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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

PROCURAM-SE OS CULPADOS


Golpes de Estado pressupõem lideranças, mas ninguém se responsabilizou pela versão tabajara da invasão do Capitólio, mediocremente executada por um bando de fanáticos estimulados por Jair Messias Bolsonaro, e que só malogrou porque não teve o apoio incondicional dos militares, das PMs e da PF.
 
Bloqueios em rodovias e acampamentos montados defronte a quarteis do Exército eram sinais evidentes de que a merda estava prestes a bater no ventilador, mas foram ignorados ou relativizados. Lula disse que houve uma tentativa de golpe de Estado", que os invasores foram orientados por Bolsonaro (que sabia de tudo e, por isso, continua escondido na cueca do Pateta), que "alguém de dentro do palácio" abriu as portas para os vândalos, que o serviço de inteligência do governo "não existiu"... e que é contra a instalação de CPI para apurar o episódio.
 
A presidência caiu no colo de Bolsonaro porque vivemos num arremedo de projeto de banânia, onde o "nós contra eles", semeado pelo lulopetismo corrupto há quase meio século, produziu o bolsonarismo boçal. No entanto, a emenda feita para evitar a volta do ladrão à cena do crime (palavras do vice Geraldo Alckmin, a quem falta vergonha na cara, mas sobra conhecimento de causa) saiu pior que o soneto. E quem entrega a chave do galinheiro às raposa abdica do direito de reclamar do sumiço das galinhas.
 
Isso explica por que um ex-presidente corrupto foi descondenado, teve a ficha imunda lavada e foi reinserido no tabuleiro da sucessão presidencial, mas o fato de um sacripanta desprezível ser venerado por milhões de fanáticos — não que os sectários do demiurgo de Garanhuns sejam gente melhor, mas isso é outra conversa — continua sendo um mistério. 
 
Milhões de pessoas supostamente esclarecidas parecem não entender que um ataque ao Estado de Direito foi desfechado no último dia 8, a despeito de a barbárie ter sido transmitia ao vivo e em cores pela televisão. No entanto, boa parte do povinho de merda que o Criador colocou neste país de merda se declara negro para roubar o lugar de alguém num concurso; que, ao votar, faz invariavelmente as piores escolhas; que dá ouvidos a imbecis que desacreditam as vacinas; que cobre o focinho com a bandeira nacional e depreda o patrimônio público a golpes de picareta, e por aí segue a procissão. Para essa gentalha, até a realidade é relativa.
 
Devido a suas declarações golpistas (que Arthur Lira e Augusto Aras ignoraram solenemente), Bolsonaro encabeça a lista dos responsáveis pelos ataques do dia 8. Lideranças do PL defendem seu retorno ao Brasil, por considerarem que a demonstração de apoio popular — 58 milhões de votos — seria sua melhor defesa, mas o sociopata genocida deve continuar escondido na cueca do Pateta. 
 
Pensando bem, dizer que vivemos em um país de merda é elogio.

sábado, 9 de outubro de 2021

NÃO PODE DAR CERTO

 

"Tem de dar certo" é conselho de mãe de miss. Mas a expressão "dar certo" é usada também com a acepção de "produzir bons resultados". E foi com esse sentido em mente que eu intitulei esta sequência sobre o país do futuro que nunca chega porque tem um longo passado pela frente.

Tudo começou milhões de anos antes de Cabral — falo do navegante português, não do ex-governador carioca que por algum motivo continua preso (o fato de ter sido condenado a 400 anos de prisão não é motivo para mofar na cadeia; não no Brasil). 

Depois de transformar o Caos em ordem, criar o dia e a noite, separar as terras das águas, criar as plantas, as aves, os peixes, o Criador fez no sexto dia a maior de todas as burradas: “Agora vamos fazer os seres humanos, que serão como nós, que se parecerão conosco. Eles terão poder sobre os peixes, sobre as aves, sobre os animais domésticos e selvagens e sobre os animais que se arrastam pelo chão”, disse o Senhor das Esferas. E ao ver que "tudo era bom (?!)", Ele abençoou e santificou o sétimo dia e nele descansou. 

Comenta-se que, ao ser acusado de protecionismo devido ao tratamento dispensado à porção global que se tornaria o Brasil, Deus respostou: "vocês vão ver o povinho de merda que eu vou colocar lá". A meu ver, isso resume de maneira lapidar a história da nossa republiqueta de bananas. Mas nunca é demais relembrar alguns aspectos insólitos dessa tragicomédia, a começar pela chegada da esquadra de Cabral ao litoral do que estava destinado a ser a costa da Bahia.

Registram os livros de História que, aos 22 dias do mês de abril do Anno Domini 1.500, depois de ter sido desviada de seu destino original (Calicute, nas Índias Ocidentais), não se sabe ao certo se por uma tempestade ou uma calmaria, a esquadra cabrália aportou na costa brasileira. Em epístola endereçada a D. Manuel, "O Venturoso", comunicando a "descoberta" de terra brasilis, o escriba Pero Vaz de Caminha anotou que "em se plantando tudo dá", e aproveitou o ensejo para rogar a sua majestade que intercedesse em favor do marido da filha, inaugurando a corrupção em solo tupiniquim, ainda que na forma de nepotismo.

O Brasil foi colônia portuguesa até o início do século XIX, quando a família real, ameaçada pelo Tratado de Fontainebleau, mudou-se de mala e cuia para o Rio de Janeiro, depois de uma breve escala em Salvador (BA). Em 1822, D. Pedro I proclamou a independência, e dali a 67 anos o marechal Deodoro da Fonseca pôs fim à monarquia constitucional parlamentarista, apeou o monarca e implementou o presidencialismo republicano como forma de governo, protagonizando o primeiro dos muitos golpes de Estado que se sucederiam a partir de então.

Ao longo da história republicana do Brasil, ao menos quatro presidentes renunciaram — Deodoro da Fonseca, em 1891; Getúlio Dornelles Vargas, em 1945; Jânio da Silva Quadros, em 1960; e Fernando Affonso Collor de Mello, em 1992. Dos cinco que foram eleitos pelo voto direto desde o fim da ditadura militar, Collor e Dilma foram expulsos de campo antes do final do jogo. 

O pseudo caçador de marajás foi alvo de 29 pedidos de impeachment — mas nunca foi chamado de genocidaItamarFHCLula e Temer foram agraciados com 4, 27, 37 e 33 pedidos de impeachment, respectivamente, mas concluíram seus mandatos sem jamais ser chamados de genocidas. Madame foi alvo de 68 pedidos — e acabou penabundada porque estava quebrando o país —, mas ninguém jamais a acusou de genocídio.

Desde que se tornou um\ República, o Brasil amargou 38 presidentes (o número varia de 35 a 44, dependendo de como é feita a contagem). De 1926 para cá houve 25 mandatários, mas somente quatro dos que foram eleitos pelo voto popular concluíram seus mandatos — Eurico Gaspar DutraJuscelino KubitschekLula Fernando Henrique. Seriam seis se Collor e Dilma não tivessem ingressado na seleta confraria dos depostos, onde já se encontravam Washington LuísJúlio PrestesGetúlio Vargas, Carlos Luz, João Goulart.

Fosse esta banânia um país que se desse ao respeito e o mandatário de turno já teria sido devidamente despejado e internado. Pedidos de impeachment não faltam: em fevereiro, quando o deputado-réu Arthur Lira assumiu a presidência da Câmara, havia 60 petições protocoladas em desfavor da permanência do motoqueiro fantasma no Palácio do Planalto. Atualmente, são cerca de 140 — e contando.

