Sobre o passado nebuloso de Verdevaldo, o puro, assista a este vídeo:
UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
domingo, 11 de agosto de 2019
O ATIVISTA QUE VIROU HERÓI, O XERIFE QUE VIROU BANDIDO, O CAPITÃO QUE VIROU PRESIDENTE, O CHAPEIRO QUE VIROU EMBAIXADOR E O FRANGO QUE VIROU HAMBÚRGUER
Sobre o passado nebuloso de Verdevaldo, o puro, assista a este vídeo:
segunda-feira, 27 de abril de 2020
HOME OFFICE E AFASTAMENTO SOCIAL MAIS TEMPO ONLINE POTENCIALIZA RISCOS DE VÍRUS E CIBERATAQUES (PARTE 7)
Observação: Para não cair nesse tipo de golpe, fique esperto com os links que você recebe por e-mail e atente para o tipo de informação está sendo solicitada e se é necessário realizar algum tipo de login. Observe ainda como a mensagem foi redigida, pois as legítimas não devem ser mal escritas nem conter erros de ortografia e gramática, que são muito comuns nas falsas.
Smartphones podem acessar a Web tanto pela rede 3G/4G da operadora quanto via compartilhamento do sinal de um roteador Wi-Fi, que hoje em dia quase todo mundo tem em casa — foi-se o tempo do “computador da família” e da conexão discada, que era disputada a tapa por pai, mãe, filhos, cachorro gato e papagaio, sobretudo nos finais de semana, quando a cobrança do pulso telefônico era diferenciada.
Continua...
sexta-feira, 20 de maio de 2022
QUER CONHECER O CARÁTER DE UMA PESSOA? DÊ-LHE O PODER! (QUARTA PARTE)
Lula é uma caricatura de si mesmo, uma foto amarelada que insiste em permanecer pendurada na parede do PT, até porque ele e seu espúrio partido são uma coisa só. De acordo com as pesquisas, o ex-presidiário já ganhou (com 171% dos votos) e se prepara alegremente para voltar à cena do crime.
Bolsonaro, que atacou duramente o Centrão durante a campanha e prometeu sepultar a “velha política” do “toma lá, dá cá”, passou por nove partidos, todos do Centrão. Entre 2019 e 2020, tentou criar o Aliança Pelo Brasil, mas não conseguiu reunir o número mínimo de assinaturas e acabou se amancebando com o PL. Na cerimônia de filiação à sigla presidida pelo do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, disse que “estava se sentindo em casa”. Mas vamos por partes, que a desgraça vem de longe.
Observação: Em 1993, o ex-presidente-general Ernesto Geisel se referiu ao então capitão como “um caso completamente fora do normal, inclusive mau militar”. A quem interessar possa, a carreira militar do “mito” é narrada em detalhes no livro “O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel” (Todavia), publicado em 2019 pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho.
A carreira política se confunde com a vida pessoal do mau militar e parlamentar medíocre. Sua primeira esposa, Rogéria Bolsonaro, foi eleita vereadora no Rio de Janeiro em 1996. Em 2000, durante a separação do casal, ela concorreu à reeleição e foi derrotada pelo filho 02 — que se tornou o vereador eleito mais jovem da História do país.
Observação: Afora o célebre caso de Zero Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério Público apuram suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro por tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de manifestações que pediram o fechamento de instituições como o Congresso e o Supremo. Tutti buona gente!
sexta-feira, 3 de abril de 2009
CONTAR PALAVRAS E STEAK TARTARE
Ainda me lembro do tempo em que publicava meus escritos numa certa revista (já se vão de lá quase dez anos!) e ficava p. da vida quando o pessoal pedia para adequar o texto ao espaço que me havia sido reservado. Eu xingava, esbravejava, argumentava – afinal, o troço estava “redondinho”; obrigar-me a editá-lo seria o mesmo que fazer um cozinheiro reverter um purê de batatas em seus ingredientes originais –, mas o pagamento era bom, eu precisava da grana e acabava cedendo. E aí começava o calvário.
