Mostrando postagens classificadas por data para a consulta dilma gosto pelo poder. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta dilma gosto pelo poder. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

AINDA SOBRE TRAGÉDIAS E FARSAS...

 

Visando manter aquecida a poltrona presidencial até poder voltar a ocupá-la, Lula criou um "poste" e o vendeu como "gerentona eficiente". Mas a cria se revelou um conto do vigário no qual próprio criador caiuEntre 2013 e 2016, a economia brasileira encolheu 6,8% e o desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Foram ao olho da rua algo como 12 milhões de pessoas. Se Lula passou à história como presidente que fez a sucessora, Dilma se imortalizou como a criatura que desfez a obra do criador.

 

Dilma foi um arremedo de guerrilheira que jamais disparou um tiro — a não ser no próprio pé, ao se reeleger, devido ao tamanho da encrenca que herdou de si mesma. Jamais foi política e tampouco demonstrou vocação para gerir o que quer que fosse. Não obstante, com Dirceu e outras estrelas do alto escalão petista no xadrez e sem peito para levar adiante o "golpe via emenda constitucional" que lhe garantiria um terceiro mandato, Lula achou que ela seria mais fácil de manipular do que Marina Silva e, por “não ser política”, não se apegaria ao cargo. Só que a cria tomou gosto pelo poder e "fez o diabo" para se reeleger, azedando suas relações com o criador.

 

Dilma foi um Pacheco de terninho que, sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, posou de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil em outubro daquele ano e renovou o mandato quatro anos depois. Lula chegou a dizer — em off, naturalmente — que ele próprio foi a maior vítima de Dilma. Sua escolha feriu de morte a relação com Marina, que abandonou o governo em 2008 e o PT em 2009, e disputou a presidência pelo PV em 2010 — quando ficou em 3° lugar, com 19% dos votos válidos.

 

Dilma tinha o apoio de Lula e de marqueteiros de primeiríssimo time, como João Santana e sua mulher, Mônica Moura — ambos foram presos na 23ª fase da Lava-Jato e soltos mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 31,4 milhões. Com as velas enfunadas por recursos milionários (oriundos, em grande parte, do propinoduto da Petrobras), o "poste" derrotou Marina no primeiro turno e venceu José Serra no segundo (por 46,91% a 32,61% dos votos válidos). Marina votou a disputar o Planalto em 2014 — primeiro como vice na chapa de Eduardo Campos, e depois como titular, já que o cabeça da chapa morreu num acidente aéreo a dois meses do primeiro turno. 

 

Mesmo tendo obtido 2 milhões de votos a mais que em 2010, Marina não conseguiu superar Aécio, que perdeu para Dilma no segundo turno por uma diferença de 3.459.963 votos válidos. Assim, superando a si mesma em incompetência, a cria de Lula pariu a maior crise econômica da história deste país e acabou penabundada do Planalto presidência em 31 de agosto de 2016. Graças a uma vergonhosa maracutaia urdida pelos então presidentes do Congresso e do STF, a gerentona de festim não teve os direitos políticos cassados por 8 anos, ao arrepio da Constituição e da Lei do Impeachment. 

 

Menos de 24 horas após ser notificada de sua deposição, a eterna estocadora de vento conseguiu se aposentar com o estipêndio mensal de R$ 5.189,82 ("teto" pago pelo INSS naquela época), embora o tempo de espera para conseguir atendimento na agência do INSS onde ela fez o pedido fosse de 115 dias. Uma sindicância aberta pelo Ministério do Desenvolvimento Social concluiu que a ex-chefa não só se valeu da influência de servidores de carreira do INSS para agilizar sua aposentaria como conseguiu o benefício sem apresentar toda a documentação necessária. 

 

Segundo a revista VEJA, no dia seguinte ao julgamento do impeachment o então ministro da Previdência Carlos Gagas e uma secretária pessoal de Dilma entraram pela porta dos fundos do posto do INSS, foram atendidos pelo chefe do local e em menos de 10 minutos o processo foi aberto no sistema e concluído de forma sigilosa. De acordo com a sindicância, Gabas usou sua influência no INSS para agilizar a concessão do benefício, e a servidora Fernanda Doerl calculou o tempo de serviço com base em informações fornecidas verbalmente, sem comprovação documental.

 

Resumo da ópera: Num país onde o desemprego é preocupante (para dizer o mínimo) e o salário-mínimo é de R$ 1.212,00 — quando deveria ser de R$ 6.641,58 segundo o DIEESE — o salário que a pior presidente da história desta bodega (noves fora o assassino de emas) dever receber é mais uma cusparada na cara do contribuinte brasileiro.

 

Triste Brasil. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

UM PAÍS SUI GENERIS


O debate foi medíocre, como era esperado de dois candidatos medíocres que um eleitorado medíocre escalou para disputar o segundo turno. A meu ver, ambos saíram menores do que entraram.


O eleitor brasileiro parece desconhecer a máxima segundo a qual fazer sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes é insanidade. Na primeira eleição direta para presidente da Nova República, dos 22 postulantes — entre os quais se destacavam Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola e Fernando Gabeira —, foram despachados para o segundo turno um caçador de marajás demagogo e populista e um ex-metalúrgico populista e demagogo. 

O perigo de eleger políticos demagogos e populistas aumenta exponencialmente quando o povo é vocacionado a "endeusá-los", entronizando no poder quem sempre lá esteve e sempre. Pode-se atribuir parte da culpa ao Criador, mas não é Dele o dedo podre (ou o casco canhestro) que pressiona alegremente o botão verde da urna, quando vê a foto do candidato que o manterá na sarjeta pelos próximos quatro anos. 
 
Voltando à eleição solteira de 1989, Collor derrotou Lula, mas acabou impichado. Seu vice, Itamar Franco, foi considerado uma figura patética e lembrado pela ressurreição do fusca e pela foto ao lado da modelo sem calcinha Lilian Ramos, mas e foi durante sua gestão que Fernando Henrique e seus "notáveis" criaram o Plano Real, pondo fim a uma hiperinflação de 80% ao mês e propiciando a eleição do tucano de plumagem vistosa no primeiro turno do pleito de 1994. Picado pela mosca azul, FHC conseguiu que o Congresso aprovasse a PEC da Reeleição — essa, sim, a verdadeira "herança maldita" dos governos do PSDB — e tornou a se eleger em 1998, mas não conseguiu emplacar José Serra em 2002.
 
Com a vitória de Lula, o PT criou o Mensalão, que resultou na prisão de petralhas alto coturno — curiosamente, o maior beneficiário do esquema não foi incluído na ação penal 470 (que levou incríveis sete anos da instauração ao julgamento final). Lula foi reeleito e em 2006 e, em 2010, escalou um "poste" para manter aquecida a poltrona que ele pretendia voltar a ocupar dali a 4 anos. No entanto, a criatura pegou gosto pelo poder e, contrariando seu criador, fez o diabo para se reeleger. 
 
