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segunda-feira, 28 de julho de 2025

SOBRE LUIZ FUX, O NÚCLEO GOLPISTA E "OTRAS COSITAS MÁS"

DEBATES ENTRE PESSOAS RAZOÁVEIS NÃO GERAM CONFLITOS, GERAM NOVAS IDEIAS. 

Depois que um golpe de Estado (o primeiro de muitos) substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano, em 1889, mais de três dúzias de brasileiros ocuparam a Presidência. Fernando Henrique foi o mais próximo de um estadista que tivemos desde a "redemocratização" — lembrando que a renúncia de Jânio, em 1961, pavimentou o caminho para o golpe de 1964 e os subsequentes 21 anos de ditadura. Mas Lord Acton ensinou que o poder corrompe, e FHC, que ninguém resiste à picadura da mosca azul. 

 

Em 1997, o tucano de plumas vistosas comprou a PEC da reeleição e, rezando pelo catecismo de Geraldo Vandré — segundo o qual "quem sabe faz a hora, não espera acontecer" —, derrotou Lula já no primeiro turno do pleito de 1998. Mas faltaram-lhe novos coelhos para tirar da velha cartola e, quatro anos depois, o petista venceu José Serra, levando o PT ao poder. A partir de então, o Brasil passou a ser governado como uma usina de processamento de esgoto: a merda entra pela porta das urnas e muda de aparência, mas o que sai na posse do novo governante continua sendo merda — reciclada, mas ainda merda. 

 

Não que a coisa fosse melhor em outro momento da nossa história. A sementinha da corrupção foi plantada em Pindorama nos idos 1500, quando, em sua famosa carta, Pero Vaz de Caminha pediu ao rei D. Manuel que intercedesse por seu genro. Trezentos anos depois, o país passou de colônia a reino-unido, mas somente porque a família real portuguesa se desabalou para o Rio de Janeiro para fugir de Napoleão Bonaparte. Nossa independência — paga a peso de ouro — foi proclamada por D. Pedro I enquanto esvaziava os intestinos, e a Proclamação da República, despida do glamour que lhe atribuem os livros de História, não passou de um golpe de Estado político-militar (o primeiro de muitos, como dito anteriormente). 

 

Até o início do século XIX, nosso país não tinha uma corte constitucional. A "Casa da Suplicação do Brasil" foi criada em 1808, mas a função de corte suprema só se solidificaria 1829, com a criação do "Supremo Tribunal de Justiça" — que passou a se chamar "Supremo Tribunal Federal" com a proclamação da República. Hoje, além do papel de corte composicional, cabe ao Supremo processar agentes públicos com foro especial por prerrogativa de função e julgar recursos extraordinários contra decisões de outros tribunais. Mas aquela conversa de que juízes são isentos, apolíticos e apartidários não passa de cantilena para dormitar bovinos. Os magistrados não só tomaram gosto pela política — e quem conquista poder político não abre mão dele facilmente — como também sucumbiram à nefasta polarização, que dividiu o país em duas abjetas facções.

 

Mesmo estando inelegível e contando os dias que faltam para sua mais que provável condenação, Bolsonaro continua fazendo pose de candidato. Ao pressionar a banda podre da Câmara a aprovar uma insana proposta de anistia, o golpista confessa por vias tortas os crimes que jura não ter cometido. Como se não bastasse, seu filho Eduardo atua como articulador das sanções impostas pela Casa Branca ao país que, como deputado por São Paulo (que também elegeu Tiririca para quatro mandatos consecutivos), é pago para defender. 

 

Dias atrás, o filho do pai estendeu sua abjeta chantagem aos presidentes da Câmara e do Senado: se Motta não levar à pauta de votações da Câmara o projeto que anistia aos golpistas e Alcolumbre engavetar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes — renovado dias atrás pelo senador das rachadinhas, panetones e mansões milionárias Eduardo Bolsonaro —, poderão ter seus vistos de entrada nos EUA cassados, a exemplo do que aconteceu com oito dos onze ministros do STF.

 

O ex-ministro Sepúlveda Pertence definiu o Supremo como "um arquipélago de 11 ilhas", mas a politização ficou mais evidente em 2019, quando seis dos onze membros da Corte mudaram a jurisprudência sobre a prisão em segunda instancia, ensejando a "volta do criminoso à cena do crime” — como bem observou o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin quando ainda era tucano. 

 

Gilmar Mendes — a verdadeira "herança maldita" de FHC — defendia a Lava-Jato com unhas e dentes, mas virou a casaca depois que a Vaza-Jato denegriu a imagem do ex-juiz Sergio Moro, do ex-procurador Deltan Dallagnol e de outros integrantes do braço paranaense da força-tarefa, embora seu "crime hediondo" tenha sido combater corrupção sistêmica e pôr na cadeia bandidos travestidos de executivos das maiores empreiteiras do país e políticos ímprobos de altíssimo coturno. 