Eram horas relendo as matérias, cortando uma palavra aqui, uma frase acolá, reestruturando um parágrafo, enfim, eliminando a “gordura”. O maior desafio era fazer essa “lipoaspiração” sem comprometer (demais) o conteúdo - e o pior é que dava certo (risos), mesmo quando era preciso reduzir o texto a 2/3 do tamanho original.
Naquelas ocasiões, meu grande aliado era a ferramenta “Contar Palavras” do Word, que permite avaliar em tempo real o número de palavras, linhas, parágrafos e caracteres (com ou sem espaços) de um documento. Para utilizá-la, basta selecionar a porção do texto desejada, clicar no menu Ferramentas e em Contar Palavras (se nenhum trecho específico for selecionado, a ferramenta irá levar em conta o documento inteiro). O botão “Mostrar Ferramentas” convoca uma pequena barra que permite definir os parâmetros da avaliação (basta clicar na pequena seta à direita) e obter uma estatística atualizada sempre que você clicar em “Recontar".
Não sei se serve de consolo, mas quase todo mundo que se aventura a “brincar com as palavras” (seja de forma profissional, amadora ou apenas nas horas vagas) tende a ser prolixo, a “andar em círculos” e a se perder em divagações até desnecessárias, mas que dão ao trabalho um “colorido” todo especial. Afinal, uma coisa é uma posta de carne crua num prato, outra coisa é um Steak Tartare, não é mesmo?
Para quem não sabe, o Steak Tartar é uma iguaria russa feita à base de carne crua, que pode ser servida como aperitivo, entrada ou prato principal. Os ingredientes são os seguintes:150 gramas de filé mignon (moído ou finamente picado), azeite de oliva extra virgem; sal; pimenta do reino; pimenta caiena; 1 gema de ovo; 1 colher (sobremesa) de cebola ralada; 1 colher (sopa) de mostarda; 1 colher (café) de alcaparras; 1 colher (chá) de salsinha picada; 1 colher (chá) de cebolinha picada; 1 colher (chá) de molho inglês; suco de 1 limão e algumas gotas de molho tabasco.
Para preparar, selecione um pedaço do filé que não tenha nervos ou gordura e passe-o (uma vez) pela máquina de moer – se preferir a carne picada, corte-a em tirinhas - sempre contra o sentido das fibras - e pique tudo bem picadinho. Junte a cebola ralada, a salsa e a cebolinha picadas e misture tudo gentilmente, com uma colher de pau, enquanto acrescenta o azeite, o sal, as pimentas e os demais ingredientes.
sexta-feira, 22 de abril de 2022
A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS...
A vida é feita de escolhas, escolhas têm consequências e o problema com as consequências é que elas sempre vêm depois. Numa encruzilhada da vida, se escolhermos virar à direita, abdicamos de seguir em frente ou a esquerda, por exemplo. Quando o resultado não é o esperado, somos assombrados pelo bendito “se”.
O presente nada mais é senão a consequência da somatória das escolhas que fizemos no passado, mas o futuro do pretérito, também chamado pelos gramáticos de condicional, referencia um presente que poderia ter existido se nossas escolhas fossem outras.
Em 2018, fomos meio que obrigados a apoiar o bolsonarismo boçal para evitar a volta do lulopetismo corrupto, e a consequência foi o calvário que já dura três anos e quatro meses e, pior, pode ser prorrogado por mais quatro anos — ou sabe-se lá por quanto tempo mais; em se tratando de Bolsonaro, a única perspectiva impossível é a de uma gestão competente de pautada pela probidade.
Foi também em 2018 que Sergio Moro escolheu abandonar a magistratura em troca de um ministério no futuro governo, edulcorado pela promessa de uma cadeira no STF. Como consequência, o ex-juiz foi privado do Coaf e obrigado a reverter nomeações, enquanto seu projeto anticorrupção era desmontado. Por algum tempo, ele fingiu não ver, tentou relativizar, mas não se sujeitou ao papel de consultor jurídico informal do enrolado clã presidencial e acabou tendo de engolir sapos e beber a água da lagoa.
