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sexta-feira, 29 de março de 2019

O FANATISMO, O CONSERVADORISMO, O REACIONARISMO E A REVOLUÇÃO DE 64


Dicionaristas definem o fanático como alguém que segue de forma cega uma doutrina ou um partido, e associam o termo “fanatismo” ao culto excessivo de alguém ou de alguma coisa, ao zelo religioso excessivo, paixão políticaintolerância religiosa, sectarismo, exaltação exagerada, facciosismo

Alguns afirmam que essas conotações remetam a um culto pagão a divindades primitivas (como Cibele e Belona), mas, a meu ver, a melhor definição em linguagem coloquial é: o fanatismo é uma merda. A militância petista é um bom exemplo de gente fanática, mas os bolsomínions não ficam atrás — o fanatismo desbragado é o mesmo, o que muda é o lado do espectro político.

Deixando de lado a patuleia ignara (vade retro, Satanás!) e focando apenas nos defensores incondicionais do atual governo, chama a atenção o fato de que, com a aproximação do dia 31 de março, as postagens alusivas (e laudatórias) à revolução de 64 se multiplicam em progressão geométrica. E o pior é que não partem apenas de reacionários incorrigíveis e saudosistas sem causa, mas também de jovens (com idade entre 20 e 30 anos) que nasceram depois de 1985, ano em que a democracia foi restabelecida neste projeto de banânia, e, portanto, só conhecem da ditadura o que ouvem falar.

Observação: Os termos “conservador” e “reacionário” não são sinônimos, ainda que não raro sejam usados (impropriamente) como tal. O conservadorismo é uma ideologia de imperfeição humana, não de arrogância epistemológica — em outras palavras, os conservadores procuram preservar o que é válido no presente recorrendo aos instrumentos desse presente, e não a fantasias do passado. Já os reacionários defendem a volta de um passado (de proteção econômica, fechamento nacional e isolamento internacional) que nunca existiu como perfeição — são “reacionários” porque não são capazes de pensar os problemas do presente sem recorrer ao “era uma vez…” que é típico de crianças, não de adultos.

Voltando à revolução de 64, tem-se ouvido com indesejável frequência, inclusive de gente que transita nos altos escalões governamentais, que não houve ditadura no Brasil. Alguns sustentam essa balela por cegueira doutrinária; outros, por má-fé, e outros, ainda, por pura e simples ignorância. Mas convenhamos: ao exortar as comemorações alusivas à "data histórica", nosso presidente flerta com a irresponsabilidade. Tanto é que os generais da reserva que integram o primeiro escalão do Executivo lhe pediram cautela.

ObservaçãoEnquanto Bolsonaro se preocupa em comemorar 1964, em 2019 a articulação política do seu governo é o caos absoluto, como se viu pela aprovação da PEC do Orçamento Impositivo, que engessa a atuação da equipe econômica — que, por sua vez, achou a princípio que a PEC era uma boa coisa, por incrível que pareça, para fortalecer a “federalização”. Deixe 1964 e volte para 2019, Bolsonaro. O país precisa urgentemente de um presidente.

Num governo que reúne o maior número de ministros militares desde o período da ditadura — o que já gerou insatisfação de parlamentares —, a comemoração do golpe militar deixou de ser uma agenda "proibida", ainda que não tenha retornado ao calendário de comemoração das Forças Armadas por meio de um decreto ou portaria que a formalize. Na última terça-feira, a Defensoria Pública da União anunciou que ajuizará ação civil pública para impedir que o 31 de março, data de início do movimento golpista, seja comemorado nas unidades militares. Na contramão dessa via, outros próceres palacianos se alinham ao presidente, como é caso do ministro das Relações Exteriores (falo do chanceler de direito, não do zero três), que afirmou nesta quarta, 27, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara dos Deputados, que a intervenção militar de 1964 não foi um golpe, mas um movimento necessário para que o País não virasse uma ditadura (?!).

