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domingo, 11 de agosto de 2019

O ATIVISTA QUE VIROU HERÓI, O XERIFE QUE VIROU BANDIDO, O CAPITÃO QUE VIROU PRESIDENTE, O CHAPEIRO QUE VIROU EMBAIXADOR E O FRANGO QUE VIROU HAMBÚRGUER



A prisão dos quatro suspeitos de invadir cerca de mil celulares, entre os quais os de altas autoridades desta Banânia, não altera de maneira substantiva as suspeições sobre as condutas de Sergio Moro e Deltan Dallagnol nem põe em xeque a liberdade de expressão, mas fere gravemente a confiabilidade de novas publicações de conversas decorrentes de invasões.

Diz Dora Kramer que é razão de o editor do site panfletário proselitista The Intercept reagir violentamente contra a ação da PF, chamando de “farsa” as investigações que resultaram na prisão dos hackers em São Paulo. Isso de um lado. De outro, Moro reduziu o efeito do que poderia ser visto como uma vitória dele ao avisar parlamentares e magistrados que haviam sido atingidos e dizer a pelo menos um deles que as conversas seriam destruídas.

Houve providencial recuo em manifestação da PF e em nota do próprio Ministério da Justiça, esclarecendo que o destino das mensagens só pode ser decidido pelo juiz do caso, que Moro escorregou quando agiu ao mesmo tempo como juiz, vítima e chefe das investigações — o que, em tese e no limite, pode resultar numa acusação por obstrução de justiça devido à defesa de destruição de provas. Afora isso, o que esse caso expõe é uma tremenda falta de segurança no tocante à privacidade de autoridades que, muito provavelmente por ignorância digital, não tomaram as devidas precauções no resguardo dos respectivos telefones celulares. E o problema com as consequências é que elas sempre vêm depois.

Mudando de pato pra ganso, a campanha eleitoral de 2018 ensinou que o embate ideológico, principalmente se feito na base do “fascista” para rebater o “comunista”, não é arma eficaz no exercício da oposição a Jair Bolsonaro. Nele, esse tipo de chumbo trocado não dói. Ao contrário, costuma fortalecê-lo junto ao público que o levou à presidência e é ainda diária e intensamente cultivado em gestos, palavras e decisões.

Expressões de repugnância e/ou menosprezo pela figura presidencial servem bem ao desabafo, ao protesto emocional, às demonstrações indignadas que, embora sustentadas em fatos e respaldadas em princípios de civilidade e racionalidade, são apenas demonstrativos. Tendem, inclusive, a servir de armadilha, na medida em que banalizam o protesto e acabam dando sentido de normalidade ao que é realmente exorbitante.

Nos primeiros seis meses de governo, a toada das críticas tem sido a mesma, não obstante Bolsonaro oferecer razões a mancheias para que elas sejam mais bem fundamentadas. A ausência de elaboração argumentativa e o uso de insultos são a praia onde o presidente nada de braçada, imbatível no quesito nível abaixo do aceitável. Já no campo das alegações e justificativas bem colocadas, questionamentos substantivos, premissas e conclusões lógicas, teses, antíteses e sínteses irrefutáveis, ele não sabe nem tem interesse em navegar. Portanto, quando a ideia é contentar seus gestos, palavras e notadamente decisões, a saída eficaz é o recurso a um bom e consistente conteúdo.

Dá trabalho, requer conhecimento, habilidade no trato das palavras e argúcia de raciocínio, mas qualifica e diferencia o antagonista. Foi justamente o que exibiu o diplomata Rubens Barbosa em artigo publicado na edição do dia 23 de julho do ESTADO, ao discorrer sobre seu período (1999-2004) como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Em meio ao ambiente de insultos vãos sobre Bolsonaro de indicar o filho número três para o posto mais importante da diplomacia mundial, sem citar a hipótese da nomeação, Barbosa chama o presidente à compostura, mostrando o que é a função e o que se exige do titular na missão de representar o país em Washington.

Segundo o embaixador, presença e interlocução constante com autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário americanos, empresários, acadêmicos, investidores, representantes de entidades sociais, viagens pelo país em busca de informações e mediação de contatos multilaterais são indispensáveis à “ocupação de espaço de influência a favor do Brasil”. Nenhuma dessas atribuições consta da lista de tarefas que zero três se diz apto a exercer em nome do Brasil, mas abrilhanta seu invejável currículo ter fritado hambúrgueres no estado norte-americano do Maine, 14 anos atrás, numa unidade da rede de fast food Popeyes. Mesmo assim, tudo indica que ele será indicado e que o Senado aprovará essa indicação. 

O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que a rede Popeyes é especializada em frango frito e não tem hambúrguer de carne bovina no menu. Concorrente do KFC, é a segunda maior rede de fast food baseada em frango do mundo; em algumas regiões, há até frutos do mar empanados e fritos, mas o foco é a carne de frango com tempero típico do estada da Louisiana.

Sobre o passado nebuloso de Verdevaldo, o puro, assista a este vídeo:

segunda-feira, 27 de abril de 2020

HOME OFFICE E AFASTAMENTO SOCIAL MAIS TEMPO ONLINE POTENCIALIZA RISCOS DE VÍRUS E CIBERATAQUES (PARTE 7)

BOLO DE CARNE É DESCULPA PRA QUEM QUER COMER UM HAMBÚRGUER GIGANTESCO SEM PÃO.

Uma prática muito comum entre os cibercriminosos é o uso de dispositivos de terceiros para a mineração de criptomoedas. Esse procedimento impacta o desempenho do aparelho, de modo que e é comum os atacantes espalharem programas falsos em vários computadores para realizar essa mineração sem que as vítimas deem conta.

