quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

NOTEBOOKS — VIDA ÚTIL E OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA

A MEMÓRIA DOS CREDORES COSTUMA SER MELHOR QUE A DOS DEVEDORES.

Combinado com um monitor externo de dimensões generosas e um combo de teclado e mouse wireless, um laptop (ou notebook, como queiram) de configuração razoável pouco (ou nada) fica devendo a um desktop mediano, e, de quebra, "volta a ser portátil" sempre que o usuário quiser.

Por outro lado, computadores portáteis custam mais caro que os de mesa, sua manutenção é mais onerosa e seu upgrade, bem mais limitado. Isso sem falar que o uso em trânsito os expõe a tombos, impactos e, por que não dizer, à cobiça dos amigos do alheio.

Um computador de boa estirpe, de mesa ou portátil, irá prestar bons serviços por quatro ou cinco anos. Isso porque, mesmo que continue funcionando direitinho depois desse prazo, os fabricantes têm por norma estimular as “compras repetitivas”, o que fazem lançando novas versões em intervalos de tempo cada vez menores, e valendo-se de campanhas de marketing para disseminar a ideia de que as "inovações" justificam o investimento na aquisição de um modelo supostamente “superior”.

Para garantir que seu público-alvo seja alcançado, a indústria criou o conceito de “obsolescência programada”, que consiste em abreviar a “vida útil” dos assim chamados “bens duráveis”, antecipando a troca de algo que não precisa ser trocado por um modelo novo que provavelmente irá durar bem menos. Mas não é só.

Novas exigências dos sistemas operacionais e aplicativos podem tornar obsoletos os modelos mais antigos. Basta lembrar que, ao anunciar o Windows 11, a Microsoft incluiu na lista de requisitos mínimos o famigerado TPM 2.0 (processador de criptografia destinado a robustecer a segurança durante a inicialização do sistema; para mais detalhes sobre o recurso e como fazer para ativá-lo, acesse esta postagem) e CPUs de oitava geração ou superior. Claro que não demoraram a surgir maneiras "não oficiais" de fazer o upgrade em máquinas que não contam com esses recursos (para mais detalhes, assista a este vídeo), mas essa é uma outra conversa.

Interessa dizer que seu note irá lhe prestar bons serviços por mais tempo se você não o tratar ao coices, embora isso não significa que você não será forçado a substituí-lo, mais cedo ou mais tarde, por um computador novo.

A estimativa de vida útil de um produto pode ser abreviada por mau uso ou falta de manutenção. No caso específico do note, é importante desligar o aparelho (ou colocar o sistema em hibernação) na hora de transportá-lo — e usar uma maleta almofadada ou uma mochila apropriada. Ainda que drives de memória sólida (SSD) sejam "menos frágeis" que discos rígidos eletromecânicos, há outros componentes internos que podem ser danificados por vibração excessiva, solavancos bruscos e outros "acidentes de percurso".

Embora "laptop" signifique "sobre o colo", usar o aparelho apoiado nas coxas por longos períodos não é uma boa ideia — além de ser desconfortável, pois o calor gerado durante o funcionamento é transferido para as pernas do usuário. Colocar o portátil em cima de travesseiros, almofadas, colchas ou algo do gênero pode prejudicar a circulação do ar no interior do gabinete — pelo mesmo motivo, mantenha as ranhuras de ventilação desobstruídas e procure ajuda especializada se o microventilador do cooler emitir ruídos estranhos. E, por motivos óbvios, evite comer e/ou beber enquanto usa o portátil.

O Windows não oferece um utilitário nativo para monitoramento da temperatura do hardware, mas existem diversos aplicativos (como o Core Temp e o HWMonitor) que suprem essa lacuna. Por outro lado, melhor do que desligar o aparelho antes que ele superaqueça é evitar que ele superaqueça. No caso específico dos portáteis, suportes com ventiladores acoplados não custam caro e produzem bons resultados.

O preço do computador depende diretamente da configuração de hardware, e isso vale tanto para desktops quanto para laptops. Modelos de entrada de linha são mais acessíveis, mas deixam a desejar na hora de rodar apps mais "exigentes" (como editores de vídeo, games e outros que tais). Quando for comprar um PC, seja de mesa ou portátil, prefira um modelo que integre ao menos 8GB de RAM, HDD/SSD com 1TB de espaço e CPU/GPU de responsa.

O Windows multitarefa, mas você não é. A navegação por abas, facilita um bocado a vida do internauta, mas deve ser usada com parcimônia. Até porque os navegadores são ávidos consumidores de memória RAM, e cada aba aberta aumenta o consumo (quase tanto novas instâncias do aplicativo). Portanto, seja seletivo ao usar as abas e mantenha abertas somente aqueles que são necessárias naquele momento.

Para não precisar anotar o endereço da página que você tenciona revisitar mais adiante, adicione-a aos favoritos ou fixe-a na Barra de Tarefas ou no menu Iniciar do Windows (para acessar essas opções, abra a tela de configurações do Edge e na setinha à direita de Mais Ferramentas).

Note que você pode configurar o navegador para "adormecer" as abas que ficarem inativas por um determinado período, de modo a reduzir o consumo de memória é ciclos do processador. Para tanto, clique em Configurações (na página de configurações do navegador), depois em O sistema e o desempenho (na coluna à esquerda da página) e habilite as opções Salvar recursos com guias inativas e Esmaecer guias inativas (oriente-se pela figura 1). Feito isso, em Colocar as guias inativas em suspensão após o período de tempo especificado, escolha a opção desejada — recomendo 5 minutos, mas você pode escolher entre 30 segundos e 12 horas.

No Google Chrome, é possível fazer mais ou menos a mesma coisa, mas desde que você adicione o plugin (extensão) Great Suspender. Ele monitora as abas abertas em tempo real e coloca em animação suspensa as que estão inativas. Concluída a instalação, reinicie o navegador, clique no ícone que será exibido na porção à direita da barra de endereços e, no menu suspenso, clique em Configurações, ajuste o tempo de inatividade da página e torne a reiniciar o navegador. O intervalo padrão é de uma hora, mas você pode alterar para qualquer outro entre 20 segundos e 3 dias (também nesse caso eu sugiro 5 minutos).

Se seu PC dispõe de pouca RAM (muitos modelos de entrada de linha trazem míseros 4GB), mantenha em execução somente os aplicativos necessários — com exceção das ferramentas de segurança (como antivírus, firewall, antispyware e que tais), os demais programas não têm motivo para estar na lista da inicialização automática, mas ninguém explicou isso aos desenvolvedores.

Programa enxeridos, como o Skype, o Teams e OneDrive, entre outros, não só retardam a inicialização do sistema como degradam o desempenho global do computador. Mesmo rodando nos bastidores, eles disputam ciclos de processamento e espaço RAM com os programas que a gente está realmente utilizando. 

Alguns aplicativos permitem rever essa configuração durante a processo de instalação (na maioria dos casos, basta desmarcar uma caixinha de verificação), mas a gente nem sempre atenta para esse detalhe. O Windows permite desativar a inicialização automática de aplicativos instalados (basta clicar em Iniciar > Configurações > Aplicativos > Inicialização, como se vê na figura 2), mas não nos permite evitar que novos aplicativos se aboletem no seu banco do carona. Felizmente, o Advanced System Care, da IOBit, supre essa lacuna.

Mantenha seu computador limpo, tanto interna como externamente, mas assegure-se de que os produtos que você for usar na carcaça, tela e teclado sejam adequados. E só faça a faxina com o aparelho desligado. Já a limpeza interna é um procedimento simples e que pode ser feita por qualquer usuário, mas isso nos desktops. Nos portáteis, só deve se arriscar a desmontar o aparelho quem tiver alguma familiaridade com hardware. E sendo o seu caso, você não precisa das minhas dicas; se não for, recorra a um computer guy de confiança.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

DO LIMÃO À LIMONADA


A estratégia é antiga, mas funciona. Bolsonaro a explorou com maestria em 2018, quando, num ato de campanha em Juiz de Fora, a um mês do primeiro turno das eleições, foi esfaqueado na barriga por um lunático que, mais adiante, a Justiça reputou inimputável.

Mesmo depois de ter sido liberado pelos médicos para participar dos debates, o então candidato do PSL se fechou em copas. Uma sábia decisão. Entre outros fatores que concorreram para sua vitória no segundo turno, não ter sido feito picadinho pela oratória de Ciro Gomes foi fundamental.