Para resumir o que poderia se tornar uma longa novela, segue um breve resumo do que foi o golpe militar de 64 e os 21 anos subsequentes, ao longo dos quais generais do Exército se revezaram no poder, chancelados por um jogo de cartas marcadas no Congresso (onde o partido de oposição era meramente figurativo e seus membros, duramente cerceados sempre que ameaçavam incomodar o regime). Como eu tinha 6 anos de idade, o dia da revolução em si não me evoca lembranças, e o que me foi ensinado na escola, nas aulas de História do Brasil e Educação Moral e Cívica, não passou de uma versão deturpada dos fatos. Felizmente, hoje temos a Web e, sabendo separar o joio do trigo, podemos encontrar tudo sobre tudo. O texto a seguir foi baseado num artigo publicado por Carlos Alberto Sardenberg em sua coluna n’ O Globo. Confira:

Partidos e grupos comunistas discutiam qual a maneira de derrubar o capitalismo burguês e implantar a ditadura do proletariado, se pela luta armada ou pelo caminho reformista. Corria o ano de 1964, e a ampla maioria da esquerda era reformista — pelas chamadas reformas de base, processo que começava com a agrária e incluía um amplo cardápio de estatizações.
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O presidente João Goulart, do PTB getulista, no cargo desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961, estava claramente no campo da esquerda. Havia comunistas no seu governo e no seu entorno, embora Jango estivesse longe de ser ele mesmo comunista — a exemplo de ilustres membros de seus gabinetes durante o curto período parlamentarista, como os primeiros-ministros Tancredo Neves e Santiago Dantas, que eram, no máximo, social-democratas, trabalhistas ou nacionalistas, preocupados com a distribuição de renda e a proteção social.

Como o grupo comunista era claramente minoritário nessa aliança, o sucesso de Jango levaria o Brasil a uma economia mais estatizada, com o aumento dos gastos públicos em todos os setores, dos sociais à infraestrutura — mais ou menos como aconteceu no governo ditatorial do general Ernesto Geisel, um nacionalista e estatizante da primeira linha, e no governo Lula, mas isso é outra conversa.

Em 1964, o mundo estava em plena Guerra Fria, dividido entre os EUA e a URSS. As plataformas reformistas — aqui, no Chile, na Argentina, em toda parte — procuravam se aproximar não propriamente da União Soviética, mas de um bloco que se declarava independente, o do Terceiro Mundo, que, entretanto, pendia para a esquerda. Ou seja, era adversário dos EUA, que, nessa disputa, patrocinavam ditaduras direitistas para, como se dizia, evitar a ditadura comunista.

Não havia a menor possibilidade de uma vitória comunista, nem pela via reformista, nem pela luta armada. A melhor chance de uma guerrilha no Araguaia ou no Vale do Ribeira era a de ser massacrada, como de fato aconteceu. Mas foi nesse quadro que parte da elite brasileira, representada por partidos e associações civis, bateu às portas dos quartéis. Os militares atenderam rapidamente, pois a doutrina que aprendiam era simplesmente Ocidente versus o Pacto de Varsóvia (a frente militar da URSS). O Congresso chancelou a derrubada de Jango, em abril de 1964, e elegeu presidente o então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, marechal Humberto de Alencar Castello Branco. Mas só o fez porque a alternativa era o fechamento.

Muitos democratas e liberais apoiaram o golpe, achando que seria um interregno necessário para garantir as eleições presidenciais de 1965, nas quais haveria o embate entre Juscelino Kubitschek (pelo lado reformista democrático) e Carlos Lacerda (conservador, liberal, democrata). Mas não tardaram a se arrepender, e foram abandonando o governo militar à medida que este radicalizava e se transformava numa verdadeira ditadura e dava sinais de que tencionava se perpetuar no poder. Lacerda, apoiador do golpe, terminou cassado e se uniu a JK, também cassado, numa frente pela democracia.

É fato que o Congresso funcionou o tempo todo, menos nos breves momentos em que ousou discordar do regime. O Congresso “elegeu” os presidentes, mas somente depois de eles serem escolhidos entre e pelos generais de quatro estrelas. Partidos políticos foram proibidos, a imprensa, censurada, opositores — fossem democratas ou comunistas —, presos, torturados, mortos. Quando a política econômica finalmente fracassou, com recessão, dívida externa explosiva e inflação, a ditadura caiu e os militares se retiraram, liderados por colegas de bom senso num processo conduzido por políticos habilidosos.

Por essas e outras, não há o que celebrar em 31 de março. Não merece ser comemorada a instalação de uma ditadura que fechou instituições democráticas e censurou a imprensa. Isso seria permitir que ódios do passado envenenem o presente e destruam o futuro. Para o presidente da OAB/RJ, Luciano Bandeira, a determinação do presidente Bolsonaro é inconstitucional. "O princípio democrático da República Federativa do Brasil, que está na nossa Constituição, determina que os cargos do Executivo são alcançados através do voto. Comemorar uma tomada de poder pela força das armas, que contraria esse princípio democrático, é apologia a algo contrário ao que prega a Constituição", diz ele. 

