quarta-feira, 27 de abril de 2022

SUTILEZAS DO TECLADO (CONTINUAÇÃO)

QUANDO CAPAZ, FINJA SER INCAPAZ; QUANDO PRONTO, FINJA ESTAR DESPREPARADO; QUANDO PRÓXIMO, FINJA ESTAR LONGE; QUANDO LONGE, FAÇA ACREDITAR QUE ESTÁ PRÓXIMO.

Ainda sobre as “sutilezas” do teclado, a tecla “Esc” (abreviatura de Escape) cancela uma tarefa ou ação, enquanto Print Screen captura um instantâneo da tela — que pode ser salvo como arquivo de imagem no Paint e usado para ilustrar um documento do Word, enviado por email, publicado na Web, e por aí vai. 


No tempo do velho DOS, a tecla Pause Break pausava o processamento de dados e congelava a imagem na tela. Atualmente, ela só tem utilidade em situações muito específicas, como quando se quer pausar um game. Naqueles tempos, sabia-se quando as funções Num Lock, Scroll Lock e Caps Lock estavam ativas a partir das luzinhas indicativas — que a maioria dos teclados modernos deixou de disponibilizar. 


Quando tecla Num Lock está desativada, o bloco numérico do teclado funciona como um segundo conjunto de teclas de navegação (as funções estão impressas nas teclas, ao lado dos numerais ou símbolos). A tecla Scroll Lock altera o comportamento das teclas direcionais (setas). Com a função ativada, as setas rolam a tela sem alterar a posição do cursor; com ela desativada, o cursor é que se move pela tela. Já Caps Lock, quando acionada, resulta na digitação do texto em caixa alta (dispensando o usuário de manter a tecla Shift pressionada).


A tecla TAB, identificada por duas setinhas sobrepostas e invertidas, funciona como nas máquinas de escrever, criando um espaçamento horizontal no texto sem que seja preciso pressionar a barra de espaço repetidas vezes. Em formulários e tabelas, TAB posiciona o cursor na próxima caixa de texto (ou célula).  


Back Space (retrocesso), identificada por uma seta apontando para a esquerda, apaga os caracteres à esquerda do cursor (ou o bloco de texto selecionado). Del (Delete) faz o mesmo com os caracteres à direita do cursor, além de enviar arquivos selecionados para a Lixeira. Combinada com a tecla Shift, Del apaga os arquivos sem que eles passem pela Lixeira.


Pressionamos a tecla Enter (que é replicada no bloco numérico) para mover o cursor até o início da próxima linha de texto ou, numa caixa de diálogo, para selecionar a função realçada. Pressionamos a tecla Shift combinada com uma letra para grafá-la maiúscula e, em conjunto com uma tecla de dois níveis, para digitar o símbolo mostrado na parte superior. 


A exemplo de Ctrl (Control), e Alt (Alternate), Shift costuma estar presente em ambos os lados do teclado. Pressionadas isoladamente, essas teclas não produzem efeito nenhum; pressionadas em conjunto com outras teclas, elas dão acesso rápido a diversas funções (isso se aplica também à tecla com o logo do Windows, com a diferença de que, pressionada isoladamente, ela convoca o menu Iniciar).


Chamamos “atalhos de teclado” às combinações de teclas que permitem executar ações pelo teclado mais rapidamente do que usando o mouse (desde que saibamos quais teclas pressionar). A rigor, quase tudo que fazemos com o mouse pode ser feito através de atalhos. 


Em programas que têm menus com letras sublinhadas, pressionar Alt em conjunto com a letra sublinhada convoca o menu correspondente, e pressionar a letra sublinhada num item desse menu executa o comando respectivo. Isso vale também em caixas de diálogo; quando houver uma letra sublinhada junto a uma opção na caixa de diálogo, basta pressionar Alt mais essa letra para escolher a opção em questão.


Já vimos o que pode ser feito com PrtScn (Print Screen), mas faltou dizer que o SYS RQ — que compartilha a tecla com PrtScn em alguns teclados — foi projetado originalmente para ser uma "solicitação do sistema" (esse comando não está habilitado no Windows).


Alguns teclados têm "teclas de acesso" ou botões que facilitam o acesso a diversos programas, arquivos ou comandos, ao passo que outros integram controles de volume, brilho, zoom e outros gadgets. Para mais informações, consulte a documentação que veio com o dispositivo ou visite o site do fabricante.

terça-feira, 26 de abril de 2022

TERCEIRA VIA — O ULTIMATO


No último domingo, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que as Forças Armadas estão sendo orientadas a atacar o processo eleitoral, e que existe uma tentativa de levar a corporação ao que ele chamou de “varejo da política”. O magistrado disse ter a “firme expectativa” de que os militares não se deixarão seduzir por esse “esforço de jogá-las nesse universo indesejável” e que “até agora o profissionalismo e o respeito à Constituição têm prevalecido”. Barroso alertou ainda para o fato de que militares profissionais e respeitadores da Constituição foram afastados, e citou nominalmente Santos Cruz, Maynard Santa Rosa e Fernando Azevedo. Lembrou que os três comandantes das Forças Armadas foram afastados (algo inédito na história recente desta republiqueta de bananas).