Continua...

segunda-feira, 17 de maio de 2021

A FARSA NACIONAL


De acordo com a epístola enviada por Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel em abril de 1500, a primeira porção da Terra Brasilis avistada pela trupe de Cabral foi o Monte Pascoal: “(...) Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal (monte da Páscoa) e à terra A Terra de Vera Cruz!”, anotou o escriba ao descrever o “descobrimento do Brasil”.

O detalhe é que àquela altura o espanhol Vicente Yáñez Pinzón já havia aportado na costa de (hoje) Pernambuco (em 26 de janeiro de 1500), e sete anos antes o rei português D. João II ameaçara declarar guerra à Espanha se o papa Alexandre VI não revisasse os limites estabelecidos pela Bula Inter Coetera — o que originou o Tratado de Tordesilhas, firmado em junho de 1494.

Tanto a expedição de Pinzón quanto o insurgimento do monarca são indícios claros do que ficou comprovado documentalmente séculos depois: Portugal já sabia da existência de terras na porção sul do “novo continente” descoberto por Cristóvão Colombo. Demais disso, uma expedição secreta comandada por Duarte Pacheco Pereira aportou na costa brasileira em 1498, à altura do que hoje corresponde ao litoral do Maranhão — antes, portanto, de Pinzón. Mas o rei de Portugal determinou que a descoberta fosse mantida em segredo até que uma nova missão (a de Cabral) “tomasse posse oficialmente” daquelas terras.

O Brasil foi batizado como tal por conta da abundância da madeira Caesalpinia Echinata, conhecida popularmente como pau-brasil — da qual se extraía uma resina cor-de-brasa, que era muito usada para tingir tecidos. Antes de ganhar esse epíteto, o país foi batizado de Pindorama (pelos nativos); de Ilha de Vera Cruz (em 1500); de Terra Nova e Terra dos Papagaios (em 1501); de Terra de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz (em 1503); de Terra Santa Cruz do Brasil e Terra do Brasil (em 1505), e de Brasil, em 1527.

Alcunhado de Gigante Adormecido e País do Futuro (que nunca chega), entre outros epítetos, o Brasil, seja como colônia, reino unido, império ou república, nunca deixou de ser uma banânia que aspirava a ingressar na seleta confraria das nações do assim chamado “primeiro mundo”. Segundo uma velha (e filosófica) anedota, o Senhor das Esferas estava criando o mundo quando um anjo apontou para a porção que mais adiante corresponderia ao Brasil e disse: “Esta terra será um verdadeiro paraíso para a humanidade; o clima é agradável, há lindas florestas e praias, grandes e belos rios, e nada de desertos, geleiras, terremotos, vulcões ou furacões. Por que tanto protecionismo, Senhor? E Deus respondeu: Ah, meu caro anjo, espera só pra ver o povinho filho da puta que eu vou colocar aí.”

Como dito linhas acima, a farsa começou com o “descobrimento” e seguiu pela denominação dos nativos. Os portugueses chamaram os silvícolas de “índios” porque, ao aportar no novo continente, o genovês Cristóvão Colombo supôs ter chegado às “Índias Orientais” — daí as Américas ficarem conhecidas na Europa como “Índias Ocidentais”.

Observação: O expressão “descobrimento da América” não é aceita universalmente pelos historiadores. Primeiro, porque a expedição espanhola capitaneada por Colombo não tinha por objetivo chegar a terras desconhecidas, mas sim ao continente asiático. Segundo, porque os primeiros europeus a chegar à América foram os Vikings, no século X (ainda que, diferentemente dos espanhóis e portugueses, eles não tiveram sucesso na tentativa de se estabelecerem no novo continente). Demais disso, a América não precisava dos europeus — ou da chegada deles — para existir. Ela já existia em si muito antes disso e era habitada por milhões de habitantes que formavam diferentes sociedades, algumas delas com alto grau de sofisticação.

Ainda sobre o descobrimento e a farsa nacional, os compêndios de História registram que a esquadra de Cabral zarpou de Lisboa com destino a Calicute, mas uma tormenta (ou uma calmaria, dependendo de quem conta o conto) a desviou da rota e voilà: foi “descoberto” o Brasil. A “Relação do Piloto Anônimo” — que, ao lado das cartas de Caminha e de Mestre João, é um dos três testemunhos diretos do descobrimento do Brasil que sobreviveram ao tempo —, relata o naufrágio da nau comandada por Vasco de Ataíde, mas a epístola do escriba oficial da esquadra registra que a viagem até a costa brasileira transcorreu na mais completa normalidade, “sem haver tempo forte ou contrário para que assim pudesse ser”.

A região do suposto naufrágio era conhecida como “calmas equatoriais” — já que os ventos deixavam de soprar por dias, ou semanas, e as embarcações ficavam ao sabor das correntes marinhas. Em seu admirável estudo sobre a viagem de Cabral, o contra-almirante Max Justo Guedes anotou que durante a tal calmaria a frota cabrália teria sido empurrada cerca de 90 milhas para oeste pela Corrente Equatorial Sul, mas esse deslocamento seria insignificante e não poderia ter causado o “descobrimento casual do Brasil”. Também como dito linhas acima, a chegada da expedição portuguesa ao litoral baiano não se deveu nem a tormentas, nem a calmarias. Portugal soube de sua existência anos antes desse suposto “descobrimento” e, tecnicamente, já tinha posse das terras quando Cabral nelas desembarcou.

A farsa segue pela independência, que os livros didáticos transformaram numa obra de ficção. O famoso “Grito do Ipiranga”, dado por D. Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, às margens do riacho do Ipiranga, só aconteceu porque o príncipe regente foi acometido de poderosa caganeira e fez alto para esvaziar os intestinos atrás de uma moita.

Enquanto o nobre executava essa gratificante tarefa, acercou-se da comitiva um mensageiro portando três cartas. A primeira, assinada por D. João VI, ordenava ao nobre rebento que regressasse imediatamente a Portugal e se submetesse ao Rei e às Cortes; a segunda, de José Bonifácio, aconselhava-o a romper com Portugal; a terceira, da Imperatriz Leopoldina, dileta consorte do príncipe (noves fora Domitila de Castro Canto e Mello, mais conhecida como Marquesa de Santos), transmitia ao marido o seguinte recado: “O pomo está maduro; colhe-o já, antes que apodreça”. Impelido pelas circunstâncias, D. Pedro, que já estava mesmo fazendo merda, aproveitou o ensejo para romper os laços de união política com Portugal e declarar a independência do Brasil.

Proclamação da República, também cantada em verso e prosa com pompa e circunstância, foi o primeiro dos muitos golpes de Estado que estavam por vir. Dito com outras palavras, a Primeira República começou com um golpe militar e seu primeiro mandatário — marechal Manuel Deodoro da Fonseca — foi eleito indiretamente e, dois anos depois, “convidado por seus irmãos de farda” a deixar o cargo. 

Ao longo de 131 anos de história republicana (completados em novembro do ano passado), 38 presidentes chegaram ao poder pela via do voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado (como até o passado é incerto neste país, esse número varia entre 35 e 44). Destes, oito foram de alguma forma apeados do cargo antes do fim do mandato.