Nesse caso, estão em risco tanto usuários de PCs quanto de smartphones, pois a bandidagem também se vale de dispositivos móveis (à revelia dos donos do aparelhos) que tenham alta capacidade de processamento. A infecção se dá pelos métodos convencionais, como um app falso, um link malicioso em uma mensagem ou em um e-mail, uma página na web que oferece o download, e por aí vai. Uma vez instalado, o malware permanece em execução em segundo plano para minerar criptomoedas. O uso intenso dos recursos de hardware do aparelho pode despertar suspeitas no usuário, não só pela queda de performance, mas também por um aquecimento anormal do telefone e redução significativa da autonomia da bateria.

ObservaçãoPara não cair nesse tipo de golpe, fique esperto com os links que você recebe por e-mail e atente para o tipo de informação está sendo solicitada e se é necessário realizar algum tipo de login. Observe ainda como a mensagem foi redigida, pois as legítimas não devem ser mal escritas nem conter erros de ortografia e gramática, que são muito comuns nas falsas.

Smartphones podem acessar a Web tanto pela rede 3G/4G da operadora quanto via compartilhamento do sinal de um roteador Wi-Fi, que hoje em dia quase todo mundo tem em casa — foi-se o tempo do “computador da família” e da conexão discada, que era disputada a tapa por pai, mãe, filhos, cachorro gato e papagaio, sobretudo nos finais de semana, quando a cobrança do pulso telefônico era diferenciada.

Como os planos de dados mais acessível costuma ser bastante limitados, muita gente recorre ao Wi-Fi não só em casa, mas também em lojas, aeroportos, restaurantes, hipermercados etc. —, o que aumenta expressivamente riscos de invasão e infecção. Lembre-se: comodidade não combina com segurança, e redes abertas são cômodas, mas nada confiáveis. Basta estar no lugar certo na hora certa e contar com os programas certos para "escutar" o tráfego de pessoas conectadas e interceptar dados pessoais, redirecionar a conexão para páginas maliciosa e outras maracutaias, e, sem que a vítima se dê conta, capturar suas senhas e outros dados pessoais.

Portanto, a recomendação é evitar redes públicas, mesmo as protegidas por senha (já que basta pedir os dados de login ao garçom, à recepcionista do médico ou do dentista, digitar e começar a navegar. Para minimizar os riscos, acesse essas redes usando um serviço de VPN (sigla de rede privada virtual, em inglês), que proporciona maior segurança no tráfego de dados, embora acarrete sensível lentidão na navegação. No final das contas, nada é perfeito.

Por último, mas não menos importante: a tão esperada chegada do 5G promete mudar totalmente a forma e a velocidade das redes móveis no Brasil. A nova arquitetura promete ser até 100 vezes mais rápida que o 4G, mas ainda não ficou bem claro o impacto que ela terá na segurança. Além disso, a expansão de acesso à rede móvel — que é um dos principais objetivos do 5G — deve propiciar um aumento considerável na quantidade de dispositivos que a compartilharão, e o crescimento no volume de dados pode ajudar a bandidagem a mascarar ataques.

Continua...

sexta-feira, 20 de maio de 2022

QUER CONHECER O CARÁTER DE UMA PESSOA? DÊ-LHE O PODER! (QUARTA PARTE)



Lula é uma caricatura de si mesmo, uma foto amarelada que insiste em permanecer pendurada na parede do PT, até porque ele e seu espúrio partido são uma coisa só. De acordo com as pesquisas, o ex-presidiário já ganhou (com 171% dos votos) e se prepara alegremente para voltar à cena do crime.

Bolsonaro, que atacou duramente o Centrão durante a campanha e prometeu sepultar a “velha política” do “toma lá, dá cá”, passou por nove partidos, todos do Centrão. Entre 2019 e 2020, tentou criar o Aliança Pelo Brasil, mas não conseguiu reunir o número mínimo de assinaturas e acabou se amancebando com o PL. Na cerimônia de filiação à sigla presidida pelo do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, disse que “estava se sentindo em casa”. Mas vamos por partes, que a desgraça vem de longe.

Bolsonaro iniciou sua trajetória militar em 1973, na Escola de Cadetes de Campinas (SP). No ano seguinte, ingressou na AMAN, onde cumpriu o curso básico de paraquedismo do Exército e foi promovido a aspirante a oficial de artilharia. Em 1986, protestou contra os baixo soldo dos militares num artigo publicado pela revista Veja, que lhe rendeu 15 dias na prisão. Em 1987, Veja denunciou seu plano de explodir bombas em instalações militares como forma de pressionar o comando por melhores salários e condições. Ele e seu comparsa, o também capitão Fábio Passos da Silva, foram condenados por unanimidade. O STM os absolveu por 9 votos a 4, mas suas carreiras militares acabaram ali. 

Desfardado e travestido de defensor dos interesses corporativistas dos fardados, Bolsonaro conquistou uma cadeira na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Dois anos depois, elegeu-se deputado federal. Ao longo de 7 mandatos, aprovou 2 projetos e colecionou mais de 30 processos. Em 2018, graças a uma improvável conjunção de fatores, foi despachado para o Palácio do Planalto, onde permanece até hoje graças à leniência do Legislativo e do Judiciário.

Para se escudar de mais de 140 pedidos de impeachment — um recorde, considerando o escore de seus predecessores (Collor, 29; Itamar, 4, FHC, 24; Lula, 37; Dilma, 68; e Temer, 31) —, o ex-capitão usou o "orçamento secreto" para ter um cúmplice na presidência da Câmara; para se imunizar contra investigações por crimes comuns, nomeou esbirro procurador-geral (ao arrepio da lista tríplice do MPF) e o mantém na rédea curta mediante a promessa de guindá-lo ao STF.