Demorou, mas o magistrado que Bolsonaro chamou certa vez de filho da puta finalmente descobriu que merda fede. Quando "descobriram" (com seis anos de atraso) que Sergio Moro não era competente para jugar Lula (e que foi parcial ao fazê-lo), seus pares lavaram a toque de caixa a ficha imunda do petralha e o reinseriram no tabuleiro da disputa presidencial. Talvez a mesma presteza devesse ter sido demonstrada diante dos discursos golpistas de Bolsonaro no feriado de Sete de Setembro, mas houve apenas um "puxão de orelha" por parte do presidente da Corte Suprema e uma cartinha patética, redigida pelo igualmente patético vampiro do Jaburu, mediante a qual tudo voltou a ser como dantes no Quartel de Abrantes.

A suprema pusilanimidade cobrou seu preço. Resta agora saber se ainda dá tempo de evitar o pior, ou por outra, se o Judiciário vai aceitar bovinamente que o Legislativo lave as mãos e deixe a campanha à Presidência virar batalha campal (ou coisa ainda pior). Aliás, por ordem de Bolsonaro o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que deixou o comando do Exército há cerca de um mês para assumir o Ministério da Defesa, divulgou nota em que chama o togado de "irresponsável" (leia íntegra).

 

Depois da saída de Sergio Moro do Podemos, o general reformado Carlos Alberto dos Santos Cruz — que atuou como comandante das forças de paz da ONU no Haiti de 2007 a 2009, foi escolhido pela Força de Paz da ONU para o comando da Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo em 2013 e foi ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência do Brasil — pôs seu nome à disposição do partido para a disputa presidencial, mas disse que, caso haja uma convergência dos partidos de centro, apoiará o nome escolhido pela Terceira Via. 

 

Na campanha de 2018, o general apoiou o capetão e fez críticas ao bonifrate do presidiário. Foi convidado para integrar o Ministério e chefiou a Secretaria de Governo no início da gestão, mas acabou se tornando alvo de Olavo de Carvalho e de Carlos Bolsonaro e foi demitido ainda em 2019. Ao fazer seu anúncio, Santos Cruz escreveu o seguinte: " 

 

“As forças políticas de centro precisam mostrar capacidade de apresentar à sociedade brasileira pelo menos mais uma opção viável, equilibrada, para a próxima disputa presidencial. O Brasil não pode ficar com apenas duas candidaturas, extremamente polarizadas, que se alimentam mutuamente e que funcionam como cabos eleitorais recíprocos. O País precisa de mais opções. Não as apresentar é desconsideração com a nossa população.
 

A disputa polarizada tende a ser uma briga de xingamentos e acusações, sem os debates que a sociedade precisa sobre os programas de governo e propostas de solução para os problemas nacionais. Uma disputa entre dois candidatos que não apresentam o que o Brasil precisa: objetivos claros, transparentes, certeza de execução com os compromissos assumidos e esperança no futuro.
 

Os riscos de mais quatro anos com o ex-presidente ou com o atual presidente, ambos com seus grupos já conhecidos, são bastante evidentes: campanha de baixo nível, rasteira; investimento no fanatismo e na manipulação da opinião pública por meio de uma avalanche de fake news cada vez mais profissionalizada e ousada; promoção do "salvador da pátria"; falta de combate à corrupção; e fanatismo que pode desaguar em violência, pelo menos localizada.
 

O Brasil precisa ser líder de práticas democráticas, de seriedade e de responsabilidade política e não de liderança de populismo latino-americano e até mesmo mundial. A democracia precisa ser reforçada e aperfeiçoada com a união nacional e com o respeito às pessoas, às funções e às instituições. O País precisa ser unido e as divergências respeitadas para que possa enfrentar seus graves problemas. Para a solução dos problemas econômicos, da fome, da inflação, da redução da desigualdade social, do auxílio aos necessitados, é fundamental a total transparência e publicidade no orçamento e na aplicação dos recursos públicos, a integração dos órgãos de controle e a responsabilização. O populismo econômico, irresponsável, torna o futuro mais sombrio ainda.
 

Os conflitos entre poderes e os embates políticos precisam ter como resultado a apresentação de propostas de aperfeiçoamento institucional. Os conflitos sem resultados práticos positivos levam apenas à intoxicação social e à esquizofrenia política. O Brasil precisa resolver seus problemas, e isso não se faz em ambiente de conflito, de espetacularização, de show permanente. Isso rouba as energias da sociedade e capacidade produtiva de todos os brasileiros. Precisamos de harmonia, saúde, educação, segurança pública, Justiça, solidariedade etc.

 

Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário precisam responder aos anseios da população brasileira, tais como a responsabilização, a total transparência da administração pública e o combate à impunidade. No presidencialismo, o comportamento equilibrado do Executivo, sem populismo, é de influência marcante e fundamental para os aperfeiçoamentos necessários à prática política e à melhoria no funcionamento demais poderes e instituições.
 

A política não tem necessidade de ser obscura, regada a dinheiro público, e atender a privilégios e interesses pessoais. A classe política deve e pode se autovalorizar, para que seja vista de maneira mais positiva pela sociedade.
 

É por meio da política que os problemas são resolvidos. Para isso, a política precisa ser desvinculada ao máximo das benesses e dos vícios ligados aos recursos públicos, alguns deles escandalosos.
 

A eleição que se aproxima precisa significar uma oportunidade de possíveis mudanças, de maior seriedade nos compromissos assumidos pelos políticos e de exigências pela população. A eleição precisa significar esperança! Para isso, dois compromissos são fundamentais: o fim da reeleição para cargos executivos, que tantas falsas promessas, deformações de comportamento e prejuízos vêm causando ao Brasil; e o fim do foro privilegiado, para que todos sejam realmente iguais perante a lei e para romper laços que impedem a independência dos poderes, que é um dos princípios da democracia. Essas medidas são necessidades imediatas, independentemente das outras reformas e ações urgentes necessárias para reduzir a desigualdade social, melhorar a Educação, a Economia, a Saúde, a Justiça, a Segurança Pública etc.

