Mostrando postagens classificadas por data para a consulta proclamação da república. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta proclamação da república. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 28 de julho de 2025

SOBRE LUIZ FUX, O NÚCLEO GOLPISTA E "OTRAS COSITAS MÁS"

DEBATES ENTRE PESSOAS RAZOÁVEIS NÃO GERAM CONFLITOS, GERAM NOVAS IDEIAS. 

Depois que um golpe de Estado (o primeiro de muitos) substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano, em 1889, mais de três dúzias de brasileiros ocuparam a Presidência. Fernando Henrique foi o mais próximo de um estadista que tivemos desde a "redemocratização" — lembrando que a renúncia de Jânio, em 1961, pavimentou o caminho para o golpe de 1964 e os subsequentes 21 anos de ditadura. Mas Lord Acton ensinou que o poder corrompe, e FHC, que ninguém resiste à picadura da mosca azul. 

 

Em 1997, o tucano de plumas vistosas comprou a PEC da reeleição e, rezando pelo catecismo de Geraldo Vandré — segundo o qual "quem sabe faz a hora, não espera acontecer" —, derrotou Lula já no primeiro turno do pleito de 1998. Mas faltaram-lhe novos coelhos para tirar da velha cartola e, quatro anos depois, o petista venceu José Serra, levando o PT ao poder. A partir de então, o Brasil passou a ser governado como uma usina de processamento de esgoto: a merda entra pela porta das urnas e muda de aparência, mas o que sai na posse do novo governante continua sendo merda — reciclada, mas ainda merda. 

 

Não que a coisa fosse melhor em outro momento da nossa história. A sementinha da corrupção foi plantada em Pindorama nos idos 1500, quando, em sua famosa carta, Pero Vaz de Caminha pediu ao rei D. Manuel que intercedesse por seu genro. Trezentos anos depois, o país passou de colônia a reino-unido, mas somente porque a família real portuguesa se desabalou para o Rio de Janeiro para fugir de Napoleão Bonaparte. Nossa independência — paga a peso de ouro — foi proclamada por D. Pedro I enquanto esvaziava os intestinos, e a Proclamação da República, despida do glamour que lhe atribuem os livros de História, não passou de um golpe de Estado político-militar (o primeiro de muitos, como dito anteriormente). 

 

Até o início do século XIX, nosso país não tinha uma corte constitucional. A "Casa da Suplicação do Brasil" foi criada em 1808, mas a função de corte suprema só se solidificaria 1829, com a criação do "Supremo Tribunal de Justiça" — que passou a se chamar "Supremo Tribunal Federal" com a proclamação da República. Hoje, além do papel de corte composicional, cabe ao Supremo processar agentes públicos com foro especial por prerrogativa de função e julgar recursos extraordinários contra decisões de outros tribunais. Mas aquela conversa de que juízes são isentos, apolíticos e apartidários não passa de cantilena para dormitar bovinos. Os magistrados não só tomaram gosto pela política — e quem conquista poder político não abre mão dele facilmente — como também sucumbiram à nefasta polarização, que dividiu o país em duas abjetas facções.

 

Mesmo estando inelegível e contando os dias que faltam para sua mais que provável condenação, Bolsonaro continua fazendo pose de candidato. Ao pressionar a banda podre da Câmara a aprovar uma insana proposta de anistia, o golpista confessa por vias tortas os crimes que jura não ter cometido. Como se não bastasse, seu filho Eduardo atua como articulador das sanções impostas pela Casa Branca ao país que, como deputado por São Paulo (que também elegeu Tiririca para quatro mandatos consecutivos), é pago para defender. 

 

Dias atrás, o filho do pai estendeu sua abjeta chantagem aos presidentes da Câmara e do Senado: se Motta não levar à pauta de votações da Câmara o projeto que anistia aos golpistas e Alcolumbre engavetar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes — renovado dias atrás pelo senador das rachadinhas, panetones e mansões milionárias Eduardo Bolsonaro —, poderão ter seus vistos de entrada nos EUA cassados, a exemplo do que aconteceu com oito dos onze ministros do STF.

 

O ex-ministro Sepúlveda Pertence definiu o Supremo como "um arquipélago de 11 ilhas", mas a politização ficou mais evidente em 2019, quando seis dos onze membros da Corte mudaram a jurisprudência sobre a prisão em segunda instancia, ensejando a "volta do criminoso à cena do crime” — como bem observou o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin quando ainda era tucano. 

