UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
sexta-feira, 24 de maio de 2024
CONSCIÊNCIA E VIDA APÓS A MORTE (PARTE V)
sábado, 23 de julho de 2022
O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (TERCEIRA PARTE)
Marisa Letícia Lula da Silva morreu no dia 3 de fevereiro de 2017, aos 66 anos, vítima de um aneurisma. Embora ela fosse hipertensa, sedentária e fumante, sua morte foi inesperada. Durante o velório, o viúvo proferiu um discurso emocionado, regado a lágrimas, e a imprensa concedeu ampla cobertura à desgraça que se abateu sobre o Clã Lula da Silva. Nas redes sociais, mensagens de solidariedade, pêsames e congêneres dividiram espaço com posts publicados por gente que não morria de amores por Lula, pelo PT e pela própria ex-primeira dama. Alguns resvalaram do mau gosto para o grotesco, o que é indesculpável, mas, ainda assim, compreensível.
Militantes de esquerda em geral e puxa-sacos em particular relembraram a infância pobre da falecida, que estudou somente até a 7ª série, começou a trabalhar aos 9 anos, enviuvou do primeiro marido aos 20, liderou a marcha pela libertação do segundo, costurou a primeira bandeira do PT, apoiou o chefão da ORCRIM nas campanhas; enfim, pintaram-na como uma Amélia melhorada, com a inteligência de Marie Curie, a abnegação de Madre Teresa, a têmpera de Margaret Thatcher e a fleuma de Hillary Clinton (no episódio Monica Lewinsky).
Curiosamente, ninguém mencionou que a finada deixou patente, bem do Escândalo do Mensalão, a notória incapacidade petista de separar o público do privado ao mandar plantar, no gramado do Alvorada, um canteiro de flores vermelhas no formato da estrela símbolo do partido. Tampouco foi lembrado que ela ― muito convenientemente ― teria “fechado os olhos” (aqui metaforicamente) para o affair do marido com Rosemary Noronha (entendeu agora o que eu quis dizer com a “fleuma de Hillary”?).
Rose, como a “segunda-dama” era chamada informalmente, foi apresentada a Lula pelo guerrilheiro de araque José Dirceu. O “caso” teve início na década de 90, mas só veio a público em 2012, quando a PF deflagrou a Operação Porto Seguro. Nesse meio tempo, a moçoila acompanhou “O Chefe” ― ou “Deus”, como ela costumava se referir a ele ― em pelo menos 32 viagens oficiais. Seu nome não constava do manifesto de voo e ela não compartilhava com Lula a mesma suíte, mas ficava nos melhores hotéis, comia do bom e do melhor em restaurantes estrelados e, segundo Leo Pinheiro, recebia R$ 50 mil por mês da OAS (também a pedido do petista, o empreiteiro teria incluído o marido de Rose na folha de pagamento da empresa).
Quando a história ganhou notoriedade, o repórter Thiago Herdy e o jornal O Globo entraram na Justiça com um pedido de quebra do sigilo dos gastos da dita-cuja no cartão corporativo da Presidência, mas o STJ empurrou a coisa com a barriga. Em 2014, quando o movimento “Volta, Lula” ganhou corpo, Dilma ― que prometeu “fez o diabo” para se reeleger ― ameaçou divulgar as despesas da concubina real, forçando o petralha a recuar.
Segundo o jornalista Cláudio Humberto, editor do blog Diário do Poder, os gastos com cartões corporativos no período de 2003 a 2015 somaram R$ 615 milhões (mais de R$ 51 milhões por ano), ao passo que no último ano do governo FHC a conta foi de “apenas” R$ 3 milhões. A farra foi tamanha que um alto funcionário do Ministério das Comunicações chegou a pagar duas mesas de sinuca com o cartão corporativo — que também foi usado por seguranças da “primeira-família” para pagar equipamentos de musculação e materiais de construção para Lurian, filha de Lula.