 

Dias Toffoli — que ganhou a suprema toga graças aos "bons serviços prestados" como advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, consultor jurídico da Central Única dos Trabalhadores (CUT), assessor jurídico do PT e do ex-ministro José Dirceu e subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil sob Lula, a despeito de ter sido reprovado em dois concursos para juiz de primeira instância em São Paulo —, vem fazendo das tripas coração para reconquistar as boas graças de Lula com decisões teratológicas que visam claramente favorecer os "amigos do rei". 

 

Indicado por Lula para o Supremo a pedido da então primeira-dama, Ricardo Lewandowski retribuiu a gentileza durante o julgamento do Mensalão, no qual atuou mais como defensor dos réus do que como julgador. No impeachment de Dilma, ele e o senador Renan Calheiros urdiram uma tramoia para evitar que a mulher sapiens tivesse seus direitos político suspensos.

 

E por aí segue a procissão.

 

Em seu artigo 1º, a Constituição Cidadã anota que "a República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito" e tem como primeiro fundamento "a soberania". O parágrafo único desse mesmo artigo estabelece que "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente". Já no primeiro inciso do artigo 3º, o Regimento Interno da Câmara explicita que é dever do deputado federal "promover a defesa do interesse público e da soberania nacional". Na prática, porém, a teoria costuma ser outra.

 

Morando nos EUA e exercendo em tempo integral a atividade de traidor da pátria, Eduardo Bolsonaro rasga a Carta Magna, sapateia sobre o regimento da Câmara e desonra os 741 mil votos que obteve do eleitorado paulista em 2022. Mas não é só: a falta de posicionamento dos dirigentes do Congresso sobre o pedido de cassação do traíra injeta na conjuntura brasiliense uma vergonha convulsiva: quando alguém precisa tomar uma decisão e não toma, está decidindo não fazer nada, e nada, no caso do deputado, é uma palavra que já ultrapassa tudo. Ou Congresso expurga o personagem dos seus quadros, tornando-o inelegível, ou se desmoraliza junto com ele.

 

A coação exercida sobre o STF por Trump em parceria com a Famiglia Bolsonaro já justificaria a prisão preventiva do chefe do clã, mas Moraes "morde e assopra", evitando confundir o necessário com o excessivo, sobretudo depois que seu colega Luiz Fux votou contra as medidas cautelares impostas ao capetão (dizem que o fez para não ter seus visto de entrada nos EUA cassado, como já aconteceu com oito de seus pares). Vale destacar que não foi a primeira vez que ele divergiu do relator e de seus colegas da Primeira Turma. Durante a análise da denúncia da PGR, o ministro levantou dúvidas sobre a delação de Mauro Cid e a competência da Turma para julgar Bolsonaro e seus cúmplices (que, segundo ele, seria da primeira instancia do Judiciário ou, na pior das hipóteses, dos 11 ministros da Corte). 

 

Diz um ditado que "só não muda de opinião quem já morreu", mas causa espécie que o ministro "punitivista" que apoiou o relator (Joaquim Barbosa) na condenação da maioria dos réus da ação penal 470 (vulgo "Processo do Mensalão") e se tornou um dos principais defensores da Lava-Jato tenha dado um "cavalo de pau" digno dos melhores filmes de ação, aliando-se à corrente "garantista", que prioriza a proteção dos direitos fundamentais dos réus. 

 

Embora concorde com as condenações pela trama golpista, Fux tem acatado alguns argumentos dos acusados, e comenta-se à boca pequena que ele continuará nessa linha, como forma de "garantir a moderação no STF". No julgamento da cabeleireira Débora dos Santos, que ficou conhecida por pichar com batom a frase "Perdeu, mané" na estátua da Justiça, Moraes propôs 14 anos de prisão, mas Fux sugeriu um ano e seis meses, arrancando elogios de Michelle Bolsonaro.

 

No fim de março, durante o julgamento da denúncia da PGR contra o grupo principal da trama golpista — encabeçado por Bolsonaro —, Fux foi o único a abraçar o argumento da defesa no sentido de que o foro indicado para conduzir as investigações seria primeira instância do Judiciário, e não no STF. Derrotado por seus pares, ele acabou votando pelo recebimento da denúncia, que foi aceita por unanimidade. No mesmo julgamento, afirmou ser contrário à ideia de punir a tentativa de golpe como se fosse um crime consumado. Defendeu a necessidade de diferenciar os atos preparatórios da execução do crime e levantou dúvidas sobre a legalidade da delação de Mauro Cid. As observações renderam elogios da defesa de Bolsonaro.

 

No depoimento de Cid ao STF, Fux fez perguntas que foram elogiadas por Eduardo Bolsonaro — em suas redes sociais, o filho do pai escreveu: "Urgente! Fux desmontou o castelo de areia com duas perguntas." Nos depoimentos de testemunhas do chamado núcleo crucial, foi o único —além do relator — a comparecer às sessões e fazer questionamentos nas oitivas. E a expectativa é que ele continue apresentando contrapontos às discussões, assumindo de maneira informal o papel de "ministro revisor", personificado por Lewandowski no julgamento do Mensalão, mas extinto em 2023 por uma alteração no Regimento Interno da Corte. 

