Karl Marx
escreveu que a história sempre se repete como tragédia ou farsa. No
Brasil de hoje, está difícil saber o que é tragédia e o que é farsa, mas há
casos em que história reproduz fielmente o passado. Para o bem ou para o
mal.
No final de 2017, a despeito de a economia ter melhorado significativamente
após a substituição da gerentona de araque pelo vampiro do Jaburu, apenas 3%
dos brasileiros — noves fora a esposa Marcela e o filho Michelzinho
— pareciam ter alguma simpatia Michel Temer. Segundo o instituto Paraná
Pesquisas, 87,4% dos entrevistados disseram que ele não representava o
país; só 9,2% responderam positivamente e 3,5% não souberam ou não quiseram
opinar.
Ao estrondoso repúdio a Temer contrapunham-se as
intenções de voto amealhadas por Lula, que aparecia como líder
absoluto em qualquer cenário. Mesmo sendo heptarréu e tendo sido condenado a 9
anos e meio de prisão, o egun mal despachado prometia chegar a outubro de 2018
com 120% da preferência do eleitorado — composto majoritariamente
por muares descerebrados, que associavam o nome do petralha à bonança reinante
nos primeiros anos de sua gestão, pouco lhes importando o escândalo
do mensalão, do qual o petralha foi, indubitavelmente, o maior
beneficiário.
Mesmo depois que a autodeclarada "alma
viva mais honesta do Brasil" acabou na cadeia (vale a pena ler o
que eu escrevi a propósito nesta
postagem) e sua candidatura foi impugnada
pelo TSE, os sectários do lulopetismo corrupto, travestidos de únicos
intérpretes da vontade popular, argumentavam que o sumo pontífice da seita do
inferno tinha o direito de disputar a Presidência porque “era isso o que o
povo queria”. Por esse viés distorcido, nem seria preciso realizar
eleições, porque Lula já estava eleito, restando apenas
entregar-lhe a faixa. Nessa narrativa, sua prisão por corrupção e lavagem de
dinheiro era apenas uma tentativa desesperada das “zelites” de impedir o
Brasil de ser “feliz de novo”.
A despeito de sua cassação, o chefão continuava a ser
apresentado pela propaganda petista como postulante à Presidência, em desafio
aberto à decisão do tribunal. Bastaria um funcionário de balcão da repartição
pública onde se registram candidaturas para pôr termo a essa palhaçada, mas o Brasil
da elite pensante, dos partidos e tribunais de Justiça, da mídia, das redes
sociais, etc. etc., aceitou ceder à sabotagem do complexo Lula-PT e
o que lhe vinha a reboque — liberais esquerdistas, intelectuais orgânicos,
empreiteiros de obras públicas gananciosos e mais o resto que se sabe —, de
modo que o imbróglio chegou ao STF.
Observação: A divisão do espectro
político-ideológico em "esquerda e direita" nasceu após a Revolução
Francesa, a depender de que lado do Parlamento sentavam os deputados. Mais
adiante, a esquerda passou a ser vista como a defensora de um Estado maior "para
corrigir desigualdades" e a direita, de um Estado menor, já que a
livre-iniciativa era capaz de, sozinha, corrigir todas as distorções. Melhor
seria se partidos de esquerda e de direita praticassem o patriotismo de fato
(não aquele que é arrotado por extremistas demagogos) e criassem uma pauta
comum. O Taliban
e o Estado
Islâmico também poderiam transformar o Afeganistão numa
democracia, mas as chances de isso acontecer são as mesmas que o povo
brasileiro tem de aprender a votar.
O escritor norte-americano Stephen
King escreveu em "NOVEMBRO
DE 1963" — romance que este humilde escriba considera a melhor
obra do Mestre
do Terror — que "as respostas mais simples da vida costumam ser
as mais difíceis de enxergar", e que "a história não se repete,
mas se harmoniza, e o que costuma fazer é a música do diabo".
Tudo que vai, volta, dizem. Embora eu nunca soube quem
seriam esses misteriosos sábios que tudo diziam, sei que, na maioria das
vezes, o que eles disseram faz sentido. Repare o leitor que, da mesma forma como em 2018, o populista extremista de esquerda e seu alter ego de extrema direita estão
em plena campanha eleitoral, malgrado a legislação permitir a propaganda
somente a partir de 15 de agosto do ano da eleição e prever multa de R$ 5 mil a
R$ 25 mil para quem violar a restrição. O que nos leva a outra máxima — esta
atribuída a Getúlio Vargas: "aos
amigos, tudo; aos cidadãos de bem, todo o rigor da lei"
O Picareta dos Picaretas foi ajudado pela gentileza extrema
da Polícia Federal e demais autoridades encarregadas de
cumprir a ordem judicial, que lhe deram todo o tempo do mundo para preparar uma
apresentação às autoridades que tivesse um pouco mais de compostura. Foi
tratado com uma paciência que jamais esteve à disposição de nenhum outro
brasileiro. Teve o privilégio de uma “negociação” sem pé nem cabeça para se
entregar, como se o cumprimento da ordem dependesse da sua concordância. Mas
acabou, apenas, estragando tudo. Conseguiu tornar a sua biografia, que já estava
para lá de ruim, ainda pior.