 

Gilmar Mendes — a verdadeira "herança maldita" de FHC — defendia a Lava-Jato com unhas e dentes, mas virou a casaca depois que a Vaza-Jato denegriu a imagem do ex-juiz Sergio Moro, do ex-procurador Deltan Dallagnol e de outros integrantes do braço paranaense da força-tarefa, embora seu "crime hediondo" tenha sido combater corrupção sistêmica e pôr na cadeia bandidos travestidos de executivos das maiores empreiteiras do país e políticos ímprobos de altíssimo coturno. 

 

Dias Toffoli — que ganhou a suprema toga graças aos "bons serviços prestados" como advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, consultor jurídico da Central Única dos Trabalhadores (CUT), assessor jurídico do PT e do ex-ministro José Dirceu e subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil sob Lula, a despeito de ter sido reprovado em dois concursos para juiz de primeira instância em São Paulo —, vem fazendo das tripas coração para reconquistar as boas graças de Lula com decisões teratológicas que visam claramente favorecer os "amigos do rei". 

 

Indicado por Lula para o Supremo a pedido da então primeira-dama, Ricardo Lewandowski retribuiu a gentileza durante o julgamento do Mensalão, no qual atuou mais como defensor dos réus do que como julgador. No impeachment de Dilma, ele e o senador Renan Calheiros urdiram uma tramoia para evitar que a mulher sapiens tivesse seus direitos político suspensos.

 

E por aí segue a procissão.

 

Em seu artigo 1º, a Constituição Cidadã anota que "a República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito" e tem como primeiro fundamento "a soberania". O parágrafo único desse mesmo artigo estabelece que "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente". Já no primeiro inciso do artigo 3º, o Regimento Interno da Câmara explicita que é dever do deputado federal "promover a defesa do interesse público e da soberania nacional". Na prática, porém, a teoria costuma ser outra.

 

Morando nos EUA e exercendo em tempo integral a atividade de traidor da pátria, Eduardo Bolsonaro rasga a Carta Magna, sapateia sobre o regimento da Câmara e desonra os 741 mil votos que obteve do eleitorado paulista em 2022. Mas não é só: a falta de posicionamento dos dirigentes do Congresso sobre o pedido de cassação do traíra injeta na conjuntura brasiliense uma vergonha convulsiva: quando alguém precisa tomar uma decisão e não toma, está decidindo não fazer nada, e nada, no caso do deputado, é uma palavra que já ultrapassa tudo. Ou Congresso expurga o personagem dos seus quadros, tornando-o inelegível, ou se desmoraliza junto com ele.

 

A coação exercida sobre o STF por Trump em parceria com a Famiglia Bolsonaro já justificaria a prisão preventiva do chefe do clã, mas Moraes "morde e assopra", evitando confundir o necessário com o excessivo, sobretudo depois que seu colega Luiz Fux votou contra as medidas cautelares impostas ao capetão (dizem que o fez para não ter seus visto de entrada nos EUA cassado, como já aconteceu com oito de seus pares). Vale destacar que não foi a primeira vez que ele divergiu do relator e de seus colegas da Primeira Turma. Durante a análise da denúncia da PGR, o ministro levantou dúvidas sobre a delação de Mauro Cid e a competência da Turma para julgar Bolsonaro e seus cúmplices (que, segundo ele, seria da primeira instancia do Judiciário ou, na pior das hipóteses, dos 11 ministros da Corte). 

 

Diz um ditado que "só não muda de opinião quem já morreu", mas causa espécie que o ministro "punitivista" que apoiou o relator (Joaquim Barbosa) na condenação da maioria dos réus da ação penal 470 (vulgo "Processo do Mensalão") e se tornou um dos principais defensores da Lava-Jato tenha dado um "cavalo de pau" digno dos melhores filmes de ação, aliando-se à corrente "garantista", que prioriza a proteção dos direitos fundamentais dos réus. 

 

Embora concorde com as condenações pela trama golpista, Fux tem acatado alguns argumentos dos acusados, e comenta-se à boca pequena que ele continuará nessa linha, como forma de "garantir a moderação no STF". No julgamento da cabeleireira Débora dos Santos, que ficou conhecida por pichar com batom a frase "Perdeu, mané" na estátua da Justiça, Moraes propôs 14 anos de prisão, mas Fux sugeriu um ano e seis meses, arrancando elogios de Michelle Bolsonaro.