Observação: Em 1993, o ex-presidente-general Ernesto Geisel se referiu ao então capitão como “um caso completamente fora do normal, inclusive mau militar”. A quem interessar possa, a carreira militar do “mito” é narrada em detalhes no livro “O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel” (Todavia), publicado em 2019 pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho.

A carreira política se confunde com a vida pessoal do mau militar e parlamentar medíocre. Sua primeira esposa, Rogéria Bolsonaro, foi eleita vereadora no Rio de Janeiro em 1996. Em 2000, durante a separação do casal, ela concorreu à reeleição e foi derrotada pelo filho 02 — que se tornou o vereador eleito mais jovem da História do país. 

Os filhos 01 e 03 também seguiram os passos do pai na política: Flávio, o devoto das rachadinhas foi eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2002 (e reeleito três vezes antes de conquistar uma vaga Senado Federal). Eduardo, o fritador de hambúrguer que quase virou embaixador, foi eleito deputado estadual por São Paulo em 2014 e reeleito em 2018. 

Observação: Afora o célebre caso de Zero Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério Público apuram suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro por tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de manifestações que pediram o fechamento de instituições como o Congresso e o Supremo. Tutti buona gente!


Abro um parêntese para dizer que a decisão do TJ-RJ que fez de 01 o mais novo "inocente entre aspas" (mais detalhes na próxima postagem) foi "mais do que justa", sobretudo num país democrático onde uma decisão estrambótica chancelada em supremo plenário por 8 votos a 3 transformou um ex-presidente presidiário em "ex-corrupto" e apto a voltar à cena do crime. 

Isso me faz lembrar de uma anedota dos tempos da ditadura, segundo a qual o general-presidente da vez, em visita oficial à Bolívia, mal disfarçou o riso quando lhe foi apresentado o ministro da Marinha do país vizinho... e foi prontamente lembrado de que seu colega boliviano não riu quando, em vista ao Brasil, lhe foi apresentado o ministro da Justiça tupiniquim.

Continua... 

sexta-feira, 28 de março de 2025

A SEGUIR, CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS

A MONARQUIA DEGENERA EM TIRANIA, A ARISTOCRACIA, EM OLIGARQUIA, E A DEMOCRACIA, EM ANARQUIA.

 

A péssima governança do Brasil no período pós-ditadura militar — não que as coisas fossem melhores antes do golpe de 64 — deve-se principalmente ao tipo de gente que o Criador, acusado de nepotismo e protecionismo, escalou para povoar o futuro país do futuro que nunca chega. 


Em Ensaio sobre a cegueira, o Nobel de Literatura José Saramago anotou que "a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito". E com efeito: algumas pessoas não enxergam o óbvio nem que ele lhes morda a bunda, e outras parecem viver no mundo da Lua. 


No universo paralelo onde vivem Lula, Alckmin e Gleisi, o culpado pela inflação dos alimentos é um ladrão de ovos imaginário, e a solução é a população "não comprar produtos quando desconfiar que eles estão caros". Mais brilhante que essa ideia, só mesmo o Plano Cruzado, que Sarney pôs em marcha em fevereiro de 1986, acreditando que fosse possível zerar a hiperinflação por decreto.


Recém-promovida a ministra-chefe da Secretaria das Relações Institucionais, Gleisi acusou o "mercado especulativo" de conspirar contra o Brasil". Alckmin — que em passado recente comparou a reeleição de Lula à "recondução do criminoso à cena do crime” — assumiu a patética liderança do “cordão dos puxa-sacos" do chefe. Dias atrás, após dizer que luta sindical deu ao Brasil seu maior líder popular, o vice-presidente bradou: "Viva Lula, viva os trabalhadores do Brasil!"


Talvez uma troca de ideias com o Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry tenha revelado ao ex-tucano que, para baixar a inflação, bastaria retirar da conta o que está caro. Assim, com um simples estalar de dedos, o dinheiro do trabalhador, que hoje não dá para nada, continuaria não dando para nada. Mas o mais espantoso é que nenhum economista desvairado tenha pensado nisso antes. 


Lula é uma caricatura de si mesmo, uma foto amarelada que permanece pendurada na parede do PT porque ele e o PT são uma coisa só. Tirado da cadeia e reabilitado politicamente para impedir que o verdugo do Planalto de continuasse no comando da Nau dos Insensatos, o "descondenado" conquistou seu terceiro mandato graças a um eleitorado que insiste em fazer a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade. 


Sem plano de governo, política de Estado ou metas para o país, Lula 3 se resume a um punhado de medidas paliativas, populistas e eleitoreiras que visam pavimentar a reeleição que, durante a campanha de 2022, ele prometeu que não iria disputar.

 

Bolsonaro iniciou sua trajetória militar em 1973. Treze anos depois, um artigo publicado pela revista Veja lhe rendeu 15 dias de prisão. No ano seguinte, depois que Veja revelou seu plano de explodir bombas em instalações militares como forma de pressionar o comando por melhores salários e condições, ele e seu comparsa foram condenados por unanimidade, mas o STM os absolveu por 9 votos a 4 (a quem interessar possa, a carreira militar do “mito” é detalhada no livro O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel, do jornalista Luiz Maklouf Carvalho).

Depois de deixar a caserna pela porta lateral, Bolsonaro foi eleito vereador e sete vezes deputado federal. Ao longo de sua obscura trajetória política, passou por nove partidos (todos do Centrão) e acabou no PL do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, onde disse “estar se sentindo em casa”. 


