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domingo, 26 de maio de 2024

AZEITE, MANTEIGA OU MARGARINA? (FINAL)

QUI TOTUM VULT TOTUM PERDIT.
 
Dizem que a melhor maneira de se tornar bilionário é investir numa empresa de petróleo bem administrada, e a segunda melhor, investir numa empresa de petróleo mal administrada. No caso da Petrobras, essa máxima — que não é lenda — fez de Jean Paul Prates sua penúltima vítima: Quer manchar uma carreira de sucesso e ser demitido com requintes de humilhação? Aceite a Presidência da companhia.
Muitos ainda se lembram da icônica — e patética — foto de Dilma vestida com o tradicional uniforme dos petroleiros, ao lado de Lula, tendo às costas, estampadas em óleo, as mãos de seu criador e mentor. O escândalo do Petrolão — o maior caso de corrupção da história do ocidente democrático — tornou infame aquela cena, que nos assombra até hoje. Sob as gestões petistas, a Petrobras não só esteve à beira da falência como se tornou a empresa privada mais endividada do planeta. 
Cazuza cantava: "eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades". Poderia ser o hino da Petrobras sob gestão do PT, pois Lula 3 segue os passos que levaram à catástrofe anterior, querendo não apenas interferir na gestão da companhia, mas utilizá-la novamente como "indutora" da economia. 
A petista Magda Chambriard, escolhida por Lula a nova presidente da empresa, é funcionária de carreira há décadas, e agora terá a obrigação, ops!, a missão de agradar o novo chefe e seus "desenvolvimentistas".
Se tudo sair como planejado, duas coisas são certas: a Petrobras irá amargar prejuízos astronômicos e Magda terá de publicar seu novo currículo no LinkedIn
Perto do macacão laranja da Petrobras, Tutancâmon e sua maldição não passam de conto de fadas.

Azeite não é Bombril nem tem 1001 utilidades, mas substitui o óleo de soja, de canola ou de girassol em frituras de baixa temperatura, além de combinar com frutas, bolos, tortas, massas e coquetéis e poder ser usado em doces e drinques, como ensina a azeitóloga Ana Beloto no livro Azeite-se
 
Fritas em azeite, as batatinhas ganham um sabor diferenciado, mas o preço nas alturas desestimula o uso do produto — mesmo os do tipo "único", que são "menos caros" que o extravirgem  em frituras por imersão, como no caso da mandioca, do bife à milanesa, de salgadinhos como quibe, croquete, bolinhos, etc. Se o preço não for problema, 
evite que o "ponto de fumaça" (temperatura a partir da qual as gorduras começam a liberar compostos nocivos e sabor desagradável) estrague a festa. 

Azeites do tipo extravirgem atingem o ponto de fumaça entre 160°C e 190°C — daí a recomendação de usá-los em frituras de temperatura moderada a baixa — e os de "tipo único" e "compostos", a cerca de 200°C — daí ser preferível usá-los nas frituras por imersão. Já a manteiga queima a temperaturas mais baixas (em torno de 90°C), mas seu ponto de fumaça aumenta quando ela é misturada com azeite.

Observação: Para fazer "manteiga de azeite" em casa, basta temperar 3 xícaras (chá) de azeite extravirgem com sal, pimenta-do-reino, 2 dentes de alho triturados e ervas frescas a gosto, bater no liquidificador, despejar num recipiente de vidro com tampa, deixar no congelador de um dia para o outro e então baixar para a geladeira, onde a mistureba manterá a textura cremosa da manteiga.
 
Mesmo adicionando leite em pó desnatado, sal, emulsificantes e aromatizantes, os fabricantes de margarinas não conseguem emular sabor da "manteiga de verdade" em misturebas feitas do óleo extraído de sementes como soja, girassol, milho, canola, etc. e hidrogenadas para se manterem cremosas mesmo geladas. Elas são uma opção mais econômica para untar formas e até usar em receitas que exijam textura macia, como bolos e biscoitos, mas a "manteiga de verdade" não só é mais gostosa no pão
, na torrada e nas bolachas como também abrilhanta assados, molhos e doces. A boa notícia é que você pode usar margarina para:

1) acabar com o rangido de dobradiças;
2) fazer gavetas e portas corrediças deslizarem mais facilmente pelos trilhos;
3) eliminar a gosma deixada por etiquetas autocolantes;
4) desfazer nós em correntes, cordões e pulseiras;
5) remover marcas de copos em aparadores e mesas de madeira (basta aplicar sobre a mancha, deixar agir durante a noite e limpar pela manhã);
6) fazer a faca deslizar melhor por bolos e peças de queijos, presuntos e apresuntados;
7) manter os embutidos frescos por mais tempo (basta passar margarina nas áreas expostas pelo corte e cobrir com filme plástico),;
8) conservar a metade da cebola que você não usou;
9) lubrificar pílulas ou capsulas de tamanho avantajado, que costumam ser difíceis de engolir;
10) manter as unhas saudáveis (passe um pouco de margarina nas cutículas antes de dormir, calce luvas de algodão e lave as mãos pela manhã). 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

LULA E A MELHOR IDADE

 

Todo ser vivo nasce, cresce e morre. O nascimento dá início a uma viagem pelo tempo rumo a um futuro que nunca chega (o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã). Não se saiba ao certo se o tempo existe ou se é apenas uma invenção criada para facilitar nossa compreensão do mundo, mas sabe-se que a morte é inexorável e constitui a única certeza que temos na vida. 
 
Viver para sempre é um sonho antigo. Os antigos gregos acreditavam a água de um rio que nascia no Monte Olimpo tornava os homens imortais. Em 1513, Ponce de León partiu de Porto Rico em busca da lendária Fonte da Juventude e descobriu a Flórida, mas morreu em 1521 sem jamais ter encontrado a tal fonte.
 
Em 1932, quando a expectativa de vida dos norte-americanos era de 59,7 anos, Walter B. Pitkin publicou seu livro de autoajuda "Life begins at forty" ("A vida começa aos 40"). Entre 1960 e 2014, a expectativa de vida no Brasil aumentou de 48 para 74,6 anos. Aubrey de Grey — co-fundador e CSO da SENS — acredita que é possível viver por séculos sem sofrer os transtornos da velhice, mas nossa conterrânea mais longeva completou 119 anos no dia 10 do mês passado (e está num osso danado).
 
A experiência segue as pegadas da maturidade, mas isso não significa que 
a "reta de chegada" seja a melhor parte da "viagem". Chamar a "terceira idade"  fase da vida que começa aos 60 e termina quando as luzes da ribalta se apagam — de "melhor idade" é ignorar pérolas de sabedoria como "la vecchiaia è bruta". Em resposta à nova expressão, que foi cunhada por um "influencer" infectado pelo vírus da positividade tóxica, borrifada nas redes sociais por seus seguidores "idioters" e replicada pelos meios de comunicação, o jornalista e escritor mineiro Rui Castro publicou a crônica "Melhor idade é a puta que te pariu". 

Atribui-se a Pascal a máxima: "quanto mais conheço o homem, mais gosto do meu cachorro". Trata-se de uma crítica mordas à natureza humana combinada  com uma louvação à lealdade e o amor incondicional dos cães. O filósofo francês sabia das coisas: o ser humano sempre foi um merda, e continuará sendo um merda per omnia saecula saeculorum, até porque quem nasceu pra vintém não chega a tostão. Menos mal se o desinfeliz é capaz de reconhecer as próprias limitações; embora essa "virtude" não o exclua da seleta confraria dos merdas, ao menos passa a impressão de que alguns merdas "são menos merda que os outros". 

Falando em merda, em 2018, visando impedir que país do futuro que nunca chega porque tem um imenso passado pela frente fosse governado pelo bonifrate do então presidiário mas famoso da história desta banânia, o mui esclarecido eleitor tupiniquim despachou para o Planalto um subproduto da escória da humanidade que ressuscitou a extrema-direita radical, que julgávamos sepultada com o fim da ditadura e a volta dos milicos aos quartéis. Como há males que vêm para pior, além de não empurrar o bolsonarismo boçal de volta para armário da História, a derrota do "mito" em 2022 ensejou o retorno do egum mal despachado que julgávamos exorcizado pelo impeachment de Dilma.
 
Lula foi catapultado à política liderando greves históricas que desafiaram a ditadura militar nos anos 1970. Em 2022, ele articulou a falaciosa "frente democrática" que o ajudou a se eleger pela terceira vez com a promessa de pendurar as chuteiras ao final desse mandato. Assim que tomou posse, criou dezenas de novos ministérios para acomodar os aliados de ocasião e nomeou para as pastas já existentes antigos aliados sepultados no julgamento do Mensalão ou quando a saudosa Lava-Jato expôs as entranhas pútridas do Petrolão. E como desgraça pouca é bobagem, voltou a acalentar o sonho de concorrer ao quarto mandato.

