MACROBIÓTICA É
UM REGIME ALIMENTAR PARA QUEM TEM 77 ANOS E QUER CHEGAR AOS 78.
Desde que o Windows passou de interface gráfica
baseada no DOS à condição de sistema operacional autônomo (com o lançamento do
festejado WIN95, considerado como o
“pulo do gato” da Microsoft ―, os
usuários passaram a conviver com as incomodativas, mas necessárias,
reinstalações periódicas. Aliás, uma anedota que correu o mundo na década de 90
dizia que, se a empresa de Bill Gates fabricasse automóveis, vez por outra o motor “morreria” sem nenhuma
razão aparente, e o usuário teria simplesmente de aceitar o fato, descer do
carro, trancá-lo, tornar a destrancar, entrar novamente, ligar o motor e seguir
adiante.
Observação: Essa anedota, que vale a pena ser lida
na íntegra nesta
postagem, foi uma resposta jocosa da GM a Mr. Gates, que
teria afirmado que os carros da Microsoft,
se a empresa resolvesse produzi-los, custariam US$ 25 dólares e rodariam 1.000
milhas com um galão de gasolina.
Enfim, usar
o Windows (ou “Ruíndows”, como diziam os defensores do software livre) exigia constantes
reinicializações, além reinstalações completas, de tempos em tempo ― o que,
exageros à parte, não deixava de ser verdade. Isso talvez não fosse um problema
mais sério para os geeks de então,
mas era um sério aborrecimento para usuários iniciantes, pouco familiarizados
com o hardware e o software de seus PCs, que, no mais das vezes, precisavam
recorrer a algum amigo experiente ou a um Computer
Gay de confiança.
Mas o fato é
que o processo de instalação/reinstalação do Windows vem se tornando mais intuitivo e automático a cada nova
edição do sistema. Não que tenha se tornado algo rápido ou agradável, naturalmente,
até porque demanda atualizações, reconfigurações e personalizações demoradas e
trabalhosas, sem mencionar a reinstalação dos aplicativos e restauração dos
backups de arquivos pessoais (backups esses que, espera-se, o usuário tenha
tido o cuidado de criar com antecedência).
Por outro
lado, se no do Windows 9X/ME a gente se dava por feliz caso tivesse de reinstalar o sistema a cada 6 meses, hoje é
possível usar o computador por anos a fio sem ter de se dar a esse trabalho ―
desde que sejam feitas manutenções preventivo-corretivas regulares,
naturalmente. E boas ferramentas isso não faltam, conforme discutimos em várias
oportunidades (como na sequência de postagens que eu publiquei há poucas semanas).
Segundo um
velho ditado, melhor que saber fazer é
ter o telefone de quem sabe. Todavia, convém ter em mente que o Windows 10 facilita sobremaneira a vida
do usuário que se vê obrigado a reinstalá-lo. Em sendo o seu caso, abra o menu Iniciar e clique em Configurações > Atualizações e segurança
> Recuperação. Na tela que
se abre em seguida, repare que há duas opções: Restaurar
o PC e Inicialização Avançada.
Observação: No caso de você ter migrado para o Windows
10 há menos de 30 dias, uma terceira opção lhe permite retornar ao Eight ou ao Seven, conforme a edição que você utilizava originalmente, mas isso
já foge aos propósitos desta abordagem.
Certa vez, um padre
recém-ordenado foi designado para pastorar as almas num vilarejo qualquer, cujo
nome me foge à memória. No dia seguinte à sua chegada, o velho e impopular
prefeito da cidadezinha esticou as canelas e, durante o serviço fúnebre, o
sacerdote ― que nada sabia sobre a vida pregressa do finado ― convidou os
presentes a exortar suas virtudes. Mas a resposta foi um silêncio constrangedor.
O pároco insistiu:
― Como é, irmãos?
Ninguém se habilita?
Ninguém se habilitou.
― Então, dona Maria
― insistiu o religioso, agora dirigindo-se diretamente à viúva.
Depois de alguma
hesitação, a velha sentenciou:
― O pai dele era
ainda pior.
Embora seja a única
certeza que temos na vida, a morte constrange, intimida, atemoriza. Até porque
não se sabe o que virá depois, caso a passagem não leve a um sono eterno e sem
sonhos, como muitos acreditam. Para quem fica, no entanto, a vida segue seu
curso e o show tem de continuar. A propósito, vale relembrar outra passagem
interessante: em 1755, após o terremoto de Lisboa, o rei Dom José
perguntou ao General Pedro D’Almeida o que se
havia de fazer, e a resposta foi: “Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e
fechar os portos”.
Para muitos, falar
mal dos mortos é blasfêmia, mas, hipocrisias à parte, o simples fato de alguém
morrer não faz desse alguém um santo nem anula seus eventuais malfeitos. Mas
deixemos de lado essa discussão e voltemos à morte trágica do ministro Teori
Zavascki.
Aviões caem com
frequência ― ou são derrubados, como costuma dizer quem é do ramo (a propósito,
sugiro a leitura desta matéria). Mas as chances de alguém morrer num
desastre aéreo são ínfimas, se comparadas com as de um acidente de transito,
por exemplo. Até porque, com a possível exceção dos aeronautas, a maioria dos
viventes passa muito mais tempo em terra do que no ar.
Observação: A título de ilustração, a
probabilidade de um avião sofrer um acidente é de 1 em 1,2 milhão, sem
mencionar que 95,7% dos passageiros que se envolvem nesse tipo de acidente sobrevivem ao episódio. Os momentos mais “perigosos” são os
primeiros 3 minutos de voo que sucedem a decolagem e os oito minutos que
precedem a aterrissagem (nesses dois intervalos é que acontecem 80% dos acidentes). Refinando o raciocínio à luz
dessas variáveis, temos que a probabilidade de alguém morrer num acidente de
avião é de 1 em 11 milhões ― contra 1 em 5 mil em acidentes
terrestres (colisão de automóveis, atropelamentos, etc.); 1 para 6 em
decorrência de doenças cardíacas, 1 para 7 por câncer e, pasmem, 1 para 3,7
milhões de morrer em decorrência de um ataque de tubarão. Em última análise, os
mortais comuns têm mais chances de acertar a Mega-Sena do que de morrer
num acidente de avião.
Claro que é preciso
haver exceções à regra ― sem as quais não haveria estatísticas ―, e uma delas
foi o acidente que resultou na morte do ministro Teori Zavascki e demais
ocupantes do Beechcraft que caiu a poucos quilômetros de Paraty, na tarde da
última quinta-feira. Ou incidente, melhor dizendo, pois “acidente” nos
leva a pensar em algo aleatório e inesperado, decorrente causas naturais, imprevisíveis
ou inevitáveis; no caso em tela, diversos vetores convergentes dão margem a
dúvidas ― e a indefectíveis teorias da conspiração, onde os nomes dos
culpados variam, mas o objetivo é sempre o mesmo: melar a Lava-Jato.
Observação: Conspirações existem, e cada qual tem sua
origem e seu propósito. As teorias conspiratórias, por seu turno, quando não
são fruto de má-fé, são criadas porque nosso cérebro é vocacionado a dar
sentido a situações que parecem carecer dele, e quando se apresentam como
certezas incontestáveis, viram delírio. E a internet colabora, transformando-se
numa máquina de fabricar e disseminar conspirações com uma competência ímpar.
Uma vez que a suspeita começa a se espalhar, mais pessoas aderem, achando que
ela não pode estar errada, e o viés da confirmação tende a ser estimado, e não
verificado. O resultado pode ser um surto de delírio coletivo, que não deixa de
ser um alento provisório para quem tem dificuldade em aceitar a existência do
acaso e o fato de certas coisas na vida simplesmente não fazem sentido.
As virtudes de Zavascki
foram lembradas e exaltadas nos últimos dias, tanto por seus pares na Corte
quanto por políticos do alto escalão do governo, amigos e familiares. Mesmo
fora desse círculo, houve quem reagisse como se o ministro fosse um membro da
família ou um amigo próximo ― sinal dos tempos e do engajamento dos brasileiros
com questões relevantes da política; até pouco tempo atrás, contava-se nos
dedos quem entre nós era capaz de citar de memória a composição do STF
ou mesmo o nome do Ministro da Justiça ou do Procurador Geral de
República.