 

O Brasil precisa sair da intoxicação ideológica e exigir compromisso e responsabilização legal às promessas não cumpridas em campanhas políticas. Precisa resolver seus problemas reais dentro dos princípios da democracia. As eleições estão aí para isso. Precisamos de novas caras na política e também de novas formas de exigir o cumprimento de promessas!
 

É hora de a classe política mostrar alternativas para a sociedade brasileira. Pelo menos uma! Todas as forças políticas de centro precisam se unir e apresentar mais opções para os eleitores. Opções essas que tragam esperança de novo comportamento político, de futuro, de desenvolvimento com união e paz social. O Brasil não pode seguir no caminho indicado pela polarização. Há necessidade URGENTE de sair da armadilha do radicalismo.” 

SUTILEZAS DO TECLADO

O MELHOR CANDIDATO É O QUE NÃO QUER SER E NÃO PRECISA VENCER.


Podemos nos comunicar com o computador de várias maneiras, mas o teclado e mouse ainda são os principais dispositivos de entrada de dados, mesmo em celulares e tablets, onde o teclado é virtual e o dedo faz as vezes do diligente ratinho. 


Observação: Para mim, escrever uma linha que seja no smartphone é um teste de paciência, mas ditar a mensagem é ainda pior: o aparelho se recusa a entender o que falo e, mancomunado com o corretor ortográfico, troca "capitão de fragata" por "cafetão de gravata", ou "a obra do mestre Picasso" pela "pica de aço do mestre de obra", por exemplo. 


O layout QWERTY, que se tornou padrão para máquinas de escrever em 1880, foi projetado para facilitar a transcrição do código Morse por operadores de telégrafo e, mesmo não sendo particularmente confortável, tornou-se “o layout universal”, usado também em teclados de computador — a despeito de o Dvorak agrupar as letras mais usadas e dispor de modelos específicos para destros e para canhotos.


Em tese, notebooks, netbooks, smartphones, tablets e afins dispensam o uso de teclado e mouse externos, mas um combo wireless facilita a vida do usuário, notadamente quando o portátil substitui o PC de mesa. Demais disso, o uso de um teclado externo “poupa” o componente nativo, cuja substituição costuma custar mais caro. Teclados externos convencionais têm entre 101 e 104 teclas, mas modelos para gamers contam com teclas adicionais (e não raro programáveis), ao passo que os específicas para notebooks apresentam menos teclas. O preço varia conforme a marca, o modelo, a interface e a loja, mas, ainda que seja possível encontrar versões cabeadas (USB) a partir de R$ 30, bons teclados wireless, como os da Logitech, da Microsoft e da Apple, custam bem mais caro. 


Quanto mais compacto for o teclado, menor será a quantidade de teclas e maior o número de combinações necessárias à inserção de números, acentos gráficos e caracteres especiais. As teclas Fn e AltGr servem para ativar atalhos no Windows e no Mac, mas sua localização varia de acordo com o fabricante. Via de regra, Fn, combinada com outras teclas, ativa (ou desativa), forma o que chamamos de “atalhos de teclado”. Suas funções mais comuns são aumentar ou diminuir o brilho da tela, aumentar ou diminuir o volume do áudio, ativar um monitor externo para fazer uma apresentação, ativar ou desativar o Bluetooth e o Wi-Fi, colocar o sistema em espera ou em hibernação, e assim por diante.


Em alguns notebooks e teclados externos, desenhos gravados nas teclas de função dão pistas de sua serventia. A figura de um envelope, por exemplo, remete ao programa cliente de email, mas outras figuras são menos óbvias e, portanto, mais difíceis de interpretar. 


No Brasil, os padrões mais comuns são o ABNT e o ABNT2. Este último inclui o “ç” e o “AltGr” que faz basicamente o mesmo que o pressionamento conjunto das teclas Ctrl e Alt e costuma ser usada na inserção de caracteres de terceira função (tais como º, ª, §, , £, ¢) e, conforme o modelo do teclado, para prover acesso rápido a recursos especiais (controlar o brilho da tela e o volume do áudio, por exemplo).


Continua...

segunda-feira, 25 de abril de 2022

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS... (PARTE 3)

Ainda sobre a tensão entre o chefe do Executivo e a cúpula do Judiciário, o "mito" dos apatetados havia dito que não "assistiria calado” à condenação de seu apaniguado, daí o perdão ter sido um ato premeditado de provocação. Questionamentos jurídicos estão em andamento, mas o efeito político da afronta que ultrapassou o STF e atingiu o instituto sagrado da independência e do equilíbrio entre os Poderes.


Há quem veja no gesto de Bolsonaro uma vitória política qualquer que seja o desfecho jurídico da questão, mas nada garante que a maioria da sociedade vá apoiar uma atitude com a qual o presidente se associou ao cometimento de crimes claramente apontados pela Corte SupremaPara além disso, o intrujão deu um recado inequívoco sobre suas pretensões ditatoriais — que não se coadunam com as demandas de um Brasil perfeitamente adaptado ao regime de liberdades e garantias chamado democracia. 


A pergunta que se impõe é: o que os demais poderes estão esperando para tomar uma atitude mais assertiva? Cachorro louco não se prende na coleira — sacrifica-se. Pelo andar da carruagem, ou não teremos eleições, ou ao eleito não lhe será permitido presidir. Triste Brasil.


