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quinta-feira, 23 de maio de 2024

DICAS PARA AUMENTAR A SEGURANÇA NO IPHONE (CONTINUAÇÃO)

PARA CORTAR UMA ÁRVORE NA METADE DO TEMPO, PASSE O DOBRO DO TEMPO AFIANDO O MACHADO.

Não há organizações criminosas no Brasil. O Brasil é uma organização criminosa. Enquanto o TSE decidia se cassava ou não o mandato do senador Sergio Moro, a 2ª Turma do STF extinguiu a pena imposta ao ex-guerrilheiro de araque e ex-ministro da Casa Civil de Lula e ex-presidiário José Dirceu por corrupção passiva (a condenação por lavagem de dinheiro já havia sido derrubada pelo STJ).
Por 3 votos a 2, vencidos os ministros Edson Fachin e Carmen Lucia, a turma decidiu que houve prescrição (a prescrição do crime de corrupção passiva ocorre 12 anos após a ocorrência do delito, mas o prazo cai pela metade quando o réu tem mais de 70 anos — caso de Dirceu — por época da condenação.
Quanto a Moro, o TSE rejeitou (por unanimidade) os pedido de cassação apresentados pelo PT e pelo PL , mas ainda cabe recurso ao Supremo. 
Para encerrar o dia com chave de ouro, o eminente ministro Dias Toffoli anulou todas as decisões do ex-juiz da Lava-Jato contra o empreiteiro Marcelo Odebrecht. É mole?

Seguindo de onde paramos no capítulo anterior:

Na seção Touch ID/Face ID e Código dos Ajustes do iPhone, role a tela para baixo e mantenha ativada a opção Apagar Dados, que exclui todos os dados do aparelho ao cabo da 10ª digitação incorreta do código (note que, mesmo com todos os dados apagados, só será possível acessar o dispositivo usando suas credenciais do ID Apple).
 
Economizar dados do seu plano de Internet móvel usando redes de terceiros não é uma boa ideia, pois implica o risco de usuários mal-intencionados que tenham acesso ao tráfego da rede acessarem seus dados. A despeito da proteção oferecida por certificados de conexões e acessos a sites criptografados, redes desconhecidas podem levá-lo a sites maliciosos, parecidos com os de bancos ou redes sociais, cujo objetivo seja roubar dados sensíveis. Por essas e outras, prefira a rede 3G/4G/5G da sua operadora a uma rede Wi-Fi pública, sobretudo se o acesso não exigir senha.
 
A função de uma VPN (acrônimo de rede virtual privada em inglês) é permitir o acesso a sites restritos em determinados países, proteger intranets empresariais e evitar o rastreamento de dados de navegação (mais detalhes na sequência iniciada por esta postagem). A App Store conta com vários aplicativo que disponibilizam esse recurso, mas tenha em mente que alguns se valem do acesso ao tráfego de rede para capturar dados dos usuários. 
 
Aproveitando que a confiabilidade dos aplicativos voltou à baila, torno a dizer que o jailbreak permite instalar no iPhone programinhas de "fontes alternativas" — ou seja, não avalizados pela Apple 
—, e que a maioria deles tem um pé (quando não os dois) na pirataria. Isso não significa que todo o conteúdo da App Store seja 100% confiável, mas há menos chances de você sair tosquiado do que se recorrer a apps não oficiais.  
 
PIN do SIM Card vem desativado por padrão, e muita gente deixa assim para não precisar digitá-lo sempre que ligar ou reiniciar o celular. O PIN (de Personal Identification Number) não só evita que pessoas não autorizadas usem o aparelho como impede que o chip funcione em outro dispositivo — e, por tabela, que alguém mal-intencionado acesse os dados que você salvou no chip. Para ativar, alterar ou desativar esse recurso no iPhone, toque em Ajustes > TelefonePIN do SIM. 
 
Tão recomendável quanto mudar o PIN padrão (a Claro usa 3636, a TIM1010, e a Vivo8486) é anotar o novo, já que, se você digitá-lo incorretamente várias vezes seguidas, terá de 
usar o PUK (de Pin Unlock Key) para desbloquear o chip. Note que, se você digitar o PUK incorretamente 10 vezes seguidas (ou menos, conforme a operadora), terá de comprar um SIM Card novo.
 