Observação: Comenta-se que o imperador da Câmara reclamou da desarticulação do governo e sugeriu a Lula que anunciasse sua candidatura à reeleição em 2026 a fim de acabar com a rivalidade entre seus ministros — principalmente Alexandre Padilha, Rui Costa e Fernando Haddad. O presidente não se fez de rogado, mas, ao contrário do que esperava Lira, essa iniciativa não inibiu as brigas e as sabotagens dentro governo, num sinal claro de que, se a orquestra oficial continua desafinando, a culpa é do regente, e de nada adianta trocar as rodas da carroça quando o problema é o burro.
 
Lula recebeu com pompa e circunstância o ditador venezuelano, presenteou Dilma com a presidência do Banco do Brics e indicou para o STF um amigo e advogado particular e um ministro socialista, comunista e marxistas. Em 15 meses de governo, passou quase 70 dias num périplo turístico por 30 países, demorou a afastar auxiliares envolvidos com corrupção, acusou o presidente do BC de travar o crescimento do país, sabotou a meta de déficit zero de seu ministro da Fazenda e tentou interferir na Petrobras e enfiar Guido Mantega na presidência da Vale. 
 
Além de reeditar erros cometidos nas gestões anteriores, o Sun Tzu de Atibaia abrilhantou sua interminável lista de asnices louvando o Nicolás Maduro, comparando Gaza ao Holocausto, defendendo a ideia de que democracia é um conceito relativo e dizendo que se orgulha de ser chamado de comunista. Seus auxiliares estão preocupados com seus "lapsos de memória", como quando ele acusou Israel de matar 12,3 milhões de crianças — um dado flagrantemente irreal.
 
Lula sempre foi entusiasta da ideia — simplista e errada — de que gasto é vida. Rui Costa, seu mais poderoso assessor no Planalto, vive a argumentar que o ajuste fiscal proposto por Haddad pode prejudicar o novo PAC, assim como o pagamento de dividendos extras pela Petrobras — rejeitado por Costa e defendido por Haddad — poderia, segundo o chefe da Casa Civil, inviabilizar o plano de investimentos da companhia, e desde então a rixa vem ganhando ritmo e temperatura. 
 
Em seu primeiro mandato, Lula assistiu a uma disputa de poder entre José Dirceu e Antonio Palocci. Tanto o então chefe da Casa Civil quanto o então ministro da Fazenda almejavam suceder ao chefe na Presidência, mas ambos foram atingidos por escândalos de corrupção e ficaram pelo caminho. A exemplo de seus antecessores, Costa e Haddad nutrem o desejo de disputar o Planalto em 2026. Lula, como de costume, prefere assistir de camarote à cizânia entre aliados e subordinados. Quando intervém, é para colocar mais lenha na fogueira — como fez quando o plenário da Câmara manteve a prisão do deputado Chiquinho Brazão. 
 
Lira chamou Padilha de "incompetente" e "desafeto pessoal", e o ministro reagiu dizendo que não desceria ao nível de Lira. Lula resolveu participar do tiroteio verbal tomando partido de seu auxiliar: "Só de teimosia, Padilha vai ficar muito tempo nesse ministério". A ideia era mostrar quem manda — o que não é necessário nem condiz com a liturgia do cargo —, mas só conseguiu agravar a situação. O ainda imperador da Câmara tem o poder de atrasar ou destravar projetos, instalar CPIs e até fazer avançar pedidos de impeachment, e deixou a impressão de que retaliará o governo, que até hoje não conseguiu formar maioria na Casa porque depende — e muito — da ajuda dele.
 
Lula demora a perceber, mas seu grande desafio não está fora, mas dentro de sua gestão. Mesmo com a melhora do nível de emprego e a inflação "sob controle", a avaliação positiva de seu governo vem caindo, e o pessimismo da população com a economia, aumentando na mesma medida. Sem falar que o petista ora segue a cartilha ideológica de seu assessor especial, Celso Amorim, ora se baliza pelo profissionalismo da chancelaria comandada pelo ministro Mauro Vieira, afinado com a tradição nacional de conciliação e moderação. 

Esse descompasso levou o governo (entre outras coisas) a demorar para chamar de terroristas os terroristas do Hamas e para cobrar de Nicolás Maduro explicações para o veto a oposicionistas nas eleições presidenciais, marcadas para julho deste ano — vale destacar que a guinada no caso venezuelano não foi motivada por convicção, mas por pressão da opinião pública e pelo desejo de estancar a sangria nas pesquisas.
 
Desde os tempos em que liderava a oposição, Lula é tido e havido como um "animal político", um expert na arte de atrair aliados e superar adversidades. Sua desforra contra a Lava-Jato comprova isso, mas sua atuação no terceiro mandato coloca essa fama em xeque. 
Distante dos problemas da população e dos desafios da máquina pública, o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto) comanda um governo descoordenado, emite sinais contraditórios e permite que seus principais auxiliares sabotem uns aos outros. 

Para fazer jus à imagem do craque que imagina ser, Lula precisa entrar em campo, colocar a bola embaixo do braço e ditar o rumo da partida — que ainda tem resultado indefinido, mas, segundo os próprios petistas, pode ser perdida se juiz não tomar conta do jogo. Mas quanto mais Lula fala, mais claro fica que já passou da hora de ele encerrar seu ciclo na política. Às vésperas de completar 79 anos, o macróbio é uma usina de ideias retrógradas, ou ruins, ou retrógradas e ruins. Diante da impossibilidade de arejar uma mentalidade como essa, urge arejar o ambiente.

Há décadas que o Brasil é governado como uma usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo outro. E o que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, aberta pelas eleições, e a de saída, na troca de comando, a merda muda de aparência e de nome, recebe nova embalagem... mas continua sendo merda.

segunda-feira, 18 de março de 2024

DANDO NOME AOS BOIS

 

Quem dá a chave do galinheiro às raposas não pode reclamar do sumiço das galinhas, e quem vota em políticos que se elegem para roubar, roubam para se reeleger e legislam em causa própria não pode reclamar da corrupção. 

Nos idos de 1970, o "rei" Pelé e o "presidente" Figueiredo alertaram para o perigo de colocar brasileiros e urnas no mesmo ambiente; passados 50 anos, o eleitorado apedeuta ainda não aprendeu que "agentes políticos" são funcionários públicos pagos com dinheiro dos impostos para servir aos interesses da nação. 

Uma rápida vista d'olhos nos "eleitos" desde a redemocratização (não que a situação fosse muito melhor antes de 1964) sugere que galinhas criarão dentes antes de que a ralé escalada pelo Criador para povoar esta banânia descobrir que político não deve ser endeusado, mas cobrado — e penabundado se mijar fora do penico. 
 
Na eleição solteira de 1989 — a primeira pelo voto popular desde 1960 — havia 22 postulantes ao Planalto, entre
 os quais Ulysses Guimarães e Mário Covas. Acabou que o esclarecidíssimo eleitorado despachou Collor e Lula para o segundo turno. O caçador de marajás de mentirinha derrotou o desempregado que deu certo de verdade, mas se envolveu com corrupção e renunciou horas antes do julgamento de seu impeachment.

Com a deposição do "Rei Sol", Itamar Franco foi promovido a titular. Tendo o sucesso do Plano Real como cabo eleitoral, Fernando Henrique derrotou Lula em 1994; picado pela mosca azul, comprou a PEC da reeleição (detalhes nesta postagem) e derrotou Lula em 1998. Mas já não restavam ao tucano de plumas vistosas novos coelhos para tirar da velha cartola, e Lula venceu Serra em 2002 e Alckmin em 2006. 

Em 2010, o "cara" de Barack Obama escalou uma gerentona de araque para manter aquecida a poltrona que tencionava voltar a ocupar dali a quatro anos, mas madame pegou gosto pelo poder, promoveu o maior estelionato eleitoral da história e venceu Aécio Neves em 2014 — com a menor diferença de votos desde a eleição de Juscelino em 1955. 
 
Promovido de vice a titular pelo impeachment da "mulher sapiens", Michel Temer 
conseguiu baixar a inflação e a Selic e aprovar o Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu "ministério de notáveis" revelou-se uma notável confraria de corruptos, e o fato de ter sido citado nas delações da Odebrecht (43 vezes somente na do ex-diretor de relações institucionais da empreiteira não ajudou) não contribuiu para a popularidade de um presidente visto como traidor e golpista pelos petistas e malvisto pelos que comemoraram o final do governo petista (por ter sido vice de Dilma e presidido o maior partido da base aliada do governo petista por 15 anos).

Observação: Num primeiro momento, a troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba. Após 13 anos e fumaça ouvindo os garranchos verbais de um semianalfabeto e as frases desconexas de uma  destrambelhada, um presidente que não só sabia falar como até usava mesóclises era um refrigério. 

Quando vieram a público o áudio da conversa de alcova com o carniceiro de luxo Joesley Batista e o vídeo de Rodrigo Rocha Loures arrastando uma mala de dinheiroTemer viu seu sonho de entrar para a história como "o cara que recolocou o Brasil nos trilhos" se transformar no pesadelo de se tornar primeiro Presidente denunciado no exercício do cargo por corrupção, formação de quadrilha e obstrução da Justiça. 