Dilma conseguiu se reeleger (mediante um monumental estelionato eleitoral), mas acabou afastada em maio em maio de 2016 e deposta em agosto, interrompendo 13 anos 4 meses e 12 dias de lulopetismo corrupto — àquela altura, o Petrolão já campeava solto, desviando uma parte dos contratos milionários da Petrobras para contas secretas controladas por integrantes de grupos políticos e econômicos que apoiavam o governo. Com o impeachment da gerentona de araque, seu vice, Michel Temer, assumiu o comando da Nau dos Insensatos, mas foi abatido em seu voo de galinha antes de cruzar a miserável pinguela que o levaria a ostentar a faixa presidencial até o final de 2018 (detalhes nesta postagem).
 
A pergunta que se coloca é: foi para isso que lutamos tanto pelas “Diretas Já”? Desde a redemocratização que o Brasil vem sendo governado como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra por um lado e sai pelo outro. Entre a porta de entrada, que é aberta nas eleições, e a de saída, que se abre quando muda o governo, a merda muda de aparência, troca de nome e recebe nova embalagem, porém continua sendo merda. 

A merda reprocessada no governo Lula desaguou no governo Dilma e se reprocessou no governo Temer. O material processado pela usina continuou o mesmo nas três fases, durante a compostagem de políticos “do ramo”, empreiteiras de obras públicas, escroques de todas as especialidades, fornecedores do governo, parasitas ideológicos, empresários declarados “campeões nacionais” por Lula, por Dilma e pelos cofres do BNDES. 
 
Temer foi parte integrante da herança que Lula deixou para os brasileiros. A reboque dele, vieram Eduardo CunhaRenan CalheirosJosé Sarney (e família), Romero JucáEliseu PadilhaEunício OliveiraGeddel Vieira Lima etc. E a eles se juntaram empresários “nacionalistas” dos governos petistas, como Joesley e Wesley BatistaEmílio e Marcelo OdebrechtEike Batista e outros capitães da indústria que se tornaram inquilinos do sistema penitenciário nacional.
 
Durante algum tempo, a Lava-Jato nos deu a ilusão de que lei valia por igual para todos. Lula e seus benfeitores da Odebrecht e da OAS foram parar na cadeia, mas o STF mudou (pela enésima vez) a jurisprudência sobre prisão em segunda instância, anulou as condenações do ex-presidiário e pregou no ex-juiz Sergio Moro a pecha da parcialidade.
 
Somada ao notório brilhantismo da malta tupiniquim (falo daquela que se convencionou chamar "eleitorado"), essa formidável sequência de descalabros levou a usina de compostagem a produzir o bolsonarismo. Enquanto Lula oscilava entre a prisão e o Planalto, Bolsonaro, que até então não passava de um dublê de mau militar e parlamentar medíocre, comia pelas beiradas. À luz da Teoria das Probabilidades, um anormal ser eleito presidente da República seria improvável; dois, inacreditável; três, e em seguida, virtualmente impossível. Mas não no Brasil. 
 
Lula ocupou a Presidência de 2003 a 2010; Dilma, de 2011 a 12 de maio de 2016; e Bolsonaro, de 2019 até não se sabe quando. Se vivêssemos num país normal, essa dúvida seria dirimida no próximo dia 30. Como não é, o futuro a Deus pertence. Mas parece que o Capiroto também tem voto decisivo na assembleia dos acontecimentos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (DUODÉCIMA PARTE)

 

As penas impostas a Lula nos processos envolvendo o apartamento no Guarujá e o sítio em Atibaia somaram mais de 26 anos de reclusão, mas o condenado deixou a cela VIP — que usava como diretório político-partidário, comitê de campanha e sala de entrevistas — após míseros 580 dias. 

Comparada com as acomodações destinadas aos demais detentos, a salinha de 15 m2  que o ex-presidente tinha só para si era um latifúndio. Afora outras mordomias, a porta não ficava trancada, os visitantes não eram submetidos a revistas íntimas, o banheiro era privativo e dispunha de chuveiro elétrico. Lula contava ainda com TV de plasma, aparelho de som, esteira ergométrica e um servente que fazia a limpeza enquanto ele tomava banho de sol. 
 
O preso foi solto tão logo o STF sepultou (por 6 votos a 5) a prisão em segunda instância. Assim que ganhou as ruas, o palanque ambulante subiu num caixote, fez pose de injustiçado e criticou seus "algozes". As togas concluíram o desserviço no início do ano passado, quando sacramentaram a "epifania" de Fachin (detalhes nos capítulo anteriores). Consequentemente, os processos que não prescreveram tiveram a tramitação interrompida por tecnicidades ou reviravoltas, e acabaram arquivados.

Em qualquer democracia minimamente consolidada, esse descalabro produziria uma convulsão social. No Brasil, porém, tudo se tolera — até o coro dos hipócritas que acusam a Lava-Jato de fascismo. Essa tolerância é ainda pior que o pior dos crimes do PT, mas um país que confunde intolerância com impunidade aceita qualquer coisa — até mesmo o perdão mais hediondo. 
 
Lula tornou-se uma caricatura de si mesmo, uma foto amarelada que insiste em permanecer pendurada na parede do PT, até porque ele e seu partido são uma coisa só. Pelo andar da carruagem, ele será eleito no primeiro turno (com 171% dos votos) e voltará alegremente à cena do crime. 
Bolsonaro, que atacou duramente o Centrão durante sua campanha e prometeu sepultar a "velha política do toma lá, dá cá" passou por nove partidos, todos do Centrão. Entre 2019 e 2020, tentou criar o Aliança Pelo Brasil, mas não obteve sucesso, e acabou no PL do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto. Durante a cerimônia de filiação, disse candidamente que “estava se sentindo em casa”.
 
Voltando a DilmaLula escolheu essa excrescência para suceder-lhe em 2010, achando que poderia manipulá-la até que ele pudesse voltar ao trono. Mas as coisas não saíram como ele previu. A gerentona competente — que faliu duas lojinhas de quinquilharias, iniciou-se na política no Rio Grande do Sul e ajudou a fundar o PDT antes de se filiar ao PT pegou gosto pelo Planalto e não abriu mão de disputar a reeleição. A calamidade em forma de gente acabou penabundada 852 dias antes de terminar seu segundo mandato, mas isso é outra conversa.
 
Em algum momento de sua primeira gestão, Dilma começou a “fazer o diabo” (palavras dela) para poder passar mais quatro anos destruindo o Brasil, e fez exatamente o que disse que seu adversário faria se vencesse a eleição de 2014 (a exemplo de Collor, que sequestrou a poupança dos brasileiros depois de barrar do palanque que esse era o plano de Lula). 

Na Presidência, madame pegou gosto pela ostentação. Além de usar bolsas e sapatos caríssimos, fartava-se de comidas requintadas e vinhos premiados. Mesmo quando estava de dieta, sua alteza não abria mão dos bombons Chocopologie — os mais caros do mundo segundo a Forbes; cada unidade de 42 gramas custava US$ 250 dólares — e dos chocolates suíços Delafee — recobertos de fios de ouro comestíveis de 24 quilates. Segundo auxiliares off, ela mordia um pedacinho e descartava o resto na lixeira. 
As despesas pagas com cartões corporativas somavam, na média R$ 1 milhão por mês. Nas viagens ao exterior, Dilma se hospedava nas suítes presidenciais dos melhores hotéis e frequentava os mais finos restaurantes. Numa única visita à Califórnia, ela torrou US$ 100 mil só com aluguel de carros (a locadora só foi paga quando ameaçou mover uma ação de cobrança na justiça americana). 

