Mostrando postagens classificadas por data para a consulta vitória de lula 2002. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta vitória de lula 2002. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

ACREDITE SE QUISER

UMA MEIA-VERDADE BEM CONTADA PODE LEVAR ALGUÉM A CULPAR O INOCENTE E APLAUDIR O MENTIROSO.

Acreditar no que bem entender é, em última instância, exercer o direito de livre arbítrio. Seja para abraçar a ideia de uma Terra plana como quem segura um mapa mal dobrado, seja para negar veementemente qualquer possibilidade de vida extraterrestre, mesmo diante de uma avalanche de relatos de OVNIs, esse direito inalienável de pensar bobagens com convicção permite que bocórios patológicos coexistam em paz, cada qual em sua bolha, orbitando certezas que desafiam a gravidade da lógica. 

 

Argumentar com quem renunciou à lógica é como medicar defuntos. No fim das contas, talvez o maior mistério do universo não seja se há vida lá fora, mas como o livre arbítrio continua sendo usado para negar o óbvio com tanto entusiasmo. No romance Contato, o astrofísico Carl Sagan anotou que "ausência de evidência não é evidência de ausência". Segundo o cientista, se não existir ninguém além de nós, o universo é um imenso desperdício de espaço.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


O PSDB nasceu de uma costela do PMDB e alcançou seus 15 minutos de fama graças ao sucesso do Plano Real, que ensejou a vitória de FHC sobre Lula em 1994 e 1998 (sempre no primeiro turno). Mas deitou na cama, deixou a esquerda criar asas e perdeu a presidência para o PT em 2002. O sonho de voltar ao poder em 2010 poderia ter se concretizado se o tucanos tivessem se empenhado mais, mas tucano que é tucano mija no corredor sempre que há mais de um banheiro na casa e acha que brigar entre si serve como treino para lutar contra os verdadeiros adversários. 

Depois de décadas como o maior partido de oposição aos governos corruptos de Lula e Dilma, o PSDB se tornou inútil como um casaco de peles sob o sol do Saara. Consenso entre os tucanos sempre foi raro como nota de US$ 1.000 em bolso de mendigo. Eles faziam reuniões e mais reuniões, mas nada ficava decidido. Com a derrota de Aécio Neves (2014), entraram em parafuso. Deixaram-se impregnar pelos interesses escusos do Congresso, deram as costas para a opinião pública e deixaram passar a oportunidade de resgatar a imagem de alternativa lógica para quem não suporta mais corruptos como os do PT, do PL e do Centrão. 

Em 2022, o partido amargou uma queda drástica no número de deputados federais eleitos (de 59 em 2002 para apenas 13 em 2022) e a perda de prefeituras em diversas capitais. Após 27 anos de governança no estado de São Paulo, não elegeu um sucessor em 2022 e, em 2024, perdeu todos os vereadores da Câmara Municipal da capital paulista. Hoje, enfrenta um processo de enfraquecimento e “desaparecimento” político marcado por perdas eleitorais expressivas. 

A perda da identidade política e de lideranças importantes, aliada a rupturas internas e o fim da federação com o Cidadania — que visava fortalecer ambos os partidos — foi desfeita em março de 2025, resultando em menos representação política e agravando ainda mais a crise de um partido cuja trajetória é associada à evolução da redemocratização pós-ditadura militar e à ordem constitucional imposta pela Carta Magna de 1988. Mas o ciúme e a disputa entre egos gigantescos resultaram em rachas e traições, e a busca por uma fusão — como a cogitada com o Podemos — expôs a dificuldade do tucanato em se organizar e apresentar propostas sólidas. Para piorar, o desaparecimento da sigla pode estimular uma polarização ainda mais intensa e perigosa entre a esquerda e uma extrema-direita conservadora, chegando mesmo a sinalizar o fim da “nova república”.

Sem os tucanos para fazer oposição civilizada ao PT e seus satélites, o PL e o Centrão assumiram o protagonismo — e o que já era ruim ficou pior. Os governadores de Goiás (Ronaldo Caiado), de Minas (Romeu Zema) e do Paraná (Ratinho Jr.) já se apresentam como pré-candidatos ao Planalto em 2026. Já o chefe do executivo paulista (Tarcísio de Freitas) não caga nem desocupa a moita, isto é, não sabe será candidato à Presidência ou se disputará novamente o Palácio dos Bandeirantes. 

A única postura digna com os potentados da política é a que teve Diógenes, que morava numa barrica, ao dizer a Alexandre, o Grande, quando este apeou de seu majestoso Bucéfalo: “De você não quero nada; só quero que saia da frente do Sol, pois está a me fazer sombra. Não me tire o que não pode me dar". 

 

Uma das teorias científicas mais fascinantes é a da existência de dimensões além das que conhecemos. Diversos estudos teóricos já apresentaram essa ideia para (tentar) explicar alguns mistérios da física, mas nenhum deles chegou a uma resposta definitiva. Não obstante, são justamente as perguntas mais intrigantes que impulsionam grandes descobertas, e novas descobertas vêm mudando o que sabemos sobre o universo quase como imagens a cada giro de um caleidoscópio. 
 