A história se repetiu em julho do ano passado, quando uma crise de soluços levou o presidente de volta ao Hospital Vila Nova Star (não havia vagas no SUS de Brasília), onde foi diagnosticado com uma obstrução intestinal (sequela da tal facada).

Aventou-se na época a necessidade de uma nova cirurgia, mas acabou que "o paciente respondeu bem ao tratamento convencional" (nada como um bom purgante, sobretudo para quem “por onde passa, vai lançando fezes”, como bem pontuou o senador Omar Aziz, então presidente da CPI do Genocídio, a quem o capetão qualificou de “cara de capivara”).

Dias antes de ser internado, Bolsonaro levou um puxão de orelha do ministro Luiz Fux por acusar o TSE de fraude nas eleições. Antes mesmo de receber alta, voltou a atacar o ministro Luís Roberto Barroso, chamando-o de "imbecil" e "idiota". Quando nada, a breve passagem pelo hospital livrou o pajé da cloroquina da reunião com os presidentes do STF e do Congresso.

Mais uma vez, a história se repete. Cônscio de que sua força política e suas chances de se reeleger aumentam quando é internado, Bolsonaro voltou das férias em Santa Catarina para sua posição preferida, qual seja a de vítima de sequelas da fatídica facada. 

Internado no Hospital Vila Nova Star, sob os cuidados de um dos cirurgiões mais bem pagos do Brasil — que interrompeu suas férias nas Bahamas para acudir seu paciente VIP —, o mandatário faz do limão a limonada que lhe permite sumir do mapa durante alguns dias, depois dar de ombros para as vítimas das enchentes na Bahia e de exercitar seu negacionismo escrachado posicionando-se contra a vacinação de crianças.

Mais uma vez, a história se repete. Um boletim médico divulgado na manhã de ontem informou que "o quadro de suboclusão intestinal se desfez, não havendo indicação cirúrgica", e que a situação do chefe do Executivo "segue satisfatória", embora ainda não houvesse previsão de alta.

AtualizaçãoBolsonaro divulgou nas redes sociais uma imagem informando que recebeu alta hospitalar na manhã desta quarta-feira (5).

Não se nega que a saúde de Bolsonaro inspira cuidados. Desde a facada em setembro de 2018, ele foi submetido a quatro operações (a última delas aconteceu em setembro de 2019). Mas é evidente que, neste momento, lhe é mais que oportuno “sair de cena” até os brasileiros esquecerem (e vão esquecer, mesmo aqueles que foram mais duramente castigados pelas chuvas na Bahia) o amontoado de asnices que seu indômito líder protagonizou nas últimas semanas.

Parece até que tudo foi programado. Num movimento escapista, Bolsonaro baixa ao hospital para esperar a poeira baixar e depois voltar com tudo, de maneira heroica, sobrevivendo a um “risco fatal” e animando a escumalha que o tem na condição de “mito”. Não fossem os benefícios políticos conquistados com o atentado — que voltam à lume com a nova internação —, a trajetória do dublê de mau militar e parlamentar medíocre teria sido muito diferente. 

Fora dos debates, escondido dos adversários e, principalmente, fazendo papel de vítima, Bolsonaro conseguiu votos que jamais conquistaria se estivesse saudável. “Doente”, ele é um lobo em pele de cordeiro, por mais que pairem dúvidas sobre sua condição real. Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?

Não será surpresa se o capetão recorrer mais vezes à velha e batida fórmula eleitoral-intestinal que o levou à vitória em 2018. É possível que, nos próximos meses, ele passe mais tempo hospitalizado do cumprindo suas funções presidenciais (que, de resto, jamais se preocupou em cumprir). Quanto mais próximas as eleições, maiores as complicações e mais frequentes as internações e consequentes remissões à facada de 2018.

Tampouco causa espécie a “doença” do presidente ser a única que importa ao presidente, como evidencia seu descaso com o sofrimento das famílias dos quase 620 mil conterrâneos mortos pela Covid e as vítimas das recentes enchentes na Bahia. 

Como se vê, não foi só para a CPI que sua alteza cagou. E como também se vê, tudo gira em torno do seu umbigo, ou melhor, de seu intestino, que será o centro das atenções neste ano de eleições.

Bolsonaro não tem alma, mas que que rezemos por ela. Vive implorando piedade. Noves fora a récua de muares que não enxergam um palmo adiante do focinho, poucos brasileiros se dignarão de ter pena de alguém que despreza a vida humana e debocha da desgraça dos compatriotas. E muitos eleitores hão de se lembrar disso.

O GBOARD E A ACENTUAÇÃO DE PALAVRAS

EU GOSTO DE TER O QUE FAZER, MAS NÃO GOSTO TER QUE FAZER O QUE NÃO QUERO FAZER — COMO SE VÊ, HÁ CASOS EM QUE A ORDEM DOS TRATORES ALTERA O VIADUTO.

Muita coisa que se dizia antes da virada do século seria considerada politicamente incorreta nos dias atuais. De um tempo a esta parte, o preconceito invertido (caso dos pretos em relação aos brancos e dos LGBTQIA+ em relação aos héteros) se tornou a bola da vez, com direito, inclusive, a uma estapafúrdia linguagem neutra que, segundo desocupados que desperdiçam nosso tempo com essas bobagens, visa "romper os grilhões do binarismo imposto pelos gêneros tradicionalmente aceitos pela sociedade (masculino e feminino), buscando uma comunicação mais inclusiva, respeitosa e abrangente. Como diria o Cabo Daciolo (em quem essa escumalha provavelmente votará em 2022), Glória a Deus!

Não nego que o mundo mudou sobremaneira nos últimos séculos, nem que a maneira como nos comportamos acompanhou essa "evolução. Para a geração X — da qual faz parte este humilde escriba, parece estranho o desinteresse das gerações posteriores pelo automóvel, por exemplo. 

Eu aprendi a dirigir aos 14 anos e já perdi a conta de quantos carros tive desde os 18. Por outro lado, sofri um bocado quando comprei meu primeiro VCR e resolvi programá-lo para gravar um programa enquanto via um filme em outro canal, coisa que qualquer garoto em idade pré-escolar tiraria de letra. O tempora! O mores!

As crianças de hoje em dia saem da maternidade com um smartphone pendurado no pescoço, ao passo que as da minha época traziam uma prosaica chupeta. Aos 6 anos de idade, esses pequenos "prodígios" usam o tecladinho virtual do celular com a mesma desenvoltura que eu tinha aos 15 anos no volante de um carro. Por outro lado, escrever uma prosaica mensagem de texto usando o smartphone é uma provação para mim. Como se vê, nada é perfeito.

Falando nisso, você sabe acentuar palavras quando o Gboard não oferece essa opção na lista de sugestões, durante a digitação? A mim me desagrada ter de recorrer a alternativas menos adequadas, digamos assim, para contornar esse problema ao enviar emails, mensagens de WhatsApp ou postar/comentar conteúdos nas redes sociais a partir do celular. Mas a solução não poderia ser mais simples: para escrever "àquele", p. ex., é só manter o dedo pousado sobre a letra "a" para que surjam diversas opções (á, à, ã, â, etc.), e então tocar naquela que se aplica ao caso.

Já se você tem dúvidas sobre o uso correto da crase, basta pesquisar na Web para encontrar uma porção de dicas sobre esse assunto.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

CONSULTA PÚBLICA PRA QUÊ? CONTINUAÇÃO


O número de testes de Covid positivos em farmácias, que vinha despencado nos últimos meses, saltou de 500 para 5.000 no fim do ano. Na última semana de 2020, as internações no estado de São Paulo também voltaram a subir. No sábado, 1º, o Brasil registrou 619.139 mortes e quase 78% da população imunizada com ao menos uma dose de vacina. A boa notícia, digamos assim, é que a variante ômicron (B.1.1.529), comparada com as versões anteriores do coronavírus, causa sintomas mais leves, inclusive no que concerne a cicatrizes nos pulmões e dificuldades respiratórias severas, confirmando o resultado dos estudos iniciais, que já apontavam nessa direção, mas eram recebidos com muitas ressalvas.

A título de curiosidade, “ômicron” é nome da décima letra do alfabeto grego, que corresponde à letra “o” do nosso. Por se tratar de palavra proparoxítona, a antepenúltima sílaba é a tônica, ou seja, a mais forte. Na língua portuguesa, todas as palavras proparoxítonas são acentuadas. No caso do termo “ômicron”, utiliza-se o acento circunflexo no português do Brasil e o agudo no de Portugal. De acordo com o Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, o substantivo “ômicron” é masculino; no caso do vírus da Covid, como o substantivo feminino “variante” fica subentendido, é aceitável usar “a ômicron”.