Graças a sua vocação inata para fazer sempre as piores escolhas, a mandatária de fancaria não logrou êxito com seu pacote de maldades e gerou uma sucessão de desastres que resultaram na maior crise político-econômica da era pós-ditadura. Ela diz até hoje que foi vítima de um "golpe", embora tenha tido amplo direito à defesa e o STF — então presidido por um ministro que vestiu a toga sobre a farda de militante petista — tenha atestado a legalidade e a constitucionalidade de seu impeachment. 

Se houve maracutaia, ela foi engendrada por Temer, o vice decorativo, e Cunha, o todo-poderoso presidente da Câmara. Golpe mesmo foi o que fizeram o ministro Lewandowski e o senador Renan Calheiros, como relembraremos no próximo capítulo.

Continua...

terça-feira, 26 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (SEXTA PARTE)

 

Após presidir o Brasil de 2003 a 2010, Lula deixou o cargo com o ego inflado e a popularidade nas alturas. Suas gestões foram marcadas por políticas sociais (como o Bolsa Família), crescimento da economia (puxado, em grande medida, pela alta das commodities) e escândalos de corrupção (como o Mensalão). Ironicamente, a despeito de boa parte da alta cúpula petista ter acabado na cadeia, o maior interessado no esquema sequer foi indiciado na ação penal 470. E ainda conseguiu eleger um "poste" para manter aquecida a poltrona presidencial até que ele voltasse a ocupá-la, dali a quatro anos. 

 

Durante um jantar regado a Romanée-Conti — vinho da Borgonha que chega a custar US$ 25 mil a garrafa —, Lula tirou uma baforada da cigarrilha cubana (acesa pelo diligente vassalo Delúbio Soares) e disse: "Sem falsa modéstia, companheiros, eu elejo até um poste para governar o Brasil." E elegeu mesmo. Mas ele não contava com o imprevisto, que, como se sabe, pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. 

 

Antes de empalar a nação com a gerentona de festim, o petralha-mor planejava emplacar seu ministro-chefe da Casa Civil. Mas a canoa virou quando o guerrilheiro de fancaria foi denunciado por Roberto Jefferson como operador-mor do Mensalão. O médico ribeirão-pretano Antonio Palocci, ministro da Fazenda durante a primeira gestão lulopetista, também foi cogitado. Mas o barco afundou quando veio à tona o imbróglio envolvendo o caseiro Francenildo Costa, testemunha de acusação no “Escândalo da República de Ribeirão Preto” (cujo cenário era uma mansão de Brasília onde rolavam negociatas do governo em meio a encontros com prostitutas agendados pela cafetina Jeany Mary Corner). 

 

O único "poste" fabricado pelo morubixaba da Petelândia que deu alguma luz, noves fora Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo  que não passou de uma "estaca", pois perdeu a reeleição para Doria em 2016 e foi derrotado por Bolsonaro no pleito presidencial de 2018 —, foi Dilma. A tragédia começou quando Dirceu e outras estrelas do alto escalão petista foram parar no xadrez. Lula, sem ter como levar adiante o golpe (via emenda constitucional) que lhe garantiria o terceiro mandato, preferiu a estocadora de vento à Marina Silva, achando que ela não se apegaria ao cargo e seria mais fácil de manipular. Ledo engano: a cria não só tomou gosto pelo poder como "fez o diabo" para se reeleger, o que azedou suas relações com o criador. 

 

Esse "erro estratégico" feriu de morte a relação de Lula com Marina, que abandonou o governo em 2008 e o PT no ano seguinte. Em 2010, filiada ao PV, Marina concorreu à Presidência, mas Dilma contava com o apoio do mentor, da máquina pública e dos marqueteiros como João Santana e Mônica Moura — que mais adiante seriam presos na 23ª fase da Lava-Jato e soltos mediante o pagamento de fiança de R$ 31,4 milhões. Isso para não falar nos milhões de reais oriundos do propinoduto da Petrobras. Assim, a ex-guerrilheira de fancaria derrotou o tucano José Serra por 46,91% a 32,61% dos votos válidos.

 

Observação: Monica Moura revelou que Lula teve um "estremecimento" com Dilma em 2014, quando ele quis ser o candidato e ela não aceitou. Em depoimento o MPF, a publicitária relatou conversas que João Santana manteve com a presidenta nos meses que antecederam a disputa eleitoral daquele ano. 

 

Marina disputou novamente a presidência em 2014, primeiro como vice na chapa do peessedebista Eduardo Campos — o partido que ela havia criado em fevereiro de 2013 não conseguiu registro junto ao TSE a tempo lançá-la candidata ―, e depois como titular — Campos morreu num acidente aéreo a dois meses do primeiro turno. Dada essa reviravolta, imaginou-se que Marina enfrentaria Aécio no segundo turno, mas ela foi escanteada por Dilma, que venceu o tucano safado por uma vantagem de 3.459.963 de votos. Se os 10% dos eleitores que anularam o voto, votaram em branco ou se abstiveram de votar naquele pleito tivessem votado no neto de Tancredo, os próximos capítulos da história desta banânia poderiam ter sido bem diferentes, ainda que não necessariamente gloriosos. 

 

Superando a si mesma em incompetência, Dilma produziu a maior crise econômica que este país amargou desde a redemocratização. A inépcia e a arrogância da "figura feminina de expressão tristemente notável" — como Dilma era descrita nos autos da ação penal 366/70 — propiciaram seu afastamento em maio de 2016 e o pé na bunda definitivo em 31 de agosto daquele ano. 

 

Continua...

sábado, 23 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (TERCEIRA PARTE)



Marisa Letícia Lula da Silva morreu no dia 3 de fevereiro de 2017, aos 66 anos, vítima de um aneurisma. Embora ela fosse hipertensa, sedentária e fumante, sua morte foi inesperada. Durante o velório, o viúvo proferiu um discurso emocionado, regado a lágrimas, e a imprensa concedeu ampla cobertura à desgraça que se abateu sobre o Clã Lula da SilvaNas redes sociais, mensagens de solidariedade, pêsames e congêneres dividiram espaço com posts publicados por gente que não morria de amores por Lula, pelo PT e pela própria ex-primeira dama. Alguns resvalaram do mau gosto para o grotesco, o que é indesculpável, mas, ainda assim, compreensível.


Militantes de esquerda em geral e puxa-sacos em particular relembraram a infância pobre da falecida, que estudou somente até a 7ª série, começou a trabalhar aos 9 anos, enviuvou do primeiro marido aos 20, liderou a marcha pela libertação do segundo, costurou a primeira bandeira do PT, apoiou o chefão da ORCRIM nas campanhas; enfim, pintaram-na como uma Amélia melhorada, com a inteligência de Marie Curie, a abnegação de Madre Teresa, a têmpera de Margaret Thatcher e a fleuma de Hillary Clinton (no episódio Monica Lewinsky).

