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domingo, 11 de agosto de 2019

O ATIVISTA QUE VIROU HERÓI, O XERIFE QUE VIROU BANDIDO, O CAPITÃO QUE VIROU PRESIDENTE, O CHAPEIRO QUE VIROU EMBAIXADOR E O FRANGO QUE VIROU HAMBÚRGUER



A prisão dos quatro suspeitos de invadir cerca de mil celulares, entre os quais os de altas autoridades desta Banânia, não altera de maneira substantiva as suspeições sobre as condutas de Sergio Moro e Deltan Dallagnol nem põe em xeque a liberdade de expressão, mas fere gravemente a confiabilidade de novas publicações de conversas decorrentes de invasões.

Diz Dora Kramer que é razão de o editor do site panfletário proselitista The Intercept reagir violentamente contra a ação da PF, chamando de “farsa” as investigações que resultaram na prisão dos hackers em São Paulo. Isso de um lado. De outro, Moro reduziu o efeito do que poderia ser visto como uma vitória dele ao avisar parlamentares e magistrados que haviam sido atingidos e dizer a pelo menos um deles que as conversas seriam destruídas.

Houve providencial recuo em manifestação da PF e em nota do próprio Ministério da Justiça, esclarecendo que o destino das mensagens só pode ser decidido pelo juiz do caso, que Moro escorregou quando agiu ao mesmo tempo como juiz, vítima e chefe das investigações — o que, em tese e no limite, pode resultar numa acusação por obstrução de justiça devido à defesa de destruição de provas. Afora isso, o que esse caso expõe é uma tremenda falta de segurança no tocante à privacidade de autoridades que, muito provavelmente por ignorância digital, não tomaram as devidas precauções no resguardo dos respectivos telefones celulares. E o problema com as consequências é que elas sempre vêm depois.

Mudando de pato pra ganso, a campanha eleitoral de 2018 ensinou que o embate ideológico, principalmente se feito na base do “fascista” para rebater o “comunista”, não é arma eficaz no exercício da oposição a Jair Bolsonaro. Nele, esse tipo de chumbo trocado não dói. Ao contrário, costuma fortalecê-lo junto ao público que o levou à presidência e é ainda diária e intensamente cultivado em gestos, palavras e decisões.

Expressões de repugnância e/ou menosprezo pela figura presidencial servem bem ao desabafo, ao protesto emocional, às demonstrações indignadas que, embora sustentadas em fatos e respaldadas em princípios de civilidade e racionalidade, são apenas demonstrativos. Tendem, inclusive, a servir de armadilha, na medida em que banalizam o protesto e acabam dando sentido de normalidade ao que é realmente exorbitante.

Nos primeiros seis meses de governo, a toada das críticas tem sido a mesma, não obstante Bolsonaro oferecer razões a mancheias para que elas sejam mais bem fundamentadas. A ausência de elaboração argumentativa e o uso de insultos são a praia onde o presidente nada de braçada, imbatível no quesito nível abaixo do aceitável. Já no campo das alegações e justificativas bem colocadas, questionamentos substantivos, premissas e conclusões lógicas, teses, antíteses e sínteses irrefutáveis, ele não sabe nem tem interesse em navegar. Portanto, quando a ideia é contentar seus gestos, palavras e notadamente decisões, a saída eficaz é o recurso a um bom e consistente conteúdo.

Dá trabalho, requer conhecimento, habilidade no trato das palavras e argúcia de raciocínio, mas qualifica e diferencia o antagonista. Foi justamente o que exibiu o diplomata Rubens Barbosa em artigo publicado na edição do dia 23 de julho do ESTADO, ao discorrer sobre seu período (1999-2004) como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Em meio ao ambiente de insultos vãos sobre Bolsonaro de indicar o filho número três para o posto mais importante da diplomacia mundial, sem citar a hipótese da nomeação, Barbosa chama o presidente à compostura, mostrando o que é a função e o que se exige do titular na missão de representar o país em Washington.

Segundo o embaixador, presença e interlocução constante com autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário americanos, empresários, acadêmicos, investidores, representantes de entidades sociais, viagens pelo país em busca de informações e mediação de contatos multilaterais são indispensáveis à “ocupação de espaço de influência a favor do Brasil”. Nenhuma dessas atribuições consta da lista de tarefas que zero três se diz apto a exercer em nome do Brasil, mas abrilhanta seu invejável currículo ter fritado hambúrgueres no estado norte-americano do Maine, 14 anos atrás, numa unidade da rede de fast food Popeyes. Mesmo assim, tudo indica que ele será indicado e que o Senado aprovará essa indicação. 

O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que a rede Popeyes é especializada em frango frito e não tem hambúrguer de carne bovina no menu. Concorrente do KFC, é a segunda maior rede de fast food baseada em frango do mundo; em algumas regiões, há até frutos do mar empanados e fritos, mas o foco é a carne de frango com tempero típico do estada da Louisiana.

Sobre o passado nebuloso de Verdevaldo, o puro, assista a este vídeo:

segunda-feira, 27 de abril de 2020

HOME OFFICE E AFASTAMENTO SOCIAL MAIS TEMPO ONLINE POTENCIALIZA RISCOS DE VÍRUS E CIBERATAQUES (PARTE 7)

BOLO DE CARNE É DESCULPA PRA QUEM QUER COMER UM HAMBÚRGUER GIGANTESCO SEM PÃO.

Uma prática muito comum entre os cibercriminosos é o uso de dispositivos de terceiros para a mineração de criptomoedas. Esse procedimento impacta o desempenho do aparelho, de modo que e é comum os atacantes espalharem programas falsos em vários computadores para realizar essa mineração sem que as vítimas deem conta.

Nesse caso, estão em risco tanto usuários de PCs quanto de smartphones, pois a bandidagem também se vale de dispositivos móveis (à revelia dos donos do aparelhos) que tenham alta capacidade de processamento. A infecção se dá pelos métodos convencionais, como um app falso, um link malicioso em uma mensagem ou em um e-mail, uma página na web que oferece o download, e por aí vai. Uma vez instalado, o malware permanece em execução em segundo plano para minerar criptomoedas. O uso intenso dos recursos de hardware do aparelho pode despertar suspeitas no usuário, não só pela queda de performance, mas também por um aquecimento anormal do telefone e redução significativa da autonomia da bateria.

ObservaçãoPara não cair nesse tipo de golpe, fique esperto com os links que você recebe por e-mail e atente para o tipo de informação está sendo solicitada e se é necessário realizar algum tipo de login. Observe ainda como a mensagem foi redigida, pois as legítimas não devem ser mal escritas nem conter erros de ortografia e gramática, que são muito comuns nas falsas.

Smartphones podem acessar a Web tanto pela rede 3G/4G da operadora quanto via compartilhamento do sinal de um roteador Wi-Fi, que hoje em dia quase todo mundo tem em casa — foi-se o tempo do “computador da família” e da conexão discada, que era disputada a tapa por pai, mãe, filhos, cachorro gato e papagaio, sobretudo nos finais de semana, quando a cobrança do pulso telefônico era diferenciada.

