sábado, 17 de maio de 2025

A OBSOLESCÊNCIA DO DESEJO

PEDRA QUE ROLA NÃO CRIA LIMO

Houve um tempo em que cada lançamento da Apple reescrevia o futuro. Filas nas lojas, apresentações coreografadas, sussurros em torno de funcionalidades inéditas, tudo contribuía para uma aura de encantamento difícil de replicar. Mas não há nada como o tempo para passar, e o passar do tempo fez o que era mágico perder o encantamento.
 
A empresa criada em 1º de abril 1975 por Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne sempre se destacou pela excelência de seus produtos, e alguns deles — como o icônico iPhone — definiram rumos para toda a indústria. 

Até pouco tempo atrás, a expectativa por cada novo lançamento era quase um evento cultural, mas, de novo, não há nada como o tempo para passar, e as pessoas passaram a pensar duas (ou três, ou quatro) vezes antes de substituir um celular em perfeitas condições por um modelo novo — sobretudo quando as diferenças são pontuais ou meramente estéticas. Assim, a "obsolescência programada" (mais detalhes nesta postagem) se tornou, de certo modo, "desprogramada".
 
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À primeira vista, a insegurança pública no Brasil parece ser consequência da proliferação das organizações criminosas, mas, na verdade, o Brasil é uma organização criminosa. Da mesma forma, a corrupção e a impunidade dos parlamentares costumam ser atribuídas ao fisiologismo, mas , na verdade, o maior culpado é o eleitorado ignorante e desinformado, que insiste em eleger políticos da pior qualidade, como comprovam os inquilinos que ocuparam o Planalto desde a redemocratização (não que a coisa fosse melhor antes do golpe de 64 ou durante os 21 anos de ditadura militar, mas enfim).
A Câmara Federal, também chamada de "Casa do Povo", nada fez desde o recesso de fim de ano senão eleger seu novo presidente, discutir uma vexatória proposta de anistia a Bolsonaro et caterva e, en passant, criar 18 vagas adicionais — que não custarão ao erário "míseros" R$ 64,4 milhões, como suas insolências afirmam: considerando que deputado dispõe de uma cota de R$ 38 milhões em emendas orçamentárias, as 18 novas cadeiras representarão uma despesa extra de R$ 748,6 milhões por anoMas não é só. Ao arrepio da Constituição e do Código Penal — e numa clara invasão da competência do Judiciário —, as marafonas da Câmara suspenderam a ação criminal contra Alexandre Ramagem por tentativa de golpe de Estado. Isso apesar da clareza do texto constitucional e do aviso do ministro-relator sobre a impossibilidade de sustar o processo no tocante às acusações referentes ao período anterior à diplomação do parlamentar encrencado.
Emparedado por seus pares, Hugo Motta mandou tocar o barco, mesmo sabendo que ele naufragaria mais adiante — como de fato naufragou: a 1ª Turma do STF decidiu, por unanimidade, que Ramagem continuará respondendo por três dos cinco crimes pelos quais foi denunciado. Motta recorreu, mas  tudo indica que o plenário irá chancelar a decisão da Turma.
Com a robustez de 315 votos a favor da artimanha, os deputados mostraram os dentes e deixaram às togas o trabalho de repor as coisas no lugar. Mas não há no horizonte conserto possível para o desarranjo entre os dois PoderesA intenção dos nobres deputados é clara: criar um precedente para driblar futuras decisões que os desfavoreçam — como no caso das cerca de 80 emendas parlamentares sob investigação no âmbito do Supremo, sob o olho vivo e o faro fino do ministro Flávio Dino. 
Será que é para isso que sustentamos essa cambada?

Evoluindo continuamente em conhecimento e tecnologia, as empresas fazem com que seu produtos — e não os da concorrência — sejam os substitutos naturais da geração anterior. No entanto, quando se concentram em aperfeiçoar dispositivos que já dominam o mercado, elas acabam subestimando (ou mesmo ignorando) inovações disruptivas que, num primeiro momento, parecem inferiores, mas amadurecem rapidamente e tomam seu lugar. 
 
Dito com outras palavras, para sobreviver, os fabricantes precisam tornar seus produtos obsoletos — mesmo que ainda funcionem bem e tenham boa aceitação no mercado. Com ciclos de inovação cada vez mais curtos, gigantes como Apple, Google, Microsoft, Amazon, Motorola, Samsung etc. precisam fazê-lo antes que os concorrentes o façam, e isso torna a obsolescência programada uma estratégia de sobrevivência.
 
A Apple, que por anos foi referência em inovação e longevidade, acabou sucumbindo à obsolescência programada de um modo que muitos consideram mal-intencionado. Um bom exemplo é o "batterygate": a pretexto de preservar a estabilidade do sistema, a Maçã reduziu o desempenho dos iPhones com baterias degradadas sem alertar os usuários. Mas falta de transparência a obrigou a oferecer descontos na troca das baterias e criar novas opções de monitoramento de desempenho no iOS.
 
A empresa de Cupertino sempre se destacou pelos saltos perceptíveis de geração em geração. Hoje, no entanto, uma parcela crescente dos usuários vive uma espécie de "obsolescência ao avesso". Não se trata exatamente da sensação de que seus dispositivos ficaram para trás, mas da percepção de que nada novo realmente relevante os está movendo adiante.
 
Ano após ano, os lançamentos parecem cada vez mais previsíveis — até repetitivos. Antigamente, sempre que um novo iPhone deixava o anterior "parecendo velho", havia um impulso natural pela troca — nem sempre racional, mas emocionalmente legítimo. Hoje, a falta de diferenciação tangível entre gerações sucessivas faz com que o usuário não veja razão para gastar dinheiro na substituição de um smartphone que está funcionando bem por um modelo equivalente. Assim, a interrupção do ciclo do desejo faz com que parte da magia que sempre envolveu a marca se desvaneça: o produto continua funcional, mas o encanto que estimulava a troca periódica já não está mais ali. 
 
A Apple ainda é admirada por seu ecossistema coeso, design refinado e estabilidade, mas já não dita o ritmo da inovação como antes. Ironicamente, ao escapar da obsolescência programada tradicional, ela criou a obsolescência do desejo, ou seja, a perda daquela urgência simbólica que sempre motivou seus usuários mais fiéis. O resultado é uma obsolescência menos agressiva, que não é imposta por limitações técnicas, mas pela ausência de provocação criativa, e que não decorre de chips limitados ou baterias sabotadas, mas de ciclos de inovação que deixaram de emocionar. 
 
Depois de décadas como símbolo máximo da antecipação do futuro, a Apple parece acorrentada à manutenção do presente. Não que tenha perdido a relevância — sua engenharia continua admirável, seu ecossistema segue robusto e sua visão de privacidade permanece exemplar —, mas algo se deslocou no terreno da imaginação. Ao escapar da obsolescência programada tradicional, a marca corre o risco de se tornar obsoleta em sua promessa de reinvenção. 

Nesse cenário, a pergunta que se impõe não é apenas técnica ou mercadológica, mas simbólica: quando foi a última vez que um lançamento da Apple fez o mundo parar por um instante?

Talvez o futuro da Maçã esteja garantido por sua solidez técnica, mas o futuro que Jobs nos prometia, feito de encantamento, ousadia e disrupção, parece suspenso. E quando até o futuro entra em modo de espera, é sinal de que algo essencial precisa ser atualizado.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

O BRASIL DA CORRUPÇÃO — 5ª PARTE

A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE ALGUMAS PESSOAS DEVERIA INCLUIR UM PEDIDO DE DESCULPAS DO FABRICANTE DE PRESERVATIVOS.

 

Toda escolha tem consequências — e as consequências vêm depois, como ensinou o Conselheiro Acácio. No entanto, a Interpretação de Muitos Mundos da mecânica quântica propõe a existência de inúmeros universos paralelos, onde toda decisão ou evento quântico que ocorre no nosso se desdobra em múltiplas realidades paralelas, cada uma com um desfecho diferente.

Talvez em algum desses universos Sergio Moro continue juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba e Lula continue cumprindo as penas que lhe foram impostas nos processos do tríplex e do sítio. Talvez até os eleitores de lá não façam a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez, uma única vez, por curiosidade, nem mantenham bandidos de estimação na cúpula do poder público. 

No nosso Brasil, a corrupção começou nos tempos coloniais, prosperou durante o Império e cresceu exponencialmente depois que um golpe de Estado trocou a monarquia parlamentarista por um presidencialismo republicano. A Lava-Jato (2014–2020) foi um ponto fora da curva, mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca termine.

Quando membros do Clã Bolsonaro e alguns ministros do STF entraram no radar do MPF, a força-tarefa, que já era criticada pela banda podre do Congresso, passou a ser questionada pela alta cúpula do Judiciário. Bolsonaro, que fez campanha prometendo pegar em lanças no combate à corrupção, "acabou com Lava-Jato porque 'não tinha mais corrupção no governo'", e a "vaza-jato" (clique aqui para mais detalhes) jogou a derradeira pá de cal. 

Em julho de 2020, o antiprocurador-geral Augusto Aras produziu a seguinte pérola: “O lavajatismo há de passar.” Na época, o chefe do executivo responsável por sua indicação estava incomodado com o avanço das investigações sobre as rachadinhas do filho Flávio, e o pau mandado não poupou esforços para exterminar a maior operação anticorrupção da história, que expôs as entranhas pútridas do mensalão e do petrolão.  
 
A Lava-Jato foi encerrada em São Paulo em setembro de 2020, no Paraná, em fevereiro de 2021, e no Rio de Janeiro, no final do mês seguinte. Com a inestimável colaboração do ministro Gilmar Mendes, lulismo e bolsonarismo ficaram livres dos processos decorrentes da operação — assim como velhos tucanos, caciques do Centrão e empresários amigos do ministro que recebeu a toga de FHC. Mas não há nada como o tempo para passar.
 
Semanas atrás, Felipe Moura Brasil escreveu: "Cinco anos depois [do sepultamento da operação], o legado de provas materiais e testemunhais coletado pela força-tarefa voltou a produzir efeitos e embaraços no mundo real." Mas convém ir devagar com o andor. É fato que Collor foi preso no final do mês passado; também é fato que, menos de uma semana depois, foi autorizado a cumprir a pena em seu apartamento de R$ 9 milhões, na orla de Maceió.
 
Embora Collor tenha dito na audiência de custódia que não toma nenhum medicamento de uso contínuo, seus advogados argumentaram que ele é idoso, sofre de doença de Parkinson, apneia do sono grave e transtorno afetivo bipolar. Gonet e Xandão acreditaram. Resta saber se vão engolir também a tese de que o crime de corrupção passiva prescreveu.
 
E assim seguimos neste universo, onde a corrupção é cíclica, corruptos cumprem suas penas em mansões e apartamentos com vista para o mar e os contribuintes bancam essa putaria franciscana. Em algum outro mundo, talvez a justiça talvez seja cega; no nosso, a cegueira é seletiva, ou seja, nossa Themis sabe exatamente o que não deve enxergar.
 
Jobim disse que "o Brasil não é para principiantes", e Millôr, que "o país do futuro tem um enorme passado pela frente". Enquanto houver eleitores idiotas, haverá parlamentares fisiologistas e corruptos; enquanto houver foro privilegiado, haverá ministros que confundem toga com manto sagrado. Se nada mudar — e tudo indica que nada vai mudar no curto prazo —, o futuro continuará sendo apenas uma repetição burlesca do passado.
 
Continua... 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

AINDA SOBRE SENHAS

SOMENTE OS EXTREMAMENTE SÁBIOS E OS EXTREMAMENTE ESTÚPIDOS NÃO MUDAM DE OPINIÃO.

 

Kevin Mitnick dizia que computador seguro é computador desligado, e o Conselheiro Acácio, que as consequências vêm sempre depois.
 
Inserir o nome de usuário e a senha de acesso em webservices e redes sociais se tornou tão "automático" quanto informar o CPF ao caixa da farmácia — para gáudio dos golpistas, que se valem dessa sensação de "normalidade" para induzir os incautos a inserir seus dados em webpages falsas, mas muito parecidos com as verdadeiras.

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Depois que um vídeo do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira ultrapassou 103 milhões de visualizações, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, admitiu que a CGU demorou a alertar o governo sobre a mega-fraude no INSS. Segundo ele, a extensão do rombo não foi comunicada diretamente ao então ministro da Previdência, Carlos Lupi, o que fez o governo perder a chance de agir antes e evitar que a crise respingasse em LulaPara tentar conter os danos, a liderança do PT na Câmara distribuiu uma cartilha de 30 páginas intitulada "Desmentido Nikolas Ferreira – INSS ", com argumentos para rebater as acusações. 
Uma ala do partido defende que o governo apoie a instalação de uma CPMI como forma de virar o jogo. Lula é contra, mas entrar no debate seria uma oportunidade de desmontar o discurso da oposição insistindo que as fraudes começaram no governo anterior. Recusar uma investigação ampla, transparente, que puna os responsáveis, só reforça a fama de corrupto que Lula carrega (merecidamente) desde o Mensalão.

Antes de digitar suas credenciais, verifique se a janela que está solicitando seus dados pertence realmente ao webservice ou à plataforma desejada. Ao receber um email, SMS ou mensagem no WhatsApp com um link de login, você pode ser direcionado a uma página fraudulenta que imita perfeitamente um serviço legítimo. Como os endereços de sites de phishing costumam diferir dos verdadeiros por uma ou duas letras (um “l” no lugar de um “I”, por exemplo) ou por usarem domínios diferentes, passar o ponteiro do mouse sobre o link e checar o URL que aparece na barra do navegador antes de clicar pode fazer toda a diferença.

Quando você se loga em sites usando a opção "Continuar com o Google", por exemplo, o serviço auxiliar verifica sua identidade e a confirma no site que você deseja acessar. Jamais forneça suas credenciais sem confirmar se a janela pop-up realmente pertence ao serviço auxiliar esperado, ou se a janela principal faz parte do site legítimo que você está tentando acessar.

O chamado "login social" é prático, pois dispensa a criação de um novo nome de usuário e senha para cada site, agiliza o acesso e reduz o risco de senhas fracas ou reutilizadas. No entanto, ainda que o Google ofereça camadas robustas de segurança — como autenticação em dois fatores e criptografia avançada —, é importante lembrar que, ao usá-lo, você está autorizando o site ou serviço a acessar informações da sua conta (nome, e-mail, foto de perfil e outros dados pessoais ou confidenciais, dependendo das permissões concedidas) e, potencialmente, compartilhá-las com terceiros sem informá-lo sobre como essas informações serão utilizadas. E se esse site for comprometido, seus dados também estarão em risco.

Observação: sem uma forma fácil de desvincular sua conta Google, é praticamente impossível remover completamente as informações fornecidas. Mesmo que você consiga revogar o acesso, o site pode ter armazenado os dados anteriormente compartilhados.

Conforto e segurança raramente andam de mãos dadas — mas usar um gerenciador de senhas elimina a necessidade de memorizar dezenas de combinações difíceis e evita que suas credenciais sejam inseridas em sites inseguros. Diferentemente dos usuários, que podem ser enganados pela aparência de uma página, o software verifica o endereço real do site antes de preencher os dados.

Boa sorte.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

O BRASIL DA CORRUPÇÃO — 4ª PARTE: A DEMOCRACIA DOS IDIOTAS

OS INTELIGENTES APRENDEM COM A PRÓPRIA EXPERIÊNCIA; OS SÁBIOS APRENDEM COM A EXPERIÊNCIA DOS OUTROS, E OS IDIOTAS... OS IDIOTAS NUNCA APRENDEM.

Umberto Eco ensinou que a Internet promoveu os idiotas da aldeia a portadores da verdade; Tiago Paiva observou que só existem influencers porque existem "idioters"; e Nelson Rodrigues profetizou que os idiotas vão dominar o mundo — não pela capacidade, mas pela quantidade. 

Na Grécia Antiga, a palavra ηλίθιος designava os cidadãos que não se interessavam por assuntos públicos. Como ficar à margem da vida pública erva visto como sinal de ignorância, o termo ganhou a conotação negativa que nossos dicionários registram.
 
No início do século 20, os psicólogos franceses Alfred Binet e Theodore Simon calculavam o QI com base na capacidade das crianças de realizar tarefas como apontar para o nariz e contar moedas. Pessoas com QI abaixo de 70 eram consideradas "idiotas", e assim a palavra passou a ser usada em contextos jurídicos e psiquiátricos.
 
Em tese, os "idiotas" que não se interessam por política são governados por quem se interessa. Na prática, porém, existe o perigo de o idiota levar sua idiotice para a esfera pública e fazer como os eleitores brasileiros, que repetem a cada dois anos, por ignorância, o erro que a curiosidade levou Pandora a cometer uma única vez. 
 
A idiotice clássica consistia em ignorar a vida pública, mas a contemporânea é participar dela com tribalismo irracional e fé dogmática. José Saramago alertou que a pior cegueira é a mental, dos cegos que veem mas não enxergam. Nas redes, a polarização virou espetáculo: tanto à esquerda como à direita há mais briga de torcida do que debate, e essa polarização transformou o Brasil pós-ditadura num bestiário político. Senão vejamos:
 
Sarneyícone da oligarquia e da política de cabresto nordestina — deu início à farra da governabilidade fisiológica. 

Collor embrulhado no papel vistoso de "caçador de marajás" — revelou-se um farsante narcisista. 

Itamar é lembrado mais pelo topete — e pela foto icônica ao lado de uma modelo sem calcinha — do que por sua contribuição para o Plano Real. 

Fernando Henrique destoou, mas sucumbiu à vaidade do poder e vendeu a alma ao demônio da reeleição

Lula, o desempregado que deu certo, inaugurou a era da "narrativa acima dos fatos". 

Dilma, a gerentona de araque, lavou o país ao colapso econômico com frases tão herméticas quanto sua gestão.

Temer, o vampiro do Jaburu que encerrou a fase dos garranchos verbais, manteve a política no mesmo pântano de sempre.

Bolsonaro, o mix de mau militar e parlamentar medíocre, fez do negacionismo e do golpismo sua marca registrada.
 
Mancomunada com a cegueira mental, a polarização transformou esse desfile de desqualificados em santos de pés de barro (ou bandidos de estimação, como queiram) para suas torcidas. 

Os idiotas de direita gritam "volta, mito"; os idiotas de esquerda respondem com "viva, companheiro". Todos cegos. Cegos que veem, mas não enxergam.

Continua...

terça-feira, 13 de maio de 2025

DE VOLTA À OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA

SÓ AQUELES QUE SUPORTAM A LONGA NOITE VEEM O ALVORECER

Até não muito tempo atrás, as coisas eram feitas para durar. As pessoas "se casavam" com seus carros e usavam o mesmo fogão e a mesma geladeira por décadas a fio. Mas, como dizia o poeta, "não há nada como o tempo para passar". 

De uns tempos para cá, a obsolescência programada vem reduzindo significativamente a vida útil dos assim chamados "bens duráveis".


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A classe política é corporativista e fisiologista. Seus interesses vêm sempre antes dos interesses dos eleitores que eles deveriam representar. Assim, mesmo sendo repulsiva, a aprovação da aberração destinada a livrar Alexandre Ramagem do processo por tentativa de golpe de Estado não causa estranheza. Tampouco causa espécie o placar de 315 votos a 143 ter sido engrossado por deputados do Centrão — não para favorecer Bolsonaro, que tenta pegar carona no meio disso, mas de olho na impunidade que pode beneficiá-los no futuro. 

Num momento em que o STF trava uma batalha com o Congresso pela moralização das emendas parlamentares — e já avisou que será duro com quem for pego desviando recursos públicos por meio delas —, o recado foi claro: processos por roubalheira contra quem tem mandato não seguirão adiante.

Suas insolências até podem aprovar uma disposição inconstitucional, mas o Supremo pode — e deve — pôr ordem no galinheiro. Em conversas reservadas, os ministros afirmam que consideram o projeto inconstitucional, o que significa que dificilmente a iniciativa vai prosperar e travar a ação penal. 

Os inconformados poderão recorrer, mas, dá-se de barato que a 1ª Turma rejeitará o apelo por unanimidade: a Constituição assegura a deputados e senadores o direito de sustar processos penais contra seus pares, mas para crimes cometidos após a diplomação. Isso livraria Ramagem das acusações relacionadas aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas não da tentativa de golpe, abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa.

Bolsonaro continuará réu, mas verá turbinada a mentira de que é um injustiçado — o que pode soar bem em algum país governado pela extrema direita, para onde ele resolva fugir a fim de não ser preso ao final do processo.

 

Para manter o estímulo ao consumo, os fabricantes lançam novas versões de seus produtos em intervalos cada vez menores e recorrem ao marketing para convencer os consumidores de que as novidades — muitas vezes triviais ou manifestamente inúteis — justificam a troca pelo modelo mais recente, supostamente superior. As lâmpadas, por exemplo, tiveram sua vida útil reduzida de três mil para mil horas, e alguns aparelhos parecem sair da fábrica programados para "pifar" assim que a garantia expira — e o conserto pode custar quase tanto quanto um aparelho novo.
 
Em virtude da evolução da tecnologia, esse artifício usado pela indústria para induzir ao consumo repetido se manifesta de forma ainda mais incisiva nos eletroeletrônicos. No caso específico dos celulares, aparelhos com menos de 4 GB de RAM e 128 GB de espaço interno já são considerados ultrapassados. Muitos modelos são aposentados não por suas configurações, mas pela política de atualização de software dos fabricantes — que, em tese, deveriam garantir maior longevidade aos aparelhos mais antigos, e não o contrário.

 

Com mais de 2 bilhões de usuários no mundo — e quase 150 milhões só no Brasil —, o WhatsApp deixou de funcionar recentemente em smartphones Android com versões anteriores à Lollipop (5.0); nos iPhones, modelos como o iPhone 5s, 6 e 6 Plus, que estacionaram no iOS 12.5.7, já não são suportados pelo aplicativo. Segundo a Meta, essa restrição visa permitir a incorporação de recursos mais avançados, como funcionalidades baseadas em inteligência artificial, que exigem hardware mais moderno. Mas não deixa de ser obsolescência programada disfarçada, já que obriga os usuários a aposentar aparelhos em boas condições de uso.

 

O Google lança uma nova versão do Android anualmente, mas são os próprios fabricantes (Samsung, Motorola, Xiaomi etc.) que decidem por quanto tempo seus aparelhos receberão atualizações do sistema e patches de segurança. Dependendo da marca e do modelo, o smartphone pode ficar desatualizado antes mesmo de o infeliz consumidor pagar a última prestação. Mas, de novo, não há nada como o tempo para passar.


Recentemente, a Samsung, que é líder em vendas de smartphones no Basil, resolveu ampliar seu ciclo de atualizações da linha Galaxy para até sete versões em alguns modelos, e foi seguida pela vice-líder Motorola. O Google fez o mesmo com o Pixel 8 e o Pixel 8 Pro (que não são vendidos oficialmente no Brasil, mas podem ser comprados de importadores independentes). Já a Xiaomi argumenta que a maioria dos consumidores troca de aparelho a cada três anos, e não vê sentido em ampliar o tempo de suporte.

 

Pesquisas indicam que apenas 7% de todos os smartphones Android em uso no mundo rodam a versão mais recente do sistema (15). No entanto, de um tempo para cá as novas versões focam mais a estabilidade e eficiência do que a introdução de novos recursos, e principal novidade — a inteligência artificial — pode ser implementada sem alterar a versão do sistema. Assim, ter um aparelho com Android 14 ou 13 e estar em dia com os patches de segurança já está de bom tamanho.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 27ª PARTE

NUNCA TENHA CERTEZA DE NADA. A SABEDORIA COMEÇA COM A DÚVIDA.

 

As viagens no tempo são matematicamente viáveis, a Teoria da Relatividade permite em princípio, a possibilidade de retornar ao passado, o conceito de tempo negativo deixou de ser mera especulação depois que pesquisadores da Universidade de Toronto demonstraram sua existência física de forma tangível, mas, mesmo assim, muitos cientistas rejeitam a ideia. 

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Lula fundou o PT em 1980 — a pretexto de "fazer política sem roubar nem deixar roubar" — disputou e perdeu o governo de São Paulo em 1982, elegeu-se deputado constituinte em 1986 e se recusou a assinar a Constituição Cidadã de 1988. Perdeu a Presidência para Collor em 1989 e para FHC em 1994 e 1998, mas venceu Alckmin em 2002 e Serra em 2006 e escalou a "mulher sapiens" para manter aquecido o trono que ele pretendia voltar a disputar em 2014, mas a cria  pegou gosto pelo poder, deu uma banana para o criador e “fez o diabo” para se reeleger.
Sem o escudo da Presidência, a autoproclamada alma viva mais honesta do Brasil colecionou dezenas de ações criminais, foi condenado em duas instâncias no caso do triplex e preso em abril de 2018. Quando o TSE indeferiu sua candidatura, ele escalou Haddad para representá-lo. Bolsonaro derrotou o bonifrate, mas se tornou o pior mandatário desde Tomé de Souza. Assim, Lula foi solto, "descondenado", reabilitado politicamente, e derrotou o capetão em 2022 com uma vantagem de 1,8% dos votos válidos.
Apesar da promessa de pendurar as chuteiras ao fim do terceiro mandato, o petista jamais desceu do palanque, A despeito do bordão "União e Reconstrução", ele vem destruindo a combalida economia tupiniquim com seu populismo eleitoreiro.
Em passado recente, Alckmin disse que "eleger Lula seria reconduzir o criminoso à cena do crime". Mas não há nada como o tempo para passar: o tucano se tornou o mais novo amigo de infância do ex-adversário e "voltou com ele à cena do crime" como vice-presidente. 
Haja cinismo!
 
Se o tempo pode realmente retroceder em certas condições, talvez o tecido do espaço-tempo seja mais maleável do que imaginamos. As leis da física atuam como uma espécie de salvaguarda contra os paradoxos temporais, como propôs Stephen Hawking na Conjectura da Proteção Cronológica. Mas o próprio nome indica que se trata de uma "conjectura". A única certeza é a consubstanciada por Sócrates na máxima: "só sei que nada sei".
 
Se a próxima geração de aceleradores de partículas for capaz de criar buracos de minhoca subatômicos que sobrevivam por tempo suficiente, partículas poderiam ser lançadas em círculos causais — um vislumbre inicial de uma viagem no tempo como manda o figurino, ainda distante da ficção de H. G. Wells em A Máquina do Tempo, mas impactante o bastante para nos fazer repensar os limites da própria realidade.
 
Os buracos negros foram previstos no início do século passado e permaneceram nos campo das teorias até o M87*, que fica a 55 milhões de anos-luz da Terra, ser fotografado pelo Event Horizon Telescope (indícios de um buraco negro localizado na constelação Cygnus foram observados em 1964 mas até 2019 não havia uma única imagem direta de buracos negros, daí as fotos do M87* serem consideradas a prova provada da existência desses corpos celestes). Eles se formam a partir da colisão entre estrelas de nêutrons ou da explosão de estrelas supermassivas em supernovas, "engolem" planetas, estrelas e quaisquer outros objetos que se aproximam de seu horizonte de eventos e transformam tudo num pontinho infinitesimal, mas com a mesma massa original, o que resulta numa atração gravitacional tão intensa que nem a luz consegue escapar. 
 
Observação: O termo singularidade costuma ser usado indevidamente como sinônimo de buraco negro, embora ela não seja o buraco negro em si, mas sim o elemento essencial dentro dele, um ponto com densidade infinita que cria uma curva igualmente infinita no espaço-tempo, o que torna os buracos negros o melhor exemplo de locais onde a singularidade poderia existir. 
 
A existência dos buracos de  minhoca ainda não foi comprovada experimentalmente, mas acredita-se que eles funcionem como túneis, aproximando dois pontos do espaço-tempo (não necessariamente no mesmo universo nem na mesma linha do tempo), permitindo que uma espaçonave faça em poucos segundos uma viagem que, em linha reta pelo cosmos, demoraria séculos ou milênios para fazer, mesmo na velocidade da luz. 
 
Observação: A possibilidade de viajar através de buracos de minhoca ainda é um conceito puramente teórico, com muitos desafios a superar. Não sabemos se a "energia repulsiva negativa" necessária para manter a passagem aberta pode ser gerada ou manipulada de forma prática, e há ainda um longo caminho pela frente até descobrir como isso pode ser possível.
 
Einstein achava que os buracos negros explicariam todos os mistérios do Universo. 
Suas equações descortinam propostas fascinantes, como a de que o Universo pode ter um “clone” às avessas, repleto de buracos brancos e estrelas negras. Mas também trouxeram um novo problema: conciliar a relatividade geral com a mecânica quântica
 
Supondo que os buracos de minhoca existam, não se sabe se eles engolem matéria por uma boca e a regurgitam pela outra ou se ambas as bocas são capazes de "engolir", mas não de cuspir — caso em que a matéria seria empurrada para a boca de saída, puxada de volta para a boca de entrada e atraída novamente para o lado oposto num looping insano, até finalmente morrer no ponto central.
 
Continua... 

domingo, 11 de maio de 2025

FRALDINHA EM DOSE DUPLA

É IMPOSSÍVEL GUARDAR UM SEGREDO. QUANDO A BOCA SE CALA, FALAM AS PONTAS DOS DEDOS.

 

Um dos motivos da queda de popularidade de Lula é a inflação dos alimentos, que somou 162% nos últimos 12 anos. Só em 2024, os preços registraram uma alta média de 7,69%, superando a inflação oficial do país, que ficou em 4,83% (segundo o IPCA), e a tendência para os próximos meses é de alta.

Enquanto procura os "pilantras dos ovos", o petista leva os lábios ao trombone para avisar que o preço da carne baixou. Mas não é o que se vê quando se vai a um açougue ou supermercado. Quando eu redigi este post, o site do Extra anunciava picanha Bassi por R$ 89 o quilo, e filé mignon, maminha e coxão-mole por R$ 80, R$ 71,90 e R$ 48,90 o quilo, respectivamente. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Saramago ensinou que a pior cegueira é a mental, e a sabedoria popular, que não adianta trocar as rodas da carroça quando o problema é o burro. 
A reforma ministerial de Lula parece ter sido concebida por um cego — ou por um mandatário do século XIV, segundo a lógica das sesmarias e das capitanias hereditárias: os partidos conservam territórios na Esplanada mesmo que os prepostos anteriores tenham se revelado técnica ou moralmente incapazes. 
A petista Márcia Lopes confirmou que seria a nova chefe do Ministério das Mulheres antes que seu nome fosse formalizado, e foi empossada sem que Lula explicasse qual incapacidade motivou o afastamento de sua antecessora, a também petista Cida Gonçalves. 
No mês passado, quando o deputado Pedro Lucas, do União Brasil, se desnomeou ministro do Ministério das Comunicações dias depois de sua indicação vir a público, Lula manteve a pasta como feudo do mesmo partido. Isso depois de ter nomear Frederico Siqueira filho (réu por improbidade em Pernambuco) para o lugar de Juscelino Filho (denunciado ao STF por corrupção). Ambos são afilhados políticos do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. 
Acossado pelo escândalo do assalto contra os aposentados, Lula trocou seis por meia dúzia ao substituir Carlos Lupi, mandachuva do PDT, pelo segundo na hierarquia da pasta, Wolney Queiroz, que era deputado do mesmo partido. Ambos sabiam da fraude desde 2023 e pouco ou nada fizeram a respeito.
Há quase tudo nas mexidas ministeriais de Lula, exceto lógica e interesse público. Ao se mobilizar para atrapalhar a tramitação de um requerimento de CPI do INSS, o governo sinaliza que tem algo a esconder. 
A falha, que atinge justamente os vulneráveis de quem o macróbio se diz protetor, envolve sindicatos — agremiações com identificação petista —, reaviva lembranças de crimes do passado e cria um enrosco monumental para os planos de reeleição para 2026. Como se não bastasse, a AGU deixou de fora dos bloqueios de bens pelo menos quatro entidades citadas pela PF, entre as quais, o Sindnapi, que tem como vice-presidente Frei Chico, que não é frei nem se chama Francisco, mas é irmão de Lula.
Triste Brasil. 

Coxão-mole rende bons bifes acebolados, embora fique devendo no quesito "maciez". Patinho tem preço equivalente e é excelente moído, corado em cubinhos para strogonoff e em bifes à milanesa, mas não é a melhor opção para bifes grelhados e acebolados. Já a fraldinha é um corte de segunda macio e suculento, bom para assar na churrasqueira ou no forno e grelhado em bifes na frigideira. Seu preço é semelhante ao do coxão mole e do patinho nos supermercados; mas sobe para R$ 80 na Bassi e R$ 99 na versão sem gordura da Swift.
 
Fraldinha na frigideira não tem mistério; basta cortá-la em bifes médios (cerca de dois dedos de espessura), dourar de 2 a 4 minutos de cada lado, em fogo alto usando, a gordura de sua preferencia (manteiga, azeite ou uma mistura dos dois) e temperar com sal e pimenta-do-reino a gosto. 
 
Na pressão, 
não coloque água. Regue o fundo da panela com um fio de azeite, coloque a carne com a gordura virada para baixo, cubra com rodelas de cebola, tempere com pimenta-do-reino moída na hora (ou pimenta calabresa), sal refinado, alho espremido e azeite a gosto,  tampe a panela, leve ao fogo alto e conte 35 minutos a partir do momento em que a válvula começar a soltar vapor.
 
Transfira a carne para uma travessa, corte em fatias de 1,5 cm, cubra com as rodelas de cebola, regue com o molho que sobrou no fundo da panela e sirva com o acompanhamento que preferir — arroz branco, salada de folhas, farofa, batatas fritas, etc. 

Bom apetite.