Com a devida vênia dos que pensam de maneira diversa, acho que não há como discordar. E nem o que comemorar.

domingo, 15 de julho de 2018

A JUSTIÇA EM PERIGO



Desde domingo passado que a chicana petista produzida por três deputados lulopetistas e respaldada alegremente por um desembargador de nome Favreto, responsável pelo plantão do TRF-4 no último final de semana, foi largamente destacada na mídia, e seus desdobramentos, objeto de diversas postagens da lavra destes que vos escreve. Volto hoje ao assunto — que já deu cacho, mas enfim... — com um artigo magistral do sempre brilhante J.R. Guzzo, que vai de encontro com tudo que eu disse nos últimos dias. Confira:  

O espetáculo de depravação exibido no último domingo por um desembargador do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, com a cumplicidade de três deputados federais do PT e com a ideia de “soltar” da cadeia o ex-presidente Lula, teve pelo menos uma vantagem: foi uma lição perfeita de como seria, na prática, a Justiça brasileira num governo de Lula, seu partido e os demais agrupamentos que se apresentam como de esquerda neste país.

Foi uma coisa prodigiosa na sua estupidez — não chegou a durar duas horas, de tão miserável a qualidade da armação posta em prática, e desceu a um nível de safadeza tão grosseira que, aparentemente, nem mesmo o advogado-chefe de Lula, Cristiano Zanin, sempre disposto ao pior, aceitou se meter na história. Mas deixou claros os planos que Lula tem para o Poder Judiciário no Brasil, caso um dia volte a mandar.

No seu entendimento, o sistema de Justiça deve ser uma repartição pública cuja única função é declarar como “legal” tudo o que o governo manda fazer; seus juízes, procuradores e demais funcionários devem ser gente “do partido”, com a obrigação permanente de receber e obedecer ordens. A lei não é o que está escrito. Não é hoje a mesma que foi ontem ou será amanhã. Não é igual para todos. A lei, por esta visão do mundo, é apenas o que Lula, o PT e os seus sócios querem que ela seja.

Muito se adverte, no momento, sobre os perigos que a democracia brasileira está correndo neste momento de paixão eleitoral extremada, com propostas radicais, promessas explosivas e candidatos que inquietam as almas moderadas. Mas a verdadeira ameaça à democracia, hoje, é esse esforço contínuo pela subversão do Judiciário, comandado pelas forças que precisam eliminar os sistemas de combate à corrupção hoje em funcionamento. Ou derrotam a resistência à roubalheira, simbolizada e centralizada na Operação Lava-Jato, no juiz Sergio Moro e numa porção decisiva do TRF-4, ou não sobrevivem politicamente.

Não há futuro nenhum para Lula, condenado como ladrão a doze anos de prisão em duas instâncias, nem para o imenso aparelho criminoso que opera a vida pública brasileira de alto a baixo, se uma parte da Justiça continuar com poderes reais para punir quem rouba. A guerra para destruir o Judiciário e eliminar a segurança jurídica já está sendo travada há bom tempo. Seu principal campo de batalha, no fundo, é o Supremo Tribunal Federal, onde se concentra o grosso dos esforços para matar a Lava-Jato, soltar Lula da cadeia e armar sua volta à Presidência da República. Só assim, acreditam seus generais, será possível pacificar o ambiente político no Brasil e liberar as quadrilhas partidárias para que possam voltar às suas atividades habituais de extorsão, desfrute e roubo do erário público.

Os inimigos de um sistema de Justiça livre, íntegro e profissional têm tido vitórias e derrotas em sua caminhada. Contam com um grupo ativo de servidores no STF — recentemente ganharam ali, por exemplo, a libertação do ex-deputado José Dirceu, condenado a mais de 30 anos de prisão. Neste episódio demente da “soltura de Lula”, em que o desembargador Rogério Favreto achou que, pelo fato de estar num plantão de domingo, poderia anular a sentença do tribunal do qual faz parte, a tropa da corrupção perdeu. Tudo saiu errado.