 

No fim de março, durante o julgamento da denúncia da PGR contra o grupo principal da trama golpista — encabeçado por Bolsonaro —, Fux foi o único a abraçar o argumento da defesa no sentido de que o foro indicado para conduzir as investigações seria primeira instância do Judiciário, e não no STF. Derrotado por seus pares, ele acabou votando pelo recebimento da denúncia, que foi aceita por unanimidade. No mesmo julgamento, afirmou ser contrário à ideia de punir a tentativa de golpe como se fosse um crime consumado. Defendeu a necessidade de diferenciar os atos preparatórios da execução do crime e levantou dúvidas sobre a legalidade da delação de Mauro Cid. As observações renderam elogios da defesa de Bolsonaro.

 

No depoimento de Cid ao STF, Fux fez perguntas que foram elogiadas por Eduardo Bolsonaro — em suas redes sociais, o filho do pai escreveu: "Urgente! Fux desmontou o castelo de areia com duas perguntas." Nos depoimentos de testemunhas do chamado núcleo crucial, foi o único —além do relator — a comparecer às sessões e fazer questionamentos nas oitivas. E a expectativa é que ele continue apresentando contrapontos às discussões, assumindo de maneira informal o papel de "ministro revisor", personificado por Lewandowski no julgamento do Mensalão, mas extinto em 2023 por uma alteração no Regimento Interno da Corte. 

 

As ideias que Fux defende atualmente contrastam com julgamentos penais do passado. Após sua brilhante atuação no Mensalão, o ministro defendeu a Lava-Jato mesmo depois que a Vaza-Jato expôs uma "suposta relação espúria" de Sergio Moro com os procuradores de Curitiba. Em abril de 2021, Fux se posicionou contra a anulação das condenações impostas a Lula pela 13ª Vara Federal de Curitiba. Em junho de 2022, quando presidia o STF, disse que a anulação foi resultado da análise de questões formais: "Ninguém pode esquecer que ocorreu no Brasil, no Mensalão, na Lava-Jato."

 

Fux intensificou sua relação com Bolsonaro a partir de setembro de 2020, quando assumiu a presidência do STF. No mês seguinte, recebeu o então mandatário para uma "visita de cortesia" que durou cerca de 45 minutos. Bolsonaro elogiou a decisão de Fux de manter preso um dos líderes do PCC, solto por determinação do (hoje aposentado) ministro Marco Aurélio. Sua atitude provocou irritação do colega — até porque não é praxe um ministro suspender a decisão de outro.

No dia seguinte ao encontro, Bolsonaro concedeu a Fux a Ordem de Rio Branco em seu mais alto nível, o grau de Grã-Cruz.

 

Coincidência ou não, os únicos ministros do STF que não tiveram seus vistos revogados pelo secretário de Estado dos EUA foram os bolsonaristas André Mendonça e Nunes Marques... e Luiz Fux — indicado para o tribunal por Dilma em 2011.

 

Aguardemos, pois, os próximos capítulos de mais esse emocionante folhetim tupiniquim.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

A REPÚBLICA DO CENTRÃO

HÁ MALES QUE VÊM PARA O BEM E BENS QUE VÊM PARA O PIOR.

O golpe militar de 1889, por exemplo — também conhecido como Proclamação da República — defenestrou D. Pedro II do trono, substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano e cortou os grilhões que ainda atrelavam esta banânia ao reino de Portugal. No entanto, se analisarmos os últimos 135 anos da história, veremos que o resultado ficou bem aquém do esperado.

A renúncia de Jânio serviu de estopim para o golpe de 1964 e o governo militar, que era para ser transitório, tornou-se "provisoriamente permanente" por longos 21 anos. Em 1985, a eleição indireta de Tancredo encheu o coração dos brasileiros de uma esperança que baixou a sepultura há exatos 40 anos, junto com o político mineiro, que morreu sem jamais ter tomado posse.


Essa nova trapaça do destino trouxe José Sarney, um oligarca da política de cabresto nordestino que desgovernou o país por longos 5 anos e transferiu a faixa para Fernando Collor, um pseudo caçador de marajás que acabou impichado em 1992, quando então o baianeiro Itamar Franco passou de vice a titular. 