Segundo a Relatividade Geral — exaustivamente testada e comprovada em observações espaciais, tanto no universo macroscópico quanto no quântico —, vivemos em um Universo quadridimensional, sendo três dimensões espaciais e uma temporal. Para entender melhor como funcionariam as hipotéticas dimensões adicionais, imagine um mundo como uma folha de papel, onde os seres que habitam conseguem acessar a largura e o comprimento das coisas, mas não a altura delas. 

 

Se colocássemos uma caixa tridimensional nesse universo de papel, os seres que lá vivem a veriam como um quadrado bidimensional, e se falássemos com eles, eles ouviriam uma voz vindo do nada. Mas se um hipotético "cientista bidimensional" medisse a energia sonora nesse mundo bidimensional , ele notaria que parte da energia "sumiu" (na verdade, ela "vazou" para a terceira dimensão, à qual ele não tem acesso). 

 

No nosso Universo, o som se propaga em todas as direções. Não conseguimos ver a dimensão que existe hipoteticamente acima da nossa, medir a energia sonora nos permitiria descobrir se alguma coisa está "vazando" para uma quarta dimensão espacial. Os cientistas que fizeram essa experiência sempre encontraram a energia na mesma medida — o que significa que ela não "vaza" —, mas o fato de não haver evidências que sustentem a existência de uma dimensão espacial além das três que já conhecemos não afasta a possibilidade de existirem "micro dimensões".

 

De acordo com a Teoria das Cordas, todas as partículas (elétrons, quarks, bósons etc.) são formadas por "cordas vibrantes" menores que o núcleo atômico. O encontro de duas ou mais delas produz ondas estacionárias (mais ou menos como as notas musicais que produzimos quando dedilhamos um violão). Em 1995, durante a "segunda revolução das cordas", os físicos propuseram que cinco diferentes teorias das cordas seriam faces da Teoria de Tudo, que busca unificar todos os fenômenos físicos juntando a Relatividade Geral e a Mecânica Quântica em uma única estrutura teórica. 
 
Em linhas gerais, essa teoria sugere que cada partícula é um minúsculo laço de corda, e que o universo tem onze dimensões que podem se propagar através do espaço-tempo. Para entender isso melhor, imagine uma pilha de panquecas recobertas com mel, na qual nosso Universo é a panqueca que fica sob todas as outras. O mel que escorre não nos deixa perceber existência das demais, mas isso não significa que elas não estão lá.
 
Teoria das Cordas é a solução matemática mais elegante criada até agora para esclarecer questões nebulosas, como da gravidade quântica. Uma de suas primeiras versões pressuponha a existência de 26 dimensões, mas não explicava a matéria bariônica, apenas os bósons. Outras versões foram propostas até desaguaram na Teoria M, que apresenta conceitos como supercordas e supersimetria e reduz o número de dimensões para onze — sete além das três espaciais e uma temporal que já conhecemos.
 
Uma analogia que facilita a compreensão da Teoria das Cordas usa como exemplo... uma corda — que para nós tem apenas uma dimensão. Quando andamos sobre ela, só podemos ir para frente ou para trás, mas formiga caminhando pela mesma corda pode também andar para os lados e contornar o diâmetro — ou seja, acessar a dimensão da profundidade. Se em vez da corda imaginarmos uma mangueira de jardim, teremos o interior do tubo como uma dimensão adicional que é inacessível para nós, mas não para água com que regamos o jardim.
 
A dificuldade em comprovar a existência de outras dimensões advém do fato de elas serem tão pequenas que nem mesmo toda a energia dos aceleradores de partículas consegue encontrar. Seria possível fazer esse teste aproximando duas partículas ao comprimento de Planck (cerca de um bilionésimo de um bilionésimo de um bilionésimo de metro), mas nem mesmo o LHC, que é o maior acelerador de partículas do mundo, consegue medir forças atrativas ou repulsivas em distâncias inferiores ao diâmetro de um próton (8,33 x 10
-16 m).
 
Se fossem constatados desvios (vazamentos) no comportamento esperado da força eletromagnética nos experimentos já realizados, o LHC os teria detectado, mas os resultados foram os mesmos previstos pelo Modelo Padrão, o que dispensa dimensões extras para explicá-los. O resultado poderia ser outro se os testes fossem feitos em escalas de 10
19 m até o número de Planck, mas eles exigiriam uma quantidade de energia muito superior à dos aceleradores de partículas. 

 

Enquanto nossa tecnologia não evoluir, não há como confirmar (nem descartar) a existência das dimensões superiores. Mas isso não torna a Teoria das Cordas menos tentadora. Além de funcionar lindamente na matemática, ela explica gravidade quântica num cenário que os cientistas chamam de universo holográfico, onde a própria ação da gravidade poderia gerar as demais forças naturais

 

Tudo isso é fascinante, sobretudo para os físicos teóricos que buscam a Teoria de Tudo — que, como dito parágrafos acima, busca unificar a gravidade a mecânica quântica. Como ainda não há evidências de que outras dimensões além das que conhecemos existem, resta aos cientistas procurar respostas em hipóteses mais fáceis de testar.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

A QUINTESSÊNCIA DA PARVOÍCE

MAIS VALE ACENDER A VELA QUE AMALDIÇOAR A ESCURIDÃO. 