Dos cinco presidentes eleitos pelo voto direto desde o fim da ditadura militar — Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Bolsonaro —, o primeiro e a penúltima foram expulsos de campo antes do final do jogo. O caçador de marajás de festim — que inaugurou a lista dos chefes do Executivo Federal depostos devido a crimes de responsabilidade — colecionou 29 pedidos de impeachment. Mas nunca foi chamado de genocidaItamarFHCLula e Temer foram agraciados, respectivamente, com 4, 27, 37 e 33 pedidos de impeachment, mas concluíram seus mandatos e jamais foram chamados de genocidas. A gerentona de araque foi penabundada porque estava quebrando o país. Madame foi alvo de 68 pedidos de impeachment, mas ninguém jamais a acusou de genocídio.

Por essas e outras, fosse esta banânia um país que se desse ao respeito, o mandatário de turno já teria sido despejado e internado. Antes mesmo de completar um ano no cargo, o capitão já abria larga dianteira em relação a seus antecessores. Em fevereiro passado, o réu que sucedeu a Rodrigo Maia na presidência da Câmara herdou uma pilha com cerca de 60 pedidos de abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro. Hoje, são quase 120

Embora vivesse às turras com o chefe do Executivo, Maia não deu andamento a nenhum dos pedidos de impedimento do desafeto. “Houve erros, mas não crimes de responsabilidade”, disse o ex-presidente da Câmara, que agora corre o risco de ser contraditado pela CPI da Covid. E Arthur Lira segue na mesma linha: pressionado, o deputado centrista cearense disse candidamente que todos os pedidos que ele analisou são “inúteis”. Quando se põe a raposa para tomar conta do galinheiro, ela encarrega as outras raposas de investigar o sumiço das galinhas.

Em março de 2020, quando o Brasil contabilizava 6 mil mortes pela “gripezinha”, o jornal norte-americano The Washington Post concedeu a Bolsonaro o título de pior líder mundial no combate à pandemia. Hoje, são 435 mil os cadáveres produzidos pela doença — dois terços das quais se deveram a ações e omissões de um mandatário negacionista e genocida

O supremo togado Gilmar Mendes, o deputado federal Kin Kataguiri, o abutre vermelho Lula, seu bonifrate Fernando Haddad e o youtuber Felipe Neto são alguns exemplos de autoridades e influencers que já classificaram Bolsonaro de genocida. Em mensagem enviada a um grupo de ministros do STF, o então decano da Corte Celso de Mello comparou o presidente a Hitler, e uma coalizão que representa mais de um milhão de trabalhadores da saúde no Brasil, apoiada por entidades internacionais, denunciou-o ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, por crimes contra a humanidade e genocídio. Semanas atrás, Miguel Urbán Crespo, integrante do Parlamento Europeu, disse durante um discurso em plenário que a “necropolítica” do presidente brasileiro no combate à pandemia constitui um crime de lesa-humanidade, e que Bolsonaro não é só um perigo para o Brasil, mas para o mundo inteiro.

A despeito de tudo isso, as pesquisas de intenção de voto indicam que o circo da sucessão terá como protagonistas (de novo) os dois extremos do espectro político-ideológico. A diferença é que desta vez o extremista de esquerda poderá dispensar o “poste” e disputar o pleito pessoalmente, uma vez que o STF lavou sua ficha imunda — criando a bizarra figura do “ex-corrupto”.

Falando em “postes”, elegê-los tornou-se uma especialidade de Lula. Certa vez, depois de um jantar regado a “Romanée-Conti” — um dos vinhos da Borgonha mais caros do mundo, que chega a custar US$ 25 mil a garrafa —, o então presidente, entre baforadas da cigarrilha cubana acesa pelo diligente Delúbio Soares, assim se dirigiu a seus asseclas:  Sabem, ‘cumpanhêros’, hoje, sem falsa modéstia, eu elejo até um poste para governar o Brasil.”

E elegeu mesmo. Só que antes de empalar a nação com Dilma Rousseff, a gerentona de araque, Lula havia designado José Dirceu — egresso da DGI (órgão cubano de espionagem financiado pela KGB) —, que lhe fazia as vezes de ministro-chefe da Casa Civil. Mas a canoa virou quando o ex-guerrilheiro de festim foi denunciado pelo deputado Roberto Jefferson como operador-mor do Mensalão.  

Outro “poste” que o Parteiro do Brasil Maravilha tentou conduzir à Presidência foi o “cumpanhêro” médico ribeirão-pretano Antonio Palocci — coordenador de sua equipe de transição e ministro da Fazenda em seu ímprobo governo. Mas o barco afundou quando veio a lume o imbróglio envolvendo o caseiro Francenildo Costa, testemunha de acusação contra Palocci no “Escândalo da República de Ribeirão Preto” (cujo cenário era uma mansão de Brasília onde rolavam negociatas do governo e encontros com prostitutas, agendados pela cafetina Jeany Mary Corner).

Assim, o único poste que deu certo afora Fernando Haddad — este somente na disputa pela prefeitura de São Paulo e apenas em 2012, já que foi derrotado por João Doria quando tentou se reeleger em 2016, e por Jair Bolsonaro na disputa pela Presidência em 2018 — foi a prosaica figura que, antes de se aventurar na política, faliu duas lojinhas de R$ 1,99 em Porto Alegre (RS); que sem saber atirar virou modelo de guerrilheira; que sem ter sido vereadora virou secretária municipal; que sem passar pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado; que sem estagiar no Congresso virou ministra; que sem ter inaugurado nada de relevante fez pose de gerente de país; que sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de palanque; que sem ter tido um único voto na vida até 2010 foi eleita presidente desta banânia e levou o país à insolvência, a inflação à casa dos 2 dígitos e o desemprego à das dezenas de milhão.

Depois de um dos maiores estelionatos eleitorais da nossa história (atrás apenas do que seria promovido pelo então candidato à Presidência em 2018), a presidanta arroganta e pedanta foi reeleita, mas acabou afastada do cargo 1 ano e 5 meses depois e devidamente penabundada dali a pouco mais de 3 meses. No parecer do então PGR Rodrigo Janot, o impeachment desse “poste” também encampava, no “conjunto da obra”, os crimes de corrupção ativa e passiva, obstrução da justiça e organização criminosa.

Concluída esta (não tão) breve introdução, passo a tratar do cenário (lamentável) que se descortina à luz das recentes (e prematuras) pesquisas de intenção de voto, que, sem exceção, apontam para o embate (de novo) entre o nhô ruim e o nhô pior — ou por outra, entre o antilulopetismo e o antibolsonarismo. A se confirmar essa perspectiva desalentadora, o eleitor consciente (e isso exclui as torcidas organizadas de ambos os contendores) será novamente forçado a optar pelo “menos pior”. Mas é preciso ter em mente que, quando se escolhe o menor de dois males, ainda assim o que se escolhe é um mal.

Quem vaticina que o embate entre Lula e Bolsonaro é inevitável não está fazendo análise política, está contribuindo para criar uma profecia autorrealizável. Se aqueles que não querem que essa polarização se repita virem-na como inevitável, assim será. Portanto, não é hora de crer em vaticínios e inevitabilidades, mas sim de criar alternativas.

Para concluir (por hora, pois voltar a este tema será inevitável), cumpre salientar que os números do DataFolha apontam que 41% dos entrevistados responderam que votarão em Lula (uma vantagem de 18% em relação a Bolsonaro). Num eventual segundo turno, o petista atrairia os eleitores de Doria, Ciro e Huck (note que o apresentador global ainda não confirmou a candidatura) e o capitão sem partido ficaria com a maior fatia dos eleitores de Moro (o ex-juiz já afirmou que não participará da disputa). Nesse cenário, Lula venceria Bolsonaro por 55% a 32%.