Em setembro de 2013, o jornalista Augusto Nunes publicou em sua coluna: "Neste sábado, Lula completará 288 dias de silêncio sobre o escândalo que protagonizou ao lado de Rosemary Noronha. Ele parece ainda acreditar que o Brasil acabará esquecendo as bandalheiras que reduziram a esconderijo de quadrilheiros o escritório da Presidência da República em São Paulo. No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, a edição de VEJA tratará de reiterar que a memória da imprensa independente não é tão leviana. As revelações contidas nas quatro páginas tornarão mais encorpada e mais cinzenta a pilha de perguntas em busca de resposta. Por exemplo: quem está bancando os honorários do oneroso exército de advogados incumbido de livrar de punições judiciais a vigarista de estimação do ex-presidente? Num depoimento à Polícia Federal, Rose não conseguiu explicar como comprou o muito que tem com o pouco que ganha. De onde vem o dinheiro consumido pela tropa de bacharéis que cobram em dólares americanos? Lula sabe”. Segue um excerto da matéria: A discrição nunca foi uma característica da personalidade de Rosemary Noronha. Quando servia ao ex-presidente em Brasília, ela era temida. Em nome da intimidade com o “chefe”, fazia valer suas vontades mesmo que isso significasse afrontar superiores ou humilhar subordinados. Nos eventos palacianos, a assessora dos cabelos vermelhos e dos vestidos e óculos sempre exuberantes colecionou tantos inimigos — a primeira-dama não a suportava — que acabou sendo transferida para São Paulo. Mas caiu para cima. Encarregada de comandar o gabinete de Lula de 2009 a 2012, Rose viveu dias de soberana e reinou até ser apanhada pela Polícia Federal ajudando uma quadrilha que vendia facilidades no governo. Ela usava a intimidade que tinha com Lula para abrir as portas de gabinetes restritos na Esplanada. Em troca, recebia pequenos agrados, inclusive em dinheiro. Foi demitida, banida do serviço público e indiciada por crimes de formação de quadrilha e corrupção. Um ano e meio após esse turbilhão de desgraças, no entanto, a fase ruim parece ter ficado no passado. Para que isso acontecesse, porém, Rosemary chegou ao extremo de ameaçar envolver o governo no escândalo."
No discurso emocionado que proferiu no velório da esposa, Lula disse que ele dona Marisa foram foram vítimas de injustiça, que a mulher morreu "triste com a maldade que fizeram com ela" e que ele espera que "os facínoras que fizeram isso um dia peçam desculpas". Confira um trecho do comício:
“Se alguém tem medo de ser preso, este que está aqui, enterrando sua mulher hoje, não tem. Não tenho que provar que sou inocente. Eles que precisam dizer que as mentiras que estão contando são verdadeiras. Marisa foi mãe, foi pai, foi tia, foi tudo; eu e ela nunca brigamos. Marisa nunca pediu um vestido, um anel. Eu vou continuar agradecendo à Marisa até o dia que eu não puder mais agradecer, o dia em que eu morrer. Espero encontrar com ela, com esse mesmo vestido que eu escolhi para colocar nela, vermelho, para mostrar que a gente não tinha medo de vermelho quando era vivo, e não tinha medo de vermelho quando morre”.
Neste vídeo, a jornalista e hoje deputada federal Joice Hasselmann resumiu em 6 minutos, de maneira irreprochável, o que pensava da desfaçatez do viúvo que transformou esquife em palanque e foi aplaudido pelos micos amestrados de costume — conquanto muita gente tenha lido nas entrelinhas a monstruosidade moral de um safardana nauseabundo, capaz de usar a morte da mulher para fazer proselitismo político.
Continua...
sexta-feira, 22 de julho de 2022
O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (CONTINUAÇÃO)
Antes de desposar Marisa Letícia Rocco Casa, o desempregado que deu certo foi casado com Maria de Lourdes da Silva — uma mineira cuja família fugiu da seca no início dos anos 1950. Se tivesse seguido pela rota de Montes Claros ao invés de descer em direção a Governador Valadares, o pau-de-arara que trazia dona Lindú e os filhos poderia ter cruzado com a caminhoneta que levava a futura esposa do futuro petista à gare da Central do Brasil, onde ela (então com 3 anos) e seus familiares tomaram o "trem baiano" para São Paulo.
Os dois se conheceram num bairro pobre da periferia paulistana, onde moravam em casas contíguas, e se casaram em maio de l969 — a festa de foi na casa da irmã Ruth (ex-Tiana), e teve sanduíche, bolo e guaraná. Um ano depois, o casal comprou uma casinha com 2 quartos, sala e cozinha, que reformou para receber o primeiro filho. A gravidez transcorreu sem problemas até o oitavo mês, quando então Lourdes contraiu hepatite e foi submetida a uma cesárea de emergência. Nem ela nem a criança sobreviveram.