Em 1994, cavalgando o sucesso do Plano Real, Fernando Henrique foi alçado ao Planalto. Em 1998, depois de comprar a PEC da reeleição, ele conquistou seu segundo mandato, mas já não tinha novos truques na cartola. Assim, Lula derrotou José Serra em 2002, dando início a 13 anos, 4 meses e 12 dias de jugo petista. 


Com o impeachment de Dilma (em agosto de 2016) e o fim do mandato tampão de Temer (em dezembro de 2018), a aversão chapada ao lulopetismo corrupto tirou do armário a direita radical e elegeu presidente uma combinação mal ajambrada de mau militar — que deixou a caserna pela porta lateral — e parlamentar medíocre — que aprovou míseros dois projetos ao longo de 27 anos no baixo clero da Câmara Federal.


A era do bolsonarismo boçal deveria ter terminado em 2023, com o início do terceiro mandato do ex-presidiário que os ventos do antibolsonarismo sopraram da carceragem da PF para o Palácio do Planalto, mas não terminou, já que a abjeta polarização que tomou conta do país.


"In medio stat virtus", diz um velho ditado romano, sugerindo que a virtude reside no equilíbrio entre os extremos. Mas o que era bom na Roma Antiga não é necessariamente bom no Brasil de hoje: quando o Centrão "nasceu", em meio à Assembleia Nacional Constituinte, o grupo reunia parlamentares de perfil conservador e moderado, alinhados ideologicamente, de partidos como PFL, PDS, PTB e setores do PMDB. Passadas quase quatro décadas, o nome sobreviveu — mas a natureza mudou. 


O Centrão "evoluiu" de grupo ideológico para uma "coalizão pragmática" que se articula com quem estiver no poder, desde que tenha acesso a verbas, cargos e influência no Orçamento. A ascensão de Hugo Motta à presidência da Câmara consolida essa transformação: Aos 35 anos, o deputado paraibano é o novo perfil do Centrão — discreto, técnico, eficaz, mas extremamente poderoso. Sob sua liderança, o bloco controla a pauta da Câmara, os acordos legislativos e a liberação das emendas que irrigam as bases eleitorais dos deputados.


Hoje, o Centrão não apenas governa junto, mas impõe as regras do jogo negociando a cada votação, mas sem jamais se comprometer com projetos de governo. Esteve com FHC, com Lula 1 e 2, com Dilma, com Temer, com Bolsonaro e com Lula 3, ou seja, está sempre com quem ocupa o Palácio do Planalto, desde que esse alguém lhe garanta retorno político. Se no passado o bloco foi importante para equilibrar a Constituinte, hoje ele é uma força que não se assume como base, mas que nenhum governo consegue ignorar. 


Em suma, o Centrão continua sendo o centro — o centro do poder.

terça-feira, 15 de abril de 2025

A REPUBLIQUETA DE BANANAS E A PIRA COLETIVA

A HISTÓRIA ACONTECE COMO TRAGÉDIA E SE REPETE COMO FARSA.

A célebre frase "Le Brésil n’est pas un pays sérieux" é indevidamente atribuída a Charles de Gaulle, mas isso não muda o fato de que a descoberta de Pindorama foi uma fraude, a independência, comprada e a Proclamação da República, o primeiro de uma série golpes militares. 

 

Oito dos 40 presidentes não concluíram seus mandatos (começando pelo próprio Deodoro da Fonseca); dos cinco que foram eleitos diretamente desde o fim da ditadura, dois acabaram impichados (seriam três se Rodrigo Maia e Arthur Lira não tivessem blindado o capetão golpista dos mais de 140 pedidos de impeachment protocolados na Câmara). 


Nosso "melhor" mandatário foi Tancredo Neves, mas apenas porque morreu sem tomar posse. Mas sua herança foi maldita: o vice José Sarney um neto que envergonharia o país. Ao final da intragável gestão do oligarca maranhense, o esclarecidíssimo eleitorado, podendo escolher Ulysses GuimarãesMario Covas ou Leonel Brizola entre os 22 candidatos ao trono, optou por despachar para o segundo turno um caçador de marajás demagogo e populista e um ex-metalúrgico populista e demagogo.

