas — também são uma luz no fim do túnel. Se duas dessas cordas passassem perto uma da outra a uma velocidade próxima à da luz, a deformação que elas produziriam no espaço-tempo permitiria voltar ao passado "pegando um atalho no Waze do Universo". O problema é que ninguém jamais viu uma dessas cordas — nem em fotos de satélite, nem em buracos negros fotogênicos.

A opção mais popular entre os roteiristas de ficção científica são os buracos de minhoca — atalhos cósmicos que supostamente levariam uma espaçonave de um ponto a outro do espaço-tempo em segundos, mesmo que a distância linear fosse de milhares ou milhões de anos-luz. O problema é que mantê-los abertos exigiria uma quantidade imensa de "matéria exótica", com energia negativa tão densa que faria uma estrela de nêutrons parecer uma nuvem de algodão. A física não descarta a existência dessa matéria, mas ainda não sabe onde encontrá-la.

As coisas ficam ainda mais esquisitas quando saltamos do campo macroscópico para o mundo quântico.  Algumas interpretações da mecânica quântica — como a proposta por David Deutsch — sugerem que o tempo pode ser apenas mais uma coordenada entre muitas, e que viajar através dele seria como pular de uma realidade paralela para outra (em vez de voltar ao próprio passado, o viajante entraria num passado alternativo, onde sua presença não causaria paradoxos nem anomalias temporais).

Para quem acredita que o Universo é uma simulação — hipótese levada a sério por alguns filósofos e cientistas —, a viagem no tempo seria apenas uma questão de reverter os dados, como se fazia com as fitas VHS. Não se voltaria ao passado real, mas a uma versão armazenada ou replicada digitalmente, como um backup universal da realidade. 

Observação: Essa hipótese combina melhor com Matrix do que com Einstein, mas não custa sonhar — pelo menos enquanto Haddad não taxar taxar os sonhos. Ademais, se estamos mesmo em uma simulação, os bugs da viagem no tempo devem estar na próxima atualização do sistema.

Embora não haja evidências experimentais de que alguma dessas alternativas funcione, a física teórica continua fornecendo material para os autores mais ousados viajarem rumo ao passado, ao futuro ou a qualquer ponto entre os dois. 

Enquanto a ciência busca provas, a ficção já está lá: jantando com Einstein, jogando xadrez com Hawking e tomando chá com Schrödinger e seu gato — vivo ou morto, dependendo da linha temporal.

Continua...

sexta-feira, 4 de julho de 2025

PALAVRAS E EXPRESSÕES QUE DEMANDAM ATENÇÃO — FINAL

DINHEIRO SÓ NÃO TRAZ FELICIDADE PARA QUEM NÃO SABE O QUE FAZER COM ELE.

 

Enquanto — Use somente enquanto (e não enquanto que).

 

Em que pese — Modernamente, essa locução dispensa a preposição a e o verbo concorda com o sujeito (em que pesem seus bons argumentos, mantenho meu ponto de vista). A regência clássica, com preposição e o verbo invariável, ainda é usada quando a expressão trata de pessoas (em que pese aos bolsonaristas, o "mito" não passa de um golpista). 

 

Estória — Por influência do inglês story, a palavra estória foi proposta para designar narrativa de ficção. Em 1943, a Academia Brasileira de Letras decidiu que história deve ser usada tanto para narrativas reais quanto fictícias.

 

Etc. — O termo etc. é a abreviação da locução latina et coetera, que significa e outras coisas. Recomenda-se que seja seguido de ponto e precedido por vírgula (militares, diplomatas, etc.), como fazem bons autores. No Português do Dia a Dia, do professor Sérgio Nogueira Duarte da Silva, consta que o uso da vírgula é facultativo, que não se deve usar o conectivo e antes, e que, caso o termo finalize uma frase, o ponto final não deve ser duplicado. Tampouco se usa etc. para pessoas (já foram presos Lula, Temer etc.) nem seguido de reticências.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Até onde minha memória alcança, o Brasil jamais teve um presidente que despertasse genuíno orgulho em seu povo, e tampouco teve um povo que não repetisse a cada eleição o que Pandora fez uma única vez. Mas a pior safra de mandatários veio com a redemocratização. Tanto é que foi preciso tirar Lula da prisão para impedir a mais que provável reeleição de Bolsonaro. Aliás, quem vota nesse tipo de gente não é vítima, é cúmplice. Mas isso é conversa para outro hora.