Moro abandou a canoa que deveria saber ser furada para tentar salvar o prestígio que ainda lhe restava. Mas já era tarde demais. Odiado por Lula e seus abjetos sectários, viu-se tachado de traidor pelos igualmente abjetos baba-ovos do “mito” de fancaria. A indicação para o STF jamais aconteceu. Segundo a narrativa palaciana, o então magistrado vinculara seu embarque no governo à suprema toga, quando na verdade foi Bolsonaro que lhe prometera a dita-cuja como forma de tê-lo a bordo e de cativar o eleitorado avesso à roubalheira lulopetista.
Passados dois anos da demissão de Moro — ele “não saiu atirando”, apenas relatou um fato que, se não era público, tornou-se notório depois que o então decano do STF retirou o sigilo da gravação da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, o inquérito instaurado para investigar a interferência criminosa de Bolsonaro na PF deu em nada (a exemplo de tantas outras envolvendo o sultão do Bolsonaristão).
Nesse entretempo, o presidente que, quando candidato, prometeu pegar em lanças contra a corrupção e a velha política do toma-lá-dá-cá, cometeu toda sorte de barbaridades. Flertou incontáveis vezes com o autogolpe. Chamou o presidente do TSE de filho da puta e um ministro do STF de canalha. Tornou-se alvo de mais de 140 pedidos de impeachment e de uma dezena de inquéritos. Quatro de seus cinco filhos são igualmente investigados. Mais recentemente, vieram a lume evidências gritantes de corrupção no MEC.
Observação: Ontem, a cereja do bolo: sua alteza irreal anistiou o deputado troglodita baba-ovos Daniel Silveira antes mesmo que a condenação transitasse em julgado. Mais uma vez, o sociopata estica a corda. Se será enforcado com ela ou se a pusilanimidade do STF permitir-lhe-á sair impune, com vem acontecendo desde sempre, só o tempo dirá. O pouco tempo que falta até as cada vez mais próximas eleições. Se alguém acha que esse sujeito vai mesmo largar o osso se assim decidir a ospália votante, esse alguém está redondamente enganado.
Políticos pegos com manchas de batom na cueca sempre têm alguma desculpa idiota. Lula se disse traído; Dilma, indignada; Bolsonaro afirma não pode saber de tudo — e para evitar que se venha a saber de (mais) alguma coisa que o desabone, decreta sigilo sobre fatos de interesse público.
Em julho do ano passado, o Planalto impôs um segredo de 100 anos sobre informações dos crachás de acesso em nome dos filhos 02 e 03. Um cumpre na sede do governo federal (diz-se que no “gabinete do ódio”) seu quinto mandato de vereador, quando deveria dar expediente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O outro é deputado federal por São Paulo, mas acompanha o pai em viagens internacionais, frita hambúrguer nas horas vagas e chegou a ser cotado para chefiar a embaixada do Brasil nos EUA.
Em janeiro de 2021, o Planalto decretou 100 anos de sigilo cartão de vacinação do mandatário negacionista e antivacina, a pretexto de os dados dizerem respeito "à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem do presidente”. Em junho de 2021, mandou o Exército impor sigilo de 100 anos ao processo interno isentou de punição o então general da ativa Eduardo Pazuello.
Dias atrás, o GSI repetiu a dose em relação às visitas dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos ao Planalto, alegando que “a divulgação poderia colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares”. Pressionado, o gabinete comandado pelo general Augusto Heleno liberou os registros, que apontam mais de 30 acessos. O pastor Arilton visitou gabinetes de Mourão, ministros e do responsável pela agenda de Bolsonaro; o pastor Gilmar esteve pelo menos 10 vezes na sede do governo. Detalhe: ambos voltaram ao Planalto mesmo após pedido de apuração.
Voltando a Sergio Moro — que deve estar tão arrependido de ter aceitado participar deste espúrio governo quanto Lula de ter feito Dilma sua sucessora —, lulistas, bolsonaristas, magistrados ditos “garantistas” e parte da mídia promoveram a párias o ex-juiz federal e o ex-coordenador do braço paranaense da maior operação anticorrupção da história desta banânia, que colocou na cadeia dezenas de empresário e políticos que se locupletaram nos governos petistas.
