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segunda-feira, 20 de abril de 2020

SEM RUMO NEM PRUMO, SEM EIRA NEM BEIRA



ATUALIZAÇÃO:

Bolsonaro resolveu concorrer a funcionário do mês. Para ele, não tem final de semana, ponto facultativo nem feriado. Trabalha 27/7, e todo santo dia presta mais um desserviço à nação. Ontem — em pleno domingo, portanto —, dizem os que ainda tentam explicar o comportamento do presidente que para manter fervente o caldeirão em que prepara ambrosia que serve a seus apoiadores atávicos (podia lhes servir feno ou capim, que dava no mesmo), o presidente inconsequente participou de um protesto defronte ao QG do Exército.

Os manifestantes portavam cartazes com mensagens contra a democracia e proibidas pela Constituição, contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso, defendendo uma intervenção militar e pedindo a volta do AI-5 — que fechou o Congresso, cassou políticos, suspendeu direitos, instituiu a censura à imprensa e levou à tortura e morte de presos políticos. O chefe do Executivo, por seu turno (note que não estamos falando do zé da esquina numa conversa de botequim do PRESIDENTE DA REPÚBLICA), defecou suas pérolas de sabedoria tendo ao fundo uma das faixas que dizia: “Intervenção militar com Bolsonaro no poder” (outras tinham textos parecidos, aparentando terem sido fabricadas pelo mesmo fornecedor).

Sem máscara — ainda que a tarefa de afrontar Mandetta já não conste da lista de prioridades presidencial, é de pequenino que se desentorta o pepino e, portanto, imperativo mostrar ao novo auxiliar quem é o galo do terreiro —, o capitão das trevas falou em democracia, mas em nenhum momento condenou os pedidos proibidos pela Constituição e antidemocráticos; pelo contrário, disse que acredita neles:

Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. Mais que um direito vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com o seu presidente, para fazer tudo aquilo que for necessário para que nós possamos manter a nossa democracia e garantir aquilo que há de mais sagrado entre nós, que é a nossa liberdade”.

Resumo da ópera: Pela enésima vez, Bolsonaro cagou e andou para a recomendação da pasta da Saúde, e o novo ministro, ao silenciar, aceitou tacitamente o papel de coadjuvante na ópera bufa protagonizada pelo chefe de turno. Virou uma espécie de anti-Mandetta.

Por uma trapaça da sorte, Bolsonaro constrangeu Teich justamente no dia de sua estreia. O novo integrante da Esplanada, ao participar da reunião com os ministros da Saúde dos países do G-20, disse que "o Brasil reconhece o papel da Organização Mundial da Saúde" (quem, nunca é demais lembrar, recomenda o isolamento social).

Ao estrelar uma manifestação que tinha como motes principais a defesa da interrupção do isolamento e uma intervenção militar, diz Josias de Souza, o capitão alinhou o país não ao G-20, mas a uma espécie de G-4: além do Brasil paralelo que Bolsonaro imagina presidir, apenas três ditaduras menosprezam o vírus e renegam o isolamento: Bielorrússia, Turcomenistão e Nicarágua.

Teich precisa informar se o seu "alinhamento completo" com Bolsonaro inclui a aversão à ciência. A crise do coronavírus veio de fora, mas a abordagem errática do flagelo é um produto genuinamente nacional. Foi produzida por Bolsonaro. Sua principal característica é a ausência de governo. O presidente detonava o isolamento defendido por Mandetta, que espetava o chefe em público. Agora, seu comportamento revela que o desgoverno permanece.

O ministro precisa informar o que pretende fazer se Bolsonaro lhe pedir para dançar rumba numa UTI apinhada de pacientes da Covid-19. Bolsonaro precisa esclarecer o que pretende ao continuar agindo assim, e o povo e os demais Poderes precisam dizer até onde isso vai chegar. Ou, melhor ainda, pôr um ponto final nessa palhaçada. Como dito antes, é de pequenino que se desentorta o pepino, ou, em outras palavras, é preciso cortar o mal pela raiz.

Segue o texto que eu havia escrito ontem, antes de saber de mais essa estultice bolsonariana:

Por vezes eu mesmo me surpreendo com o tanto de pessoas (entre as quais me incluo) que se surpreendem com o desserviço que nos vem prestando o capitão das trevas no comando desta Nau de Insensatos.

Os dicionários definem como surpresa fato ou coisa que causa admiração ou espanto por ser inesperado, repentino, imprevisto” — daí a minha surpresa, pois todo mundo sabe (ou deveria saber) que Bolsonaro foi eleito porque os dois ou três candidatos que poderíamos ter testado foram descartados no primeiro turno das eleições passadas, juntamente com o medonho circo de horrores que posava de candidato à presidência. Para sair sinuca dessa sinuca de bico, a parcela pensante do eleitorado não teve alternativa que não unir forças com as macacas de auditório do “Mito” — que não é a essência do mal, como alguns afirmam, mas apenas um “um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar“ — como bem o definiu o general Ernesto Geisel.