Cavalgando o antipetismo e prometendo sepultar a "velha política do toma lá, dá cá", o mix de mau militar e parlamentar medíocre conquistou a Presidência porque a alternativa era o bonifrate do então presidiário mais famoso desta banânia. Mas a emenda saiu pior que o soneto. Para se escudar de mais de 140 pedidos de impeachment — um recorde, considerando que Collor foi alvo de 29; Itamar, de 4, FHC, de 24; Lula, de 37; Dilma, de 68; e Temer, de 31 —, ele implementou o "orçamento secreto", que lhe assegurou a conivência de dois presidentes da Câmara (Rodrigo Maia e Arthur Lira); para se imunizar contra investigações por crimes comuns, entregou o comando da PGR ao antiprocurador Augusto Aras, que manteve sob rédea curta com a promessa (jamais cumprida) de indicá-lo para uma poltrona no STF.


Como a fruta não cai muito longo do pé, os filhos seguiram os passos do pai na política: 01, o devoto das rachadinhas, se elegeu deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2002 e foi reeleito três vezes antes de conquistar uma cadeira de senador; 02, o pitbull da Famiglia, se elegeu vereador pelo Rio de Janeiro em 2020 e continua abrilhantando a Câmara Municipal carioca; 03, o fritador de hambúrguer que quase virou embaixador e hoje conspira contra o STF homiziado na cueca de Donald Trump, se elegeu deputado estadual por São Paulo em 2014 e foi reeleito nos dois pleitos seguintes; 04, o caçula entre dos varões, foi o vereador mais votado em Balneário Camboriú (SC) em 2024.


Vários bolsonaristas de primeira hora que abandonaram o barco — como Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Gustavo Bebianno, General Santos Cruz e Sergio Moro — foram prontamente rifados, atacados e tratados como comunistas, antipatriotas e traidores por milhões de convertidos que, acometidos de cegueira mental, rezam pela cartilha do Messias que não miracula e acreditam piamente que "Xandão" persegue injustamente um ex-presidente de vitrine, talvez o melhor mandatário desde Tomé de Souza.

 

Argumentar com esse tipo de gente é tão inútil quanto dar remédio a um defunto, mas o mundo é a melhor escola e a vida, a melhor professora. Que o diga Carla Zambelli, a deputada cassada e recém-promovida a ré pelo STF (por ter sacado uma pistola e perseguido um homem negro pelas ruas de São Paulo às vésperas das eleições de 2022). Mesmo acusada por seu "Bolsodeus" pela perda de mais de 2 milhões de votos em São Paulo, pela derrocada bolsonarista e pela persecução penal em curso contra os golpistas aloprados, ela disse em entrevista à CNN que "enfrentar o julgamento dos inimigos é até suportável, difícil é aguentar o julgamento das pessoas que sempre defendi e continuarei defendendo". 


Como a esperança é a última que morre e falta de amor-próprio é uma questão de foro íntimo, Zambelli aposta que o pedido de vista do ministro bolsonarista Nunes Marques mude os votos de Moraes, Cármen Lúcia, Dino, Zanin e Toffoli, que acompanharam o volto do relator. 


Na última terça-feira, Bolsonaro entrou empertigado no STF e assistiu da primeira fila o início da definição de seu destino. Impossível não traçar um paralelo com Fernando Collor, que, impichado em 1992, deixou o Planalto de nariz empinado rumo ao ostracismo. Por outro lado, para surpresa geral, o "mito" resolveu acompanhar do gabinete do filho senador o prosseguimento da sessão, quando então ele e sete comparsas foram promovidos a réus por 5 votos a 0.


Findo o julgamento, Bolsonaro convocou os repórteres e transformou a entrevista em monólogo, numa reedição dos piores momentos do cercadinho e das lives do Alvorada, com direito à ressurreição do fantasma das urnas fraudadas, defesa do voto impresso e o lero-lero segundo o qual a Justiça Eleitoral "jogou pesado contra ele e a favor do Lula". Disse ainda que se limitou a "discutir hipóteses de dispositivos constitucionais", como a decretação do estado de sítio — o que, em sua visão, não é crime. Mas o voto de Moraes conferiu importância capital a sua manifestação: "Não é normal um presidente que acabou de perder uma eleição se reunir com o comandante do Exército, o comandante da Marinha e ministro da Defesa para tratar de uma minuta de golpe". 


Quanto mais se firma a evidência de uma condenação que acrescente anos de inelegibilidade aos oito aplicados pelo TSE e sabe-se lá quantos de prisão em regime inicialmente fechado, maior é a desenvoltura dos ainda aliados no engajamento da substituição do capetão. No espaço de dois dias, Gilberto Kassab, Ricardo Nunes e André do Prado, três fidelíssimos integrantes do entorno de Tarcísio de Freitas, admitiram concorrer ao Palácio dos Bandeirantes em 2026, caso o governador decida disputar a Presidência.


Em via de desidratação desde o fim do mandato e na bica de ver seus malfeitos esmiuçados ao longo da instrução processual penal, Bolsonaro já não tem o mesmo valor como pontifex maximus da extrema-direita, e valerá ainda menos no final do ano se sua condenação, tida como líquida e certa, realmente se concretizar. E de nada adianta querer repetir a estratégia de Lula em 2018, até porque, solto ou preso, ele não tem o mesmo capital político do ex-presidiário, não domina sozinho o campo da direita emergente e tampouco conta com a contrapartida da lealdade, na medida em que jogava os seus ao mar sempre que pressentia a aproximação dos tubarões.


A denuncia aceita na última quarta-feira é um verdadeiro manual de traição à reconstrução de uma democracia que completa 40 anos. Se comprovadas as acusações que constam do libelo acusatório, não há falar em punições excessivas e muito menos em anistia. O cunho jurídico, o sentido político, a natureza simbólica, o caráter histórico, o contexto tenebroso, tudo é inédito: um ex-presidente e um magote de civis e militares da alta cúpula de seu governo passarão pelo escrutínio de um tribunal cuja casa eles e outros acusados pretenderam destruir, juntamente com as sedes dos outros Poderes. 


