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sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A CAIXA DE PANDORA — O MITO E A REALIDADE

NÃO ESPEREIS O JUÍZO FINAL; ELE SE REALIZA TODOS OS DIAS.

 

"Abrir a Caixa de Pandora" é uma metáfora para ações que desencadeiam consequências maléficas e irreversíveis. 

Segundo a mitologia grega, Pandora ("aquela que tem todos os dons") foi criada por Hefesto e Palas Atena a mando de Zeus, que queria castigar Prometeu ("aquele que pensa antes") por roubar o fogo dos deuses e dá-lo aos homens. 

Depois de ganhar um dom de cada divindade de Olimpo, Pandora recebeu de Zeus uma caixa que jamais deveria ser aberta e a missão de seduzir Epimeteu ("aquele que pensa depois"). Encantado com a beleza da moça e ignorando as advertências do irmão, Prometeu, sobre aceitar presentes do deus dos deuses, Epimeteu tomou a moça como esposa (e eu que achava que "presente de grego" tinha a ver com a lenda do Cavalo de Troia). 
 
Quando criou a mulher, Deus também criou a curiosidade. A curiosidade levou Pandora a abrir a caixa e libertar todos os males que recaíram sobre a humanidade. Mas a esperança, que é "a última que morre", ficou presa no fundo da caixa, talvez para nos dar forças para lutar contra as adversidades, mesmo que o mal muitas vezes vença o bem.
 
Revisito essa fábula por três motivos: 1) sempre gostei de mitologia; 2) muita gente usa essa metáfora sem saber sua origem; 3) insistir no erro esperando produzir um acerto é a melhor definição de imbecilidade que eu conheço. 
 
Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Ambos foram muito criticados, mas o tempo provou que eles estavam certos. O eleitores fazem nas urnas, a cada dois anos, o que Pandora fez uma única vez. Só que não por curiosidade, e sim por ignorância. E como ensinou o Conselheiro Acácio (personagem do romance O Primo Basílio), as consequências vêm sempre depois. 
 
A ditadura militar resultante do golpe de 1964 durou 21 longos anos. A reabertura, lenta e turbulenta, não se deveu ao "espírito democrático" dos presidentes-generais Geisel e Figueiredo, mas ao ronco das ruas e à pressão da imprensa, que se intensificaram em 1984, depois que uma manobra de bastidor sepultou a emenda Dante de Oliveira

Em janeiro do ano seguinte, Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf por 480x180 votos de um colégio eleitoral formado por 686 deputados, senadores e delegados estaduais. A exemplo da Viúva Porcina (aquela que foi sem nunca ter sido), Tancredo entrou para a história como nosso primeiro presidente civil desde João "Jango" Goulart, mas baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois.

A raposa mineira levou para a sepultura a esperança de milhões de brasileiros e deixou de herança um neto que envergonharia o país e um mix de puxa-saco dos militares, oligarca da politica de cabresto nordestina, escritor, poeta e acadêmico que se chamava José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mas era conhecido como José Sarney

Sem o carisma e o traquejo administrativo do finado, Sarney tentou descascar o formidável abacaxi econômico (inflação, dívida externa e desemprego nas alturas) através de uma série de pacotes de medidas econômicas baseadas no congelamento de preços e salários. Ao final de sua aziaga gestão, a inflação estava em 4.853% ao ano, mas os prefeitos haviam voltado a ser eleitos diretamente, a Constituição Cidadã fora promulgada (aumentando de 4 para 5 a duração de seu mandato) e a primeira eleição presidencial direta desde 1960, realizada.   
 
Em 15 de novembro de 1989, o cardápio de postulantes ao Planalto oferecia 22 opões, incluindo Ulysses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. E o que fez esclarecido eleitorado ao quebrar o jejum de urna de 29 de urna? Escalou Lula e Fernando Collor para disputar o 2º turno. O caçador de marajás de mentirinha venceu o desempregado que deu certo, mas o envolvimento no esquema PC lhe rendeu um impeachment.
 
Observação: Em maio do ano passado, o STF condenou Collor a 8 anos e 10 meses de reclusão, mas ele continua livre, leve e solto graças a um pedido de vista apresentado pelo ministro Dias Toffoli na véspera do último carnaval. Em contrapartida, qualquer "reles mortal" que acessar o Xwitter durante a suspensão ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes corre o risco de ser multado em R$ 50 mil. Dá para acreditar numa coisa dessas?
 
Com a deposição do Rei-Sol, o baianeiro e namorador Itamar Franco foi promovido a titular, nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda e editou o Plano Real, cujo sucesso pavimentou o caminho que levou o grão-duque tucano a vencer o pleito presidencial de 1994 no 1º turno. Em 1997, picado pela mosca azul, sua alteza comprou a PEC da reeleição

Como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, o tucano de plumas vistosas disputou a reeleição em 1998 e foi eleito no 1º turno, mas em 2002, sem novos truques para tirar da velha cartola, não conseguiu eleger seu sucessor.
 