 

Collor derrotou Lula, tomou posse em março de 1990 e foi penabundado em dezembro de1992. Condenado em 2023 a mais 8 anos de reclusão, o sevandija segue livre, leve e solto graças a sucessivos embargos procrastinatórios. Já seu ex-adversário foi eleito em 2002, reeleito 2006, preso em 2018 e libertado 580 dias depois, a pretexto de nos livrar do refugo da escória da humanidade e pior mandatário desde Tomé de Souza, que ora responde por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.

 

Em diferentes momentos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo advertiram sobre os riscos de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Ambos foram duramente criticados, mas o tempo lhes deu razão. Ignorante e despreparado, o eleitorado tupiniquim repete a cada dois anos, por estupidez, o que Pandora fez apenas uma vez, movida pela curiosidade. E como ninguém revogou a lei da causalidade, o país segue prisioneiro de dois populistas abjetos, que se valem do mandato para corromper, saquear e posar de salvadores da pátria.

 

A história ensina a não confiar em políticos, mas a maioria dos brasileiros, cega pelo fanatismo e lobotomizada pela polarização, insiste em idolatrar bandidos travestidos de agentes públicos. Não surpreende, portanto, que o Brasil seja governado como uma usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo outro. 


Entre a porta de entrada (as eleições) e a de saída (a troca de comando), a merda muda de aparência, de nome, de embalagem — mas continua sendo merda. Reprocessou-se o governo Lula e deu no governo Dilma; reprocessou-se o de Dilma e deu no de Temer; a péssima gestão de Bolsonaro ensejou a volta do xamã petista numa versão macróbia e piorada. Desde 2003, o conteúdo da usina não mudou. O que muda — quando muito — são as moscas.

 

Em Ensaio sobre a cegueira, o escritor português José Saramago anotou que "a pior cegueira é a mental", pois torna as pessoas incapazes de reconhecer o que está diante de seus olhos. Isso explica por que milhões de cegos mentais acreditam que Lula é a "alma viva mais honesta do Brasil" e outros tantos que Bolsonaro é um patriota de mostruário perseguido injustamente por "Xandão" e seus pares de toga. A despeito de tudo que fez, o capetão ainda conta com o apoio de milhares de anencéfalos, que bebem seus garranchos verbais em português sofrível — e, mais recentemente, em inglês macarrônico. 


Lula e Bolsonaro só continuam vivos politicamente porque se retroalimentam e porque os brasileiros se comportam como gado tocado dos currais para ao matadouro. Mas o que seria de esperar da escumalha abjeta que o Criador, acusado de nepotismo, escalou para povoar a terra onde "em se plantando, tudo dá"? 


Assim como o "Führer" dos nazistas, a calopsita alaranjada, o molusco eneadáctilo e o capetão golpista deixaram claro o que pretendiam fazer, e foram aplaudidos, pois o populismo autoritário entra pela porta da frente, ovacionado. Hitler dizimou a Europa; Trump atacou criminosamente a economia global; e Lula bateu asas da cadeia e voou para o Planalto, onde posa de "parteiro do Brasil Maravilha". 


Marx ensinou que "a história acontece como tragédia e se repete como farsa". Os populistas anunciam o caos, mas a multidão primeiro os aplaude e depois diz que "não sabia". Eleitores dessa catadura não deveriam votar sequer em assembleia de condomínio.


O populismo é uma pira coletiva onde todos acham que só os outros vão arder.

terça-feira, 25 de março de 2025

ENTRE DEUSES E TOGADOS

ALEA JACTA EST.

Asgard, o equivalente nórdico do Monte Olimpo da mitologia grega, liga-se Midgard, o reino dos mortais, por Bifrost, a ponte do arco-íris. Lá, num um majestoso salão com 540 portas, fica Hlidskialf, o trono mágico de onde o todo-poderoso Odin observa tudo que acontece nos nove mundos.

 

Num certo planetinha azul, encravada no Planalto Central de uma republiqueta de almanaque, fica a mitológica Brasília da Fantasia. No extremo leste de seu Plano Piloto, as sedes do Executivo federal, do Legislativo e do Judiciário dividem a Praça dos Três Poderes


Até o início do século XIX, nossa republiqueta de bananas não tinha uma corte suprema. Com a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, foi criada a Casa da Suplicação do Brasil, mas a função de suprema corte só se solidificou em 1829, com a criação do Supremo Tribunal de Justiça, que passou a se chamar Supremo Tribunal Federal em 1890, nas pegadas da Proclamação da República.