Curiosamente, ninguém mencionou que a finada deixou patente, bem do Escândalo do Mensalão, a notória incapacidade petista de separar o público do privado ao mandar plantar, no gramado do Alvorada, um canteiro de flores vermelhas no formato da estrela símbolo do partido. Tampouco foi lembrado que ela ― muito convenientemente ― teria “fechado os olhos” (aqui metaforicamente) para o affair do marido com Rosemary Noronha (entendeu agora o que eu quis dizer com a “fleuma de Hillary”?).

 

Rose, como a “segunda-dama” era chamada informalmente, foi apresentada a Lula pelo guerrilheiro de araque José Dirceu. O “caso” teve início na década de 90, mas só veio a público em 2012, quando a PF deflagrou a Operação Porto Seguro. Nesse meio tempo, a moçoila acompanhou “O Chefe” ― ou “Deus”, como ela costumava se referir a ele ― em pelo menos 32 viagens oficiais. Seu nome não constava do manifesto de voo e ela não compartilhava com Lula a mesma suíte, mas ficava nos melhores hotéis, comia do bom e do melhor em restaurantes estrelados e, segundo Leo Pinheiro, recebia R$ 50 mil por mês da OAS (também a pedido do petista, o empreiteiro teria incluído o marido de Rose na folha de pagamento da empresa).

 

Quando a história ganhou notoriedade, o repórter Thiago Herdy e o jornal O Globo entraram na Justiça com um pedido de quebra do sigilo dos gastos da dita-cuja no cartão corporativo da Presidência, mas o STJ empurrou a coisa com a barriga. Em 2014, quando o movimento “Volta, Lula” ganhou corpo, Dilma ― que prometeu “fez o diabo” para se reeleger ― ameaçou divulgar as despesas da concubina real, forçando o petralha a recuar.

 

Segundo o jornalista Cláudio Humberto, editor do blog Diário do Poder, os gastos com cartões corporativos no período de 2003 a 2015 somaram R$ 615 milhões (mais de R$ 51 milhões por ano), ao passo que no último ano do governo FHC a conta foi de “apenas” R$ 3 milhões. A farra foi tamanha que um alto funcionário do Ministério das Comunicações chegou a pagar duas mesas de sinuca com o cartão corporativo — que também foi usado por seguranças da “primeira-família” para pagar equipamentos de musculação e materiais de construção para Lurian, filha de Lula


Em setembro de 2013, o jornalista Augusto Nunes publicou em sua coluna: "Neste sábado, Lula completará 288 dias de silêncio sobre o escândalo que protagonizou ao lado de Rosemary Noronha. Ele parece ainda acreditar que o Brasil acabará esquecendo as bandalheiras que reduziram a esconderijo de quadrilheiros o escritório da Presidência da República em São Paulo. No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, a edição de VEJA tratará de reiterar que a memória da imprensa independente não é tão leviana. As revelações contidas nas quatro páginas tornarão mais encorpada e mais cinzenta a pilha de perguntas em busca de resposta. Por exemplo: quem está bancando os honorários do oneroso exército de advogados incumbido de livrar de punições judiciais a vigarista de estimação do ex-presidente? Num depoimento à Polícia Federal, Rose não conseguiu explicar como comprou o muito que tem com o pouco que ganha. De onde vem o dinheiro consumido pela tropa de bacharéis que cobram em dólares americanos? Lula sabe”. Segue um excerto da matéria: A discrição nunca foi uma característica da personalidade de Rosemary Noronha. Quando servia ao ex-presidente em Brasília, ela era temida. Em nome da intimidade com o “chefe”, fazia valer suas vontades mesmo que isso significasse afrontar superiores ou humilhar subordinados. Nos eventos palacianos, a assessora dos cabelos vermelhos e dos vestidos e óculos sempre exuberantes colecionou tantos inimigos — a primeira-da­ma não a suportava — que acabou sendo transferida para São Paulo. Mas caiu para cima. Encarregada de comandar o gabinete de Lula de 2009 a 2012, Rose viveu dias de soberana e reinou até ser apanhada pela Polícia Federal ajudando uma quadrilha que vendia facilidades no governo. Ela usava a intimidade que tinha com Lula para abrir as portas de gabinetes restritos na Esplanada. Em troca, recebia pequenos agrados, inclusive em dinheiro. Foi demitida, banida do serviço público e indiciada por crimes de formação de quadrilha e corrupção. Um ano e meio após esse turbilhão de desgraças, no entanto, a fase ruim parece ter ficado no passado. Para que isso acontecesse, porém, Rosemary chegou ao extremo de ameaçar envolver o governo no escândalo."

 

No discurso emocionado que proferiu no velório da esposa, Lula disse que ele dona Marisa foram foram vítimas de injustiça, que a mulher morreu "triste com a maldade que fizeram com ela" e que ele espera que "os facínoras que fizeram isso um dia peçam desculpas". Confira um trecho do comício:

 

Se alguém tem medo de ser preso, este que está aqui, enterrando sua mulher hoje, não tem. Não tenho que provar que sou inocente. Eles que precisam dizer que as mentiras que estão contando são verdadeiras. Marisa foi mãe, foi pai, foi tia, foi tudo; eu e ela nunca brigamos. Marisa nunca pediu um vestido, um anel. Eu vou continuar agradecendo à Marisa até o dia que eu não puder mais agradecer, o dia em que eu morrer. Espero encontrar com ela, com esse mesmo vestido que eu escolhi para colocar nela, vermelho, para mostrar que a gente não tinha medo de vermelho quando era vivo, e não tinha medo de vermelho quando morre”.

 

Neste vídeo, a jornalista e hoje deputada federal Joice Hasselmann resumiu em 6 minutos, de maneira irreprochável, o que pensava da desfaçatez do viúvo que transformou esquife em palanque e foi aplaudido pelos micos amestrados de costume — conquanto muita gente tenha lido nas entrelinhas a monstruosidade moral de um safardana nauseabundo, capaz de usar a morte da mulher para fazer proselitismo político.

 

Continua...

domingo, 10 de julho de 2022

SERGIO MORO DE VOLTA ÀS ORIGENS (PARTE 4)


 

Após ganhar notoriedade expondo documentos secretos da NSAGlenn Greenwald, o pasquineiro difamador, deixou o jornal The Guardian e passou ser bancado pelo francês de origem iraniana Pierre Omidyar, fundador do site de leilões eBayCom fortuna avaliada em quase US$ 14 bilhões, o bilionário é fundador também da First Look Media — empresa-mãe do The Intercept — e do Press Freedom Defense

Diferentemente de filantropos realmente engajados em causas humanitárias e à semelhança do húngaro George Soros — a encarnação do demônio para os antiglobalistas —, Omidyar “faz caridade” com uma desavergonhada pegada de ativismo político. Em 2017, quando doou US$ 100 milhões para combater fake news através do jornalismo investigativo, ele divulgou um comunicado em que se comprometia a aplacar o “déficit global de confiança” nas instituições. Dentre os eventos listados para fundamentar tal preocupação figuravam a eleição de Donald Trump e — vejam só — o impeachment da ex-presidanta Dilma Rousseff. 