O desembargador é um militante público do PT, nomeado para seu cargo no TRF-4 por Dilma Rousseff sem nunca ter sido juiz de coisa nenhuma — faz parte desta pérola da vigarice nacional chamada “quinto”, deformação que dá ao governo o direito de nomear como bem entende 20% de todos os desembargadores brasileiros. Qualquer idiota pode ser nomeado; basta que tenha um diploma de advogado de uma faculdade qualquer de subúrbio e, naturalmente, que seja amigo de quem o nomeou.

A trapaça que se tentou aplicar espanta por sua cretinice. Três deputados da área mais desordeira do PT — um deles chegou a propor publicamente o fechamento do STF — combinaram com Favreto a apresentação de um pedido de habeas corpus em favor de Lula, em regime de emergência, aproveitando que ele estaria de plantão no domingo. De imediato, o desembargador veio com um calhamaço com mais de 30 páginas em que tomava a extraordinária decisão de derrubar a sentença — até agora não reformada, e portanto absolutamente legal — de um colegiado de três desembargadores do próprio TRF, e mandava que o juiz Moro e a Polícia Federal soltassem Lula “imediatamente”. Por que? Os deputados petistas e seu desembargador disseram que havia um “fato novo” — Lula quer ser candidato a presidente da República e não pode fazer campanha se continuar preso.

Como assim? Quer dizer que qualquer brasileiro, entre os mais de 700.00 atualmente na prisão, tem direito de ser solto para se candidatar a presidente? É muito louco. Naturalmente, essa ordem não deu em nada, porque não podia ser cumprida. Como disse Moro na resposta à intimação: soltar o condenado seria desrespeitar a ordem do próprio TRF-4 que mandou prendê-lo e que está em pleno vigor. Logo em seguida, a autoridade competente do tribunal mandou que a “soltura” fosse ignorada. Fim do golpe.

Chama a atenção, no episódio todo, como um plano tão idiota pode ir adiante. Ninguém, pelo jeito, disse em nenhum momento que aquilo era uma alucinação — ao contrário, chegaram a organizar comemorações antecipadas da “libertação”.

O fato é que a tentativa foi realmente executada — e isso mostra o quanto Lula e seu sistema de apoio estão dispostos a fazer para virar a mesa. O que poderia ser mais claro? O golpe do plantão de domingo revela, com a clareza possível, que é isso que eles entendem por justiça. É essa a única justiça que lhes interessa; é a que vão fazer se chegarem lá. Afinal, se um dia chegarem, por que raios começariam a fazer o contrário do que estão fazendo agora?

A justiça do “Lula Livre” é a justiça da Venezuela — acaba-se com tudo e monta-se no lugar um Supremo com 11 Favretos. Tem sido essa, exatamente, a atuação do PT e da esquerda à sua volta desde que começaram os processos de corrupção contra Lula: um vale-tudo para fraudar, enganar, corromper e desprezar a ideia de justiça. Em nenhum momento mostraram o menor interesse em se defender das acusações com base na lei, na razão e nas provas. Desde o primeiro dia, todo o esforço foi espalhar que o ex-presidente era a vítima de um “processo político” destinado a impedir que ele voltasse à presidência do país e pudesse executar de novo as suas “políticas sociais’. Transformaram o STF num picadeiro de circo, e criaram a situação absurda de monopolizar em benefício de um único cidadão a maioria das atividades do principal tribunal do país. Entraram com mais de 70 recursos de todo o tipo, grande parte deles chicana em estado puro, para paralisar, interromper e tumultuar os processos. Há mais de ano trabalham o tempo todo para criar um estado permanente de baderna, com o objetivo de jogar a população contra a Justiça brasileira. 

Vão continuar assim. Não enxergam outra saída.

Texto de J.R. Guzzo publicado no blog Fatos e na edição impressa de Veja desta semana.

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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

SOBRE O AUXÍLIO-MORADIA E A ABILOLADA MILITÂNCIA VERMELHA



DUAS COISAS SÃO INFINITAS: O UNIVERSO E A ESTUPIDEZ HUMANA. MAS, EM RELAÇÃO AO UNIVERSO, AINDA NÃO TENHO CERTEZA (ALBERT EINSTEIN)

A frase que se lê acima é uma pérola de sabedoria, mas eu vou mais além: há pessoas que a gente não sabe se nasceram estúpidas ou se ficaram assim com o passar do tempo. O porquê de eu dizer isso ficará claro no final desta postagem.