Observação: O PIN tem quatro algarismo e o PUK, oito. Ambos vêm impressos no cartão de papelão que acompanha o SIM Card. O PUK serve para "destrancar" o chip. Em alguns casos, os quatro primeiros algarismos do PUK servem de senha para outros recursos (como acesso à caixa postal, por exemplo). Se houver PUK 1 e PUK 2, o primeiro desbloqueia o PIN 1 e o segundo, o PIN 2. 
 
Desde a atualização para o iOS 15 é possível manter o iPhone localizável no app Buscar por até 24 horas contadas a partir do momento em que aparelho foi desligado, mas para isso é preciso acessar Ajustes e tocar em Privacidade > Serviços de Localização > Compartilhar Localização > Buscar iPhone e ativar a opção Rede do app Buscar.
 
Por último, mas não menos importante, habilite a autenticação de dois fatores. Com essa camada adicional de segurança ativada, todas as informações, pagamentos, fotos e arquivos armazenados na sua conta do iCloud estarão protegidas. 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

DANDO NOME AOS BOIS (PARTE 5)


Há tempos que o Brasil vem sendo governado como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra por um lado (pela porta das urnas), muda de aparência, troca de nome, recebe nova embalagem e sai como merda pelo outro (com a posse do novo governante). E o que mais poderia sair num país onde eleitores endeusam políticos em vez de cobrá-los e defenestrar os que mijam fora do penico? Onde políticos se elegem para roubar, roubam para se reeleger e criam leis que beneficiam os criminosos em detrimento dos cidadãos de bem?
 
Observação: Cito como exemplo o fim da prisão em segunda instância, decretado pelo plenário do STF com o voto de minerva de seu então presidente — o advogado petista que ganhou a toga de Lula em 2009, depois de ter sido reprovado em dois concursos para Juiz de Direito —, que, aliás, continua prestando bons serviços ao país, empurrando com um pedido de vista a prisão de Fernando Collor — que foi finalmente condenado 8 anos e 10 meses de reclusão —, anulando todas as provas obtidas com o acordo de leniência firmado pela Odebrecht e suspendendo o pagamento da multa de R$ 8,5 bilhões (como ele já havia com a multa de R$ 10 bi imposta à J&F).
 
Um pedido de vista do partido Novo interrompeu a votação do parecer do relator Darci de Matos sobre a prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão. Com o adiamento, a "fervura" deve baixar, aumentado as chances de soltura do encrencado (para que o parlamentar continue preso, são necessários os votos de pelos menos 257 dos 513 deputados). Por conta de mais esse imbróglio, o STF começou a julgar na última sexta-feira (29) o endurecimento das do foro privilegiado dos parlamentares. No momento em que escrevo este texto, falta 1 voto para formar maioria pela manutenção da prerrogativa mesmo após o fim dos mandatos ou nos casos de renúncia, não reeleição ou cassação 

Pelo critério atualmente em vigor, os inquéritos contra Bolsonaro não deveriam (em tese) estar sob a pena de Alexandre de Moraes. Mas basta mais um voto para virar pó a alegação da defesa de que as encrencas estreladas por seu cliente — da falsificação dos cartões de vacina à tentativa de golpe — devem descer da cobertura para o térreo do Judiciário, com todo o horizonte de recursos protelatórios que os réus costumam manejar para evoluir da primeira instância até o Éden da prescrição. 
 
Em momentos distintos da ditadura militar, Pelé — o eterno rei do futebol — e o general Figueiredo — o ex-presidente-ditador que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo — alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. O tempo provou que eles estavam certos: dos cinco presidentes eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois foram impichados — e só não foram três graças a conivência de Rodrigo Maia e a cumplicidade de Arthur Lira.
 
Nossa democracia lembra aquelas fotos antigas de reis africanos que imitavam os trajes, trejeitos e enfeites dos governantes de nações mais evoluídas, mas não aprendiam suas virtudes. Na fotografia, o Brasil aparece como uma democracia de Primeiro Mundo, não passa de uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. As eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, começando pelo voto obrigatório, passando pelo horário eleitoral obrigatório no rádio e na tv e pelas deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm menor número de eleitores. 
 