 

As ideias que Fux defende atualmente contrastam com julgamentos penais do passado. Após sua brilhante atuação no Mensalão, o ministro defendeu a Lava-Jato mesmo depois que a Vaza-Jato expôs uma "suposta relação espúria" de Sergio Moro com os procuradores de Curitiba. Em abril de 2021, Fux se posicionou contra a anulação das condenações impostas a Lula pela 13ª Vara Federal de Curitiba. Em junho de 2022, quando presidia o STF, disse que a anulação foi resultado da análise de questões formais: "Ninguém pode esquecer que ocorreu no Brasil, no Mensalão, na Lava-Jato."

 

Fux intensificou sua relação com Bolsonaro a partir de setembro de 2020, quando assumiu a presidência do STF. No mês seguinte, recebeu o então mandatário para uma "visita de cortesia" que durou cerca de 45 minutos. Bolsonaro elogiou a decisão de Fux de manter preso um dos líderes do PCC, solto por determinação do (hoje aposentado) ministro Marco Aurélio. Sua atitude provocou irritação do colega — até porque não é praxe um ministro suspender a decisão de outro.

No dia seguinte ao encontro, Bolsonaro concedeu a Fux a Ordem de Rio Branco em seu mais alto nível, o grau de Grã-Cruz.

 

Coincidência ou não, os únicos ministros do STF que não tiveram seus vistos revogados pelo secretário de Estado dos EUA foram os bolsonaristas André Mendonça e Nunes Marques... e Luiz Fux — indicado para o tribunal por Dilma em 2011.

 

Aguardemos, pois, os próximos capítulos de mais esse emocionante folhetim tupiniquim.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 34ª PARTE

SOMOS APENAS UMA ESTIRPE AVANÇADA DE MACACOS EM UM PLANETA MENOR DE UMA ESTRELA MUITO COMUM, MAS TEMOS NOCÃO DO UNIVERSO, MAS TER NOÇÃO DISSO NOS TORNA ESPECIAIS.

A ciência que estuda o tempo é chamada de cronologia em homenagem a Chronos — o deus do tempo da mitologia grega que devorava os próprios filhos —, mas ainda não se sabe se o tempo realmente existe ou se não passa de uma convenção criada para explicar fenômenos como o dia e a noite, as fases da Lua e as estações. 


Enquanto os físicos buscam decifrar esse mistério, escritores e roteiristas de ficção científica, inspirados no clássico A Máquina do Tempo, usam e abusam das viagens no tempo em produções como Interestelar, Feitiço do Tempo e De Volta para o Futuro, entre tantas outras.


Viajamos para o futuro desde o momento em que nascemos, e vislumbramos o passado quando observamos o céu noturno e vemos a luz que as estrelas emitiram há milhões ou bilhões de anos. Talvez não seja tão emocionante quanto o antigo seriado televisivo O Tunel de Tempo, mas é real. Como também é real a possibilidade de o tempo pode não ter uma direção preferencial no mundo microscópico — regido pela mecânica quântica — onde as partículas podem se mover livremente para frente ou para trás, como sustenta um estudo publicado na Scientific Reports por pesquisadores da Universidade de Surrey.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Desde 1889, quando o primeiro de muitos golpes de Estado substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano — houve um breve período de parlamentarismo após a renúncia de Jânio, mas isso é outra conversa —, 37 brasileiros ocuparam a Presidência da República, e o mais próximo de um estadista que tivemos desde a redemocratização foi Fernando Henrique. No entanto, como bem observou Lord Acton, o poder corrompe. 

Picado pela mosca azul, FHC comprou a PEC da reeleição. E como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte, é burro ou não em arte, disputou e conquistou seu segundo mandato. No entanto, faltaram-lhe novos coelhos para tirar da velha cartola, e Lula derrotou José Serra em 2002, dado azo à tomada do poder pelos petralhas, que desgovernaram esta banânia até maio de 2016. 

Roberto Jefferson denunciou o mensalão petista em 2005, mas Lula não só foi reeleito no ano seguinte como elegeu um poste em 2010 — que deveria retribuir-lhe o favor em 2014, mas fez o diabo para se reeleger e acabou impichada. Em 2018, surfando no antipetismo, um mix de mau militar e parlamentar medíocre com vocação para golpista foi guindado ao Planalto. Em 2022, para livrar o país dessa excrescência, a minoria pensante do eleitorado se uniu à patuleia ignara para devolver a poltrona presidencial a Lula — que fora libertado da prisão, descondenado e reabilitado politicamente por togas companheiras. 