Enquanto começam a ser julgados os mentores e organizadores do golpe, seguem em exame as ações dos executores, cujas penas suscitam debates sobre excessos e desproporcionalidades como se ali houvesse inocentes e todos tivessem sido condenados a 17 anos de prisão. Houve modulações, sentenças muito menores, absolvições, fugas em descumprimento da lei e centenas de acordos de não persecução penal aos quais não aderiu quem não quis. 


Consumada a condenação e esgotados todos os recursos possíveis e imagináveis, não se pode correr o risco de que súplicas por abrandamento de penas estimulem a repetição de atos que tornem o Brasil vulnerável à volta de um autoritarismo que custou muitas vidas anos de atraso institucional.


Moído pela unanimidade da 1ª Turma, Bolsonaro prioriza a anistia. Atentos aos sinais de fumaça, os ministros se equipam para apagar o fogo do réu: quem admite ou não a anistia é a Constituição, e quem interpreta a Constituição é o Supremo. Nos bastidores, dá-se de barato que uma lei para perdoar condenados por crimes contra a democracia seria declarada inconstitucional por 9 votos a 2, vencidos os ministros bolsonaristas Nunes Marques e André Mendonça. 


Ciente de que a condenação pode sair em seis meses, o presidiário-to-be planeja corrigir o fiasco de Copacabana lotando a Paulista em 6 de abril, às vésperas do julgamento da denúncia contra o núcleo tático da trama golpista, que inclui 11 militares e um policial federal. Em sua prancheta, a hipotética pressão das ruas ganhará as redes sociais, dividirá o noticiário e forçará Hugo Motta a pautar a votação do projeto de anistia. Entrementes, aliados tentam fazê-lo considerar a hipótese de apoiar antes do Natal um presidenciável que se disponha a lhe conceder um indulto. Mas a estratégia subestima as dificuldades. 


Inseridos na comitiva de Lula ao Japão, os chefes e ex-chefes do Congresso parecem ter outras prioridades. Sem falar que, assim como a anistia, a recuperação dos direitos políticos e um eventual indulto também seriam submetidos ao filtro do STF, e ainda está fresca na memória das togas a decisão que derrubou, por inconstitucional, o indulto concedido por Bolsonaro ao condenado Daniel Silveira.

Enfim, quem viver verá. 

sexta-feira, 3 de abril de 2009

CONTAR PALAVRAS E STEAK TARTARE

Não sei se foi Drummond ou Guimarães Rosa que celebrizou a frase “escrever é a arte de cortar palavras”, mas sei que a idéia é válida, embora possa parecer um tanto paradoxal.

Ainda me lembro do tempo em que publicava meus escritos numa certa revista (já se vão de lá quase dez anos!) e ficava p. da vida quando o pessoal pedia para adequar o texto ao espaço que me havia sido reservado. Eu xingava, esbravejava, argumentava – afinal, o troço estava “redondinho”; obrigar-me a editá-lo seria o mesmo que fazer um cozinheiro reverter um purê de batatas em seus ingredientes originais –, mas o pagamento era bom, eu precisava da grana e acabava cedendo. E aí começava o calvário.

Eram horas relendo as matérias, cortando uma palavra aqui, uma frase acolá, reestruturando um parágrafo, enfim, eliminando a “gordura”. O maior desafio era fazer essa “lipoaspiração” sem comprometer (demais) o conteúdo - e o pior é que dava certo (risos), mesmo quando era preciso reduzir o texto a 2/3 do tamanho original.

Naquelas ocasiões, meu grande aliado era a ferramenta “Contar Palavras” do Word, que permite avaliar em tempo real o número de palavras, linhas, parágrafos e caracteres (com ou sem espaços) de um documento. Para utilizá-la, basta selecionar a porção do texto desejada, clicar no menu Ferramentas e em Contar Palavras (se nenhum trecho específico for selecionado, a ferramenta irá levar em conta o documento inteiro). O botão “Mostrar Ferramentas” convoca uma pequena barra que permite definir os parâmetros da avaliação (basta clicar na pequena seta à direita) e obter uma estatística atualizada sempre que você clicar em “Recontar".

Não sei se serve de consolo, mas quase todo mundo que se aventura a “brincar com as palavras” (seja de forma profissional, amadora ou apenas nas horas vagas) tende a ser prolixo, a “andar em círculos” e a se perder em divagações até desnecessárias, mas que dão ao trabalho um “colorido” todo especial. Afinal, uma coisa é uma posta de carne crua num prato, outra coisa é um Steak Tartare, não é mesmo?

Para quem não sabe, o Steak Tartar é uma iguaria russa feita à base de carne crua, que pode ser servida como aperitivo, entrada ou prato principal. Os ingredientes são os seguintes:150 gramas de filé mignon (moído ou finamente picado), azeite de oliva extra virgem; sal; pimenta do reino; pimenta caiena; 1 gema de ovo; 1 colher (sobremesa) de cebola ralada; 1 colher (sopa) de mostarda; 1 colher (café) de alcaparras; 1 colher (chá) de salsinha picada; 1 colher (chá) de cebolinha picada; 1 colher (chá) de molho inglês; suco de 1 limão e algumas gotas de molho tabasco.

Para preparar, selecione um pedaço do filé que não tenha nervos ou gordura e passe-o (uma vez) pela máquina de moer – se preferir a carne picada, corte-a em tirinhas - sempre contra o sentido das fibras - e pique tudo bem picadinho. Junte a cebola ralada, a salsa e a cebolinha picadas e misture tudo gentilmente, com uma colher de pau, enquanto acrescenta o azeite, o sal, as pimentas e os demais ingredientes. 