***

Como juiz, Sergio Moro enquadrou poderosos; no governo, foi traído por Bolsonaro; na política, filiou-se ao Podemos de Renata Abreu, migrou para o União Brasil de Luciano Bivar, foi sabotado pelo neto de Toninho Malvadeza e teve a pré-candidatura à Presidência sepultada quando o UB decidiu lançar Bivar como representante da sigla na disputa presidencial. Rebaixado por seu novo partido, o ex-juiz declarou que não quer ser deputado, contrariando mais uma vez seus “correligionários” a participação das legendas nos fundos partidário e eleitoral é diretamente proporcional ao tamanho de suas bancadas, e o sistema proporcional transformaria Moro em puxador de votos.

Ao ser boicotado pelo Podemos e enredado no União Brasil, o quase candidato perdeu a chance de participar dos debates e emparedar Lula com todas as provas que foram anuladas pelo STF e, por tabela, desconstruir a narrativa de que não existe corrupção no governo Bolsonaro (vale lembrar que o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira e o PL de Valdemar Costa Neto, que ora apoiam a reeleição do capitão, foram aliados do PT no escândalo do Mensalão).

Nada é mais perigoso em Brasília do que assumir um “superministério”. Dos dois superministros que havia em 2019, um, carbonizado, deixou a pasta da Justiça pela saída de incêndio; do outro, que atendia por “Posto Ipiranga”, sobrou apenas uma lojinha de conveniências eleitorais que desvirtuam as prioridades econômicas. Depois que Bolsonaro escolheu entregar o governo e a chave do cofre ao Centrão, passou a haver dois tipos de ministro: Ciro Nogueira e os demais. O cacique do PP ainda não desembarcou do governo, mas a maldição do superministério desembarcou na Casa Civil.

Segundo relatório enviado pela PF ao STF no último dia 8, Nogueira, que despacha a um lanço de escadas do gabinete presidencial, teria embolsado R$ 5 milhões do grupo J&S em troca de apoio à reeleição de Dilma e outros R$ 8 milhões para adiar uma reunião do PP que decidiria se o partido continuaria ou não a apoiar o governo da petista. Mesmo com Augusto Aras na PGR e o aparelhamento de parte da PF, a notícia causou constrangimento no Planalto. E o mal-estar aumentou com o depoimento de Marcelo Ponte, que admitiu ter ouvido insinuações desabonadoras de Arilton Moura, um dos pastores acusados de cobrar propina de prefeitos para apressar a liberação de verbas de um cofre de R$ 55 bi situado no organograma do Ministério da Educação. 

A proliferação de denúncias expondo a digital do chefe da Casa Civil não só transformou o FNDE no epicentro do incêndio que arde no MEC como atrai as chamas para o gabinete presidencial. Ciro deixou de lado a aparente fidalguia com que costumava desfilar nos salões palacianos e já se comporta como a bola da vez. Nas redes sociais, tem postado fotos ao lado de Bolsonaro.

Nada mais flagrantemente explícito do que um político que se sente na corda bamba do que ter de mostrar que tem o presidente como seu fiel aliado. Vale lembrar que Abraham Weintraub, de tanto defender a ala ultraconservadora da gestão Bolsonaro, acabou expelido porque o figurino que exibia não servia mais à conjuntura do governo que se amancebou com o Centrão.

O superministro da vez vem adotando a postura de um “Cirinho do estilingue”. Ao mirar em Lula, ele joga pedra no inimigo que já foi seu próprio aliado — uma heresia nas hostes do Centrão, que um dia pode ser petista de coração e, no outro, bolsonarista desde criancinha. Ao dizer que a corrupção no governo é virtual, tentar sufocar a instalação da CPI do MEC e mandar apagar fotos de uma reunião com o pastor Arilton Moura ocorrida em setembro do ano passado, o bambambã do Centrão atrai as chamas para o gabinete presidencial.

Para quem foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil com o propósito de funcionar como um “amortecedor de crises”, Ciro Nogueira tem causado muita trepidação.

SOBRE O MOUSE E OS PADRÕES DE COMUNICAÇÃO SEM FIO

a capacidade do brasil de nos surpreender é surpreendente. depois de o carnaval cair em abril, só falta nevar no natal.

No alvorecer da computação pessoal, os computadores não tinham disco rígido nem sistema operacional. Tampouco havia interface gráfica ou mouse. Operar os PCs de então exigia conhecimentos de programação, expertise e capacidade de memorização (para decorar centenas de comandos de prompt e digitá-los corretamente, já que qualquer letra, cifra, espaço ou caractere a mais ou a menos resultava em mensagens de erro). Mas não há nada como o tempo para passar.


GUI — sigla de Graphical User Interface, ou interface gráfica do usuário —, foi desenvolvida pela Xerox nos anos 1970 e adotada pela Apple na década de 80. O mouse surgiu nos anos 1960 (e ganhou esse “apelido” porque alguém achou o cabo que conectava o dispositivo ao computador parecido com o rabo de um camundongo), mas veio a ter utilidade prática com o advento das interfaces gráficas em sistemas e programas.   


Atualmentequalquer smartphone de entrada de linha tem mais poder de processamento do que o do pool de mainframes que a NASA usou durante o projeto Apollo. No entanto, a despeito de toda essa evolução, os principais dispositivos de entrada de dados continuam sendo o teclado e o mouse — ainda que seja possível operar o computador por voz e smartphones e tablets dispensam mouse e teclado físico (o dedo do usuário emula as funções do dispositivo apontador e a tela sensível ao toque tornou o teclado virtual padrão de mercado).