Hoje, a pouco mais de um ano das eleições, o xamã petista amarga índices de rejeição jamais registrados momento algum de sua trajetória política. Ao recorrer ao STF contra a derrubada do reajuste do IOF no Congresso, ele sinaliza aos rivais que não se deixará fritar. Mas a revogação do aumento do imposto — com votos de partidos que controlam ministérios — deixou-o bem passado, e a adição de fermento na articulação pró-Tarcísio inflou um bololô que reúne a direita patrimonialista e as viúvas de Bolsonaro. 

Com a impopularidade a pino, o macróbio vermelho faz uma guinada à esquerda e requenta o velho ramerrão do “nós contra eles”. “Acabará governando contra todos”, ironizou o presidente da Câmara durante um jantar na casa de João Doria, com mais de cinquenta empresários. 

No gogó, o ministro da Fazenda diz apostar num entendimento com o Congresso para aprovar medidas que ajudem a fechar as contas de 2025 e 2026. Na real, o que há na praça é uma campanha eleitoral prematura, não um ajuste fiscal tardio — e a única certeza disponível é que o próximo presidente, seja ele quem for, terá de gerenciar um orçamento federal inviável. 

A dúvida é se o apagão orçamentário virá antes ou depois da posse. Façam suas apostas.

 

O conceito de seta do tempo foi baseado na 2ª Lei da Termodinâmica, mais exatamente na entropia (desordem), que, num sistema fechado, sempre tende a aumentar. Mas as equações de campo de Einstein demonstraram que o tempo passa mais devagar para quem se move do que para quem está parado (princípio da dilatação temporal). Na visão do físico alemão, a distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma ilusão teimosamente persistente, e viajar para o futuro é viável, ainda que voltar ao passado seja extremamente improvável. No entanto, essa possibilidade ganhou força com o avanço das pesquisas e experimentos no âmbito da mecânica quântica.

 

Diversas leis da física precisariam ser violadas para uma viagem ao passado se concretizar, mas um pesquisador da Universidade de Queensland, na Austrália, sustenta que o espaço-tempo poderia se adaptar para evitar paradoxos, e que loops temporais podem existir juntamente com o livre-arbítrio e os princípios da física clássica. Assim, mesmo que voltar ao passado implique mudar o futuro, a liberdade de ação impede o surgimento de paradoxos. No entanto, o fato de as equações mostrarem que sistemas quânticos abertos não privilegiam o passado ou o futuro não significa que estamos em via de viajar no tempo como nos filmes de ficção científica

 

Resumo da ópera: a irreversibilidade da passagem do tempo fica evidente quando um copo cai e se espatifa — já que os cacos não se rejuntam espontaneamente —, mas alguns fenômenos parecem não distinguir claramente uma direção nesse fluxo temporal. Se no mundo quântico o tempo pode realmente fluir em ambas as direções sem violar a relatividade, talvez ele não seja uma linha reta, mas um labirinto de possibilidades onde cada descoberta acrescenta novas bifurcações e atalhos. 


Não faltam exemplos de cientistas que foram ridicularizados por suas ideias heterodoxas — como Copérnico, que desafiou o geocentrismo, Lister, que revolucionou a medicina com a desinfecção, e Wegener, que propôs a teoria da deriva continental — até que o tempo provasse que eles estavam certos. Einstein previu em 1915 a existência de objetos celestes com gravidade tão intensa que nem a luz poderia escapar (o termo "buraco negro" só seria cunhado 52 anos depois), e morreu achando que tudo não passava de teoria, já que foi somente em 2019 que o Event Horizon Telescope fotografou o M87*, a 55 milhões de anos-luz da Terra.

 

Continua...

quinta-feira, 5 de junho de 2025

O PAÍS DA CORRUPÇÃO — O POST SCRIPTUM DA DESILUSÃO

EXISTEM MAIS GALINHAS COM DENTES DO QUE PESSOAS DE BEM NA POLÍTICA.

Em 1889, um golpe de Estado (o primeiro de muitos) extinguiu a monarquia constitucional parlamentarista do Império e instituiu o presidencialismo republicano. A partir de então, o Brasil teve sete Constituições. 

As Cartas de 1946, 1967 e de 1988 admitiam a reeleição para o cargo de presidente, mas o retorno só era possível após o mandato de outro presidente. Durante o discurso de promulgação da Carta de 1988, o então presidente da Câmara salientou que ela não era perfeita, como ela própria o confessava ao admitir a possibilidade de reforma. De fato: nas três décadas seguintes, seis emendas constitucionais de revisão e 135 ordinárias transformaram a "Constituição Cidadã" numa verdadeira colcha de retalhos.

Embora a tradição constitucional brasileira buscasse evitar a perpetuação no poder, o então presidente Fernando Henrique, picado pela mosca azul, moveu mundo$ e fundo$ em prol da aprovação da PEC da Reeleição. A proposta reduziu o mandato presidencial de cinco para quatro anos e passou a permitir um segundo período consecutivo (um terceiro só pode ser disputado após um intervalo de quatro anos). Como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, o tucano de plumas vistosas se reelegeu em 1998, derrotando Lula já no primeiro turno.