Defenestrado de seu habitat natural pela decisão complacente do Superior Tribunal Militar, o oficial de baixa patente reformado e admirador confesso da ditadura resolveu tentar a sorte na política. Dois anos depois cumprir dois anos de mandato como vereador, disputou e conquistou uma cadeira na Câmara Federal (foi o deputado mais votado no Rio de Janeiro, o que abona minha tese sobre o total despreparo do eleitor brasileiro, para o qual Pelé nos alertou ainda nos anos 1970) e renovou o mandato nas seis eleições subsequentes.

Em seus 27 anos como deputado do baixo clero, Bolsonaro aprovou dois míseros projetos — talvez porque se empenhasse em tempo integral a colecionar processos por calúnia, injuria, difamação, racismo, apologia ao estupro, e por aí vai (a maioria movida por políticos de esquerda, o que... bem, para bom entendedor, meia palavra basta).

Quando foi nomeado ministro do Trabalho pelo caçador de marajás de araque Fernando Collor de Mello, o sindicalista Antonio Rogério Magri, perguntado sobre sua qualificação para o cargo, respondeu que “mesmo não sendo cozinheiro, sei quando a sopa está salgada”. Meses depois, ao ser flagrado usando o carro oficial para levar sua pet de estimação ao veterinário, Magri se justificou: a cachorra é um ser humano, e eu não hesitei” (qualquer semelhança com a lunática ex-presidente petista, nefelibata da mandioca e estocadora de vento é mera coincidência).

Sem menosprezar a responsabilidade e as dificuldades de governar um país como o Brasil, se Lula e Dilma conseguiram, qualquer um consegue, que desde que não seja um completo idiota, tenha alguma experiência na política e se cerque de ministros competentes e assessores confiáveis. Talvez não faça um governo brilhante e não se reeleja, mas é possível que termine sua obscura gestão sem sobressaltos. O problema é que quanto mais despreparado for o mandatário da vez, maiores as chances de sucumbir à febre do poder transmitida pela picadura da mosca azul. E como é impossível governar sozinho num regime presidencialista, o infectado se vê forçado (e acaba se acostumando) a fazer alianças espúrias e, por gratidão, interesses escusos ou coisa pior, nomear para cargos importantes gente sem envergadura nem estofo para exercê-los.

Michel Temer é um bom exemplo: quando se certificou de que assumiria o posto da quintessência da boçalidade, prometeu um “ministério de notáveis”, mas nomeou uma notável agremiação de enrolados na Justiça. Mais adiante, delatado pelo moedor de carne bilionário e flechado pelo ex-procurador geral Rodrigo Janot, empenhou as cuecas (as dele e as nossas) na comprar votos bastantes para evitar seu afastamento e subsequente processo de impeachment. Mas o deputado tinha décadas de janela e anos de vão de porta, 15 só como presidente do PMDB (hoje MDB). Já Dilma, quando o caldo entornou, não tinha sequer café quente no bule, tamanha a ojeriza que seu pedantismo e arrogância despertavam nos subalternos e nos parlamentares (inclusive entre alguns do seu próprio partido).    

Por coincidência, má influência ou incompetência, Bolsonaro, se não loteou a Esplanada entre um bando de corruptos (embora não faltem figurinhas carimbadas no seu ministério, como veremos a seguir), deve ter recrutado seus auxiliares em algum manicômio, haja vista a quantidade de ideologistas extremados, terraplanistas, criacionistas e baba-ovos do ex-astrólogo Olavo de Carvalho, guru do clã Bolsonaro. E vem eliminando as honrosas exceções devido ao protagonismo decorrente dos bons serviços prestados, como foi o caso do Ministro da Saúde. Incapaz de elevar sua estatura, o presidente rebaixa o teto de seu gabinete. Desconfortável com a presença de ministros cuja popularidade supere a sua própria, tornou-se useiro e vezeiro em arrancar qualquer plantinha que tenha potencial para lhe fazer sombra.

Bolsonaro é do tipo de chefe que acha que o chefe sempre tem razão (vide figura que ilustra esta postagem). Da sua ótica distorcida, a patética caneta Bic de R$ 2 que empunha tem o poder de uma bomba nuclear, e trabalhar sob seu comando é como ser currado e ter de pedir desculpas por estar de costas.