Faça uma “bola” com a carne, coloque-a num prato, achate-a com as mãos até formar uma espécie de “hambúrguer gigante”, faça uma concavidade circular no centro e despeje ali a gema do ovo - crua, mas você pode cozinhá-la, se preferir (veja a ilustração). Sirva gelado, com torradinhas ou batatas chips em volta do prato (há quem acrescente pequenos pepinos em conserva e/ou azeitonas descaroçadas, mas isso fica critério de cada um).

Bom apetite.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS...


A vida é feita de escolhas, escolhas têm consequências e o problema com as consequências é que elas sempre vêm depois. Numa encruzilhada da vida, se escolhermos virar à direita, abdicamos de seguir em frente ou a esquerda, por exemplo. Quando o resultado não é o esperado, somos assombrados pelo bendito “se”. 


O presente nada mais é senão a consequência da somatória das escolhas que fizemos no passado, mas o futuro do pretérito, também chamado pelos gramáticos de condicional, referencia um presente que poderia ter existido se nossas escolhas fossem outras. 


Em 2018, fomos meio que obrigados a apoiar o bolsonarismo boçal para evitar a volta do lulopetismo corrupto, e a consequência foi o calvário que já dura três anos e quatro meses e, pior, pode ser prorrogado por mais quatro anos — ou sabe-se lá por quanto tempo mais; em se tratando de Bolsonaro, a única perspectiva impossível é a de uma gestão competente de pautada pela probidade.

 

Foi também em 2018 que Sergio Moro escolheu abandonar a magistratura em troca de um ministério no futuro governo, edulcorado pela promessa de uma cadeira no STF. Como consequência, o ex-juiz foi privado do Coaf e obrigado a reverter nomeações, enquanto seu projeto anticorrupção era desmontado. Por algum tempo, ele fingiu não ver, tentou relativizar, mas não se sujeitou ao papel de consultor jurídico informal do enrolado clã presidencial e acabou tendo de engolir sapos e beber a água da lagoa. 

 

Moro abandou a canoa que deveria saber ser furada para tentar salvar o prestígio que ainda lhe restava. Mas já era tarde demais. Odiado por Lula e seus abjetos sectários, viu-se tachado de traidor pelos igualmente abjetos baba-ovos do “mito” de fancaria. A indicação para o STF jamais aconteceu. Segundo a narrativa palaciana, o então magistrado vinculara seu embarque no governo à suprema toga, quando na verdade foi Bolsonaro que lhe prometera a dita-cuja como forma de tê-lo a bordo e de cativar o eleitorado avesso à roubalheira lulopetista. 


Passados dois anos da demissão de Moro — ele “não saiu atirando”, apenas relatou um fato que, se não era público, tornou-se notório depois que o então decano do STF retirou o sigilo da gravação da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, o inquérito instaurado para investigar a interferência criminosa de Bolsonaro na PF deu em nada (a exemplo de tantas outras envolvendo o sultão do Bolsonaristão). 


Nesse entretempo, o presidente que, quando candidato, prometeu pegar em lanças contra a corrupção e a velha política do toma-lá-dá-cá, cometeu toda sorte de barbaridades. Flertou incontáveis vezes com o autogolpe. Chamou o presidente do TSE de filho da puta e um ministro do STF de canalha. Tornou-se alvo de mais de 140 pedidos de impeachment e de uma dezena de inquéritos. Quatro de seus cinco filhos são igualmente investigados. Mais recentemente, vieram a lume evidências gritantes de corrupção no MEC. 


Observação: Ontem, a cereja do bolo: sua alteza irreal anistiou o deputado troglodita baba-ovos Daniel Silveira antes mesmo que a condenação transitasse em julgado. Mais uma vez, o sociopata estica a corda. Se será enforcado com ela ou se a pusilanimidade do STF permitir-lhe-á sair impune, com vem acontecendo desde sempre, só o tempo dirá. O pouco tempo que falta até as cada vez mais próximas eleições. Se alguém acha que esse sujeito vai mesmo largar o osso se assim decidir a ospália votante, esse alguém está redondamente enganado.

 

Políticos pegos com manchas de batom na cueca sempre têm alguma desculpa idiota. Lula se disse traído; Dilma, indignada; Bolsonaro afirma não pode saber de tudo — e para evitar que se venha a saber de (mais) alguma coisa que o desabone, decreta sigilo sobre fatos de interesse público. 


Em julho do ano passado, o Planalto impôs um segredo de 100 anos sobre informações dos crachás de acesso em nome dos filhos 02 e 03. Um cumpre na sede do governo federal (diz-se que no “gabinete do ódio”) seu quinto mandato de vereador, quando deveria dar expediente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O outro é deputado federal por São Paulo, mas acompanha o pai em viagens internacionais, frita hambúrguer nas horas vagas e chegou a ser cotado para chefiar a embaixada do Brasil nos EUA.

 

Em janeiro de 2021, o Planalto decretou 100 anos de sigilo cartão de vacinação do mandatário negacionista e antivacina, a pretexto de os dados dizerem respeito "à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem do presidente”. Em junho de 2021, mandou o Exército impor sigilo de 100 anos ao processo interno isentou de punição o então general da ativa Eduardo Pazuello


Dias atrás, o GSI repetiu a dose em relação às visitas dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos ao Planalto, alegando que “a divulgação poderia colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares”. Pressionado, o gabinete comandado pelo general Augusto Heleno liberou os registros, que apontam mais de 30 acessos. O pastor Arilton visitou gabinetes de Mourão, ministros e do responsável pela agenda de Bolsonaro; o pastor Gilmar esteve pelo menos 10 vezes na sede do governo. Detalhe: ambos voltaram ao Planalto mesmo após pedido de apuração

 

Voltando a Sergio Moro — que deve estar tão arrependido de ter aceitado participar deste espúrio governo quanto Lula de ter feito Dilma sua sucessora —, lulistas, bolsonaristas, magistrados ditos “garantistas” e parte da mídia promoveram a párias o ex-juiz federal e o ex-coordenador do braço paranaense da maior operação anticorrupção da história desta banânia, que colocou na cadeia dezenas de empresário e políticos que se locupletaram nos governos petistas. 