Demovido da ideia de renunciar por Eliseu Padilha, Moreira Franco, Carlos Marun, Romero Jucá e outros puxa-sacos que perderiam os cargos e o foro privilegiado se o chefe pedisse o boné, o nosferatu tupiniquim esbravejou — num pronunciamento à nação feito mais de 40 horas depois do furo de Lauro Jardim  que o STF seria "o território onde surgiram as explicações e restaria provada sua inocência". A partir daí, pôs-se a mentir descaradamente para justificar o injustificável, moveu mundos e fundos — especialmente fundos — para se escudar das "flechadas de Janot" e claudicou pela conjuntura como pato manco até o final do mandato-tampão, que se encerrou com a transferência da faixa presidencial para Jair Bolsonaro, o subproduto da escória da raça humana que se elegeu graças a uma formidável conjunção de fatores

Como ensinou o Conselheiro Acácioas consequências sempre vêm depois. Para supresa de ninguém, o deputado do baixo-clero que aprovou dois projetos em 7 mandatos e obteve míseros 4 votos quando disputou a presidência da Câmara (em 2017) se tornou o pior mandatário desde Tomé de Souza — e o primeiro, desde a redemocratização, a não conseguir se reeleger. Se essa criatura repulsiva não tivesse conspirado 24/7, fomentado a Covid, rosnado para o Congresso e o Supremo e se amancebado com Queiroz, Zambelli, milicianos e outros imprestáveis, é possível que o xamã do PT continuasse gozando férias compulsórias na carceragem da PF em Curitiba. 

Uma vez confirmada a derrota nas urnas, o "mito" da extrema-direita radical se encastelou no Alvorada, onde ficou até a antevéspera da posse de Lula, quando então desabalou para os EUA e se homiziou na cueca do Pateta por quase três meses, aguardando o desenrolar dos acontecimentos urdidos no Brasil por seus comparsas golpistas. 
 
Lula merece um capítulo especial, que lhe será dedicado na próxima postagem.

quarta-feira, 13 de março de 2024

NÃO HÁ NADA COMO O TEMPO PARA PASSAR... (FINAL)


O tempo passou, os ventos mudaram e subproduto da escória humana que elegemos em 2018 tornou-se o pior mandatário desde Tomé de Souza e o primeiro desde a redemocratização que tentou a reeleição, mas foi barrado nas urnas. 

Confirmada sua derrota, o "mito" dos "patridiotas" se encastelou no Alvorada até a antevéspera da posse do sucessor, quando então fugiu para a Flórida (EUA) e se homiziou na cueca do Pateta por 89 dias, esperando o desenrolar dos acontecimentos urdidos em solo pátrio por seus comparsas golpistas. Acabou que o golpe não prosperou, a Hora da Verdade chegou e o depoimento do general Freire Gomes tornou sua prisão questão de "quando". 

Ao contrário dos demais fardados que participaram da intentona golpista (e do próprio Bolsonaro), o ex-comandante do Exército respondeu todas as perguntas dos agentes federais. Nas palavras de um ministro do STF, seu depoimento é mais valioso do que uma delação, pois contém revelações de uma testemunha, não de um criminoso à procura de benefício judicial.

ObservaçãoMauro Cid deixou a PF no início da madrugada de ontem, após depor por quase 9 horas. O conteúdo está sob sigilo, mas sabe-se que ele responderia todas as perguntas. Durante os atos de 25 de fevereiro, Bolsonaro disse que "golpe é tanque na rua", e que vinha sendo acusado de golpe por causa de "uma minuta de um decreto de estado de defesa". Como se costuma dizer, o peixe morre pela boca.
 
Ninguém é mais responsável do que Bolsonaro pela merda que o Brasil virou nos últimos anos (não que antes fosse muito melhor). Mas nenhum politico com cargo eletivo brota no gabinete por geração espontânea. Pelé e o general Figueiredo já alertavam para o risco de misturar brasileiros com urnas em pleitos presidenciais. Não obstante, melhor do que simplesmente acusar é conscientizar essa choldra de que políticos não devem ser endeusados, mas cobrados e descartados quando mijam fora do penico. 
 
A polarização esteve presente em todos os capítulos da nossa história, mas ganhou vulto quando Lula plantou a semente do "nós contra eles
— que a rivalidade entre mortadelas e coxinhas regou e  "mico" e seus miquinhos estercaram durante a campanha de 2018. Churchill lecionou que a democracia é a "pior forma de governo, exceto todas as demais", mas pontuou que "o melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano". 