Em algum momento de sua viuvez, Lula conheceu a enfermeira Miriam Cordeiro, com quem teve a filha Lurian. e que foi protagonista de um vídeo exibido por Fernando Collor, no horário eleitoral do segundo turno de 1989, no qual a mulher dizia que Lula lhe ofereceu dinheiro para que abortasse. O episódio teve grande repercussão e o petista perdeu a eleição (não só por causa do vídeo, mas, certamente, também devido a ele). Soube-se mais adiante que ela havia recebido dinheiro da campanha de Collor para fazer a "denúncia", mas então o estrago já estava feito.
Lula se filiou ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema em 1967, incentivado pelo irmão José Ferreira da Silva (o tal Frei Chico), que era ateu e militante do Partido Comunista Brasileiro. Na época, o futuro fundador do PT dizia ter ojeriza à política e a quem gosta de política, mas se elegeu 2º suplente da diretoria da entidade em 1969, 1º secretário em 1972 e presidente em 1975. Foi sob sua liderança que o ciclo de greves em prol da recomposição salarial da categoria teve início.
Em 1974, Lula se casou com Marisa Letícia, que havia conhecido sete meses antes, no Sindicato. Paulista de São Bernardo do Campo, ela nasceu em 7 de abril de 1950 e começou a trabalhar aos 9 anos de idade — primeiro como babá, depois na fábrica de doces Dulcora — e foi casada com o taxista Marcos Cláudio da Silva, que morreu assassinado seis meses depois do enlace. Além de Marcos, fruto do primeiro casamento, ela teve com Lula os filhos Fábio Luiz (vulgo Lulinha), Sandro Luiz e Luiz Cláudio.
Como principal dirigente do movimento sindical brasileiro, Lula participou de assembleias e reuniões em todo o país (chegando mesmo a ir ao Japão a convite da Toyota). Foi cassado em 1979, mas recuperou o cargo ao final da greve. No ano seguinte, acusado de promover greve e incitar publicamente à "subversão da ordem político-social", ele ficou 31 dias detido nas dependências do DOPS, mas jamais foi torturado. O delegado Romeu Tuma, então diretor-geral do DOPS, permitia que ele lesse jornais, recebesse visitas importantes e até visitasse a mãe, que estava com câncer terminal (ele ia deitado no banco traseiro de uma viatura, escoltado por agentes vestidos como operários). Quando dona Lindú morreu, Tuma o autorizou a acompanhar o enterro.
Marisa Letícia confeccionou a primeira bandeira do PT, mas pouco apareceu nas campanhas de Lula anteriores à de 2002. Em dezembro de 2016, virou ré na Lava-Jato, acusada de crime de lavagem de dinheiro ao lado marido no caso do tríplex, mas não chegou a ser condenada: um aneurisma a matou em fevereiro de 2017, cinco meses antes de Sergio Moro proferir a sentença condenatória.
Golbery do Couto e Silva ("O Bruxo") disse a Emílio Odebrecht que Lula posava de esquerdista, mas não passava de um bon vivant. Com efeito. O molusco deixou de ser operário quando fundou o PT, mas, na condição de líder sindical, não dava expediente em chão de fábrica desde 1972. Bastou encontrar quem pagasse a conta para ele trocar a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de US$ 100. Numa conta de padaria, mais da metade de seus "gloriosos dias" foi dedicada à "arte da política", não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros.
Lula começou a trabalhar aos 7 anos, mas sempre foi avesso à labuta, preferindo viver de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos. O embusteiro que emergiu das delações da Odebrecht desnudado da roupagem de salvador da pátria prestava serviços a corporações corruptas, de todos os matizes e origens, em troca dos prazeres da boa vida. Como camelô de empreiteiro, ele desfrutou do poder de maneira indecorosa, mas sem jamais deixar de cultuar a imagem de político habilidoso, honesto e provido de um senso de justiça social sem paradigma na história deste país.
Continua...
segunda-feira, 24 de junho de 2019
SOBRE O TELEGRAM, AS DIFERENÇAS EM RELAÇÃO AO WHATSAPP E A ÓPERA BUFA ENVOLVENDO O INTERCEPT, MORO E A LAVA-JATO.