Observação: Entre as tais figurinhas carimbadas vale citar os ministros Álvaro Antônio — envolvido no escândalo do laranjal do PSL, mas que continua desafiando a lei da Gravidade —; Onyx Lorenzoni — que admitiu a prática de caixa 2 —; Ricardo Salles — réu por improbidade administrativa e alvo de uma acusação por danos ao Erário (por ter ordenado a retirada de um busto do guerrilheiro Carlos Lamarca do parque estadual do Rio Turvo, na cidade de Cajati) —; Tereza Cristina, investigada por suposto favorecimento à JBS quando era secretária do agronegócio no Mato Grosso do Sul —; a proselitista religiosa Damares Alves — alvo de duas investigações do MPF por discriminação contra os povos indígenas — entre outros que são réus ou investigados na Justiça.

Voltando ao morubixaba de aldeia que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar — como disse há coisa de um ano, numa evidente paráfrase ao general João Figueiredo, o último ditador, que disse (litteris): “estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se vou me sair bem: no fundo o que gosto mesmo é de clarim e de quartel“ —, resta saber por que cargas d’água Bolsonaro age assim. Eu mesmo já desenvolvi uma porção de teorias, mas nenhuma delas me pareceu satisfatória.

No livro “POR DENTRO DA MENTE DE BOLSONARO”, o psicanalista Tales Ab'Sáber — autor de Em Lulismo, carisma pop e cultura anticrítica (2011), Dilma Rousseff e o ódio político (2015) e Michel Temer e o fascismo comum (2018) — afirma que o capitão sempre foi rigorosamente coerente, embora nem sempre tenha se expressado com clareza devido a sua linguagem falha, que precisa ser escondida ao máximo do debate público.

Aliás (e agora sou eu quem diz), o atentado em Juiz de Fora a um mês do primeiro turno funcionou como um poderoso cabo eleitoral, pois não só manteve Bolsonaro sob os holofotes da mídia, como justificou sua ausência nos debates, evitando que seu total despreparo aflorassem em toda sua plenitude, o que poderia afugentar boa parte do eleitorado (isso no primeiro turno, porque no segundo os brasileiros de bem teriam votado no próprio Pazuzu para impedir o retorno do lulopetismo ao poder).

Discursando — seja lendo, seja de improviso — Bolsonaro encanta tanto quanto um burro peidando, a não ser para sua claque amestrada. Em contrapartida, Ciro Gomes, a exemplo do demiurgo de Garanhuns, domina com maestria a arte da oratória. Seus discursos inflamados, vertidos em linguagem rasteira, soam como música aos ouvidos do eleitorado mais carente e menos esclarecido. Um debate entre os dois antes do segundo turno teria sepultado a candidatura do capitão das trevas, o que poderia ser complicado, dependendo de quem fosse escalado para enfrentar a marionete de Lula no embate final.

Observação: Deixo bem claro que não estou endossando a estapafúrdia teoria de Lula (de que o atentado contra Bolsonaro não passou de uma farsa). O ex-presidente ladrão tem o péssimo hábito de medir os demais pela própria régua. Ao acusar Bolsonaro de encenação, o molusco certamente pensou no que faria se estivesse no lugar do adversário. Como fez no "atentado" contra sua caravana do petista no Paraná, em maio de 2018, e no traque de festim que teria “explodido” na porta dos fundos do Instituto Lula, incidentes que os petistas encheram de fermento, sovaram, deixaram triplicar de tamanho para só então servir à imprensa cumpanhêra.

Para concluir esta lengalenga — afinal, já falei demais para uma segunda-feira, véspera do feriado de Tiradentes e em meio a uma quarentena compulsória que está deixando meio mundo louco (a outra metade já enlouqueceu), saliento que qualquer coisa pode ser dita de Bolsonaro, menos que ele tenha enganado alguém a respeito de quem realmente é. Para reforçar meu ponto de vista, reproduzo a seguir algumas pérolas produzidas pelo presidente quando ele ainda dava expediente no parlamento:

Sou contra os direitos humanos sim;
Sou a favor da tortura sim;
Desprezo homossexuais e quero que eles sejam discriminados sim;
Este país não tem solução por meio de uma ordem democrática não, eu fecharia o Congresso no dia seguinte que chegasse ao poder e mataria trinta mil pessoas de esquerda, a começar por Fernando Henrique Cardoso;
O erro da ditadura foi torturar e não matar;
Somos um país cristão, não existe essa historinha de estado laico não, vamos fazer o Brasil para as maiorias, as minorias têm que se curvar às maiorias ou simplesmente desaparecer;
Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, botar esses picaretas para correr; se gosta tanto da Venezuela, essa turma tem que ir para lá.

Observação: Para se deleitar com ensinamentos mais recentes, proferidos pelo capitão depois que ele se aboletou no Palácio do Planalto, clique aqui e aqui.  

domingo, 19 de setembro de 2021

COISAS DO BRASIL



O habito não faz o monge nem a faixa, o presidente. Há que haver conteúdo sob ou por detrás desses adereços indumentários. Notadamente o enfeite tiracolar transferido pelo ex-presidente a seu sucessor na cerimônia de posse — que, desde os idos de 1972, acontece sempre no dia 1º de janeiro do ano subsequente ao da eleição e tem início na Catedral de Brasília, a despeito do inciso VI do artigo 5º da Constituição. Coisas do Brasil.