Como os planos de dados mais acessível costuma ser bastante limitados, muita gente recorre ao Wi-Fi não só em casa, mas também em lojas, aeroportos, restaurantes, hipermercados etc. —, o que aumenta expressivamente riscos de invasão e infecção. Lembre-se: comodidade não combina com segurança, e redes abertas são cômodas, mas nada confiáveis. Basta estar no lugar certo na hora certa e contar com os programas certos para "escutar" o tráfego de pessoas conectadas e interceptar dados pessoais, redirecionar a conexão para páginas maliciosa e outras maracutaias, e, sem que a vítima se dê conta, capturar suas senhas e outros dados pessoais.

Portanto, a recomendação é evitar redes públicas, mesmo as protegidas por senha (já que basta pedir os dados de login ao garçom, à recepcionista do médico ou do dentista, digitar e começar a navegar. Para minimizar os riscos, acesse essas redes usando um serviço de VPN (sigla de rede privada virtual, em inglês), que proporciona maior segurança no tráfego de dados, embora acarrete sensível lentidão na navegação. No final das contas, nada é perfeito.

Por último, mas não menos importante: a tão esperada chegada do 5G promete mudar totalmente a forma e a velocidade das redes móveis no Brasil. A nova arquitetura promete ser até 100 vezes mais rápida que o 4G, mas ainda não ficou bem claro o impacto que ela terá na segurança. Além disso, a expansão de acesso à rede móvel — que é um dos principais objetivos do 5G — deve propiciar um aumento considerável na quantidade de dispositivos que a compartilharão, e o crescimento no volume de dados pode ajudar a bandidagem a mascarar ataques.

Continua...

sexta-feira, 20 de maio de 2022

QUER CONHECER O CARÁTER DE UMA PESSOA? DÊ-LHE O PODER! (QUARTA PARTE)



Lula é uma caricatura de si mesmo, uma foto amarelada que insiste em permanecer pendurada na parede do PT, até porque ele e seu espúrio partido são uma coisa só. De acordo com as pesquisas, o ex-presidiário já ganhou (com 171% dos votos) e se prepara alegremente para voltar à cena do crime.

Bolsonaro, que atacou duramente o Centrão durante a campanha e prometeu sepultar a “velha política” do “toma lá, dá cá”, passou por nove partidos, todos do Centrão. Entre 2019 e 2020, tentou criar o Aliança Pelo Brasil, mas não conseguiu reunir o número mínimo de assinaturas e acabou se amancebando com o PL. Na cerimônia de filiação à sigla presidida pelo do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, disse que “estava se sentindo em casa”. Mas vamos por partes, que a desgraça vem de longe.

Bolsonaro iniciou sua trajetória militar em 1973, na Escola de Cadetes de Campinas (SP). No ano seguinte, ingressou na AMAN, onde cumpriu o curso básico de paraquedismo do Exército e foi promovido a aspirante a oficial de artilharia. Em 1986, protestou contra os baixo soldo dos militares num artigo publicado pela revista Veja, que lhe rendeu 15 dias na prisão. Em 1987, Veja denunciou seu plano de explodir bombas em instalações militares como forma de pressionar o comando por melhores salários e condições. Ele e seu comparsa, o também capitão Fábio Passos da Silva, foram condenados por unanimidade. O STM os absolveu por 9 votos a 4, mas suas carreiras militares acabaram ali. 

Desfardado e travestido de defensor dos interesses corporativistas dos fardados, Bolsonaro conquistou uma cadeira na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Dois anos depois, elegeu-se deputado federal. Ao longo de 7 mandatos, aprovou 2 projetos e colecionou mais de 30 processos. Em 2018, graças a uma improvável conjunção de fatores, foi despachado para o Palácio do Planalto, onde permanece até hoje graças à leniência do Legislativo e do Judiciário.

Para se escudar de mais de 140 pedidos de impeachment — um recorde, considerando o escore de seus predecessores (Collor, 29; Itamar, 4, FHC, 24; Lula, 37; Dilma, 68; e Temer, 31) —, o ex-capitão usou o "orçamento secreto" para ter um cúmplice na presidência da Câmara; para se imunizar contra investigações por crimes comuns, nomeou esbirro procurador-geral (ao arrepio da lista tríplice do MPF) e o mantém na rédea curta mediante a promessa de guindá-lo ao STF.

Observação: Em 1993, o ex-presidente-general Ernesto Geisel se referiu ao então capitão como “um caso completamente fora do normal, inclusive mau militar”. A quem interessar possa, a carreira militar do “mito” é narrada em detalhes no livro “O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel” (Todavia), publicado em 2019 pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho.

A carreira política se confunde com a vida pessoal do mau militar e parlamentar medíocre. Sua primeira esposa, Rogéria Bolsonaro, foi eleita vereadora no Rio de Janeiro em 1996. Em 2000, durante a separação do casal, ela concorreu à reeleição e foi derrotada pelo filho 02 — que se tornou o vereador eleito mais jovem da História do país. 

Os filhos 01 e 03 também seguiram os passos do pai na política: Flávio, o devoto das rachadinhas foi eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2002 (e reeleito três vezes antes de conquistar uma vaga Senado Federal). Eduardo, o fritador de hambúrguer que quase virou embaixador, foi eleito deputado estadual por São Paulo em 2014 e reeleito em 2018. 

Observação: Afora o célebre caso de Zero Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério Público apuram suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro por tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de manifestações que pediram o fechamento de instituições como o Congresso e o Supremo. Tutti buona gente!


Abro um parêntese para dizer que a decisão do TJ-RJ que fez de 01 o mais novo "inocente entre aspas" (mais detalhes na próxima postagem) foi "mais do que justa", sobretudo num país democrático onde uma decisão estrambótica chancelada em supremo plenário por 8 votos a 3 transformou um ex-presidente presidiário em "ex-corrupto" e apto a voltar à cena do crime. 

Isso me faz lembrar de uma anedota dos tempos da ditadura, segundo a qual o general-presidente da vez, em visita oficial à Bolívia, mal disfarçou o riso quando lhe foi apresentado o ministro da Marinha do país vizinho... e foi prontamente lembrado de que seu colega boliviano não riu quando, em vista ao Brasil, lhe foi apresentado o ministro da Justiça tupiniquim.

Continua... 

sexta-feira, 3 de abril de 2009

CONTAR PALAVRAS E STEAK TARTARE

Não sei se foi Drummond ou Guimarães Rosa que celebrizou a frase “escrever é a arte de cortar palavras”, mas sei que a idéia é válida, embora possa parecer um tanto paradoxal.

Ainda me lembro do tempo em que publicava meus escritos numa certa revista (já se vão de lá quase dez anos!) e ficava p. da vida quando o pessoal pedia para adequar o texto ao espaço que me havia sido reservado. Eu xingava, esbravejava, argumentava – afinal, o troço estava “redondinho”; obrigar-me a editá-lo seria o mesmo que fazer um cozinheiro reverter um purê de batatas em seus ingredientes originais –, mas o pagamento era bom, eu precisava da grana e acabava cedendo. E aí começava o calvário.

