NÃO HÁ NADA
PIOR QUE UM IDIOTA COM INICIATIVA.
Diferentemente do que se imaginou a
princípio, o mega ataque
hacker baseado no WannaCrypt não
foi tão avassalador assim para o XP,
embora a própria Microsoft tenha se
apressado a disponibilizar uma correção para ele, mesmo tendo encerrado seu suporte
estendido em 2014. De acordo com a Kaspersky ― empresa russa que é referência em softwares de
segurança digital ―, a edição do Windows
mais afetada foi o Seven x64 (confira no
infográfico que ilustra esta postagem).
O XP foi o Windows mais longevo de todos os tempos. Lançado em
2001, ele recebeu três Service Packs e permaneceu ativo até abril de
2009, quando foi aposentado pela empresa de Redmond.
Como o Vista não decolou, o XP continuou recebendo atualizações críticas e de segurança por mais cinco
anos, e a despeito de o Seven ter sido um sucesso de crítica e de público, o velho guerreiro ainda marca presença em mais de 140 milhões de máquinas ― inclusive nos caixas eletrônicos do seu Banco.
Para rememorar a aposentadoria do XP, reproduzo a seguir sua
carta de despedida, que publiquei originalmente em abril de 2014:
08/04/2014
Carta de despedida do Windows XP
Queridos usuários e amigos,
Como muitos de vocês já sabem, em 8 de
abril de 2014, termina o meu suporte. Isso significa que você não receberá mais
atualizações e patches de segurança, pois a melhor decisão é se afastar de mim
e adotar o Windows 8.1. Com ele, você poderá trabalhar de forma mais segura e
de acordo com as necessidades atuais, tanto no trabalho quanto em casa.
Gratidão é a palavra que vem ao meu kernel
quando me lembro dos últimos 12 anos em que pude ajudar você a trabalhar, se
comunicar e se divertir de uma maneira original em seu momento. Espero que
fiquem com uma lembrança agradável do meu papel de parede, esse monte verde com
um céu azul e nuvens brancas. Muito obrigado pela oportunidade de poder
servi-los como um sistema operacional.
Esse é um momento de nostalgia e por que
não derramar alguns bits ao recordar o que se passou desde os meus 600 dias de
desenvolvimento – gestação – em Redmond, época na qual me chamavam de
“Whistler”. Durante as reuniões Windows Info, foram consumidos 2.700 kg de
macarrão e servidos 86.400 frappuccinos, segundo dados coletados pela minha
equipe de desenvolvimento. Boas lembranças, mas não tão boas quanto as que
tenho do tempo que passei nos monitores de todos vocês, ajudando-os desde
trabalhar de forma mais eficiente até fazer um belo vídeo com o Windows Movie
Maker.
Vocês se lembram de que fui o primeiro a
aceitar conectividade USB quando ainda não havia memórias portáteis? Fui o
primeiro a incluir um utilitário para gravar CD. Eu tinha o Windows Media
Player. E o que dizer do Pinball? Com ele, fiz você perder um pouco de tempo
muito antes dos pássaros mal-humorados e dos doces viciantes. Na minha época,
tive o ambiente gráfico mais agradável, uma interface de uso mais fácil, fui o
primeiro com vários perfis de usuário, o ClearType que já pensava na
proliferação de monitores LCD, escritórios remotos. Grandes lembranças de
outros tempos, mas a tecnologia avança e é preciso dar espaço à inovação.
Nos próximos dias, estarei aposentado e
desfrutando da tranquilidade. Agora, preciso de um tempo para mim e meus bytes.
E a primeira coisa a fazer será me esquecer das atualizações de terça-feira –
tão necessárias e que não estarão mais disponíveis.
Desejo a vocês o melhor em todos os
projetos profissionais e pessoais que empreenderem agora com o Windows 8.1.
Estou contando os segundos para me sentar em uma cadeira de balanço com um chá
gelado e ver passar as novas gerações, como o Windows 8.1 com sua próxima
atualização e – por que não? – o Windows Phone 8.1. Ambos são herdeiros da
estirpe dos grandes sistemas operacionais da Microsoft.
Despeço-me agora para preparar minha
bagagem. Em pouco tempo, vou descansar ao lado de produtos icônicos e
históricos, como Windows 3.1, Windows 95, Messenger e Office 2003.
Se quiser ter uma lembrança minha sempre
presente, podem colocar a imagem do meu papel de parede no
Windows, não importa qual nova versão você usa.
Muito obrigado por esses anos que
compartilhamos.