Após três derrotas consecutivas, Lula venceu José Serra e deu início aos 13 anos, 4 meses de 12 dias de lulopetismo corrupto que só foi interrompidos em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, a inolvidável gerentona de araque

Num primeiro momento, a troca de comando pareceu uma lufada de ar fresco numa catacumba: depois de mais de uma década ouvindo garranchos verbais de um ex-retirante semianalfabeto e frases desconexas de uma mandatária incapaz de juntar lé com cré numa frase que fizesse sentido, ter um presidente que sabia falar – e que até usava mesóclises – era um refrigério.
 
Temer conseguiu reduzir a inflação (que havia retornado firme e forte sob Dilma) e aprovar o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu prometido "ministério de notáveis" se revelou uma notável agremiação de corruptos e sua "ponte para o futuro", uma patética pinguela. 

A conversa de alcova gravada à sorrelfa por Joesley Batista só não derrubou o vampiro do Jaburu porque sua tropa de choque – capitaneada pelo deputado Carlos Marun – comprou votos das marafonas da Câmara para escudá-lo das "flechadas de Janot". Apesar do desgaste, o nosferatu claudicou como "pato manco" até o final do mandato-tampão e transferiu a faixa para Jair Bolsonaro. 
 
Sem a proteção do manto presidencial, o vampiro que tinha medo de fantasma chegou a ser preso, mas foi socorrido pelo desembargador Ivan Athié, então presidente da 1ª Turma do TRF-2, que havia sido afastado do cargo durante 7 anos por suspeitas de corrupção e venda de sentenças, mas fora reintegrado em 2011, quando o STF trancou o processo contra ele. E viva a Justiça brasileira!
 
Ao acompanhar o golpe de Estado que levou Napoleão III ao poder, Karl Marx concluiu que a história acontece como tragédia e se repete como farsa. O Barão de Itararé dizia que político brazuca é um sujeito que vive às claras, aproveita as gemas não despreza as cascas, e o saudoso maestro Tom Jobim (que era brasileiro até no nome), ensinou que o Brasil não é para principiantes. E com efeito. 
 
Em 2018, havia 13 postulantes ao Planalto. Nenhum deles empolgava, é verdade, mas por que se arriscar a acertar com Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles ou João Amoedo quando se podia pode errar com certeza escalando para o embate final um mau militar e parlamentar medíocre travestido de "outsider antissistema" e um patético bonifrate do então ex-presidiário mais famoso do Brasil?

Em 2022, as opções era ainda menos atraentes, sobretudo depois que o "establishment" eliminou Sergio MoroJoão Dória e Eduardo Leite da quimérica "terceira via". Mas, de novo, por que correr o risco de acertar votando em Simone Tebet, em Felipe D'ávilaou mesmo em Ciro Gomes (situações desesperadoras justificam medidas desesperadas) quando se podia errar com certeza despachando Lula e Bolsonaro para o 2º turno?
 
Tanto num caso como no outro a maldita polarização fez com que tanto a merda quanto as moscas fossem as mesmas. A diferença foi que em 2018 a parcela minimamente pensante do eleitorado se viu obrigada a apoiar o ex-capitão para evitar que o país fosse presidido pelo fantoche do presidiário, e em 2022, embarcar na falaciosa "Frente Democrática", capitaneada pelo então ex-presidiário "descondenado" para evitar mais 4 anos (ou sabe Deus quantos) sob a batuta do refugo da escoria da humanidade.
 
Há males que tempo cura e males que vêm para pior e com o passar do tempo. Lula 3.0 é uma reedição piorada das versões 1 e 2, e como como nada é tão ruim que não possa piorar, o macróbio petista cogita disputar a reeleição em 2026 (que os deuses nos livrem tanto dessa desgraça quanto da volta do capetão-golpista).
 
As consequências da inconsequência do eleitorado tupiniquim são lamentados todos os dias, inclusive por quem abriu a Caixa de Pandora achando que estava escolhendo o menor de dois males, mas isso só se justifica quando e se não há outra opção. E tanto em 2018 quanto em 2022 havia alternativas; só não viu quem não quis ou não conseguiu porque sofre do pior tipo de cegueira que existe. 
 
Observação: Um levantamento feito pelo portal g1 apurou que 61 pessoas com mandados de prisão em aberto (leia-se fugitivos da polícia) se candidataram a prefeito ou a vereador nas eleições deste ano. A maioria dos casos envolve dívida de pensão alimentícia, mas há suspeitos de estelionato, roubo, homicídio e estupro. 
 
Reza uma velha (e filosófica anedota) que Deus estava distribuindo benesses e catástrofes naturais pelo mundo que acabara de criar, quando um anjo apontou para o que seria futuramente o Brasil e perguntou: "Senhor, por que destinastes a essa porção de terra clima ameno, praias e florestas deslumbrantes, grandes rios e belos lagos, mas não desertos, geleiras, vulcões, furações ou terremotos?" E Deus respondeu: "Espera para ver o povinho filho da puta que vou colocar aí."
 
Políticos incompetente e/ou corruptos que ocupam cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se eles estão lá, é porque foram eleitos por ignorantes polarizados, que brigam entre si enquanto a alcateia de chacais se banqueteia e ri da cara deles. 
 