Anthony Downs ensinou que "ganha a eleição quem conquista o eleitor mediano", e esse teorema vicejou no Brasil de 1994 até 2014, quando então a reeleição da Mulher Sapiens levou a dicotomia da política para as ruas. 
 
Observação: Desde 2018 que o eleitorado tupiniquim está com a polarização e não abre. E nem bem vestiu a faixa pela terceira vez, Lula arregaçou as mangas e pôs-se a trabalhar pelo retorno do bolsonarismoDe janeiro de 2023 para cá, o matusalém petista e sua cuidadora passaram 70 dias excursionando por 26 países de 4 continentes

Imbuído da certeza de que foi "descondenado" e eleito para ocupar o cargo de Deus, Lula estendeu o tapete vermelho para Nicolás Maduro, acomodou Dilma na presidência do Banco do Brics, indicou para o STF seu amigo e advogado Cristiano Zanin e seu ministro comunista Flávio Dino, chamou da suprema aposentadoria o velho companheiro Ricardo Lewandowski, pegou em lanças contra o presidente do BC e sabotou Haddad ao declarar que a meta fiscal não precisa ser zero

No ano passado, quando uma "pneumonia leve" o obrigou adiar uma viagem à China, Lula disse que estava poupando a voz para o encontro com Xi-Jinping. O detalhe é que nem líder chinês fala português, nem o brasileiro fala mandarim (na verdade, ele não domina sequer o idioma de Camões). 
 
Do alto do seu ego colossal, o Sun Tzu de Atibaia não viu nada de mais no fato de a ministra Anielle Franco requisitar um jatinho da FAB para assistir a um jogo de futebol. Demorou a penabundar a ministra Daniela Carneiro que se envolveu numa esquisita relação eleitoral com milicianos). Manteve no cargo o ministro das Comunicações que usou dinheiro de emendas parlamentares em benefício de sua fazenda no Maranhão, empregou funcionário fantasma no Senado e autorizou o sogro a usar o gabinete ministerial para "despachos informais". 

Em março de 2023, Lula disse que só ficaria bem depois que "fodesse Sérgio Moro". Dias depois, classificou de visível armação um plano do PCC para matar o ex-juiz. No mês seguinte, afirmou que a Ucrânia era tão culpada quanto a Rússia pela guerra no leste europeu. Em julho, agradeceu a África pelo que foi produzido durante a escravidão no Brasil. No final do ano, trombeteou que a ação dos israelenses é tão grave quanto o ataque desfechado pelo Hamas; no mês passado, comparou a ação israelense em Gaza ao Holocausto. 
 
Lula já disse que ditadura na Venezuela é mera "narrativa" e que "o conceito de democracia é relativo". Agora, excursiona pelo mundo da Terra Plana ao comparar os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral com a resistência da oposição venezuelana ao jogo de cartas marcadas: "Espero que as pessoas que estão disputando as eleições [na Venezuela] não tenham o hábito de negar o processo eleitoral, as urnas, a Suprema Corte." 

Nosso estadista de fancaria compactua com a farsa da recondução de um tiranete que se mantém no poder por duas décadas e meia graças à manipulação de regras, ao aparelhamento de instituições, à violação de direitos humanos, a corrupção das Forças Armadas, à asfixia a imprensa, à prisão de opositores e à inabilitação de adversários. Um déspota que preside uma ruína que resultou no êxodo de 7 milhões de venezuelanos — boa parte dos quais buscam socorro no Brasil. 

Observação: Noutros tempos, a postura de Lula seria vergonhosa; à luz da conspiração golpista do 8 de janeiro, ela não só ofende quem se juntou ao petismo em 2022 na folclórica "frente ampla" como desnorteia líderes mundiais que deram crédito ao bordão segundo o qual "o Brasil voltou" e agora se perguntam: "Voltou para onde?" Ao pular na frigideira de Maduro, o reizinho carboniza os "valores" que lhe renderam a terceira (e queira Deus que seja a derradeira) passagem pelo Palácio do Planalto.
 
A exemplo de seu antecessor, Lula se tornou refém do Centrão. Quando Lira rosnou que "o Orçamento é de todos, não do Executivo", comprometeu-se a liberar R$ 20 bilhões em emendas a tempo de os parlamentares faturarem politicamente nas eleições de outubro. Após exaltar o óbvio dizendo que Bolsonaro "tentou dar um golpe e sabe que pode ser preso", feriu de morte o transporte por aplicativo enviando ao Congresso um estapafúrdio projeto de lei que "regulamenta" esse tipo de serviço.