Políticos demagogos e corruptos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea, se estão lá, é porque foram votados (ao menos em tese). Mas o que esperar de um eleitorado formado majoritariamente por gente ignorante, desinformada e lobotomizado pela polarização disseminada pelo ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e atual mandatário com seu deplorável "nós contra eles"? De uma horda de cegos mentais (o pior tipo de cegueira, como ensinou o Nobel de Literatura português José Saramago) repete os mesmos erros, eleição após eleição, na esperançada de obter um resultado diferente? 
 
Observação: Com a popularização da Internet e das redes sociais a mídia deixou de dominar as massas e passou a ser controlada por elas. Isso trouxe dois problemas: 1) as massas são despreparadas, ignorantes, rudes e perniciosas; 2) quando se dá voz a burros não se pode reclamar dos zurros. 
 
Os ministros do STF não são eleitos diretamente, mas o presidente responsável que os escolhe e os senadores que a chancelam sua indicação emergem das unas como a merda que brota de um cagadouro entupido. Aliás, há muito que esta banânia é governada como uma usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo outro. E o que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, aberta nas eleições, e a de saída, com a troca de comando, a merda muda de aparência e de nome e ganha nova embalagem, mas continua sendo merda.
 
Além de um eleitorado majoritariamente ignorante, desinformado e desinteressado — e contaminado pela polarização semeada por Lula com seu abjeto "nós contra eles" —, o Brasil tem uma Justiça Eleitoral que, em tese, deveria garantir eleições exemplares, mas, na prática, enseja a produção dos políticos mais ladrões do mundo, distribuídos por três dúzias de partidos cujo objetivo é encher as burras de seus caciques com a verba dos fundos partidário e eleitoral (que sai dos cofres públicos, ou seja, do dinheiro dos contribuintes) e, nos anos em que há eleições, bancar a "festa da democracia". 

Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre a pseudodemocracia tupiniquim e os tais reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem tão incompetente foi o poder público em mantê-los. Há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Sob Bolsonaro, o "centrão" transformou a ocupação do Orçamento federal num processo de bolsonarização das instituições, e Lula, que escapou do mensalão e tropeçou no Petrolão, segue igualmente refém do Imperador da Câmara. 
 
Pode passar pela cabeça de alguém que existe democracia num país como esse?

sexta-feira, 15 de março de 2024

A VOZ DAS PESQUISAS  



Sempre desconfiei de pesquisas eleitorais, sobretudo quando elas são feitas com muita antecedência. Acerta o placar quem espera o apito final (e isso se o VAR não atrapalhar). Magalhães Pinto dizia que "política é como nuvem" e Ciro Gomes, que "eleição é filme e pesquisa é frame". Na melhor das hipóteses, elas são um "instantâneo" do humor do eleitorado num determinado momento, e isso se admitirmos que a opinião de 2 mil gatos pingados espelhe o pensamento de 150 milhões de eleitores.

Em 2018, todos os institutos davam de barato que Dilma seria a senadora mais votada, mas ela ficou em 4º lugar; que Bolsonaro perderia de qualquer adversário no segundo turno, mas ele venceu por uma diferença de quase 12 milhões de votos. Eduardo Suplicy, outro "eleito" por antecipação, foi penabundado após 27 anos de Senado; Geraldo Alckmin obteve menos de 5% dos votos, e Marina Silva, 1%. No Nordeste  tido e havido como o solo sagrado onde Lula realizaria o milagre da ressurreição —, o PT teve 10 milhões de votos a menos do que em 2014 e perdeu em cinco das sete capitais da região.
 
Lula começou a semana com a ressaca de opinião pública produzida pelas pesquisas Quest, Ipec (ex-Ibope) e Atlas. Embora simule tranquilidade, a petralhada exsuda bagos de preocupação. No segundo turno da campanha, chegou-se a falar na "sorte" de um país que dispunha de um líder popular com força para se contrapor ao obscurantismo antidemocrático de Bolsonaro. Depois de 15 meses de gestão, só um idiota não vê que a tal "frente ampla" que mandou o mito do arcaísmo para casa não foi capaz (e nem será) de desintoxicar a conjuntura nacional.
 