Uma das muitas coisas erradas que existem no Brasil é o auxílio-moradia, ou melhor, o uso que vem sendo dele no âmbito do funcionalismo público ― que, não sem motivo, revoltou os cidadãos de bem, cumpridores de suas obrigações e pagadores de impostos. 

Segundo um levantamento feito por Veja junto a 92 tribunais e conselhos de Justiça, 86% dos juízes brasileiros foram contemplados com o auxílio-moradia em 2017 ― o que custou R$ 920 milhões ao Erário, ou seja, é dinheiro seu, meu, nosso. Mas a coisa não se resume ao Judiciário. O exemplo de malversação de dinheiro público com essa regalia imoral ― imoral, note bem, só que não ilegal ― se estende também aos poderes Legislativo e Executivo.

Deputados federais e senadores têm direito a um auxílio de R$ 4.235 e R$ 5.500, respectivamente, quando não há imóvel funcional disponível. E o mesmo se aplica a servidores de médio e alto escalão e ministros de Estado que sejam transferidos de seu domicílio a trabalho (para essas “excelências, o teto é de R$ 7.733). Atualmente, 350 dos 513 deputados ocupam imóveis funcionais, embora 13 tenham casa própria em Brasília, mas, mesmo assim, não abrem mão da grana extra (como é o caso de Jair Bolsonaro).

No âmbito do Executivo, a lei prevê que servidores de médio e alto escalão só pode fazer uso do auxílio (que supera R$ 7 mil no caso de ministros de Estado) quando não houver imóvel funcional à disposição. Hoje, ainda com base no levantamento feito por Veja, há 7 imóveis funcionais vagos, mas Eliseu PadilhaHelder BarbalhoSérgio Sá Leitão e Ilan Goldfajn preferem receber o auxílio em dinheiro. No Legislativo

Observação: No setor privado, trabalhadores celetistas transferidos por determinação do empregador para cidades onde não tenham domicílio fazem jus ao auxílio-moradia ― que corresponde a um aumento salarial de 25%, mas como o valor é incorporado aos vencimentos do trabalhador (e não tratado como verba indenizatória, como no caso do funcionalismo), sobre ele incidem os tributos de praxe.

No caso do Judiciário ― que provocou toda essa celeuma, até porque muitos magistrados têm imóveis próprios nos municípios onde estão lotados ―, essa imoralidade nasceu de uma burla: em 2000, enquanto o governo negociava com o Congresso se um aumento do salário mínimo caberia no orçamento, o STF concedeu uma liminar determinando que todos os juízes que não estivessem trabalhando em suas cidades de origem receberiam até R$ 3 mil mensais a título de custeio de moradia (frise-se que, na época, o salário dos magistrados era de R$ 12 mil).

Ao longo dos últimos 18 anos, o penduricalho de suas excelências passou por uma ampla socialização. É certo que a generosa liminar do STF foi derrubada em 2005, mas é igualmente certo que os tribunais passaram a deliberar individualmente sobre o auxílio, valendo-se do artigo 65 da Lei Orgânica da Magistratura, segundo o qual todo juiz deve estar presente na comarca que lhe for designada com “ajuda de custo” para moradia. 

Em 2014, quando os olhos da população estavam voltados para a sucessão presidencial, o ministro Luiz Fux concedeu três liminares determinando o pagamento do auxílio-moradia a todos os magistrados do país, mesmo que tivessem domicílio próprio no município em que estavam lotados ou que nunca houvessem sido transferidos de comarca.

O ex-ministro Carlos Veloso, que presidia o STF quando o auxílio foi concedido pela Corte, reconhece que a finalidade original do benefício era proporcionar moradia ao juiz transferido que não tinha lugar para morar, mas acabou se tornando uma parcela salarial. A solução, segundo ele, seria extinguir o benefício concedido indevidamente e reajustar os vencimentos dos magistrados, mas o governo federal já descartou essa possibilidade, pois um aumento salarial para a categoria ― que hoje recebe R$ 33 mil mensais ― “explodiria” a Previdência.

Num país onde o salário mínimo não chega a R$ 1 mil, a remuneração dos magistrados é mais que suficiente para garantir sua moradia, e auxílios como o benefício em exame deveriam ficar restritos a situações excepcionais. Como eu disse no início deste texto, o problema não está no benefício em si, mas na forma como ele é concedido. No TRF-4, por exemplo, 97% dos magistrados ― aí incluído o juiz Sérgio Moro, que tem domicílio próprio em Curitiba, recebem essa indecência. No Rio de Janeiro, o juiz Marcelo Bretas virou alvo recente de críticas por obter na Justiça o direito ao auxílio-moradia, embora seja casado com a juíza Simone Bretas, que já é contemplada com o benefício.