A esquerda brasileira é mais atrasada que o Coelho Branco. Parou no tempo nas relações trabalhistas, perde tempo com Maduro e demora a perceber que fazer política como fazia há 20 anos não funciona mais. Parece não ver que o petista subiu a rampa pela terceira vez não por seus méritos, mas pelos deméritos do imprestável que o antecedeu. 

Em 15 meses de (terceira) gestão, Lula não conseguiu reverter a fratura da polarização. Seus índices de desaprovação cresceram no Sul e no Sudeste e os de aprovação diminuíram até no Nordeste. Quem lê as estrelinhas percebe que o gosto pela raiva leva "o cara" de Barack Obama a esquecer que não foi eleito para passar quatro anos passeado e falando mal de um antecessor inelegível. 

Lula permanece acorrentado a uma agenda tóxica que inclui chutar Bolsonaro, afagar o imperador da Câmara e aplacar a celeuma que criou ao encostar o holocausto em Gaza. Por mal dos nossos pecados, noves fora algum ponto fora da cura, ainda lhe restam quase 30 meses para mostrar serviço e mudar de assunto antes do próximo pleito presidencial.
 
Triste Brasil.

domingo, 22 de outubro de 2023

O IMPEACHMENT E UM POUCO DE HISTÓRIA


Velhos vícios são inimigos acastelados que só a morte pode expurgar. O Partido dos Trabalhadores — fundado em 1980 com o fito de fazer política sem roubar nem deixar roubar — começou a chamar o impeachment de Dilma de "golpe" antes mesmo de o deputado Eduardo Cunha, então presidente da Câmara Federal, dar seguimento ao pedido. Passados sete anos, Lula e seus acólitos voltaram à carga

No final de agosto, o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-condenado) trombeteou que é preciso buscar uma forma de reparar a injustiça sofrida por sua pupila em 2016. A ideia — que ganhou coro com a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann — é fazer uma devolução simbólica do mandato a Dilma, a inigualável, como o Congresso fez em 2013 com João Goulart (que foi destituído pelo golpe de 64). 

A patuleia diz que a gerentona de araque foi inocentada pelo TRF-1 das "pedaladas fiscais", mas o que o tribunal fez foi manter (por 3 votos a 0) o arquivamento da ação de improbidade administrativa sem resolução de mérito. A despeito as alegações de Lula et caterva de que a "companheira" foi julgada por "uma coisa que não aconteceu", sua deposição foi bem fundamentada juridicamente e chancelada pelo STF. Golpe foi a maracutaia urdida pelo PT e apoiada por Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski  que então presidiam, respectivamente, o Senado e d Supremo  para evitar a cassação dos direitos políticos da ré. 

O processo de responsabilização e destituição de um Presidente da República por crime de responsabilidade é previsto na Constituição Cidadã, que, em seu artigo 52, dispõe que "cabe ao Senado Federal processar e julgar o presidente e o vice-presidente da República por crimes de responsabilidade", e que a condenação resulta na "perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública". 

Mesmo assim, Dilma não perdeu os direitos políticos — ao contrário de Collor, impichado em 1992. que ficou inelegível por 8 anos a despeito de ter apresentado sua carta-renúncia horas antes do julgamento, como se fosse possível condenar alguém à perda do cargo depois de esse alguém ter renunciado.

ObservaçãoO sequestro das poupanças e o envolvimento no esquema PC minaram o relacionamento de Collor com todas as classes braseiras. Eleito pelo minúsculo PRN, o "Rei Sol" dependia vitalmente do apoio de outros partidos para governar, e nunca conquistou uma base sólida. Já o vampiro do Jaburu, que foi às cordas quando veio à tona suas conversas nada republicanas com Joesley Batista, comprou no atacado os votos das marafonas doa Câmara e chegou ao final de seu mandato, ainda que como um patético pato manco.
 
Dilma negou os desvios ocorridos na Petrobras, mesmo tendo presidido o Conselho de Administração da estatal e atuado como ministra-chefe da Casa Civil e ministra de Minas e Energia antes de ser alçada ao Planalto. E ainda manteve Graça Foster no comando da petrolífera de fevereiro de 2012 a fevereiro de 2015. “Foi sob a gestão de Graça que parte do 'saque' à Petrobras foi realizado", ressaltou o jurista Ives Gandra da Silva Martins. 
Os juristas que protocolaram o pedido de impedimento em desfavor da petista argumentaram que ela agiu como se não soubesse das irregularidades na Petrobras. 

Dilma foi penabundada mediante um processo constitucional e teve amplo direito de defesa. Foi condenada porque os parlamentares entenderam houve crimes de responsabilidade. Afirmar que ela não tinha ciência do aparelhamento nas estatais, da promiscuidade com empreiteiras, dos superfaturamentos milionários e das escaramuças no Orçamento com fins eleitorais é fazer pouco caso da inteligência de quem tem ao menos dois neurônios funcionais.
 