Confie-se ou no resultado das pesquisas, a impressão que fica é a de que Lula não consegue convencer o eleitorado de que "o Brasil voltou" para uma posição mais vantajosa do que sob Bolsonaro. O fato de o bolsonarismo se manter sólido evidencia que o petista não só é incapaz e conquistar eleitores do rival como vem se distanciando do eleitor mediano que ajudou a elegê-lo em 2022. Enquanto o alarme da impopularidade toca, seus operadores políticos tentam convencê-lo de que é preciso circular não no exterior, mas no Brasil. Mas a pergunta é: circular para quê? 
 
No primeiro ano de sua terceira gestão, Lula tentou passar uma borracha na era da destruição. Fechou a fábrica de demolição que seu antecessor instalou no Planalto, recriou programas de antigos governos petistas e colocou em pé o Desenrola. Mas o efeito positivo começou a se dissipar no oitavo mês, quando as linhas de aprovação e desaprovação iniciaram um processo de aproximação nas pesquisas.

O petista repete ad nauseam que foi perseguido e injustiçado, mas quem tem olhos enxerga o abismo que separa a anulação de sentenças do conceito de inocência. Saltam aos olhos dois fatos: 1) A Lava-Jato exorbitou, mas a corrupção confessada e ressarcida não é uma obra de ficção; 2) Lula não foi absolvido nos vinte e tantos processos abertos contra ele; foi "descondenado" porque maioria das ações foi anulada ou arquivada pela prescrição resultante do deslocamento de Curitiba para Brasília.
 
O PT e seu pontífice demoram a perceber que o câncer da corrupção não será extirpado com discursos. Numa fase em que a tentativa de rescrever a história inclui as canetadas com que o ministro Dias Toffoli anulou multas bilionárias que empresas concordaram em pagar após confessarem seus crimes, a parcela minimamente pensante do eleitorado pede argumentos compreensíveis, não lero-lero político. 

Lula disse que as pesquisas servem como "instrumento de ação e de mudança da sua estratégia de governo", mas suas ações sinalizam uma opção preferencial pela inação e pela perseverança no erro: "A gente tem de entendê-la como uma fotografia em função do momento em que você está vivendo...". Eleito por pequena margem com um discurso de "pacificador", sua excelência chega a um ano e três meses de governo perdendo apreço até entre seus eleitores mais tradicionais, mas continua insistindo que "a polarização é boa se a gente souber trabalhar os neutros para que a gente possa criar maioria e governar o Brasil." 
 
Lula confunde alhos com bugalhos quando lembra que o país foi polarizado durante décadas pelas disputas entre PSDB e PT
Quando perdeu a eleição, José Serra parabenizou o adversário. FHC presenteou-o com uma transição de mostruário, passou-lhe a faixa e foi para casa. Bolsonaro sonegou ao país o reconhecimento da derrota, tramou uma virada de mesa, estimulou o acampamento que pedia intervenção militar na frente do QG do Exército e foi assistir desde a Flórida à intentona de 8 de janeiro e agora percorre a conjuntura à procura de encrenca. Na era da polarização PSDB X PT, o bico mais afiado da oposição no Congresso era o de Tasso Jereissati, um oposicionista de punhos de renda. Hoje, Lula rala uma oposição protagonizada por gente como Nikolas Ferreira, um guerrilheiro de redes sociais. 

Sobre a má avaliação da economia, Lula disse: "Até agora, preparamos a terra, aramos, adubamos e colocamos a semente. Cobrimos a semente. Este é o ano em que vamos começar a colher o que plantamos". Foi como se ecoasse o Delfim Netto da ditadura, época do "milagre econômico": "Antes de repartir o bolo, é preciso esperar que ele cresça." Se observasse o "filme" exibido pelas pesquisas, o presidente perceberia que as curvas da aprovação e da desaprovação aproximam-se desde agosto do ano passado. 
 
No corredor da existência, a paciência fica sempre na primeira porta. Convém a um governante bater de leve, sob pena de enfurecê-la. Lula exagera nas batidas. Se esperasse um pouquinho mais, talvez começasse a pensar antes de falar.