Einstein estava coberto de razão quando disse (se é que disse) que o Universo e a estupidez humana são infinitos. Além de estúpidas, as pessoas são eternamente insatisfeitas. Muitas reclamam pelo simples prazer de reclamar; outras, por não saberem que o ótimo é inimigo do bom, que a perfeição é um ideal e a imperfeição, a realidade; que nem sempre se alcança a excelência perseguindo a perfeição; e que "bom o bastante" já está de bom tamanho. Isso sem falar na seleta confraria dos "saudosistas". 


Ter saudade dos bons momentos que se foram — não voltam mais, a menos que as viagens no tempo se tornem realidade — é uma coisa; dizer que a vida era melhor nos tempos da ditadura é outra. Sobretudo quando quem declama essa "pérola do nonsense" nasceu depois de 1985. Em Ensaio sobre a cegueira, José Saramago — Nobel de Literatura em 1998 — anotou que o pior tipo de cegueira é a mental. Isso explica por que os eleitores brasileiros fazem a cada dois anos o que Pandora fez uma única vez. Ou por que milhares de lunáticos são favoráveis à anistia de Bolsonaro — quiçá o pior mandatário desde Tomé de Souza. Ou por que outros tantos acreditam que a autoproclamada alma viva mais honesta do Brasil foi declarada inocente — quando, na verdade, suas condenações transitadas em julgado foram anuladas a pretexto de uma suposta incompetência territorial que o ministro Fachin, relator dos processos da finada Lava-Jato no STF, já havia rejeitado uma dezena de vezes.

 

Depois do golpe de 1964 e dos subsequentes 21 anos de ditadura, os brasileiros reconquistaram o direito de votar para presidente. Em 1989, a despeito de nomes como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola e Mário Covas figurarem entre os 22 itens do cardápio, Collor e Lula foram escolhidos para disputar o segundo turno. O pseudocaçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo, mas foi impichado em 1992. Fernando Henrique derrotou Lula em 1994 e 1998, mas a vitória deste sobre José Serra em 2002 deu início a 13 anos, quatro meses e 12 dias de jugo lulopetista.

 

Em 2018, um combo de mau militar e parlamentar medíocre, travestido de patriota e empunhando a bandeira de salvador da pátria, foi eleito para evitar que o Brasil fosse presidido pelo preposto-bonifrate do então presidiário mais famoso do país. Acabou que sua péssima administração e seu viés golpista deram azo à "descondenação" do xamã petista, que retornou ao Palácio do Planalto em 2023 porque reeleger Bolsonaro seria ainda pior. Em qualquer democracia que se desse ao respeito, esse refugo da escória da humanidade teria sido deposto da Presidência. Mas faltou combinar com os chefes de turno da Câmara — Rodrigo Maia e Arthur Lira arquivaram mais de 140 pedidos de impeachment — e com o antiprocurador-geral Augusto Aras — que fez ouvidos moucos a dezenas de denúncias por crimes comuns durante a pandemia de Covid. E deu no que está dando.

 

Inconformado com a derrota nas urnas, Bolsonaro articulou um golpe de Estado para se perpetuar no poder. A intentona não prosperou por falta de adesão incondicional das Forças Armadas, mas o Estado Democrático de Direito, gravemente ferido, ainda amarga as sequelas do golpe fracassado e do funesto 8 de janeiro. O uso da tornozeleira eletrônica e as demais medidas cautelares impostas pelo STF deixaram-no a um passo de uma eventual prisão preventiva. O julgamento que decidirá seu futuro (bem como o de sete integrantes do alto comando do golpe) deve ocorrer no mês que vem, e a condenação (que pode ultrapassar 40 anos de reclusão) é tida como favas contadas.


Observação: Moraes finalmente decretou a prisão domiciliar do imbrochável, incomível, imorrível e inelegível aspirante a golpista. Como ele não poderá sair de casa nem mesmo antes das 19h, nossas ruas ficarão mais seguras. Ou nem tanto: bolsonaristas despirocados saíram em carreata por avenidas de Brasília e proveram um "buzinaço", ontem à noite, defronte à residência do "mito" no bairro Jardim Botânico (DF). Visando preparar a opinião pública para a notícia e evitar fornecer matéria-prima para vitimismo do capetão, o ministro decidiu conduzir o réu à cadeia em suaves prestações. 

Não restam dúvidas de que Bolsonaro escarneceu da Justiça e desrespeitou as medidas cautelares inicialmente impostas por Xandão. Zero um — também conhecido como "senador das rachadinhas e mansões milionárias" — assumiu a responsabilidade pela divulgação das imagens e o áudio, mesmo tendo sido alertado pelos advogados para o risco de o estratagema não funcionar. Zero dois — tido como pitbull do clã e ex-comandante do "gabinete do ódio" — teve um piripaque quando soube da prisão do pai e foi atendido em um hospital da Barra da Tijuca (zona sul carioca). Mas e daí? Eu não sou coveiro... 