No Brasil, a corrupção é como a Hidra de Lerna — bicharoco mitológico com corpo de dragão, hálito venenoso e nove cabeças de serpente capazes de se regenerar. Tudo ia de vento em popa até que, um belo dia, o semideus togado que manda e desmanda no STF virou a casaca, passando de apoiador a inimigo figadal da Lava-Jato. E o resto é história recente.
segunda-feira, 22 de julho de 2019
SALTA UM X-BURGER, EMBAIXADOR!
Sem fazer aqui qualquer julgamento de valor, relembro que Eduardo Bolsonaro, ao defender sua nomeação, disse ser qualificado para o cargo porque fala inglês e espanhol, é amigo da família presidencial norte-americana e, dentre outros méritos, fritou hambúrgueres no estado do Maine.
Até onde se sabe, experiência como chapeiro de lanchonete não faz parte dos requisitos exigidos de um candidato a embaixador, mas o detalhe é que a rede de fast-food Popeyes, na qual ele diz ter trabalhado, não serve hambúrgueres, e sim frango frito.
Pelo visto, grelhar discos de carne virou item importante no currículo de aspirantes ao cargo de embaixador brasileiro no Distrito de Columbia. Melhor ainda se o dito-cujo tiver realizado essa intrincada tarefa sob o frio do Maine — estado americano que faz divisa com o gelado Canadá.
Se a moda pega, Flávio Bolsonaro — que não só ostenta no currículo incomparável habilidade em fazer investigação virar pizza, como é um dos poucos pizzaiolos habilitados a preparar a incomum pizza de laranja — pode pleitear o cargo de embaixador do Brasil na Itália, e zero dois... bem, ainda não se sabe qual embaixada o garoto pretende chamar de sua, mas fontes do Planalto afirmam que o pitbull palaciano apresentará sua reivindicação assim que aprender a escrever em português no Twitter.
Sabatina do Bolsokid Eduardo no Senado Federal segundo o blog Opinião sem Medo
— Deputado, o senhor sabe falar inglês?
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
FOI-SE O CARNAVAL, E COM ELE SEU SMARTPHONE?
É também nessa época — devido às inevitáveis aglomerações e ao hábito dos sem-noção de fazer ou atender ligações e, principalmente, tirar selfies com seus aparelhos sem adotar as devidas precauções — que a incidência de furtos e roubos de smartphones aumenta assustadoramente. Quem teve o desprazer de assistir aos telejornais durante nos últimos deve ter visto cenas dando conta da audácia da bandidagem em ações isoladas ou “arrastões”, bem como reparado na facilidade com que a mídia filma essas ocorrências e a dificuldade que a polícia tem de prender os responsáveis e restituir a seus legítimos donos os bens que lhes foram subtraídos — que vão de smartphones a tênis de grife, passando por dinheiro, documentos, relógios e adornos como pulseiras, correntinhas, enfim, tudo que possa despertar a atenção dos amigos do alheio, que possa ser convertido facilmente em moeda sonante ou ser trocado in natura por pedras de crack e outras drogas, para a infelicidade dos incautos e de quem é forçado a atravessar regiões da cidade onde agem tanto os trombadinhas de sempre quanto alguns “moradores em situação de rua” (como a polícia do politicamente correto exige que a gente se refira ao povo da cracolândia e distinta companhia), que não medem consequências quando se trata de conseguir drogas.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2024
O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (QUINTA PARTE)
No baixo clero da Câmara Federal, Bolsonaro defendeu o fechamento do Congresso e a volta dos militares ao poder. Disse não acreditar em solução para o Brasil por meio do voto popular, e que mais gente deveria ter sido morta pela ditadura (incluindo o então presidente Fernando Henrique). Em abril de 2016, emendou seu voto pelo impeachment de Dilma com uma patética homenagem o coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Mas a punição mais severa que recebeu ao longo de sua improfícua trajetória política (abrilhantada pela aprovação de 2 míseros projetos e dois míseros quatro votos na disputa pela presidência da Câmara) foi uma réles advertência.