No Brasil, a corrupção é como a Hidra de Lerna — bicharoco mitológico com corpo de dragão, hálito venenoso e nove cabeças de serpente capazes de se regenerar. Tudo ia de vento em popa até que, um belo dia, o semideus togado que manda e desmanda no STF virou a casaca, passando de apoiador a inimigo figadal da Lava-Jato. E o resto é história recente.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

SALTA UM X-BURGER, EMBAIXADOR!



Jair Bolsonaro quer porque quer indicar o filho zero três para o cargo de embaixador do Brasil nos EUA. A decisão, por inusitada e polêmica — para não dizer estapafúrdia —, vem repercutindo na mídia e nas redes sociais.

Sem fazer aqui qualquer julgamento de valor, relembro que Eduardo Bolsonaro, ao defender sua nomeação, disse ser qualificado para o cargo porque fala inglês e espanhol, é amigo da família presidencial norte-americana e, dentre outros méritos, fritou hambúrgueres no estado do Maine.

Até onde se sabe, experiência como chapeiro de lanchonete não faz parte dos requisitos exigidos de um candidato a embaixador, mas o detalhe é que a rede de fast-food Popeyes, na qual ele diz ter trabalhado, não serve hambúrgueres, e sim frango frito.

Pelo visto, grelhar discos de carne virou item importante no currículo de aspirantes ao cargo de embaixador brasileiro no Distrito de Columbia. Melhor ainda se o dito-cujo tiver realizado essa intrincada tarefa sob o frio do Maine — estado americano que faz divisa com o gelado Canadá.

Se a moda pega, Flávio Bolsonaro — que não só ostenta no currículo incomparável habilidade em fazer investigação virar pizza, como é um dos poucos pizzaiolos habilitados a preparar a incomum pizza de laranja — pode pleitear o cargo de embaixador do Brasil na Itália, e zero dois... bem, ainda não se sabe qual embaixada o garoto pretende chamar de sua, mas fontes do Planalto afirmam que o pitbull palaciano apresentará sua reivindicação assim que aprender a escrever em português no Twitter

Bolsonaro diz que zero três tem faro para negócios, que sabe defender os interesses do Brasil, que será seus olhos e os ouvidos no EUA e que sua nomeação está longe de ferir a lei do nepotismo — acredite quem quiser. A propósito, Ricardo Noblat lembra que Bolsonaro não seria Bolsonaro se não falasse pelos cotovelos e não dissesse muitas idiotices. Na última sexta-feira, ele usou seu programa semanal no Facebook para voltar ao assunto pela terceira vez — na quinta, foram quatro vezes — e, deixando de lado o que antes repetia para assombrar o mais devotado dos seus devotos, deu as seguintes declarações:

“Lógico, que é filho meu, eu pretendo beneficiar filho meu, sim. Pretendo, se puder, dar filé mignon, eu dou, mas não tem nada a ver com filé mignon, nada a ver, é realmente, nós aprofundarmos um relacionamento com um país que é a maior potência econômica e militar do mundo”.

“Se eu quiser hoje, eu não vou fazer isso jamais, chamo o Ernesto Araújo [Ministro das Relações Exteriores] e falo: O Ernesto vai para Washington, que eu vou botar o Eduardo no Ministério da Relações Exteriores”.

O presidente da República confessa que quer beneficiar um dos seus filhos designando-o para o cargo mais importante da diplomacia brasileira. Podendo dar filé mignon ao filho, por que não daria? O raciocínio é tão primário, tão rudimentar e tão antirrepublicano quanto seu autor. Se a lei do nepotismo permitisse a nomeação de Eduardo, a confissão do seu pai deveria bastar para barrá-la de uma vez. Fosse este país naturalmente sério.

Em seus quase trinta anos como deputado, Bolsonaro pôs a família acima de tudo, empregando parentes em gabinetes, elegendo os filhos vereador, deputado e senador. Essa história de Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, é slogan de campanha para tocar a alma dos eleitores. A dos evangélicos foi tocada pelo batismo do capitão nas águas do Rio Jordão, e a facada em Juiz de Fora se encarregou do resto. Mas a autenticidade do capitão, antes louvada pela massa de indignados que resolveram virar o país de ponta-cabeça, acabará mais dia, menos dia, se voltando contra ele.

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Uma das tarefas mais difíceis desta vida, por alguma razão ainda não explicada pela ciência, é aprender uma de suas regras mais fáceis. A regra é a seguinte: certas coisas não se fazem. Não têm nada a ver com o fato de serem permitidas ou não por lei. Também podem não ser, em si mesmas, boas ou más, certas ou erradas. São, apenas, coisas que não se fazem. Por quê? Porque não se fazem, só por isso — não por uma pessoa dotada de coeficientes médios de decência, consideração pelos outros e boa educação. E quais são elas? Aí, se você não sabe, temos um problema. Ou se aprende isso antes dos 10 anos de idade, ou não se aprende nunca.

A língua inglesa tem uma expressão admirável a esse respeito: “It’s not done”. Na tradução mais direta quer dizer: “Não se faz” — e há todo um universo moral contido nesse “não se faz”. É o que divide, no fundo, a qualidade interior dos seres humanos. Quem sabe naturalmente o que não se deve fazer, sem ter de perguntar a cada meia hora se deve agir assim ou assado, está no lado do bem. Quem não sabe, está no lado escuro da força.