Einstein achava que o Universo e a estupidez humana eram infinitos, mas salientou que, quanto ao Universo, ele ainda não tinha 100% de certeza. Alguns aspectos de suas famosas teorias não sobreviveram à passagem do tempo, mas sua percepção da infinitude da estupidez humana merece ser bordada com fios de ouro nas asas de uma borboleta. 
 
Não há provas de que boas ações produzam bons resultados – a "lei do retorno" é mera cantilena para dormitar bovinos – mas sabe-se que más escolhas costumam gerar péssimas consequências, como prova e comprova a história desta republiqueta de bananas: nossa independência  foi comprada, a Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de muitos), o voto é um "direito obrigatório", nossa democracia é uma piada e o sistema político está falido. 
 
Desde 1889, 35 brasileiros alcançaram a Presidência pelo voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado (o número depende de como alguns casos específicos, como presidências muito breves ou interinas, mas isso não vem ao caso neste momento). Oito integrantes dessa seleta confraria – começando pelo primeiro, Deodoro do Fonseca – deixaram o cargo prematuramente, e dos cinco que foram eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois acabaram impichados. 

Dos mais de 30 partidos políticos que mamam nas tetas dos fundos eleitoral e partidário (ou seja, são bancados pelo suado dinheiro dos "contribuintes"), nenhum representa os interesses da população, e alguns são verdadeiras organizações criminosas. 

O Brasil de hoje lembra aquelas fotos antigas de reis africanos, que imitavam os trajes e trejeitos dos governantes de nações mais evoluídas e recebiam aulas de civilização dos oficiais do Império Britânico, mas achavam que para se transformar em soberanos civilizados bastava copiar as vestes e adereços daqueles que lhes falavam das maravilhas da Rainha Vitória ou de Napoleão III. 

O resultado se vê nas fotografias. As mais clássicas mostram negros magros, ou gordíssimos, com uma cartola de segunda-mão na cabeça, calças rasgadas ou remendadas, pés descalços ou calçados com uma bota só, velha e sem graxa. Imaginavam-se nobres, esses coitados, iguais a seus pares europeus, mas, junto com as novas roupas e os acessórios, continuavam usando colares feitos de ossos, pulseiras de metal e argolas na orelha ou no nariz, enquanto eram roubados até o último papagaio pelos que supostamente vieram ensiná-los a ter valores cristãos, avançados e democráticos.
 
O Brasil aparece na foto como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. Nossas eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, do voto obrigatório ao anacrônico horário eleitoral "gratuito", passando por deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm meia dúzia de eleitores. 

O resultado é um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. Acordos políticos são urdidos na surdina por parlamentares que votam com base em seus interesses pessoais. Milícias e fações criminosas têm representantes no Congresso, nas Assembleias Legislativas estaduais e nas Câmaras Municipais. Candidatos só entram em algumas regiões se tiverem proteção dos criminosos, e os moradores são "convidados" a votar na "turma da casa".
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças com reis africanos. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. O Congresso não representa o povo que o elegeu para tal, e há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Com quase 50 mil assassinatos por ano, o Brasil é um dos países onde a vida humana tem menos valor. 
 
Se nossas instituições funcionassem – e suas excelências não se cansam de dizer que elas funcionam –, a Câmara teria aberto pelo menos um dos quase 150 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, e o Centrão não teria transformado a ocupação do Orçamento num processo de bolsonarização das instituições. Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse? 
 
Quando nossos nobres parlamentares perderam a credibilidade e o mais alto cargo do funcionalismo público federal passou a ser ocupado por uma sequência de mandatários que, noves fora Fernando Henrique — já foram presos ou respondem a processos criminais, o Judiciário se tornou nosso último bastião. Mas faz tempo que as opiniões e os vieses político-partidários dos eminentes togados (que deveriam ser isentos, imparciais e apartidários) se tornaram públicos e notórios.
 
O Supremo poderia nos ter livrado do aspirante a golpista em diversas oportunidades (motivos para tal não faltaram), mas as excelências que tudo decidem – do destino dos presidentes ao furto de codornas — acharam melhor dar tempo ao tempo, apostando na sapiência inigualável dos eleitores. 

É fato que Alexandre de Moraes impediu a consumação do golpe, mas também é fato que ele já deveria ter tirado de circulação o "mito" dos extremistas de direita, que mesmo inelegível até 2030 faz pose de cabo eleitoral de luxo e articula com seus comparsas no Congresso uma improvável (mas não impossível) anistia a si e aos golpistas do 8 de janeiro. 
 
Como o chanceler Charles De Gaulle não disse, mas a frase lhe é atribuída, "le Brésil n’est pas un pays serieux". 
 
Continua...

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

DE VOLTA AOS OVNIs

HÁ MAIS COISAS ENTRE O CÉU E A TERRA DO QUE SUPÕE NOSSA VÃ FILOSOFIA.