O descumprimento foi de uma clareza meridiana, mas a polarização divide os brasileiros em dois grupos que apoiam seus respectivos bandidos de estimação — aquele que foi "descondenado" e aquele que está aguardando a sentença. Assim, não faltarão críticos à decisão de Moraes. 


Ainda assim, milhares de lunáticos descerebrados continuam atendendo aos chamados do pastor Silas Malafaia, do presidente do PL e do líder do partido na Câmara. No último domingo, cerca de 37 mil abilolados ocuparam duas quadras da mais paulista das avenidas para pugnar por uma inconcebível e inadmissível anistia — bem menos que os 185 mil de fevereiro de 2024, mas mais que o dobro dos que compareceram ao ato de 29 de junho deste ano na mesma avenida. E como nada é tão ruim que não passa piorar, 33 senadores são favoráveis ao impeachment de Alexandre de Moraes, 29 são contra e 19 seguem indecisos (segundo levantamento feito por sites alinhados com a direita radical). 

 

Nos 134 anos de história do STF, nunca um ministro perdeu a toga por causa de um processo de impeachment — mas para tudo há uma primeira vez. Some-se a isso as ações do filho 03 do ex-presidente e do neto do último ditador do regime militar, que resultaram no "tarifaço" decretado pelo chefe da Casa Branca contra o Brasil — não por razões econômicas, mas como retaliação pela suposta “caça às bruxas” que o STF estaria promovendo contra Bolsonaro, seus cúmplices e demais "milicianos" da direita radical.

 

As sanções impostas ao Brasil e o cerco financeiro a Moraes — passível de ser estendido a outros ministros do STF — demonstram que não se pode desdenhar da aptidão de certos seres deformados para produzir o mal, além de evidenciarem que é justo — e até “ameno” — o rigor da Corte com uma escória que foi capaz de engendrar planos de prisão e assassinatos para tentar não só contrariar a vontade popular expressa em eleição livre, mas também derrubar os preceitos de democracia reconquistada a duríssimas penas.

 

O “Brasil acima de tudo” é uma balela, como restou demonstrado na ofensiva da direita extremada liderada por Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo. Os dois foram subestimados enquanto a crítica à rigidez do STF, da PF e da PGR na condução da investigação e do julgamento dos crimes de lesa-pátria foi superdimensionada. Mas nunca é tarde para corrigir o rumo da abordagem dos acontecimentos que desembocam num fato: de um lado, há infratores; de outro, operadores da lei. Não é difícil escolher junto a qual tipo de vizinhança devemos nos postar.

 

A Justiça, ainda que cega, tem seus meios — e a política, ainda que polarizada, seus próprios métodos — para extirpar de seu seio os criminosos de alto coturno. A despeito do êxito momentâneo dos conspiradores, o efeito pode ser temporário se os brasileiros conseguirem reconhecer o risco de dar asas a cobras que, tratadas com complacência, voltarão a atacar. Resta ao eleitorado primar pelo discernimento na hora do voto, deixando Pandora e sua caixa na mitologia grega, que é o lugar ao qual elas pertencem.

sábado, 12 de julho de 2025

TRUMP, BOLSONARO E DISTINTA COMPAHIA

O PROBLEMA NÃO É O QUE DISSERAM, MAS QUEM O DISSE. 

Edmar Bacha criou o termo belíndia para definir um país onde até morador de rua paga impostos (81% sobre uma garrafa de cachaça), mas o grosso dos trilhões arrecadados anualmente é consumido pela máquina pública e o pouco que sobra, quando não escoa ralo da corrupção, não dá sequer para os serviços essenciais.

Em vez de cortar custos para reduzir o déficit público, Lula torra bilhões em projetos assistencialista-eleitoreiros. O Congresso, fisiologista, cria 18 novas cadeiras novas cadeiras na Câmara — que custarão mais R$ 748,6 milhões por ano aos cofres públicos —, como se precisássemos de mais deputados, e não de políticos probos. Mas o que esperar de um eleitorado majoritariamente ignorante, que repete a cada eleição o que Pandora fez uma única vez?

 

Em 1989, depois de 29 anos sem votar para para presidente, essa choldra levou Collor e Lula ao segundo turno, embora Ulysses Guimarães, Mario Covas e Leonel Brizola figurassem entre os mais de 20 postulantes ao Planalto. Isso explica por que desde 2002, quando FHC ficou sem novos coelhos para tirar da velha cartola, tivemos Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro e novamente Lula na presidência e prefeitos, vereadores, governadores, deputados estaduais e congressistas demagogos corporativistas, demagogos e, não raro, corruptos.

 

Em 2018, a rejeição ao lulopetismo deu azo ao bolsonarismo. Em 2022, ocorreu o inverso. E deu no que está dando. O capetão — a quem não faltaram motivos para ser impichado e condenado durante sua execrável gestão — posa de candidato, mesmo estando inelegível até 2030 e em via de ser julgado — e provavelmente condenado — por tentativa de golpe de Estado. No outro extremo do tablado político-ideológico, o desempregado que deu certo e ex-presidiário mais famoso do Brasil sonha com a reeleição, mesmo amargando a maior rejeição de toda sua trajetória política. 