No livro "O Negócio do Jair", Juliana Dal Piva esmiúça o esquema usado pelo clã Bolsonaro para comprar mais de 100 imóveis, acumular milhões de reais e construir um projeto político iniciado com o emprego de parentes e coordenado pela segunda esposa. A Jornalista trata ainda das relações da família com Adriano da Nóbrega, o ex-capitão do Bope que viou chefe da milícia de Rio das Pedras e do Escritório do Crime — grupo suspeito de assassinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista em março de 2018 — e acabou executado em 2020 por policiais militares baianos e fluminenses.
Em 2022, a jornalista Amanda Klein confrontou Bolsonaro com um levantamento patrimonial realizado pelo UOL, relembrou as rachadinhas nos gabinetes dele e dos filhos e os 20 imóveis que Flávio negociou nos últimos 16 anos (entre os quais uma mansão de R$ 6 milhões). Curto e grosso (mais grosso do que curto, na verdade), o então candidato à reeleição qualificou as acusações de "levianas", disse que não sabia da vida econômica de suas ex-mulheres e que os imóveis foram comprados na planta "por uma micharia por mês" e revendidos com lucro logo depois.
Investigar presidentes da República no exercício do cargo é prerrogativa exclusiva da PGR. Augusta Aras, que foi um exemplo de antiprocurador, fechou os olhos e os ouvidos para as atrocidades cometidas pelo pior mandatário desta banânia desde Tomé de Souza. Ignorar as evidências que conectam um formidável esquema de corrupção aos três casamentos de Bolsonaro, a seus filhos, a dezenas de parentes, ao patrimônio da família e à proximidade do clã com Queiroz, Adriano e outros pulhas é a prova provada de que a Justiça tupiniquim, além de cega, abriga em suas fileiras gente burra, pusilânime e venal. Nada muito diferente do que se vê no Congresso Nacional.
Triste Brasil.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
A VERTIGEM DA DEMOCRACIA
Engana-se quem pensa que a democracia nasceu na Grécia, foi refinada em Roma, desapareceu na Idade Média, reemergiu na Itália renascentista e foi reinventada pelos "pais fundadores" dos Estados Unidos. Formas de "democracia primordial" remontam a priscas eras, em variadas regiões e diversas civilizações, e sempre pelo mesmo motivo: Quem governa precisa de ajuda para governar.
Isso foi válido na Atenas do século 5 a.C., nas 13 colônias
americanas do século 18 e nos países europeus durante e depois da Primeira
Guerra Mundial. Mesmo o voto feminino se explica por um estado de necessidade:
se os homens lutavam no front, era preciso que as mulheres ocupassem os postos
de trabalho para salvar a economia. E essa emancipação econômica levou à
emancipação política.
Claro que muitas civilizações optaram pela via autocrática,
onde o poder central não precisava do consentimento dos súditos para nada. Com
aparelhos burocráticos e repressivos mais avançados, era possível governar sem
perder tempo com consultas ou negociações.
Na democracia moderna, a consulta e a deliberação diretas
foram substituídas pela representação política, até por motivos de extensão
geográfica: votamos, elegemos os nossos representantes e são eles que decidem
em nosso nome. E se hoje sentimos que a democracia está em crise, isso se
explica, por um lado, pela participação política mais ampla do que na
democracia primordial; por outro, por essa participação ser também mais
episódica e pouco convincente.
Sentimos que o poder está mais distante e, pior, mais poderoso
— como se o líder, agora auxiliado pela mais avançada burocracia e tecnologia,
já não precisasse de nós para nada. Exatamente como se fosse um autocrata. Isso
gera desconfiança e ressentimento, a mistura explosiva que o populismo explora —
curiosamente, o combustível do populismo político é real, e não ilusório, mesmo
que as soluções populistas sejam ilusórias, e não reais.
Aos olhos da população, a democracia está doente. Em meados
da década de 1990, a maioria estava contente com “a pior forma de
governo, com exceção de todas as outras”, na imortal frase de Churchill.
Hoje, salta aos olhos a insatisfação crescente que reina nos EUA e o clima
semissuicidário que asfixia o Brasil.