De todos os presidentes eleitos pelo voto popular desde a redemocratização, FHC talvez tenha sido o “menos pior”, ainda que o escândalo da compra de votos das “marafonas da Câmara” tenha manchado seu currículo e escancarado o uso da máquina pública para fins de autopreservação política. Para o bem ou para o mal, ele inaugurou a lista dos presidentes reeleitos, da qual somente Bolsonaro ficou de fora (lembrando que Itamar e Temer foram vices promovidos a titulares). 

Collor foi o primeiro presidente eleito diretamente desde 1960 — e também o primeiro a sofrer impeachment. Dilma foi a segunda penabundada, mas acabou recompensada por Lula com a presidência do Banco do BRICS (com salário anual de meio milhão de dólares) e anistiada politicamente pela Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Além do perdão, madame recebeu uma indenização de R$ 100 mil e um pedido de desculpas feito em nome do Estado brasileiro pela presidente da comissão. Só falta agora seu criador e mentor ser canonizado em vida.

No último dia 21, a CCJ do Senado aprovou o fim da reeleição para os cargos de prefeito, governador e presidente da República. Se for chancelada pelo plenário e chancelada pela Câmara, a proposta representará uma mudança significativa não apenas na percepção dos parlamentares, mas também da população, que não vê com bons olhos a perspectiva de Lula, à frente de um governo tão populista quanto impopular, disputar um quarto mandato.

Em 1997, a popularidade de FHC contribuiu para que as críticas à PEC da Reeleição se restringissem a parte da imprensa e meia dúzia de analistas políticos. Todavia, sem novos coelhos para tirar da velha cartola, não conseguiu emplacar seu sucessor. Lula derrotou Serra em 2002 e, a despeito do escândalo do mensalão, venceu Alckmin em 2006 e escalou Dilma para manter aquecida a poltrona que ele queria reconquistar em 2014. Mas a cria pegou gosto pelo poder e, cumprindo a promessa de fazer o diabo para se reeleger, derrotou Aécio em 2010 (por uma margem apertada de 3% dos votos válidos). 

Sem o escudo da Presidência, Lula acumulou duas dúzias de processos criminais, foi condenado em julho de 2017, preso em abril de 2018, solto em novembro de 2019, reabilitado politicamente por togas camaradas e brindado com um inédito terceiro mandato em 2022. No entanto, mesmo torrando bilhões em medidas populistas e nitidamente eleitoreiras, sua aprovação despencou — e deve cair ainda mais devido ao esquema de fraudes no INSS.

Entre outros motivos para rejeitar a reeleição estão o uso da máquina pública em período de campanha e a necessidade de renovação nos quadros políticos. Mas o maior culpado pelo processo que está tramitando no Congresso é o próprio Lula, que terá 81 anos em 2026 (se ainda estiver caminhando entre os vivos, naturalmente) e, mesmo assim, insiste em forçar mais uma candidatura.

Negar o óbvio, vestir os fatos com a roupagem brilhante das versões e dar piruetas para defender o indefensável se tornaram práticas comuns na política tupiniquim. Cito como exemplo o contorcionismo de Bolsonaro (por desespero), de seus advogados (por dinheiro), de seus correligionários (por conveniência) e de seus apoiadores (por terem menos miolo que um pão francês).

Outro exemplo é a tentativa do governo de empurrar com a barriga a instalação de uma CPI para investigar as fraudes no INSS. A ideia é que o avanço das investigações e uma fórmula mágica para devolver o dinheiro às vítimas tornem a CPI desnecessária. Mas a demora resultará apenas na mudança do nome da encrenca, que passará a se chamar CPI da Sucessão

Para completar, em menos de 24 horas. numa bola dividida desnecessária, Haddad desmentiu seu número dois ao negar que tivesse discutido a elevação do IOF com o presidente do Banco Central. Apenas seis horas depois do anúncio, a meia-volta foi enfiada às pressas numa postagem no Xwitter. Na manhã seguinte, o ministro voltou ao centro do picadeiro para explicar que o recuo se deveu a uma “necessidade técnica”.

Por sorte dessa choldra, os eleitores repetem a cada dois anos, por cegueira mental, o que Pandora fez uma única vez, por curiosidade. Não fosse assim, estariam todos na fila do auxílio-desemprego.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 23ª PARTE

SE DEUS DESSE ASAS ÀS COBRAS, TIRAVA O VENENO.

 

O Multiverso de Nível 3, que é largamente explorado nos filmes de ficção científica, se baseia na Interpretação de Muitos Mundos da mecânica quântica, que é uma alternativa à mais tradicional Interpretação de CopenhaguePara facilitar o entendimento, vamos descomplicar a essência desses conceitos.