Realizada na mesma semana, a enquete do Paraná Pesquisas aponta 32,7% das intenções de voto em Bolsonaro e 29,3% em Lula — no segundo turno, o capetão venceria o petralha por 42,5% a 39,8%. Os números do Atlas Político também favorecem Bolsonaro no primeiro turno(37% a 33,2%) mas dão a vitória a Lula no segundo (45,7% a 41%). O XP/Ipespe aponta empate no primeiro turno (ambos com 29%) e vitória de Lula no segundo (42% a 40%). O PoderData indica empate no primeiro turno (ambos com 32%) e vitória do petralha no segundo (50% a 35%).

Cenários variados de disputa, datas não coincidentes de apuração e defasagem de dados oficiais — problema realçado com o adiamento do Censo — ajudam a explicar resultados divergentes de pesquisas, diz o Valor Econômico. Mas a questão é que a amplitude dessas divergências vai bem além das margens de erro, como ficou explícito depois que o Datafolha deu conta de que Lula precisaria tirar só três pontos dos rivais para vencer já no primeiro turno, que Bolsonaro vem bem, com 23%, e outros seis concorrentes têm desempenho de um dígito.

Como se viu, o panorama é diverso segundo dados do Ipespe, contratado pela XP, e do PoderData, vinculado ao site Poder360 — ambos mostram Lula e Bolsonaro numericamente empatados. As entrevistas do Ipespe foram concluídas cinco dias antes do Datafolha. Já o período de coleta do PoderData coincide quase que inteiramente com o do Datafolha. Há ainda a pesquisa Atlas, iniciada após o Ipespe e concluída antes do Datafolha, que mostra Bolsonaro líder.

Nos quadros de segundo turno os números também são divergentes. E uma curiosidade: o PoderData, que tem resultados distantes do Datafolha no primeiro turno, mostra dados mais próximos do Datafolha no segundo. No Ipespe os resultados apontam empate técnico. O Atlas traz Lula com 45,7%, quase cinco pontos acima de Bolsonaro, e tanto o Datafolha quanto o PoderData mostram Lula com ampla vantagem.

Responsável pelo Ipespe, o cientista político Antônio Lavareda divulgou uma nota em que lista “fatores básicos que teoricamente seriam capazes de explicar as diferenças”. Entre eles, momentos distintos de apuração e diferenças nos total de entrevistados, mas Lavareda enfatiza mais o método de abordagem de entrevistados — presencial ou por telefone — e as variáveis de controle — recursos para verificar a consistência das informações coletadas.

Mauro Paulino, diretor do DataFolha, defende o método presencial em casos eleitorais. Para ele, o uso de um cartão circular com os nomes dos candidatos distribuídos em fatias idênticas é a única forma de não privilegiar um nome no instante da pergunta, o que contaminaria o estudo. “Para outras pesquisas, achamos perfeitamente possível o uso do telefone. Para eleitoral, não. Por telefone, o entrevistador necessariamente terá que citar um nome antes”, diz ele.

Lavareda destaca o que entende ser desvantagens da pesquisa presencial: “Na pandemia, em que se recomenda distanciamento social, é plausível que muito mais pessoas temam ser abordadas nas ruas”. Ele lembra ainda que não se usa mais esse método na Europa e nos EUA e que o acesso do eleitorado brasileiro ao celular é universal.

A ideia segundo a qual um certo perfil não seria alcançado na rua, pois muitos estão isolados ou em home office, é rechaçada por Paulino. “Só 6% estão totalmente confinados. Mas mesmo essa pessoa que não sai de casa acaba sendo representada quando entrevistamos outros com perfis parecidos, como quem só sai para ir à padaria.”

Outro ponto de divergência está na chamada variável de controle. Andrei Roman, diretor do Atlas, entende ser fundamental usar a declaração de voto do eleitor em 2018 como informação para “calibrar” a pesquisa. Isso é feito comparando o resultado apurado com o dado preciso da urna. Lavareda também é defensor desse recurso. Paulino discorda. “As pessoas esquecem em quem votou ou, conforme a conjuntura, preferem esconder qual foi o voto. Quem usa isso como controle está fazendo coisa errada”, diz.

Durma-se com um barulho desses.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

A MALDIÇÃO DA REELEIÇÃO



Acusado de protecionismo ao criar o Mundo, por ter favorecido a porção de terra que mais adiante seria o Brasil, o Senhor do Universo assim se justificou: "esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá." 

Segundo Jobim, o Brasil não é para amadores. Churchill dizia que a "democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras" —, mas também que "o melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano". Figueiredo (que era um sábio e não sabia) nos ensinou que "um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar". Deu para entender ou quer que eu soletre?

Dos 13 postulantes à presidência em 2018, quatro — Cabo Daciolo, Guilherme Boulos, Jango Filho e Vera Lucia — formavam um elenco de filme de terror de quinta classe; outros quatro — Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva e José Maria Eymael — eram "arrozes de festa" em eleições presidenciais; e três — João AmoedoHenrique Meirelles e Álvaro Dias — eram alternativas mais interessantes que a marionete do presidiário e o dublê de mau militar e parlamentar medíocre. Mas aí entrou em cena o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim, e deu no que deu.

Em vez chorar o leite derramado, melhor seria aprender com os erros do passado para não os cometer novamente no futuro. Mas seria querer demais da escumalha descerebrada a que se convencionou chamar de "eleitorado". Triste Brasil!

Ciro já foi candidato à Presidência três vezes. A despeito de sua invejável oratória), o cearense de Pindamonhangaba é um populista incorrigível. A ver se terá melhor sorte em 2022 do que em 1998, 2002 e 2018. 

Alckmin era vice de Mário Covas em 2001, e assumiu o governo paulista com a morte do titular. Foi reconduzido ao Palácio dos Bandeirantes em 2002, 2010 e 2014 e concorreu ao Planalto em 2006 e 2018, mas foi derrotado ambas as vezes. Aos 69 anos recém-completados, o picolé de chuchu quer bater asas do ninho tucano e se filiar ao PSB para ser vice na chapa de Lula — ou concorrer (mais uma vez) ao governo do Estado.

Comenta-se que exigências feitas por Kassab têm provocado mal-estar antes mesmo do casamento de papel passado, de modo que o ex-governador não descarta a possibilidade de migrar para o Solidariedade. Qualquer que seja sua decisão, será um fim de carreira melancólico para um político egresso do PMDB, que ajudou a fundar o PSDB e presidiu o tucanato de 2017 a 2019.

Boulos disputou a Presidência em 2018 e perdeu. Disputou prefeitura de Sampa em 2020 e chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Bruno Covas. Jango e Vera não passaram de acidentes de percurso e Daciolo, Marina e Eymael são... Daciolo, Marina e Eymael

O ex-bombeiro desceu do monte para disputar o Planalto em 2018 e (pasmem!) obteve mais votos que a ex-seringueira que sonhava ser freira, mas se elegeu vereadora (1988), deputada (1990), senadora (em 1994 e 2002) e foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula, chegando mesmo a ser cogitada para "poste" em 2010 (mas o desempregado que deu certo achou que a nefelibata da mandioca seria mais fácil de controlar, e cometeu o que muitos consideram seu maior erro de estratégia política). 