O mouse foi aprimorado ao longo dos anos, mas o modelo convencional continua mantendo as características básicas do SleekMouse (criado pela IBM), ainda os dispositivos “de esfera” foram substituídos pelos ópticos — que "fotografam" a área de varredura milhares de vezes por segundo, transportando os movimentos para a tela de forma mais precisa do que a bolinha de borracha, e proporcionando uma experiência mais confortável, tanto em games quanto em aplicações convencionais.


Vale lembrar que quase tudo o que fazemos com o mouse também pode ser feito a partir de atalhos de teclado, mas isso é assunto para uma próxima postagem. 


Continua...

domingo, 24 de abril de 2022

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS... (CONTINUAÇÃO)


Sergio Moro não teria dificuldade em se eleger deputado federal por São Paulo e, com apoio da imprensa independente e dos cidadãos lúcidos, ajudar a recobrar a confiança do eleitor na política e construir as pontes necessárias para um projeto presidencial em 2026 ou 2030. Mas preferiu lançar sua pré-candidatura à Presidência, esquecendo-se de que a corrupção é como a Hidra de Lerna (detalhes no capítulo anterior) e de que ele não é Hércules.


Depois que o semideus togado da mitológica justiça tupiniquim passou de apoiador incondicional a inimigo figadal da Lava-Jato, os ventos frios que sopravam desde Curitiba mudaram de direção. E quando o pasquim panfletário de Verdevaldo das Couves passou a divulgar — seletivamente e a conta-gotas — conversas supostamente mantidas pelo ex-juiz com o coordenador da força-tarefa, e deste com outros procuradores, a operação Vaza-Jato culminou com a soltura de Lula, sua conversão a “ex-corrupto” e subsequente reinclusão no xadrez (sem trocadilho) da sucessão presidencial tupiniquim.  


O material vazado pelo “jornalista investigativo americano” — dono de invejável capivara — foi obtido criminosamente por uma “quadrilha de hackers” e sua autenticidade sempre foi contestada. Não se sabe se os arquivos foram editados ou não, mas sabe-se que eles foram selecionados a dedo para favorecer o ex-presidiário de Curitiba e pôr em xeque a lisura do magistrado que o condenou no processo sobre o tríplex do Guarujá (que acabou sendo anulado pelo ministro Edson Fachin, juntamente com outras três ações que tramitavam ou haviam tramitado na 13º Vara Federal de Curitiba). 


Numa democracia minimamente respeitável, condenável seria usar material espúrio como prova, mas não no Brasil, onde a mais alta cúpula do Judiciário só precisava de um subterfúgio para desmantelar a mais bem sucedida operação anticorrupção da história e conspurcar a reputação de um magistrado que a população de bem via como “paladino da Justiça”. 


Por uma abjeta e absurda decisão suprema, Moro passou de herói nacional a juiz parcial, suspeito, indigno do cargo que exerceu por 22 anos (vale destacar que “embargos auriculares” não são exatamente incomuns em nossos tribunais, inclusiva nas cortes superiores). Deltan Dallagnol foi acusado de ser o Robespierre das Araucárias, de fazer uso de provas falsas (?!), de ameaçar a democracia, de ser o inimigo número um do direito de defesa no Brasil. Graças às “provas definitivas” apresentadas por Verdevaldo e Cia. e reverberadas por toda a mídia que foi na sua cola, ficou entendido que a Lava-Jato e todos os atos por ela deveriam ser anulados de cabo a rabo

 

Moro e Dallagnol conseguiram um prodígio inusitado num país polarizado: ser odiados tanto por Lula et caterva quanto por Bolsonaro e sua quadrilha de apoiadores — sem falar no eminente mandachuva do STF, entre outras sombras togadas. Se Moro tivesse continuado à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, talvez Lula tivesse sido condenado nos demais processos e continuasse gozando férias compulsórias na Superintendência da PF de Curitiba, na Papuda, em Presidente Venceslau ou na ponte que partiu. Mas é aí que entra o bendito “se” (detalhes na postagem anterior).

 

Ulysses Guimarães, um dos grandes nomes da política brasileira, nunca foi presidente da República, mas dignificou o mandato de deputado federal. Bolsonaro e Lula, cada qual a sua maneira, emporcalharam o instituto da Presidência. Se falta grandeza às instituições, é por causa da baixíssima estatura moral dos homens que as ocupam. E se homens de baixíssima estatura moral tomaram de assalto as instituições, a culpa é do “esclarecidíssimo” eleitorado tupiniquim. Simples assim.


Sobrando tempo e dando jeito, assista a este vídeo:



sábado, 23 de abril de 2022

A PENÚLTIMA CRISE INSTITUCIONAL


Fala-se muito no “Estado Democrático de Direito”, mas pouco se diz (e menos ainda se faz) acerca da incompatibilidade de seus princípios com o pensamento (e as ações) do nosso presidente-palanque, que desde o início do mandato opera como uma usina de crises institucionais. A penúltima que emergiu do esgoto palaciano foi uma resposta (contra-ataque?) à condenação do deputado-troglodita-bolsonarista Daniel Silveira pelo plenário do STF, por 10 votos a 1, vencido o ministro cuja maior virtude foi tomar muita tubaína com o responsável por sua indicação.