Semanas atrás, um piloto da Gol avistou um objeto voador não identificado em velocidade supersônica e precisou fazer uma manobra evasiva para evitar a colisão. O incidente ocorreu no voo 9109, entre Brasília e Fortaleza, em 24 de janeiro, às 12h10, quando a aeronave estava a 10,6 mil metros de altitude. Outro piloto, da Avianca, e um terceiro, que voava entre Alagoas e Piauí, também relataram avistamentos semelhantes, descrevendo o OVNI como grande, branco e capaz de realizar movimentos em zigue-zague a altíssima velocidade.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Um dos motivos entre os vários que puseram o PSDB na rota do infortúnio foi a ausência de posicionamento nítido desde que deixou o Planalto. Em outras palavras, os tucanos são tão indecisos que mijam no corredor quando a casa tem mais de um banheiro, e vinham se equilibrando na corda bamba bem antes da eleição de 2002, quando Serra perdeu a Presidência para Lula

A partir de então, o tucanato fez "corpo mole", acreditando que seria beneficiário em 2018 do recall da quase vitória de Aécio Neves em 2014, mas de novo perdeu e jamais se recuperou. O erro dialoga com a falta se senso de oportunidade, mas há equilibristas que se equivocam por excesso de oportunismo — como é o caso de Bolsonaro: fosse mais atento à dinâmica da política como ela é, o ex-presidente levaria em conta os ditames da história para perceber que a deposição dos pés em duas canoas dificilmente dá camisa a alguém. 

Quem faz política precisa ter nitidez de posição. O muro é um lugar confortável, mas eleitoralmente ineficaz. Saber como e quando pular do barco é uma arte na qual o centrão é catedrático. 

Na disputa à Prefeitura de São Paulo, o apoio errático do capetão ao prefeito Ricardo Nunes com sinais de apreço dirigidos a Pablo Marçal para disfarçar a evidência de que o voto dessa direita não tem dono denota insegurança nas escolhas. Sobe naquela corda cujos movimentos tortuosos podem levar a derrubadas estrepitosas. 

Os "nítidos" nem sempre ganham, mas acumulam forças na derrota. Lula, PT e todas as suas idas e vindas são o exemplo mais notável. Conseguiram ganhar cinco eleições presidenciais em oposição a avanços sociais e econômicos como o Plano Real, a privatização das telecomunicações e outros tantos. Como? Tendo a chamada firmeza ideológica.

Goste-se ou não do resultado, sendo o conteúdo muitas vezes para lá de questionável, fato é que o eleitorado não é dado a meios-termos. Notadamente em tempos de torcidas radicalizadas, o líder que vacila candidata-se a perder seu lugar na fila.

O Brasil possui uma longa história de avistamentos de OVNIs. Casos icônicos incluem o de Varginha, a Operação Prato, o Caso Trindade e a Noite Oficial dos Discos Voadores, quando caças da FAB perseguiram objetos misteriosos que surgiram nos radares. Esses relatos, vindos de pilotos civis e militares, controladores de voo e outros profissionais, chamam atenção devido à trajetória e velocidade dos objetos, incompatíveis com aeronaves convencionais.

Em 2004, o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro divulgou um documento sobre a Noite dos Discos Voadores de 1986, quando 21 objetos foram avistados em São Paulo, Rio, Minas e Goiás. Na ocasião, um bimotor com o coronel Ozires Silva, cofundador da Embraer, detectou três OVNIs sobre São José dos Campos (SP). Um caça da FAB chegou a registrar um objeto a 22 quilômetros de distância, mas o OVNI acelerou para incríveis Mach 15 (18.375 km/h), velocidade inimaginável para aeronaves conhecidas.

Um piloto que voava sobre o litoral catarinense na madrugada de 7 de fevereiro de 2023 disse ter visto no céu de Navegantes "uma bola pequena a grande a uma velocidade dez vezes maior que a de um avião comercial", e relatou que já havia reportado outras ocorrências semelhantes no mesmo lugar. Outro piloto reportou o avistamento de um objeto estático, que aumentava e diminuía nas cores branca e alaranjada, quando se preparava para pousar no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e que avistara o objeto em três oportunidades naquela mesma semana. 


Outros cinco objetos com luzes brancas intermitentes foram avistados sobre o município de Ilha Comprida, em São Paulo. Segundo os relatos, os OVNIs faziam movimentos circulares a uma velocidade oito vezes superior à do som (o que descarta a possibilidade de ser um balão meteorológico, satélite, lixo espacial ou qualquer outro fenômeno conhecido).


A ex-comissária da VASP Ana Prudente relatou um incidente em que seu avião foi seguido por um OVNI durante um voo de São Paulo para Belém. A cabine foi inundada por uma luz branca intensa e o rádio da aeronave ficou inoperante até o fim do avistamento. No dia seguinte, ela e os outros tripulantes apresentaram queimaduras misteriosas, mas os exames não detectaram radioatividade.

A Aeronáutica informou que todo o material disponível sobre OVNIs (que cobre 64 anos, de 1952 a 2016, com relatos de pilotos e controladores de voo que avistaram objetos voadores não identificados) foi encaminhado ao Arquivo Nacional, e que esses documentos são o segundo acervo mais acessado, atrás apenas dos da ditadura militar.

O governo dos EUA reconhece a existência dos OVNIs como uma questão de segurança nacional. Apesar disso, muitos relatos continuam sem explicação, enquanto outros foram atribuídos a balões, drones ou fenômenos climáticos. Um relatório de 2021 reacendeu o debate após a divulgação de vídeos mostrando OVNIs desaparecendo no mar. Pilotos militares que antes evitavam relatar incidentes devido ao estigma, agora o fazem com mais liberdade.