Com Josias de Souza

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

O CAÇADOR DE MARAJÁS E O MAQUIAVEL DE MARÍLIA


Themis de pedra que decora a entrada do STF tem os olhos e os ouvidos cobertos por uma venda, talvez para ser poupada do constrangimento produzido pelo ministro Dias Toffoli. Depois de anular provas e suspender o pagamento das multas bilionárias impostas à Odebrecht e à J&F, o nobre magistrado (que, nunca é demais lembrar, bombou em dois concursos para juiz de primeira instância) volta a atacar em pleno Carnaval, agora para acudir o ex-presidente e ex-senador Fernando Collor, que foi condenado em maio de 2023 a 8 anos e 10 meses de reclusão

Quase 8 anos separa a denúncia da condenação, e mais um transcorreu até os embargos de declaração do caçador de marajás de festim começarem a ser apreciados no escurinho do plenário virtual, longe dos refletores da TV Justiça. 

Observação: Embargos declaratórios destinam-se a esclarecer pontos obscuros, contraditórios ou omissos numa decisão judicial, mas não têm o condão de reabrir a discussão do mérito. Alegando problemas na dosimetria e a prescrição de delitos, a defesa de Collor pediu a redução da pena pela metade e contestou o pagamento de R$ 20 milhões por danos morais coletivos, que foge do escopo de uma ação penal. 

Na última sexta-feira, assim que o ministro Alexandre de Moraes votou pelo indeferimento dos embargos, Toffoli vestiu a fantasia de paladino e emperrou o julgamento com um pedido de vista. 

Observação: Os ministros pedem vista a pretexto de precisarem de mais tempo para formar seu entendimento, mas na prática eles utilizam esse instrumento para empurrar o julgamento com a barriga até que a maioria formada não faça mais sentido, ou que alguns de seus pares sinalizem a intenção de mudar o voto. 

Até 2022, o ministro que pedisse vista devolver os autos na segunda sessão subsequente à do pedido, ms essa regra era solenemente ignorada — basta lembrar que o ministro Nelson Jobim (aposentado em 2014) levou quase mil dias para devolver uma ação de reintegração posse. Em 2022, a Emenda Regimental nº 58 fixou o prazo de 90 dias úteis para a devolução dos autos, sob pena de o caso retornar à pauta do plenário ou da turma automaticamente, mesmo sem o voto do ministro que pediu vista.

Em maio do ano passado, oito dos dez ministros (Lewandowski se aposentou um mês antes e Zanin só foi empossado três meses depois) votaram a favor da condenação de Collor. As excessões foram Gilmar Mendes e Nunes Marques. Fachin propôs 33 anos, 10 meses e 10 dias de prisão em regime inicialmente fechado, mas a proposta de Moraes prevaleceu. Quatro dos oito ministros que votaram pela condenação converteram a acusação de organização criminosa em associação criminosa (crime que prevê pena menor), e o empate resultou na pena mais branda. O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que o prazo prescricional corre pela metade quando o réu é septuagenário. E Collor tinha 73 anos à época de sua condenação. 

Observação: No jargão jurídico, o termo prescrição designa a perda de uma pretensão pelo decurso do tempo, como a perda da pretensão punitiva estatal em razão do decurso do lapso temporal previsto em lei. Daí os criminalistas chicaneiro "empurrarem com a barriga" o andamento processual mediante a interposição de recursos eminentemente procrastinatórios. 

PGR sustentou que Collor tenta "reabrir a discussão da causa, promover rediscussão de premissas fáticas e provas, além de atacar, por meio de via indevida, os fundamentos do acórdão condenatório". Em seu voto, Moraes anotou que a defesa tenta "rediscutir pontos já decididos" durante o julgamento da ação penal. Já o pedido de vista de Toffoli obstruiu a manifestação dos colegas, retardando o encarceramento do condenado. E mesmo que o ministro respeite o regimento interno e devolva os autos em até 90 dias úteis, ainda será preciso reagendar o julgamento e, na sequência, esperar publicação do acórdão para só então dar início à execução da pena. 

O contribuinte, que paga os régios salários dos togados e banca suas mordomias, não tem os olhos e ouvidos cobertos pela grossa venda que o escultor Alfredo Ceschiatti grudou em sua versão da Deusa da Justiça. Assim, a desmoralização da Corte é testemunhada por uma sociedade estupefata. 

Impune, Collor frequenta os salões de Brasília como se nada tivesse sido decidido sobre o seu passado criminal, chegando mesmo a dar as caras no Planalto, por ocasião da posse de Lewandowski no ministério da Justiça, e agora ameaça transformar o inusitado em escárnio desfilando sua face brilhante de óleo de peroba e sua ficha corrida quilométrica na cerimônia de posse de Flávio Dino no Supremo, que deve ocorrer no dia 22.