Embora sejam ambos aplicativos mensageiros, WhatsApp e Telegram funcionam de maneiras diferentes. Na verdade, o Telegram é mais parecido com o Facebook Messenger e o Skype do que com o WhatsApp. Ele foi criado em 2013 pelos irmãos Nikolai e Pavel Durov, fundadores da rede social VKontakte (o Facebook da Rússia), que, após serem forçados a vender o VK ao grupo Mail.ru, ligado ao governo russo, deixaram o país e usaram os US$ 260 milhões que receberam para criar um aplicativo mensageiro imune à bisbilhotice dos espiões russos. E assim nasceu o Telegram, cujo uso a Rússia proibiu em seu território, alegando que a empresa se recusou a abrir sua criptografia (codificação de dados) para o governo — o que de certa maneira estimulou o uso do app, pois, além de ser mais rápido que os concorrentes na entrega das mensagens, prometia sigilo absoluto, o que é sopa no mel tanto para quem atua à margem da lei, como organizações terroristas, pedófilos, traficantes e o escambau, quanto para pessoas não veem com bons olhos o fato de o WhatsApp pertencer ao Facebook, que explora a publicidade e não deixa claro como usa os dados, hábitos e conteúdo das conversas dos usuários.
No WhatsApp — que contabiliza mais de 1,5 bilhão de assinantes, 120 milhões só no Brasil — as mensagens são encriptadas e salvas no celular do usuário; no Telegram elas seguem abertas e são armazenadas “em nuvem” — leia-se nos servidores online que a empresa tem espalhados pelo mundo —, sendo apagadas a pedido do usuário ou automaticamente, quando este não acessa o aplicativo por um determinado período (que por padrão é de 6 meses).
No WhatsApp não é possível ativar a conta em mais de um aparelho com o mesmo número, e ainda que o serviço possa ser acessado pelo computador, o modo WhatsApp Web só funciona se o smartphone estiver ligado e conectado à Internet. Já o Telegram não limita o uso a um dispositivo que atue como central — ou seja, a mesma conta pode ativada simultaneamente em vários aparelhos — e o Telegram Web funciona independentemente de o smartphone estar ligado e conectado à Internet. Se esquecer o celular em casa ou ficar sem bateria, por exemplo, o usuário pode usar outro dispositivo (smartphone, tablet ou PC) para continuar suas conversas. Isso é cômodo, não resta dúvida, mas a questão é que comodidade e segurança não costumam andar de mãos dadas.
Observação: O WhatsApp também salva o histórico “em nuvem”, mas não o faz automaticamente e nem armazena o backup em seus próprios servidores, mas sim em um arquivo no Google Drive (no caso do Android) ou no iCloud (no caso do iPhone), e somente se o usuário ativar esse recurso. Para fazer o download, além de acesso à conta no aplicativo, é necessário informar a senha que protege o arquivo no drive virtual. Assim, se uma conta no WhatsApp for sequestrada, o criminoso pode até se passar pelo titular, mas só terá acesso ao arquivo com seu histórico de conversas se descobrir a respectiva senha.
As diferenças não param por aí. O WhatsApp é um software de código fechado (ou proprietário); no Telegram, o código é aberto, mas não na porção que toca ao servidor — cujo papel é mais importante que no concorrente, pois armazena todas as mensagens. Para invadir uma conta remotamente — ou seja, sem acessar fisicamente um dispositivo desbloqueado e conectado ao serviço —, o criminoso pode tentar se passar pelo dono da linha e pedir a transferência para outro chip com o mesmo número (clonagem). Outra maneira é recorrer ao "phishing" (mais detalhes nesta postagem) para infectar o dispositivo-alvo com algum software malicioso (trojan, spyware etc.), mas o modo mais fácil é valer-se de um descuido do dono do aparelho (smartphone, tablet ou PC) para obter um código de ativação e autenticar o acesso em seu próprio dispositivo. Como são armazenadas em nuvem, as conversas estarão visíveis para qualquer um que acessar a conta, e o estrago pode ser grande.
No WhatsApp, a maneira mais fácil de ver as mensagens antigas de outra pessoa é ativando uma sessão do WhatsApp Web, mas, como dito, isso requer acesso completo ao celular e a senha do arquivo salvo em nuvem (supondo que esse backup exista, pois, também como foi dito, nada obriga o usuário a fazê-lo). No Telegram, basta ter acesso à linha de telefone para ativar a conta e ver todas as mensagens.