Depois de desfilar no Rolls Royce Presidencial até o prédio do Congresso Nacional, Bolsonaro assinou o termo de posse, jurou "manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil" e recebeu de Michel Temer a faixa presidencial.

Bolsonaro jamais leu a Constituição que jurou defender e, como o escorpião da fábula, é incapaz de contrariar a própria natureza. Apesar de reconhecer que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar, foi expelido da Escola de Oficiais do Exército por indisciplina e insubordinação (mas acabou sendo absolvido das acusações pelo STM). No ano seguinte, elegeu-se vereador e depois deputado federal por sete mandatos consecutivos, ao longo dos quais aprovou dois míseros projetos e colecionou mais de trinta ações criminais. Em 2018, foi alçado à Presidência por uma esdrúxula conjunção de fatores, entre os quais um mal explicado atentado que sofreu durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). 

Bolsonaro disputa com Dilma — o poste com que Lula empalou os brasileiros em 2010 — o título de pior mandatário desde a redemocratização (e não por falta de concorrentes de peso). Com a autoridade de quem sabe das coisas, o general Ernesto Beckmann Geisel — penúltimo presidente da ditadura e mentor intelectual da reabertura política lenta, gradual e segura — definiu o então capitão da ativa comoum caso completamente fora do normal, inclusive mau militar”.

O último general-presidente, João Baptista de Oliveira Figueiredo que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo (povo que, segundo ele, "não sabe nem escovar os dentes, quanto mais votar para presidente"), negou-se a passar a faixa presidencial a José Sarney (faixa a gente transfere para presidente, não para vice, e esse é um impostor). Coisas do Brasil.

A título de contextualização, vale lembrar que a Revolução de 1964 — cuja data “comemorativa” é 31 de março — foi um golpe de Estado desfechado na madrugada de 1º de abril, por líderes civis e militares conservadores, a pretexto de afastar do poder um grupo político que supostamente flertava com o comunismo.

Nos movimentos pró “Diretas Já”, pugnava-se pela aprovação da emenda constitucional Dante de Oliveira, que visava restaurar o direito às eleições diretas suspenso pelos militares. No dia da votação, exatos 20 anos depois do golpe, uma manobra de bastidores tirou da Câmara 112 deputados. A despeito do clamor das ruas, a emenda foi rejeitada — em outras palavras, o povo foi traído (mais uma vez) pela classe política, o câncer social que, infelizmente, é um mal necessário. Coisas do Brasil.

O desgaste do governo propiciou a vitória de Tancredo Neves em um colégio eleitoral — por 480 votos contra 180, a raposa mineira derrotou Paulo Maluf (que era apoiado pelos militares) depois de unir o PMDB à chamada Frente Liberal — formada por dissidentes do PDS, que dava sustentação ao governo militar. 

Em janeiro de 1985, o deputado federal Ulysses Guimarães — que chegou a ser cogitado para disputar a presidência da República pelo PMDB contra Maluf, mas acabou sendo preterido pela chapa “mista” formada com o PFL de Sarney — entregou a Tancredo o programa denominado Nova República, que previa eleições diretas em todos os níveis, educação gratuita, congelamento de preços da cesta básica e dos transportes, entre outras benesses.

Com esperança e ânimos redobrados, os brasileiros ansiavam pela chegada do dia 15 de março, data prevista para a posse do primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar. Mas Tancredo foi hospitalizado 12 horas antes da cerimônia e teve o óbito declarado 38 dias e sete cirurgias depois — ironicamente, no feriado de 21 de abril, data em que o Brasil homenageia Tiradentes, o mártir da independência. Coisas do destino.

Tancredo levou para o túmulo a esperança de milhões de brasileiros, mas deixou de herança um neto que  envergonharia o país e um mix de oligarca maranhense, escritor, poeta e acadêmico chamado José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mais conhecido como “Zé do Sarney”. A possibilidade de Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara, ser guindado ao Palácio do Planalto chegou a ser cogitada, mas prevaleceu o entendimento de que caberia a José Sarney, vice na chapa de Tancredo e rebotalho do coronelismo nordestino, assumir a Presidência. E foi o que aconteceu, para o bem e para o mal.

Observação: A origem da alcunha — que o político maranhense usava para fins eleitorais desde 1958 e acabou incorporando oficialmente em 1964 — é atribuída ao fato de seu pai ter sido batizado Sarney de Araújo Costa em homenagem a um inglês de conhecido como Sir Ney, em cuja fazenda José Ribamar nasceu. Coisas do Maranhão.