Com sua intervenção ofensiva, vergonhosa e inútil, Toffoli insultou a sociedade ao subverter o brocardo, reforçando a sensação de que a Justiça no Brasil tarda, mas não chega, e envergonhou o STF ao associaR o Tribunal à percepção de que depois da impunidade vem a bonança. A inutilidade de sua decisão monocrática decorreu do fato da pretensão de Collor não ter a mais remota chance de prosperar. 

Em outras palavras, o Maquiavel de Marília apenas favoreceu o propósito protelatório de um criminoso condenado que, pelo andar da carruagem, pode estar livre, leve e solto para comparecer à canonização de São Lula (em data ainda não fixada pelo Vaticano).

Triste Brasil.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO... PARTE 4

 

No Brasil, a corrupção escandaliza duas vezes: quando os escândalos são descobertos e quando as provas são enterradas vivas. O cancelamento de provas recolhidas nos subterrâneos da Odebrecht e confessadas por seus executivos resultou na anulação de sentenças e no trancamento em série de processos judiciais. Mas o que fazer com a corrupção confessada? 

Levantamento feito pela Folha revela que existem no STF ao menos 60 pedidos de extensão da anulação das sentenças impostas a Lula a outros condenados. Antes de pendurar a toga, em abril, o ministro Lewandowski lotou o arquivo morto da corte, e Toffoli, herdeiro dos processos da Lava-Jato, completa o serviço. O rol de beneficiários, vasto e suprapartidário, inclui de Geraldo Alckmin a Beto Richa; de Paulo Preto a Paulo Skaf; de Lúcio Vieira Lima — irmão de Geddel — a Paulo Bernardo.
 
Em tese, os processos são anulados no pressuposto de que os encrencados serão submetidos a novos inquéritos e julgamentos. Na prática, os processos caem no sumidouro da prescrição, como se deu com Lula. O esfarelamento de sentenças e inquéritos escora-se no argumento de que a Lava-Jato subverteu o princípio do devido processo legal, mas ficam boiando na atmosfera do Supremo algumas perguntas incômodas: O que fazer com as malas de dinheiro? Como lidar com as contas bloqueadas na Suíça? E quanto ao roubo confessado e devolvido? A corrupção será devolvida aos corruptores? Os togados produziram um fenômeno inusitado: a corrupção sem corruptos.


Ainda durante a ditadura, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e seu motorista tiveram morte instantânea quando o automóvel em que viajavam colidiu com uma carreta (detalhes no nesta postagem). As perícias e o relatório da Comissão Nacional da Verdade afastaram a hipótese de assassinato, mas a Comissão de Direitos Humanos da OAB e outras entidades que apuram crimes cometidos durante a ditadura alegaram que a CNV ignorou mais de 100 evidências e indícios (para gáudio dos teóricos da conspiração). 


As as mortes de João "Jango" Goulart, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães (em 1976, 1985 e 1992, respectivamente) também continuam alimentando teorias conspiratórias. O vice de Jânio foi deposto pelo golpe de 1964 e morreu de atraque cardíaco na Argentina, em 1976. Logo surgiram suspeitas de que os remédios que ele tomava para o coração foram adulterados (numa operação conjunta da CIA e dos governos brasileiro e argentino), mas o inquérito acabou sendo arquivado por falta de provas.


Observação: Uma Comissão Externa da Câmara levantou suspeitas de que o político teria sido vítima da Operação Condor. Além disso, o Jornal Nacional levou ao ar uma matéria sobre a Operação Mosquito, que tinha por objetivo derrubar o avião para Jango de assumir a Presidência. Em março de 2013, seu corpo foi exumado, mas o laudo da autópsia realizada no cemitério de São Borja (RS) foi "inconclusivo".  

 

Eleito pelo voto indireto em 1995, Tancredo baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu (38 dias e 7 cirurgias depois) de "infecção generalizada". A causa mortis foi alterada tempos depois para "síndrome da resposta inflamatória sistêmica", mas há até hoje quem acredita que o político mineiro foi morto por militares contrários à entrega do poder. Esses rumores ganharam força depois que o general Newton Cruz disse em entrevista ao Roda Viva que o candidato derrotado Paulo Maluf o havia procurado três meses antes da votação para propor um golpe


Observação: Outras teorias sugerem que Tancredo teria sido baleado enquanto assistia a uma missa na Catedral de Brasília (faltou luz durante a cerimônia, e alguns presentes disseram ter ouvido um tiro) ou envenenado por militares apoiados pela CIA (por uma estranha coincidência, seu mordomo morreu dias depois, vítima de complicações gastrointestinais.