 

Proposta por Niels Bohr e Werner Heisenberg, a Interpretação de Copenhague sustenta que as partículas quânticas existem num estado de superposição (múltiplas possibilidades) até serem medidas, quando então o ato de observação as obriga a "escolher" um estado definido. Essa ideia sugere que, até a observação, as partículas permanecem num limbo, com suas possibilidades em aberto.

 

Já na Interpretação de Muitos Mundos, de Hugh Everett, em vez do "colapso" das possibilidades ao serem observadas, cada evento quântico cria uma ramificação do universo, e todas as possibilidades acontecem, mas em universos diferentes. Cada uma dessas realidades paralelas é a concretização das múltiplas possibilidades que, segundo a Interpretação de Copenhague, seriam "escolhidas" na observação, e a soma desses universos paralelos é descrita pelo Espaço de Hilbert, um espaço matemático que engloba todos os estados quânticos possíveis.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Não se trata de ser de esquerda, de direita ou de centro, mas de ser a favor do Brasil. E parlamentar que defende orçamento secreto e emenda do relator e ameaça "paralisar votações" caso o pedido de urgência da PEC da impunidade não seja pautado deve ser defenestrado do Congresso, sob pena de continuarmos reféns de políticos fisiologistas, que tratam o país como um balcão de negócios.
Lula voou da prisão para o Planalto (com as bençãos do STF) porque podar as asas de Bolsonaro era fundamental. Mas reconduzir o criminoso à cena do crime (como disse o picolé de chuchu antes de se tornar candidato a vice-presidente na chapa do dito-cujo) era opcional.
Lula vem apanhando diariamente da opinião pública não catequizada e do minguado seguimento da imprensa que não sucumbiu à polarização. A surra é merecida porque não há outro culpado senão a própria “alma viva mais honesta deste país”, responsável pelo time de economistas irresponsáveis e ministros envolvidos direta ou indiretamente em corrupção, por adular e apoiar ditadores mundo afora, por se amancebar com a banda podre do Congresso e por permitira que a primeira-dama torre dinheiro dos brasileiros como se não houvesse amanhã. 
Durante a campanha, Lula prometeu pendurar as chuteiras ao final do terceiro mandato. Também prometeu "a volta da picanha e da cervejinha" à mesa dos mais pobres. No levantamento divulgado no início do mês, 71% dos entrevistados afirmaram que o petista não tem cumprido o que prometeu, e 56% disseram que desaprovam seu governo. A volta da inflação, a história mal contada do Pix e o anúncio do pacote fiscal levaram-no a beijar a lona, e três pancadas recentes — o apoio de deputados da base governista ao PL da impunidade, a recusa do deputado Pedro Lucas a assumir o Ministério das Comunicações e os mais R$ 6 bilhões rapinados de aposentados e pensionistas do INSS — quase o nocautearam.
O lulopetismo — criado nos anos 1980 a pretexto de moralizar a política não roubando e não deixando roubar — tornou-se sinônimo de administração corrupta, e agora conquista um novo "selo de qualidade" na matéria, enquanto seu xamã amarga índices de rejeição superiores a 50% nas pesquisas de opinião pública. 
Apesar disso (e de mais um pouco), Lula diz que pretende disputar a reeleição no ano que vem. Mas Bolsonaro diz o mesmo, embora esteja inelegível até 2030 e em via de ser condenado pelo STF por tramar um golpe de Estado fracassado. 
 
No experimento do gato de Schrödinger, um átomo decide o estado de um gato trancado dentro de uma caixa, que pode ser vivo ou morto. Na Interpretação de Copenhague, o gato está em superposição (vivo e morto ao mesmo tempo) até a abertura da caixa, e na Interpretação de Muitos Mundos, o universo se divide em dois ramos: num ramo, o gato vive; no outro, ele morre.
 
A existência de inúmeros universos paralelos parece absurda, mas não é mais incoerente do que uma partícula se comportar como onda e estar em vários locais ao mesmo tempo até ser observada, quando então muda de estado e "escolhe" um local para habitar. Se isso soa esquisito e confuso para você, seja bem-vindo ao clube. Aliás, Richard Feynman, ganhador do Nobel de Física em 1965, foi cirúrgico: "ninguém realmente compreende a mecânica quântica".

 

É importante destacar que a Interpretação de Muitos Mundos é apenas uma das interpretações da mecânica quântica, e que o debate científico sobre a natureza da realidade quântica continua. Cientistas que se opõem a essa teoria costumam se escorar na navalha de Occam — princípio filosófico segundo o qual a explicação mais simples tende a ser a correta. Segundo eles, seria muito complexo ter que adicionar infinitos universos paralelos para justificar a existência do nosso. Já o cosmólogo Sean Carroll, adepto da teoria dos Muitos Mundos, publicou em seu Blog que "não conseguimos ver outros mundos diretamente, mas eles não são adicionados à teoria, eles surgem automaticamente a partir da mecânica quântica".