Três em cada quatro latino-americanos mostram um entusiasmo
cadavérico pela democracia, e o Brasil serve de garoto-propaganda. As causas
são conhecidas: corrupção, crime e desigualdade não fazem bons democratas.
Não há mais governo em nosso país. Estamos acéfalos. Enquanto
Bolsonaro não governa, sendo apenas um obstáculo ao pouco que a
burocracia de Brasília ainda tenta fazer, o Congresso está paralisado
pelo apego dos atuais presidentes das casas ao poder.
Nosso parlamento é dominado pela disputa entre o ruim, Rodrigo
Maia e Davi Alcolumbre, e o pior, Arthur Lira e Renan
Calheiros. No STF, ficamos reféns da escancarada proteção que alguns
ministros, inclusive o indicado por Bolsonaro, dão à classe
política e ao sistema corrupto que a sustenta. Nada fazemos de relevante para
superar a pior crise dos últimos cem anos e vemos velhos inimigos, como a
inflação, voltarem a preocupar. Enfim, caminhamos como cegos à beira do abismo,
enquanto alguns loucos nos gritam para seguir em frente.
Na verdade, o governo Bolsonaro arrasta-se há dois
anos. Nesse período, tanto o presidente como os líderes do Parlamento só foram
eficientes em duas ações: a primeira foi a aprovação a toque de caixa da
reforma da Previdência; a segunda, que teve o apoio dos nomes de sempre do STF,
foi a destruição da Lava-Jato e do combate à corrupção no país. De
resto, nenhuma política real ou proativa, apenas o caminhar de bêbado empurrado
pelos ventos das circunstâncias. O resultado, assim, só poderia ser sofrível ou
criminoso, como é a condução da saúde pública nesta época de pandemia ou o
domínio político do governo pela cleptocracia do Centrão.
Em meio ao caos e ao descaso, tentamos sobreviver apesar de Bolsonaro.
Um exemplo dessa “Babel” que se tornou o atual governo federal são os
milhões de testes PCR vencidos ou prestes a vencer que serão jogados fora,
enquanto a população necessita deles com urgência. Como cerca de 300 milhões de
reais podem ser desperdiçados? Como um dos principais instrumentos para o
controle da pandemia é esquecido em armazéns do governo justamente por um
suposto especialista em logística, o general do Exército e dublê de
ministro da Saúde Eduardo Pazuello? Será que a política de Bolsonaro
é tão negacionista que deseja simplesmente testar menos para diminuir as
estatísticas? Ou será que o desregramento moral do presidente contaminou os
escalões técnicos do governo, e o Ministério da Saúde prefere contar os mortos
a salvar os vivos?
Caminhamos celeremente para 200 mil mortos. E a política de Bolsonaro
tem sido simplesmente a de lavar as mãos. “E daí?” é o resumo do seu governo. E
daí quem morreu; afinal eram todos “maricas” e não tinham o “histórico de
atleta” do presidente. “O que vocês querem que eu faça?”, como se não estivesse
na Presidência da República com a obrigação de fazer alguma coisa de positivo,
ou, ao menos, pedir desculpas pelos erros e consolar as vítimas. Prefere
mentir, repetir bordões e bancar o Pilatos, como se a população não
soubesse, cada vez mais, qual é sua verdadeira natureza: trata-se apenas de
um autoritário orgulhoso de sua ignorância, com preguiça de governar e pouca
empatia pelo sofrimento alheio, para dizer o mínimo.
Aqueles que estão ao redor do presidente se parecem mais com
ele a cada dia. Cada manifestação do ministro da Economia é uma repetição de
equívocos, informações erradas e ufanismo inconsequente. Num país que realmente
precisa de um Estado menor e mais eficiente, Paulo Guedes não consegue
articular qualquer privatização, qualquer política consistente de reformas,
seja a tributária, tão necessária, ou a administrativa, inevitável.
O governo gastou o capital político dos dois primeiros anos
e agora pretende, sem dinheiro, com a economia no chão, e sem qualquer
articulação, implementar reformas? Não bastasse tudo isso, o projeto liberal de
Guedes, se é que um dia foi crível, enfrenta sua maior oposição
justamente no Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro é um sindicalista de
farda e sua ideia de mundo resume-se a um quartel com recrutas lhe engraxando
as botas. Ele acredita num estado grande e desorganizado, pois é disso que sua
família sobrevive.