 

Eleito 11 vezes consecutivas deputado federal, Ulysses Guimarães enfrentou os militares no auge da ditadura, liderou a campanha pelas Diretas, presidiu os trabalhos eu resultaram na Constituição Cidadã e teve papel preponderante no impeachment de Fernando Collor. Em outubro de 1992, o helicóptero em que ele viajava de Angra dos Reis (RJ) para a capital paulista caiu no mar logo após a decolagem. Todos os ocupantes morreram, mas somente o corpo do Sr. Diretas não foi encontrado. Há quem acredite que, a exemplo de PC Farias, ele foi assassinado a mando de Collor, mas isso nunca foi comprovado. 

 

Eduardo Campos morreu no dia 13 de agosto de 2014, quando o avião em que ele viajava caiu num bairro residencial do município de Santos, no litoral paulista. Na ocasião, o ex-governador de Pernambuco era o terceiro colocado entre os postulantes à presidência nas eleições daquele ano, o que ensejou suspeitas de que  teria sofrido um atentado. 


De acordo como o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, queda se deveu a diversos fatores, entre os quais falha humana, condições inapropriadas para a operação no aeródromo e desorientação visual. As investigações foram concluídas, mas o caso permanece com algumas pontas soltasAntonio Campos, irmão do político, divulgou nas redes sociais a seguinte nota: 


"Num país em que líderes e autoridades morrem de forma misteriosa em acidentes aéreos e ainda impactado pela morte do ministro Teori, resolvi revelar esse fato novo e reafirmar que esse caso precisa ser aprofundado. Não descansarei enquanto não forem esclarecidos os fatos, independentemente de eventuais riscos que possam correr". 


Observação: Marina Silva, candidata a vice na chapa de Campos, disputou o pleito como titular e ficou em 3º lugar, com 22 milhões de votos (no segundo turno, Dilma derrotou Aécio por uma diferença de 8,3 milhões de votos e conquistou seu segundo mandato). 


Continua...

sábado, 13 de maio de 2023

OBSERVE E APRENDA


A excentricidade da crise do bolsonarismo é a transgressão acéfala, a máfia sem "capo". Trêmulo de humildade, seu antilíder reivindica o papel de cego abobalhado — não viu, não soube e nem pediu nada. Nada muito diferente do egum mal despachado que, descondenado e reabilitado politicamente, voltou a nos assombrar. 

 

O Estado brasileiro comprova cotidianamente que o inferno existe, mas não funciona (*). Quando uma empresa encrencada com o garimpo ilegal é contratada pelo Exército e pelo Ministério da Saúde para furar poços artesianos no território indígena que ajudou a violar, de duas, uma: ou os contratantes não sabiam da suspeição, ou sabiam, mas simplesmente deram de ombros para a informação. 


Qualquer estagiário perscrutaria o prontuário do empresário Rodrigo Martins de Mello — bolsonarista de vitrine filiado ao PL — antes de fazer negócios com ele. Mas o Exército e a pasta da Saúde não tiveram o discernimento de consultar a PF e o Ibama.

 

(*) Um brasileiro morreu e foi para o inferno, onde o capeta-recepcionista disse que ele poderia ficar na ala administrada por seu país de origem ou escolher outra, pois os castigos eram os mesmos, variando apenas no tocante à severidade com que eram aplicados. Na sucursal brasileira, por exemplo, o penitente teria de comer 20 latas de merda por dia e levar 100 chibatadas de hora em hora, ao passo que na dos EUA eram 5 latas de merda e 10 chibatadas duas vezes ao dia. Ao fazer um “tour” pelas embaixadas

antes de escolher onde passaria o resto da eternidade, o brasileiro reparou que a fila diante da sucursal brasileira se estendida por vários quarteirões, enquanto nas demais havia uns poucos gatos pingados. Curioso, ele perguntou o motivo de tamanha discrepância e ouviu do último da fila: "Entra aí e fecha o bico. Nosso carrasco bate o ponto e vai para casa, e no dia em que não falta merda não tem lata. 