Missão dada, missão cumprida: o ex-presidiário "descondenado" venceu o pior mandatário desde Tomé de Souza por menos de 2% dos votos válidos, mas sua terceira gestão vai de mal a pior, como demonstram os índices de rejeição popular — os mais altos de toda a sua trajetória política. Só não se pode dizer que a emenda foi pior que o soneto porque, ao menos em tese, nada seria pior do que manter no poder o refugo da escória da humanidade. No entanto, como que se espelhando em seu antigo "poste" — que "fez o diabo" para se reeleger em 2014 —, Lula resolveu quebrar a economia em nome de um quarto mandato. 

Depois que o Congresso barrou o decreto presidencial que aumentava o IOF para bancar sua gastança populista e eleitoreira, o governo recorreu ao STF. “Se eu não for ao Judiciário, não governo mais”, vociferou o caga-raiva, acusando nas entrelinhas deputados e senadores de usurparem uma prerrogativa que caberia exclusivamente ao chefe do Executivo. 

Em tempos anteriores, Executivo e Legislativo divergiam. Agora, nem se falam mais. Lula acusa Hugo Motta de descumprir sua palavra — algo impensável e inaceitável em termos políticos, mesmo que o presidente da Câmara tenha levado ao plenário a questão do IOF e imposto ao governo uma derrota humilhante. Para piorar, ao contrário de Rodrigo Pacheco, que costumava servir de contrapeso às investidas de Arthur Lira contra o Planalto, Alcolumbre se associou a Motta para puxar o tapete de Lula a quatro mãos.

A verdade é que a normalidade nas relações entre Executivo e Legislativo deixou de existir há muito tempo. Hoje, dono de suas próprias emendas orçamentárias, cada deputado se sente livre para dar uma banana ao governo — e ao próprio partido: até os líderes de bancada têm dificuldades em falar por seus pares. É como se houvesse 513 partidos na Câmara e mais 81 no Senado. E, no meio desse caos, um presidente enfraquecido tenta governar com base no gogó, no improviso e em decisões judiciais sob medida, como aquela que o "descondenou" e reabilitou politicamente. E o povo que se exploda. Afinal, quem semeia ventos colhe tempestades.


Pronomes demonstrativos:

 

Aquele — Indica algo ou alguém afastado espacial e/ou temporalmente do falante e do ouvinte (aquele dia foi inesquecível), mas pode se usado para designar indivíduo cujo nome se ignora ou que não se possa ou deva nomear (aquele é um caso sério de político corrupto) e se referir a pessoa ou coisa genericamente mencionada (mulher boa é aquela que menos exige). Nos casos em que há dois antecedentes no discurso, refere-se ao primeiro — por oposição a este, que designa o mais próximo (pai e filho conhecem o seu ofício, aquele mais que este).

 

Esse — Designa pessoa ou coisa afastada do emissor da mensagem e próxima a seu receptor (essa cadeira está quebrada, sente-se na outra) ou algo ou alguém não diretamente ligado ou próximo, mas que o emissor pressupõe ser do conhecimento do receptor (esses políticos de hoje só sabem roubar). Pode também designar o que já foi antes mencionado (repouso e boa alimentação, esse é sempre um bom conselho), ser empregado junto a aposto de um termo já referido recentemente (Bolsonaro, esse grande golpista, vai acabar na cadeia), ou com referência a um tempo relativamente distante no passado ou no futuro, mas que foi referido anteriormente (passada essa hora de maior movimento, o trânsito fica uma beleza).