Defensores de Verdevaldo nas redes sociais tentaram lhe emprestar credibilidade alegando que ele teria sido agraciado com um Pulitzer — considerado o Oscar do Jornalismo — pela publicação dos documentos da NSA vazados por Edward Snowden. Na verdade, a equipe liderada por ele e Laura Poitras conquistou para o The Guardian US e para o The Washington Post o prêmio na categoria “Serviço Público” de 2014 — na qual o premiado é sempre o jornal que publicou a reportagem ou a série de reportagens. Ainda que assim não fosse, a lista de ganhadores do Pulitzer inclui Walter Duranty, que ocultou deliberadamente os crimes do stalinismo (incluindo o genocídio de ucranianos pela fome) e Janet Cooke, autora de uma reportagem inventada sobre uma criança de oito anos viciada em heroína, que teve de devolver o prêmio depois que a farsa foi descoberta (clique no site do Pulitzer para checar).
 
Quem tiver interesse em conhecer o verdadeiro estofo do caráter do manipulador do conta-gotas do Intercept encontrará mais informações na reportagem que Eric Wemple publicou em 27 de junho de 2013 no jornal The Washington Post. Dentre outras coisas, a matéria informa que “o escritório do cartório do condado de Nova York mostra que Glenn Greenwald tem US$ 126.000 em sentenças abertas e contra ele datando de 2000, incluindo US$ 21.000 do Departamento de Impostos do Estado e da Secretaria da Fazenda. Também fala de um penhor de US $ 85.000”.
 
Greenwald se envolveu com gente do submundo e do ramo da pornografia e se tornou inimigo de Peter Haas — dono de uma companhia de produtos pornográficos —, a quem chamou de little bitch (putinha) no Post. Ao se juntar a Edward Snowden — o ex-administrador de sistemas da CIA e ex-contratado da NSA que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global americano —, entrou para a lista negra do governo EUA e bateu de frente com Julian Assange, dono do WikiLeaks e de uma capivara que inclui processo por estupro na Suécia e quebra de acordo de liberdade sob fiança no Reino Unido. 

Em 2013, quando David Miranda — ex-suplente de Jean Wyllys e marido de Glenn — foi detido no Aeroporto de Londres por violar o protocolo 7 do Ato Antiterrorismo, Dilma prestou mais um desserviço aos brasileiros abrindo as portas do país para a permanência legal do panfleteiro, como fez Lula antes dela ao acolher o mafioso assassino Cesare Battisti

Se você ainda acha que o Intercept, seu editor e seus replicadores são paladinos da justiça, pense outra vez. Como Lula, essa caterva não passa de santos com pés de barro. Greenwald posa de quintessência da moralidade, mas nunca foi flor que se cheire. Um mês antes das eleições americanas de 2016, ele publicou no Intercept uma matéria intitulada “EXCLUSIVO: NOVO VAZAMENTO DE E-MAILS REVELA RELAÇÃO PRÓXIMA DA CAMPANHA DE CLINTON COM A IMPRENSA”, que expunha o conteúdo de mensagens trocadas entre a equipe da candidata democrata Hillary Clinton e jornalistas. 

Ao divulgar as supostas conversas entre Moro e os procuradores da Lava-Jato, o blogueiro ignominioso não se importou com a forma como o material fora obtido nem com o óbvio direcionamento dos alvos: somente juízes e investigadores envolvidos em decisões desfavoráveis aos acusados pela Lava-Jato tiveram seus dados vazados. Ao ser perguntado sobre essa seletividade, o coveiro de reputações respondeu: “Qualquer sugestão de que eu me oponho à Lava-Jato é totalmente ridícula”. Seus métodos se encaixam naquilo que é conhecido como “jornalismo ativista”, “jornalismo de oposição” ou “jornalismo de choque”. 

A prática usa as premissas que regem a profissão, como a preservação da fonte e a busca do interesse público, para atingir apenas rivais. Seu sobrenome até deu origem a um verbo em inglês: “greenwalding”. Em 2016, o termo entrou no site Urban Dictionary, em que os leitores elencam acepções para as palavras e votam nas melhores, sedo uma das mais populares “pinçar um conteúdo e tirá-lo do contexto com o objetivo de difamar alguém”.
 
Os alvos do “jornalista investigativo” e seu site panfletário são todos aqueles que, em sua visão de mundo, abusam de sua condição de poder. Trata-se de um grupo eclético, que inclui o Partido Democrata, as elites, o jornal The Washington Post, a Globo, os ricos (embora ele próprio seja financiado por um bilionário), o FBI, a CIAIsrael, o Reino Unido, o ex-procurador especial dos Estados Unidos Robert Mueller, a Lava-Jato (quando o alvo é o PT), e por aí segue a procissão.

O gosto pelo enfrentamento, destilado quase diariamente em sua conta do Twitter, aflorou ainda em 2005, quando Glenn passou a criticar a presença militar americana no Iraque. No ano seguinte, publicou o livro Como um patriota deveria atuar — o título fazia referência ao Patriot Act, criado pelo presidente George W. Bush como resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A obra tornou-se um best-seller, e o sucesso editorial lhe abriu as portas para a autoria de colunas no site americano Salon e, mais adiante, no jornal inglês The Guardian.

Com Snowden e Assange, o paladino dos bocós forma um trio sempre disposto a defender Vladimir Putin. Dos três ativistas, Glenn é quem tem a língua mais afiada. Para cada abuso ou crime cometido a mando de Putin, ele cria uma história para relativizar o fato ou afirma que as evidências não são suficientes para culpar Moscou. Quando um ex-espião russo e sua filha foram envenenados com novichok na Inglaterra, disse que os cientistas britânicos mentiram quando afirmaram que a substância havia sido produzida na Rússia.
 
Além prestar vassalagem o ditador russo, Greenwald é simpatizante de grupos terroristas muçulmanos, como o Estado Islâmico, a Al-Qaeda, o Hamas e o Hezbollah, que considera como "as democracias do Oriente" — só para lembrar: em 1983, membros do Hezbollah explodiram dois caminhões-bomba no Líbano e mataram 307 militares que estavam no país como força de paz. Desses, 241 eram americanos. Mas o Brasil entrou em sua vida por questões pessoais: Em 2005, ele conheceu o marido David Miranda, então com 20 anos, que conquistou seus cinco minutos de fama ao ser interrogado durante nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, depois de ter sido pego transportando documentos de Snowden para Greenwald

Em 2016, Miranda se elegeu vereador pelo Rio de Janeiro; em 2018, tentou a Câmara dos Deputados, mas conseguiu apenas a primeira suplência da bancada do PSOL. Quando Jean Wyllys se autoexilou na Espanha, alegando ameaças de morte, o vice passou a titular, o que comprova mais uma vez quão bem servidos estamos de representantes no Congresso.
 