Vale relembrar que Bolsonaro descumpriu a promessa feita a sua caterva de apoiadores — de indicar um nome “terrivelmente evangélico” para a vaga do ministro Celso de Mello — ao sacar da cartola o dono de um currículo de dar inveja ao professor, oficial da reserva da Marinha e evangélico Carlos Alberto Decotelli, que teria se tornado o primeiro negro a ocupar um cargo na Esplanada dos Ministérios se não fosse tão mestre, doutor e pós-doutor quanto eu sou comendador. 

 

Observação: Depois que piada a colombiana perdeu a graça — falo de Ricardo Vélez Rodríguez, que chefiou o MEC por 3 meses e 18 dias —, Bolsonaro trocou o humor negro pela tragédia polonesa e só se conformou em defenestrar Weintraub, o obelisco da grosseria, porque sofreu pressão de todos os lados. Como a Educação no Brasil parece ter sido amaldiçoada com uma praga de madrinha, não houve ninguém minimamente competente para comandar a pasta ao longo desta igualmente incompetente gestão. A troca (de seis por meia dúzia) mais recente ocorreu há algumas semanas, depois que a imprensa descobriu que o ministro-pastor estaria envolvido num “suposto escândalo de corrupção”. E isso sob os olhos aquilinos do mandatário que prometeu pegar em lanças contra a corrupção, mas acabou com a Lava-Jato porque, em suas próprias palavras, “não tem mais corrupção no governo”. 

 

Voltando à pior composição da história recente do STF (que pode piorar com as próximas substituições, a depender ocupar o Planalto a partir do ano que vem), Nunes Marques foi empossado em meio a suspeitas, com uma trajetória acadêmica questionável e companhias no mínimo duvidosas. Seu nome foi colocado na mesa do capetão pelo mafioso de comédia Frederick Wassef, com a aprovação de Flávio “Rachadinha” Bolsonaro e de Ciro Nogueira, que se referiu ao indicado como "nosso Kássio".

Em sua estreia na 2ª Turma do STF, o recém-chegado votou pela confirmação da liminar de Gilmar Mendes que soltou o promotor Flávio Bonazza — acusado de receber mais de R$ 1 milhão da máfia dos transportes no Rio — e retirou o caso dele da Lava-Jato fluminense. No julgamento sobre a possibilidade de Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia serem reeleitos presidente do Senado e da Câmara, respectivamente, o ministro-vassalo deu voto favorável ao primeiro e contrário ao segundo, em sintonia com os desejos do presidente-suserano. Mais adiante, votou a favor de Lula no caso envolvendo o depoimento de Antonio Palocci e atendeu a um pedido do PDT para suspender trecho da Lei da Ficha Limpa que determina que o prazo de inelegibilidade de oito anos para condenados terá efeito após o cumprimento da pena. 

 

No julgamento do deputado bolsonarista, Nunes Marques foi voto vencido. Nem o ministro-pastor André Mendonça — esse, sim, terrivelmente evangélico —, que também teve os ombros recobertos pela suprema toga pelo “mito” dos apalermados, ousou divergir da maioria, que acompanhou o voto do relator — embora tenha defendido a redução da pena. Detalhe: como sua decisão não agradou à caterva bolsonarista (nem a líderes evangélicos como Malafaia e companhia), Mendonça justificou seu voto pelas redes sociais, tornando ainda mais burlesca uma situação já bastante patética. 

 

Voltando ao dueto Silveira-Bolsonaro, não faria sentido prolongar esta postagem elencando os despautérios do parlamentar ou enumerando bandeiras eleitoreiras que o então candidato à Presidência pelo PSL agitou durante a campanha e enfiou em local incerto e não sabido depois de subir a rampa palaciana. Mas vale relembrar a propositura do fim da reeleição, que dispensa maiores considerações, e da questão do indulto presidencial, cujo detalhamento ora se impõe.

 

Um mês após ser eleito, Bolsonaro disse: “Se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último”. Fiel a sua palavra — como o grande estadista que é —, nosso mandatário concedeu indultos a agentes de segurança condenados por crimes considerados culposos no final de 2019, 2020 e 2021. Na tarde da última quinta-feira, talvez por conta das festividades carnavalescas extemporâneas que pipocaram cá e acolá, Bolsonaro pensou que bem poderia ser Natal. E como Natal combina com indulto presidencial (aquele que deixaria de existir no seu governo), concedeu a graça do indulto individual a seu valoroso escudeiro antes mesmo que a condenação transitasse em julgado, o que não é comum em situações que tais. 


Na avaliação de especialistas, a medida presidencial não livra Silveira da inelegibilidade e será analisada pelo próprio Supremo, dada a clareza meridiana com que o desvio de finalidade fere os princípios da impessoalidade e da moralidade. Em tese, o indulto livra o condenado da pena privativa de liberdade, mas não da inelegibilidade. Parlamentares da oposição já avaliam as medidas cabíveis, que podem ser desde um novo pedido de impeachment do mandatário até uma ação questionado a graça presidencial no STFÀ luz da lei penal, o decreto presidencial pode ser interpretado como desvio de finalidade por ferir os princípios da impessoalidade e da moralidade — sobretudo por se tratar de um agente político aliado do presidente e amigo do clã presidencial — o que o torna inconstitucional.