 

O STF ocupa uma área de 14.000 m2 (100 dos quais reservados para a sala do presidente da Corte). Seus 11 membros, chamados de ministros, são indicados pelo presidente da República e aprovados no Senado por maioria simples (41 dos 81 votos possíveis). O cargo não é vitalício, mas a aposentadoria só é compulsória quando o semideus togado completa 75 anos.

 

Diferentemente das imagens da deusa Têmis que decoram fóruns e tribunais mundo afora, a estátua de pedra erigida diante do STF está sentada. Como as demais, tem os olhos vendados e uma espada na mão, mas sua balança foi roubada por um deputado que, graças ao foro privilegiado, ainda não foi julgado. Em nossa corte suprema, uma decisão tanto pode demorar duas horas quanto vinte anos, a depender do ministro que a toma e de quem ela favorece — vide o caso de Collor, que foi condenado a mais de oito anos de prisão em 2023 e continua livre, leve e solto graças a sucessivos embargos procrastinatórios. É a prova provada de que, conforme o nível de renda, poder e influência, criminosos condenados não vão para a prisão ou a deixam pela porta da frente arrotando inocência.

 

Passados dois séculos, o STF rescende ao bolor dos tempos do Império, com seus paramentos, rapapés, salamaleques, linguagem empolada e votos repletos de citações em latim. Manter essa máquina gigantesca funcionando custa mais de R$ 1 bilhão por ano aos "contribuintes". Some essa exorbitância aos R$ 6 bilhões anuais gastos com o STJ e o TST, acrescente os salários e mordomias dos senadores, deputados federais, governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores, e a dinheirama que vasa pelo ladrão da corrupção, e você entenderá  por que um país que arrecada quase R$ 3 trilhões por ano não tem dinheiro para investir em Saúde, Educação, Segurança etc.

 

Além do papel de corte constitucional, cabe ao STF processar parlamentares, ministros de Estado, presidentes e outros detentores de foro privilegiado, bem como julgar recursos extraordinários contra decisões de outros tribunais. Os magistrados deveriam ser técnicos, impessoais e apartidários, mas tomaram gosto pela política — e quem consegue poder político não abre mão dele facilmente — e, a exemplo de 90% dos brasileiros, sucumbiram à polarização.

 

Essa sucumbência ficou evidente em 2019, quando, por 6 votos a 5, o tribunal mudou seu entendimento sobre o cumprimento antecipado da pena após a confirmação da condenação por um juízo colegiado, pavimentando o caminho para "a volta do criminoso à cena do crime" (como disse Geraldo Alckmin em 2021, quando ainda não cogitava disputar a vice-presidência na chapa encabeçada pelo xamã petista).

 

O mesmo se deu em 2021, quando, por 8 votos a 3, o tribunal anulou as condenações impostas a Lula com base na incompetência territorial da 13ª Vara de Curitiba — mal comparando, foi como determinar a soltura de um criminoso preso em flagrante pela Guarda Civil Metropolitana sob o pretexto de que a prisão caberia à Polícia Militar. Mas daí a dizer que o STF interferiu no resultado da eleição presidencial de 2022 e que o capetão vem sendo perseguido por "Xandão" e seus pares vai uma longa distância.

 

Dá-se de barato que Bolsonaro será promovido a réu entre hoje e amanhã. Ainda que a decisão coubesse ao plenário, não haveria garantias de que Kássio Nunes Marques e André Mendonça votariam a favor daquele que cobriu seus ombros com a suprema toga. O "ministro tubaína", que o ex-presidente considerava 10% dele no STF, votou com a maioria que indeferiu os pedidos de afastamento de Moraes, Dino e Zanin do julgamento da denúncia. O voto do "ministro-pastor" não reverteu a goleada, mas evitou a unanimidade. Em última análise, Mendonça ganhou a toga por serviços prestados previamente, ao passo que Marques mostrou que esperar fidelidade a posteriori é como contar com o ovo no cu da galinha.

 

Enquanto a 1ª Turma do STF decide se aceita ou não a denúncia contra Bolsonaro et caterva, partidos do Centrão já descartam o "mico" como possível candidato à presidência em 2026 e relutam em embarcar no pedido de urgência da votação da anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8/1. E ainda que a proposta passasse na Câmara, o Senado certamente a barraria. Seus advogados sabem que as chances de absolvição são as mesmas de um pároco de aldeia ser ungido papa, de modo que fazem o possível para poluir a sentença com suspeitas de perseguição política. 