Observação: Bolsonaro foi o maior responsável pela soltura de Lula, e Lula pode ser o responsável pela vitória de um candidato de extrema-direita em 2026.

Como não há nada tão ruim que não possa piorar, "Dudu Bananinha" e seus cupinchas tanto fizeram que Donald Trump — que parece pensar ter sido eleito para o cargo de Deus — sobretaxou em 50% os produtos brasileiros em retaliação ao que chamou de "caça às bruxas". Em resposta, o Sun Tzu de Garanhuns prometeu reciprocidade.

Mas não é só: em meio a essa crise diplomática, a Comissão de Relações Exteriores de Defesa Nacional da Câmara aprovou uma moção de louvor a Trump, exaltando-o como "exemplo de democracia moderna e justa", enquanto aliados do governo atribuem a saia-justa à interferência política de zero três.

O viés bolsonarista da sanção da Casa Branca deu à política nacional uma aparência de centro terapêutico onde Trump é o maníaco, Bolsonaro, o depressivo, e os ministros do STF, os terapeutas.


Trancado em seus rancores, o aspirante a golpista atrai para a psicanálise de grupo personagens como Tarcísio de Freitas, que não sabe se defende as forças produtivas de São Paulo ou se adiciona Lexotan à sua sopa.


Um político pode trair o país ou o eleitorado. Bolsonaro traiu seu país ao permitir que o filho se exilasse nos EUA para tramar contra os interesses do Brasil, e emboscou o eleitorado ao cavar a vinculação do julgamento por tentativa de golpe à chantagem tarifária de Trump. Além de se tornar ator coadjuvante de um ataque estrangeiro contra empresários e trabalhadores brasileiros, arrisca-se amargar, ele próprio, uma traição.


Se o rompimento com Musk serviu de alguma coisa, foi para mostrar que Trump — que não é leal senão a si mesmo — está acorrentado aos interesses de Bolsonaro por grilhões de barbante.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

FIM DO SUPORTE AO WINDOWS 10

A PIOR DECISÃO É A INDECISÃO.

O "ciclo de vida" dos softwares da Microsoft vai do lançamento oficial até o término do suporte, quando então o produto deixa de receber atualizações e correções. 

O Windows 10 foi lançado como serviço em julho de 2015 e terá o suporte encerrado em 14 de outubro do ano que vem. 

Embora seja possível tentar forçar a instalação do Win11 em máquinas sem TPM 2.0 ou que não atendam a outras exigências, a Microsoft recomenda comprar um computador novo, e vem criando empecilhos para a atualização em aparelhos com mais de 5 anos de estrada.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Com seu estilo rombudo de fazer política, Bolsonaro acabará transformando o bolsonarismo num aglomerado de amigos majoritariamente feito de inimigos. Silas Malafaia inaugurou uma fila de lamentações, chegando mesmo a indagar: "Que porcaria de líder é esse?" A direita nacional começa a se dar conta de que Bolsonaro já não é tão necessário. Bem orientado, Tarcísio de Freitas sabe que quem sai na chuva antes da hora candidata-se apenas a um resfriado. 
Boulos, por sua vez, prometeu para a última segunda-feira um pronunciamento com potencial para "mudar a eleição". A bomba revelou-se um traque. O apadrinhado de Lula reeditou em 2024 uma versão municipal da "Carta aos Brasileiros", que pavimentou a vitória do padrinho na sucessão presidencial de 2002. A diferença é que a "Carta ao Povo de São Paulo" foi tardia, artificial e improdutiva. 
O amadurecimento de Lula foi um processo de duas décadas. A carta de 2002 veio nas pegadas de três derrotas em eleições presidenciais. Além da guinada em relação a tudo o que dissera sobre questões econômicas, o petista aparou a barba, vestiu Armani e acomodou na vice o empresário José Alencar, e chegou ao Planalto como um ex-sapo barbudo. 
A carta de Boulos foi tardia porque chegou às manchetes a seis dias da eleição. Artificial porque o antigo líder do MTST deixou para formalizar na reta final uma moderação que deveria ter realçado desde a derrota que sofreu na eleição municipal de 2020. E improdutiva porque sua rejeição cavalar e o favoritismo estelar do adversário dão ao texto uma aparência extemporânea e um aroma oportunista. 
Mimetizando as antigas caravanas petistas, o psolista anunciou que dormirá nas casas de eleitores até o dia da eleição. Reeditou até o antigo slogan de Lula: "A esperança pode, sim, vencer o medo". O problema é que parte dos 70% de votos que rejeitaram a continuidade de Nunes no primeiro turno optam agora pela reeleição do prefeito, não por aprovar sua administração, mas por considerá-lo um mal menor. 
Nesse contexto, conversões de última hora, ainda que sinceras, tendem a ser recebidas com um mal maior.

Migrar para o Windows 11 é a solução natural, até porque continuar usando o Win10 sem receber novas atualizações e correções de falhas segurança é arriscado . Caso seu hardware não atenda aos requisitos mínimos exigidos pelo sistema, o Linux pode ser uma alternativa interessante: as distros são gratuitas, rodam em máquinas de configuração modesta e proporcionam maior segurança, personalização e estabilidade.