Inicialmente, o WhatsApp tinha poucos recursos de segurança e podia ser grampeado em qualquer rede Wi-Fi com um programa simples, ao passo que o Telegram já contava com criptografia e chats secretos capazes de impedir até grampos eletrônicos sofisticados. Com o passar do tempo, ambos evoluíram. Em 2016, constantes vazamentos levaram o WhatsApp a implementar uma tecnologia de embaralhamento de mensagens copiada do Signal — que é considerado por muitos o melhor aplicativo categoria, e que você deve usar se realmente faz questão de privacidade em suas comunicações (a versão para Android pode ser baixada a partir deste link). Já o Telegram, mesmo sendo pioneiro em chats secretos criptografados, apostou na comodidade, privilegiando o uso em múltiplos dispositivos e o armazenamento centralizado das conversas — o que facilita a migração, mas compromete a segurança de quem não ativa os recursos avançados.
Diante do exposto, fica difícil dizer qual dos dois aplicativos em análise é o mais seguro, até porque isso depende de como eles são configurados e o uso que é feito deles. Muita gente não habilita os recursos avançados do Telegram por desconhecimento ou para não sofrer limitações no acesso a determinadas funções e conveniências. Se, por exemplo, você utilizar o “chat secreto”, suas mensagens trafegarão encriptadas (a empresa oferece US$ 300 mil a quem conseguir quebrar seus protocolos de criptografia), não poderão ser reencaminhadas e serão apagadas automaticamente minutos ou segundos depois que forem lidas. A criação de grupos, que no modo “normal” pode ter até 200 mil usuários, não é permitida no privado, daí a conclusão de que Moro e os procuradores da Lava-Jato não se valeram desse recurso, talvez porque, como em outras camadas segurança presentes no aplicativo, é preciso definir uma senha que passa a ser exigida a cada nova sessão. Se por um lado isso é incomodativo, por outro torna o programinha muito mais seguro.
Resumo da ópera: se você optar pelo Telegram porque precisa de privacidade, use o chat secreto e ative autenticação em dois fatores pela aba "privacidade e segurança" — onde é possível também definir quem pode saber se você está online, ver sua foto de perfil e número de telefone, ajustar o tempo que o histórico deve permanecer nos servidores se a conta ficar inativa, e assim por diante. No WhatsApp, como o histórico de conversas é armazenado localmente, apague-o de tempos em tempos, não só para aprimorar a segurança, mas também para liberar espaço precioso na memória interna do smartphone. E não deixe de ativar a autenticação em dois fatores (clique aqui para saber como fazer isso).
Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas. Causa espécie o fato de Moro, Dallagnol e companhia terem sido tão relapsos. Qualquer fã de filmes policiais com foco na Cosa Nostra (ramificação da Máfia siciliana que dominou a costa leste dos EUA durante boa parte do século passado) sabe que “assuntos sensíveis” devem ser tratados pessoalmente, de preferência numa caminhada ao ar livre e longe de ouvidos curiosos. Telefone, só "orelhão", e apenas para recados urgentes. Aliás, Tancredo Neves já dizia que "telefone só serve para marcar encontro, e assim mesmo no lugar errado". Reunião, portanto, só na sauna, e com todo mundo nu.
Em nota ao portal G1, o Telegram informou que protege as mensagens trocadas pelos usuários, tanto no envio quando no armazenamento em seus servidores, que jamais compartilhou um único byte com terceiros, que nenhuma maneira de corromper sua encriptação foi descoberta até hoje e que não foi alvo de invasão. Pelo visto, Moro, Dallagnol e os demais envolvidos nesse carnaval midiático deram sopa para o azar ao não ativar os recursos de segurança disponibilizados pelo aplicativo — que, nunca é demais lembrar, se tornarão ineficazes se o telefone for invadido, pois aí o criminoso terá acesso total ao dispositivo, podendo, inclusive, capturar tudo o que é digitado e visto na tela. Em última análise, quem não quer correr riscos deve dispensar qualquer meio de comunicação eletrônica.