 

O semideus togado fez declarações polêmicas sobre Sergio Moro, mas está longe de ser o melhor crítico da Lava-Jato. O ex-juiz pode ter cometido erros — o mais grave, na minha desvaliosa opinião, foi trocar a magistratura por um ministério no governo abjeto do mau militar e parlamentar medíocre que passou a vida pendurado no Erário, mas quem nunca? Gilmar foi entusiasta das práticas de Curitiba, mas mudou de ideia no decurso das ações da Lava-Jato contra o crime organizado, traçando  um curioso ziguezague enquanto o plenário do STF discutia a prisão em segunda instância.

Por mal dos nossos pecados (e graças à imprestabilidade gritante da escumalha que atende por eleitorado tupiniquim), a distribuição de verbas do Orçamento por meio de emendas de parlamentares não só sobreviveu à troca de comando como se consolidou como um novo ramo do crime organizado. A dinheiramas continua saindo pelo ladrão, e os ladrões continuam entrando no Orçamento (pior: alguns nem saíram; muito pior: certos padrinhos dos desvios ganharam poltronas na Esplanada).

 

A ladroagem que infesta o noticiário é parte da herança de Bolsonaro, mas os escândalos da gestão Lula 3.0 já estão contratados. Prova disso é a direção da Codevasf não ter mudado e o o apetite dos congressistas ter aumentado: nos dois primeiros mandatos de Lula, cada parlamentar brigava por R$ 12 milhões em emendas orçamentárias; hoje, o butim pode chegar a R$ 50 milhõesR$ 30 milhões em emendas individuais e até R$ 20 milhões em emendas de bancada.

 

Falando nessa caterva, no instante em que o "mito" dos apatetados finge que ainda tem futuro e o babalorixá do PT faz de conta que não tem passado, o inesquecível caçador de marajás de fancaria, que simboliza a inconsequência de todas as ideologias, será julgado no STF por corrupção e lavagem de dinheiro num caso que envolve o desvio de mais de R$ 30 milhões da BR Distribuidora. A Procuradoria pede que o rei-sol seja condenado a 22 anos e oito meses de cadeia. 


No ano passado, apoiado por Bolsonaro e Arthur Lira, Collor disputou o governo de Alagoas como se fosse o obelisco da probidade (e perdeu a eleição). Agora, será finalmente julgado por um escândalo que nasceu no segundo mandato do demiurgo de Garanhuns, começou a ser investigado sob a Estocadora de Vento e virou ação penal no STF durante a gestão do Vampiro do Jaburu. A encrenca chega ao plenário na bica da prescrição de todos os crimes — como o réu tem mais de 70 anos, o prazo prescricional é reduzido à metade. Penas inferiores a quatro anos prescreveram em 2021, e as demais caducam em agosto p.f.

 

Observação: Durante o movimento que resultou no impeachment de Collor, o xamã do PT chamou o adversário de "ladrão". Guindado ao Planalto, incorporou o larápio à sua base de apoiadores — em 2009, Lula premiou o então neocomparsa com duas diretorias da subsidiária da Petrobras. E deu no que está dando: Collor ressurge na pauta do Supremo para lembrar ao petista e a seus acólitos que o petrolão nunca foi uma ficção.

 

Para concluir: Dois amigos — um, político, e o outro, ladrão — que não se viam havia muito tempo se esbarram num shopping e entram numa loja da Kopenhagen para tomar um café e pôr os assuntos em dia. Quando eles saem da loja, o ladrão tira do bolso três barras de chocolate e se jacta: "Eu sou mesmo muito bom. Nem você nem o balconista perceberam". O político diz ao amigo que vai mostrar como age um verdadeiro profissional, e os dois voltam à loja. O político pergunta ao balconista se ele quer ver um truque de mágica. O balconista diz que sim. O político pede três barras de chocolate iguais às que o ladrão furtou. Quando termina de comer o doce, ele pergunta ao balconista: "Viu?" E o balconista: "Vi o quê? Onde está o truque de mágica?" E o político responde: "Procure no bolso do meu amigo e você vai encontrar as três barras de chocolate".

Com Josias de Souza