Linux Mint, Pop! OS e os vários "sabores" do Ubuntu são intuitivos e se tornam "palatáveis" após algumas semanas de adaptação. Os principais navegadores funcionam direitinho, e que quem não se der bem com o LibreOffice ou o OpenOffice sempre pode correr para o Google Docs ou para a versão web do Microsoft 365. Mas encontrar os drivers de hardware adequados é um calvário, e muitos programas que estamos acostumados a usar no Windows não rodam no Pinguim ou apresentam problemas de compatibilidade

Boa sorte.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A CAIXA DE PANDORA — O MITO E A REALIDADE

NÃO ESPEREIS O JUÍZO FINAL; ELE SE REALIZA TODOS OS DIAS.

 

"Abrir a Caixa de Pandora" é uma metáfora para ações que desencadeiam consequências maléficas e irreversíveis. 

Segundo a mitologia grega, Pandora ("aquela que tem todos os dons") foi criada por Hefesto e Palas Atena a mando de Zeus, que queria castigar Prometeu ("aquele que pensa antes") por roubar o fogo dos deuses e dá-lo aos homens. 

Depois de ganhar um dom de cada divindade de Olimpo, Pandora recebeu de Zeus uma caixa que jamais deveria ser aberta e a missão de seduzir Epimeteu ("aquele que pensa depois"). Encantado com a beleza da moça e ignorando as advertências do irmão, Prometeu, sobre aceitar presentes do deus dos deuses, Epimeteu tomou a moça como esposa (e eu que achava que "presente de grego" tinha a ver com a lenda do Cavalo de Troia). 
 
Quando criou a mulher, Deus também criou a curiosidade. A curiosidade levou Pandora a abrir a caixa e libertar todos os males que recaíram sobre a humanidade. Mas a esperança, que é "a última que morre", ficou presa no fundo da caixa, talvez para nos dar forças para lutar contra as adversidades, mesmo que o mal muitas vezes vença o bem.
 
Revisito essa fábula por três motivos: 1) sempre gostei de mitologia; 2) muita gente usa essa metáfora sem saber sua origem; 3) insistir no erro esperando produzir um acerto é a melhor definição de imbecilidade que eu conheço. 
 
Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Ambos foram muito criticados, mas o tempo provou que eles estavam certos: a cada dois anos, os eleitores fazem nas urnas, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez, por curiosidade. E como ensinou o Conselheiro Acácio (personagem do romance O Primo Basílio), as consequências vêm sempre depois. 
 
A ditadura militar implantada pelo golpe de 1964 durou 21 longos anos. A reabertura, lenta e turbulenta, não se deveu ao "espírito democrático" dos presidentes-generais Geisel e Figueiredo, mas ao ronco das ruas e à pressão da imprensa, que se intensificaram em 1984, depois que uma manobra de bastidor sepultou a emenda Dante de Oliveira

Em janeiro de 1985 Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf por 480x180 votos de um colégio eleitoral formado por 686 deputados, senadores e delegados estaduais. A exemplo da Viúva Porcina (aquela que foi sem nunca ter sido), a raposa mineira entrou para a história como nosso primeiro presidente civil desde João "Jango" Goulart, mas quis o destino que baixasse ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois.

Tancredo levou para a sepultura a esperança de milhões de brasileiros e deixou de herança um neto que envergonharia o país e um combo de puxa-saco dos militares, oligarca da politica de cabresto nordestina, escritor, poeta e acadêmico que se chamava José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mas era conhecido como José Sarney

Sem o carisma e o traquejo administrativo do finado, Sarney tentou descascar o formidável abacaxi econômico (inflação, dívida externa e desemprego nas alturas) através de uma série de pacotes de medidas econômicas baseadas no congelamento de preços e salários. Ao final de sua aziaga gestão, a inflação estava em 4.853% ao ano, mas os prefeitos haviam voltado a ser eleitos diretamente, a Constituição Cidadã fora promulgada (aumentando de 4 para 5 a duração de seu mandato) e a primeira eleição presidencial direta desde 1960, realizada.   
 
Em 15 de novembro de 1989, o cardápio de postulantes ao Planalto oferecia 22 opões, incluindo Ulysses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. E o que fez esclarecido eleitorado ao quebrar o jejum de urna de 29 de urna? Escalou Lula e Fernando Collor para disputar o 2º turno. O caçador de marajás de mentirinha venceu o desempregado que deu certo, mas o envolvimento no esquema PC lhe rendeu um impeachment.
 
Observação: Em maio do ano passado, o STF condenou Collor a 8 anos e 10 meses de reclusão, mas ele continua livre, leve e solto graças a um pedido de vista apresentado pelo ministro Dias Toffoli na véspera do último carnaval. Em contrapartida, qualquer "reles mortal" que acessar o Xwitter durante a suspensão ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes corre o risco de ser multado em R$ 50 mil. Dá para acreditar numa coisa dessas?
 