O ex-piloto da Marinha Ryan Graves fundou a organização Americans for Safe Aerospace para encorajar pilotos a relatar incidentes com OVNIs. Em depoimento ao Congresso, ele e o major aposentado David Fravor relataram avistamentos durante suas carreiras militares. O ex-oficial de inteligência da Força Aérea David Grusch acusou o governo de encobrir suas investigações sobre OVNIs e afirmou que a tecnologia envolvida ultrapassa qualquer criação humana.

Cada um pode acreditar ou deixar de acreditar no que bem entender, mas nunca é demais lembrar o que o Nobel de Literatura José Saramago em seu Ensaio sobre a cegueira: "a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito." Trata-se de uma alusão a um tipo de cegueira mental, na qual o autor joga com a diferença entre as palavras ver e olhar. O olhar aparece como o ato de enxergar e o ver, como a capacidade de observar, de analisar uma situação. 

Ao fim e ao cabo, a incapacidade de enxergar além do superficial pode ser encarada como uma alienação do homem em relação a si mesmo.

terça-feira, 2 de abril de 2024

60º ANIVERSÁRIO DO GOLPE DE `64

 

O golpe de Estado que prefaciou a ditadura militar — aquela que Bolsonaro sempre negou, mas tentou ressuscitar em 2022, e que seu vice classificou de "ditamole" — completou 60 anos no último domingo. O senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República em 1º de abril de 1964, mas episódio entrou para a História com data anterior para evitar associações jocosas com o "dia da mentira". 

Resumindo a ópera em poucas palavras, a renúncia de Jânio e a aversão dos militares a Jango pavimentaram o caminho do golpe, e os subsequentes 21 anos de ditadura deram azo ao surgimento do lulopetismo corrupto e do bolsonarismo boçal (mais detalhes na sequência O desempregado que deu certo). 

Para quem gazeteou as aulas de História, relembro que a Guerra Fria e a Revolução Cubana levaram o sistema político brasileiro do pluralismo moderado ao pluralismo extremamente polarizado, e a situação se agravou com a vitória chapa Jan-Jan (de Jânio e Jango) em 1960. Jânio se elegeu com a promessa de resolver miraculosamente todos os problemas ligados à corrupção e inflação no país, mas, alegando que "forças terríveis" se levantaram contra ele — e apostando que seria reconduzido ao cargo pelo "clamor popular" — despachou Jango para uma missão na China, apresentou sua carta-renúncia e voou para São Paulo levando a faixa presidencial.

Depois de esperar horas na base aérea de Cumbica pelas multidões não apareceram — talvez porque um arranjo urdido nos bastidores impediu que o povo soubesse onde ele estava, ou talvez porque o povo só poderia ser mobilizado por um partido janista se seu líder tivesse permitido sua existência — o populista cachaceiro embarcou para Europa, e o Brasil mergulhou na crise provocada pelo veto à promoção do "vice comunista" a titular.

Na qualidade de presidente da Câmara, o deputado Ranieri Mazzilli assumiu a chefia do Executivo, mas uma junta provisória formada pelos três ministros militares governou o país até 8 de setembro, quando foi implantado o sistema parlamentarista. Com os poderes limitados e tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro, Jango foi autorizado a assumir a presidência como chefe de Estado. 

Curiosidades1) Dali a 24 anos, o primeiro-ministro de Jango se tornaria o primeiro presidente civil pós-ditadura militar. 2) Em 1962, Jânio concorreu ao governo de São Paulo, mas foi derrotado por seu velho desafeto Adhemar de Barros e só voltou a disputar um cargo público em 1985, quando derrotou o tucano Fernando Henrique e o petista Eduardo Suplicy e se elegeu prefeito da capital paulista.

Jango só assumiu o posto a que tinha direito desde a renúncia de Jânio depois que o referendo de 6 de janeiro de 1963 restabeleceu o presidencialismo, mas as tensões se intensificaram quando ele declarou que a reforma agrária era uma questão de honra em seu mandato. Embora não houvesse a menor possibilidade de uma vitória comunista — nem pela via reformista, nem pela luta armada —, parte da elite brasileira bateu às portas dos quartéis, e os militares atenderam prontamente (até porque a doutrina que aprendiam na caserna era a do Ocidente x Pacto de Varsóvia).

Quando a Marcha da Família com Deus pela Liberdade escancarou o apoio civil ao golpe, o Congresso, ameaçado de fechamento, chancelou a derrubada de Jango e a "eleição" do então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas — o marechal Castello Branco —, que deixou o Planalto em 15 de março de 1967 e morreu quatro meses depois, vítima de um acidente de avião no Ceará. Outros quatro generais-ditadores — Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo , se revezaram no poder até 1985, num jogo um jogo de cartas marcadas em que o partido de oposição (MDB) era meramente figurativo. 

Observação: Muitos democratas e liberais apoiaram o golpe achando que os militares voltariam para os quartéis em 1965, quando haveria novas eleições e Juscelino (pelo lado reformista democrático) e Carlos Lacerda (conservador liberal, democrata) disputariam a Presidência. Mas eles não demoram a perceber que os militares, picados pela mosca azul, tencionavam se perpetuar no poder. 
 