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Bolsonaro desembarcou em São Paulo na madrugada da última segunda-feira e foi diretamente para o Hospital Vila Nova Star. O médico Antônio Luiz Macedo, que voltou de suas férias nas Bahamas para acompanhar o caso, disse suspeitar de uma nova obstrução intestinal complicada pelo histórico das cirurgias a que o presidente foi submetido desde setembro de 2018. Em seu perfil no Twitter, o pajé da cloroquina aventou a possibilidade de uma nova cirurgia de obstrução interna na região abdominal. Da última vez que ele ficou internado, em julho de 2021, os médicos chegaram a cogitar de uma intervenção cirúrgica, que foi descartada depois que o intestino do paciente voltou a funcionar. Uma semana antes, o mandatário dissera que estava cagando para a CPI do Genocídio.

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Bolsonaro pode parecer um tolo e falar como um tolo, até porque ele é realmente um tolo, anotou Josias de Souza em sua coluna no final de dezembro, dias antes de sair em férias. 

Em sua penúltima tolice, o sultão do bananistão decidiu implicar com a vacinação das crianças. Queiroga deu asas à asneira do chefe, metendo-se numa operação de grande valor científico. Se tudo correr como planejado, vão à vitrine duas conclusões: 1) A tolice do capetão é mais contagiosa do que a ômicron; 2) A diferença entre a sensatez e a estupidez é que a sensatez tem limites.

A consulta pública marcada pelo ministro da Saúde a mando do chefe foi de uma inutilidade a serviço do desperdício de tempo. A Anvisa já atestou a qualidade, a segurança e a eficiência da vacina infantil da Pfizer, tanto que concedeu registro definitivo para o fármaco. Segundo eles, essa etapa é inédita no processo e que vai atrasar ainda mais a imunização infantil. 

A Câmara Técnica criada por Queiroga — versão de jaleco do general Pesadelo — para assessorá-lo aprovou a vacinação por unanimidade. Estudo da Fiocruz, fundação vinculada ao Ministério da Saúde, concluiu que a aplicação de vacina nas crianças é necessária e precisa começar o quanto antes. Seis das mais relevantes entidades médicas e científicas do país também se declararam a favor da imunização dos pequenos, sem falar que a mesma vacina está sendo aplicada em crianças de mais de uma dezena de países. Só nos Estados Unidos foram mais de 7 milhões de doses.

Com todo esse respaldo científico e factual, a consulta que o ministro-vassalo realiza por pressão do presidente-suserano tem a aparência de mais uma embromação letal. Mal comparando, é como se o sujeito estivesse no centro de um incêndio e, em vez de chamar os bombeiros, abrisse uma consulta popular para debater normas de prevenção do fogo.

No caso da vacinação das crianças, o eminente doutor quer contrapor a opinião da tia do Zap aos estudos técnicos e científicos. Os pais, donos da palavra final nessa matéria, talvez preferissem ser orientados, não consultados. A maioria quer saber quando a vacina será comprada e o dia em que poderá levar os filhos ao posto de saúde.

Se os resíduos psíquicos de Bolsonaro fossem concretos, não haveria esgoto que bastasse. A característica fundamental da dificuldade de julgamento do presidente é ter que ouvi-lo durante três anos para chegar à conclusão de que ele não tem nada a dizer sobre coisa nenhuma.

Para desassossego dos 94% de brasileiros que manifestaram ao Datafolha seu apreço pelas vacinas, o cardiologista colocou sua formação médica à disposição da insanidade. Deve estar torcendo para que a turma do Zap prevaleça sobre a Anvisa, a Câmara Técnica do ministério, as entidades médicas e científicas do país, a comunidade internacional e o bom senso.

ObservaçãoApós reunião entre os secretários estaduais de Saúde na manhã do dia 24/12, o Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass) divulgou uma "Carta de Natal às crianças do Brasil". No texto, o grupo confirma que nenhum Estado exigirá prescrição médica para a vacinação de crianças contra a Covid.

COMO USAR O NOTEBOOK COM A TAMPA FECHADA

CASAMENTO FELIZ SÓ PODE EXISTIR SE O MARIDO FOR SURDO E A MULHER, CEGA.

Ligado à tomada e plugado a um monitor de vídeo de muitas polegadas e a um combo de teclado e mouse wireless, um notebook de configuração razoável substitui com vantagem o desktop, e basta desconectar os periféricos para o computador "voltar a ser portátil". 

Por outro lado, nem os note aposentaram os desktops, nem os smartphones condenaram os portáteis ao ostracismo, a despeito de haver muito mais mercado, atualmente, para ultraportáteis do que para microcomputadores convencionais. 

Se você prefere um notebook a um all-in-one (ou a um desktop "das antigas", por que não?) e o utiliza para exibir o conteúdo na tela de um monitor convencional (seja em momentos de lazer, quando está transmitindo um vídeo, seja no trabalho, durante palestras e afins), é possível mantê-lo funcionando com a tampa fechada.

No Windows 10, abra o menu Iniciar, clique em Configurações > Sistema, selecione Energia e suspensão e clique no link Configurações de energia adicionais. Na barra lateral da janela das Opções de Energia, clique em Escolher a função do fechamento da tampa; na nova janela, em Quando eu fechar a tampa, configure as opções "Na bateria" e "Conectado" para Nada a fazer (em ambas as caixas de seleção) e clique em Salvar alterações.  

Simples assim.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

CONSULTA PÚBLICA PRA QUÊ?


O Brasil está prestes a contabilizar 620 mil mortes por Covid, parte das quais teve a ver com a péssima atuação de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia — um mandatário negacionista, despreparado, que enjeita o epíteto de "genocida" e se empenha em acrescentar o "infanticídio" à extensa lista de crimes que lhe foram atribuídas pela CPI para a qual afirma “estar cagando”. 

Apoiadores dessa tragédia em forma de governante ainda criticam o ex-ministro Mandetta por ter orientado a população a buscar auxílio quando e se enfrentasse problemas respiratórios, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, apoiam a sandice de Queiroga de promover uma “consulta pública” sobre a imunização de crianças de 5 a 11 anos, a despeito de a Anvisa ter aprovado a vacina da Pfizer para essa faixa etária

Mandetta ecoou a recomendação da OMS quando quase nada se sabia do "novo coronavírus", e a medida visava evitar o colapso do sistema de Saúde. Passados 20 meses da primeira morte no Brasil, sabe-se que uma criança morreu de Covid a cada três dias do início da pandemia até o final de dezembro.

Marcelo Queiroga, que não passa de uma patética versão de jaleco do General Pesadelo, prefere manchar seu currículo a perder o cargo e o apoio de Bolsonaro nas próximas eleições (ele pretende disputar uma cadeira de senador pelo estado da Paraíba). Para ganhar pontos com o mandatário-suserano, o cardiologista asseverou, no último dia 18, que "o novo prazo permite que as autoridades analisem a decisão da Anvisa em todas as suas nuances". Mas não detalhou o que ainda precisaria ser analisado para além dos resultados da tal "consulta pública" e da "audiência pública" a ser realizada amanhã. 

Todas as evidências científicas disponíveis até o momento indicam que os benefícios de vacinar o público infantil superam, de longe, os potenciais riscos, de modo que essa a exigência de Queiroga serve apenas para atrasar ainda mais a imunização infantil e demonstrar sua obediência canina a um presidente mentalmente avariado, que sempre foi contrário às vacinas e agora quer exigir atestado médico e autorização expressa dos pais ou responsáveis para a imunização dos pequenos. 

Observação: Em entrevista à CNN Brasil, a infectologista Luana Araújo criticou Queiroga pelas declarações de que não pode haver pressa para imunizar a faixa etária porque o número de óbitos é baixo. Na sua visão, a fala do ministro foi profundamente infeliz, até porque não existe número aceitável de mortes de crianças.“Ciência malfeita é achismo. […] Essa declaração é profundamente infeliz. Ela não só não leva em consideração as evidências científicas, como também mostra um profundo desconhecimento dos números do próprio país. Não existe patamar aceitável de óbito de criança. É cruel e absolutamente desconectado da realidade.” 