Gilmar Mendes é dono de imóvel em Brasília, mas vive em moradia funcional, e Raquel Dodge, atual PGR, fez uso do auxílio-moradia até 2017, mesmo tendo casa própria no Distrito Federal. Aliás, para receber esse vergonhoso penduricalho, nem é preciso requisitá-lo ― embora seja necessário preencher um formulário específico para abrir mão dele, coisa que, naturalmente, poucos beneficiários se dispõem a fazer.     

O ministro Luiz Fux, autor da liminar que liberou geral, decidiu levar ao plenário um processo sobre o auxílio-moradia (que há anos está paralisado na Corte), e a ministra Cármen Lúcia deve pautar a discussão no mês que vem (enquanto isso, o Supremo se debruça sobre a legalidade ou não do comércio de cigarros mentolados ou com outros sabores). 

Para concluir, ilustro o que disse sobre a imbecilidade humana, no início destas linhas, com um texto de Augusto Nunes:

As críticas do PT ao auxílio-moradia confirmam que, para os celebrantes de missas negras, o cinismo não tem limite. Eles acusam Sérgio Moro, por exemplo, de receber o que todos os juízes federais recebem. Se é imoral o auxílio-moradia, que seja extinto. Por enquanto, nada tem de ilegal.

Os devotos da seita fingem ignorar que ninguém no mundo foi tão beneficiado quanto Lula por versões bandalhas do auxílio-moradia. O primeiro apartamento de Lula lhe foi presenteado pelo advogado Roberto Teixeira, amigo e benfeitor do futuro camelô de empreiteira desde o século passado. Os negócios bilionários feitos por Teixeira, graças à intimidade de que sempre desfrutou com o ex-presidente, informam que a generosidade do doutor é a mais rentável do mundo. 

Dois filhos de Lula moram sem pagar aluguel em apartamentos da imobiliária Roberto Teixeira. Foi o doutor, também, quem providenciou a papelada no sítio de Atibaia para que o laranja Fernando Bittar caprichasse na pose de dono da propriedade que jamais frequentou ― nem depois que Lula parou de dar as caras por lá. O tríplex do Guarujá foi uma doação da OAS, e o apartamento no mesmo prédio onde Lula mora é um caso de polícia ainda por ser devassado. 

O auxílio-moradia dos juízes está abaixo dos 5 mil reais. Não é pouca coisa, mas seria insuficiente para pagar uma ínfima parte das taxas de condomínio dos imóveis de Lula que não são de Lula.

A despeito da campanha que vem sendo feita contra as abomináveis FAKE NEWS, a patuleia ignara continua a todo vapor com suas bostagens. Dias atrás, certa militante vermelha ― defensora incorrigível do bandido Lula e admiradora confessa do pedaço de asno com que o molusco empalou a nação em 2010 ― procurou desqualificar o juiz Sérgio Moro pelo fato de ele receber o famigerado auxílio-moradia. que pode ser imoral e até mesmo inaceitável, mas nem de longe é ilegal e tampouco desqualifica o magistrado ou desmerece de alguma maneira a sentença irreprochável (“golpe”, segundo aquela criatura) que condenou o demiurgo de Garanhuns a 9 anos e meio de prisão (pena posteriormente aumentadas para 12 anos e 1 mês pela 8.ª Turma do TRF-4, em decisão unânime e igualmente irretorquível). 

Por curiosidade, fui conferir a fonte onde a sacripanta saciou sua sede de sabedoria e encontrei outras bobagens com títulos como SÉRGIO MORO, O USTRA DO GOLPE DE 2016; DILMA VIAJA PELO MUNDO E ATRAVÉS DE SUA FALA, DEIXA BEM CLARO (sic) A AÇÃO DOS GOLPISTAS, e por aí afora.

É foda e a banda não toca, mas enfim... Volto ao assunto numa próxima postagem, já que esta ficou mais extensa do que eu gostaria.