Sem entrar no mérito do conteúdo vazado (que, como se sabe, pode ter sido editado ou adulterado de várias maneiras) e a forma criminosa como ele foi obtido (através de hackeamento digital), volto a salientar que bastaria aos envolvidos usar o "chat secreto" para que suas conversas fossem encriptadas e apagadas automaticamente segundos ou minutos após a leitura, em vez de permanecerem dando sopa nos servidores do Telegram. Especula-se que o acesso não autorizado ao terminal de Moro se deu através de malwares (códigos maliciosos), mas existe a possibilidade de a linha ter sido comprometida e o SMS com o código de login no Telegram, interceptado. É provável que o invasor tenha se valido de um processo conhecido como SIM Swap — clonagem do chip por meio de uma brecha (ou insider) da operadora telefônica — e, após obter acesso ao número de telefone e clonar o chip, interceptado ligações, mensagens, localização e outras informações pessoais. Nessas condições, os aplicativos e demais serviços providos pelo chip ficam inoperantes até que a vítima perceba e entre em contato com a operadora para tentar reverter o processo. Veja detalhes no vídeo a seguir:
O que você pode esperar de um país em que pelo menos um em cada três membros do Congresso Nacional (algumas contas, mais pessimistas, estimam que o total possa passar dos 40%) responde a algum tipo de processo criminal perante a Justiça — um caso sem similar no resto do planeta? Isso é só uma parte do problema. Roubava-se tanto na Odebrecht, nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, que a empresa achou necessário criar um departamento inteiro destinado unicamente a cuidar da corrupção de políticos e peixes graúdos da administração pública — com diretores, gerentes, secretárias, sistemas de TI e tudo o mais que se precisa para tocar um negócio de prioridade máxima. Não é apenas o Congresso. Há, nesse mundo de treva, o resto dos políticos — no nível federal, nos estados e municípios. Há também outras empreiteiras de obras, empresários escroques, bancos com problemas junto a delatores e mais um montão de gente. Só se pode esperar disso tudo, na verdade, uma coisa: os mais extraordinários esforços, por parte dos criminosos, para manter as coisas o mais próximo possível da situação em que sempre estiveram.
Até uma criança com 10 anos de idade percebe que ninguém, aí, quer ir para a cadeia. Todos, se pudessem, gostariam de voltar a roubar em paz. E sabem, é claro, que não vai ser fácil. Juridicamente não não existe a menor possibilidade de “zerar tudo” — quer dizer, anular os processos por corrupção já decididos ou em andamento na Justiça, ou eliminar as provas materiais colhidas contra condenados, réus à espera de sentença e suspeitos de ações futuras. Que diabo se faz, por exemplo, com as confissões que foram colocadas no papel? E com as “delações premiadas” ora em andamento? Também não é possível, simplesmente, fazer com que se evaporem os resultados físicos dos procedimentos judiciais de combate à corrupção já executados até agora. Em números redondos, são cerca de 250 condenações, num total superior a 2.000 anos de prisão. Mais de 150 criminosos de primeira linha foram para a cadeia. Bilhões de reais foram devolvidos ao Tesouro Nacional. Para ficar no caso mais vistoso: o ex-presidente Lula, após apresentar mais de 100 recursos de todos os tipos, já está condenado em terceira instância — julgado, até agora, por 21 juízes (possivelmente não há na história do direito penal brasileiro outro caso em que o direito de defesa tenha sido tão utilizado por um réu).
É um problema e tanto. Na impossibilidade de sumir com o passado, o esforço, agora, é para armar um futuro menos complicado para todos. Uma das esperanças mais caras do mundo político em geral é que prevaleça, uma vez mais, o ponto de vista dominante na elite brasileira — que, como sabemos, tem um código moral perfeito, mas gosta muito mais do código do que da moral. Essa elite, ou as classes que definem a virtude nacional, está tentando construir uma espécie de trégua — a trégua que for possível, baseada em decisões que de alguma forma possam ser vinculadas à interpretação das leis. Segundo os devotos do código, talvez seja uma pena para a visão comum que se tem da ideia de justiça — mas se a majestade da lei exigir que a moral vá para o diabo que a carregue, paciência. Como tem objeções à vacina, há gente que acaba, na prática, ficando a favor da bactéria.