Uma das coisas mais evidentes no bloco daquilo que “não se faz” é nomear seu filho como embaixador do Brasil nos Estados Unidos — se você, justamente, é o presidente do Brasil. Quem, com um mínimo de bom-senso, pode ter alguma dúvida a respeito de uma coisa dessas? Tanto faz se ele vai, no fim das contas, ser embaixador ou não: um homem público, seja qual for o seu cargo no governo, não pode nomear parentes para outro cargo público, qualquer cargo público. Se for o presidente da República, então, aí é que não pode mesmo — principalmente se vai ter de fazer isso na frente de todo mundo. Uma coisa, muito bacana, é promover os valores da família. Outra, muito diferente e muito ruim, é promover os membros de sua família a empregos cinco-estrelas dentro do governo. Quer dizer que o filho do presidente, só por ser filho do presidente, não pode ser embaixador nos Estados Unidos? Sim, quer dizer isso mesmo: não pode.

Pois é, a vida é assim — e ainda bem que é assim. Presidentes da República, mais que quaisquer outros servidores da população, têm de pagar um pedágio alto para ocupar o seu cargo, e ninguém precisa ficar com dó, pois eles estão lá porque quiseram muito estar; não foram obrigados.

A decisão do presidente Bolsonaro de indicar seu filho Eduardo para a embaixada brasileira em Washington é um desastre com perda total. A soma das qualificações que Eduardo tem para o cargo não chega a zero. Mas mesmo que ele fosse o melhor embaixador possível de ter hoje nos Estados Unidos, um novo Barão do Rio Branco, isso não mudaria nada, porque filho não pode ser nomeado — e pronto. Bolsonaro, nesse caso, teria de mandar para lá o segundo melhor, e tocar a bola para a frente. Paciência.

Não vale, também, o argumento de que os diplomatas brasileiros detestam Bolsonaro, e que o Brasil se prejudica com isso. É verdade. Em geral eles já têm vergonha de ser brasileiros; com Bolsonaro na Presidência, então, passaram a ter pavor de representar um governo “fascista”. E daí? Eles vão continuar exatamente assim; isso não se resolve nem se você nomear Deus Padre em pessoa para Washington.

Ninguém se lembra quem foram os embaixadores brasileiros nos Estados Unidos nos últimos anos, diz o presidente. De fato: daria para encher um museu de nulidades com o pessoal que tem passado por lá. Mas a saída, então, seria nomear mais uma nulidade? É certo, também, que Bolsonaro não é defendido pela diplomacia brasileira das acusações de ser um ditador, um homofóbico e um racista. Mas os fatos estão a seu favor. Ditadores não aprovam projetos com 74% dos votos da Câmara dos Deputados, como acaba de ocorrer na reforma da Previdência. Não há, em seis meses de seu governo, uma única decisão contra homossexuais. Não há um episódio sequer de racismo. É nisso que o presidente tem de investir — nos fatos, e não em Eduardo. Em vez de reclamar, e nomear o filho para ser embaixador, ele terá de continuar demonstrando, pelos seus atos, que não é ditador, homofóbico nem racista. Ponto-final.

Pessoas que muito erraram na vida têm um sonho tão precioso quanto impossível: voltar ao passado, por uns modestos instantes, só para não fazer os erros que fizeram. O arrependimento, como se sabe, deveria vir antes do pecado; a vida seria outra se fosse assim. Infelizmente, as consequências só vêm depois — e aí já não adianta nada. Bolsonaro, nessa história, tem a chance de se arrepender antes de pecar. Deveria aproveitar, correndo.

Com J.R. Guzzo.

Sabatina do Bolsokid Eduardo no Senado Federal segundo o blog Opinião sem Medo

— Deputado, o senhor sabe falar inglês?
— Moroless. Mas nunca passei fome nos EUA. Sempre me virei.
— Deputado, o senhor conhece a fundo a cultura americana?
— Claro! Sei de cor a receita do Big Mac: Dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim.
— Deputado, o que o senhor  sabe sobre a economia dos Estados Unidos?
— Sei que o Walmart é muito barato. Ah! a Dollar Three também.
— Deputado, como será seu relacionamento com Washington?
— Bem, por enquanto só conheço o Trump, mas tenho certeza que iremos nos dar muito bem.
— E o sistema jurídico de lá, o senhor está por dentro?
— Um pouco. Sei que o Foro de São Paulo e o Foro Privilegiado não existem nos States.
— Deputado, o que o senhor pensa em fazer para melhorar o comércio entre Brasil e Estados Unidos?
— Aumentar imediatamente a cota de compras no exterior. Quinhentos dólares é muito pouco.
— Deputado, o que acha da posição americana sobre o clima?
— Onde morei, no Colorado, faz bastante frio, e me parece que os americanos não são favoráveis a nenhuma mudança.
— Deputado, o senhor prevê dificuldades no novo cargo?
— De jeito nenhum. Já fritei hambúrguer, viajei o mundo quase todo… me viro muito bem.
— Olavo de Carvalho terá algum cargo na embaixada?
— Claro. Será relações públicas. Ele é muito sociável.
— Como o senhor irá tratar a questão comercial com os produtores de laranja da Flórida?
— Aí não é comigo. É com meu irmão Flávio e seu assessor Queiroz.
— Deputado, se o senhor não fosse filho do presidente, acha que poderia ser escolhido?
— Sim. Sou um expert em EUA. Fiz intercâmbio lá. Até sei fazer “arminha”, com os dedos, em inglês.
— Se o presidiário Lula, quando presidente, houvesse indicado o Lulinha, qual seria sua reação?
— Contrária, é claro!
— Por quê?
— Ora, porque… porque… porque… Vou perguntar pro Olavo e depois eu respondo, talquei?
— Deputado, o senhor terá uma boa interlocução com o Presidente Trump?
— A melhor! Meu irmão Carlos irá comigo. Ele e Trump são amigos no Twitter e no Facebook.