Daciolo desceu de novo do monte para disputar o Planalto no ano que vem. Até onde a vista alcança, ele deve subir novamente a montanha em outubro do ano que vem. Glória a Deus e adeus! Marina participou participou das três últimas eleições presidenciais, mas deve ficar fora da próxima, embora não descarte a possiblidade de concorrer ao Senado ou à Câmara Federal (para ajudar seu partido a vencer a cláusula de barreira). 

Eymael — o "democrata cristão" que foi deputado federal de 1986 a 1995 e disputou todas as eleições presidenciais desde 2018 (noves fora a de 2002) não só é pré-candidatíssimo como (pasmem!) diz que "Lula vence todos os pré-candidatos nas pesquisas porque seu nome não está inserido nos levantamentos". Talvez seja coisa da idade (82 anos). Parafraseando a caricata Copélia — protagonizada pela impagável Arlete Salles —, "eu prefiro não comentar".

Para encurtar a conversa, havia em 2018 pelo menos três candidatos que poderíamos ter testado se a dicotomia disseminada pelo demiurgo de Garanhuns e seus jegues amestrados não produzisse a imbecilidade coletiva que escalou os dois extremistas mais extremados do espectro político-ideológico para disputar o segundo turno, colocando numa sinuca de bico a parcela do eleitorado que não geme de dor quando raciocina. 

Claro que havia também a alternativa de anular o voto, votar em branco ou se abster de votar, como fizeram 42 milhões de eleitores que se recusaram a apoiar o "mico" dos bolsomínions — e teriam votado no capeta em pessoa para evitar a volta da roubalheira lulopetista. De novo, deu no que deu.

Com a irreverência que lhe é peculiar, Diogo Mainardi diz que, entre votar em Lula ou Bolsonaro, prefere se atirar do Campanário de São Marcos (para quem não sabe, ele mora na Itália). Para João Amoedo, do Novo, esse cenário equivale a escolher entre morrer afogado ou com um tiro. O deputado Vinicius Poit, também do Novo, vai mais além: "Precisamos de uma outra opção que não seja nem esses dois nem o Ciro, que é outro populista. Eu votaria nulo porque populismo, seja de direita ou de esquerda, não faz bem ao país”. 

E eu assino embaixo.

Continua... 

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

VERGONHA NACIONAL


Na política não há inocentes, só culpados. E isso vale também para o eleitorado, uma vez que maus políticos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea. 

Vale relembrar a velha anedota segundo a qual o Senhor das Esferas, acusado de protecionismo durante a criação do Mundo por favorecer a porção de terra que futuramente tocaria ao Brasil, assim se pronunciou: "esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá." Dito e feito.

Churchill dizia que a "democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras". Mas que "o melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano. Já o general Figueiredo (que era um sábio e não sabia) disse certa vez que "um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar".

A nefasta dicotomia político-ideológica semeada por Lula et caterva, regada pelos tucanos e estrumada pelo bafo do capetão e seus soldadinhos de chumbo alastrou-se país afora, alcançando, inclusive, as cúpulas dos Poderes. Foi por isso que a parcela pensante do eleitorado apoiou o bolsonarismo boçal em 2018, já que a alternativa era a volta do lulopetismo corrupto. E deu no que deu.

Três anos sob os desmandos de um anormal não foram suficientes para a récua de muares munidos de título de eleitor aprender a lição. A julgar pelas pesquisas, teremos novamente eleições plebiscitárias neste ano, e seremos obrigados — mais uma vez — a apoiar quem não queremos para evitar a vitória de quem queremos menos ainda. 

Resta-nos a esperança de o imprevisto ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, fazendo com que um dos dois “salvadores da pátria” saia de cena. Mas isso é apenas um exercício de futurologia baseado não em fatos, mas na esperança que acalentamos de um futuro melhor.

Desgraçadamente, falta ao Congresso probidade e vergonha na cara. Mas o que esperar de uma instituição composta em grande parte por investigados, denunciados e réus — e os insignes parlamentares que não se enquadram numa dessas categorias certamente viriam a se enquadrar se a alta cúpula do Judiciário não estivesse tomada por defensores atávicos da impunidade? Volto a dizer que quando se dá a chave do galinheiro a uma raposa e ela encarrega outras raposas de investigar o sumiço das galinhas... enfim, acho que deu para entender.

Nossas leis são criadas por políticos que se elegem para roubar, roubam para se reeleger e se escudam no abjeto foro especial por prerrogativa de função. Esqueça a história de que “todos são iguais perante a lei”. Sempre houve, há e continuará havendo “os mais iguais que os outros”. 

Presidente e vice, ministros de Estado, senadores e deputados federais só podem ser processados e julgados no STF, e os eminentes togados são rápidos como guepardos quando se trata de conceder habeas corpus a seus bandidos de estimação, aumentar os próprios salários e conceder a si próprios toda sorte de mordomias, mas lerdos como cágados pernetas na hora de julgar ex-presidentes corruptos e sanguessugas aboletados no parlamento.

Fala-se muito da politização do Supremo, mas os ministros só agem quando são provocados. E são os próprios congressistas, descontentes com essa ou aquela situação, que pedem a interferência dos magistrados em assuntos que caberia ao parlamento decidir. Foi assim com a instalação da CPI do Genocídio, que só seguiu adiante depois que uma liminar do ministro Luís Roberto Barroso pôs fim à fleuma (também chamada de “mineirice”) do presidente do Senado. E esse é só um exemplo.

Não quero dizer com isso o STF não erra. Erra, e muito, até porque os ministros são seres humanos (alguns se julga semideuses, mas isso é outra história). Em dezembro de 1914, em aparte à um discurso do senador Pinheiro Machado, Ruy Barbosa disse que o Supremo pode se dar ao luxo de errar por último. Décadas depois, Nelson Hungria, príncipe dos penalistas brasileiros, fez eco ao “Águia de Haia” dizendo que o STF tem “o supremo privilégio de errar por último”.

Todos os poderes da República são guardas da Constituição. A Administração pode se considerar isenta de cumprir lei inconstitucional, mas jamais estará isenta de cumprir decisões do STF. A menos, é claro, que se mude esse entendimento constitucional.

Não há democracia que funcione sem “toma-lá-dá-cá” se mais de 30 partidos disputam fatias de poder e verbas do Erário. E o apetite dessa escumalha é pantagruélico. Haja vista o valor absurdo que foi estabelecido para o “fundão” eleitoral  dinheiro que é roubado de nós para ajudar a eleger quem vai nos roubar na próxima legislaturaE fodam-se os 14 milhões de desempregados, os não sei quando milhões de brasileiros que não têm dinheiro sequer para uma refeição decente por dia. E assim por diante.

Gastar bilhões para eleger essa caterva quando falta dinheiro para investir em segurança, saúde e educação, por exemplo, é um escárnio. E a divisão desse butim é feita levando em conta, entre outros fatores, os votos para Câmara e Senado recebidos pelos partidos na eleição anterior. Em 2018, o “fundão” foi de cerca de R$ 2 bilhões — pouco mais de um terço do valor estabelecido para as eleições de 2022. 

É muita demagogia qualquer um chegar aqui e dizer que nós não vamos ter um fundo eleitoral público para financiamento das campanhas”, disse o tal deputado-réu que preside a Câmara. “Hoje a única maneira que temos para evitar que tráfico, milícias e contraventores financiem e façam a má-gestão da política é com um financiamento público, claro e transparente.”