Observação: O mais interessante é que a Interpretação de Muitos Mundos é apenas uma maneira diferente de olhar para os mesmos dados e os mesmos resultados, já que as equações que sustentam a existência desses universos já existem. 

 
No Multiverso de Nível 3, tudo o que pode acontecer de fato acontece, a partícula quântica nunca entra em colapso; em vez disso, ela ocupa todos os lugares, dando origem á infinitas realidades diferentes a cada segundo, que existem em um Espaço de Hilbert. 

 

Ainda segundo Carroll, se o formalismo prevê a existência de muitos mundos, devemos aceitar que a realidade que vivenciamos é uma fatia indescritivelmente fina de tudo, e que os cientistas devem formular a melhor descrição possível do mundo como ele é, e não forçar o mundo a se adequar a seus conceitos pré-concebidos.

Continua…

segunda-feira, 28 de abril de 2025

O BRASIL DA CORRUPÇÃO

NÃO HÁ ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL; O BRASIL É UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.

A corrupção desembarcou em Pindorama travestida de nepotismo: na epístola em que comunicou o "achamento do Brasil", Pero Vaz de Caminha rogou ao rei de Portugal que intercedesse por seu genro, preso por roubo e degredado para a ilha de São Tomé, na África.

Não se sabe a duração do castigo imposto ao contraparente do escriba nem se o pedido foi atendido, mas sabe-se que a corrupção assola a política tupiniquim desde os tempos de antanho, e que os poderosos de hoje pouco diferem da elite colonial no tocante ao tráfico de influência, nepotismo, favorecimento e abuso de autoridade. Dito em português do asfalto, mudaram as moscas, mas a merda continua rigorosamente a mesma.

 

Mem de Sá, governador-geral do Brasil entre 1558 e 1572, foi acusado de enriquecimento ilícito. Os mercadores de escravos que saíam da África rumo ao Rio da Prata e paravam no Rio de Janeiro para abastecer tinham de pagar propina ao governador da capitania. Dom Lourenço de Almeida, que governou Minas Gerais entre 1720 e 1732, fez fortuna com ouro e diamantes extraídos à revelia da Coroa Portuguesa. Seu governo era auditado a cada três anos, mas ele subornava o responsável pela devassa.

No início do século XVII, a elite local controlava a política e a economia mineira, e, em contrapartida, ganhava do rei o direito à impunidade. As autoridades envolvidas na repressão ao contrabando praticavam contrabando e lucravam muito, pois Portugal fazia vista grossa — se a política da Coroa fosse implantada de forma inflexível, o Império não teria resistido. 


Como o que menos presta é o que mais dura, os políticos de hoje continuam praticando os mesmos atos espúrios que seus antepassados do século XVI. No entanto, seja hoje, seja no passado, a corrupção só pode existir com a conivência da sociedade. 


Houve corrupção no Brasil colonial, nos tempos do Império, na República Velha, na Era Vargas, na Segunda República, na ditadura militar — a ideia de que não houve corrupção durante os anos de chumbo é falsa; a repressão à imprensa impediu que os escândalos viessem à tona e mascarou os abusos do regime — e continua havendo na "Nova República". 


Sarney foi alvo de duas denúncias, mas o dito ficou pelo não dito. Collor foi acusado pelo irmão de envolvimento no "Esquema PC" e renunciou horas antes do julgamento de seu impeachment, mas ficou inelegível por 8 anos e só voltou à política nos anos 2000. No exercício do mandato de senador (2006-2022), assaltou os cofres da Petrobras Distribuidora. Apesar de ter sido condenado pelo STF8 anos de 10 meses de reclusão em 2023, só foi preso na madrugada da última sexta-feira.


Itamar Franco Fernando Henrique não foram acusados de envolvimento com corrupção, O grão-duque tucano comprou votos para aprovar a PEC da reeleição, mas o engavetador-geral Geraldo Brindeiro blindou suas penas vistosas.


 Lula, por sua vez, foi réu em duas dúzias de ações criminais, condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de reclusão em 2018 e colocado numa cela VIP da PF em Curitiba e solto 580 dias depois, quando o STF proibiu (por 6 votos a 5) que criminosos condenados começassem a cumprir suas penas antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. 


Como se não bastasse, uma curiosa epifania revelou ao ministro Edson Fachin  com mais de 5 anos de atraso — que a 13ª Vara Federal de Curitiba carecia de competência territorial para processar e julgar o petista, e tanto suas duas condenações (já transitadas em julgado no STJ) quanto os demais processos que tramitavam contra ele na JF do Paraná foram anulados. 


Em 2022, com as velas enfunadas por ventos antibolsonaristas, o ex-presidiário mais famoso da história desta banânia foi reconduzido ao Palácio do Planalto.


Em 2010, Lula escalou uma nulidade da qual ninguém ouvira falar para "manter o Brasil no rumo do desenvolvimento" até que ele pudesse voltar ao trono. A dita-cuja cuidou da economia do país como lidou com a contabilidade das duas lojinhas de quinquilharias importadas que levou à falência em 1996 — época em que a paridade entre o dólar e o real favorecia esse tipo de negócio.