A dança das cadeiras dos fardados terminou com a eleição indireta de Tancredo Neves, em janeiro de 1985, que reascendeu a chama da esperança no coração de 130 milhões de brasileiros. Mas a alegria durou pouco: por uma trapaça do destino, o presidente eleito baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e bateu as botas 38 dias e 7 cirurgias depois, deixando de herança um neto que envergonhou o país e um vice que se tornou pai e avô do Centrão
O resto é história recente. 
 
Em 1989, já sob a égide da Constituição Cidadã, os brasileiros voltaram às urnas (depois de um jejum de 29 anos) para escolher seu presidente. Entre os 22 postulantes havia políticos do quilate de Ulysses Guimarães, Mario Covas, Leonel Brizola e Ciro Gomes e aberrações como Enéas Carneiro, Livia Maria Pio e Sílvio Santos, mas o eleitor tupiniquim, sempre pronto a fazer as piores escolhas, escalou Collor (com 30,5% dos votos) e Lula (com 17,2%) para disputar o segundo turno, quando então o pseudo caçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo por 53% a 47%.
 
Durante a campanha, Collor prometeu alvejar o "tigre da inflação" com uma "bala de prata". Eleito, apertou o gatilho um dia antes da posse ao pedir a Sarney que decretasse feriado bancário para que o mercado se adequasse ao conjunto de medidas econômicas mais radical que o país já amargou. Além de congelar preços e salários — a exemplo dos planos Cruzado, Cruzado II e Verão, editados durante o governo Sarney—, o Plano Collor bloqueou todo o dinheiro depositado nos bancos e aplicado no mercado financeiro até o limite de Cr$ 50 mil. Como resultado, o PIB encolheu 4,5% e o número de falências, infartos e suicídios teve um aumento significativo.
 
Plano Collor II aumentou tarifas públicas, decretou o fim do overnight e criou a FAF (Fundo de Aplicações Financeiras) e a TR (Taxa de Referência de Juros), mas a inflação voltou a subir, o desemprego cresceu, estatais foram vendidas a preço de banana e houve um desmonte das ferrovias e cortes de investimentos federais em infraestrutura. Entre o fim do Plano Marcílio e o início do Plano Real a inflação baixou dos 2.000% a.a. para "apenas" 1119,91% a.a. — índice registrado no final de 1992, quando o
 Rei-Sol, autoritário como poucos e corrupto como muitos, foi chutado do Planalto pela porta dos fundos
 
Observação: Ciente de que sua deposição eram favas contadas, Collor renunciou às vésperas do julgamento de seu impeachment — que teve como estopim uma entrevista concedida por Pedro Collor à revista VEJA —, mas o Senado seguiu adiante e o condenou (por 76 votos a 3) à perda do cargo e suspendeu seus direitos políticos por 8 anos.   
 
Com a deposição do "Roxinho", o vice Itamar Franco passou a titular e nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda. Impulsionado pelo sucesso do Plano Real, o tucano se elegeu presidente em 1994, comprou a PEC da reeleição em 1997 e se reelegeu 1998. Como não lhe restavam novos coelhos para tirar da velha cartola, FHC não conseguiu eleger José Serra seu sucessor.A
 vitória de Lula em 2002 marcou o início à era lulopetista, que só foi interrompida em 2016, com o impeachment de Dilma

Com a deposição da gerentona de araque, seu vice foi promovido a titular e se mudou para a residência oficial da Presidência, mas voltou semanas depois para o Jaburu, porque, segundo ele, o Palácio da Alvorada é assombrado. Assim, Michel Temer se tornou o primeiro e único caso documentado de vampiro que tem medo de fantasma. 
 
A troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba: após 13 anos de garranchos verbais de um semianalfabeto e frases desconexas de uma anormal incapaz de juntar sujeito e predicado numa frase que fizesse sentido, um presidente que não só sabia falar como até usava mesóclises pareceu um refrigério. Demais disso, o vampiro do Jaburu
 conseguiu reduzir a inflação (que rodava pelos 10% quando ele assumiu), baixar a Selic e aprovar a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista, mas o ministério de notáveis que prometeu se revelou uma notável agremiação de corruptos, e quando sua conversa de alcova com Joesley Batista veio a público, o sonho de entrar para a história como "o cara que recolocou o Brasil nos eixos" virou o pesadelo de vir a ser "o primeiro presidente no exercício do mandato denunciado por crime comum". 
 
Observação: A tropa de choque capitaneada por Carlos Marun contratou um coral de 251 marafonas para entoar a marcha fúnebre enquanto a segunda "flechada de Janot" era sepultada na Câmara, mas Temer terminou seu mandato-tampão como um "pato manco" — que é como os americanos se referem a políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons lhes servem o café frio. 
 
Em 2018, uma extraordinária conjunção de fatores empurrou para o Planalto um combo de mau militar e parlamentar medíocre que atribuiu a vitória a uma "cagada do bem". Quatro anos depois, derrotado nas urnas, ele exortou seus paus-mandatos a "virar a mesa". Investigado em sete inquéritos, inelegível até 2030 e na bica de ver o sol nascer quadrado, esse dejeto da escória da raça humana aguarda a primeira condenação posando de perseguido. 
 