 

Silveira é ex-PM. Antes de entrar para a polícia, trabalhou como cobrador de ônibus e se valia de atestados médicos falsos para faltar ao serviço. Durante os seis anos que passou na corporação, puxou 26 dias de xadrez e colecionou 14 repreensões e duas advertências. Um sujeito assim podia ser enviado para muitos lugares, exceto para o Congresso. Ao condenar o parlamentar, diz Josias de Souza, o Supremo fez um risco no chão. Usou o caso para cientificar seus semelhantes, inclusive ao presidente da República, de que o bolsonarismo petulante, quando descamba para o ódio e passa a ameaçar a democracia, dá cadeia. E o aviso foi extensivo ao Legislativo


O Conselho de Ética da Câmara já havia aprovado a suspensão do parlamentar por seis meses. O castigo mixuruca dependia apenas do aval do plenário, mas o réu que preside a Câmara, movido a orçamento secreto e rendido às conveniências de Bolsonaro, não incluiu a encrenca na pauta de votação. Com sua decisão, os togados informaram a Lira e seus cúmplices que aqueles que dizem que alguma coisa não pode ser feita são geralmente surpreendidos por alguém fazendo a coisa. A cassação do mandato transformou em piada a ideia de premiar Silveira com uma folga hipertrofiada de seis meses. Lira encaminhou ao STF uma petição sustentando que a última palavra sobre a cassação cabe à Câmara, não à Corte. Um detalhe adiciona escárnio no teatro: réu, Lira manobra para proteger um condenado que avilta o Legislativo cada vez que cospe na democracia que alimentou suas pretensões políticas.

 

Bolsonaro e seus devotos apostavam que o ministro André Mendonça apresentaria um pedido de vista, engavetando o processo por tempo suficiente para que o réu chegasse até as urnas de outubro. Deu errado. Além de não travar o julgamento, o ministro "terrivelmente evangélico” compôs a maioria, isolando-se apenas quanto à dosimetria da pena. Já Nunes Marques, descrito por Bolsonaro como "10% de mim dentro do Supremo", votou pela absolvição. Na sua visão, Silveira teria pronunciado "bravatas" sem "credibilidade". Coisas "incapazes de intimidar quem quer que seja". Cármen Lúcia ironizou o voto do colega. Disse que, se o Supremo aguardasse pela concretização das ameaças, o julgamento de Silveira não ocorreria, pois o deputado arguiu a suspeição de nove dos 11 ministros da Corte. Se prevalecesse o entendimento de Nunes Marques, o réu seria apenas um inofensivo neurótico que constrói castelos no ar.

 

Em análise preliminar, as togas concluíram que decreto (leia a íntegra) não elimina todas as aflições do aliado. O perdão pode livrá-lo da pena de prisão por oito anos e nove meses e da multa de cerca de R$ 212 mil, mas não anula a cassação do mandato e a inelegibilidade que o impedirá de concorrer ao Senado. Fontes dão conta de que o presidente da Corte e o relator da ação que resultou na condenação de Silveira avaliam que, a despeito do decreto, está mantida a perda do mandato e dos direitos políticos do condenado. 

 

PDTRede e Cidadania protocolaram ações no Supremo, e parlamentares de partidos como PSOL, MDB, PT e da própria Rede entraram com Projetos de Decreto Legislativo para anular o ato de Bolsonaro no Senado e na Câmara. Resta saber como o plenário se pronunciará. A intenção da Corte é a de deliberar rapidamente sobre a matéria.

 

Bolsonaro se valeu de um voto proferido por Alexandre de Moraes para torpedear a condenação imposta pelo STF a seu esbirro a partir de outro voto do mesmo Moraes. “Tudo aqui tem jurisprudência do senhor Alexandre de Moraes”, disse ele, ao anunciar a edição do decreto. A decisão a que Bolsonaro se refere foi tomada em maio de 2019. Por 7 votos a 4, o STF validou o indulto que Michel Temer assinou no Natal de 2017. Relator do caso, o ministro Barroso suspendeu os efeitos de trechos do decreto que considerou demasiadamente concessivos com criminosos. Submetida ao plenário, a liminar foi derrubada e prevaleceu o voto divergente de Alexandre de Moraes (indicado para a toga pelo vampiro do Jaburu), que sustentou a tese segundo a qual o Supremo não tem poderes para reescrever decretos de indulto editados pelo presidente. Bolsonaro sustenta que o mesmo raciocínio se aplica ao decreto que editou dois dias atrás. Ele afirma que Moraes e seus pares terão de lhe conceder o mesmo tratamento dispensado a Temer. Do contrário, promete reagir.

 

Ironicamente, Bolsonaro havia usado a decisão do Supremo a favor de seu antecessor para assegurar que em seu governo não haveria refresco para condenados. O decreto de então concedia perdão para quem tivesse cometido crimes sem violência ou grave ameaça, depois de o preso cumprir um quinto da pena. Antes, era preciso cumprir tempo maior, um quarto. Perdoava condenados a penas mais elevadas, sem limite. Antes, só os presos condenados a até 12 anos podiam se beneficiar do indulto. Também favorecia presos independentemente dos crimes que haviam cometido. Temer brindou com o perdão presidencial até os condenados por crimes de colarinho branco (como lavagem de dinheiro e corrupção).


O resto fica para uma próxima postagem. Até lá, certamente teremos novidades. Triste Brasil.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS...


A vida é feita de escolhas, escolhas têm consequências e o problema com as consequências é que elas sempre vêm depois. Numa encruzilhada da vida, se escolhermos virar à direita, abdicamos de seguir em frente ou a esquerda, por exemplo. Quando o resultado não é o esperado, somos assombrados pelo bendito “se”. 


O presente nada mais é senão a consequência da somatória das escolhas que fizemos no passado, mas o futuro do pretérito, também chamado pelos gramáticos de condicional, referencia um presente que poderia ter existido se nossas escolhas fossem outras. 


