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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

QUEM NÃO APRENDE COM OS ERROS DO PASSADO VOLTA A COMETÊ-LOS NO FUTURO



O PSDB já foi o maior partido de oposição aos governos corruptos de Lula e Dilma. Agora, é tão inútil quanto um casaco de pele, ao meio dia, sob o sol causticante do verão senegalês. 

Consenso, dentro da legenda, é como nota de US$ 100 em bolso de mendigo. Não existe. O tucanato faz reuniões e mais reuniões, mas nada fica decidido. Nem para expulsar o senador corrupto que traiu 51 milhões de eleitores os tucanos prestam. E o mesmo vale para o Senado Federal: na última terça-feira, 24, o senador maranhense João Alberto Souza, presidente da Comissão de Ética do Senado, determinou, com base no parecer da Advocacia Geral da Casa, o arquivamento da representação que pedia a cassação do neto de Tancredo. Ainda cabe recurso ao plenário da Comissão, até porque estamos no Brasil, onde sempre existe uma instância superior a quem se pode recorrer contra uma decisão desfavorável, daí ser fundamental, para a classe política, manter o famigerado foro privilegiado. Numa estimativa otimista, 99% dos recursos contra condenações na esfera penal que chegam até STF caducam, caem de maduro ou morrem de velhice.

O PSDB nasceu de uma costela do PMDB e teve seu momento de glória ao emplacar FHC, que, quando ministro de Itamar, conseguiu vencer a hiperinflação sistêmica. Mas os tucanos deixaram a esquerda criar asas e perderam a presidência para Lula. O sonho de recuperá-la em 2010 até poderia ter se concretizado se eles tivessem se empenhado mais, mas esse cemitério de egos ainda não se conscientizou de que brigar entre si não serve como treinamento para lutar contra os verdadeiros adversários.

Depois da derrota de Aécio em 2014, o partido entrou em parafuso. Ainda que tenha contribuído para o impeachment de Dilma, que o tenha feito em nome da estabilidade, da governança, da austeridade, da “salvação nacional”, que tenha apoiado a ideia de se ter um governo de transição que, mantendo de pé uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior fase da crise e entregasse o país em melhores condições para o presidente a ser eleito em 2018, o PSDB nada fez para influenciar ou direcionar esse governo. Um governo de perfil “parlamentar”, mas com uma base pouco confiável, sem grandeza e sem projeto, que se refletiu na composição ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS, que se deixou impregnar pelos interesses escusos do Congresso e pela preocupação em esvaziar a Lava-Jato e recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande política pela pequena política. 

O PSDB ficou ainda mais desmoralizado com o afastamento judicial de Aécio Neves, cuja imagem de bom moço enganou meio mundo (e aí se inclui este que vos escreve). Agora, seus caciques vão empurrando com a barriga a decisão de podar as asinhas do mineirinho safado, que continua senador e presidente afastado da sigla ― e como seu amiguinho e aliado de ocasião Michel Miguel Elias Temer Lulia, não pode nem ouvir falar em renúncia.

Os tucanos deram as costas para a opinião pública e deixaram passar a oportunidade de resgatar a imagem de alternativa lógica para quem não suporta mais corruptos como os do PT e do PMDB. Hoje, criticar o governo é como um roto falar mal de um esfarrapado, mas apoiar Michel Temer foi mais um tijolo na obra de desconstrução do tucanato ― algo que certamente cobrará seu preço, tanto do partido, que prolongou sua indefinição, quanto da política nacional, que perdeu outro personagem que poderia fazer a diferença. Ou será que a sociedade, a opinião pública e o eleitorado perdoarão os tucanos nas próximas eleições?

Falando em erros crassos, embora não me agrade nem um pouco falar na patuleia ignara, vale registrar que supostas conversas de bastidores do PT davam conta de que Temer não sairia vivo do hospital ― onde foi internado na última quarta-feira, 25, devido a problemas urinários. Mas faltou um chazinho como aquele que, dizem, abreviou o pontificado do papa João Paulo I. Afinal, rezar e acender vela até pode ajudar, mas se não jogar pedra nos cachorros é mordida na certa.

Para o PT, interessava a permanência de Temer na presidência, não só porque ambos querem enterrar a Lava-Jato, mas também porque os petralhas acham que a impopularidade do presidente acabará enterrando de vez a já combalida economia. Mas não é o que se vê. Mesmo que a gestão do vampiro do Jaburu não passe de um “terceiro tempo” dos governos de Lula e Dilma, o mercado, sabiamente, precificou o dito-cujo. Prova disso é que, no dia seguinte ao sepultamento da segunda denúncia, a bolsa abriu em alta e a cotação do dólar recuou. 

Faltou o PT combinar com o mercado ― e dar o tal chazinho revigorante a sua insolência, naturalmente.

Aliás, segundo a Folha, em sua peregrinação por Minas Gerais o incansável candidato eneadáctilo esteve numa aldeia indígena em Coronel Murta, onde foi benzido por Benvina Pankararu, cacique da tribo. Ela teria dito que o indigitado “precisa mesmo ser rezado”. Mas nem reza brava vai impedir sua condenação pelo TRF-4. Vade retro, Satanás!

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terça-feira, 24 de abril de 2018

A LAVA-JATO CHEGA AO TUCANATO ― 2ª PARTE




Tucano que honra a plumagem fica nas matas, não em cima de muro. O PSDB, que já foi o principal partido de oposição aos governos corruptos de Lula e Dilma, tornou-se tão inútil quanto um copo d’água para um afogado. 

O verbete “consenso” não consta do vernáculo dos tucanos, que tiveram seu momento de glória ao eleger presidente Fernando Henrique Cardoso, mas deixaram a esquerda criar asas. Indecisos a mais não poder, eles são capazes de mijar no corredor se a casa tiver mais de um banheiro. Depois de perderem a presidência para Lula, acharam que poderiam recuperá-la em 2010 ― e teriam conseguido se não se tornassem um cemitério de egos que brigam entre si como treinamento para lutar contra os verdadeiros adversários. 

Com a derrota de Aécio em 2014, o partido entrou em parafuso. Sua crise intramuros se aprofundou a tal ponto que ora atinge o estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país e tradicional reduto do tucanato. Em 2006, quando deixou o governo para disputar a presidência, Alckmin tinha com 66% de aprovação, mas foi derrotado por Lula. Agora, com apenas 36% de aprovação, a coisa tende a ficar pior devido ao tsunami da Lava-Jato.

Aécio Neves, ex-presidente da sigla e investigado em 9 inquéritos, tornou-se réu pela primeira vez na última terça-feira 17 (detalhes na postagem anterior). Também na semana passada, Paulo Preto, operador financeiro dos tucanos, teve a prisão preventiva mantida pelo STJ ― ele é suspeito de envolvimento em desvio de dinheiro público nas obras do Rodoanel, cujas investigações atingem também o senador José Serra ― outro tucano de alta plumagem e ex-presidenciável que caiu em desgraça ― e o chanceler Aloysio Nunes Ferreira ― apontado como o tucano mais íntimo de Paulo Preto. Nos próximos dias, a Justiça analisará o derradeiro recurso de Eduardo Azeredo ― que, como Aécio, também foi presidente do PSDB e governador de Minas Gerais ―, e o resultado poderá colocá-lo atrás das grades pela condenação no escândalo que ficou conhecido como “mensalão tucano”.

Alckmin, candidato natural do PSDB à presidência, quase perdeu a vez para João Doria ― seu afilhado político e ex-prefeito de Sampa, que desagradou os paulistanos por ter descumprido a promessa de cumprir integralmente o mandato ao se lançar candidato a governador (detalhes nesta postagem). Sucessor de Aécio na presidência do partido, o ex-governador paulista, ungido oficialmente candidato a presidente, não decola nas pesquisas: seus míseros 6% de intenções de voto representam o pior resultado obtido por um candidato tucano desde 1989.

Alckmin comemorou a notícia de que o inquérito que o investiga pelo recebimento de mais de R$ 10 milhões via caixa 2 da Odebrecht foi enviado à Justiça Eleitoral, mas o alívio durou pouco: na sexta-feira 20, o MP-SP abriu um inquérito civil para investigá-lo por suspeita de improbidade administrativa. Três delatores da empreiteira acusam Alckmin de ter recebido propina através de seu cunhado, Adhemar César Ribeiro, com a finalidade de custear suas campanhas ao governo de São Paulo em 2010 e 2014.

Alckmin diz que “vê a investigação de natureza civil com tranquilidade, que está à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos e que tem total consciência da correção dos seus atos” ― nada muito diferente do que a gente ouve de todos os políticos investigados, denunciados e processados pela Lava-Jato e suas derivações, e que merece tanto crédito quanto conversa de camelô paraguaio. Com a movimentação do MP-SP, as acusações contra ele voltarão a ser apuradas para além da esfera eleitoral, onde as penas são baixas e os crimes são considerados de mais difícil punição. Respondendo por improbidade administrativa, ficará sujeito a sanções administrativas, como a reparação dos danos ao Erário e perda dos direitos políticos.

São múltiplas as causas da derrocada do PSDB no cenário político-partidário. Dentre outras, destaco sua demora em aderir à defesa do impeachment contra Dilma ― com a queda da anta vermelha, o partido permitiu que sua agenda reformista fosse capturada pelo governo de Michel Temer, mas nada fez para influenciar esse governo pouco confiável, sem grandeza e sem projeto. Isso refletiu na composição ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS, levando o Planalto a se sujeitar aos interesses escusos do Congresso e a se preocupar em esvaziar a Lava-Jato e recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande política pela pequena política.

Mesmo diante de tantos revezes, os tucanos tiveram bom desempenho nas eleições de 2016, quando passaram a governar 24% da população tupiniquim ― marca recorde desde 2000. Mas seria esperar demais que esse cenário positivo não se revertesse com as denúncias da Lava-Jato, as divisões internas da sigla, a oposição pífia aos petistas e a pusilanimidade na hora de decidir se desembarcavam ou não do atual governo quando o vampiro do Jaburu foi flagrado com as calças na mão e manchas de batom na cueca pelas gravações de Joesley Batista.

Mesmo com a imagem seriamente comprometida pelo afastamento judicial de Aécio Neves ― cuja pose de bom moço enganou meio mundo, inclusive este que vos escreve ―, a cúpula do PSDB não teve colhões para lhe cassar o mandato. Agora, a transformação do senador mineiro em réu pelo STF pode ser vista como um divisor de águas: assim como a prisão de Lula reforçou a jurisprudência sobre a possibilidade de cumprimento da pena após a condenação em segunda instância, o recebimento da denúncia contra Aécio confirmou o entendimento, iniciado no mensalão, de que não é preciso um ato “de ofício” para que se configure crime de corrupção passiva, e de que as provas obtidas através da delação da JBS continuam valendo, ainda que o acordo de colaboração e os benefícios concedidos aos delatores tenham sido suspensos.

Observação: A exigência do ato de ofício livrou o rabo de Collor em dezembro de 1994, quando, por 5 votos a 3, o STF o absolveu do crime de corrupção passiva por não haver provas concretas que o ligassem ao esquema de arrecadação ilegal de PC Farias (que posteriormente foi encontrado morto em circunstâncias que nunca ficaram bem explicadas). Esse entendimento começou a mudar em 2012, e agora pode complicar a vida de Michel Temer ― que já teve duas denúncias barradas pela Câmara ―, pois será possível atribuir-lhe “ato de ofício em potencial” por ter indicado a Joesley seu assessor Rodrigo Rocha Loures como interlocutor para tratar dos interesses da J&F em processos do CADE.   

O PSDB deu as costas para a opinião pública e perdeu a oportunidade de resgatar sua imagem de alternativa lógica para quem não suporta mais corruptos como os do PT e do PMDB. Agora é tarde, e não adianta chorar sobre o leite derramado.

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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

AUMENTO DE SALÁRIO DOS MINISTROS SUPREMOS — PRIMEIRA DERROTA DE BOLSONARO NO CONGRESSO?


O partido que Lula fundou para “fazer a diferença” tornou-se a quintessência da corrupção depois de vencer as eleições de 2002 e assumir a Presidência acusando FHC de ter deixado uma “herança maldita” que só existia na aleivosia da petralhada.

Não que o PSDB fosse o obelisco da honestidade, longe disso: criado a partir de uma costela do PMDB, o partido dos tucanos caiu nas graças dos brasileiros devido ao sucesso do Plano Real e teve seu momento de glória nas eleições de 1994. Mas deixou a esquerda criar asas e se transformou num cemitério de egos que até hoje não aprendeu que brigar entre si não serve como treinamento para lutar contra os verdadeiros adversários. Assim, perdeeu as eleições de 2002 para o PT, não se empenhaou em reverter o quadro em 2006 e 2010 e entrou em parafuso com a derrota de Aécio em 2014. 

Embora tenha contribuído para o impeachment de Dilma e apoiado a ideia de um governo de transição que, mantendo de pé uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior fase da crise e entregasse o país em melhores condições para o presidente a ser eleito em 2018, o PSDB nada fez para influenciar ou direcionar esse governo. E um governo de perfil “parlamentar” com uma base pouco confiável, sem grandeza e sem projeto, não poderia mesmo dar certo. Para piorar, os tucanos se deixaram impregnar pelos interesses escusos do Congresso e pela preocupação em esvaziar a Lava-Jato e recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande política pela pequena política.

Ao virar as costas para a opinião pública, o PSDB perdeu a chance de resgatar a imagem de alternativa lógica para quem não aguanta mais tanta corrupção. Depois de décadas disputando o cenário eleitoral com o PT seus satélites, não se deu conta de que Dória seria a melhor alternativa para disputar o Planalto nas últimas eleições — para que Alckmin tivesse chance, seria preciso que o eleitorado fosse mais esclarecido e politizado; com a população dividida entre petistas e antipetistas, a candidatura do insosso picolé de chuchu estava fadada ao fracasso. Assim, somada ao crescente repúdio a Lula e ao PT, a inépcia do tucanato favoreceu a ascensão de um deputado do baixo clero que em 7 mandatos consecutivos teve apenas dois projetos aprovados — mas que desde a reeleição de Dilma, em 2010, vinha se preparando para seu momento de glória.

Se Bolsonaro está pronto para assumir o timão da Nau dos Insensatos, só o tempo dirá. As dificuldades são enormes, como também a oposição a seu governo — que nem começou oficialmente e já sofreu uma derrota monumental: a aprovação do aumento salarial dos ministros do STF deve aumentar em R$ 4 bilhões o déficit público em 2019. Esse “reajuste” — como alguns preferem chamá-lo — foi defendido e comemorado por 7 dos onze ministros da nossa mais alta Corte. Apenas Celso de Mello, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Rosa Weber entenderam que o contexto atual demanda cortes nos gastos públicos, e não sua majoração. Ricardo Lewandowski — o eterno rábula petista de São Bernardo do Campo — teve a cara de pau de dizer que juízes aposentados e pensionistas vivem “em situação de penúria” com o salário atual (R$ 33,7 mil mensais). O que dizer, então, dos trabalhadores comuns, cuja medida salarial é de R$ 2.222 por mês — isso para os ainda têm emprego —, e da esmagadora maioria de aposentados e pensionistas dos INSS, que subsistem com míseros R$ 940 mensais?

Veja o leitor como são as coisas: Enquanto presidiu o Supremo, a ministra Cármen Lúcia evitou colocar em votação o reajuste dos magistrados. Assim que assumiu a presidência da Corte, em setembro passado, Dias Toffoli não só se apressou em pautar o aumento, ms também se empenhou pessoalmente em garantir sua aprovação no Congresso, como dá conta esta matéria do jornal Valor. Na visão desse outro militante de toga, para além do reajuste em si estava em jogo sua capacidade de negociação, e seria bom para a sua imagem de ministro “político”, aberto ao diálogo, conseguir finalmente tirar do papel uma proposta que estava na mesa de discussão há anos. Nesse sentido, antes mesmo de assumir oficialmente a presidência da Corte, Toffoli barganhou com Michel Temer a aprovação do aumento em troca da promessa de levar ao plenário ações que pedem o fim do auxílio-moradia, hoje pago de maneira indiscriminada, mesmo para juízes que têm imóvel próprio no município onde estão lotados.

Uma campanha on-line capitaneada pelo Partido Novo contra essa indecência já contabiliza mais de 2 milhões de assinaturas. O partido pede a Temer que vete o aumento com base na Lei de Responsabilidade Fiscal, que proíbe o chefe do Executivo de aumentar a despesa com os servidores a menos de 180 dias do término de seu mandato. Em entrevista à imprensa no último sábado, o presidente eleito disse que, se já estivesse no cargo, vetaria a proposta: “Não tem outro caminho no meu entender, até pela questão de dar exemplo…Eu falei antes da votação que é inoportuno, o momento não é esse para discutir esse assunto”.

Bolsonaro pretendia se reunir com os presidentes da Câmara e do Senado nesta semana, mas cancelou o compromisso devido ao mal-estar advindo desse imbróglio, sobretudo porque o Senado aprovou o aumento a despeito (e logo depois) de suas ponderações no sentido de que não era o momento adequado, pois o país não só está fechando o ano com as contas no vermelho, como também iniciará 2019 com perspectiva de déficit. 

Além de fazer ouvidos moucos para os apelos do presidente eleito, o Senado — que conta com uma penca de parlamentares em final de mandato (dentre os quais Eunício Oliveira, atual presidente da Casa e do Congresso Nacional), que não conseguiram se reeleger — aprovou também, de forma relâmpago, o regime tributário especial do setor automotivo, contrariando os interesses do futuro governo — que tem defendido uma política econômica sem a concessão de benefícios fiscais a setores específicos. Revanchismo? Quem? Eu?

Resta saber se Michel Temer vai vetar ou não o reajuste dos ministros. Façam suas apostas.  

terça-feira, 2 de março de 2021

O PAÍS DO FUTURO INCERTO E PASSADO DUVIDOSO


Se os brasileiros se preocupassem com a educação como se preocupam com o carnaval, se pensassem em mestres-escolas como pensam em mestres-salas e se fossem capazes de organizar a volta às aulas com a destreza com que organizam festas clandestinas em meio à pandemia, não haveria um único analfabeto nesta banânia, que que tampouco teria como presidente um psicopata que é avesso à educação, à ciência, ao meio-ambiente, à democracia e à cultura, que parece agir motivado por uma espécie de vingança rancorosa, perversa e destrutiva.

Numa democracia que se desse ao respeito, um mandatário dessa estampa seria expelido do cargo e internado num manicômio; no país do futuro que nunca chega, populistas delirantes contam desde sempre com o “dedo podre” de um eleitorado majoritariamente apedeuta, que merece tanto o governante que tem quanto ser internado junto com ele (ou sepultado, melhor ainda).

Nossa republiqueta de almanaque atravessou o século passado e adentrou o atual combinando diferentes momentos históricos na mesma conjuntura, como se houvesse múltiplos brasis dividindo o mesmo espaço territorial, mas movendo-se através da história por rotas e linhas de tempo distintas, sem qualquer senso de unidade. Daí Bolsonaro não ser um acidente da política, mas sim um produto desses múltiplos brasis que não conversam entre si. O que nos leva a duas perguntas: 1) Como resolver constitucionalmente esse obstáculo? 2) Quem se habilita a derrotar o mandatário de fancaria e seus extremistas?

O projeto do capitão das trevas é de uma clareza meridiana, mas os planos dos luminares da oposição seguem obscuros. Só o que se ouve dos ditos doutores na ciência da política é a necessidade do aguardo. Aguardar para onde vai a economia, aguardar para onde caminhará a popularidade do presidente, aguardar os efeitos da pandemia, aguardar o momento correto de fazer alianças, aguardar a melhor conveniência de filiação partidária, e por aí vão os oponentes, numa espera cujo resultado pode ser o de não alcançarem o propósito pretendido.

Na campanha de 2018, o candidato Jair Messias Bolsonaro dizia que não concorreria a um segundo mandato. Uma vez eleito e empossado, o presidente Jair Messias Bolsonaro assumiu jurou que não seria candidato à reeleição. Mas a falsa promessa não durou um mês. Já em fevereiro, quando demitiu Gustavo Bebianno, deu início ao projeto da reeleição, escudado na opinião dos filhos, que estruturam o plano. Fala-se inclusive que Dudu Bananinha quer que o pai fique no cargo até 2026, quando ele, Dudu, poderá disputar o trono. Na cabeça desse bando de malucos vivemos numa monarquia absolutista, onde o pai é rei e os filhos, os príncipes herdeiros.

Com essa ideia na prancheta e nada na cabeça, o clã passou a articular o novo mandato. Despiu-se do legalismo de Moro — que, com sua política de combate à corrupção, afastava o bando do Centrão do núcleo duro do poder —, defenestrou Mandetta da Saúde, aparelhou a pasta e implantou a cultura da cloroquina no combate à Covid. De passagem, mandou às favas o liberalismo de Paulo Guedes, criando, assim, condições objetivas para o fortalecimento do toma-lá-dá-cá.

Sem os éticos a atrapalhar suas pretensões pouco republicanas e cercado por militares de pijama pouco afeitos ao bem público, o capitão da caverna sem luz arquiteta o segundo mandato — um escárnio, para quem produziu mais de 250 mil mortes como a maior marca de seu governo — e se escora nos que desejam romper o lacre do teto de gastos para promover uma gastança eleitoreira sem precedentes.

Bolsonaro aprendeu com Lula, o impoluto, que engordava a barriga dos nordestinos com o Bolsa Família, e agora quer fazer com que os pobres abandonem o berço petista e se deitem na cama bolsonarista — um governo do regime militar disfarçado de civil — usando o dinheiro dos contribuintes para bancar seu projeto de se eternizar no poder.

Indecisos por definição, os tucanos — que mijam no corredor em casa que tem mais de um banheiro — entraram em parafuso depois de perder a presidência para Lula em 2002 e não conseguir recuperá-la em 2010 ― e teriam conseguido se não tivessem transformado o PSDB num cemitério de egos que brigam entre si como treinamento para lutar contra os verdadeiros adversários. Agora, fiéis à dubiedade que sempre os caracterizou, os tucanos expõe na vitrine de presidenciáveis João Doria e Eduardo Leite). Divide ut regnes, ensinou Maquiavel, mas é bom não perder de vista que a união faz a força e que, em determinados casos, menos é mais.

Pela esquerda, o criminoso condenado já orientou seu patético bonifrate a cair na estrada (talvez caia mesmo, e jamais torne a se levantar). Ciro Gomes, que concorreu em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018 e só ganhou experiência, prepara-se para mais uma tentativa inglória de ser presidente do Brasil. O PCdoB deve levar à disputa o atual governador do Maranhão, Flavio Dino, e o Psol, o agora réu Guilherme Boulos.

Especula-se que Mandetta, Moro e Amoedo corram pela raia central, mas parece que nenhum deles se deu conta do curto espaço de tempo que separa a intenção da necessidade de falar ao público na condição de candidatos ou desocupar a moita. O que se vê é uma indecisão pretensamente estudada, travestida de sábia precaução, talvez porque tudo o que fizerem ou disserem a partir de agora terá como referência a perspectiva presidencial — qualquer conversa com qualquer um deles incluirá indagações sobre o que pensam em fazer diferente de Bolsonaro caso consigam desalojá-lo do Planalto. Uma postura incongruente com a ideia defendida por alguns deles sobre a urgência da interrupção do mandato do atual mandatário, pois eles deveriam ser os primeiros a ter em mãos um cardápio pronto com as coisas que precisariam ser removidas e aquilo a ser posto no lugar. Isso com organização, senso de urgência, noção de prioridade, conhecimento de causa, linguagem inteligível para a maioria e coragem para dar o primeiro passo na caminhada em que Bolsonaro está léguas adiante, tocando sua campanha sem oponentes no campo objetivo do embate de projeto de país.

Bolsonaro abriu expressiva dianteira e enormes flancos que seus adversários poderiam explorar dizendo-se — à moda de Joe Biden, que logo de início revogou decisões do antecessor consideradas prejudiciais aos Estados Unidos — dispostos a rever posições da atual gestão nos campos interno e externo que levaram o Brasil a retroceder no trato do meio ambiente, na diplomacia, no manejo da saúde pública, na produção de cultura e até na confiança na firmeza da democracia. Seria um bom início de conversa apresentar uma lista dessas — e bem objetiva, para que o eleitorado veja com clareza o que cada um faria para, além de melhor governar, consertar as obras de desconstrução em diversos setores do país levadas a cabo pelo mandatário a que entrará para história como um dos piores presidentes de todos os tempos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

MORO LÁ — SERÁ? (PARTE 3)


Nunca, desde a redemocratização, uma eleição presidencial foi igual a outra no Brasil. As peculiaridades estiveram presentes até mesmo naquelas em que o(a) chefe da nação foi reeleito(a). Em 2022, tudo será bem diferente do que foi em 2018. A começar pela duração da campanha, que, oficialmente, será de apenas 45 dias, mas durará bem mais que as anteriores, pois começou ainda no primeiro ano da atual gestão. A prevista radicalização não chega a ser novidade, mas não faltam ineditismos, como o fato de o embate reunir o mandatário atual e um ex-presidente e envolver o bate-cabeça da oposição aos dois. 

O maior problema desse campo nem é o mar de pretendentes, mas o deserto de ideias. Bem ou mal, nas eleições anteriores havia um conceito por trás das candidaturas. Em 1998, Fernando Henrique já não contava com o impacto positivo do Plano Real que o elegeu em 1994 e, em meio a uma crise econômica, precisou se valer do receio da sociedade de perder os ganhos obtidos com o fim da inflação.

Em 2002, Lula lançou mão da esperança (“venceu o medo”, lembram-se?) de que uma mudança radical liderada por “um brasileiro igualzinho a você” proporcionasse o almejado bem-estar social absoluto. Em 2006, o grande ativo do mandatário mergulhado no escândalo do mensalão foi o céu de brigadeiro da economia e o auxílio precioso da campanha errática da oposição. Em 2010, no auge da popularidade, o corrupto se fez suceder por uma "gerentona de araque" que vendia a expectativa de dias ainda melhores pela frente. Em 2014 instituiu-se o reino das fake news numa campanha de sórdida ousadia, que, aliada ao ilusório “já ganhou” em Minas Gerais, levou Aécio Neves à derrota por muito pouco e permitiu à presidanta a renovação do mandato — que perderia dois anos depois, por incompetência e trapaças outras.

No intervalo entre a ressaca do impeachment e a próxima eleição, assumiu o vice-presidente — que deixaria o cargo com inacreditáveis 4% de avaliação positiva. Lula estava preso, fazendo campanha fictícia com uma candidatura àquela altura impossível, e a oposição meio engatada no barco do Vampiro do Jaburu, meio confiante na atração de votos por gravidade. O clima era de desesperança. 

Nesse ambiente surgiu o babalorixá dos bolsomínions, vendendo seus devaneios extremistas. Colou. A despeito de todos os pesares daí decorrentes, emocionou. De um lado quem estava disponível para aquele tipo de emoção e, de outro, quem acreditou não haver outra forma de impedir a volta do PT. Boa ou ruim, houve motivação. Justamente o que falta para a próxima eleição.

Estamos em campanha há três anos. Tempo suficiente para que os partidos dispostos a correr na pista do centro da avenida eleitoral entre os dois ditos extremos já tivessem encontrado algo de consistente e, sobretudo, inspirador, para dizer àqueles de quem pretendem atrair os votos.

Os líderes nas pesquisas tratam de assegurar suas reservas de mercado. Falam para as respectivas “bolhas”, inflando a rejeição mútua da qual ambos são dependentes. Mesmo que donos de portentosos telhados de vidro, ainda detêm o monopólio dos discursos ditos de direita e de esquerda. Repetem-se e fazem isso porque os supostos concorrentes não os obrigaram a se mexer para além da área de conforto.

Cada qual à sua maneira, Lula e Bolsonaro tocam corações. Apresentam-se em cores fortes, enquanto seus opositores se vestem em tom pastel na pregação genérica da pacificação política, da desigualdade social e do crescimento econômico. Bons temas, mas por ora carentes de abordagem vigorosa, original e, sobretudo, factível. Quanto a terceira via...

A entrada de Moro em campo chacoalhou a já tumultuada campanha de prévias do tucanato, que vê a candidatura do ex-juiz com apreensão. pré-candidatura é vista com atenção. Moro já aparece em terceiro na pesquisa eleitoral divulgada pela Genial Investimentos e Quaest Consultoria no último dia 10, com 8% das intenções de voto, atrás apenas do ex-presidiário ex-corrupto, com 57%, e do capetão-negação, com 27%, e tecnicamente empatado com o cearense de Pindamonhangaba — que disputou a Presidência em 1998, 2002 e 2018 (e foi derrotado todas as vezes). 

Ciro afirma que "o Brasil não pode eleger um juiz ladrão". Eu, particularmente, não discuto com especialistas e respeito a competência do ex-ministro de Lula como candidato — ele compete, compete, compete, mas nunca vence.

Observação: Em entrevista à rádio O POVO CBN, o senador Eduardo Girão (que apresentou voto em separado pela "extinção melancólica da CPI do Genocídio") elogiou a pré-candidatura de Moro à Presidência. Segundo o parlamentar cearense, o ex-ministro "personifica" a Operação Lava-Jato e entra no xadrez político em uma ação "espetacular", além de "partir de outro patamar na terceira via", com potencial de quebrar a polarização entre nhô-ruim e nhô-pior (vade retro!). É a prova provada de que até um burro cego consegue eventualmente encontrar a cenoura.

Os números chamaram atenção de muitos tucanos — em especial em Minas Gerais e no Sul —, que veem uma chance de o partido conseguir compor uma chapa forte, sem ser o nome principal, e reforçando a chamada terceira via. Segundo o UOL, Moro, Doria e Mandetta se reuniram em São Paulo, no fim de setembro, para debater um plano visando viabilizar a terceira via. Na proposta defendida pelos dois ex-ministros de Bolsonaro, os quase presidenciáveis de centro-direita se uniriam em torno de quem estiver melhor posicionado nas pesquisas em abril de 2022 — os demais desistiriam de sua candidatura, declarando apoio. 

Infelizmente, o plano foi rejeitado por Doria, que já foi próximo de Moro e chegou a sondá-lo para ir ao PSDB, mas tem se afastado (na avaliação de pessoas próximas a Doria, o tucano não deve se vincular à imagem de Moro, e participar de sua cerimônia de filiação ao Podemos, que nada tem a ver com o PSDB, poderia colocar azeitona na empada do ex-juiz. Pelo visto, no RS e em SP venceu a batalha de egos. O discurso de desistência da candidatura está descartado. As campanhas de Leite e Doria dizem não ter conhecimento deste movimento e garantem que, caso ganhem as prévias, concorrerão ao pleito principal. Nenhuma surpresa. Burros velhos dificilmente aprendem truques novos.

Bolsonaro sempre se borrou de medo da candidatura de Moro, que pode tomar uma parte de seu eleitorado. Segundo O Globo, até na alta cúpula do governo há apoiadores do ex-juiz. Entre alguns ministros, há entusiasmo com pesquisas que o mostram largando com dois dígitos de intenção de votos e com a dedicação que ele teria para resgatar políticas de combate à corrupção abandonadas por Bolsonaro. Outro ponto visto como positivo é que Moro seria mais resistente ao controle que partidos do Centrão exercem hoje sobre o governo. Há, no entanto, a avaliação de que, para sua candidatura andar, ele terá que aprender a ser mais maleável e político em suas conversas.

Moro não deixou passar sem resposta a tentativa de atribuir à Lava-Jato a alta recente dos combustíveis, feita pelo PT. Segundo O ANTAGONISTA, o ex-juiz precisa ficar de prontidão, porque a investida petista não vai parar por aí.  O documentira lançado pela ORCRIM no começo do mês atribui todos os males econômicos do país à operação. Logo no começo, o filme pergunta: Sabe aquele Brasil que você acreditava que estava indo rumo ao futuro?” A resposta vem num bordão: “Foi a Lava-Jato que tirou de você. O bordão é repetido ao longo de dez minutos: os empregos, a Petrobras que crescia, o pré-sal, os recursos da saúde e da educação, as grandes obras – foi tudo “a Lava-Jato que tirou de você”.

A patuleia abjeta tentará confundir a cabeça dos simplórios, dizendo que pouco mais de seis anos de combate bem-sucedido à corrupção fizeram mal ao país, mais que o conluio de décadas entre empreiteiras e política — no qual o PT se aconchegou — que desviou bilhões de reais não só da Petrobras, além de bloquear a livre concorrência e causar outras distorções na economia nacional. O PT vai tentar deslocar a conversa para o campo das mentiras e teorias da conspiração porque sabe que no campo da realidade não tem como vencer. 

O partido foi corrupto e corrompeu, não importa o que digam seus próceres ou os processos contra Lula que o STF anulou – sem declarar sua inocência. A história do departamento de propinas da Odebrecht continua existindo, não importa o que digam Gleisi Hoffman ou o ministro Ricardo Lewandowski, que também é petista de quatro costados e acha que a Lava-Jato foi malvada, malvada, malvada por expor empreiteiras corruptas.

Essa vai ser a tônica da campanha do PT. Um teatro em que farão de conta que o governo petista de Dilma não causou uma recessão brutal nem deixou desempregados 13 milhões de brasileiros. Reciclarão os mais decrépitos chavões da esquerda, dizendo que a Lava-Jato se locupletou com misteriosos “interesses estrangeiros” para saquear o Brasil. Triste Brasil.

Quando mais não fosse, a presença de Sergio Moro nas eleições já valeria só por isso: rebater as mentiras da ORCRIM e lembrar de tudo que o PT tirou de você. 

terça-feira, 16 de março de 2021

O PREÇO DA LIBERDADE

 

Escrever sobre política, atualmente, é como trocar um pneu furado com o carro em movimento. O cenário muda tão rapidamente que a metáfora das nuvens no céu, atribuída a Magalhães Pinto, só vale em meio a um furacão. Assim, antes de prosseguir com o texto que eu havia pautado para hoje, vale fazer algumas considerações acerca da substiuição do general-pesadelo na pasta da Saúde.

Desde sábado que se fala sobre a eminente exoneração daquele que comanda a Saúde obedecendo cegamente e sem questionar as ordens de quem realmente comanda essa seara. Ora se diz que o general vai colocar o cargo à disposição, ora que sua exoneração se dará por ação do desgovernante de turno. Mas nada disso muda o fato de que, às vésperas de contabilizar 300 mil mortos pela Covid, o Brasil se espanta cada vez menos. Ou por outra: num país prestes a conhecer seu quarto ministro da Saúde em dois anos de governo, faltam mais pontos de exclamação do que doses de vacina.

Quando puder falar sobre a crise sanitária do século sem desprezar os detalhes, diz Josias de Souza, a história anotará que Bolsonaro instalou no ministério da pandemia uma porta giratória e a manteve rodando em torno das suas idiossincrasias. Mesmo assim, muita gente demora a entender que o problema não está na Esplanada dos Ministérios e, sim, no Palácio do Planalto.

Bolsonaro já fez de tudo. De receitar cloroquina a condenar o distanciamento social; de amaldiçoar a "vachina do Doria" a enxergar jacaré na fórmula do imunizante da Pfizer. Em passant, especializou-se em fritar ministros. Depois de se livrar de Mandetta e Teich, transformou um general da ativa autodeclarado expert em logística numa anomalia administrativa, que agora se tornou um caso raro de ex-ministro da Saúde que continua no cargo. Isso porque é praticamente impossível achar alguém disposto a assumir seu lugar, na medida em que o ministro da Saúde é o próprio chefe do Executivo. No melhor estilo "um manda, o outro obedece", o ministro estrelado se deu mal no estrelato e acabou sendo frito em sua própria gordura.

Neste domingo, após participar de reunião em que o seu pescoço foi o tema central, o general-pesadelo esclareceu: "Não estou doente, o presidente não pediu meu cargo, mas o entregarei assim que pedir." O ministro não sabe, mas está, sim, gravemente enfermo. Foi infectado pelo vírus que reduz general à condição de capacho. E se autoconverteu num desastre de mostruário ao assumir o patético papel de bonifrate do capitão, militarizando a Saúde, ignorando ofertas de vacinas, deixando testes de detecção de Covid perderem a validade, distribuindo cloroquina para pacientes que morriam por falta de oxigênio em Manaus, despachando para Roraima vacinas do Amazonas e atrasando o pagamento de leitos de UTI nos estados.

O centrão levou Pazuello à alça de mira. Líderes do conglomerado partidário patrocinam o nome da cardiologista Ludhmila Hajjar, mas ela despreza a cloroquina, critica a escassez de vacinas, aposta no distanciamento social, prega a união dos líderes políticos e abomina bate-boca entre presidente e governadores. Ou seja: Ludhmila tem um discurso tão cientificamente apropriado que não é uma simples alternativa ministerial. Dito de outra forma, a doutora seria uma nova crise esperando para acontecer — a propósito, o bolsonarismo já tritura a personagem nas redes sociais.

Fala-se agora que Bolsonaro vai sobrestar a troca do ministro depois da “cabeçada” (nas palavras de um interlocutor próximo a Pazuello) na sondagem da cardiologista indicada pelo Centrão, que foi bombardeada nas rede sociais — seguidores do presidente postaram uma miríade de áudios e vídeos em que a esculápia critica a ação federal frente à pandemia. Assim, dá-se de barato que o pesadelo prossiga, digo, que Pazuello siga no posto até que o capitão encontre um substituto que atenda à demanda do Centrão e, ao mesmo tempo, não o desautorize, o que, convenhamos, não é tarefa fácil.

Enquanto prevalecer o receituário de Bolsonaro no trato da pandemia, qualquer troca de comando na Saúde terá o mesmo efeito de uma receita de cloroquina no tratamento da Covid. E viva o eleitorado brasileiro.

ATUALIZAÇÃO: Depois que a cardiologista declinou do convite (alegando “falta de convergência técnica” com o capitão-negação), tudo indicava que o general permaneceria no cargo por mais algumas semanas, mas ontem mesmo Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, foi confirmado novo ministro da Saúde. Em entrevista à GloboNews, o esculápio disse que Bolsonaro determinou "amplo debate" com a comunidade médica para haver "resultado melhor diante da pandemia". Clique aqui para saber mais sobre o novo ministro e aqui para saber como o mundo político reagiu à troca Que Deus nos ajude.

O “nós contra eles” semeado por Lula e seus sectários desmiolados, regado pelos tucanos de plumas vistosas e egos guliverianos e estrumado pelo bolsonarismo boçal do capitão da caverna sem luz, deu azo à cizânia, fulminou o bom senso e fez do consenso artigo tão em falta quanto vaga em UTI durante pandemia de Covid. Mesmo assim, 72% dos brasileiros consideram a democracia a melhor forma de governo e 84% acham realmente que seu voto faz diferença, segundo enquete feita pelo Movimento Renova BR. O fato de 28% dos pesquisados não verem a democracia como a melhor forma de governo me faz lembrar duas máximas atribuídas a Sir Winston Churchill: 1) “A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas.”; 2) “O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano.”

Segundo Aristóteles, “o homem é um ser social porque é um animal que precisa dos outros membros da espécie”. Viver em bando pressupõe a sobreposição dos interesses coletivos aos individuais e a limitação da liberdade de cada um em prol da liberdade de outrem e do grupo como um todo. Dito de outra forma, o convívio social exige a observância de regras limitadoras do nosso ser ou não-ser — como disse Drummond, é preciso instinto de formiga, dentes de leão e habilidade camaleônica”.

Não existe governo perfeito, posto que a perfeição na política ou na teoria social só grassa — se é que grassa — no campo da utopia ou das abstrações conceituais. Na realidade concreta, a teoria é bem outra. Os próprios gregos — que implementaram o governo do povo pelo povo e para o povo — impunham toda sorte de limitações às discussões acerca da polis (apenas para citar um exemplo, estrangeiros, escravos e mulheres não votavam), mas, mesmo assim, sua filosofia e suas instituições democráticas perduram até nossos dias.

Cerca de 10% dos brasileiros são analfabetos e outros 40 milhões são analfabetos funcionais (assim consideradas pessoas que até sabem ler, mas são incapazes de interpretar um texto). Dar título eleitoral a essa gente é tão arriscado quanto dar uma caixa de fósforos a um macaco e trancá-lo num paiol de pólvora.

Ao criticarmos nossa representação política, estamos repudiando nossas próprias escolhas, pois nenhum agente público conquista cargo eletivo sem o aval do eleitorado. Ainda que seja louvável o fato de 84% dos brasileiros acreditarem que podem mudar a situação do país através do voto, é lamentável que eles não se deem conta de que votar exige refletir, ponderar, e escolher, em todos os níveis, políticos comprometidos com a democracia, com o diálogo, com a construção de consensos, com a civilidade e com o espírito republicano. Até porque nossos políticos (salvo raras exceções) se elegem para roubar e roubam para se reeleger.

Dito isso, passemos ao texto que eu havia programado para esta terça-feira: 

O preço da liberdade é a eterna vigilância, disse Thomas Jefferson. A democracia reclama atenção constante e uma participação consciente. Aqui nesta banânia, dos seis Presidentes eleitos pelo voto popular desde a redemocratização e que continuam vivos, somente o grão tucano FHC não sofreu impeachment nem foi preso. Collor, o primeiro Presidente eleito diretamente desde Jânio Quadros em 1960, foi penabundado em 1992; Dilma teve o mesmo destino em 2016; Lula passou 580 dias na cadeia (e corre o risco de voltar para lá, a menos que a banda podre do STF anule suas condenações de decrete a prisão do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (afinal, isto aqui é Brasil) e Temer (que, a rigor, não entraria na lista por ter assumido o posto devido ao impeachment da bruxa má), engrossou a lista dos presos, mas foi solto dias depois por um desembargador especialista em libertar ladrões do erário, que ficou afastado da magistratura durante 7 anos, acusado de estelionato e formação de quadrilha.

O futuro do mandachuva da vez é tão incerto quanto duvidoso é o passado deste arremedo de república de almanaque. Seu projeto é a reeleição (que Deus nos livre e guarde de tamanha desgraça), mas sua deposição não está de todo descartada (como dito, nada é impossível neste c* de mundo). Até porque a diferença entre presidentes impichados e os que escaparam da degola não está exatamente no que cada qual fez ou deixou de fazer, mas na quantidade de votos a seu favor que conseguem granjear entre as marafonas do Congresso.

Quem quiser derrubar um presidente pelas vias constitucionais precisa amealhar três quintos dos votos dos 513 deputados e dos 81 senadores. Bolsonaro já foi alvo de mais de 60 pedidos de impeachment, mas Rodrigo Maia sentou-se em cima de todos eles e Arthur Lira parece disposto a fazer a mesma coisa (pelo menos por enquanto), até porque falta mobilização popular.

Fala-se que o povo não sai às ruas devido à pandemia, mas o que tem de gente organizando e participando de festinhas de todo tipo não está no gibi. Ou a plebe ignara está C&A para o futuro do país, ou está satisfeita com a gestão negacionista do populista do Planalto, cuja obsessão patológica para fazer o que não deve é responsável em grande medida pelos 260 mil cadáveres produzidos pela Covid.

Sem povo nas ruas não há pressão sobre os deputados, ou, dito com outras palavras, sem combustível, não há como acender o fogo. Mas nunca é demais relembrar que um terço de nossos deputados federais e senadores, pelos cálculos mais modestos, responde a processos na Justiça — quase 200 indivíduos, acredite-se ou não, numa coisa dessas. Considerando-se que o Senado e a Câmara têm 594 membros, resulta a seguinte constatação aritmética: o Congresso Nacional é possivelmente uma das organizações com o maior número per capita de gente enrolada com a Justiça em todo o país; deve perder só para as penitenciárias.

A presente situação de impunidade não é suficiente para o gosto dos congressistas — eles querem ficar mais impunes do que já são. Para isso, começou a ser parida na Câmara a PEC DA IMPUNIDADE, que pretende tornar ainda mais difícil a punição de deputados que se vejam acusados de violar o Código Penal. É um novo fundo de poço.

Depois de se colocar de quatro diante do STF, engolindo por vasta maioria e sem nenhum respeito por si próprios a controversa prisão de um de seus pares, a Câmara quer um novo sistema de proteção. Os nobres deputados entregaram um boi para salvar a boiada: em vez de anular a prisão do colega, preso por decisão do STF, rasgaram a Constituição para comprar, daqui por diante, a proteção e a cumplicidade das 11 supremas togas em relação a delitos que já cometeram ou pretendem cometer.

Se quisessem cumprir o que está na lei, os deputados teriam de anular a prisão e processar, eles próprios, o colega troglodita. Caso achassem que ele quebrou o decoro parlamentar, poderiam perfeitamente suspender ou cassar seu mandato. Quando um em cada três congressistas está, de um jeito ou de outro, fugindo da polícia, a tentação de agradar ao STF com a cabeça de um colega fala mais alto. Suas excelências esperam, agora, que os 11 ministros olhem para o outro lado, enquanto eles, aproveitando o embalo, trabalham para reforçar a própria impunidade. E viva o povo brasileiro.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

MAIS SOBRE COMO MELHORAR A PERFORMANCE DO WINDOWS

NÃO É TRISTE MUDAR DE IDEIAS, TRISTE É NÃO TER IDEIAS PARA MUDAR.

Antigamente, quando a gente comprava um carro novo, precisava rodar os primeiros (milhares de) quilômetros sem esticar demasiadamente as marchas ou andar em alta velocidade, sob pena de danificar os componentes internos do motor, que ainda não estavam devidamente ajustados. Somente depois desse “amaciamento” é que o veículo atingia seu melhor rendimento, tanto em desempenho quanto em consumo de combustível.

Com o computador, no entanto, dá-se o contrário ― ou seja, a performance tende a se degradar com o passar do tempo e o uso normal do aparelho.

Embora a gente já tenha conversado sobre essa “característica” dos PCs, não custa reforçar que é possível manter o despenho do sistema em patamares aceitáveis com o uso de uma boa suíte de manutenção ― como o System Mechanic, o Advanced System Care, o CCleaner e o Glary Utilities, dentre inúmeras opções que a gente já analisou em diversas oportunidades. Na falta desse recuso, convém ao menos rodar os utilitários que o Windows oferece para limpeza do disco, correção de erros e desfragmentação dos dados. (Já expliquei "n" vezes como fazer isso, de modo que não faz sentido encompridar esta matéria "chovendo no molhado", se você tem dúvidas, pesquise o Blog ou deixe um comentário).

Observação: Note que uma suíte não só facilita o trabalho, mas também proporciona melhores resultados, até porque algumas delas (como as que sugeri linhas atrás) atuam em outras frentes, com destaque para o Registro do sistema, que deve ser mantido limpo e desfragmentado (para saber mais sobre esse importante banco de dados do Windows, reveja a sequência de postagens iniciada por esta aqui).

Mas não é só. Mesmo um sistema saudável pode ter o desempenho melhorado com alguns ajustes simples. Dentre outros, sugiro desabilitar a indexação de busca, notadamente em máquinas de configurações (de hardware) mais modestas. Isso porque esse serviço roda em segundo plano para agilizar eventuais pesquisas que você só faz eventualmente, mas consome recursos do computador durante todo o tempo. No cômputo geral, é melhor esperar um pouco mais pelos resultados de uma pesquisa ― se e quando você a fizer ― do que conviver com lentidão constante.

Para fazer essa configuração no Windows 10, digite index na caixa da Cortana e clique em Opções de Indexação. Na janela que se abre em seguida, clique no botão Modificar; na próxima, faça os ajustes desejados (sugiro desmarcar todas as caixas de verificação exibidas no campo Alterar locais selecionados).

Observação: Note que esse procedimento é desnecessário em computadores equipados com SSDs.

Continuamos na próxima postagem. Até lá.

NADA ALÉM DE INCERTEZAS

Ao investigar o presidente Michel Temer e afastar dois parlamentares do cargo, a PGR e o STF se tornaram alvos do Planalto e do Congresso. Receando pela própria sobrevivência política, os aliados do governo não se constrangem em descumprir decisão judicial e fustigar o procurador-geral, Rodrigo Janot, e o relator da Lava-Jato no Supremo, ministro Edson Fachin.

Antes restrita a conversas de bastidores, a discórdia ficou explícita com a denúncia de que o Planalto teria acionado o serviço secreto para investigar Fachin, e o Senado, descumprido a decisão judicial de afastar Aécio Neves. A fervura baixou nos últimos dias, devido a um recuo estratégico de ambos os lados, mas as manobras sub-reptícias persistem: aliados do governo tramam com Rodrigo Maia uma forma de arquivar o mais rápido possível a denúncia contra Temer ― fala-se até que Maia cogita suspender o recesso parlamentar para barrar o processo enquanto o presidente ainda conta com o apoio de mais de 1/3 dos deputados.

Como a autorização pela Câmara deverá ser feita mediante votação nominal, a intenção da PGR é constranger os deputados (vale lembrar que, no ano que vem, os eleitores terão a chance de substituir todos os 513 deputados federais e 2/3 dos 81 senadores). Janot pretendia esperar até o final deste mês para denunciar Temer, mas agora cogita ampliar o leque de crimes, o que resultaria em pelo menos duas ações penais contra o presidente. Além disso, o procurado aposta na “colaboração” de Fachin, que parece disposto a cumprir todos os prazos processuais ― o que retardaria a chegada da denúncia à Câmara em pelo menos 20 dias e, consequentemente, frustraria o plano do governo de votar antes do recesso.

Especula-se também que Temer indicará algum nome alinhado à sua causa para substituir Janot na PGR, em setembro, com o objetivo de frear a Lava-Jato. Isso interessa aos congressistas alvejados por denúncias e processos, mas deve afastar os demais do Executivo (como dito, as eleições estão aí), sem mencionar que a opinião pública certamente irá se manifestar contra mais essa maracutaia.

Existe ainda a possibilidade ― remota, mas enfim... ― de o STF passar a adotar uma posição sistematicamente obstrucionista. Um bom indício nesse sentido foi a atuação do ministro Gilmar Mendes no julgamento da chapa Dilma-Temer. Restam 10 ministros no Supremo, e nem todos são admiradores confessos de Temer, mas o governo briga pela sobrevivência e já mostrou que está disposto a “ir até o fim” (que se ferre o Brasil e que se lasquem os brasileiros).

Temer se vale do fato de seus aliados não terem força suficiente para excretá-lo a baixo custo e de os adversários preferirem o apodrecimento progressivo à ruptura de consequências incertas. Para um moribundo, cada dia a mais é uma vitória, e o governo aposta que uma melhora na economia lhe dê alguma força para influir na sucessão e proteger o presidente e seus comparsas. Não é o melhor plano, mas não deixa de ser um plano, embora seja grande o risco de Temer não ver sequer aprovadas as reformas que defende ou de chegar ao final de 2018 no cargo, pois novas denúncias poderão surgir para sangrá-lo em praça pública.

Como escreveu Ricardo Noblat em seu blog, quando só o problema tem as chaves da solução, a tendência da crise é perenizar, num processo de contaminação progressiva. Os atores “neutros” vão sendo arrastados para o ringue, e os árbitros vão perdendo a capacidade de arbitrar. Até que alguém, velho ou novo, prevaleça pela força e corte o nó górdio, pois nenhuma crise dura para sempre. Mas parece que ninguém tem a espada mágica. Um desembarque do PSDB certamente catalisaria o impulso para Temer cair pela via congressual, pela autorização ao STF ou mesmo por impeachment. Só que o PSDB também reluta ― por razões óbvias ― em contribuir para fortalecer decisivamente a Lava-Jato, o Ministério Público e a Justiça.

A situação não pode se eternizar, mas pode se estender até as próximas eleições, e é nisso que apostam o núcleo dirigente do PT e Lula, que hoje preferem o cenário de definhamento progressivo do governo Temer. O problema do PT é que, se o atual governo tem instrumentos para bloquear ― ou pelo menos frear ― as coisas em Brasília, os petralhas não têm como neutralizar Curitiba, e a ameaça para Lula e o PT está no Paraná, não em Brasília. Mesmo assim, os esquerdopatas esperam que a derrocada do governo lhes sirva de “mão do gato” para tirar castanha do fogo. Lembro que eles também achavam que o fiasco de Sarney propiciaria uma virada em 1989, e o resultado a gente sabe muito bem qual foi.

É fundamental ter em mente que nosso maior problema não é Temer nem Lula, mas a falta de oposição. O PSDB, tão inútil quanto um sexto dedo do pé, teve seu momento de glória ao emplacar FHC, que, quando ministro de Itamar, conseguiu vencer a hiperinflação sistêmica com o Plano Real, mas deixou a esquerda criar asas e perdeu a presidência para Lula. O sonho de recuperá-la em 2010 até poderia ter se concretizado se o tucanato tivesse se empenhado mais, mas esse cemitério de egos ainda não se conscientizou de que brigar entre si não serve como treinamento para lutar contra os verdadeiros adversários.

O PSDB nasceu socialdemocrata, mas foi perdendo vigor conforme se distanciava da sociedade e passava a se orientar pela lógica do poder, notadamente depois de se tornar oposição aos governos do PT. Depois da derrota de Aécio em 2014, o partido entrou em parafuso. É certo que tenha contribuído para o impeachment de Dilma, que o tenha feito em nome da estabilidade, da governança, da austeridade, da “salvação nacional”, e que tenha apoiado a ideia de se ter um governo de transição que, mantendo de pé uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior fase da crise e entregasse o país em melhores condições para o presidente a ser eleito em 2018. Só que nada fez para influenciar ou direcionar esse governo, que se deixou impregnar pelos interesses escusos do Congresso e pela preocupação em esvaziar a Lava-Jato e recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande política pela pequena política. Um governo de perfil “parlamentar”, mas com uma base pouco confiável, sem grandeza e sem projeto, que se refletiu na composição ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS.

O PSDB ficou ainda mais desmoralizado com o afastamento judicial de Aécio Neves, cuja imagem de bom moço enganou meio mundo (e aí se inclui este obscuro articulista). Com seu espaço de manobra reduzido, os tucanos optaram por permanecer no barco, mas, por não terem forças para assumir o leme, dividiram-se entre “cabeças pretas” e “cabeças brancas”. Por não conseguir esclarecer as razões da opção, o partido virou as costas para a opinião pública e deixou que se fechasse a janela de oportunidade que lhe permitiria resgatar a imagem que teve outrora, qual seja de alternativa lógica para quem já não suporta mais corruptos como os do PT e do PMDB.

Observação: Na semana passada, a prisão temporária da irmã de Aécio foi mantida por decisão da 1ª Turma do Supremo, que decidirá, na próxima terça-feira, se pede ou não a prisão do próprio senador. Lula e PT, “esquecidos” temporariamente devido ao cataclismo gerado pela delação da JBS, apostam no “quanto pior melhor” para prolongar a crise e capitalizar suas chances no pleito de 2018. Para esses imprestáveis, é imperativo manter a militância coesa e vender a ilusão de que somente o molusco abjeto poderá reverter a crise que ele mesmo ajudou a criar ao escolher Dilma para sucedê-lo no final do seu segundo mandato. E o pior é que sempre tem quem compra.

Enfim, o PSDB fez sua aposta ― pouco importando, nesse contexto, ta “fresta” deixada aberta para o caso de “fatos novos” forçarem uma revisão da decisão. Disseram seus caciques que decidiram balizados pela “ética da responsabilidade”, quando na verdade foram motivados por expectativas futuras de autopreservação. Combate à corrupção, reforma política e qualificação da democracia saíram da agenda, o que também possibilita ao PT embarcar nessa canoa, juntando a fome com a vontade de comer.

Manter apoio ao governo foi mais um tijolo na obra de desconstrução do tucanato. Algo que certamente cobrará seu preço, tanto do partido, que prolongou sua indefinição, quanto da política nacional, que perdeu outro personagem que poderia fazer a diferença. Ou será que a sociedade, a opinião pública e o eleitorado perdoarão os tucanos nas próximas eleições?

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