A empresa criada em 1º de abril 1975 por Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne sempre se destacou pela excelência de seus produtos, e alguns deles — como o icônico iPhone — definiram rumos para toda a indústria.
Dito com outras palavras, para sobreviver, os fabricantes precisam tornar seus produtos obsoletos — mesmo que ainda funcionem bem e tenham boa aceitação no mercado. Com ciclos de inovação cada vez mais curtos, gigantes como Apple, Google, Microsoft, Amazon, Motorola, Samsung etc. precisam fazê-lo antes que os concorrentes o façam, e isso torna a obsolescência programada uma estratégia de sobrevivência.
A Apple, que por anos foi referência em inovação e longevidade, acabou sucumbindo à obsolescência programada de um modo que muitos consideram mal-intencionado. Um bom exemplo é o "batterygate": a pretexto de preservar a estabilidade do sistema, a Maçã reduziu o desempenho dos iPhones com baterias degradadas sem alertar os usuários. Mas falta de transparência a obrigou a oferecer descontos na troca das baterias e criar novas opções de monitoramento de desempenho no iOS.
A empresa de Cupertino sempre se destacou pelos saltos perceptíveis de geração em geração. Hoje, no entanto, uma parcela crescente dos usuários vive uma espécie de "obsolescência ao avesso". Não se trata exatamente da sensação de que seus dispositivos ficaram para trás, mas da percepção de que nada novo realmente relevante os está movendo adiante.
Ano após ano, os lançamentos parecem cada vez mais previsíveis — até repetitivos. Antigamente, sempre que um novo iPhone deixava o anterior "parecendo velho", havia um impulso natural pela troca — nem sempre racional, mas emocionalmente legítimo. Hoje, a falta de diferenciação tangível entre gerações sucessivas faz com que o usuário não veja razão para gastar dinheiro na substituição de um smartphone que está funcionando bem por um modelo equivalente. Assim, a interrupção do ciclo do desejo faz com que parte da magia que sempre envolveu a marca se desvaneça: o produto continua funcional, mas o encanto que estimulava a troca periódica já não está mais ali.
A Apple ainda é admirada por seu ecossistema coeso, design refinado e estabilidade, mas já não dita o ritmo da inovação como antes. Ironicamente, ao escapar da obsolescência programada tradicional, ela criou a obsolescência do desejo, ou seja, a perda daquela urgência simbólica que sempre motivou seus usuários mais fiéis. O resultado é uma obsolescência menos agressiva, que não é imposta por limitações técnicas, mas pela ausência de provocação criativa, e que não decorre de chips limitados ou baterias sabotadas, mas de ciclos de inovação que deixaram de emocionar.
Depois de décadas como símbolo máximo da antecipação do futuro, a Apple parece acorrentada à manutenção do presente. Não que tenha perdido a relevância — sua engenharia continua admirável, seu ecossistema segue robusto e sua visão de privacidade permanece exemplar —, mas algo se deslocou no terreno da imaginação. Ao escapar da obsolescência programada tradicional, a marca corre o risco de se tornar obsoleta em sua promessa de reinvenção.
Talvez o futuro da Maçã esteja garantido por sua solidez técnica, mas o futuro que Jobs nos prometia, feito de encantamento, ousadia e disrupção, parece suspenso. E quando até o futuro entra em modo de espera, é sinal de que algo essencial precisa ser atualizado.

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