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sábado, 4 de março de 2017

A DICOTOMIA PETISTA DO “NÓS X ELES”


A DICOTOMIA PETISTA DO “NÓS X ELES”

Lula e o PT não criaram a corrupção, embora a tenham institucionalizado e colocado a serviço de seu espúrio projeto de poder, embrulhada em falácias populistas que, durante algum tempo, engambelaram até os mais céticos. Na avaliação do sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier, a era lulopetista feriu a democracia brasileira muito mais profundamente do que se tem admitido, não só com a corrupção sistêmica, cuja radioatividade está longe de terminar, e as insanidades do governo Dilma, que elevou para mais de 12 milhões o número de desempregados, mas também com o culto sistemático da mentira, a falsificação ideológica da história e o uso político de aberrações conceituais, que dividiram os brasileiros em “nós” e “eles”, fomentando a cizânia entre a esquerda e a direita e culpando a mídia, as “zelites”, os “coxinhas”, o Judiciário e sabe Deus quem mais por tudo que deu errado na sua imprestável administração.

Com efeito, desde sua fundação, há 36 anos, que o PT insiste em apresentar a história brasileira como obra de uma elite pequena, coesa, gananciosa, em permanente conspiração contra os trabalhadores e os pobres. Um país de verdade, onde todos tenham oportunidade, só a partir de Lula. Mas, ironicamente, o grande exemplo de país governado por uma elite conspiratória foi o próprio PT que nos ofereceu. Ao se associar umbilicalmente ao cartel das empreiteiras, Lula e seus acólitos conspiraram o quanto puderam, com requintes de profissionalismo a toda prova. E mais: dividiram o eleitorado de tal forma e tão passionalmente que as pessoas trocaram a civilidade e o respeito mútuo por agressividade, ódio e repulsa pelos adversários. Claro que as redes sociais também colaboraram, mas considerá-las a única responsável por essa polarização seria o mesmo que culpar a arma pelo homicídio e absolver quem a sacou, apontou e puxou o gatilho.

Anda difícil achar alguém que não tenha rompido uma antiga amizade, deixado de falar com parentes ou virado a cara para colegas de trabalho por conta de diferenças de “ideologia política” ― tema que o bom senso recomenda evitar em happy-hours, festas familiares e reuniões corporativas. Por outro lado, é preciso paciência de para aturar o proselitismo da militância petista e de seus apoiadores, que, a despeito de todas as evidências em contrário, insistem em dogmatizar as bazófias asininas do penta-réu chefe da ORCRIM e aplaudir os discursos azoratados que ele não perde a oportunidade de proferir, mesmo que isso signifique fazer de palanque o esquife da ex-primeira-dama Marisa Letícia, numa demonstração de vileza e de mau-caratismo à toda prova. No funeral da esposa, o pulha chegou ao cúmulo de atribuir sua morte à tensão decorrente das acusações na Lava-Jato, e a insinuar que o culpado seria Sergio Moro. E foi aplaudido pela patuleia ignara ― veja a que ponto chega o descolamento da realidade dessa confraria de “esquerdistas”.

Em plena era do pós-verdade, a mentira campeia solta e fatos objetivos têm menos influência do que apelos emocionais e crenças pessoais. É o mais desolador é que isso se verifica em todos os níveis, aí incluído o dos políticos, cuja função é nos representar. A título de ilustração, em março do ano passado, depois de Lula ser conduzido coercitivamente para depor na PF, Jandira Feghali gravou um vídeo para “tranquilizar a militância” (confira neste link). Enquanto ela diz que o molusco está “muito tranquilo”, vê-se ao fundo o dito-cujo falando ao celular ― ué, ela agora tem celular? ― com a nefelibata da mandioca, e, em determinado momento, ouve-se claramente ele esbravejar:  “Eles que enfiem no cu todo o processo”. Imagine o que ele diria se não estivesse sereno!

Mas o que mais causa espécie é ver pessoas que reputamos esclarecidas defenderem com unhas de dentes a “honestidade” desse um salafrário abjeto, prestigiarem uma agremiação criminosa travestida de partido ― onde, se alguém gritar pega ladrão, não fica um ― e prestarem vassalagem a uma ex-governante de merda, que destruiu a Economia para ficar mais 4 anos na presidência, embora nunca tenha sido capaz de gerenciar coisa alguma ― como comprova a falência de suas duas lojinhas de badulaques importados, em meados dos anos 1990, justamente quando a paridade entre o real e o dólar favorecia sobremaneira esse tipo de comércio.