 

Bolsonaro chegará ao banco dos réus ainda algemado à tese da perseguição — uma fabulação que reduz tudo a uma sedutora versão de complô do sistema e da imprensa sensacionalista. Mas tudo o que salta aos olhos — indícios, documentos, mensagens, áudios e vídeos — não pode ser um conjunto de anomalias da lei das probabilidades conspirando contra um pobre inocente e seus seguidores ingênuos. Em off, ele diz a aliados que seu maior "receio" é ser surpreendido por acordos subterrâneos costurados à margem da viagem de Lula ao Japão. 

 

Com os atuais presidentes da Câmara e do Senado e seus antecessores integrando a comitiva presidencial, o projeto de anistia, apoiado com vigor pela direita bolsonarista e combatido energicamente pelos partidos de esquerda, continuará cozinhando em banho-maria. E ainda que assim não fosse, não há garantias de que eventual aprovação favoreça o ex-presidente, já que o Supremo pode considerar o projeto inconstitucional. Sem falar que ele não afetaria a inelegibilidade decorrente das prováveis condenações no STF, cujas penas podem chegar a 46 anos. 

 

Quanto ao andamento da denúncia do golpe "com a velocidade da luz", vale lembrar que no caso do tríplex do Guarujá, que resultou na prisão de Lula em abril de 2018, foram 11 meses entre o indiciamento feito pela PF e a condenação pelo então juiz Sérgio Moro. No mesmo ritmo, o destino de Bolsonaro estará selado em outubro. 


Alea jacta est

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

WINDOWS 10 — UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL?

QUEM PERSEGUE DUAS LEBRES NÃO ALCANÇA UMA DELAS E DEIXA A OUTRA ESCAPAR.
 
fim do suporte ao Windows 10 obrigará milhões de usuários a escolher entre continuar usando um sistema inseguro, forçar o upgrade numa máquina que não atende às exigências do Win11, comprar um computador novo, ou migrar para o Linux. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

O sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão. O desempenho medíocre do PT nas eleições municipais e a vitória de Donald Trump na disputa pela Casa Branca comprovam essa máxima. De celebrada por encarnar esperança e renovação, Kamala Harris passou a culpada pela estagnação do discurso em tempo já ultrapassado pelas demandas do eleitorado. 
A esquerda brasileira olha para o resultado das urnas como se o problema não remontasse ao primeiro governo Dilma. Num comício da campanha de Haddad à Presidência, o rapper Mano Brown apontou o afastamento do PT da "multidão que precisa ser conquistada" e levou uma tremenda vaia. O abismo estava logo ali, mas o autoengano prevaleceu — e cresceu quatro anos depois, com a volta do ex-presidiário descondenado ao Planalto. 
Lula e seus sectários não praticam autocrítica. Segundo eles, fazê-lo equivaleria a baixar a guarda e abrir passagem para os adversários. Mas retificar condutas não significa capitular. Ao contrário. É, no dizer do samba de Paulo Vanzolini, reconhecer a queda, não desanimar, sacudir a poeira e preparar a volta por cima. 
Irritado com ponderações sobre os erros da esquerda, o deputado Ivan Valente, ex-petista atualmente no PSOL, pontificou: "Isso é conversa de intelectual que nunca foi para porta de fábrica entregar panfleto". Alguém deveria lembrar ao nobre parlamentar que o conceito de "porta de fábrica" deixou de existir quando o panfleto passou a ser digital.

Observação: Comemora-se hoje o 135° aniversário do primeiro golpe militar desta republiqueta de bananas. Clique aqui para ler um breve resumo da verdadeira história da Proclamação da República.
 
Microsoft decidiu oferecer mais um ano de atualizações de segurança a quem se dispuser a desembolsar US$ 30 (lembrando que novos recursos, correções de bugs e suporte técnico não fazem parte do pacote). 

A decisão não foi tomada por solidariedade às "viúvas do Ten", mas porque elas representam mais de 60% dos usuários do Windows.

Aceitar a "gentil oferta" é uma medida paliativa, que serve apenas para emburrar o problema com a barriga até outubro de 2026. Mas por que resolver hoje um problema que pode ficar para amanhã?