Com os meus melhores desejos tecnológicos,
Windows XP
A
GRANDEZA DA RENÚNCIA ― ARTIGO EM FALTA NAS PRATELEIRAS DA POLÍTICA TUPINIQUIM
Conforme eu ponderei na postagem anterior, a melhor
saída para o imbróglio em que Temer
se meteu e meteu o país seria sua pronta renúncia. Aliás, se isto aqui não
fosse a Banânia que é, um presidente flagrado num encontro clandestino com um
investigado que, com a naturalidade de quem confidencia uma aventura extraconjugal,
diz estar subornando juízes, procuradores e até ex-parlamentares (que hoje
gozam da hospitalidade do nosso sistema prisional), se afastaria até a
conclusão das investigações e, ao final, se tudo se resumisse a um falso positivo,
reassumiria o cargo. Mas renúncia exige grandeza, e grandeza está em falta nas prateleiras da política tupiniquim.
Getúlio
renunciou não só à presidência, mas também à vida. Jânio renunciou, mas, como reconheceu no livro “Jânio Quadros: Memorial à história do Brasil”,
fê-lo como um blefe, achando que voltaria fortalecido pelas bênçãos do povo e
das Forças Armadas ― e se deu mal. Collor,
o primeiro presidente eleito pelo voto popular na “Nova República”, renunciou, às
vésperas do julgamento do impeachment, mas apenas para tentar salvar seus
direitos políticos ― não funcionou; ele foi apeado da presidência e ficou
inelegível por oito anos. Dilma não renunciou ― e acabou penabundada.
Temer parece
decidido a imitar sua antecessora e se agarrar ao cargo com unhas e dentes ― falando
na mulher sapiens, diante da situação delicada em que se encontra seu desafeto,
a mentecapta teve o desplante de postular a anulação do seu impeachment e sua
recondução ao Planalto. Uma ideia tão mirabolante quanto a de certo
penta-réu que tentar escapar do
xilindró candidatando-se à sucessão presidencial. Mas isso é conversa para
outra hora.
Como bem salientou Roberto
Pompeu de Toledo ― em mais um brilhante artigo publicado na Revista Veja desta semana ―, a grandeza
da renúncia ofereceu-se pela primeira vez a Michel Temer no dia do impeachment de Dilma. Se abdicasse de seus direitos de vice naquela ocasião, teria
aberto caminho para eleições das quais surgiria um presidente abençoado pelo
voto popular e com um mandato de mais de dois anos pela frente. A segunda vez
se deu quando suas conversas com Joesley
Batista foram divulgadas. Nesse caso, os benefícios não seriam amplos como
na vez anterior, nem para o país ― porque o sucessor já não viria por eleição
direta ― nem para ele próprio ― porque o gesto não apagaria a fatídica conversa
de sua biografia. Seria, ainda assim, um gesto de grandeza, mas que ele repudia
enfaticamente: “Se quiserem, me derrubem”. Ofertas de grandeza não costumam
aparecer a toda hora, e como Temer
já desperdiçou duas, tudo indica que vamos ficar sem elas.
Como também foi dito no post anterior, em não ocorrendo a
renúncia espontânea, Temer poderá
cair via impeachment ou ser afastado pelo STF
― atendendo a um pedido da PGR, o
ministro Edson Fachin autorizou a
abertura de inquérito para investigá-lo no imbróglio da JBS. A questão é que, tanto num caso como no outro, a coisa poderia
se arrastar por meses, e isso seria traumático para um país que depôs uma
presidente da República há menos de um ano. Ficamos, então, na expectativa de a
chapa Dilma-Temer ser cassada pelo TSE na próxima semana ― mesmo que seja
interposto recurso ao Supremo, o resultado seria mais rápido que o das
alternativas anteriores. Por outro lado, é possível e até provável que algum
dos ministros do TSE peça vista do
processo, e aí só Deus sabe quando o julgamento será retomado (voltarei a esse
assunto oportunamente).
O STF deve se
pronunciar nesta tarde ― estou escrevendo este texto às 14 horas do dia 31 de
maio ― sobre a restrição ao foro privilegiado para parlamentares. O caso
concreto que será apreciado é de relatoria do ministro Luiz Roberto Barroso e envolve a restrição de foro do atual
prefeito de Cabo Frio, Marcos da Rocha
Mendes.
Barroso
argumentou que o atual sistema “é feito para não funcionar” e se tornou uma
“perversão da Justiça”, e disse ainda que “não é preciso prosseguir para
demonstrar a necessidade imperativa de revisão do sistema. Há problemas
associados à morosidade, à impunidade e à impropriedade de uma Suprema Corte
ocupar-se, como primeira instância, de centenas de processos criminais. Não é
assim em parte alguma do mundo democrático”. Segundo o ministro, existem na
Corte aproximadamente 500 processos contra parlamentares, sendo 357 inquéritos
e 103 ações penais. “O prazo médio para recebimento de uma denúncia pelo STF é de 565 dias, ao passo que um juiz
de primeiro grau a recebe, como regra, em menos de uma semana, porque o
procedimento é muito mais simples”.
Vamos acompanhar.