Continua...

sábado, 10 de julho de 2021

POLÍTICA É COMO NUVEM: VOCÊ OLHA E ELA ESTÁ DE UM JEITO. OLHA DE NOVO E ELA JÁ MUDOU

A CPI ouviu ontem o consultor técnico do Ministério da Saúde William Santana, que disse ter notado erros e pedido correções na invoice da Covaxin. Essas inconsistências já haviam sido apresentadas à Comissão e despertado suspeitas de irregularidades no contrato. A negociação, de R$ 1,6 bilhão, é alvo de investigações por parte da CPI, do MPF, da PF e do TCU, e o contrato foi suspenso pelo governo em razão dos indícios de irregularidades. Omar Aziz, presidente da Comissão, informou que a convocação de Onyx Lorenzoni ― que, segundo o relator, cometeu crime ao tentar confundir a investigação  será votada na terça-feira, e que "está chegando a hora" de promover uma acareação entre Luis Miranda e Lorenzoni

Por volta das 16h30, em resposta aos comentários de Bolsonaro sobre o processo eleitoral brasileiro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse à imprensa que "o Congresso não aceitará 'retrocesso' nem 'frustração das eleições'". Bolsonaro chamou o ministro do STF e presidente do TSE de "idiota" e "imbecil" e voltou a ameaçar a realização das eleições de 2022. Barroso disse que não vai bater boca e que garante que vai haver eleição. Os ministros do STF avaliam que está na hora de o TSE dar uma resposta enfática a Bolsonaro. Ontem à tarde, por meio de nota, Barroso disse que qualquer atuação no sentido de impedir as eleições viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade.

Sobre o imbróglio criado pela nota da alta cúpula militarRenan disse que a Comissão "não tem medo de quarteladas" e prosseguirá com a investigação, haja o que houver. Na tentativa de apaziguar os ânimos, Braga Netto e Rodrigo Pacheco conversaram por telefone e o senador publicou em suas redes sociais que "o episódio foi um 'mal-entendido' e que o assunto estava 'encerrado'".

O relator também fez menção à resposta de Bolsonaro à carta enviada pela cúpula da CPI. Na live da última quinta-feira, com a finesse que lhe é peculiar, o presidente disse que sua resposta ao ofício é: "caguei para CPI". Na próxima terça-feira a Comissão deve ouvir Emanuela Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos. Na quarta será a vez do reverendo Amilton Gomes de Paula. Nos próximo dias devem ser ouvidos também o coronel Marcelo Blanco, ex-diretor-substituto de Logística do Ministério da Saúde, e José Ricardo Santana, ex-diretor da Anvisa. 

***

Dizem as más-línguas que, ao ser acusado de protecionismo por favorecer a porção de terra que mais adiante seria o Brasil, o Criador respondeu: “esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá.” Dito e feito.

Sempre atribuí à récua de muares (leia-se “eleitorado”) a culpa pela desgraça nacional. Afinal, quem jejua de urna por 29 anos e, quando dispõe de candidatos como Mario Covas e Ulysses Guimarães, escala Collor e Lula para disputar o segundo turno tem mais que se enforcar num pé de cebola. Como não há nada tão ruim que não possa piorar (Murphy), ao caçador de marajás de araque sucederam um sociólogo emproado, um retirante analfabeto (mais tinhoso que o Cão), uma anta fantasiada de gerentona e — a cereja do bolo — o dublê de mau militar e parlamentar medíocre que superou minhas (piores) expectativas.

Dizia Jobim que o Brasil não é para amadores e Churchill, que a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras e que a melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano. Figueiredo (que era um sábio e não sabia) sentenciou que um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar. Deu para entender ou eu preciso desenhar?

Mas não seria justo culpar (somente) o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim por suas mazelas. Até porque, sem ajuda externa, essa matula não é capaz sequer de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna. E é aí que entra a polarização político-ideológica: sem o lulopetismo corrupto, o bolsonarismo boçal não existiria, já que ambas as facções se retroalimentam. Mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca termine. 

Somadas aos 530 milhões de mortes por Covid, as suspeitas de corrupção que pairam sobre um presidente que "acabou com a Lava-Jato porque não tem mais corrupção no governo" e sua total inadequação ao cargo para o qual foi eleito por absoluta falta de opção, fizeram o núcleo compacto do bolsonarismo minguar para 15% — a título de comparação, no auge de sua derrocada, Dilma, a inolvidável, contava com 20% de popularidade.

A rejeição a Bolsonaro atinge o maior índice desde janeiro de 2019. Levantamento divulgado pelo Datafolha na última quinta-feira dá conta de que 51% dos brasileiros reprovam o presidente — a pior marca registrada desde janeiro de 2019. Apenas 24% o aprovam e os que o consideram regular caíram de 30% em maio para 24%. A maioria dos entrevistados considera o capitão "despreparado", "incompetente", "desonesto", "pouco inteligente", "falso", "indeciso" e "autoritário"; 55% dizem nunca confiar no que ele diz e 70% acreditam que há corrupção no governo.

A política é a arte do possível (Bismarck), mas aturar as aleivosias bolsonarianas é quase impossível. O problema é que ninguém quer expeli-lo do cargo. Os que tencionam enfrentá-lo em 2022 acham melhor deixá-lo sangrar até as eleições. Só que pode não funcionar, como não funcionou com Lula em 2006. Com o ambiente socioeconômico favorável, o assassinato de Celso Daniel, o Mensalão, o Petrolão, a Máfia dos Sanguessugas, a CPI dos Correios, o "Mais Médicos", o Bancoop, o Gamecorp e tantos outros escândalos de corrupção foram relativizados pelo "eleitor mediano", e a "alma viva mais honesta do Brasil" não só se reelegeu como se fez suceder por um "poste" em 2010.  

Observação: Uma das especialidades do picareta dos picaretas foi inventar "postes" e, por intermédio deles, continuar mandando e desmandando no país. Certa feita, durante um jantar com comparsas, entre goles de Romanée Conti e baforadas de cigarrilhas cubanas, o molusco disse ser capaz de eleger até um poste para governar o Brasil. E elegeu mesmo: a mulher sapiens, que sem saber atirar virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante fez posse de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de palanque; e sem ter tido um único voto na vida virou presidanta.

Lula passou míseros 580 dias na cadeia, embora tenha sido condenado a mais de 20 anos em dois processos — por 10 magistrados de três instâncias do Judiciário —, e teve a ficha-suja lavada pelo mesmo STF que, em 2019, com o voto de minerva do Dias Toffoli, mudou a jurisprudência acerca da prisão em segunda instância, num julgamento sob medida para, mais adiante, anular as condenações e devolver ao jogo político aquele que lhe cobriu os ombros com a suprema toga e que ora se vende como a "esperança democrática", o fiador da "pacificação". Mi fa schifo!

Dizem as más-línguas que o petralha está eleito, que o capetão é carta fora do baralho e que não há espaço nem tempo hábil para uma "terceira via". Pode ser, mas também pode não ser. Além de não serem infalíveis, os institutos de pesquisa produzem apenas "instantâneos" do cenário atual (por atual, entenda-se o momento em que a pesquisa é realizada).

Embora ainda seja improvável, o impedimento do morubixaba da tribo vem se tornando uma possibilidade mais real, sobretudo depois que a CPI passou a expor as entranhas pútridas do governo. E ainda há muito a ser investigado, descoberto e revelado. Parafraseando o saudoso Teori Zavascki, que precedeu Edson Fachin na relatoria da Lava-Jato no STF, "puxa-se uma pena e surge uma galinha".