Ainda que não sirva de consolo, esse descolamento da realidade ― ou tendência de negar incondicional e irracionalmente os fatos em sua obviedade ― não é privilégio da patuleia tupiniquim. Na primeira entrevista como presidente dos EUA, o parlapatão Donald Trump disse que sua posse reuniu a maior plateia de todos os tempos, ainda que a multidão fosse 70% menor do que na posse de Barack Obama, em 2009. Quando os jornais New York Times e Washington Post publicaram fotos aéreas comparativas (vide imagem), Trump os chamou de mentirosos e manipuladores. No dia seguinte à posse, a empresa de pesquisas YouGov mostrou as fotos a 1.388 americanos e perguntou qual posse era de quem. Entre os eleitores de Trump, 41% deram a resposta errada. E quando os pesquisadores reformularam a pergunta para “em qual dessas duas fotos tem mais gente”, 15% insistiram que havia mais pessoas na imagem vazia. Durma-se com um barulho desses!

Para entender melhor, vejamos alguns números: durante as eleições americanas, o site BuzzFeed monitorou o compartilhamento de notícias verdadeiras e falsas. As 20 Fake News mais bombadas tiveram 8,7 milhões de compartilhamentos, enquanto as verdadeiras, 7,3 milhões. No Brasil, esse quadro é ainda pior: no ano passado, o mesmo site analisou as 20 notícias que mais se destacaram nas redes sociais (10 verídicas e 10 falsas) e constatou que os posts mentirosos foram bem mais compartilhados do que os verdadeiros (3,9 milhões e 2,7 milhões de vezes, respectivamente).

Agora, a explicação: quando se depara com uma informação nova, nossa mente tende a tomá-la por verdade. A desconfiança e possível refutação, segundo o psicólogo Daniel Gilbert, da Universidade de Harvard, só acontece depois, porque desconfiar requer mais esforço cognitivo e, portanto, gasta mais energia. Assim, quanto mais informações nosso cérebro recebe, mais propenso ele se torna a aceitar cada uma delas. E como as redes sociais compartilham informações em quantidade e velocidade vertiginosas (só no Facebook, há mais de 5 bilhões de compartilhamentos por dia), a conclusão é óbvia. Para Márcio Moretto Ribeiro, professor da USP e criador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, as redes permitem que os usuários escolham suas próprias versões dos fatos, e as pessoas tendem a compartilhar notícias que reforçam suas ideias preconcebidas, sejam elas verdadeiras ou não (as informações são da revista Superinteressante).

Por essas e outras, eu desisti de argumentar com a patuleia abilolada. Limito-me divulgar os fatos e oferecer a minha interpretação. Deixei de perder tempo com polêmicas que levam coisa alguma a lugar nenhum. Se leio algo que me chama a atenção, além de verificar se a origem confiável, checo também se a notícia foi divulgada por outras fontes fidedignas. Afinal, 13 anos e fumaça de lulopetismo propiciaram a disseminação de uma quantidade exorbitante de sites e blogs-mortadela, especializados em espalhar a desinformação, e muitos continuam ativos e operantes, mesmo depois de o governo atual lhes ter cortado o patrocínio.

Quanto a editoriais e colunas, é preciso ter em mente que eles expressam a opinião do jornal/revista ou do colunista, conforme o caso. Mas opinar é uma coisa, vender gato por lebre é outra bem diferente. Ainda assim, alguns tem a cara de pau de publicar como verdade qualquer coisa que provenha do departamento de propaganda do Partido dos Trambiqueiros, mesmo que seja capaz de enrubescer santo de pedra. Tem quem afirma que Lula foi o melhor presidente do Brasil, que Dilma fez um excelente governo, que o impeachment foi um “golpe”, que Temer é um “traíra” sem legitimidade para ocupar a presidência, que a aprovação da PEC do teto foi uma calamidade, que Previdência não está falida, que a reforma da Legislação Trabalhista vai prejudicar os trabalhadores, que privatização é entreguismo, e por aí segue essa lamentável procissão de bobagens. Houve até quem que afirmasse ― pasmem! ― que o nove-dedos teria sido indicado para o Prêmio Nobel... Vão sonhando. Quem sabe um dia a academia sueca resolva laurear os que mais se destacam no campo da desfaçatez, do cinismo, da corrupção...

Enfim, o jeito é deixar pra lá. Depois de meia dúzia de réplicas e tréplicas, se você perceber que o interlocutor continua impermeável à argumentação, desencane, mude de assunto ― ou de interlocutor. Fuja dos haters, ou você acabará se tornando igual a eles.

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