Já passam de 600 os auditores da Receita Federal que entregaram seus cargos. O ministro responsável pela área, Paulo Guedes, segue em férias. A Bahia enfrenta as piores chuvas nos últimos 35 anos, já há 20 mortos e mais de 30 mil desabrigados. O presidente da República segue em férias. De quebra, provoca aglomerações, aumentando a exposição dos brasileiros à Covid

É evidente que Jair Bolsonaro e seus auxiliares têm muitas prioridades. Também é evidente que entre elas não estão o Brasil e os brasileiros.

MAIS NOVIDADES NO WHATSAPP

QUEM TEM PRESSA COME CRU

O WhatsApp vem "brindando" os usuários com novidades a intervalos cada vez mais curtos. 

Uma inovação disponibilizada semanas atrás (que ainda está em fase de testes) permite evitar que determinados contatos visualizem o status "Visto por último" (coisa que já podia ser feita, mas as opções se limitavam a “Todos”, "Ninguém" e "Meus contatos").

A novidade foi incluída na seção "Meus contatos, exceto…", que fica nas configurações de privacidade do WhatsApp. Com ela, a gente decide quem deixa de visualizar as informações ao visitar nosso perfil, mas também nos impede de visualizar as informações desses contatos. 

O objetivo do novo recurso é reforçar a privacidade dos usuários frente a contatos indesejados — como ex-namorados(as), chefes e que tais, mas vale lembrar que ele ainda não se aplica às opções de "Foto de perfil" e "Sobre". 

De acordo com o WEBetaInfo, é possível testar essa funcionalidade baixando a versão beta do WhatsApp com a atualização 2.21.33.14 para Android.

Acessar o WhatsApp simultaneamente em múltiplos dispositivos e usar a versão Web sem precisar manter o celular ligado e conectado é outra inovação que deve ser liberada em breve para todos os usuários. No entanto, os apressadinhos podem se antecipar recorrendo a um "emulador do sistema Android".

Não custa lembrar que os pioneiros são reconhecidos pela flecha espetada no peito. Se você resolver testar a gambiarra, saiba que o procedimento de entrar no WhatsApp pelo PC funciona como no celular, mas os acessos são mutuamente excludentes. Ou seja, não é possível usar o mensageiro nos dois aparelhos ao mesmo tempo. 

É preciso mante ligado o telefone que tem o chip cadastrado, pois é através dele que o usuário recebe o SMS com o código de acesso ao aplicativo. E recomenda-se fazer backup das conversas; caso alguma coisa dê errado, nenhum conteúdo importante será perdido.

Vejamos o passo a passo:

— Baixe o BlueStacks no PC, abra o executável, clique em Instalar agora e aguarde até que os ajustes iniciais sejam finalizados.

— Acesse o Play Store, faça o login com a sua conta Google, mantenha a conta sincronizada, aceite os termos do contrato e escolha fazer o backup dos dados no Google Drive.

— No Play Store, procure pelo WhatsApp, instale-o usando o emulador e proceda como você fez quando instalou o mensageiro no smartphone (digite seu número, aguarde o código de ativação, digite-o no campo indicado).

— Faça o download do backup das conversas e utilize a plataforma normalmente.

Cá entre nós, eu esperaria o recurso ser disponibilizado nativamente. 

domingo, 2 de janeiro de 2022

O CACHORRO LOUCO, A CAÇA ÀS BRUXAS E O FUNK DO DESPIROCADO


A penúltima crise produzida pelo ogro que alguns chamam de "mito" foi tratar a Anvisa como um conciliábulo e declarar aberta a temporada de caça às bruxas — consequência da impunidade a ele assegurada por Augusto Aras, na PGR, Arthur Lira, no comando da Câmara, e ministros pusilânimes ou lenientes do STF e do TSE, que, por alguma razão, não viram razão para tomar uma atitude, digamos, mais assertiva, nem mesmo depois dos discursos eminentemente golpistas de 7 de setembro.

Tanto o Judiciário quanto o Legislativo deveriam explicar por que garantem impunidade a um gestor que produz provas contra si mesmo toda vez que abre a boca (para espalhar fezes, como disse o senador Omar Aziz, depois de ser chamado pelo sultão do bananistão de “cara de capivara”). Como não explicaram, a ausência de punição produziu um fenômeno político novo: a lamentação depois do fato. 

Todos os brasileiros de bom senso lamentam que Bolsonaro tenha tratado a Anvisa como um antro de bruxarias numa live. E quem ainda dispõe de dois neurônios minimamente funcionais lastima também que apoiadores do sultão do bananistão se tornem perseguidores, forçando a direção da Anvisa a pedir proteção policial e renovar a requisição de investigação contra os caçadores de bruxas.

Em meio a tanto lamento, perde-se a noção do essencial: Bolsonaro instalou no Brasil uma espécie de manicomiocracia — um regime maluco em que servidores que cumprem o dever funcional de avaliar e aprovar vacinas são perseguidos por quem deveria homenageá-los. Não há justificativa plausível para a perseguição. Mas um caçador de bruxas não precisa justificar nada. Basta apontar o dedo e soltar os cachorros.

Costuma-se dizer que as instituições estão funcionando no Brasil. Mas essa afirmação é colocada em dúvida a cada novo surto de Bolsonaro. A PGR se limita a abanar o rabo para a insanidade; a cúpula do Congresso se esfrega no balcão de emendas; o Supremo late de vez em quando, mas não morde.

A impunidade transforma a insanidade do mandatário num processo de desmoralização institucional. Bolsonaro deixou de ser um presidente de reações imprevisíveis para se tornar um presidente tristemente previsível: depois de converter a alvissareira aprovação de uma vacina infantil contra a Covid num problema, sua insolência decidiu encrencar novamente com o Supremo.

O ministro Lewandowski intimou o governo a fornecer, em 48 horas, explicações sobre a inclusão da vacina infantil no Plano Nacional de Imunização. Em resposta, o governo pediu mais tempo. Enquanto a AGU preparava a resposta ao Supremo, o mandatário-suserano e seu ministro-vassalo da Saúde — uma patética versão 2.0 do anterior, e igualmente seguidor da norma explícita segundo a qual "um manda e o outro obedece" — jogavam lenha na fogueira.

Durante mais um passeio pelo litoral paulista, ao dizer que é o pai quem decide se a criança deve ou não ser vacinada, o Messias de festim cometeu duas impropriedades: 1) esqueceu as mães; 2) difundiu a falsa suposição de que crianças serão arrastadas a força, à revelia dos pais, para os postos de vacinação.

Industriado pelo chefe, o bonifrate da Saúde tirou da cartola uma consulta pública e a arguiu a necessidade de ouvir a opinião da câmara técnica de assessoramento sobre imunização. Esquece-se o cardiologista que 1) o povo não quer ser consultado, mas orientado; 2) os técnicos da câmara já avalizaram a vacinação das crianças de 5 a 12 anos. 

Ao empurrar uma providência óbvia com a barriga, o Planalto oferece a senha para que Lewandowski ordene a aquisição e distribuição da vacina, o que oferecerá a Bolsonaro material novo para repetir o velho lero-lero segundo o qual o Supremo retirou a pandemia da alçada do governo. Já se pode antever a declaração em que o capetão dirá que governadores e prefeitos são responsáveis pelos hipotéticos efeitos colaterais da vacina.

É tudo enfadonhamente previsível. Primeiro, Bolsonaro negou a pandemia. Era "alarmismo" da mídia. Depois, negou o vírus. Provocaria apenas uma "gripezinha". Na sequência, negou a vacina, que transformaria os "maricas" em "jacarés". Chegou mesmo a negar os mortos — esgrimindo documento falso do TCU e incitando seus devotos a invadirem hospitais — e o passaporte da vacina — sob o argumento de que é preferível morrer a perder a liberdade. Agora, nega necessidade de imunizar as crianças. Não é por acaso que a maioria dos brasileiros sinaliza nas pesquisas a intenção de negar votos ao negacionista.

O Brasil amarga duas patologias: a da Covid e a do ódio. Contra a primeira, o remédio é a vacina. Contra a segunda, há dois velhos imunizantes à disposição: sensatez e moderação. Bolsonaro não dispõe de nenhum dos dois.

Sempre que uma oportunidade de baixar a temperatura política lhe bate à porta, o capetão reclama do barulho. E eleva a fervura. Estimula divisões. Submetidos à sua dinâmica, cidadãos não se enxergam, não se ouvem. Tratam-se como inimigos. Muitos começam a se dar conta de que não são rivais. São brasileiros.

O lógico seria que, depois de eleito, o amálgama de mau soldado e parlamentar medíocre virasse um presidente de todos, inclusive dos que não votaram nele. Mas ele sempre fez questão de governar para um terço da população, espalhando raiva e desinformação.

Sem enxergar nada de muito atraente à sua frente, um pedaço do eleitorado observa o retrovisor. Materializa-se na política brasileira um fenômeno descrito no mesmo livro de Eclesiastes, no capítulo 1, versículo 9. Diz o seguinte: "O que foi tornará a ser; o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do Sol."

Ao apostar na divisão, Bolsonaro como que convidou o eleitorado a reviver 2018 no ano de 2022, só que com o sinal trocado. O antipetismo ficou menor do que o antibolsonarismo. Estalando de pureza moral, o ex-presidiário de Curitiba, ora beneficiado pela anulação de sentenças por questões processuais, fala em ressurreição.

A pretexto de ironizar o jantar em que Lula e Alckmin desfilaram juntos, Bolsonaro deixou-se filmar dançando funk a bordo de uma lancha. A canção tem a suavidade de um porco-espinho. Num trecho, compara mulheres de esquerda a cadelas. Os filhos do presidente e seus devotos bolsonaristas cuidaram de espalhar as imagens pelas redes sociais.

A aparência de despreocupação se desfez em outras postagens dos filhos do presidente. Carlos e Flávio reproduziram um vídeo da campanha de 2018 em que Alckmin declara que, "depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder", para "voltar à cena do crime." Em outro post, Eduardo perguntou por que Alckmin "se aproxima de um condenado".  

Os membros da família da rachadinha confundem amnésia com consciência limpa. Esquecem de lembrar — ou lembram de esquecer — que na mesma campanha de 2018 Bolsonaro agradeceu a Alckmin por ter "unido" em sua coligação "a escória da política". 

Estavam com Alckmin o PL de Valdemar Costa Neto, estrela do escândalo do mensalão; e o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, destaques do petrolão. Hoje, o PL é o partido de Bolsonaro, e o PP tomou de assalto o Gabinete Civil e o balcão das emendas em troca segura os pedidos de impeachment contra o presidente.

O ano de 2022 mal começou e já exala um insuportável fedor de podre. O Brasil testemunhará uma campanha eleitoral violenta e suja. As ideias dos candidatos ainda não estão claras. Por ora, a única certeza disponível é a seguinte: seja quem for o próximo presidente, o Centrão estará fechado com ele.

Bom ano novo a todos.

sábado, 1 de janeiro de 2022

O PRESIDENTE DO DOLCE FAR NIENTE


HAY GOBIERNO? SOI CONTRA!

Na manhã de quinta-feira, 30, enquanto a Bahia contabilizava 24 mortes e 132 cidades em situação de emergência, Bolsonaro, que gozava férias em Santa Catarina desde o dia 27, disse que esperava “não ter de retornar antes”. 

Até aí, nenhuma surpresa: em abril do ano passado, enquanto milhares de brasileiros morriam de Covid todos os dias, o presidente da negação, da discórdia nacional, dos tratamentos falsos, das aglomerações, da inoperância, das mentiras e das omissões disse a apoiadores: "E daí? Não sou coveiro!”.

Nas redes sociais, o mandatário de fancaria foi brindado com o epíteto de "presidente vagabundo":

"O presidente em férias em Santa Catarina. O vice-presidente em férias na parte não alagada da Bahia. E o país à deriva em toda a velocidade, na direção dos rochedos. Só faltam os violinistas do Titanic. #BolsonaroVagabundo", publicou uma internauta no Twitter. Outros logo lhe fizeram eco: “Bahia pedindo ajuda e esse merda de férias. Tem que ser muito fdp para ainda apoiar esse bosta e não adianta usar a desculpa do PT porque não cola mais (nunca colou)”. “Não temos presidente, temos um parasita vagabundo mamando dinheiro público e destruindo nosso país”. 

Bolsonaro deu início ao recesso de fim de ano em 17 de dezembro, quando viajou para a região do Guarujá, e embarcou no último dia 27 para São Francisco do Sul, no litoral catarinense, para passar o feriado de Ano-Novo acompanhado da primeira-dama e da filha do casal. No litoral paulista, andou de lancha, foi a um culto evangélico e pescou perto d Ilha das Cobras (onde deve ter se sentido em casa, como disse se sentir quando finalmente se filiou ao PL do mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto).

A pergunta que não quer calar é: por que Jair Mefistófeles Bolsonaro mantém a obsessão em combater o combate à pandemia, voltando suas baterias no finalzinho do ano contra o passaporte de vacina e a imunização das crianças? Todo mundo sabe o quanto o Brasil perde com isso, mas ninguém — ou ninguém em sã consciência — consegue entender o que ele ganha com isso.

Enquanto a ciência, a medicina e a opinião pública andam para um lado, o pajé da cloroquina anda para o outro com sua legião de negacionistas e o cardiologista Marcelo Antonio Cartaxo Queiroga Lopes, que não passa de uma versão de jaleco do general Eduardo Pesadelo. Em todo o mundo civilizado foram retomadas medidas da fase aguda e implementadas novas, como a terceira dose, o passaporte de vacinas e a imunização de crianças, para protegê-las e conter o ciclo de contaminação. Aqui, a guerra é para driblar Bolsonaro, que nem tomou a primeira dose e está obcecado em impedir o comprovante de vacinas e que as crianças se protejam.

Como achar normal que o presidente exija a lista dos técnicos da Anvisa que autorizaram a vacinação para os pequenos e seu ministro inventar consulta pública e exigência de receita médica?  É inconcebível exigir dos pais, a quem já não faltam problemas de toda natureza, uma receita pediátrica que lhes permita levar os filhos à fila da vacina. 

Enquanto a Bahia vive uma tragédia e 45 mil passageiros ficam a ver navios e voos ao longe, vítimas de uma companhia aérea mequetrefe (autorizada pela Anac e recebida em festa pelo governo), o presidente da República está na praia dançando funk, parecendo fazer questão de acrescentar novas bizarrices a sua lista interminável de horrores. 

Presidentes devem liderar, mostrar empatia. As declarações de um mandatário reverberam, ainda que esse o dito-cujo seja Bolsonaro, que jamais teve envergadura para ocupar o cargo ou capacidade de presidir o que quer que fosse — nem carrinho de pipoca em porta de cinema, como salientou o escritor, poeta e jornalista José Nêumanne.

Segundo Nêumanne, na véspera do Natal, Bolsonaro exibiu à nação toda a desfaçatez que aprendeu em sua formação na caserna, da qual saiu pela portinhola dos fundos, bem como a arte de mentir, descarada e desmedida, aperfeiçoada em 33 anos no baixíssimo clero da política e da preguiça em público. Aterrorizado com a possibilidade de acrescentar mais sustos à sua vertiginosa queda de popularidade e, com ela, perder mais competitividade na disputa eleitoral em 2022, o capetão encarregou a própria mulher de substituí-lo na função de pregador das redes sociais, com a pusilânime caradura de hábito. 

No cenário emprestado do espaço público, que ocupa como se fosse a própria casa, abriu a baboseira para logo ceder lugar à farsa de Michelle. Para felicidade geral da Nação, o óbvio relambório foi curto. Além da reprodução literal do lema integralista (“Deus, pátria, família”), nenhuma palavra de verdadeira solidariedade do casal aos entes queridos das quase 700 mil pessoas assassinadas pela cruel indiferença de uma gestão federal negacionista e negociante em proveito próprio, durante o enfrentamento da pandemia. Nenhum anúncio de socorro aos 470 mil baianos, dos quais 16 mil ficaram sem casa, simplesmente porque o Estado é governado por um político do PT

Não faltou outro dado mortal da falsidade natalina do casal de presepeiros, que se situa no lado errado do próprio presépio armado. Na cega, estúpida e boçal negação da imunização para ajudar a reduzir o número de vítimas mortais da Covid, a convocação de uma consulta pública para autorizar a aplicação de vacinas da Pfizer, usada com sucesso no mundo inteiro, em crianças de 5 a 11 anos, veio de um sabujo impiedoso travestido de ministro da Saúde, que chegou a exigir prescrição médica para o uso da vacina

Em plena celebração do aniversário do Deus que o capitão mandrião diz venerar, não faltou quem recorresse à Bíblia para achar novo apelido para o médico-monstro. Antes, era Marcelo Queiroga. Com a nova presepada, passou a ser chamado de Queirodes Antipático, referência ao maior vilão da História da civilização: Herodes Antipas, o rei da Judeia que mandou assassinar todos os bebês nascidos na data hoje santificada, quando soube que ele poderia vir a ser o novo rei dos judeus.

Herodes Antipas não passava de um reizinho fantoche do poderio romano, que, 33 anos depois, transformaria o hábito higiênico de lavar as mãos na suprema renúncia covarde, que o chefe do desgoverno atual não tem coragem de anunciar para livrar os adultos de sua preguiça contagiosa, e as crianças de seu ódio brutal à vida, à inocência e à felicidade. Um ser humano digno dessa qualificação, que há decênios o falso Messias desonra e enxovalha, mostra que, felizmente, ainda há servidores decentes que sobrevivem aos beócios que dão ordens assassinas em pleno templo da saúde pública.

Comandada por intendentes incompetentes e charlatães com dragonas desonradas por um dublê de capitão-terrorista e diplomas mal-empregados, a secretária extraordinária de enfrentamento à Covid ao STF afirmou, através de nota técnica simples, direta e corajosa, que a vacina para crianças é segura. Subordinada ao ministro da Saúde, a servidora ousou ir na contramão dos questionamentos do sultão do bananistão, que diz haver "desconfiança" e uma "interrogação enorme" em relação aos supostos efeitos colaterais da vacinação de crianças.

Nenhum dos importantes legados do ogro negacionista o favorece no pleito de outubro próximo, e alguns serão dor de cabeça para quem lhe suceder. Bolsonaro conseguiu o prodígio de estilhaçar internamente diversos segmentos que o apoiaram em 2018, e agora não sabe como colar os cacos. Talvez o legado mais significativo de Bolsonaro para 2022 seja ter ajudado a recuperar as chances eleitorais do lulopetismo. Como Lula trabalhará esse ganho é outra história, mas é ele o favorito que todos terão de derrotar, ao passo que Bolsonaro é cada vez menos visto como alternativa ao ex-presidiário promovido a ex-corrupto.

De acordo com Willian Waack, ganha corpo uma noção ainda vaga, em boa parte criada pelo fracasso bolsonarista, de que mesmo forças políticas antagônicas têm condições de pensar um país para além do destino de excrescências como Bolsonaro e Lula. Há um eixo de debate democrático capaz de unir e pacificar contrários, centrado em como nos fazer sair da pobreza, da desigualdade, da injustiça e da ignorância. Mas o jornalista reconhece tratar-se apenas da esperança de um 2022 melhor para todos nós.

Há muito tempo que eu desisti de compreender o despirocado do Planalto. Às vezes, vejo-o como uma criança mimada, que ganhou um passaporte válido por um dia (um dia que dura longos quatro anos) para explorar, sem limitação nem supervisão, todas as atrações de um parque de diversões. E é justamente isso que ele vem fazendo desde janeiro de 2019. Para encerrar, reproduzo um trecho do editorial do Estadão da última quinta-feira:

O governo Bolsonaro se ausentou do enfrentamento de quase todos os problemas que afligiram os brasileiros ao longo deste ano particularmente difícil. Não raras vezes, o próprio presidente foi a fonte das atribulações. Há duas razões para esse comportamento: a baixa estatura moral e intelectual de Bolsonaro para exercer a Presidência e sua notória inapetência para o trabalho. O resultado de três décadas de irrelevante vida pública revela que Bolsonaro nunca gostou do batente. E a ascensão à Presidência não parece tê-lo feito mudar de ideia.

Mas, por paradoxal que possa parecer, a ausência de um governo digno do nome em momentos tão críticos teve o efeito positivo de lançar luz sobre a solidariedade entre os cidadãos. Em 2021, os brasileiros deram mostras inequívocas de que os laços de fraternidade que os unem estão mais fortes do que nunca. É como se os cidadãos percebessem que, diante de um governo tão ruim, tivessem de contar apenas uns com os outros. Evidentemente, por mais valorosa que seja, a solidariedade não dá conta de tudo. O apagão governamental produziu desastres. Mas foi graças ao altruísmo de muitos cidadãos que alguns problemas puderam ser ao menos mitigados.

Tome-se como exemplo mais recente a tragédia das chuvas que mataram dezenas e desabrigaram milhares de baianos neste fim de ano. Como se fosse um burocrata qualquer, que assina meia dúzia de papéis e dá seu trabalho como concluído, Bolsonaro se limitou a despachar para a Bahia o ministro da Cidadania, e a editar uma medida provisória que cria um crédito extraordinário de R$ 200 milhões para reconstrução da infraestrutura rodoviária destruída pelas chuvas no Estado. Depois, partiu para uma semana de ócio nas praias de Santa Catarina — a imagem do dolce far niente do presidente em contraste com o terrível padecimento dos baianos é de causar engulhos. 

A ajuda concreta aos baianos que perderam tudo o que tinham tem vindo, principalmente, da solidariedade de seus concidadãos em todo o País e de ações pontuais de empresas privadas, principalmente supermercados, que têm enviado alimentos aos desabrigados.

Não houve em 2021 exemplo maior de união entre os brasileiros em prol do bem comum do que a que se viu no curso da pandemia. Os brasileiros, em sua grande maioria, ignoraram olimpicamente a sabotagem do governo federal às medidas sanitárias para evitar a disseminação do vírus. 

Fazendo ouvidos moucos para a campanha de Bolsonaro contra a vacinação, os cidadãos acorreram em massa aos postos de saúde para receber o imunizante tão logo foi possível. Não foi trivial o sacrifício individual que muitos fizeram em nome do bem-estar coletivo.

Na raiz desse contraste entre governo e sociedade está a incompreensão de Bolsonaro sobre o valor simbólico da Presidência da República. Sabe-se que ele não é talhado para exercer a liderança do País, mas nem sequer se esforça para interpretar o papel. Resgatar o simbolismo de dignidade e espírito público que a Presidência encerra, pois, será uma das muitas missões de quem vier a suceder-lhe.

Feliz ano-novo. 

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

FELIZ ANO NOVO (PARA SONHAR NÃO SE PAGA IMPOSTO - AINDA).

O mundo é regido por uma lei de permanência. Apesar de estar sempre morrendo, a vida está sempre renascendo. A dissolução apenas dá à luz novos modos de organização, e uma morte é a mãe de mil vidas. Cada hora, como vem, não passa de uma prova do quão efêmero (apesar de seguro e certo) é o todo. É como uma imagem refletida nas águas, que permanece a mesma apesar de o rio continuar fluindo. O sol se põe, mas nasce de novo. O dia é engolido pela noite escura e volta a brotar dela, tão novo como se nunca tivesse sido extinto. A primavera se transforma em verão, atravessa o outono, vira inverno, e então retorna em grande estilo, triunfando sobre a sepultura, apesar de seguir a passos apressados e firmes em direção à morte desde o início dos tempos. Lamentamos os desabrochares de setembro porque as flores vão secar e morrer, mas sabemos que setembro, um dia, vai se vingar de junho com a revolução daquele ciclo solene que nunca para, e que nos ensina em nosso ápice de esperança a sermos sempre sóbrios, e, na profundeza da desolação, a nunca nos desesperarmos. 

Segundo os historiadores, o primeiro “Festival de Ano-Novo” ocorreu na Mesopotâmia, por volta de 2.000 a. C. Na Babilônia, as comemorações se davam na entrada da lua nova do equinócio da primavera (no calendário atual, isso ocorre em 19 de março, data que os espiritualistas comemoram o ano-novo esotérico). Para os assírios, persas, fenícios e egípcios, o ano começava no mês de setembro (dia 23); para os gregos, entre os dias 21 e 22 do mês de dezembro, mas foram os romanos que instituíram “oficialmente” o dia 1º de janeiro — mantido nos calendários Juliano e Gregoriano e vigente até hoje na maioria dos países do mundo moderno.

Costuma-se ver a passagem de ano como o fim de um ciclo e o início de outro, um momento prenhe de promessas e esperanças, com direito a fogos de artifício, buzinas, apitos e gritos — que, segundo a tradição, espantariam os maus espíritos. O que muda mesmo é apenas a folhinha do calendário, mas de ilusão também se vive.

Do ponto de vista do abuso do álcool, o Réveillon só perde para o Carnaval – e olhe lá. E para quem não dispensa umas biritas, a ressaca pode ser cruel: dor de cabeça, boca seca, fadiga, tremores, mal estar são alguns sintomas que o corpo apresenta após metabolizar o álcool (ou seja, quando os níveis de álcool nos tecidos são reduzidos, donde a crença de que tomar outro porre é a melhor solução para o problema).

Segundo algumas fontes, bebidas compostas principalmente por água e álcool (tais como vodka e gim),
produzem menos ressaca do que uísque, conhaque ou vinho tinto, por exemplo — mesmo assim, atente para a qualidade do produto, pois algumas marcas baratas têm cheiro e gosto de acetona. 

Dizem os engraçadinhos (embora não sem razão) que a melhor maneira de evitar a ressaca é não ingerir bebida alcoólica, mas, na prática, essa preciosa recomendação não costuma ser seguida por muita gente. 

Para evitar o vexame do pileque e minimizar o desconforto da ressaca, além de beber moderadamente, procure não fazê-lo “de barriga vazia”, já que e o álcool é absorvido mais lentamente quando há alimento no estômago (mas tome cuidado para não errar na quantidade, ou você irá colocar tudo para fora no meio da festa).

Vale ainda intercalar suco, refrigerante, ou mesmo água entre as doses de birita, não só para “diluir” o álcool, mas também para manter o organismo hidratado; segundo alguns “especialistas”, comer frutas ou algo gorduroso antes de beber ajuda muito (há quem recomende comer miolo de pão besuntado com manteiga ou embebido em azeite de oliva).

A verdade é que não existem formulas milagrosas universais: a não ser que você entre em coma alcoólica – quando deverá procurar um pronto-socorro –, o jeito é deixar o corpo processar naturalmente – ou regurgitar – o excesso de álcool que absorveu. Nesse entretempo, evite comidas ácidas, gordurosas ou de difícil digestão; torradas com mel ou geleia no café da manhã e uma sopa ou salada de legumes cozidos no almoço devem deixar você pronto pra outra.

Para finalizar, torno a lembrar que ressaca não se cura com mais álcool. Essa prática pode até ajudar a combater os sintomas no curto prazo – e servir de desculpa para tomais mais uma birita ao acordar, mesmo que você não esteja de ressaca. Todavia, mais hora, menos hora, o nível de álcool no seu organismo vai ter que baixar.

BOA VIRADA DE ANO E UM ÓTIMO 2022 A TODOS.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

RETROSPECTIVA — TERCEIRA PARTE

Conhecimentos não-empíricos, como os obtidos através de inexatos livros de História, não autorizam ninguém a pleitear volta dos fardados ao poder. 

A ditadura instituída pela assim chamada Revolução de 1964 foi um golpe militar desfechado na madrugada de 1º de abril, quando líderes civis e militares conservadores depuseram o então presidente João Goulart e empossaram o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, a pretexto de afastar do poder um grupo político que supostamente flertava com o comunismo. 

Em 1968, o “linha-dura” Costa e Silva decretou o AI-5, produzindo um elenco de ações arbitrárias que prevaleceram durante o período mais repressivo do regime. Em 1974, Geisel deu início ao lento processo de abertura que poria fim, dali a 11 longos anos, à malfadada ditadura — que se estendeu por intermináveis 21 anos, durante os quais, além de Castello, outros quatro generais presidiram o país, a saber: Costa e SilvaMédiciGeisel Figueiredo

O desgaste do governo militar propiciou a eleição (indireta) de Tancredo Neves, que derrotou Paulo Maluf no Colégio Eleitoral (por 480 votos a 180), em 15 de janeiro de 1985, graças à união do PMDB com a chamada Frente Liberal (formada por dissidentes do partido que dava sustentação ao militares). 

O fim da ditadura não foi uma “consequência natural do espírito democrático” dos generais Geisel e Figueiredo, e tampouco transcorreu sem turbulências e acidentes de percurso. O processo só foi concluído graças a manifestações populares pró-diretas que reuniram cerca de 1,5 milhão de pessoas na Candelária e 1 milhão no Vale do Anhangabaú. A mais emblemática delas lotou a Praça da Sé, em janeiro de 1984, com 300 mil pessoas carregando faixas e vestindo camisetas onde se lia a inscrição “EU QUERO VOTAR PARA PRESIDENTE”.

ObservaçãoOs movimentos pró “Diretas Já” pugnavam pela aprovação da emenda constitucional Dante de Oliveira, que visava restaurar o direito às eleições diretas. Os manifestantes apareceram espontaneamente para ouvir e aplaudir líderes políticos do quilate de Ulysses GuimarãesTancredo NevesLeonel BrizolaFernando Henrique Cardoso e Lula, além de artistas e intelectuais que se revezavam ao microfone. Em meados dos anos 1980, a Internet ainda era uma ilustre desconhecida, e as redes sociais só surgiriam e se popularizariam quase duas décadas depois.

O deputado Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara, entregou a Tancredo o programa denominado Nova República, que previa eleições diretas em todos os níveis, educação gratuita, congelamento de preços da cesta básica e dos transportes, entre outras benesses.

Com esperança e ânimos redobrados, os brasileiros ansiavam pela chegada do dia 15 de março — data prevista para a posse do primeiro civil na Presidência em 21 anos. Mas o que deveria ser a festa da democracia se transformou em luto nacional: Tancredo foi internado 12 horas antes da cerimônia e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois, levando para o túmulo a esperança de milhões de brasileiros.

O sepultamento do político em São João Del Rey (MG) produziu um dos maiores cortejos fúnebres já vistos no país: o féretro foi seguido por mais de 2 milhões de pessoas por São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, a caminho da cidade natal daquele que foi, sem jamais ter sido, o maior presidente do Brasil.

Após algumas discussões jurídicas sobre a possibilidade de o então presidente da Câmara ser guindado ao Palácio do Planalto, prevaleceu o entendimento de que o rebotalho do coronelismo nordestino José Sarney, vice na chapa vencedora, deveria assumir a Presidência. E foi o que aconteceu, para o bem e para o mal.

É no mínimo curioso o fato de que muita gente que nem era nascida quando a eleição de Tancredo marcou o fim da ditadura se diz saudosa dos "anos de chumbo". Essa caterva compareceu em peso nas manifestações de 7 de Setembro último, para beber as palavras golpistas de seu despirocado “mito”.

Enquanto os brasileiros não se conscientizarem de que voto é coisa séria — e não perceberam a força que têm —, continuaremos amargando agentes públicos fisiologistas, vendilhões e ladrões. E, guardadas as devidas proporções, o mesmo raciocínio vale para o Poder Judiciário.

Como instituição, tanto a Presidência da República quanto o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal merecem nosso mais profundo respeito. Mas daí a dizer que o atual chefe do Executivo (bem como os que o precederam desde a "redemocratização"), os 513 deputados federais, os 81 senadores e os 11 togados supremos merecem o mesmo tratamento é confundir alhos com bugalhos.

ObservaçãoConfundir alhos com bugalhos é o mesmo que trocar as bolas, ou, por extensão, meter os pés pelas mãos. O que muita gente não sabe é que bugalhos são bulbos comestíveis de textura semelhante à do alho, cujo formato de pênis inspirou um fado que os marujos lusitanos cantavam nos tempos de Cabral: “Não confundas alhos com bugalhos / Nem tampouco bugalhos com caralhos”.

Continua...

CARGA RÁPIDA

A FORMA PASSA, MAS A CLASSE PERMANECE.

Com a descoberta da eletricidade e dos combustíveis fósseis, motores elétricos e de combustão interna passaram a integrar veículos que até então eram puxados por animais (como o carro de boi) ou movimentados pelo próprio usuário (como a bicicleta). 

Para funcionar, esses motores precisam de eletricidade ou de combustível. E para que seu uso não fique restrito a percursos específicos (como acontece com trens, trólebus e bondes), entram em cena as baterias e os tanques de combustível.

O raciocínio é basicamente o mesmo no universo dos PC portáteis e ultraportáteis. Para funcionarem desconectados da tomada, notebooks, smartphones, tablets e assemelhados dispõem de baterias recarregáveis, cuja autonomia — representada pelo intervalo de tempo entre as recargas — varia conforme a amperagem, o consumo energético do aparelho e do perfil do usuário. Via de regra, quanto maior a amperagem, tanto maior a capacidade do componente de fornecer energia.

Detalhe: Um miliampere/hora (mAh) corresponde a 3,6 coulombs — ou seja, a quantidade de carga elétrica transferida por uma corrente estável de um milésimo de ampère durante uma hora. Essa unidade de medida não tem relação com a "potência" da bateria, que costuma ser expressa em joule ou watt/hora.

Depois que a genialidade de Steve Jobs promoveu a microcomputador ultraportátil um aparelho que nasceu para telefone sem fio de longo alcance, sistema operacional e um miríade de aplicativos entraram em cena e passaram a disputar cada gota de energia da bateria, reduzindo a autonomia da bateria e, consequentemente, o intervalo entre as recargas. Mas isso não afeta todo mundo do mesmo jeito.

As baterias evoluíram consideravelmente nos últimos anos, mas não a ponto para satisfazer as exigências dos portáteis. Para não ficar sem energia no meio do dia, você pode andar com um carregador sobressalente no bolso (ou um modelo veicular no carro), implementar uma configuração mais “espartana” ou, na próxima troca de aparelho, priorizar uma bateria de 5.000 mAh ou superior.

Falando em carregador sobressalente, não é uma boa ideia economizar alguns trocados comprando um produto genérico na banca de camelô da esquina. Se não for possível adquirir um modelo idêntico ao original, assegure-se ao menos de que ele seja homologado pelo fabricante do seu celular, e que a voltagem e a amperagem sejam compatíveis.

Por diversas razões, usar um notebook como substituto do PC de mesa se tornou uma prática comum. Nessa situação, manter o portátil permanentemente conectado à tomada é igualmente comum. A dúvida é quanto à bateria. Mantê-la instalada garante 100% de carga quando e se for preciso usar note em trânsito. Além disso, ela funciona como nobreak em caso de apagão da rede elétrica. Mas a carga constante gera muito calor, e o superaquecimento pode reduzir drasticamente a vida útil da bateria.

A bateria dispõe de um circuito de segurança que bloqueia a passagem de energia quando o componente atinge 100% de sua capacidade de carga. A questão é que a energia não utilizada se dissipa na forma de calor, e o calor é um dos maiores inimigos da bateria. Alguns fabricantes — como a Apple — recomendam usar o note dos dois modos: um pouco na bateria e um pouco na tomada. A medida contribui para que o componente esteja sempre calibrado e elimina uma fonte extra de calor (associada ao uso constante do carregador).

Observação: Comprei meu primeiro portátil em 2003 e já perdi a conta de quantos vieram depois dele. Sempre os usei conectados à tomada, jamais removi a bateria e todos seguiram adiante com o componente em perfeitas condições de funcionamento.

Para concluir: O carregamento rápido é uma mão na roda, sobretudo quando reparamos que a bateria está quase “seca” minutos antes de sair para um compromisso externo, p. ex.  Para criar “carregadores turbo”, a maioria dos fabricantes aumenta a voltagem (em vez de alterar a amperagem). 

Observação: A voltagem (tensão) é a força da corrente elétrica, enquanto a amperagem (corrente) é a quantidade de eletricidade que flui entre a bateria e o dispositivo. Multiplicando esses valores, chega-se à potência nominal. A maioria dos telefones suporta 5V/2,4A.

Mesmo que o carregador seja de 5V/3A, a carga se dará apenas na faixa para a qual o aparelho foi projetado. Portanto, além de um carregador rápido, o dispositivo precisa de um circuito de carga capaz de usar um dos padrões de carregamento turbo para “a mágica acontecer”.

Para saber se seu smartphone suporta carga rápida, consulte o manual ou o site do fabricante. E lembre-se: portinhas USB e carregadores veiculares e sem fio quebram o galho, mas são muito menos eficientes que os modelos com fio. Só os utilize quando e se não houver alternativa.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

RETROSPECTIVA — CONTINUAÇÃO

Michel Temer, Eurico Dutra e Nereu ramos são bons exemplos de políticos que ascenderam à presidência a despeito se sua falta de carisma. Isso sem falar no picolé de chuchu, cuja sensaborice contribuiu para o fiasco do tucano nas duas vezes que disputou a Presidência, a despeito de ter sido o político que governou São Paulo por mais tempo desde a redemocratização.

Observação: Comenta-se à boca pequena que Alckmin será candidato a vice-presidente na chapa de Lula (o que é no mínimo vergonhoso), mas não será com as bênçãos de Gilberto Kassab: na semana passada, o cacique do PSD foi curto e grosso: "Eu não estarei com o Lula no primeiro turno, e isso já foi dito a ele. Não é porque é o Geraldo, fulano ou sicrano, é porque teremos candidatura própria". Kassab disse ainda que, para ele, o "projeto redondo" em São Paulo "acabou", e outro nome será procurado.

João Batista Figueiredo era insuperável em falta de carisma e papas na língua. Sempre se soube que o último general a governar o Brasil durante a ditadura não nascera para ser figura pública. "Estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se vou me sair bem: no fundo, gosto mesmo é de clarim e de quartel", afirmou certa vez. Os marqueteiros chapa-branca até tentaram transformar o casca-grossa numa figura popular, com a alcunha de João do Povo, mas deram com os burros n’água.

Entre outras pérolas de sutileza, o militar carioca disse preferir “o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo". Quando uma criança perguntou o que ele faria se fosse criança e seu pai ganhasse salário-mínimo, respondeu sem pestanejar que daria “um tiro na cuca”. Sobre a abertura política, esbravejou: "É para abrir mesmo. Quem quiser que não abra, eu prendo e arrebento". Mas nada se compara a sua lapidar constatação de que "um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar".

Observação: Nas palavras do próprio Figueiredo: "Vejam se em muitos lugares no Nordeste o brasileiro pode votar bem, se ele não conhece noções de higiene? Aqui mesmo em Brasília, eu encontrei outro dia, num quartel, um soldado de Goiás, que nunca escovara os dentes e outro que nunca usara um banheiro. E por aí vocês me digam se o povo já está preparado para eleger o presidente da República."

Figueiredo era racista. Chegou a dizer que “a solução para as favelas é jogar uma bomba atômica”. Outra declaração típica do fardado: "Eu cheguei e as baianas já vieram me abraçando. Ficou um cheiro insuportável, cheguei no hotel tomei 3, 5, 7 banhos e aquele cheiro de preto não saía".

"Pérolas" como essas suscitam uma inevitável comparação entre Figueiredo e Bolsonaro. Há semelhanças, mas o general era autêntico, inclusive na grosseria, e o que o "mito" dos despirocados fala não passa de mise en scène para acirrar a escumalha que lhe dá respaldo nas urnas e nas redes sociais. Como quando disse que cagou para a CPI e que o Omar Aziz tem cara de capivara (o senador rebateu o insulto referindo-se ao ofensor como "aquele carioca que tira proveito de funcionários do próprio gabinete" e que "abre a boca para jogar fezes").

Numa entrevista concedida à Folha em 1978 (que recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo), Figueiredo, então chefe do SNI, falou diversas vezes em "Revolução" e justificou muitas de suas opiniões, como ser contra a independência entre os Poderes, a anistia e as eleições diretas para Presidente. Perguntado sobre o eleitorado tupiniquim, respondeu aos entrevistadores: "Getúlio não fez uma ditadura sanguinária e acabou sendo eleito? Vocês sabem que no Rio Grande do Sul houve uma seca, e os eleitores decidiram votar contra o governo, por que não choveu? Um eleitorado não elegeu o Cacareco [rinoceronte do Zoológico de São Paulo]? Então uma coisa dessas tem cabimento?".

A pergunta do finado fazia sentido, mas é absurdo ter saudades dos anos de chumbo, como fazem jovens abilolados de 20~30 anos, que cantam "those were the days" para a ditadura apoiam atos antidemocráticos estimulados pelo “mito” — que teve o desplante de participar pessoalmente de manifestações em que a récua pugnava pelo fechamento do STF e do Congresso, volta do AI-5 e ditadura com Bolsonaro na Presidência — quando sequer haviam nascido naquela época.

Saudosistas de fancaria (como são os apoiadores do nosso mandatário de fancaria) idolatram um passado que nunca existiu. Bolsonaro é uma aberração que foi eleita para impedir a volta do lulopetismo corrupto, quando poucos podiam imaginar que se estava removendo o pino de uma granada de efeito retardado, desarrolhando a garrafa de um ifrit megalômano, abrindo a caixa de Pandora, enfim, deixo a escolha da analogia a critério do freguês.

Desde sua posse, em janeiro de 2019, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre nada fez senão articular sua reeleição e cagar solenemente para quem não pensa como ele. De cagada em cagada, o Messias que não miracula vai esmerdeando o lema chauvinista e enjoadinho associado a sua campanha: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".