Com a deposição do Rei-Sol, o baianeiro e namorador Itamar Franco foi promovido a titular, nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda e editou o Plano Real, cujo sucesso pavimentou o caminho que levou o grão-duque tucano a vencer o pleito presidencial de 1994 no 1º turno. Em 1997, picado pela mosca azul, sua alteza comprou a PEC da reeleição

Como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, o tucano de plumas vistosas disputou a reeleição em 1998 e foi eleito no 1º turno, mas em 2002, sem novos truques para tirar da velha cartola, não conseguiu eleger seu sucessor.
 
Após três derrotas consecutivas, Lula venceu José Serra e deu início aos 13 anos, 4 meses de 12 dias de lulopetismo corrupto que só foi interrompidos em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, a inolvidável gerentona de araque

Num primeiro momento, a troca de comando pareceu uma lufada de ar fresco numa catacumba: depois de mais de uma década ouvindo garranchos verbais de um ex-retirante semianalfabeto e frases desconexas de uma mandatária incapaz de juntar lé com cré numa frase que fizesse sentido, ter um presidente que sabia falar – e que até usava mesóclises – era um refrigério.
 
Temer conseguiu reduzir a inflação (que havia retornado firme e forte sob Dilma) e aprovar o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu prometido "ministério de notáveis" se revelou uma notável agremiação de corruptos e sua "ponte para o futuro", uma patética pinguela. 

A conversa de alcova gravada à sorrelfa por Joesley Batista só não derrubou o vampiro do Jaburu porque sua tropa de choque – capitaneada pelo deputado Carlos Marun – comprou votos das marafonas da Câmara para escudá-lo das "flechadas de Janot". Apesar do desgaste, o nosferatu claudicou como "pato manco" até o final do mandato-tampão e transferiu a faixa para Jair Bolsonaro. 
 
Sem a proteção do manto presidencial, o vampiro que tinha medo de fantasma chegou a ser preso, mas foi socorrido pelo desembargador Ivan Athié, então presidente da 1ª Turma do TRF-2, que havia sido afastado do cargo durante 7 anos por suspeitas de corrupção e venda de sentenças, mas fora reintegrado em 2011, quando o STF trancou o processo contra ele. E viva a Justiça brasileira!
 
Ao acompanhar o golpe de Estado que levou Napoleão III ao poder, Karl Marx concluiu que a história acontece como tragédia e se repete como farsa. O Barão de Itararé dizia que político brazuca é um sujeito que vive às claras, aproveita as gemas não despreza as cascas, e o saudoso maestro Tom Jobim (que era brasileiro até no nome), ensinou que o Brasil não é para principiantes. E com efeito. 
 
Em 2018, nenhum dos 13 postulantes ao Planalto empolgava, mas por que se arriscar a acertar com Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles ou João Amoedo quando se podia pode errar com certeza escalando para o embate final um mau militar e parlamentar medíocre travestido de "outsider antissistema" e um patético bonifrate do então ex-presidiário mais famoso do Brasil?

Em 2022, as opções era ainda menos atraentes — sobretudo depois que o "establishment" fulminou a quimérica "terceira via". Mas, de novo: por que correr o risco de acertar votando em Simone Tebet, em Felipe D'ávilaou mesmo em Ciro Gomes (situações desesperadoras justificam medidas desesperadas) quando se podia errar com certeza despachando Lula e Bolsonaro para o 2º turno?
 
Tanto num caso como no outro a maldita polarização fez com que tanto a merda quanto as moscas permanecessem as mesmas. A diferença é que, em 2018, a parcela minimamente pensante do eleitorado se viu obrigada a apoiar o ex-capitão para evitar que o país fosse presidido pelo fantoche do presidiário, e em 2022, precisou embarcar na falaciosa "Frente Democrática", capitaneada pelo então ex-presidiário "descondenado", para evitar mais 4 anos (ou sabe-se lá quantos) sob a batuta do refugo da escoria da humanidade.
 
Há males que tempo cura, males que vêm para pior e males que pioram com o passar do tempo. Lula 3.0 é uma reedição piorada das versões 1 e 2, e como como nada é tão ruim que não possa piorar, o macróbio petista cogita disputar a reeleição em 2026 (que os deuses nos livrem tanto dessa desgraça quanto da volta do capetão-golpista).
 
As consequências da inconsequência do eleitorado tupiniquim são lamentados todos os dias, inclusive por quem abriu a Caixa de Pandora achando que estava escolhendo o menor de dois males - o que se justifica quando e se não há outra opção. E tanto em 2018 quanto em 2022 havia alternativas; só não viu quem não quis ou não conseguiu porque sofre do pior tipo de cegueira que existe. 
 
Observação: Um levantamento feito pelo portal g1 apurou que 61 pessoas com mandados de prisão em aberto (leia-se fugitivos da polícia) se candidataram a prefeito ou a vereador nas eleições deste ano. A maioria dos casos envolve dívida de pensão alimentícia, mas há suspeitos de estelionato, roubo, homicídio e estupro. 
 
Reza uma velha (e filosófica anedota) que Deus estava distribuindo benesses e catástrofes naturais pelo mundo que acabara de criar, quando um anjo apontou para o que seria futuramente o Brasil e perguntou: "Senhor, por que destinastes a essa porção de terra clima ameno, praias e florestas deslumbrantes, grandes rios e belos lagos, mas não desertos, geleiras, vulcões, furações ou terremotos?" E Deus respondeu: "Espera para ver o povinho filho da puta que vou colocar aí."
 
Políticos incompetente e/ou corruptos que ocupam cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se eles estão lá, é porque foram eleitos por ignorantes polarizados, que brigam entre si enquanto a alcateia de chacais se banqueteia e ri da cara deles. 
 
Einstein achava que o Universo e a estupidez humana eram infinitos, mas salientou que, quanto ao Universo, ele ainda não tinha 100% de certeza. Alguns aspectos de suas famosas teorias não sobreviveram à passagem do tempo, mas sua percepção da infinitude da estupidez humana merece ser bordada com fios de ouro nas asas de uma borboleta. 
 
Não há provas de que boas ações produzam bons resultados – a "lei do retorno" é mera cantilena para dormitar bovinos – mas sabe-se que más escolhas costumam gerar péssimas consequências, como prova e comprova a história desta republiqueta de bananas: nossa independência  foi comprada, a Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de muitos), o voto é um "direito obrigatório", nossa democracia é uma piada e o sistema político está falido. 
 
Desde 1889, 35 brasileiros alcançaram a Presidência pelo voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado (o número depende de como alguns casos específicos, como presidências muito breves ou interinas, mas isso não vem ao caso neste momento). Oito integrantes dessa seleta confraria – começando pelo primeiro, Deodoro do Fonseca – deixaram o cargo prematuramente, e dos cinco que foram eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois acabaram impichados. 

Dos mais de 30 partidos políticos que mamam nas tetas dos fundos eleitoral e partidário (ou seja, são bancados pelo suado dinheiro dos "contribuintes"), nenhum representa os interesses da população, e alguns são verdadeiras organizações criminosas. 

O Brasil de hoje lembra aquelas fotos antigas de reis africanos, que imitavam os trajes e trejeitos dos governantes de nações mais evoluídas e recebiam aulas de civilização dos oficiais do Império Britânico, mas achavam que para se transformar em soberanos civilizados bastava copiar as vestes e adereços daqueles que lhes falavam das maravilhas da Rainha Vitória ou de Napoleão III. 

O resultado se vê nas fotografias. As mais clássicas mostram negros magros, ou gordíssimos, com uma cartola de segunda-mão na cabeça, calças rasgadas ou remendadas, pés descalços ou calçados com uma bota só, velha e sem graxa. Imaginavam-se nobres, esses coitados, iguais a seus pares europeus, mas, junto com as novas roupas e os acessórios, continuavam usando colares feitos de ossos, pulseiras de metal e argolas na orelha ou no nariz, enquanto eram roubados até o último papagaio pelos que supostamente vieram ensiná-los a ter valores cristãos, avançados e democráticos.
 
O Brasil aparece na foto como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. Nossas eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, do voto obrigatório ao anacrônico horário eleitoral "gratuito", passando por deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm meia dúzia de eleitores. 

O resultado é um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. Acordos políticos são urdidos na surdina por parlamentares que votam com base em seus interesses pessoais. Milícias e fações criminosas têm representantes no Congresso, nas Assembleias Legislativas estaduais e nas Câmaras Municipais. Candidatos só entram em algumas regiões se tiverem proteção dos criminosos, e os moradores são "convidados" a votar na "turma da casa".
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças com reis africanos. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. O Congresso não representa o povo que o elegeu para tal, e há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Com quase 50 mil assassinatos por ano, o Brasil é um dos países onde a vida humana tem menos valor. 
 
Se nossas instituições funcionassem – e suas excelências não se cansam de dizer que elas funcionam –, a Câmara teria aberto pelo menos um dos quase 150 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, e o Centrão não teria transformado a ocupação do Orçamento num processo de bolsonarização das instituições. Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse? 
 
Quando nossos nobres parlamentares perderam a credibilidade e o mais alto cargo do funcionalismo público federal passou a ser ocupado por uma sequência de mandatários que, noves fora Fernando Henrique — já foram presos ou respondem a processos criminais, o Judiciário se tornou nosso último bastião. Mas faz tempo que as opiniões e os vieses político-partidários dos eminentes togados (que deveriam ser isentos, imparciais e apartidários) se tornaram públicos e notórios.
 
O Supremo poderia nos ter livrado do aspirante a golpista em diversas oportunidades (motivos para tal não faltaram), mas as excelências que tudo decidem – do destino dos presidentes ao furto de codornas — acharam melhor dar tempo ao tempo, apostando na sapiência inigualável dos eleitores. 

É fato que Alexandre de Moraes impediu a consumação do golpe, mas também é fato que ele já deveria ter tirado de circulação o "mito" dos extremistas de direita, que mesmo inelegível até 2030 faz pose de cabo eleitoral de luxo e articula com seus comparsas no Congresso uma improvável (mas não impossível) anistia a si e aos golpistas do 8 de janeiro. 
 
Como o chanceler Charles De Gaulle não disse, mas a frase lhe é atribuída, "le Brésil n’est pas un pays serieux". 
 
Continua...