Em 2016, a "presidanta" de araque foi impichada e se tornou ré por corrupção e lavagem de dinheiro. Mas como vivemos no país da impunidade, os processos contra ela foram arquivados; como vivemos no país da antimeritocracia, ela foi recompensada com a presidência do Banco dos Brics


Michel Temer passou de vice a titular com o impeachment da nefelibata da mandioca, mas seu governo capenga ruiu com a divulgação da conversa de alcova com o moedor de carne bilionário Joesley Batista. Ele cogitou de renunciar, mas mudou de ideia e, quase dois dias depois, porejando indignação, disse à nação que "a investigação pedida pelo STF seria o território onde surgiriam todas as explicações, e que não renunciaria. Ato contínuo, comprou votos para sepultar as denúncias, tornou-se refém dos deputados venais, terminou seu mandato-tampão como pato-manco e transferiu a faixa para Bolsonaro em janeiro de 2019. 


Sem o escudo do foro privilegiado, o vampiro do Jaburu se tornou réu em quatro processos e chegou a ser preso, mas foi libertado dias depois pelo então presidente da 1ª Turma do TRF-2 — que ficou afastado do cargo durante 7 anos, acusado de venda de sentenças e formação de quadrilha, mas a ação acabou trancada pelo STF. 


Observação: Segundo foi publicado na revista Exame em março de 2019, quando Temer foi preso, o único ex-mandatário da "Nova República" que não corria risco iminente de ir parar na cadeira era Fernando Henrique. Na época, Lula estava cumprindo pena em Curitiba, Sarney era alvo de duas denúncias, Collor respondia a sete inquéritos (e se tornara réu num deles em 2017), Dilma respondia por corrupção e lavagem de dinheiro e o Vampiro do Jaburu era tetra-réu (duas vezes no RJ, uma em SP e outra no DF).


Em 2021, discursando para a récua de convertidos no chiqueirinho do Alvorada, Bolsonaro destacou que não há nada tão ruim que não possa piorar. Para não deixar dúvidas, tentou dar golpe de Estado no final do ano seguinte. Se os ventos não mudarem, ele e seus asseclas serão condenados entre setembro e outubro e poderão passar o próximo Natal atrás das grades.

Os estratagemas usados pela velha elite colonial persistem até hoje nas práticas ilícitas daqueles que se dizem representantes do povo — como atestam o mensalão, o petrolão e o orçamento secreto (ou "emendas de relator"). Até 2019, apenas duas ações penais da Lava-Jato haviam sido julgadas no STF. Numa delas prevaleceu o entendimento de que os elementos eram "apenas indiciais" — e a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, e seu ex-marido foram absolvidos por 3 votos a 2.  Na outra, as togas condenaram o deputado Nelson Meurer, mas declararam a extinção de punibilidade do filho do parlamentar, alegando que a única conduta que geraria a sanção penal era de junho de 2008.

 

Em vista do número de parlamentares que arrastam pendências judiciais e transitam livremente pelos corredores do Congresso, a parcela pensante da população perdeu a confiança no Legislativo e passou a ver o Judiciário como tábua de salvação. 


Como alegria de pobre dura pouco, o STF formou maioria para exumar e ressuscitar uma jurisprudência que vigeu durante míseros 7 anos ao longo das últimas 8 décadas. Com o voto de Minerva de Dias Toffoli, então presidente da Corte, ficou decidido que condenados em segunda instância deveriam permanecer em liberdade até o trânsito em julgado de suas sentenças.

 

Com quatro instâncias e um formidável cardápio de recursos, apelos, embargos e toda sorte de chicanas criadas sob medida para impedir que condenações de poderosos transitem em em julgado, essa caterva só vai presa no Dia de São Nunca. E na improvável hipótese de um caso fugir à regra, sempre há um magistrado de bom coração que expede um alvará de soltura "por razões humanitárias" (como fez o ministro Dias Toffoli no caso de Paulo Maluf).

 

Nossas leis são criadas pelo Congresso Nacional, que é formado por 513 deputados federais e 81 senadores. Em 2017, nada menos que 238 parlamentares eram investigados ou respondiam a processos no STF. Quando se dá às raposas a chave do galinheiro, perde-se o direito de reclamar do sumiço das galinhas, mas o fato de sermos obrigados a conviver com essa dura realidade não significa que devamos aceitá-la passivamente. 


Lula não aceitava. Tanto é que fundou o PT para implementar "uma maneira diferente de fazer política". Mas faltou combinar com a quadrilha do mensalão. Quando a roubalheira da petralhada veio a público, José Dirceu, então braço direito do demiurgo de Garanhuns, disse em entrevista ao Roda-Viva: “Este é um governo que não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção".

 

Pausa para as gargalhadas (ou para as lágrimas, a critério do freguês).