A preocupação agora não é só com a repetição em 2021 deste
horrível ano de 2020. Quem viveu os anos Sarney e Collor sabe que
o poço é bem mais fundo do que a atual geração acredita. Depois da mediocridade
dos governos Dilma e Temer, quatro anos sem reformas nos estão
levando novamente ao descontrole inflacionário. Quem vai ao supermercado sabe
muito bem disso.
Como suportar o reajuste de aluguel em mais de 20% depois do
massacre econômico causado pela Covid? As famílias não sabem como será
janeiro, se haverá emprego ou será mantido o auxílio emergencial. Só nos falta
enfrentar filas para comprar um pedaço de frango, como nos anos 1980.
A inflação dos alimentos, causada pelo preço das commodities
e a alta cotação do dólar, desgasta a imagem do setor agropecuário aos olhos da
população. Além disso, a política criminosa de Bolsonaro e seu escudeiro
Ricardo “Passa a Boiada” Salles em relação ao meio ambiente está
contaminando a percepção dos governos e consumidores europeus sobre a
importação de produtos agrícolas brasileiros. Com a eleição de Joe Biden,
o mesmo vai acontecer em relação aos americanos. Nenhum país realmente
importante do Ocidente vai querer comprar de um país que destrói a natureza.
O resultado da política de terra arrasada ambiental de Bolsonaro
será nos tornarmos reféns da China. E aqui temos o fechamento fétido da
completa idiotização do atual governo. Em vez de uma política pragmática na
busca dos interesses nacionais no comércio exterior, acabamos nos alinhando
subalternamente a Donald Trump. Não é um alinhamento aos Estados Unidos,
mas sim a uma ideologia cultural canhestra representada pelo agora quase
ex-presidente americano. Enquanto isso vamos criando incidentes diplomáticos
com todo o restante do planeta, especialmente com a China, o único mercado que
vai nos restar, quando Eduardo Bolsonaro resolve falar sobre comércio
exterior, para além do seu conhecimento empírico do ponto correto do hambúrguer
que não fritou na lanchonete que só vendia frango frito.
Assim, orgulhosamente nos tornamos párias internacionais,
como deseja o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tendo
ainda de ouvir chacotas e ironias de Putin sobre a masculinidade de Jair
Bolsonaro. A esperança de mudança não depende desse governo. Nada de bom
virá dos Bolsonaro, de Rodrigo Maia, Alcolumbre, Arthur
Lira, Renan Calheiros, Toffoli, Gilmar ou Lewandowski.
Se dependermos deles, afundaremos como país, permanecendo presos a esse sistema
político que só produz bandidos, incompetentes, inconsequentes ou aventureiros.
A esperança vem do exterior, com as novas vacinas e com a
eleição de Biden. Quem sabe sem seu paradigma americano nosso presidente
passe a ficar tão desacorçoado e desorientado que deixe de atrapalhar as áreas
técnicas que ainda restam no governo?
A esperança interna está na vontade da população de voltar a
trabalhar e ser feliz em família e com os amigos, o que, graças à resistência
da ciência brasileira a tantos anos de descaso e à excelência da Fiocruz
e do Instituto Butantan, vai acontecer paulatinamente com a vacinação a
partir de janeiro. Enfim, ainda teremos mais dois anos desse desastroso governo,
mas chegará o dia de despacharmos essa excrescência da Presidência da
República, como fizeram os americanos com a deles.
Ninguém sabe como estarão as democracias ocidentais daqui a
25 anos. E, claro, o Brasil não é comparável à Venezuela. Muito menos os EUA.
Mas, se as causas da crise democrática (desigualdade, corrupção, violência,
tribalismo etc.) continuarem a ser ignoradas e confundidas com os seus sintomas
(lideranças populistas que pipoqueiam por aí), ainda olharemos para Trump,
Bolsonaro e tutti quanti como meros aperitivos.
Com Carlos Fernando dos Santos Lima e João Pereira
Coutinho/Gazeta do Povo