Como não existe nada tão ruim que não possa piorar — já dizia o engenheiro aeroespacial Edward Aloysius Murphy
—, o pseudo Redentor dos Miseráveis passou míseros 580 numa cela VIP em
Curitiba, que transformou em escritório político e sede do comitê de campanha de
seu preposto, Fernando Haddad (então o único petista de alto coturno que
se sujeitou ao papel
de patético bonifrate, e acabou derrotado
pelo capitão-calamidade).
Observação: Sabia-se àquela altura que a
vida pregressa do dublê de mau militar e parlamentar medíocre não o
qualificava sequer para presidir uma prosaica reunião de condomínio de
periferia. Mas o dedo podre e à cabeça oca do esclarecidíssimo eleitorado
tupiniquim nos obrigou a apoiar o bolsonarismo boçal para evitar a volta
do lulopetismo corrupto. E viva o povo brasileiro!
O populismo desbragado do Parteiro do Brasil Maravilha
produziu o endividamento de milhões de miseráveis falsamente promovidos à “classe
média”, que foram posteriormente devolvidos ao status quo ante pela intragável
gerentona de festim — que não poupou esforços para manter o Titanic verde-amarelo
em rota de colisão com o iceberg que o poria a pique, e só não conseguiu porque
foi
providencialmente expelida do cargo.
Do atual governo (ou desgoverno, conforme o ponto de vista
de cada um), melhor nem falar. Até porque a situação do país e a
podridão que a CPI do Genocídio tem trazido à tona a cada sessão falam
por si, dispensando maiores considerações. Mas causa espécie (para dizer o
mínimo) o fato de alguém que ficou preso por 580 dias, após duas dezenas de
juízes terem visto evidências de culpabilidade suficientes para condená-lo ou manter
sua condenação e ordem de prisão, conforme o caso, ter
a ficha lavada da noite para o dia e, na estapafúrdia condição de
"ex-corrupto", disputar a presidência (mais uma vez). Vade
retro, Satanás!
A história está repleta de políticos que cresceram com a
própria prisão, ou, alçados à presidência de seus países, entraram para a
seleta confraria dos "estadistas". Nem Lula nem o Brasil se
enquadram nessas molduras. Aqui, o passado se harmoniza e a história se repete
em toda sua mediocridade. No país
do futuro que tem um longo passado pela frente, a menos que o imprevisto tenha voto
decisivo na assembleia dos acontecimentos, teremos de pagar (mais uma vez) por
uma das farsas mais velhacas já aplicadas na política desta banânia.
O tempo é uma esteira rolante sobre a qual todos temos de
viajar, e quem não aprende com os erros do passado está fadado a repeti-los ad
aeternum. Em havendo eleições daqui a 14 meses (isso vai depender do que acontecerá
no próximo dia 7), tudo indica que teremos uma
reedição revista e piorada da disputa entre o "nhô-ruim" e o
"nhô-pior" — a dupla que mais contribuiu, nos últimos anos,
para transformar notícias de política em casos de polícia.
A julgar
pelas pesquisas de intenções de voto, o eterno Pai dos Pobres e Mãe dos
Miseráveis fará picadinho do ex-capitão que "não
nasceu para ser presidente, e sim para ser militar", mas que, após
ter a carreira abortada por indisciplina e insubordinação, ingressou na vida
pública como vereador, elegeu-se deputado e, em 28 anos no baixo clero da
Câmara Federal, aprovou
dois míseros projetos e colecionou mais de trinta
ações criminais.
Bolsonaro foi alçado
à Presidência por uma esdrúxula conjunção de fatores — entres os quais a
facada que levou durante um ato de campanha em setembro de 2018 — e
entrou (antecipadamente) para a história desta republiqueta de bananas como o
pior chefe do Executivo desde a redemocratização. Supondo que consiga
sobrevier aos 19 meses remanescentes, nosso indômito capitão será o único presidente
da "Nova República" que concluiu seu mandato, mas não conseguiu se
reeleger.
Vade retro, Satanás!