Eram horas relendo as matérias, cortando uma palavra aqui, uma frase acolá, reestruturando um parágrafo, enfim, eliminando a “gordura”. O maior desafio era fazer essa “lipoaspiração” sem comprometer (demais) o conteúdo - e o pior é que dava certo (risos), mesmo quando era preciso reduzir o texto a 2/3 do tamanho original.

Naquelas ocasiões, meu grande aliado era a ferramenta “Contar Palavras” do Word, que permite avaliar em tempo real o número de palavras, linhas, parágrafos e caracteres (com ou sem espaços) de um documento. Para utilizá-la, basta selecionar a porção do texto desejada, clicar no menu Ferramentas e em Contar Palavras (se nenhum trecho específico for selecionado, a ferramenta irá levar em conta o documento inteiro). O botão “Mostrar Ferramentas” convoca uma pequena barra que permite definir os parâmetros da avaliação (basta clicar na pequena seta à direita) e obter uma estatística atualizada sempre que você clicar em “Recontar".

Não sei se serve de consolo, mas quase todo mundo que se aventura a “brincar com as palavras” (seja de forma profissional, amadora ou apenas nas horas vagas) tende a ser prolixo, a “andar em círculos” e a se perder em divagações até desnecessárias, mas que dão ao trabalho um “colorido” todo especial. Afinal, uma coisa é uma posta de carne crua num prato, outra coisa é um Steak Tartare, não é mesmo?

Para quem não sabe, o Steak Tartar é uma iguaria russa feita à base de carne crua, que pode ser servida como aperitivo, entrada ou prato principal. Os ingredientes são os seguintes:150 gramas de filé mignon (moído ou finamente picado), azeite de oliva extra virgem; sal; pimenta do reino; pimenta caiena; 1 gema de ovo; 1 colher (sobremesa) de cebola ralada; 1 colher (sopa) de mostarda; 1 colher (café) de alcaparras; 1 colher (chá) de salsinha picada; 1 colher (chá) de cebolinha picada; 1 colher (chá) de molho inglês; suco de 1 limão e algumas gotas de molho tabasco.

Para preparar, selecione um pedaço do filé que não tenha nervos ou gordura e passe-o (uma vez) pela máquina de moer – se preferir a carne picada, corte-a em tirinhas - sempre contra o sentido das fibras - e pique tudo bem picadinho. Junte a cebola ralada, a salsa e a cebolinha picadas e misture tudo gentilmente, com uma colher de pau, enquanto acrescenta o azeite, o sal, as pimentas e os demais ingredientes. 

Faça uma “bola” com a carne, coloque-a num prato, achate-a com as mãos até formar uma espécie de “hambúrguer gigante”, faça uma concavidade circular no centro e despeje ali a gema do ovo - crua, mas você pode cozinhá-la, se preferir (veja a ilustração). Sirva gelado, com torradinhas ou batatas chips em volta do prato (há quem acrescente pequenos pepinos em conserva e/ou azeitonas descaroçadas, mas isso fica critério de cada um).

Bom apetite.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS...


A vida é feita de escolhas, escolhas têm consequências e o problema com as consequências é que elas sempre vêm depois. Numa encruzilhada da vida, se escolhermos virar à direita, abdicamos de seguir em frente ou a esquerda, por exemplo. Quando o resultado não é o esperado, somos assombrados pelo bendito “se”. 


O presente nada mais é senão a consequência da somatória das escolhas que fizemos no passado, mas o futuro do pretérito, também chamado pelos gramáticos de condicional, referencia um presente que poderia ter existido se nossas escolhas fossem outras. 


Em 2018, fomos meio que obrigados a apoiar o bolsonarismo boçal para evitar a volta do lulopetismo corrupto, e a consequência foi o calvário que já dura três anos e quatro meses e, pior, pode ser prorrogado por mais quatro anos — ou sabe-se lá por quanto tempo mais; em se tratando de Bolsonaro, a única perspectiva impossível é a de uma gestão competente de pautada pela probidade.

 

Foi também em 2018 que Sergio Moro escolheu abandonar a magistratura em troca de um ministério no futuro governo, edulcorado pela promessa de uma cadeira no STF. Como consequência, o ex-juiz foi privado do Coaf e obrigado a reverter nomeações, enquanto seu projeto anticorrupção era desmontado. Por algum tempo, ele fingiu não ver, tentou relativizar, mas não se sujeitou ao papel de consultor jurídico informal do enrolado clã presidencial e acabou tendo de engolir sapos e beber a água da lagoa. 

 

Moro abandou a canoa que deveria saber ser furada para tentar salvar o prestígio que ainda lhe restava. Mas já era tarde demais. Odiado por Lula e seus abjetos sectários, viu-se tachado de traidor pelos igualmente abjetos baba-ovos do “mito” de fancaria. A indicação para o STF jamais aconteceu. Segundo a narrativa palaciana, o então magistrado vinculara seu embarque no governo à suprema toga, quando na verdade foi Bolsonaro que lhe prometera a dita-cuja como forma de tê-lo a bordo e de cativar o eleitorado avesso à roubalheira lulopetista. 


Passados dois anos da demissão de Moro — ele “não saiu atirando”, apenas relatou um fato que, se não era público, tornou-se notório depois que o então decano do STF retirou o sigilo da gravação da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, o inquérito instaurado para investigar a interferência criminosa de Bolsonaro na PF deu em nada (a exemplo de tantas outras envolvendo o sultão do Bolsonaristão). 


Nesse entretempo, o presidente que, quando candidato, prometeu pegar em lanças contra a corrupção e a velha política do toma-lá-dá-cá, cometeu toda sorte de barbaridades. Flertou incontáveis vezes com o autogolpe. Chamou o presidente do TSE de filho da puta e um ministro do STF de canalha. Tornou-se alvo de mais de 140 pedidos de impeachment e de uma dezena de inquéritos. Quatro de seus cinco filhos são igualmente investigados. Mais recentemente, vieram a lume evidências gritantes de corrupção no MEC. 


Observação: Ontem, a cereja do bolo: sua alteza irreal anistiou o deputado troglodita baba-ovos Daniel Silveira antes mesmo que a condenação transitasse em julgado. Mais uma vez, o sociopata estica a corda. Se será enforcado com ela ou se a pusilanimidade do STF permitir-lhe-á sair impune, com vem acontecendo desde sempre, só o tempo dirá. O pouco tempo que falta até as cada vez mais próximas eleições. Se alguém acha que esse sujeito vai mesmo largar o osso se assim decidir a ospália votante, esse alguém está redondamente enganado.

 

Políticos pegos com manchas de batom na cueca sempre têm alguma desculpa idiota. Lula se disse traído; Dilma, indignada; Bolsonaro afirma não pode saber de tudo — e para evitar que se venha a saber de (mais) alguma coisa que o desabone, decreta sigilo sobre fatos de interesse público. 


Em julho do ano passado, o Planalto impôs um segredo de 100 anos sobre informações dos crachás de acesso em nome dos filhos 02 e 03. Um cumpre na sede do governo federal (diz-se que no “gabinete do ódio”) seu quinto mandato de vereador, quando deveria dar expediente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O outro é deputado federal por São Paulo, mas acompanha o pai em viagens internacionais, frita hambúrguer nas horas vagas e chegou a ser cotado para chefiar a embaixada do Brasil nos EUA.

 

Em janeiro de 2021, o Planalto decretou 100 anos de sigilo cartão de vacinação do mandatário negacionista e antivacina, a pretexto de os dados dizerem respeito "à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem do presidente”. Em junho de 2021, mandou o Exército impor sigilo de 100 anos ao processo interno isentou de punição o então general da ativa Eduardo Pazuello


Dias atrás, o GSI repetiu a dose em relação às visitas dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos ao Planalto, alegando que “a divulgação poderia colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares”. Pressionado, o gabinete comandado pelo general Augusto Heleno liberou os registros, que apontam mais de 30 acessos. O pastor Arilton visitou gabinetes de Mourão, ministros e do responsável pela agenda de Bolsonaro; o pastor Gilmar esteve pelo menos 10 vezes na sede do governo. Detalhe: ambos voltaram ao Planalto mesmo após pedido de apuração

 

Voltando a Sergio Moro — que deve estar tão arrependido de ter aceitado participar deste espúrio governo quanto Lula de ter feito Dilma sua sucessora —, lulistas, bolsonaristas, magistrados ditos “garantistas” e parte da mídia promoveram a párias o ex-juiz federal e o ex-coordenador do braço paranaense da maior operação anticorrupção da história desta banânia, que colocou na cadeia dezenas de empresário e políticos que se locupletaram nos governos petistas. 


No Brasil, a corrupção é como a Hidra de Lerna — bicharoco mitológico com corpo de dragão, hálito venenoso e nove cabeças de serpente capazes de se regenerar. Tudo ia de vento em popa até que, um belo dia, o semideus togado que manda e desmanda no STF virou a casaca, passando de apoiador a inimigo figadal da Lava-Jato. E o resto é história recente.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

SALTA UM X-BURGER, EMBAIXADOR!



Jair Bolsonaro quer porque quer indicar o filho zero três para o cargo de embaixador do Brasil nos EUA. A decisão, por inusitada e polêmica — para não dizer estapafúrdia —, vem repercutindo na mídia e nas redes sociais.

Sem fazer aqui qualquer julgamento de valor, relembro que Eduardo Bolsonaro, ao defender sua nomeação, disse ser qualificado para o cargo porque fala inglês e espanhol, é amigo da família presidencial norte-americana e, dentre outros méritos, fritou hambúrgueres no estado do Maine.

Até onde se sabe, experiência como chapeiro de lanchonete não faz parte dos requisitos exigidos de um candidato a embaixador, mas o detalhe é que a rede de fast-food Popeyes, na qual ele diz ter trabalhado, não serve hambúrgueres, e sim frango frito.

Pelo visto, grelhar discos de carne virou item importante no currículo de aspirantes ao cargo de embaixador brasileiro no Distrito de Columbia. Melhor ainda se o dito-cujo tiver realizado essa intrincada tarefa sob o frio do Maine — estado americano que faz divisa com o gelado Canadá.

Se a moda pega, Flávio Bolsonaro — que não só ostenta no currículo incomparável habilidade em fazer investigação virar pizza, como é um dos poucos pizzaiolos habilitados a preparar a incomum pizza de laranja — pode pleitear o cargo de embaixador do Brasil na Itália, e zero dois... bem, ainda não se sabe qual embaixada o garoto pretende chamar de sua, mas fontes do Planalto afirmam que o pitbull palaciano apresentará sua reivindicação assim que aprender a escrever em português no Twitter

Bolsonaro diz que zero três tem faro para negócios, que sabe defender os interesses do Brasil, que será seus olhos e os ouvidos no EUA e que sua nomeação está longe de ferir a lei do nepotismo — acredite quem quiser. A propósito, Ricardo Noblat lembra que Bolsonaro não seria Bolsonaro se não falasse pelos cotovelos e não dissesse muitas idiotices. Na última sexta-feira, ele usou seu programa semanal no Facebook para voltar ao assunto pela terceira vez — na quinta, foram quatro vezes — e, deixando de lado o que antes repetia para assombrar o mais devotado dos seus devotos, deu as seguintes declarações:

“Lógico, que é filho meu, eu pretendo beneficiar filho meu, sim. Pretendo, se puder, dar filé mignon, eu dou, mas não tem nada a ver com filé mignon, nada a ver, é realmente, nós aprofundarmos um relacionamento com um país que é a maior potência econômica e militar do mundo”.

“Se eu quiser hoje, eu não vou fazer isso jamais, chamo o Ernesto Araújo [Ministro das Relações Exteriores] e falo: O Ernesto vai para Washington, que eu vou botar o Eduardo no Ministério da Relações Exteriores”.

O presidente da República confessa que quer beneficiar um dos seus filhos designando-o para o cargo mais importante da diplomacia brasileira. Podendo dar filé mignon ao filho, por que não daria? O raciocínio é tão primário, tão rudimentar e tão antirrepublicano quanto seu autor. Se a lei do nepotismo permitisse a nomeação de Eduardo, a confissão do seu pai deveria bastar para barrá-la de uma vez. Fosse este país naturalmente sério.

Em seus quase trinta anos como deputado, Bolsonaro pôs a família acima de tudo, empregando parentes em gabinetes, elegendo os filhos vereador, deputado e senador. Essa história de Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, é slogan de campanha para tocar a alma dos eleitores. A dos evangélicos foi tocada pelo batismo do capitão nas águas do Rio Jordão, e a facada em Juiz de Fora se encarregou do resto. Mas a autenticidade do capitão, antes louvada pela massa de indignados que resolveram virar o país de ponta-cabeça, acabará mais dia, menos dia, se voltando contra ele.

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Uma das tarefas mais difíceis desta vida, por alguma razão ainda não explicada pela ciência, é aprender uma de suas regras mais fáceis. A regra é a seguinte: certas coisas não se fazem. Não têm nada a ver com o fato de serem permitidas ou não por lei. Também podem não ser, em si mesmas, boas ou más, certas ou erradas. São, apenas, coisas que não se fazem. Por quê? Porque não se fazem, só por isso — não por uma pessoa dotada de coeficientes médios de decência, consideração pelos outros e boa educação. E quais são elas? Aí, se você não sabe, temos um problema. Ou se aprende isso antes dos 10 anos de idade, ou não se aprende nunca.

A língua inglesa tem uma expressão admirável a esse respeito: “It’s not done”. Na tradução mais direta quer dizer: “Não se faz” — e há todo um universo moral contido nesse “não se faz”. É o que divide, no fundo, a qualidade interior dos seres humanos. Quem sabe naturalmente o que não se deve fazer, sem ter de perguntar a cada meia hora se deve agir assim ou assado, está no lado do bem. Quem não sabe, está no lado escuro da força.

Uma das coisas mais evidentes no bloco daquilo que “não se faz” é nomear seu filho como embaixador do Brasil nos Estados Unidos — se você, justamente, é o presidente do Brasil. Quem, com um mínimo de bom-senso, pode ter alguma dúvida a respeito de uma coisa dessas? Tanto faz se ele vai, no fim das contas, ser embaixador ou não: um homem público, seja qual for o seu cargo no governo, não pode nomear parentes para outro cargo público, qualquer cargo público. Se for o presidente da República, então, aí é que não pode mesmo — principalmente se vai ter de fazer isso na frente de todo mundo. Uma coisa, muito bacana, é promover os valores da família. Outra, muito diferente e muito ruim, é promover os membros de sua família a empregos cinco-estrelas dentro do governo. Quer dizer que o filho do presidente, só por ser filho do presidente, não pode ser embaixador nos Estados Unidos? Sim, quer dizer isso mesmo: não pode.

Pois é, a vida é assim — e ainda bem que é assim. Presidentes da República, mais que quaisquer outros servidores da população, têm de pagar um pedágio alto para ocupar o seu cargo, e ninguém precisa ficar com dó, pois eles estão lá porque quiseram muito estar; não foram obrigados.

A decisão do presidente Bolsonaro de indicar seu filho Eduardo para a embaixada brasileira em Washington é um desastre com perda total. A soma das qualificações que Eduardo tem para o cargo não chega a zero. Mas mesmo que ele fosse o melhor embaixador possível de ter hoje nos Estados Unidos, um novo Barão do Rio Branco, isso não mudaria nada, porque filho não pode ser nomeado — e pronto. Bolsonaro, nesse caso, teria de mandar para lá o segundo melhor, e tocar a bola para a frente. Paciência.

Não vale, também, o argumento de que os diplomatas brasileiros detestam Bolsonaro, e que o Brasil se prejudica com isso. É verdade. Em geral eles já têm vergonha de ser brasileiros; com Bolsonaro na Presidência, então, passaram a ter pavor de representar um governo “fascista”. E daí? Eles vão continuar exatamente assim; isso não se resolve nem se você nomear Deus Padre em pessoa para Washington.

Ninguém se lembra quem foram os embaixadores brasileiros nos Estados Unidos nos últimos anos, diz o presidente. De fato: daria para encher um museu de nulidades com o pessoal que tem passado por lá. Mas a saída, então, seria nomear mais uma nulidade? É certo, também, que Bolsonaro não é defendido pela diplomacia brasileira das acusações de ser um ditador, um homofóbico e um racista. Mas os fatos estão a seu favor. Ditadores não aprovam projetos com 74% dos votos da Câmara dos Deputados, como acaba de ocorrer na reforma da Previdência. Não há, em seis meses de seu governo, uma única decisão contra homossexuais. Não há um episódio sequer de racismo. É nisso que o presidente tem de investir — nos fatos, e não em Eduardo. Em vez de reclamar, e nomear o filho para ser embaixador, ele terá de continuar demonstrando, pelos seus atos, que não é ditador, homofóbico nem racista. Ponto-final.

Pessoas que muito erraram na vida têm um sonho tão precioso quanto impossível: voltar ao passado, por uns modestos instantes, só para não fazer os erros que fizeram. O arrependimento, como se sabe, deveria vir antes do pecado; a vida seria outra se fosse assim. Infelizmente, as consequências só vêm depois — e aí já não adianta nada. Bolsonaro, nessa história, tem a chance de se arrepender antes de pecar. Deveria aproveitar, correndo.

Com J.R. Guzzo.

Sabatina do Bolsokid Eduardo no Senado Federal segundo o blog Opinião sem Medo

— Deputado, o senhor sabe falar inglês?
— Moroless. Mas nunca passei fome nos EUA. Sempre me virei.
— Deputado, o senhor conhece a fundo a cultura americana?
— Claro! Sei de cor a receita do Big Mac: Dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim.
— Deputado, o que o senhor  sabe sobre a economia dos Estados Unidos?
— Sei que o Walmart é muito barato. Ah! a Dollar Three também.
— Deputado, como será seu relacionamento com Washington?
— Bem, por enquanto só conheço o Trump, mas tenho certeza que iremos nos dar muito bem.
— E o sistema jurídico de lá, o senhor está por dentro?
— Um pouco. Sei que o Foro de São Paulo e o Foro Privilegiado não existem nos States.
— Deputado, o que o senhor pensa em fazer para melhorar o comércio entre Brasil e Estados Unidos?
— Aumentar imediatamente a cota de compras no exterior. Quinhentos dólares é muito pouco.
— Deputado, o que acha da posição americana sobre o clima?
— Onde morei, no Colorado, faz bastante frio, e me parece que os americanos não são favoráveis a nenhuma mudança.
— Deputado, o senhor prevê dificuldades no novo cargo?
— De jeito nenhum. Já fritei hambúrguer, viajei o mundo quase todo… me viro muito bem.
— Olavo de Carvalho terá algum cargo na embaixada?
— Claro. Será relações públicas. Ele é muito sociável.
— Como o senhor irá tratar a questão comercial com os produtores de laranja da Flórida?
— Aí não é comigo. É com meu irmão Flávio e seu assessor Queiroz.
— Deputado, se o senhor não fosse filho do presidente, acha que poderia ser escolhido?
— Sim. Sou um expert em EUA. Fiz intercâmbio lá. Até sei fazer “arminha”, com os dedos, em inglês.
— Se o presidiário Lula, quando presidente, houvesse indicado o Lulinha, qual seria sua reação?
— Contrária, é claro!
— Por quê?
— Ora, porque… porque… porque… Vou perguntar pro Olavo e depois eu respondo, talquei?
— Deputado, o senhor terá uma boa interlocução com o Presidente Trump?
— A melhor! Meu irmão Carlos irá comigo. Ele e Trump são amigos no Twitter e no Facebook.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

FOI-SE O CARNAVAL, E COM ELE SEU SMARTPHONE?


EU JAMAIS ME ASSOCIARIA A UM CLUBE QUE ME ACEITASSE COMO SÓCIO.

Tecnicamente, o carnaval terminou ontem. Na prática, porém, dependendo da cidade onde se está e de com quem se fala, a esbórnia começou muito antes da última sexta-feira e — como algumas ressacas-mãe — termina somente daqui a alguns dias (ou semanas). Coisas do Brasil, onde, dizem, o ano começa de fato depois do carnaval, talvez porque só então o Rei Momopersonagem da mitologia grega que originalmente representava a ironia e o sarcasmo, mas que foi adaptado pelos foliões e transformado num dos principais símbolos do carnaval — devolve a coroa e o cetro para o Bozo de plantão, digo, para sua excelência o presidente da República da vez.

Para os católicos, a quarta-feira de cinzas marca o início da quaresma — ou seja, os 40 dias que antecedem a Páscoa. Repare que tanto o carnaval quanto a Páscoa sempre caem no mesmo dia da semana, mas não no mesmo dia do mês (às vezes, nem no mesmo mês, já que em alguns anos o Rei Momo só dá as caras em março).

Essa variação ocorre porque a Igreja Católica define primeiro o domingo de Páscoa — que é a data em que se comemora a ressurreição de Cristo — e a partir daí conta retroativamente sete domingos para chegar ao domingo de carnaval, embora os calendários registrem a terça-feira como sendo o data da festa, ou do ápice da festa.

Voltando à quarta-feira de cinzas, é nessa data que se celebra a tradicional missa das cinzas, uma tradição seguida religiosamente (sem trocadilho) até meados do século passado, mas que hoje só é observada pelas indefectíveis beatas e por uns poucos católicos “mais ortodoxos”, digamos assim. Pelo menos nos grandes centros urbanos; nos vilarejos no meio do nada a história pode ser diferente, mas isso é outra conversa.

No ritual em questão, as cinzas resultantes da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior são misturadas com água benta e, de acordo com a tradição, usadas pelo padre ou celebrante para “desenhar” uma cruz na fronte de cada fiel (ao mesmo tempo que murmura algo como “lembra-te que és pó e que ao pó voltarás” ou “convertei-vos e crede no Evangelho”.

A Igreja Católica incentiva os fiéis a refletir sobre o dever da conversão, da mudança, recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte. Recomenda também jejuar ou, pelo menos, não comer carne na quarta-feira de cinzas (não me pergunte se hambúrguer vegano está liberado). Segundo o Papa, os cardeais, os bispos, enfim, os batinas em geral, se Jesus morreu na cruz para salvar os fiéis, estes podem muito bem se abster de algo que gostam de comer — no caso, a carne. Também não me pergunte como fica esse “sacrifício” quando o fiel é vegetariano, vegano, frugívoro, crudívoro, e por aí segue a procissão (metaforicamente falando, é claro).


Concluído este preâmbulo recheado de cultura inútil, resta dizer que o carnaval é a época em que as pessoas mais esquecem objetos em táxis ou veículos vinculados a prestadoras de serviços de transporte por aplicativo, como a UBER e companhia.

É também nessa época — devido às inevitáveis aglomerações e ao hábito dos sem-noção de fazer ou atender ligações e, principalmente, tirar selfies com seus aparelhos sem adotar as devidas precauções — que a incidência de furtos e roubos de smartphones aumenta assustadoramente. Quem teve o desprazer de assistir aos telejornais durante nos últimos deve ter visto cenas dando conta da audácia da bandidagem em ações isoladas ou “arrastões”, bem como reparado na facilidade com que a mídia filma essas ocorrências e a dificuldade que a polícia tem de prender os responsáveis e restituir a seus legítimos donos os bens que lhes foram subtraídos — que vão de smartphones a tênis de grife, passando por dinheiro, documentos, relógios e adornos como pulseiras, correntinhas, enfim, tudo que possa despertar a atenção dos amigos do alheio, que possa ser convertido facilmente em moeda sonante ou ser trocado in natura por pedras de crack e outras drogas, para a infelicidade dos incautos e de quem é forçado a atravessar regiões da cidade onde agem tanto os trombadinhas de sempre quanto alguns “moradores em situação de rua” (como a polícia do politicamente correto exige que a gente se refira ao povo da cracolândia e distinta companhia), que não medem consequências quando se trata de conseguir drogas.

Seguros para smartphones não são exatamente uma novidade, mas algumas empresas vêm oferecendo modalidades mais flexíveis, com cobertura por prazos curtos — um mês, por exemplo —, além de dispensarem multa em caso de rescisão antecipada do contrato, não estipularem carência nem franquia para o reembolso e não criarem empecilhos na hora de indenizar vítimas de furtos simples (prejuízo que a esmagadora maioria das seguradoras não costuma cobrir).

A PIER, por exemplo, deixa a cargo do cliente a escolha da cobertura desejada — que varia de 80 % a 100% do valor do dispositivo usado — e aceita aparelhos sem nota fiscal. Se comparado aos seguros tradicionais, o processo é menos burocrático, pois permite contratar ou cancelar o serviço pelo próprio aplicativo. E no caso de o contratante ser roubado ou furtado, o processo de recebimento é simples: basta apresentar o boletim de ocorrência, bloquear o IMEI do celular na Anatel e ter o aplicativo da PIER instalado no aparelho. Além disso, o reembolso costuma ser feito num prazo bem menor que o limite estabelecido pela SUSEP.

Observação: Da mesma forma que as pessoas possuem seu número de CPF, cada celular é identificado individualmente pelo IMEI, que vem impresso tanto na carcaça do aparelho (nos modelos em que a bateria é removível ele costuma ficar sob a dita-cuja) quanto na embalagem original, além de constar obrigatoriamente da nota fiscal de compra. Mas você pode visualizá-lo no display do próprio telefone, bastando para isso digitar o comando *#06#.

Enfim, a PIER funciona como uma comunidade onde só entra quem é convidado. Uma vez aprovado, o segurado paga mensalidades a partir de R$ 6,50 para ter a cobertura.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (QUINTA PARTE)

 

Jair Bolsonaro iniciou sua carreira militar em 1973 e encerrou-a em 1988, já com a patente de capitão  mas só foi diplomado às vésperas de vestir a faixa presidencial, e graças a uma portaria publicada dois dias depois da eleição. Em 1986, ele cumpriu 15 dias de prisão disciplinar por ter publicado um artigo de opinião em Veja; no ano seguinte, a mesma revista revelou que ele e o capitão Fábio Passos da Silva planejavam explodir bombas em quartéis se o reajuste do soldo fosse inferior a 60%. Uma comissão do Exército decidiu pela expulsão do insurretos, mas o STM os absolveu. Passos se aposentou com a patente de coronel, mas Bolsonaro trocou a carreia militar pela política. 

No mesmo ano em que deixou a caserna, o futuro mito dos descerebrados se filiou ao PDC (o primeiro dos 9 partidos que o abrigaram nos últimos 35 anos), amoldou o discurso às demandas da soldadesca e conquistou uma cadeira na Câmara Municipal carioca, onde se disse "espantado" com o tanto de funcionários fantasmas que havia na Casa. Dois anos depois, já deputado federal, pôs em movimento seu trem da alegria, começando por nomear o pai da primeira esposa, Rogéria Nantes Braga, mãe de 0102 e 03. Como o sogro continuou morando no interior do Rio, o muito que fez como assessor parlamentar do genro foi distribuir "santinhos" durante as campanhas eleitorais.

ObservaçãoO ex-capitão empregou familiares das ex-esposas em seu gabinete e nos gabinetes dos filhos Carlos  eleito vereador em 2000 e reeleito outras 5 vezes  e Flávio — eleito deputado estadual em 2002, 2006, 2010 e 2014 e promovido a Senador em 2018.
 
No baixo clero da Câmara Federal, Bolsonaro defendeu o fechamento do Congresso e a volta dos militares ao poder. Disse não acreditar em solução para o Brasil por meio do voto popular, e que mais gente deveria ter sido morta pela ditadura (incluindo o então presidente Fernando Henrique). Em abril de 2016, emendou seu voto pelo impeachment de Dilma com uma patética homenagem o coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Mas a punição mais severa que recebeu ao longo de
 sua improfícua trajetória política (abrilhantada pela aprovação de 2 míseros projetos e dois míseros quatro votos na disputa pela presidência da Câmara) foi uma réles advertência. 

O primeiro casamento de Bolsonaro terminou em 1997, quando sua mulher, então então vereadora carioca, deixou de consultá-lo na hora de votar questões polêmicas: "Eu a elegi. Ela tinha que seguir minhas ideias". Outra versão sustenta que ambos estavam insatisfeito com as infidelidades de cada um. Rogéria concorreu a um terceiro mandato em 2000, mas o ex-marido lançou a candidatura do filho Carlos, então com 17 anos, que sepultou a carreira política da mãe ao se tornar o vereador mais jovem da história política do Rio de Janeiro.  
 
Eduardo Bolsonaro — o fritador de hambúrguer que quase virou embaixador — conquistou uma cadeira na Alesp em 2014, renovou o mandato em 2018 e 2022 e é investigado pela CPMI das Fake News. À exceção da menina Laura — fruto da união com Michelle — todos os filhos do capitão estão na mira da Justiça, incluindo Jair Renando casamento com Ana Cristina Valle, que (ainda) não tem cargo eletivo. Afora a novela 01 e as rachadinhas, a PF e o MP apuram suspeitas que vão de tráfico de influência e contratação de funcionários fantasmas a envolvimento na organização de manifestações em prol do fechamento do Congresso e do STF.
 
No livro "O Negócio do Jair",
 Juliana Dal Piva esmiúça o esquema usado pelo clã Bolsonaro para comprar mais de 100 imóveis, acumular milhões de reais e construir um projeto político iniciado com o emprego de parentes e coordenado pela segunda esposa. A Jornalista trata ainda das relações da família com Adriano da Nóbrega, o ex-capitão do Bope que viou chefe da milícia de Rio das Pedras e do Escritório do Crime — grupo suspeito de assassinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista em março de 2018 — e acabou executado em 2020 por policiais militares baianos e fluminenses. 

Observação: Quando foi avisado da denúncia protocolada no TJ-RJ contra Flávio Bolsonaro, o então presidente moveu montanhas retardar o andamento do caso (que ficou paralisado por 811 dias). Zero Um era acusado de desviar R$ 6,1 milhões dos cofres públicos fluminenses — dinheiro que Fabrício Queiroz usava para pagar despesas pessoais do então deputado, comprar imóveis e "lavar" o que sobrava através de uma franquia da KopenhagenDe 1990 até 2022 (ano da publicação do livro), Jair et caterva negociaram 107 imóveis e pagaram 51 deles em dinheiro vivo. As compras registradas nos cartórios como pagas "em moeda corrente nacional" totalizaram R$ 25,6 milhões; Piva não conseguiu descobrir como foram pagos 26 imóveis, mas as transações por meio de cheque ou transferência bancária somaram R$ 17,9 milhões (em valores corrigidos pelo IPCA para agosto de 2022). 
 
Em 2022, a jornalista Amanda Klein confrontou Bolsonaro com um levantamento patrimonial realizado pelo UOL, relembrou as rachadinhas nos gabinetes dele e dos filhos e os 20 imóveis que Flávio negociou nos últimos 16 anos (entre os quais uma mansão de R$ 6 milhões). Curto e grosso (mais grosso do que curto, na verdade), o então candidato à reeleição qualificou as acusações de "levianas", disse que não sabia da vida econômica de suas ex-mulheres e que os imóveis foram comprados na planta "por uma micharia por mês" e revendidos com lucro logo depois. 

Numa série de reportagens sobre a evolução patrimonial do capetão, a Folha anotou que, enquanto deputado, Bolsonaro recebeu "auxílio-moradia", embora tivesse um apartamento em Brasília, e que mantinha entre seus assessores-fantasmas uma certa Wal do Açaí́, que morava e trabalhava em Angra dos Reis (RJ). Como os frutos não caem longe do pé, Wal não era a única assessora em situação irregular, já que os filhos emularam o modus operandi do pai, empregando parentes da mãe e da ex-madrasta e outros agregados.
 
Investigar presidentes da República no exercício do cargo é prerrogativa exclusiva da PGRAugusta Aras, que foi um exemplo de antiprocurador, fechou os olhos e os ouvidos para as atrocidades cometidas pelo pior mandatário desta banânia desde Tomé de Souza. Ignorar as evidências que conectam um formidável esquema de corrupção aos três casamentos de Bolsonaro, a seus filhos, a dezenas de parentes, ao patrimônio da família e à proximidade do clã com Queiroz, Adriano e outros pulhas é a prova provada de que a Justiça tupiniquim, além de cega, abriga em suas fileiras gente burra, pusilânime e venal. Nada muito diferente do que se vê no Congresso Nacional. 
 
Triste Brasil. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A VERTIGEM DA DEMOCRACIA


Engana-se quem pensa que a democracia nasceu na Grécia, foi refinada em Roma, desapareceu na Idade Média, reemergiu na Itália renascentista e foi reinventada pelos "pais fundadores" dos Estados Unidos. Formas de "democracia primordial" remontam a priscas eras, em variadas regiões e diversas civilizações, e sempre pelo mesmo motivo: Quem governa precisa de ajuda para governar.

Isso foi válido na Atenas do século 5 a.C., nas 13 colônias americanas do século 18 e nos países europeus durante e depois da Primeira Guerra Mundial. Mesmo o voto feminino se explica por um estado de necessidade: se os homens lutavam no front, era preciso que as mulheres ocupassem os postos de trabalho para salvar a economia. E essa emancipação econômica levou à emancipação política.

Claro que muitas civilizações optaram pela via autocrática, onde o poder central não precisava do consentimento dos súditos para nada. Com aparelhos burocráticos e repressivos mais avançados, era possível governar sem perder tempo com consultas ou negociações.

Na democracia moderna, a consulta e a deliberação diretas foram substituídas pela representação política, até por motivos de extensão geográfica: votamos, elegemos os nossos representantes e são eles que decidem em nosso nome. E se hoje sentimos que a democracia está em crise, isso se explica, por um lado, pela participação política mais ampla do que na democracia primordial; por outro, por essa participação ser também mais episódica e pouco convincente.

Sentimos que o poder está mais distante e, pior, mais poderoso — como se o líder, agora auxiliado pela mais avançada burocracia e tecnologia, já não precisasse de nós para nada. Exatamente como se fosse um autocrata. Isso gera desconfiança e ressentimento, a mistura explosiva que o populismo explora — curiosamente, o combustível do populismo político é real, e não ilusório, mesmo que as soluções populistas sejam ilusórias, e não reais.

Aos olhos da população, a democracia está doente. Em meados da década de 1990, a maioria estava contente com “a pior forma de governo, com exceção de todas as outras”, na imortal frase de Churchill. Hoje, salta aos olhos a insatisfação crescente que reina nos EUA e o clima semissuicidário que asfixia o Brasil.

Três em cada quatro latino-americanos mostram um entusiasmo cadavérico pela democracia, e o Brasil serve de garoto-propaganda. As causas são conhecidas: corrupção, crime e desigualdade não fazem bons democratas.

Não há mais governo em nosso país. Estamos acéfalos. Enquanto Bolsonaro não governa, sendo apenas um obstáculo ao pouco que a burocracia de Brasília ainda tenta fazer, o Congresso está paralisado pelo apego dos atuais presidentes das casas ao poder.

Nosso parlamento é dominado pela disputa entre o ruim, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, e o pior, Arthur Lira e Renan Calheiros. No STF, ficamos reféns da escancarada proteção que alguns ministros, inclusive o indicado por Bolsonaro, dão à classe política e ao sistema corrupto que a sustenta. Nada fazemos de relevante para superar a pior crise dos últimos cem anos e vemos velhos inimigos, como a inflação, voltarem a preocupar. Enfim, caminhamos como cegos à beira do abismo, enquanto alguns loucos nos gritam para seguir em frente.

Na verdade, o governo Bolsonaro arrasta-se há dois anos. Nesse período, tanto o presidente como os líderes do Parlamento só foram eficientes em duas ações: a primeira foi a aprovação a toque de caixa da reforma da Previdência; a segunda, que teve o apoio dos nomes de sempre do STF, foi a destruição da Lava-Jato e do combate à corrupção no país. De resto, nenhuma política real ou proativa, apenas o caminhar de bêbado empurrado pelos ventos das circunstâncias. O resultado, assim, só poderia ser sofrível ou criminoso, como é a condução da saúde pública nesta época de pandemia ou o domínio político do governo pela cleptocracia do Centrão.

Em meio ao caos e ao descaso, tentamos sobreviver apesar de Bolsonaro. Um exemplo dessa “Babel” que se tornou o atual governo federal são os milhões de testes PCR vencidos ou prestes a vencer que serão jogados fora, enquanto a população necessita deles com urgência. Como cerca de 300 milhões de reais podem ser desperdiçados? Como um dos principais instrumentos para o controle da pandemia é esquecido em armazéns do governo justamente por um suposto especialista em logística, o general do Exército e dublê de ministro da Saúde Eduardo Pazuello? Será que a política de Bolsonaro é tão negacionista que deseja simplesmente testar menos para diminuir as estatísticas? Ou será que o desregramento moral do presidente contaminou os escalões técnicos do governo, e o Ministério da Saúde prefere contar os mortos a salvar os vivos?

Caminhamos celeremente para 200 mil mortos. E a política de Bolsonaro tem sido simplesmente a de lavar as mãos. “E daí?” é o resumo do seu governo. E daí quem morreu; afinal eram todos “maricas” e não tinham o “histórico de atleta” do presidente. “O que vocês querem que eu faça?”, como se não estivesse na Presidência da República com a obrigação de fazer alguma coisa de positivo, ou, ao menos, pedir desculpas pelos erros e consolar as vítimas. Prefere mentir, repetir bordões e bancar o Pilatos, como se a população não soubesse, cada vez mais, qual é sua verdadeira natureza: trata-se apenas de um autoritário orgulhoso de sua ignorância, com preguiça de governar e pouca empatia pelo sofrimento alheio, para dizer o mínimo.

Aqueles que estão ao redor do presidente se parecem mais com ele a cada dia. Cada manifestação do ministro da Economia é uma repetição de equívocos, informações erradas e ufanismo inconsequente. Num país que realmente precisa de um Estado menor e mais eficiente, Paulo Guedes não consegue articular qualquer privatização, qualquer política consistente de reformas, seja a tributária, tão necessária, ou a administrativa, inevitável.

O governo gastou o capital político dos dois primeiros anos e agora pretende, sem dinheiro, com a economia no chão, e sem qualquer articulação, implementar reformas? Não bastasse tudo isso, o projeto liberal de Guedes, se é que um dia foi crível, enfrenta sua maior oposição justamente no Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro é um sindicalista de farda e sua ideia de mundo resume-se a um quartel com recrutas lhe engraxando as botas. Ele acredita num estado grande e desorganizado, pois é disso que sua família sobrevive.

A preocupação agora não é só com a repetição em 2021 deste horrível ano de 2020. Quem viveu os anos Sarney e Collor sabe que o poço é bem mais fundo do que a atual geração acredita. Depois da mediocridade dos governos Dilma e Temer, quatro anos sem reformas nos estão levando novamente ao descontrole inflacionário. Quem vai ao supermercado sabe muito bem disso.

Como suportar o reajuste de aluguel em mais de 20% depois do massacre econômico causado pela Covid? As famílias não sabem como será janeiro, se haverá emprego ou será mantido o auxílio emergencial. Só nos falta enfrentar filas para comprar um pedaço de frango, como nos anos 1980.

A inflação dos alimentos, causada pelo preço das commodities e a alta cotação do dólar, desgasta a imagem do setor agropecuário aos olhos da população. Além disso, a política criminosa de Bolsonaro e seu escudeiro Ricardo “Passa a Boiada” Salles em relação ao meio ambiente está contaminando a percepção dos governos e consumidores europeus sobre a importação de produtos agrícolas brasileiros. Com a eleição de Joe Biden, o mesmo vai acontecer em relação aos americanos. Nenhum país realmente importante do Ocidente vai querer comprar de um país que destrói a natureza.

O resultado da política de terra arrasada ambiental de Bolsonaro será nos tornarmos reféns da China. E aqui temos o fechamento fétido da completa idiotização do atual governo. Em vez de uma política pragmática na busca dos interesses nacionais no comércio exterior, acabamos nos alinhando subalternamente a Donald Trump. Não é um alinhamento aos Estados Unidos, mas sim a uma ideologia cultural canhestra representada pelo agora quase ex-presidente americano. Enquanto isso vamos criando incidentes diplomáticos com todo o restante do planeta, especialmente com a China, o único mercado que vai nos restar, quando Eduardo Bolsonaro resolve falar sobre comércio exterior, para além do seu conhecimento empírico do ponto correto do hambúrguer que não fritou na lanchonete que só vendia frango frito.

Assim, orgulhosamente nos tornamos párias internacionais, como deseja o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tendo ainda de ouvir chacotas e ironias de Putin sobre a masculinidade de Jair Bolsonaro. A esperança de mudança não depende desse governo. Nada de bom virá dos Bolsonaro, de Rodrigo Maia, Alcolumbre, Arthur Lira, Renan Calheiros, Toffoli, Gilmar ou Lewandowski. Se dependermos deles, afundaremos como país, permanecendo presos a esse sistema político que só produz bandidos, incompetentes, inconsequentes ou aventureiros.

A esperança vem do exterior, com as novas vacinas e com a eleição de Biden. Quem sabe sem seu paradigma americano nosso presidente passe a ficar tão desacorçoado e desorientado que deixe de atrapalhar as áreas técnicas que ainda restam no governo?

A esperança interna está na vontade da população de voltar a trabalhar e ser feliz em família e com os amigos, o que, graças à resistência da ciência brasileira a tantos anos de descaso e à excelência da Fiocruz e do Instituto Butantan, vai acontecer paulatinamente com a vacinação a partir de janeiro. Enfim, ainda teremos mais dois anos desse desastroso governo, mas chegará o dia de despacharmos essa excrescência da Presidência da República, como fizeram os americanos com a deles.

Ninguém sabe como estarão as democracias ocidentais daqui a 25 anos. E, claro, o Brasil não é comparável à Venezuela. Muito menos os EUA. Mas, se as causas da crise democrática (desigualdade, corrupção, violência, tribalismo etc.) continuarem a ser ignoradas e confundidas com os seus sintomas (lideranças populistas que pipoqueiam por aí), ainda olharemos para Trump, Bolsonaro e tutti quanti como meros aperitivos.

Com Carlos Fernando dos Santos Lima e João Pereira Coutinho/Gazeta do Povo