O impeachment é um processo eminentemente político, e o fiel da balança é a pressão popular. O povo nas ruas foi determinante para a queda de Collor, em 1992, e de Dilma, em 2016. Há mais de 120 pedidos de abertura de processo no gavetão da presidência da Câmara, trancada a sete-chave pelo deputado-réu e primeiro-ministro informal do governo. Bolsonaro também conta com o apoio do Centrão — que alugou a peso de ouro para blindá-lo dessas "inconveniências". Se o clamor das multidões continuar crescendo, mais dia, menos dia, as marafonas do Parlamento terão de rever sua posição, pois cada qual tem que pensar na própria reeleição.

Se a disputa presidencial fosse hoje, talvez o senador Omar Aziz, presidente da CPI do Genocídio, escanteasse o "mito" e disputasse o segundo turno contra o petralha ex-corrupto. O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que faltam 15 meses para as eleições, e até lá muita coisa pode mudar. Como dizia Magalhães Pinto, política é como nuvem: você olha e ela está de um jeito; olha de novo e ela já mudou.

terça-feira, 7 de julho de 2020

DA PRAGA DA CASERNA AO CAPITÃO CAVERNA — SEGUNDA PARTE


Ainda sobre Caos, políticos, eleições e a tragédia anunciada (leia-se este governo), começo com uma velha anedota que tem tudo a ver:

Deus estava criando o mundo, quando um anjo se aproximou e disse:
— Senhor, a Terra é tão perfeita, um verdadeiro paraíso para a humanidade.
E o Criador respondeu:
— Não, anjo, a Terra não é um paraíso, veja só.
Então o anjo viu que para cada continente Deus reservava grandes catástrofes naturais, como desertos, geleiras, terremotos, vulcões e furacões. Mas chamou-lhe a atenção uma grande porção de terra no hemisfério sul.
— Mas Senhor, se estás semeando catástrofes por todo o mundo porque é que aquele grande pedaço de terra ali ao sul é tão perfeito? Veja, lá o clima é tão agradável, há lindas florestas e praias, grandes e belos rios e não desertos, geleiras, terremotos, vulcões ou furacões. Por quê, Senhor?
Deus respondeu:
— Ah, meu caro anjo, espera só pra ver o povinho de merda que eu vou colocar ali.

Há quem diga que o Brasil não tem jeito. Ou que o jeito é devolvê-lo aos portugueses e recomeçar do zero. Ou reverter o tempo até aquele fatídico 22 de abril e torcer para que dessa vez os nativos devorem os lusitanos.

Gozações à parte, vivemos num país que Charles De Gaulle disse não ser sério, onde o futuro é duvidoso e o passado, incerto. "Le Brésil n’est pas un pays serieux", teria dito o general francês, em 1964. Só que a frase é do diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza Filho, genro do presidente Artur Bernardes e embaixador do Brasil na França entre 1956 e 1964. Quanto ao "passado incerto e futuro duvidoso", a autoria é tão incerta quanto o passado brasileiro: há quem a atribua ao ex-ministro Pedro Malan, há quem a credite ao ex-presidente do BC Gustavo Loyola.

A "farsa nacional" começou com o descobrimento. De acordo com os livros de história (pelo menos os da minha época de estudante), Cabral zarpou de Lisboa em 9 de março de 1.500 com destino à Kozhikkode (então chamada de Calicut), na costa ocidental da Índia. Em meio ao Mar Tenebroso — como era conhecido o Oceano Atlântico naqueles tempos —, sua frota foi tirada da rota original por uma tormenta e... voilà: em 22 de abril os lusitanos aportaram num ponto do (atual) litoral sul da Bahia a que chamaram Porto Seguro. Mas, como diria o contestador Pedro Pedreira (personagem de Francisco Milani na Escolinha do Professor Raimundo), há controvérsias.

Comecemos pelo fenômeno climático, que, para alguns, foi uma tempestade e, para outros, uma calmaria — ainda que isso não mude o fato de Cabral ter zarpado de Portugal com a intenção de fazer uma escala no Brasil antes de seguir para as Índias

Segundo a "Relação do Piloto Anônimo” publicada originalmente em 1507 — que, ao lado das cartas de Pedro Vaz de Caminha e de Mestre João, é um dos três testemunhos diretos do descobrimento do Brasil que sobreviveram ao tempo —, uma tormenta teria causado o naufrágio da nau comandada por Vasco de Ataíde, em 23 de março, nas imediações do arquipélago de Cabo Verde. Mas a carta de Caminha relata que a viagem de Lisboa até Porto Seguro decorreu na mais completa normalidade, "sem haver tempo forte ou contrário para que assim pudesse ser".

A região do suposto naufrágio era conhecida como "calmas equatoriais", porque os ventos alísios (assim chamados porque "alisam" o mar) deixam de soprar por dias ou semanas a fio, e as embarcações a vela de então ficavam ao sabor das correntes marinhas. Em seu admirável estudo sobre a viagem de Cabral, o comandante Max Justo Guedes calculou que, durante aqueles dias de calmaria, a frota cabralina foi empurrada cerca de 90 milhas para oeste pela Corrente Equatorial Sul

Mas, também de acordo com Guedes, tal deslocamento — equivalente a uns 170 quilômetros — seria insignificante e não poderia levar ao “descobrimento casual” do Brasil. Donde a chegada da expedição portuguesa ao litoral da Bahia não se deveu nem a tormentas, nem a calmarias, mas aos fatos relatados a seguir. Acompanhe.

Cristóvão Colombo propôs ao então rei de Portugal que financiasse uma expedição às Índias, mas que o levaria ao continente americano. Diante da recusa de D. João II, o genovês procurou os Reis Católicos de Espanha, que concordaram em financiá-lo. Colombo zarpou do porto de Palos no dia 3 de agosto de 1492, no comando da nau Santa Maria, acompanhado das caravelas Pinta e Nina, e ao retornar à Europa, em março do ano seguinte, fez uma rápida escala em Lisboa e relatou a D. João II a existência de terras ao sul do que hoje é a República Dominicana.

Observação: No Brasil de hoje, o termo "caravela" designa qualquer embarcação a vela, mas só 3 dos navios da frota de Cabral mereciam ser assim chamados. Os outros dez eram naus (incluindo uma "naveta", ou pequena nau, para transportar mantimentos extras). A rigor, as caravelas eram embarcações menores, com apenas dois mastros, apenas um pequeno castelo à popa e velas triangulares ou quadradas. Já as naus eram maiores, tinham várias cobertas (conveses abaixo do convés principal), três mastros e dois castelos, além de capacidade para transportar mais tripulantes — enquanto as caravelas mediam 22 metros de comprimento e transportavam até 80 homens, as naus podiam chegar a 35 metros e tinham capacidade para 150 tripulantes.

Ao serem informados por Colombo do resultado da missão, Fernando de Aragão e Izabel de Castela se comprometeram com o papa Alexandre VI (que era espanhol) a difundir o cristianismo no “Novo Mundo” em troca da posse das novas terras. Assim, o pontífice editou a famosa Bula Inter Coetera, que estabeleceu uma linha imaginária 100 léguas a oeste de Cabo Verde e garantiu aos castelhanos a posse das terras que ficassem na porção oriental desse marco.

Vendo que sua quota-parte era composta majoritariamente por água e dificultava a navegação dos portugueses pelo Atlântico, o rei lusitano subiu nas tamancas. Para evitar o conflito armado entre os dois países, o papa mediou as negociações que resultariam no célebre Tratado de Tordesilhas. Com esse acordo, a linha divisória foi movida para 370 léguas a oeste de Cabo Verde, o que garantiu a Portugal uma porção generosa da América do Sul.

Resta dizer que uma expedição secreta, comandada por Duarte Pacheco Pereira, visando identificar os territórios que pertenciam a Portugal ou a Castela, à luz do Tratado de Tordesilhas, chegou à costa brasileira em 1498, à altura dos atuais estados do Amazonas e do Maranhão — antes, portanto, da primeira viagem comprovada de um europeu ao território brasileiro, feita pelo espanhol Vicente Yáñez Pinzón, cujo desembarque se deu em 26 de janeiro de 1500. Mas a descoberta de Pacheco foi mantida em segredo por determinação do governo português, devido à concorrência espanhola na conquista da América do Sul, até que uma nova missão (a de Cabral) “tomasse posse oficialmente” daquelas terras.

Face ao exposto, Portugal tinha conhecimento da existência do que viria a ser o Brasil quase uma década antes do “descobrimento” e, tecnicamente, já tinha posse das terras quando Cabral nelas desembarcou, em abril de 1.500.

Continua numa próxima postagem.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

É O CRIME DA MULA PRETA!

O Genesis não conta, mas, ao ser acusado de protecionismo em relação à porção de terra que viria a ser o Brasil, Deus disse: "Esperem até ver o povinho de merda que eu vou colocar aí"

Esse fato é pouco conhecido, mas demonstra que perde seu tempo quem espera discernimento de lulopetistas — vermelhos, cegos, desmemoriados, com a cabeça cheia de merda, que andam para trás e vivem nas costas do Brasil — e bolsonaristas — bando de imbecis travestidos de militantes e comandados por um imbecil travestido de presidente. 

E mais: num eleitorado em que a maioria dos 150 milhões de votantes não têm nenhum preparo para escolher nada, qualquer farsante bem treinado para mentir mais que os outros vence as eleições.  

A mentira nasceu com o homem, provavelmente quando Caim negou ter matado Abel. De lá para cá, todo mundo mente. Porém, quando alguém começa a mentir a si mesmo e a acreditar nas próprias mentiras, aí a vaca vai para o brejo. A mentira dominou a cena no Mensalão e no Petrolão. "Eu não sabia" foi a campeã das mentiras. A partir de Donald Trump — egresso do show business, onde ficção e realidade se misturam —, as mentiras foram institucionalizadas e rebatizadas de fake news. Mas até para mentir é preciso talento.

 

No debate da Band, o assunto "corrupção", essencial nesta campanha, surgiu, finalmente, aos olhos da população. Na “sabatina” da Globo, o apresentador agiu como assessor de imprensa (ou advogado criminal) de Lula. Em vez de perguntar sobre aquele que foi o maior surto de corrupção da história do Brasil, fez um manifesto a nação dizendo que "o senhor não deve nada à justiça". Até o entrevistado pareceu surpreso. 

 

No programa da Band, porém, Lula foi colocado diante da necessidade de falar sobre a incomparável roubalheira do seu governo — e deu-se muito mal. Sem a indulgência plenária que ganhou na "sabatina" global, o petista teve de responder sobre a desesperada, maciça e indiscutível corrupção na Petrobras, as delações premiadas, as provas materiais da ladroagem, o dinheiro roubado que foi devolvido, e por aí afora. Não explicou nada, é claro, pois é impossível explicar o que não tem explicação. Como faz sempre que não pode dizer nada em seu favor, o ex-presidiário fugiu do assunto. 

 

Perguntavam de corrupção, e Lula respondia dizendo que abriu "dezessete universidades". Falavam na delação do ex-ministro Palocci, e ele dizia que "acabou com a fome" no Brasil. A certa altura, disse que foi  "absolvido por todos os tribunais deste país e até pela ONU" — mais uma dessas mentiras com teor de 100% de pureza. 


Lula não foi absolvido de absolutamente nada. Foi apenas "descondenado", na decisão mais desvairada da história da justiça brasileira, por um ministro que foi advogado do MST, militou na campanha presidencial de Dilma e ganhou dela toga e cargo no Supremo.

 

Na "sabatina" da Globo, que durou 40 minutos, o presidente candidato à reeleição faltou com a verdade em pelo menos 20 oportunidades — média de uma mentira a cada dois minutos. No debate da Band, mesmo tendo falado por bem menos tempo que falou no JN, o "mito" se superou, emplacando 30 mentiras ao eleitorado.  

 

Lula quer atravessar essa campanha sem falar de corrupção; diz que o agronegócio é "fascista", que a classe média "gasta demais" e que vai trazer de volta o imposto sindical — mas de ladroagem, mesmo, nem um pio. O problema, pelo que mostrou o debate na Band, é que ele pode ficar em silêncio — mas os outros vão falar. Mentiras em que se percebe a falsidade não colam. Só mentiras sinceras convencem. Lula leva vantagem porque mente melhor, acredita em suas mentiras — chegando mesmo a se debulhar em lágrimas. Bolsonaro mente mal, embora convença seu gado. Mas não deve ser subestimado.

 

E o que fez a Justiça Eleitoral diante desse descalabro? Nada. Mas, no último dia 3, o TRE-PR apontou uma série de irregularidades supostamente cometidas pelo ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, que é candidato ao Senado pelo Paraná. 


O pedido partiu da coligação partidária que apoia o PT nas eleições deste ano. As legendas sustentaram que diversos materiais impressos da campanha violam a legislação eleitoral. Em seu despacho, a juíza anotou que, no Twitter, no Instagram e no site oficial da campanha, Moro "sequer menciona o nome dos suplentes, em absoluta inobservância à legislação eleitoral", e salientou a "evidente a desconformidade entre o tamanho da fonte do nome do candidato a senador relativamente a dos suplentes” (referindo-se aos banners publicados pelo candidato nas redes). 


ObservaçãoA assessoria de Moro negou a irregularidade e disse que a equipe jurídica do ex-juiz pedirá a reconsideração da decisão liminar. Em suas redes sociais, Moro afirmou que não se intimidará e que repudia "a tentativa grotesca de me difamar e de intimidar minha família".
 

A magistrada apontou ainda que a logomarca do candidato apresenta a palavra "MORO" em evidência e em tamanho "muito superior a 70% do nome dos suplentes, sendo imperiosa a remoção dos conteúdos que veiculam propaganda irregular, nas URLs indicadas no documento", bem como irregularidades no conteúdo dos programas veiculados no horário da propaganda eleitoral gratuita. Por outro lado, ela argumentou que a ordem de imediata suspensão da veiculação da propaganda "não se mostra passível de acolhimento, tanto pelo fato de que não se sabe o conteúdo que será veiculado, não cabendo às emissoras a realização do controle prévio, quanto pela possibilidade de regularização do material".

 

Ainda de acordo com o TRE-PR, o material passível de apreensão é "tão somente aquele indicado na presente decisão, arquivado em Secretaria e comprovadamente em desconformidade com a legislação". Se mantiver as propagandas em desconformidade com a Lei Eleitoral, Moro será obrigado a pagar uma multa diária de R$ 5 mil.

 

Triste Brasil.