A retomada democrática instituída em 1985 com a eleição do presidente "Viúva Porcina" (que foi sem nunca ter sido) e sacramentada em 1988 pela promulgação da Constituição Cidadã não exorcizou os fantasmas da ditadura. No último dia 29, o STF começou a julgar em plenário virtual os limites da atuação das FFAA estabelecidos no Art. 142 da CF (o ministro Luiz Fux, relator da encrenca, já votou pelo sepultamento da tese de que os fardados são o "poder moderador" da República).

Para evitar atritos com as Forças Armadas, Lula vetou qualquer ação alusiva ao golpe de '64, mas sete dos 38 ministros foram às redes sociais prestar homenagens aos "desaparecidos" dos anos de chumbo
Lobotomizados pela polarização semeada pelo "nós contra eles" do xamã petista e estrumada pela extrema-direita radical que saiu do armário durante a campanha de 2018, os devotos do bolsonarismo, vítimas da pior espécie de cegueira, consideram seu "mito" um ex-presidente de mostruário perseguido injustamente por "Xandão", como deixou claro a manifestação de 25 de fevereiro passado.

Observação: Claro que muita gente reza (ou finge rezar) por essa cartilha devido a interesses escusos, da mesma forma e pelos mesmos motivos que muita gente finge acreditar que Lula é a alma viva mais honesta do Universo e que sua prisão "foi uma armação, um dos maiores erros judiciários da história do país". Mas isso é outra conversa. 
 
Em face de todo o exposto, não há o que celebrar em 31 de março (nem em 1 de abril, a não ser o "dia da mentira"). Comemorar a instalação de uma ditadura que fechou instituições democráticas e censurou a imprensa é permitir que ódios do passado envenenem (ainda mais) o presente e destruam o futuro. 

terça-feira, 26 de março de 2024

DANDO NOME AOS BOIS (PARTE 4)

 

Na festa do 44º aniversário do PT os desafios da legenda foram insinuados na lista de presentes e ausentes. Abaixo de Lula e respectiva cuidadora destacaram-se José Dirceu e Delúbio Soares — uma dupla com um enorme passado pela frente — e o vice Geraldo Alckmin, que até anteontem dizia que eleger Lula era promover a volta do criminoso à cena do crime. A ausência mais notada foi a de Fernando Haddad, cuja aprovação pelo mercado financeiro cresceu de 43% para 50% desde o final do ano passado, enquanto a rejeição de seu chefe disparou de 52% para 64% no mesmo período.

 

O PT foi fundado em 1980 com o propósito de fazer política sem roubar nem deixar roubar, mas fez da corrupção a pedra fundamental do projeto de poder de seu xamã. Embora os petistas se valessem desde sempre da experiência secular dos comunistas em aparelhamento do Estado para disseminar a corrupção nas prefeituras administradas pelo bando, o fedor de podre só contaminou a atmosfera quando Roberto Jefferson, o barítono do Mensalãodenunciou o que acontecia nos porões palacianos. 

 

Durante as gestões de Lula e Dilma os cofres públicos foram saqueados pela mais vil agremiação de ladrões que já rastejou pelo Planalto. Além de enriquecer os envolvidos e ensejar a distribuição de bilhões em propina na forma de caixa 1, caixa 2, dinheiro vivo, depósitos em contas secretas e vantagens dissimuladas, o dinheiro pilhado bancou as campanhas presidenciais de 2006, 2010 e 2014. 


Resumo da ópera: Mensalão e Petrolão transformaram o "partido do futuro" em "partido do 'faturo'", e adubaram a semente do bolsonarismo. 


Na campanha de 2022, Lula anunciou que seu terceiro mandato seria o último. Eleito, voltou a acalentar o sonho da reeleição. Em tese, Haddad seria a melhor escolha para renovar o arco democrático que se formou em 2022, mas Lula sempre sufoca lideranças emergentes que tenham potencial para lhe fazer sombra, e assim se torna uma "palmeira hegemônica e solitária no gramado da esquerda".


Lula já culpou a OTAN e o presidente Zelensky pela invasão da Ucrânia, garantiu Putin não seria preso durante sua visita ao Brasil e fez malabarismos para não culpá-lo pela morte do opositor Alexei Navalny. Ele próprio enviou uma carta ao Kremlin parabenizando o déspota pela "vitória" (com receio de que um apoio expresso do Itamaraty aumentasse ainda mais a reprovação de seu governo). Criticou o trabalho do presidente do BC na calibragem da política monetária e ameaçou intervir na Petrobras e na Vale (derrubando em bilhões o valor de mercado das duas maiores empresas do país). 


ObservaçãoA ingerência do governo em companhias abertas vem contribuindo para azedar ainda mais o humor de investidores em relação ao Brasil. Analistas do banco de investimentos Goldman Sachs recomendam a troca de ações de estatais brasileiras por ações de empresas privadas depois que o intervencionismo do governo superou o desequilíbrio nas contas públicas no ranking dos principais riscos no Brasil. 