Fisiologista como poucos e puxa-saco de carteirinha dos poderosos de plantão, Sarney (o filho) sobreviveu à ditadura, mas sua infausta gestão à frente da Presidência foi marcada pela hiperinflação. Tanto o Plano Cruzado quanto os "pacotes econômicos" que se lhe sucederam foram baseados no congelamento de preços e salários, e da feita que repetir o mesmo erro várias vezes esperando produzir um acerto é a melhor definição de idiotice que eu conheço, não causou estranheza o fato de todos fazerem água em questão de meses. 

Em 20 de fevereiro de 1987, pressionado pela queda nas reservas cambiais, Sarney fez um pronunciamento em rede nacional anunciando a suspensão, por tempo indeterminado, do pagamento dos juros da dívida externa — evitando usar a palavra "moratória", como se isso produzisse algum resultado positivo (ou menos negativo) na medida adotada. Coisas do Brasil.

Sarney deixou a Presidência com a popularidade em patamares abissais, tanto que transferiu seu domicílio eleitoral para o recém-criado Estado do Amapá, pelo qual teria chances de conseguir uma vaga no Senado. Como era esperado, seus adversários impugnaram se insurgiram contra o cambalacho, mas o STF o avalizou. Conta-se que o ministro Celso de Mello, que teve os ombros recobertos pela suprema toga graças ao oligarca maranhense, votou pela impugnação da candidatura do benfeitor. 

O ex-ministro da Justiça Saulo Ramos quis saber por quê. Mello respondeu que a Folha havia publicado que Sarney tinha os votos certos de vários ministros e citara seu nome como um deles. "E você votou contra porque a Folha noticiou que votaria a favor?", perguntou Saulo. "Exatamente", respondeu Mello. E Saulo: "Então você é um juiz de merda!"

Sarney deixou a vida pública em 2014, aos 83 anos, a pretexto de se dedicar à literatura em tempo integral. Conta-se que, após um dilúvio assolar o Maranhão, a então governadora Roseana Sarney — filha do macróbio — telefonou ao pai para informar que metade do Estado estava debaixo d’água. Sarney perguntou-lhe candidamente: "A sua metade ou a minha?

Nas eleições gerais de 2018, os pimpolhos do velho cacique maranhense foram penalizados na urnas: nem Zequinha se reelegeu deputado, nem Roseana — que governou o Maranhão por quatro legislaturas desde 1995 — conseguiu desbancar o pecedebista Flavio Dino — que se reelegeu governador com 59,29% dos votos válidos.

Como dito parágrafos acima, Figueiredo se recusou a transferir a faixa presidencial a Sarney. Não foi o primeiro nem o único caso na história republicana do Brasil. Coisa de país de terceiro mundo? Não necessariamente. Nos EUA, o ex-presidente Donald Trump, ídolo e muso inspirador do capitão-cloroquina, não só deu trabalho para ser desencalacrado do cargo como não compareceu à cerimônia de posse de Joe Biden, o que representa uma quebra de protocolo na tradição democrática americana, mas, como dito, encontra apoio na ala conservadora da política brasileira.

Na história do Brasil, o exemplo mais recente de um chefe do Executivo que se recusou a comparecer à posse de seu sucessor foi Figueiredo, conforme já foi dito nesta postagem. Sobre Sarney, o general disse à revista IstoÉ, pouco antes de sua morte, em 1999: "Sempre foi um fraco, um carreirista. De puxa-saco passou a traidor. Por isso não passei a faixa presidencial para aquele pulha. Não cabia a ele assumir a Presidência".

A quebra de protocolo em Brasília foi relembrada pelo neto do general, minutos depois de o presidente americano anunciar que não compareceria à posse do sucessor. "Meu avô também não compareceu à posse de seu sucessor, que chegava ao poder de forma ilegítima. Agiu conforme suas convicções. Assim devem fazer os homens de caráter!", postou no Twitter o empresário Paulo Figueiredo Filho. Coisas do Brasil.

Figueiredo não foi o único a se recusar a cumprir os ritos de transição no Brasil. A República ainda engatinhava quando Floriano Peixoto, que governou de 1891 a 1894, decidiu não comparecer à posse de Prudente de Morais porque não via com bons olhos a chegada de um civil ao poder. Afonso Pena também não passou a faixa a seu sucessor, Nilo Peçanha (e nem poderia, porque Nilo era vice de Pena, a quem substituir em virtude de sua morte, em 1909). Em 1954, Café Filho viu-se presidente do dia para a noite e começou a governar o país sem a bênção de seu antecessor, Getúlio Vargas, que "foi suicidado" com um tiro no peito em 24 de agosto de 1954.

Após o impasse entre Figueiredo e Sarney, somente dois presidentes eleitos diretamente (FHC e Lulareceberam e passaram a faixa a seus sucessores. O primeiro presidente eleito diretamente após a ditadura militar — o pseudo caçador de marajás Fernando Collor de Mello — recebeu a faixa de Sarney em março de 1990, mas renunciou ao mandato em dezembro de 1992 (e foi impichado mesmo assim, de modo que não passou a faixa a Itamar Franco).

Itamar, por sua vez, tomou posse em uma cerimônia breve e só usou a faixa presidencial no último de seus dois anos e três dias de governo, quando a colocou sobre os ombros de FHC. O tucano, presidente por dois mandatos, cumpriu o mesmo protocolo na posse de Lula, em 2003. Oito anos depois, foi a vez de Dilma ser destituída em um processo de impeachment — e não comparecer à posse de Michel Temer. Em janeiro de 2019, o vampiro do Jaburú repassou a faixa ao mandatário de fancaria que, por mal de nossos pecados, diz que "só Deus o tira da cadeira presidencial". Coisas do Brasil.

Bolsonaro na presidência era tudo de que o os brasileiros não precisavam, mas tornou-se a única alternativa válida depois que o ilustríssimo eleitorado tupiniquim o escalou para enfrentar o bonifrate do presidiário de Curitiba no segundo turno do pleito de 2018. Voltando à paráfrase de Bolsonaro a uma fala de Figueiredo, “plagiar é, implicitamente, admirar”, como bem disse o intelectual lusitano Júlio Dantas. Mas a pergunta que não quer calar é: se não nasceu para ser presidente, por que Bolsonaro fez da reeleição seu projeto de governo?

"Prometo que, se eleito, vou trabalhar noite e dia, durante os quatro anos do meu mandato… para ser reeleito”. Eis a promessa mais sincera e verdadeira feita pelo então candidato, como salientou o ex-delegado federal Jorge Pontes num artigo publicado em Veja. "Teremos um lapso de quatro anos praticamente jogados fora, destinados apenas à pavimentação de mais um — improvável — mandato presidencial", profetizou o policial, em agosto do ano passado.

Assim, graças à verdadeira herança maldita deixada pelo grão-duque do Tucanistão, assistimos a um mandatário eleito com juras de grandes mudanças e discursos anti-establishment emular Dilma, a inesquecível, e fazer o diabo para se reeleger.

A vitória de Bolsonaro foi um caso clássico de emenda pior que o soneto. Embora seja preferível acender a vela a amaldiçoar a escuridão, unir forças com os sectários do bolsonarismo boçal para evitar a volta da cleptocracia lulopetista foi como libertar da garrafa um gênio malfazejo e não saber como prendê-lo de volta. E urge fazê-lo, pois o Brasil dificilmente sobreviverá a mais cinco anos sob o descomando desse mafarrico.  

Segundo a revista eletrônica Crusoé, o presidente de fato desta banânia (falo do centrista Ciro Nogueira) disse a um empresário que Bolsonaro está "cada vez mais mercurial e incontrolável". O diagnóstico perturbador do ministro recém-empossado com promessas de carta branca jamais cumpridas reflete o estado de ânimo atual de setores do Centrão e de boa parte do Congresso. Embora estejam bem servidos em postos estratégicos e se lambuzando no poder desde que que o chefe do Executivo de festim lhes entregou a chave do cofre, a centralhada já entendeu que a aliança tem prazo de validade, e que esse prazo não é longo. Para as marafonas do parlamento, Bolsonaro é um político fadado ao infortúnio, seja pelo impeachment, pela cassação no TST ou derrota nas urnas. E convenhamos que não é preciso ser nenhum "Nostradamus" para fazer tal previsão.

Ainda segundo a reportagem, depois que o desembarque do governo passou a ser debatido a sério entre os partidos que compõem o Centrão, o presidente pato-manco enviou pelo líder do governo na Câmara — o ilibadíssimo Ricardo Barros, a quem o senador Omar Aziz, relator da CPI do Genocídio, se refere como responsável por um balcão de negócios com o Congresso que está a todo vapor — o recado de que continua em pé o esforço para conter possíveis defecções em sua base de apoio.

Entrementes, a despeito da carestia, a inflação oficial segue acima do esperado. O IPCA, medido pelo IBGE, acelerou para 9,68% no acumulado em 12 meses, levando a uma onda de revisões entre os economistas. Na segunda-feira, 13, o Boletim Focus, do Banco Central, registrou a 23ª alta consecutiva da mediana das projeções para o IPCA no fim de 2021, que agora está em 8%. Mas isso é assunto para uma próxima postagem.

sábado, 18 de julho de 2020

QUEM CONTROLA O PASSADO CONTROLA O FUTURO; QUEM CONTROLA O PRESENTE CONTROLA O PASSADO


Deve ir ao ar no próximo dia 22 o final da série “DA PRAGA DA CASERNA AO CAPITÃO CAVERNA”, que eu comecei a publicar no último dia 6. Na sequência, pretendo concluir a novela “A RENÚNCIA DE JÂNIO, SUAS CONSEQUÊNCIAS E OUTRAS CURIOSIDADES”, cujos primeiros capítulos foram publicados nos dias 151617 e 24 de abril e em 3 e 7 de maio, mas uma avalanche de estultices bolsonarianas me levou a suspender. Não obstante, o que foi publicado em ambas até agora dá uma boa ideia de como e por que o Brasil é o que é. 

Da filosófica anedota sobre a criação do mundo (relembrada nesta postagem) à eleição de 2018, passando por diversas farsas históricas — em que mulas são representadas como fogosos corcéis e golpes militares, como atos de bravura e patriotismo —, nosso “esclarecidíssimo” eleitorado é o principal responsável pelo governo que aí está.

Diz-se que cada povo tem o governo que merece e que quem vota em político incompetente e/ou corrupto não pode jamais reclamar de estar mal representado. E o que seria de esperar de um povo composto majoritariamente por analfabetos funcionais e apedeutas de quatro costados? Basta somar dois mais dois para chegar achar quatro — onde quatro é a inarredável conclusão de que, para se reelegerem, maus políticos dependem de um eleitorado desinformado, pouco esclarecido e nada politizado. 

Cidadão politizado reivindica seus direitos. Daí o governo fingir que se preocupa com (e investe em) Educação. Enquanto a plebe ignara continuar acreditando, continuará votando. Deu pra entender ou eu preciso desenhar?

Observação: Só a gestão atual o MEC amargou três iluminados: um boliviano meio avariado, que foi penabundado depois de 97 dias; um paulistano púgil e incompetente, que durou 14 meses — talvez por ter o perfil que agrada tanto ao capitão da caverna sem luz quanto ao triunvirato de “empefilhos” —; e um professor pós-doutor de currículo inconsistente, que, após cinco dias no cargo, escreveu (ou pediu a alguém que escrevesse) sua carta de demissão, antes que descobrissem que ele fora reprovado até no teste do pezinho. O quarto e penúltimo — pois certamente haverá outro depois que este pedir o boné ou for empurrado para fora da Esplanada   é um pastor que ainda não teve tempo de mostrar a que veio. Tomara que não seja como certa pastora que abrilhanta a esplanada dos ministérios e esbanja bom senso e comedimento nas reuniões ministeriais — como aquela de altíssimo nível que aconteceu no dia 22 de abril, durante a qual essa senhora esbravejou que “pegaria pesado” e pediria a prisão de governadores e prefeitos.

Se o caro leitor acha que estou exagerando, permita-me lembrá-lo de que somente um dos sete luminares que pilotaram a Nau dos Insensatos desde a redemocratização não tem contas a acertar com a (nem sempre justa mas invariavelmente lerda) Justiça brasileira — a propósito, não deixe de ler essa filosófica anedota sobre o “inferno brasileiro.

E mesmo o pomposo grão duque tucano tem esqueletos no armário, ainda que dificilmente venha a ser assombrado publicamente por eles: se uma hipotética investigação envolvendo alguém que já colheu 89 margaridas no jardim da existência resultasse em condenação, a sentença só transitaria em julgado quando esse alguém já estivesse na terceira reencarnação — a não ser que o acusado fosse Noé ou Matusalém. Quando por mais não seja, o risco de FHC vir a ser incomodado pelo “Fantasma do Natal Passado” é nulo — a menos que o tucano faça um exame de consciência, mas isso já é outra conversa.

Observação: Durante o primeiro mandato de FHC, uma PEC aprovada na Câmara por 369 votos a 11 estendeu a reeleição — apenas uma vez para um mandato subsequente e sem restrição para um pleito não consecutivo — a chefes dos Executivos Federal, Estaduais e Municipais (e respectivos vices). Após uma série de articulações iniciadas em 1995, o rolo compressor governista comprovou sua força. Dias após a aprovação na Câmara, a Folha revelou que pelo menos quatro deputados haviam recebido R$ 200 mil (cada) em troca do voto favorável à emenda. A oposição pediu a abertura de uma CPI, mas Michel Temer (PMDB), na época presidente da Câmara, e outros nomes influentes se mobilizaram para barrar a investigação, e o então “engavetador-geral” Geraldo Brindeiro não deu andamento às denúncias. Assim, em 13 de maio de 1997  a PEC foi aprovada pelo Senado, a tempo de FHC poder se beneficiar dela no pleito presidencial de 1998, quando o tucano se reelegeu no primeiro turno.

Enfim, deixemos no passado o que ao passado pertence, mas não nos esqueçamos dos ensinamentos de George Orwell em 1984 — consubstanciados na frase "quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente controla o passado" — e mudemos o foco desta conversa.

Enumerar as estultices de Bolsonaro seria chover no molhado e discorrer sobre suas virtudes e habilidades como chefe do Executivo e líder dos brasileiros no combate à pandemia da Covid-19... bem, basta relembrar que o próprio morubixaba de aldeia reconheceu que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar — numa evidente paráfrase ao general João Batista Figueiredo, o último presidente-ditador dos anos de chumbo, que disse (litteris): "estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se vou me sair bem: no fundo o que gosto mesmo é de clarim e de quartel".

Observação: Volto a frisar que não há que falar em arrependimento — pelo menos não no segundo turno (2018), uma vez que a récua asinina, empoderada pela autorização oficial para fazer merda que lhe concede um tal do título eleitoral, não nos deixou outra opção — votar na patética marionete que um abjeto presidiário comandava desde sua cela em Curitiba jamais foi uma opção, mas sim uma tragédia anunciada a ser evitada, ainda que para isso fosse preciso apoiar um ex-capitão (ou um “anormal e mau militar“ segundo o General Ernesto Geisel) que deixou a caserna pela porta dos fundos se tornou o inexpressivo deputado do baixo clero que, ao longo de sete mandatos, aprovou míseros dois projetos. Nunca é demais lembrar que nas mãos erradas uma prosaica faca de cozinha pode se transformar numa arma letal. 

Ressuscitar a velha proposta de tornar o voto facultativo talvez fosse uma boa ideia. Ou não. Vivemos num país onde o futuro é duvidoso e o passado, incerto. Onde o voto é, a um só tempo, é direito e dever do cidadão — talvez porque alguns enxerguem uma relação entre a quantidade de votantes e a legitimidade do resultado das urnas, ou tenham chegado à conclusão (óbvia) de que a maioria dos eleitores só vota por obrigação.

Na avaliação de João Marco Braga da Cunha — bacharel e mestre em Economia, pela PUC-Rio e pela EPGE-FGV, e mestre e doutor em Engenharia Elétrica, também pela PUC-Rio — a associação entre número de votantes e legitimidade dos eleitos ignora os princípios da probabilidade. A título de exemplo, diz ele, imagine uma disputa de 2.º turno equilibrada em que um candidato tem a preferência de 51% dos eleitores e o oponente tem o resto do eleitorado ao seu lado. Escolhendo-se ao acaso apenas 15.000 eleitores para votarem em nome do todo, a chance do mais popular ganhar é próxima de 99,5%. Ou seja, um número relativamente pequeno de eleitores escolhidos aleatoriamente é capaz de gerar um altíssimo grau de certeza sobre a preferência do todo. Portanto, um baixo número de eleitores não é, por si só, um detrator da legitimidade dos vencedores.

Os resultados probabilísticos são baseados na premissa de que a seleção do grupo de votantes é aleatória. No caso do voto facultativo, o que existe é uma autosseleção seriamente enviesada — porque, do ponto de vista individual, a probabilidade de um voto ser decisivo no resultado tem ordem de grandeza menor que a de um acerto na Mega-Sena. Sob esse prisma, votar simplesmente não faz sentido. 

A autosseleção indica um viés cognitivo, pela crença que o voto seja numericamente relevante, ou moral, pela atribuição de um status de dever cívico, ideológico, partidário ou espiritual à participação nos pleitos. Portanto, o não votante é o racional e o votante, sim, é o ruído. Delegar a escolha dos representantes a um grupo com tais peculiaridades seria um desastre em termos de representatividade. Trata-se de um problema real enfrentado por países que optaram por esse sistema.

O que seria uma alternativa razoável? Um voto obrigatório, com uma pequena punição que torne mais fácil votar do que não votar é uma boa alternativa. Isso cria um pequeno incentivo, mas suficiente para que a maioria das pessoas votem, evitando a prevalência de vieses minoritários. Por outro lado, aqueles que não votam por quaisquer razões, incluindo as ideológicas, não são demasiadamente onerados. Ou seja, o modelo em vigor por aqui, a obrigatoriedade com um toque do jeitinho brasileiro, é uma ótima solução.

A lista de questões que precisam ser repensadas e reformuladas no Brasil é infindável. Nossa vocação para gambiarras e soluções pela metade quase sempre tem efeitos deletérios. Como bem disse a escritora Pat Murphy, “as soluções imaginárias funcionam muito bem, desde que você se dê conta de que os problemas também são imaginários”.

Haveria muito mais a ponderar, mas é melhor encerrar esta conversa por aqui e, se for o caso, retomá-la numa próxima oportunidade. Agradeço a todos pela paciência de sempre e desejo-lhes um excelente final de semana.