Em 2018, fomos meio que obrigados a apoiar o bolsonarismo boçal para evitar a volta do lulopetismo corrupto, e a consequência foi o calvário que já dura três anos e quatro meses e, pior, pode ser prorrogado por mais quatro anos — ou sabe-se lá por quanto tempo mais; em se tratando de Bolsonaro, a única perspectiva impossível é a de uma gestão competente de pautada pela probidade.

 

Foi também em 2018 que Sergio Moro escolheu abandonar a magistratura em troca de um ministério no futuro governo, edulcorado pela promessa de uma cadeira no STF. Como consequência, o ex-juiz foi privado do Coaf e obrigado a reverter nomeações, enquanto seu projeto anticorrupção era desmontado. Por algum tempo, ele fingiu não ver, tentou relativizar, mas não se sujeitou ao papel de consultor jurídico informal do enrolado clã presidencial e acabou tendo de engolir sapos e beber a água da lagoa. 

 

Moro abandou a canoa que deveria saber ser furada para tentar salvar o prestígio que ainda lhe restava. Mas já era tarde demais. Odiado por Lula e seus abjetos sectários, viu-se tachado de traidor pelos igualmente abjetos baba-ovos do “mito” de fancaria. A indicação para o STF jamais aconteceu. Segundo a narrativa palaciana, o então magistrado vinculara seu embarque no governo à suprema toga, quando na verdade foi Bolsonaro que lhe prometera a dita-cuja como forma de tê-lo a bordo e de cativar o eleitorado avesso à roubalheira lulopetista. 


Passados dois anos da demissão de Moro — ele “não saiu atirando”, apenas relatou um fato que, se não era público, tornou-se notório depois que o então decano do STF retirou o sigilo da gravação da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, o inquérito instaurado para investigar a interferência criminosa de Bolsonaro na PF deu em nada (a exemplo de tantas outras envolvendo o sultão do Bolsonaristão). 


Nesse entretempo, o presidente que, quando candidato, prometeu pegar em lanças contra a corrupção e a velha política do toma-lá-dá-cá, cometeu toda sorte de barbaridades. Flertou incontáveis vezes com o autogolpe. Chamou o presidente do TSE de filho da puta e um ministro do STF de canalha. Tornou-se alvo de mais de 140 pedidos de impeachment e de uma dezena de inquéritos. Quatro de seus cinco filhos são igualmente investigados. Mais recentemente, vieram a lume evidências gritantes de corrupção no MEC. 


Observação: Ontem, a cereja do bolo: sua alteza irreal anistiou o deputado troglodita baba-ovos Daniel Silveira antes mesmo que a condenação transitasse em julgado. Mais uma vez, o sociopata estica a corda. Se será enforcado com ela ou se a pusilanimidade do STF permitir-lhe-á sair impune, com vem acontecendo desde sempre, só o tempo dirá. O pouco tempo que falta até as cada vez mais próximas eleições. Se alguém acha que esse sujeito vai mesmo largar o osso se assim decidir a ospália votante, esse alguém está redondamente enganado.

 

Políticos pegos com manchas de batom na cueca sempre têm alguma desculpa idiota. Lula se disse traído; Dilma, indignada; Bolsonaro afirma não pode saber de tudo — e para evitar que se venha a saber de (mais) alguma coisa que o desabone, decreta sigilo sobre fatos de interesse público. 


Em julho do ano passado, o Planalto impôs um segredo de 100 anos sobre informações dos crachás de acesso em nome dos filhos 02 e 03. Um cumpre na sede do governo federal (diz-se que no “gabinete do ódio”) seu quinto mandato de vereador, quando deveria dar expediente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O outro é deputado federal por São Paulo, mas acompanha o pai em viagens internacionais, frita hambúrguer nas horas vagas e chegou a ser cotado para chefiar a embaixada do Brasil nos EUA.

 

Em janeiro de 2021, o Planalto decretou 100 anos de sigilo cartão de vacinação do mandatário negacionista e antivacina, a pretexto de os dados dizerem respeito "à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem do presidente”. Em junho de 2021, mandou o Exército impor sigilo de 100 anos ao processo interno isentou de punição o então general da ativa Eduardo Pazuello


Dias atrás, o GSI repetiu a dose em relação às visitas dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos ao Planalto, alegando que “a divulgação poderia colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares”. Pressionado, o gabinete comandado pelo general Augusto Heleno liberou os registros, que apontam mais de 30 acessos. O pastor Arilton visitou gabinetes de Mourão, ministros e do responsável pela agenda de Bolsonaro; o pastor Gilmar esteve pelo menos 10 vezes na sede do governo. Detalhe: ambos voltaram ao Planalto mesmo após pedido de apuração

 

Voltando a Sergio Moro — que deve estar tão arrependido de ter aceitado participar deste espúrio governo quanto Lula de ter feito Dilma sua sucessora —, lulistas, bolsonaristas, magistrados ditos “garantistas” e parte da mídia promoveram a párias o ex-juiz federal e o ex-coordenador do braço paranaense da maior operação anticorrupção da história desta banânia, que colocou na cadeia dezenas de empresário e políticos que se locupletaram nos governos petistas. 


No Brasil, a corrupção é como a Hidra de Lerna — bicharoco mitológico com corpo de dragão, hálito venenoso e nove cabeças de serpente capazes de se regenerar. Tudo ia de vento em popa até que, um belo dia, o semideus togado que manda e desmanda no STF virou a casaca, passando de apoiador a inimigo figadal da Lava-Jato. E o resto é história recente.