É positivo anotar, de qualquer forma, que o roubo do Erário, no Brasil de hoje, está mais difícil do que jamais foi ao longo de seus 500 anos de existência. Em consequência da ação da Justiça, jamais foi tão arriscado ser corrupto como no Brasil de hoje — e jamais os corruptos tiveram tanto medo de agir como têm agora. Talvez nada mostre melhor a calamidade que impuseram ao país que o pedido de recuperação judicial da própria Odebrecht, aceito na semana passada — após a destruição, em cinco anos, de quase 130.000 empregos na empresa campeã de corrupção nos governos de Lula e Dilma. No setor de obras públicas como um todo, incluindo o restante das empresas envolvidas em atividades criminosas, há estimativas de que até 600.000 empregos tenham sido perdidos em todo o Brasil desde que o aparato da ladroagem começou a ruir. Quem é culpado: os presidentes que roubaram, ou deixaram roubar, ou o sistema judicial que puniu o roubo?
Você sabe. Mas não vai ser fácil continuar esse combate.
domingo, 19 de fevereiro de 2017
SOBRE A LAVA-JATO E OUTRAS QUESTÕES AFINS
MAIS IMPORTANTE QUE A NOTÍCIA É O QUE ESTÁ POR TRÁS DOS FATOS QUE ELA DIVULGA. CONFIRA NO VÍDEO.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
O SISTEMA BINÁRIO E A ÁLGEBRA BOOLEANA
Computadores só entendem linguagem de máquina: mesmo quando trabalhamos com textos, figuras, músicas, vídeos, animações e comandos operacionais, eles manipulam e processam os dados na forma de zeros e uns (para mais detalhes, clique aqui e aqui).
A Lógica Digital se baseia em operações onde VERDADEIRO e FALSO são os únicos valores possíveis, de modo que, para tomar decisões, o computador simplesmente gera equações lógicas e as resolve com auxílio das operações NOT, AND, OR, NAND, NOR e XOR. Para facilitar a compreensão, vou simplificar um exemplo usado pelo Mestre Piropo, no artigo cuja leitura eu sugeri linhas atrás:
A MORTE, A DEMAGOGIA E O PROSELITISMO POLÍTICO
Durante o velório da esposa, no último sábado, Lula proferiu um discurso emocionado, regado a lágrimas. É compreensível. Mesmo que a ex-primeira-dama já tivesse soprado sua 66ª velinha, fosse hipertensa, portadora de um aneurisma, sedentária e fumante, sua morte foi inesperada. Mas o imprevisto costuma ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. E como a vida segue para quem fica, o show tem de continuar. Mais do que ninguém, o molusco abjeto sabe disso ― e se aproveita disso, como veremos mais adiante.
A imprensa concedeu ampla cobertura à desgraça que se abateu sobre o Clã Lula da Silva. Nas redes sociais, mensagens de solidariedade, pêsames e congêneres dividiram espaço com posts publicados por gente que não morre de amores por Lula, pelo PT ou por dona Marisa. Alguns resvalaram do mau gosto para o grotesco, o que é indesculpável, mas ainda assim compreensível.
Militantes de esquerda em geral e puxa-sacos em particular relembraram a infância pobre da falecida, que estudou somente até a 7ª série, começou a trabalhar aos 9 anos, enviuvou do primeiro marido aos 20, liderou a marcha pela libertação do segundo ― preso durante as greves do ABC no fim da década de 70 e começo da de 80 ―, costurou a primeira bandeira do PT, apoiou o comandante da ORCRIM nas campanhas; enfim, pintaram-na como uma Amélia melhorada, com a inteligência de Marie Curie, a abnegação de Madre Teresa, a têmpera de Margaret Thatcher e a fleuma de Hillary Clinton (no episódio Monica Lewinsky).
Curiosamente, porém, ninguém mencionou que essa “quintessência da virtude” deixou patente ― bem antes de o escândalo do mensalão vir à tona ― a notória incapacidade petista de separar o público do privado, mandando plantar no gramado do Alvorada um canteiro de flores vermelhas no formato da estrela símbolo do partido. Tampouco foi lembrado que ela ― muito convenientemente ― teria “fechado os olhos” (aqui metaforicamente) para o affair do marido com Rosemary Noronha (entendeu agora o que eu quis dizer com a “fleuma de Hillary”?).
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
AINDA SOBRE A PASTA WINDOWS.OLD
ADITAMENTO IMPORTANTE: