Antigamente, quando a gente comprava
um carro novo, precisava rodar os primeiros (milhares de) quilômetros sem
esticar demasiadamente as marchas ou andar em alta velocidade, sob pena de
danificar os componentes internos do motor, que ainda não estavam devidamente
ajustados. Somente depois desse “amaciamento” é que o veículo atingia seu melhor rendimento, tanto em desempenho quanto em consumo de
combustível.
Com o computador, no entanto, dá-se o contrário ― ou seja, a
performance tende a se degradar com o passar do tempo e o uso normal
do aparelho.
Embora a gente já tenha conversado
sobre essa “característica” dos PCs, não custa reforçar que é possível manter o
despenho do sistema em patamares aceitáveis com o uso de uma boa suíte de manutenção
― como o System Mechanic, o Advanced System
Care, o CCleaner e o Glary Utilities, dentre inúmeras opções que a gente já analisou em diversas oportunidades. Na falta desse recuso, convém ao menos rodar os utilitários que o Windows oferece para limpeza do disco, correção de erros e
desfragmentação dos dados. (Já expliquei "n" vezes como fazer isso, de modo que não faz sentido encompridar esta matéria "chovendo no molhado", se você tem dúvidas, pesquise o Blog ou deixe um comentário).
Mas não é só. Mesmo um sistema
saudável pode ter o desempenho melhorado com alguns ajustes simples.
Dentre outros, sugiro desabilitar a indexação
de busca, notadamente em máquinas de configurações (de hardware) mais
modestas. Isso porque esse serviço roda em segundo plano para agilizar
eventuais pesquisas que você só faz eventualmente, mas consome recursos do
computador durante todo o tempo. No cômputo geral,
é melhor esperar um pouco mais pelos resultados de uma pesquisa ― se e quando
você a fizer ― do que conviver com lentidão constante.
Continuamos na próxima postagem. Até lá.
NADA ALÉM DE INCERTEZAS
Ao investigar o presidente Michel Temer e afastar dois parlamentares do cargo, a PGR e o STF se tornaram alvos do Planalto e do Congresso. Receando pela
própria sobrevivência política, os aliados do governo não se constrangem em
descumprir decisão judicial e fustigar o procurador-geral, Rodrigo Janot, e o relator da Lava-Jato no Supremo, ministro Edson Fachin.
Antes restrita a conversas de bastidores, a
discórdia ficou explícita com a denúncia de que o Planalto teria acionado
o serviço secreto para investigar Fachin,
e o Senado, descumprido a
decisão judicial de afastar Aécio Neves. A fervura baixou nos
últimos dias, devido a um recuo estratégico de ambos os lados, mas as manobras
sub-reptícias persistem: aliados do governo tramam com Rodrigo Maia uma forma de arquivar o mais rápido possível a denúncia
contra Temer ― fala-se até que Maia cogita suspender o recesso
parlamentar para barrar o processo enquanto o presidente ainda conta com o
apoio de mais de 1/3 dos deputados.
Como a autorização pela Câmara deverá ser feita
mediante votação nominal, a intenção da PGR é constranger os deputados (vale lembrar que, no ano que vem, os eleitores
terão a chance de substituir todos os 513 deputados federais e 2/3 dos 81
senadores). Janot pretendia esperar
até o final deste mês para denunciar
Temer, mas agora cogita ampliar o leque de crimes,
o que resultaria em pelo menos duas ações penais contra o presidente. Além disso, o procurado aposta na
“colaboração” de Fachin, que parece
disposto a cumprir todos os prazos processuais ― o que retardaria a chegada da
denúncia à Câmara em pelo menos 20 dias e, consequentemente, frustraria o plano
do governo de votar antes do recesso.
Especula-se também que Temer indicará algum nome alinhado à sua causa para substituir Janot na PGR, em setembro, com o objetivo de frear a Lava-Jato. Isso interessa aos
congressistas alvejados por denúncias e processos, mas deve afastar os demais
do Executivo (como dito, as eleições estão aí), sem mencionar que a opinião
pública certamente irá se manifestar contra mais essa maracutaia.
Existe ainda a possibilidade ― remota, mas
enfim... ― de o STF passar a adotar
uma posição sistematicamente obstrucionista. Um bom indício nesse sentido foi a atuação do
ministro Gilmar Mendes no julgamento
da chapa Dilma-Temer. Restam 10
ministros no Supremo, e nem todos são admiradores confessos de Temer, mas o governo briga
pela sobrevivência e já mostrou que está disposto a “ir até o fim” (que se ferre
o Brasil e que se lasquem os brasileiros).
Temer
se vale do fato de seus aliados não terem força suficiente para excretá-lo a baixo custo e de os adversários preferirem o apodrecimento progressivo à
ruptura de consequências incertas. Para um moribundo, cada dia a mais é uma vitória, e o governo aposta que uma melhora na economia lhe dê alguma força para influir na sucessão e proteger o presidente e seus comparsas. Não é o melhor plano, mas não
deixa de ser um plano, embora seja grande o risco de Temer não ver sequer aprovadas as reformas que defende ou de chegar ao final de 2018 no cargo, pois novas denúncias poderão surgir para sangrá-lo em praça pública.
Como escreveu Ricardo Noblat em seu blog, quando só o problema tem as chaves da
solução, a tendência da crise é perenizar, num processo de contaminação
progressiva. Os atores “neutros” vão sendo arrastados para o ringue, e os
árbitros vão perdendo a capacidade de arbitrar. Até que alguém, velho ou novo,
prevaleça pela força e corte o nó górdio, pois nenhuma crise dura para sempre. Mas parece que ninguém tem a espada mágica. Um desembarque do PSDB certamente catalisaria o impulso
para Temer cair pela via congressual, pela autorização ao STF ou mesmo por impeachment. Só que o PSDB também reluta ― por razões óbvias
― em contribuir para fortalecer decisivamente a Lava-Jato, o Ministério Público
e a Justiça.
A situação não pode se eternizar, mas pode se estender até as próximas eleições, e é nisso que
apostam o núcleo dirigente do PT e Lula, que hoje preferem o cenário de
definhamento progressivo do governo Temer.
O problema do PT é que, se o atual governo tem instrumentos para bloquear ― ou pelo menos frear ― as coisas
em Brasília, os petralhas não têm como neutralizar Curitiba, e a ameaça
para Lula e o PT está no Paraná, não em Brasília. Mesmo assim, os esquerdopatas
esperam que a derrocada do governo lhes sirva de “mão do gato” para tirar
castanha do fogo. Lembro que eles também achavam que o fiasco de Sarney propiciaria uma virada em 1989, e o resultado a gente sabe
muito bem qual foi.
É fundamental ter em mente que nosso maior
problema não é Temer nem Lula, mas a falta de oposição. O PSDB, tão inútil quanto um sexto
dedo do pé, teve seu momento de glória ao emplacar FHC, que, quando ministro de Itamar,
conseguiu vencer a hiperinflação sistêmica com o Plano Real, mas deixou a
esquerda criar asas e perdeu a presidência para Lula. O sonho de recuperá-la em 2010 até poderia ter se
concretizado se o tucanato tivesse se empenhado mais, mas esse cemitério de
egos ainda não se conscientizou de que brigar entre si não serve como treinamento
para lutar contra os verdadeiros adversários.
O PSDB
nasceu socialdemocrata, mas foi perdendo vigor conforme se distanciava da
sociedade e passava a se orientar pela lógica do poder, notadamente depois de se tornar oposição aos governos do PT. Depois da derrota de Aécio em 2014, o partido entrou em
parafuso. É certo que tenha contribuído para o impeachment de Dilma, que o tenha feito em nome da estabilidade, da governança, da
austeridade, da “salvação nacional”, e que tenha apoiado a ideia de se ter um governo de
transição que, mantendo de pé uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior
fase da crise e entregasse o país em melhores condições para o presidente a ser
eleito em 2018. Só que nada fez para influenciar ou direcionar esse governo, que se deixou impregnar pelos
interesses escusos do Congresso e pela preocupação em esvaziar a Lava-Jato e
recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande política pela
pequena política. Um governo de perfil “parlamentar”, mas com uma base pouco
confiável, sem grandeza e sem projeto, que se refletiu na composição
ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS.
O PSDB
ficou ainda mais desmoralizado com o afastamento judicial de Aécio Neves, cuja imagem de bom moço
enganou meio mundo (e aí se inclui este obscuro articulista). Com seu espaço de
manobra reduzido, os tucanos optaram por permanecer no barco, mas, por não terem forças para assumir o leme, dividiram-se entre “cabeças pretas” e “cabeças
brancas”. Por não conseguir esclarecer as razões da opção, o partido virou as costas para
a opinião pública e deixou que se fechasse a janela de oportunidade que lhe
permitiria resgatar a imagem que teve outrora, qual seja de alternativa lógica
para quem já não suporta mais corruptos como os do PT e do PMDB.
Observação:
Na semana passada, a prisão temporária da
irmã de Aécio foi mantida por decisão da 1ª Turma do Supremo, que decidirá, na próxima terça-feira, se pede
ou não a prisão do próprio senador. Lula
e PT, “esquecidos” temporariamente
devido ao cataclismo gerado pela delação da JBS, apostam no “quanto pior melhor” para prolongar a crise e
capitalizar suas chances no pleito de 2018. Para esses imprestáveis, é
imperativo manter a militância coesa e vender a ilusão de que somente o molusco abjeto poderá reverter a crise que ele mesmo ajudou a
criar ao escolher Dilma para
sucedê-lo no final do seu segundo mandato. E o pior é que sempre tem quem
compra.
Enfim, o PSDB
fez sua aposta ― pouco importando, nesse contexto, ta “fresta” deixada aberta para o caso de “fatos novos” forçarem uma revisão da decisão. Disseram seus caciques
que decidiram balizados pela “ética da responsabilidade”, quando na verdade
foram motivados por expectativas futuras de autopreservação.
Combate à corrupção, reforma política e qualificação da democracia saíram da
agenda, o que também possibilita ao PT
embarcar nessa canoa, juntando a fome com a vontade de comer.
Manter apoio ao governo foi mais um tijolo na
obra de desconstrução do tucanato. Algo que certamente cobrará seu preço, tanto do partido, que prolongou sua indefinição, quanto da política nacional, que
perdeu outro personagem que poderia fazer a diferença. Ou será que a sociedade,
a opinião pública e o eleitorado perdoarão os tucanos nas próximas eleições?
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