Dilma nunca foi política nem demonstrou vocação para gerir o que quer que fosse. Prova disso é que quebrou duas lojinhas de badulaques importados do Panamá em apenas 17 meses — e isso quando a paridade entre o real e o dólar favorecia esse tipo de negócio. Só foi escolhida por Lula para manter aquecida a poltrona presidencial até ele poder voltar a ocupá-la porque José Dirceu e outras estrelas do alto escalão do PT estavam no xadrez — e porque o palanque ambulante convertido em camelô de empreiteiro não teve peito para levar adiante o "golpe via emenda constitucional" que lhe garantiria um terceiro mandato. 

Mas a criatura tomou gosto pelo poder e "fez o diabo" para se reeleger, destruindo o pouco que se aproveitava da obra do criador. Ela contou com os serviços de marqueteiros de primeiríssimo time, como João Santana e sua mulher, Mônica Moura — presos na 23ª fase da Lava-Jato e soltos mediante o pagamento da fiança de R$ 31,4 milhões — e dispôs de recursos milionários oriundos do propinoduto da Petrobras, que lhe permitiram tirar Marina Silva do páreo no primeiro turno e derrotar o José Serra no segundo. 

Observação: Marina voltou a disputar a Presidência em 2014, primeiro como vice de Eduardo Campos (o partido que ela havia fundado no ano anterior não conseguiu registro junto à Justiça Eleitoral a tempo de disputar o pleito) e depois como titular, devido à morte de Campos num acidente que continua alimentando teorias conspiratórias. Com essa reviravolta, a ex-doméstica, ex-seringueira e ex-ministra chegou a ser cotada para disputar o segundo turno contra Aécio Neves, mas foi tirada do páreo por Dilma, embora tenha obtido 2 milhões de votos a mais que em 2010.
 
Após derrotar Aécio por uma vantagem de 3.46 milhões de votos válidos, o "poste" de Lula pariu a maior crise econômica da história deste país. Em sua fase mais delirante, desfilava com bolsas das grifes Hermès e Vuitton e degustava pratos sofisticadas, vinhos caríssimos, bombons ChocopologieUS$ 250 a unidade de 42 g — e chocolates Delafee recobertos de fios de ouro 24K. Quando estava de dieta, ela mordia um pedacinho do chocolate e descartava o resto na lixeira

Em viagens ao exterior, a versão tupiniquim da Rainha Má se hospedava nos melhores hotéis e frequentava os mais finos restaurantes. Durante uma visita à Califórnia, torrou US$ 100 mil só com aluguel de carros — foram contratados 25 motoristas para levar a comitiva brasileira de lá para cá a bordo de limusines, vans, ônibus e até um caminhão. A visita durou apenas único dia, mas o contribuinte brasileiro arcou com o custo da circulação da frota inteira durante duas semanas. Para completar a comédia, o governo só pagou a locadora porque depois de ser ameaçado de cobrança judicial nos EUA.
 
No Brasil, o presidente da República é um gigante de pés de barro, já que depende da base aliada, dos acordos com as oligarquias e do dinheiro das empresas para governar. Em vez de mandar no sentido absolutista, nosso mandatário é mandado. Os que tiveram capacidade política e diplomática terminaram seus mandatos, mas Dilma nunca teve essas qualidades e, pior, sempre se cercou de assessores tão ou mais mal preparados do que ela própria (caso de Erenice GuerraGleisi Hoffmann e Aloízio Mercadante, para ficar somente nos mais notórios). 

Tanto Fernando Henrique quanto o proprio Lula semearam alianças com grandes legendas, mas Dilma e seus ineptos negociadores as deixaram morrer  não à toa, a debacle da gestão da gerentona de araque ganhou força quando a aliança com o PMDB definhou.

O Estado brasileiro funciona à base da corrupção. Negociações entre Executivo e Legislativo acontecem na maioria das democracias, mas a maneira como são feitas no Brasil é absolutamente delirante. Nossa Constituição é claramente parlamentarista, mas a adoção do parlamentarismo foi rejeitada pelo esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim no plebiscito de 1993, o que enfunou as velas do presidencialismo de cooptação. E deu no que está dando. 

Inexiste nesta republiqueta de bananas o princípio da responsabilidade. Quando não chantageia o Executivo, o Congresso Nacional é subserviente a ele. E isso vem acontecendo desde o "suicídio" de Getúlio Vargas.