 

Este — Indica o que está próximo ao falante, no espaço, no tempo ou no discurso (este copo aqui é meu). Com substantivos que denotam tempo, indica o tempo presente ou o mais recente, se a frase é passada, ou o primeiro que virá, se a frase é futura (esta noite meus amigos virão à minha casa). Combinado com aquele ou esse, serve para fazer referência a duas pessoas ou coisas já mencionadas, indicando a última (Lula e Bolsonaro não devem disputar a próxima eleição, este por estar inelegível e aquele por estar muito velho).

 

Isso — Substitui o nome de algo que está afastado do falante e mais perto do ouvinte, ou de algo passado, mas relativamente recente, ou que foi mencionado antes (deixe-me ver isso que você tem nas mãos; isso foi ontem, hoje as coisas mudaram).

 

Isto — Indica algo que se acha mais perto de quem fala, ou, temporalmente, que é recente (tirem isto da minha frente!)

 

Face a — A expressão tradicional em português é em face de, mas não existe impedimento quanto ao uso da expressão em questão, já abonada pelos melhores dicionários e gramáticos.

 

Fazer as vezes de — Sem crase (embora fosse terceiro-secretário, fazia as vezes de chefe da missão).

 

Futuro do subjuntivo — Erros nesse tempo verbal são comuns, já que na maioria dos casos a conjugação é idêntica ao infinitivo (se eu quiser, se ela gostar, etc.). Mas há exceções (se o tempo se mantiver firme, e não se manter; se ninguém intervier, e não intervir, etc.) Via de regra, os infinitivos admitem tanto próclise quanto ênclise, mas o futuro do subjuntivo não é um infinitivo, de modo que são erradas construções como se ela não aceitá-lo (a única forma possível é se ela não o aceitar).

 

No caso dos verbos abundantes (como gastar, ganhar, aceitar, eleger, pagar, etc.), usa-se o particípio regular com os verbos ter e haver e o irregular com os verbos ser e estar (tinha ganhado, foi ganho; tinha aceitado, foi aceito, etc.) Alguns gramáticos sustentam que, com os verbos ter e haver, ambos os particípios são admissíveis. Note que isso não se aplica ao verbo chegar (jamais algo como ele tinha chego cedo).

 

Grosso modo — Significa aproximadamente, em geral, e deve ser grafado em itálico (por ser uma locução latina) e sem a preposição a. 

 

Há... atrás — Evite a redundância usando há dez anos ou dez anos atrás. A forma híbrida (há dez anos atrás) pode até ser admissível na linguagem oral, mas deve ser evitada na escrita formal. 

 

Informar — É possível informar alguém de algo ou informar algo a alguém (as mudanças foram informadas a todos; todos foram informados das mudanças).

 

Importa notar / importa assinalar — Expressões que, a exemplo de vale notarcumpre ressaltar, etc., nada acrescentam ao sentido do texto, razão pela qual devem ser evitadas.

 

Implicar — No sentido de acarretar, é transitivo direto (o combate à corrupção implica a adoção de medidas drásticas), mas a variante implicar em também ocorre, inclusive na norma culta.

 

Mais bem, mais mal — Antes de particípio, use as formas mais bem e mais mal (mais bem acabado, mais malsucedido, em vez de melhor acabado, pior sucedido.

 

Mandado / mandatoMandado é ordem (mandado de segurança) e mandato é poder (mandato parlamentar).

 

Nem — Conjunção aditiva que significa tampouco e dispensa a conjunção e (não houve danos estruturais nem estéticos). Note que ela pode preceder as locuções adverbiais nem mesmo, nem sequer e nem ao menos.

 

O fato de o, de a, de ele — O Acordo Ortográfico em vigor reafirma o preceito da gramática normativa que recomenda não ligar a preposição (por exemplo, “de”) a palavras que se lhe sigam quando antecedidas de verbo no infinitivo: "O fato de o país (e não "do país) ter crescido a taxas elevadas no período..."; "O fato de eles (e não "deles") ainda não terem respondido à consulta..."; etc.

 

Obedecer — Rege a preposição "a": Obedecer a alguém ou a alguma coisa (obedecer-lhe). "O parecer obedeceu à lógica"; todos lhe obedecem, etc. 