Zavascki
ascendeu ao Supremo em 2012, por indicação da anta vermelho (vade retro!), e acabou
sendo o relator dos processos da Lava-Jato naquela Corte. “Sem ele, não teria havido a Lava-Jato”, disse Sergio Moro,
embora, ironicamente, a primeira decisão do ministro ao assumir a relatoria do
processo, em 2014, foi de encontro a uma determinação do juiz de primeira
instância (Moro havia mandado prender Paulo Roberto Costa, o
primeiro delator da Lava-Jato, e Teori mandou soltar). Dalí em diante,
no entanto, Teori construiu a imagem de magistrado rigoroso, imparcial e
célere. Autorizou a abertura de investigações contra 47 políticos de todos os
matizes ideológicos, decretou a prisão do então senador Delcídio do Amaral
e determinou o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara Federal,
para citar apenas algumas de suas decisões mais relevantes. Quando o PT e o
PMDB ainda eram parceiros no governo, os chefes dos 3 poderes uniram forças numa
ofensiva para enterrar o petrolão, arquivar o impeachment de Dilma e
preservar o mandato de Cunha. A mulher
sapiens se reuniu em Portugal com o então presidente do STF, Ricardo
Lewandowski, e ambos chamaram Zavascki para participar da
maracutaia, mas o ministro declinou do convite e, com a discrição que lhe era
peculiar, salvou a Lava-Jato de um dos cercos mais ousados já tramados contra
ela.
Elogios (merecido) à
parte, causa estranhamento ninguém ter mencionado que Zavascki ia passar
o final de semana na ilha do empresário Carlos Alberto Filgueiras ― dono
da luxuosa rede de hotéis Emiliano e da malsinada aeronave. O fato de estar a
bordo do avião de Filgueiras não configura crime, mas tampouco favorece
o magistrado ― ou, no mínimo, coloca-o na mesma e incômoda posição de um Sérgio
Cabral que voava nas asas de Cavendish ou de um Lula aninhado
nos ares com a Odebrecht. Ou que, em 2015, ele tenha participado do casamento
do filho de um amigo ― o advogado Eduardo Ferrão ―, onde se encontrava
boa parte da elite empresarial tupiniquim enrolada na Lava-Jato. Ou ainda que,
numa de suas primeiras decisões no STF, Teori tenha dado o voto de
desempate que absolveu Dirceu, Genoino e Delúbio do crime
de formação de quadrilha. Enfim...
Teorias de
conspiração também à parte, causa estranheza o fato de a aeronave cuja queda
resultou na morte do ministro ser relativamente nova e estar em perfeitas
condições de operação. Ou que ela tenha caído a despeito de ser pilotada
justamente pelo comandante que mais se destacava entre seus pares pela
experiência em pousos no campo de Paraty, num pouso sob chuva moderada e sem
registro de ventos fortes. Ou ainda o depoimento de uma testemunha ocular,
segundo o qual “o avião foi baixando cada
vez mais, até que de repente ele soltou um bolo de fumaça branca, parecia a
esquadrilha da fumaça, passou por cima de nós, depois foi perdendo altitude,
veio rodando pela direita, bateu com a asa direita na água e capotou”.
Somando-se a isso o fato de que Zavascki estava prestes a homologar a “Delação
do Fim do Mundo” ― na qual 77 ex-executivos da Odebrecht denunciam e
detalham “práticas pouco republicanas” de mais de uma centena de políticos de
diversos partidos, alguns, inclusive, do mais alto escalão do governo federal,
além do molusco abjeto e de sua ignóbil sucessora ―, temos todos os ingredientes
para uma robusta teoria da conspiração, mas também uma conjunção de fatores
que levam a desconfiar de que a morte de Zavascki tenha sido meramente
acidental.
Quanto ao futuro da
Lava-Jato, há muita especulação, mas já se vê luz no fim do túnel da esperança:
a ministra Carmem Lucia já sinalizou que pretende avocar para si a
responsabilidade de homologar a Delação do Fim do Mundo ainda durante o
recesso (que termina no próximo dia 31). Se, depois disso, a relatoria será
sorteada entre os demais ministros da Corte ou apenas entre os quatro que
restaram na segunda turma com a morte de Zavascki, ainda não se sabe. Pelo
regimento interno, ressalvadas as exceções previstas nos incisos “b” e “c” do
artigo 38, vale o disposto pelo inciso “a”, que determina que: “em caso de aposentadoria ou morte, o relator
é substituído pelo ministro nomeado para sua vaga”. E é aí que mora o
perigo, porque o candidato à vaga será indicado por Michel Temer, sabatinado pela CCJ do Senado e chancelado pelo
plenário da Casa. E, convenhamos, não pegaria bem um presidente cujo nome é
suscitado por diversos delatores indicar o próximo relator da Lava-Jato e,
pior, o “candidato” ser avalizado por políticos investigados e denunciados no
âmbito da Operação. Felizmente, no último sábado, durante o
sepultamento de Teori Zavascki em
Porto Alegre, Temer afirmou que só
deverá fazer a indicação depois que o STF definir o novo relator dos processos
da Lava-Jato.
Por hoje é só. Continuaremos na próxima postagem.
Por hoje é só. Continuaremos na próxima postagem.
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