Na Segurança, a percepção sobre a força do crime organizado não mudou com Dino e tudo indica que não mudará sob Lewandowski. Se a economia foi bem, o desemprego diminuiu, o PIB cresceu e inflação ficou sob controle, não foi graças a Lula, mas apesar dele. E a sensação de melhora ainda não se disseminou entre as pessoas que vão à feira e ao supermercado. Incumbido de desenvolver estratégias para mudar, o marqueteiro baiano Sidônio Palmeira (que atuou na campanha de 2022) precisará da ajuda dos Orixás para de moldar com fumaça a jabuticaba do presidente, já que não existem árvores dando frutos na paisagem.]


Parecendo acreditar que sua impopularidade se deve a "problemas de comunicação", Lula manda seus 38 ministros baterem o bumbo, como se houvesse grandes coisas a alardear. Na reunião do último dia 18, a ministra da Saúde deixou a sala em prantos. Os responsáveis pela Comunicação Social e pela Justiça e Segurança Pública também ficaram sob a mira do chefe. Alguém deveria lembrar o presidente de que as pessoas não se transformam no que não são, e que cabe a ele combinar os atributos dos escolhidos às funções a serem exercidas.


A percepção sobre a força do crime organizado não mudou com Flávio Dino e, pelo que tudo indica, vai mudar sob Lewandowski, que vem vinha tentando de tudo para demonstrar sua serventia. O tudo não quis nada com ele até domingo, quando uma operação da PF resultou na prisão de três supostos mandantes do assassinato de Marielle Franco. Quanto à perseguição aos foragidos da penitenciária de Mossoró — que, segundo o ministro, "está se desenvolvendo com êxito" —, basta dizer que já se passaram 40 dias e foram gastos mais de R$ 6 milhões sem que o paradeiro dos fugitivos se tornasse menos incerto e mais sabido.

 

Na terceira gestão da tal "palmeira hegemônica" — que terá 81 anos quando e se iniciar seu tão sonhado quarto mandato — o PT sobrevive ao presente reciclando o passado. As manifestações que partidos, sindicatos e movimentos sociais identificados com o governo petista realizaram no último sábado foram dispersas e pulverizadas em duas dezenas de cidades. O contraponto com o ato em que Bolsonaro lotou sete quadras Avenida Paulista em fevereiro foi instantâneo. Lula farejou o cheiro de queimado e declinou do convite de ornamentar o fiasco com sua presença, mas não se livrou do contraponto político: no plebiscito do asfalto, a esquerda lulista levou água para o monjolo da estratégia bolsonarista.


Atormentado com o cerco criminal das investigações sobre o golpe, as joias e os cartões de vacina, Bolsonaro oscila entre dois papéis. Nos inquéritos da PF, faz a pose do fraquinho perseguido; em seu rolê pelo país, exibe o figurino do cabo eleitoral com musculatura para mobilizar a rua contra sua prisão — que, tudo indica, é mera questão de tempo. Quando a sentença chegar, ela será cumprida, mas o bolsonarismo não irá para a cadeia com seu "mito". A hipótese de convulsão social é um delírio do ex-presidente golpista, mas sua militância, que continua nas patas do coice, dificilmente voltará para a garrafa, até porque a pior cegueira é a mental e o pior cego é o que não quer enxergar. 


Onde há política, há cisão. Dividir para conquistar é uma tática usada desde sempre por facínoras, ditadores e populistas. Nos EUA — paradigma dos países democráticos —, Donald Trump voltou à cena atacando os imigrantes e culpando Biden pelas "onze pragas do Egito". Por estas bandas, Lula continua praticando ad nauseam o execrável "nós x eles" que inaugurou em 2002. Bolsonaro foi gestado e parido pela mesma polarização que ressuscitou o pontifex maximus da Petelândia, e ambos se retroalimentam do ódio que disseminam. 


O "coisa" e seus baba-ovos não passam um sem atacar o lulopetismo, seja com meias verdades, seja com mentiras grotescas. Lula, o PT e seus satélites respondem à altura — isso quando não disparam o primeiro petardo. Para quem está a uma distância segura desse patético furdunço, chega a ser divertido ver as torcidas organizadas duelando por seus bandidos de estimação, comparando Mensalão e Petrolão com rachadinha, golpe de Estado, falsificação de documentos, contrabando de joias e por aí afora. Lobotomizados pela polarização e cegos pelo fanatismo, essa escumalha só enxerga crimes quando quando quem os comete está "do outro lado da balcão".


Ao atiçar a polarização, Lula se distancia do "eleitor mediano" que o ajudou a subir a rampa pela terceira vez impedir a morte matada da democracia. Com suas manifestações chochas, a petralhada fornece doses extras da seiva vital que mantém vivos o bolsonarismo e o antipetismo, num círculo vicioso que só o diabo sabe como, quando e se vai terminar. 


Quem tem dois neurônios minimamente funcionais sabe que "a turma de cima" não caiu do céu — políticos demagogos, populistas e corruptos não brotam por geração espontânea, mas pelo voto dos apedeutas — e que há distinção entre "eles" e "nós", apenas uma separação eminentemente oportunista. 


Triste Brasil.