 

Outrossim – Advérbio em desuso, quando cabível, substitua por "do mesmo modo" ou "igualmente".

 

Parêntese — Usar nessa forma: um parêntese, os parênteses.

 

Pedir — A regência tradicional é pedir algo a alguém ("pediu ao assessor o relatório da reunião") ou pedir a alguém que faça alguma coisa ("pediu a todos que fizessem silêncio"). Portanto, evite usar a forma "pedir para".


Por conta de — Embora o uso dessa locução com o sentido de "por causa de" ser extremamente comum na fala e na escrita jornalística, ele ainda é considerado impróprio (ou pelo menos inadequado) do ponto de vista normativo. No entanto, essa prática está tão disseminada que muitos dicionários e manuais de estilo já admitem, embora com ressalvas em textos formais, acadêmicos ou jornalísticos de alto padrão. Portanto, para manter a elegância e a correção, prefira sempre por causa de ao indicar motivo e deixe por conta de para contextos financeiros ou de responsabilidade.

 

Precisar — É transitivo indireto: quem precisa, precisa de alguma coisa. Com verbos no infinitivo, a preposição pode ser dispensada: "precisamos agir com rapidez". 

 

Preferir — A regência culta tradicional admite apenas a preposição "a": "preferir uma coisa a outra". Vale o mesmo para o adjetivo preferível: "Isto é preferível àquilo."

 

Responder — Rege a preposição "a": "responder a uma mensagem" (e não "responder uma mensagem").

 

"Se" como indeterminador do sujeito  — Quando o pronome "se" é usado como indeterminador do sujeito, o verbo se mantém no singular: "Na Grécia antiga adorava-se a vários deuses"; “precisa-se de empregados"; "não se deu ouvidos às queixas". Apenas com verbos transitivos diretos é possível empregar o "se" como apassivador, o que permite conjugações como: "ouviram-se críticas", "nunca se viram tantos títulos"; "vendem-se casas", etc. Sem embargo, tanto as construções com "se" apassivador quanto aquelas com "se" indeterminador ("ouviu-se críticas" ou "ouviram-se críticas") têm emprego na norma culta.

 

Ter a ver / ter que ver – Ambas as expressões são corretas e podem ser usadas com o sentido de "ter relação com", "estar relacionado com", "dizer respeito a". Note que as expressões "nada há ver" e "nada haver" são inadmissíveis.

 

Ter de / ter que — Ambas as construções existem e são admitidas na norma culta; pode-se dizer indiferentemente "temos de enfrentar o problema" ou "temos que enfrentar o problema".

 

Tratar-se de — É sempre usado com sujeito indeterminado e, portanto, invariável: "Trata-se de opiniões, não de fatos". 

 

Todo, todo o – A diferenciação que se tentou criar entre as duas formas não existe na gramática tradicional nem tem respaldo na história ou nos usos da língua. Portanto, tanto faz usar "todo mundo" ou "todo o mundo", lembrando que no plural (como em "todas as pessoas") é preciso manter o artigo. 

 

Visar — É transitivo direto no sentido de validar, autenticar (um documento). Exemplo: "Visou o passaporte". Com o sentido de “objetivar”, é transitivo indireto e rege a preposição "a": "as providências visavam ao interesse dos alunos". Antes verbos no infinitivo, a preposição é dispensável ("visam reunir o maior número de assinaturas").

 

Vir a — A preposição usual é “a” (vir ao Brasil), embora, como com “chegar” e “ir”, também ocorra modernamente com a preposição “em” ("ele nunca tinha vindo aqui em casa"). Quando ao verbo "vir" se segue outro verbo, a preposição “a” é de rigor entre os dois verbos, com em "isso poderia vir a prejudicar as relações...", lembrando que em casos assim a locução "vir a" é dispensável ("isso poderia prejudicar..."). 

 

Zero — Use no singular, mesmo com o substantivo no plural ("zero graus", "zero chances", etc.) 

 

Fontes: Manual de redação oficial e diplomática do Itamaraty e Manual de comunicação da Secom do Senado Federal.