"Lutamos contra os governos mais poderosos do mundo e a CIA, a NSA, o Reino Unido… Estávamos sendo ameaçados o tempo todo”, disse Greenwald em entrevista ao site Agência Pública, dois dias depois da divulgação das mensagens roubadas do celular de Dallagnol. Na mesma entrevista, atacou veículos de imprensa brasileiros, afirmando que a “grande mídia” estava trabalhando para a Lava-Jato. No dia seguinte, a Globo emitiu um comunicado revelando que, apesar dos ataques, o panfleteiro havia proposto uma pareceria para divulgar as mensagens roubadas. 

Glenn e a Globo já haviam trabalhado juntos em 2013, na publicação dos documentos de Snowden, mas o assassino de reputações se negou a dar informações sobre o conteúdo e a origem do material que dizia possuir. Em outras palavras, ele queria fechar a parceria sem que a emissora soubesse o que tinha em mãos, e por isso a conversa não foi adiante. Uma vez publicadas as matérias no Intercept, prossegue o comunicado da Globo, um representante do site ainda a procurou para oferecer uma entrevista. Também não deu certo. Na sequência, Glenn passou a atacar a Globo. “O comportamento de Greenwald nos episódios aqui narrados permite ao público julgar o caráter dele”, resume a nota.

O mundo dá muitas voltas. Seria justiça poética o casal 20 versão século XXI receber uma dose cavalar do próprio remédio, até porque a diferença entre o fármaco e o veneno está justamente na dosagem. E assim encerro mais este capítulo, aproveitando o ensejo para recomendar a leitura desta matéria, que detalha o imbróglio que descrevi. Se sobrar tempo, vale também assistir a este vídeo.

Continua...

segunda-feira, 19 de julho de 2021

'O PRESIDENTE QUE SE GABA DE NUNCA TER LIDO UM LIVRO FOI SUCEDIDO POR ALGUÉM QUE SE JACTA DE TER LIDO TODOS OS LIVROS QUE NUNCA LEU'

Bolsonaro recebeu alta na manhã de ontem, mas "continuará sendo acompanhado", segundo o boletim médico divulgado pela Secom. Na saída do hospital, ele disse que um estudo feito nos EUA dá conta de que a obesidade é a principal causa das mortes por Covid, e que vai chamar o ministro Queiroga para discutir a possibilidade de utilizar a proxalutamida no tratamento da doença. Para não perder o costume, o capitão criticou o uso de máscaras, o lockdowns e o governador João Doria. Sobre a CPI, disse que a comissão deveria se espelhar nos EUA e procurar formas de combater a pandemia e não o seu governo "Eu já disse, só Deus me tira daquela cadeira", falou. Sobre o voto impresso, afirmou que “Não existe eleições sem transparência, isso é fraude. Não queremos isso". Questionado sobre Pazuello prometer a um grupo de empresários comprar 30 milhões de doses da CoronaVac por quase o triplo do preço negociado pelo Butantan, Bolsonaro minimizou dizendo que Brasília é um "paraíso de lobistas", e que "muitas pessoas foram recebidas no ministério". Então tá.

***
Um recorte de jornal me assombra desde o dia 26 de dezembro, quando saiu no caderno Poder, da Folha, matéria do competente Fernando Rodrigues com o título “Dilmoteca básica”. Seis dias antes da posse, o jornal pretendia contrapor o perfil da presidente eleita ao do padrinho, sobretudo em termos culturais.

Há textos que você começa a ler e não consegue mais parar. Outros que você não consegue deixar de largar. Este tem o dom de inverter as forças de atração: é ele que não me larga desde a primeira leitura, há mais de um mês. O recorte correspondente me acompanha, como um miasma, obrigando a releituras diárias, a cada dia mais espantosas. Deve ser guardado como prova de um contraste histórico que jamais se repetirá: o presidente que se gaba de nunca ter lido um livro foi sucedido por alguém que se jacta de ter lido todos os livros que nunca leu. Se leu, não assimilou. Se assimilou, nunca demonstrou. Naquele célebre vídeo do guru Marcelo BrancoDilma levou constrangedores segundos para lembrar o livro que estava lendo, só o fazendo, penosamente, após o sopro amigo da assessora. Por isso, a tal “Dilmoteca básica” é uma coleção extraordinária de embustes transformados em gênero literário.

A tese central da matéria da Folha — “De todas as diferenças entre a presidente eleita e seu antecessor, uma das mais marcantes é a sólida formação literária da próxima ocupante do Palácio do Planalto” — é desmentida a cada linha do texto. Mas as paixões literárias da presidente são tantas e tamanhas que, a certa altura, ela diz que chegou a pensar em comprar uma casa só para guardar seu “acervo”. José Mindlin era mais modesto: o maior bibliófilo do país morava na própria casa onde mantinha seus 30 mil livros.

Não era intenção de Fernando conversar com a “bibliófila” Dilma Rousseff, mas compor seu perfil biográfico. Primeiro falou a fã de esportes, que de pronto recordou-se de sua “primeira vez” no Maracanã, em 1969. (Teria sido um jogo do Flamengo, mas ela não lembra contra quem. Detalhe que deixa essa história muito estranha: Dilma/Stella estava na clandestinidade — que tipo de guerrilheira com a cabeça a prêmio, ainda por cima mineira, se arriscaria a ir ao Maracanã à toa, naquela época duríssima? O pessoal do MR-8 esteve na porta do estádio no dia 7 de setembro daquele mesmo ano, mas para desovar o embaixador Charles Elbrick (jogavam Fluminense e Cruzeiro). Dilma se expôs para ver a festa da torcida do Flamengo: “Eu fiquei assim abestalhada com as bandeiras. É de perder o fôlego”. De perder o fôlego é o amor de Dilma pelos livros, desde cedo.

A transição de assuntos — domingo no Maracanã para hábitos de leitura — foi meio brusca. Ela desanda a falar: “Sobre a memória, quem tem razão era o Proust. Ele falava do sabor e do odor, dois sentidos primitivos que suportam um edifício imenso da recordação”. Esse Proust da Dilma, que “falava” do sabor e do odor, parece um enófilo, não o célebre escritor homônimo. Mas para provar que leu o monumental “Em busca do tempo perdido”, ela faz referência às… às madeleines, única coisa que quem nunca leu Proust sabe sobre Proust.

Depois de revelar que, “em matéria de poesia”, gosta de João CabralCecilia Meirelles e Fernando Pessoa (de quem Dilma, numa entrevista célebre antes da eleição, surrupiou o célebre “navegar é preciso”, atribuindo-o a Ulysses Guimarães), entra mais um olhinho puxado na história: “Eu consigo além disso gostar do Bashô, sabe quem é Bashô?”, pergunta ela ao colunista, para em seguida responder e mostrar autoridade: “Um monge japonês que inventou o haicai”. Bem, Bashô não era monge e quem diz que ele “inventou” o haicai não é propriamente um leitor de haicais, escola poética que exige precisão formal absoluta.

Para demonstrar que não tem “um” gosto, Dilma vai então do Japão medieval de Bashô à Nova Inglaterra. “Gosto apaixonadamente de uma mulher chamada Emily Dickinson, a senhora de Amherst”. De novo, a leitora de fachada ou de orelha se trai com epítetos esquisitos – “senhora de Amherst”? Quem se refere assim a “uma mulher chamada” Emily Dickinson é para mostrar que sabe em que lugar dos Estados Unidos a autora nasceu, apenas isso. Gostaria de ouvir Dilma discorrendo sobre a obra de Emily. Bastaria um livro.

Espere: a coisa está ficando melhor. Ela retorna a Proust, o das madeleines. “Gostei do Proust para mais de metro”, diz a bibliófila métrica. Mas, eclética, vai logo de Paris a Ilhéus, das madeleines ao cacau: “Também adorei, aos 13 anos, quando meu pai me deu o Jorge Amado”. Como assim, “o Jorge Amado”? Ela explica: “Foi Capitães da AreiaSão Jorge dos Ilhéus, todos os outros”. Ou seja: a obra toda do autor. Imagine o cenário: Belo Horizonte, 1960 — Dilma tinha 13 anos, ainda usava laçarotes na cabeça e Jorge Amado já tinha escrito 11 títulos. Petar Roussev [pai da ex-presidanta] chega em casa equilibrando-se atrás de um pacote de livros. Dilma adorou “o Jorge Amado”.

Era uma menina de paixões literárias arrebatadoras, ecléticas. “Amei de paixão o Machado de Assis (“o” Machado significando, claro, toda a obra dele), mas também o Monteiro Lobato.” Para não deixar dúvida sobre o Lobato a que se referia, explicou: “A Emília, o Pedrinho, a Narizinho, o Visconde, a Cuca”, a turma toda.

Pois bem: a menina que se entregava a obras completas de autores seminais deu lugar à moça idealista que pegou em armas e esteve na clandestinidade ou presa por muitos anos — e a biblioteca do DOPS não era exatamente a do Congresso americano. Depois, à “economista” que logo entraria para o serviço público e não largou mais o osso, sempre absorta em relatórios enormes sobre quilowatts/hora e, mais recentemente, o Minha Casa, Minha Vida. A leitura “literária” naturalmente ficou em segundo plano, não? Errado. “Eu compro muito livro, sempre mais do que consigo ler. Tenho aquela teoria de que estou fazendo um estoque (…) Vai que aconteça alguma coisa e eu não tenha condição de ficar comprando livro? Então, eu estoco”.

O melhor do estoque foi guardado para o final. O texto relata que Dilma, em viagem à China com Lula, fez uma demanda sui generis: “Enchi a paciência do embaixador para me dizer qual era o romance chinês equivalente aos romances nossos. Qual é o Charles Dickens deles. Qual era o Balzac, o Flaubert, o Shakespeare”.

Não sei se o senhor embaixador chegou a apontar o “Shakespeare chinês”, mas deve ter indicado alguma coisa: Dilma contou a Rodrigues que trouxe para o Brasil um catatau local traduzido para o inglês. Três volumes. “Mas o diabo não era isso. Eram os nomes dos personagens”. Dilma estranhou aqueles nomes esquisitos: “Temos uma baixíssima familiaridade com nomes chineses”, surpreende-se ela, sem levar em conta que os chineses também não têm muita familiaridade com nomes como RousseffCarvalho ou Eustáquio. Mas Dilma, que leu o Balzac chinês de cabo a rabo, não se apertou, porque tinha uma estratégia: “Você anota todos os nomes num papel para não se perder totalmente”.

Esse pedaço de papel — com os nomes chineses caprichosamente anotados pela presidente Dilma — sem dúvida valeria mais no mercado de obras raras do que os originais dos Pergaminhos do Mar Morto ou dos Protocolos dos Sábios de Sião.

Com Augusto Nunes

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

LEITE CONDENSADO ERA PARA PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE BRIGADEIROS


Um presidente que não governa, que age como se estivesse em plena campanha (e está), que não se empenha na aprovação das reformas (e joga a culpa o Congresso), que tripudia do vírus (gripezinha) e insulta as pessoas sensatas (maricas), que banca o curandeiro (quem não toma cloroquina toma tubaína), que aparelha a PGR, reforça a banda podre do STF e articula a eleição de apaniguados na Câmara e no Senado por razões, digamos, escusas, não é apenas uma figura inútil. É um estorvo, um encosto, um egun mal despachado, devendo ser exorcizado sob pena de o país regredir aos tempos nefandos de Sarney e Collor.

As despesas do governo federal com alimentação em 2020 (R$ 1,8 bilhão), reveladas pelo site Metrópoles na última 3ª feira, causaram indignação. Quando mais não seja porque R$ 15 milhões foram gastos com leite condensado, R$ 2,2 milhões com chicletes, R$ 32,7 milhões com pizza e refrigerante, R$ 6 milhões com frutos do mar e R$ 2 milhões com vinhos. Para além disso, o Portal Transparência saiu do ar e permaneceu inacessível por horas a fio.

Claro que para tudo existe uma explicação (não necessariamente convincente). Na pior das hipóteses, inventa-se uma desculpa — o que não costuma ser problema para um governo sem o menor apreço pela verdade. E com efeito. Na 4ª feira, o Ministério da Defesa soltou uma nota afirmando que houve redução em relação a 2019

Sobre o leite condensado, a pasta comandada pelo general Fernando Azevedo e Silva disse ser "um dos itens que compõem a alimentação por seu potencial energético, e eventualmente pode ser usado em substituição ao leite". No que tange ao chiclete, explicou que produto “ajuda na higiene bucal das tropas, que, às vezes, não têm tempo de fazer a escovação apropriada, como também é utilizado para aliviar as variações de pressão durante a atividade aérea”. Também ressaltou que há atualmente 370 mil militares na ativa, e que cada um recebe R$ 9 por dia para alimentação.

Também na 4ª feira, durante almoço com apaniguados e puxa-sacos numa churrascaria em Brasília, Bolsonaro reagiu às críticas com a finesse que lhe é peculiar: “Quando eu vejo a imprensa me atacar, dizendo que comprei 2 milhões e meio de latas de leite condensado, vai pra puta que pariu, imprensa de merda! É pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado. Essas acusações levianas não levam a lugar nenhum e se me acusam disso é sinal que não tem do que me acusar (…) Isso não é mordomia, não é privilégio”.

Segundo levantamento feito pelo Poder360, o governo federal reduziu em quase 55% os gastos com alimentos em 2020, na comparação com o ano anterior. No primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro, o valor efetivamente gasto — que é diferente daquilo que foi empenhado — foi de R$ 1,2 bilhão. Em 2020, marcado pela pandemia, o valor desembolsado foi de R$ 602 milhões.

Volto a lembrar que tanto é possível mentir dizendo a verdade quanto dizer a verdade mentindo. Conta-se que Fidel Castro, questionado sobre a penúria na ilha forçar universitárias a se prostituir para sobreviver, afirmou que era exatamente o contrário: a situação em Cuba era tão boa que até as prostitutas eram universitárias.

Observação: O senador Alessandro Vieira e os deputados Felipe Rigoni e Tabata Amaral pediram ao TCU que apure possíveis irregularidades: “Além do princípio da moralidade, o aumento vertiginoso dos gastos com alimentos — muitos dos quais inequivocamente supérfluos, repita-se — choca-se os princípios enunciados pelo art. 70 da Carta Maior.

Bolsominions costumam apelar para o “bom era o PT, né?” sempre que seu mito de araque é criticado, a exemplo do que fazia a patuleia petista em defesa do picareta dos picaretas. “E o Aécio”?, perguntavam. Mas o fato é que os gastos do capitão-cloroquina deixam os perdulários Lula e Dilma “no chinelo”. 

Também é fato que os petralhas gastavam melhor. Nada de leite condensado; a tigrada gostava mesmo era de vinho francês e charuto cubano. O amigão do Queiroz bem que poderia trocar o leite condensado por panetones de chocolate da loja do bolsokid das rachadinhas, ajudando o pimpolho a evitar os saques de R$ 2 mil, além de não precisar mais receber cheques de milicianos na conta da esposa.

Pode-se argumentar que o exemplo vem de cima. E com efeito. Em abril de 2019, diante da "forte e negativa repercussão popular" resultante de uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo que trazia à lume uma licitação do STF no valor de R$ 1,3 milhão, o MP pediu a adoção de "medidas necessárias a apurar a ocorrência de supostas irregularidades nos atos da administração do Supremo Tribunal Federal visando à 'contratação de empresa especializada para prestação de serviços de fornecimento de refeições institucionais, por demanda, incluindo alimentos e bebidas'”.

Os itens que compunham as tais “refeições institucionais”, objeto do Pregão Eletrônico 27/2019, contrastavam com a escassez e a simplicidade dos gêneros alimentícios acessíveis — ou nem isso — à grande parte da população brasileira. O menu exigido pelos togadas —, que, segundo eles, seguia o padrão do Itamaraty — incluía café da manhã, "brunch", almoço, jantar e coquetel. Na lista havia produtos para pratos como bobó de camarão, camarão à baiana e medalhões de lagosta (as lagostas deviam ser servidas com molho de manteiga queimada). A corte exige ainda que fossem levados à mesa bacalhau à Gomes de Sáfrigideira de siri, moqueca (capixaba e baiana) e arroz de pato. O cardápio incluía ainda vitela assada, codornas assadas, carré de cordeiro, medalhões e tournedos de filé.

Os vinhos exigiram um capítulo à parte no edital. Se fossem tintos, tinham de ser tannat ou assemblage, contendo esse tipo de uva, de safra igual ou posterior a 2010, que tivessem ganhado pelo menos 4 (quatro) premiações internacionais e sido envelhecidos em barril de carvalho francês, americano ou ambos, de primeiro uso, por período mínimo de 12 (doze) meses. Se a uva fosse do tipo Merlot, só seriam aceitas garrafas de safra igual ou posterior a 2011 e vencedoras de pelo menos quatro premiações internacionais. Nesse caso, o vinho teria de ser envelhecido em barril de carvalho, de primeiro uso, por período mínimo de 8 (oito) meses. Para os vinhos brancos, uva tipo Chardonnay, de safra igual ou posterior a 2013, com no mínimo quatro premiações internacionais.

Em sua representação, o subprocurador-geral do MP junto ao TCU afirmou que a despesa que se pretendia realizar por meio daquela licitação encerrava “afronta ao princípio da moralidade administrativa" prevista na Constituição. "Não se pode exigir, pois, dos administradores públicos, simplesmente o mero cumprimento da lei. De todos os administradores, sobretudo daqueles que ocupam os cargos mais altos na estrutura do Estado, deve-se exigir muito mais. Dos ocupantes dos altos cargos do Estado, deve-se exigir conduta impecável, ilibada, exemplar, inatacável. A violação da moralidade administrativa importa em ilegitimidade do ato administrativo e, sempre que for constatada essa violação, deve ser declarada, quer pela via judicial, quer pela via administrativa, a nulidade do ato ilegítimo". Até onde eu me lembro, não deu em merda nenhuma. 

Encerro com um texto publicado por Marcos Nogueira no Blog Cozinha Bruta:

A associação com pessoas desagradáveis, vis, perversas, repulsivas, asquerosas, abjetas, repugnantes pode contaminar objetos e palavras. Ninguém se chama Judas por causa de um certo Iscariotes, apesar de ter havido também o Tadeu, que era sangue-bom e até virou santo. Ninguém quer morar na casa onde viveu um psicopata assassino em série. As roupas e tralhas pessoais desse tipo de criminoso só são aceitas por gente que ignora sua origem. Quem aí quer a boneca da menina Suzane? Ou a câmera do Maníaco do Parque?

Quando o bandido ocupa um cargo de poder, a rejeição se estende por campos menos palpáveis. Na Alemanha e por onde migrou, a família Hitler abandonou o sobrenome. O prenome Adolf, incluindo Adolfo e outras variantes, se tornou muito raro. A obra musical de Richard Wagner, a despeito de quaisquer predicados artísticos, é alvo de ranço porque o Führer o idolatrava. Os cartórios não registram Calígulas, Mussolinis, Maos, Saddams ou Kadafis.

Nunca ouvi falar de comida ou alimento que tenha entrado em desuso por ser o favorito de um tirano. Saddam Hussein gostava de peixe, Idi Amin Dada curtia arroz de cabrito. Pol Pot tomava sua sopinha condimentada. As pessoas continuam a comer essas coisas no Iraque, em Uganda e no Camboja. Mas tudo tem uma primeira vez.

No Brasil, a repetida associação do leite condensado ao nome de Jair Messias Bolsonaro está começando a saturar. Há quem condene o leite condensado por suas propriedades intrínsecas. É doce demais, admito. Mas dá para equilibrar se o resto da receita levar pouco açúcar. Há o argumento de que o leite condensado — criado como substituto do leite de vaca in natura, quando não havia refrigeração artificial — é um predador exótico que ameaça a tradição da doçaria brasileira. Não considero a tese válida, pois elementos novos mudam as tradições, e isso sempre vai ocorrer. Goste ou não, o leite condensado virou ingrediente da tal cozinha de vó.

Há ainda a antipatia decorrente do uso indiscriminado de leite condensado em tudo o que é tosco e mal-acabado: barcas de açaí, paletas recheadas, doces melados de vídeos lacradores. Compartilho desse sentimento, mas ele não basta para eu abandonar o leite condensado.

Gosto muito de brigadeiro, gosto muito de pudim, às vezes me entrego a prazeres tacanhos inconfessáveis para quem posa de gourmet. Mas a insistente aparição conjunta do leite condensado e de Jair Messias periga tornar a associação tão automática quanto a do sobrenome Hitler ao holocausto.

Por favor, Jair. Não nos roube o leite condensado da mesma forma como você roubou nossa bandeira.