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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (QUARTA PARTE)

O que se vê no Brasil de hoje é basicamente uma divisão entre sectários do lulopetismo e adeptos do bolsonarismo. Para os que têm o imbrochável insuportável na conta de "mito", o deus pai da Petelândia é o exemplo pronto e acabado do desempregado que deu certo. Faz sentido: o ex-tudo deixou de ser operário quando fundou do PT (1980), mas já não dava expediente em chão de fábrica desde 1972, quando se tornou dirigente sindical. Numa conta de padeiro, dois terços de seus 78 anos recém-completados foram dedicados à "arte da política", não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. 

O mentecapto mefistofélico com vocação para tiranete também nunca foi fã do batente. Quando assumiu a Presidência, seu expediente diário era de, em média, 5,6 horas; no segundo ano de mandato, de 4,7 horas; no terceiro, de 4,3 horas; no último, de pouco mais de 3 horas. Depois da derrota nas urnas, a média caiu para ridículos 36 minutos por dia. Isso também também faz sentido: se o capetão nunca foi pegar no pesado, por que mudaria seus hábitos a 2 meses de deixar o cargo? 

Observação: O estudo Deixa o homem trabalhar? apontou que o mandrião trabalhava 18 horas semanais a menos que um trabalhador celetista e 14 horas a menos que um servidor público federal da administração direta. Que gastava mais tempo em almoços (média de 1,3 hora) do que em reuniões com ministros de Estado (menos de 1 hora). Que participou de apenas cinco eventos "envolvendo explicitamente o tema vacina", nos quais investiu, em média, 0,9 hora por compromisso. Sua média diária só ultrapassava 4 horas quando ele estava em trânsito (como em 18 novembro de 2012, quando regressou do Catar). Mas esse critério nos levaria a considerar o tempo como "jornada de trabalho" o tempo gasto em motociatas pelo país, comendo farofa nas ruas de Brasília ou passeando de jet-ski no Guarujá e no litoral catarinense. 
 
Pendurado no erário desde os tempos da caserna, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre sempre gostou mais de dinheiro que de ideologia. E se valeu desta como instrumento para obter aquele. Quando percebeu que havia mercado para a parolagem estúpida e brutalista, rendeu-se a ela. E ela lhe rendeu — a ele e sua prole — votos, dinheiro e patrimônio. E assim tornou-se um homem de muitos milhões. S
ob o escudo de uma impunidade quase absoluta, fez da Presidência sua Disneylândia particular, que tentou perpetuar através de um golpe Estado. O golpe fracassou, mas o golpista jamais descuidou do caixa. Nem mesmo quando fingia lutar uma cruzada moral e patriótica. 
 
Derrotado pelo ex-presidiário mais famoso do Brasil, o mandrana sacripanta se encastelou no Planalto, de onde assistiu aos protestos antidemocráticos protagonizados por fanáticos acampados em portas de quartéis. A dois dias de entregar a faixa, homiziou-se na cueca do Pateta, onde ficou
 o final de março de 2023. Inelegível até 2030 por decisão do TSE, passou a posar de vítima enquanto explora seus devotos — um bando de imbecis travestidos de militantes, comandado por um imbecil travestido de ex-presidente — que, cegos pelo fanatismo ou por interesses ocultos, parecem não se constranger com suas desculpas esfarrapadas. 
 
O naufrágio do Titanic tornou-se a melhor metáfora para o ponto final de qualquer enredo trágico. No papel de maestro da orquestra da célebre embarcação, o capitão deveria ser o primeiro a notar que um script que evolui do patriotismo épico para um reles caso de roubo de joias é o roteiro de um desastre. A imagem mais fascinante é a dos militares deslizando pelo salão como músicos fieis de uma banda marcial a caminho do fundo. Ao arrastar para o epicentro do escândalo o general Cid, a PF mostrou que a água invadiu os trombones: o pai do tenente-coronel enrolado migrou da condição de estrelado de mostruário para a de contrabandista de joias quatro estrelas
 
A tradicional família militar dividiu a ribalta com um mafioso de comédia e criminalista de estimação da Famiglia Bolsonaro. Com as caldeiras explodindo, os fardados continuam tocando sem desafinar, evitando incluir no fundo musical a partitura de uma delação. É como se, com a água pelos beiços, o futre mandasse a orquestra tocar com brio. 
Expurgado do Poder, já não podia mandar cortar o salário dos músicos, mas eles continuam a postos e, parecendo enxergar virtude na depravação, mostravam-se dispostos a executar a partitura do abantesma da ditadura até o último glub-glub, quando já não haveria mais botes salva-vidas à disposição.

Continua...

sábado, 13 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (CONTINUAÇÃO)


Sir Winston Churchill ensinou que "a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos", e que "o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano." Anthony Downs ensinou que ganha a eleição quem conquista o eleitor mediano, pois os candidatos de esquerda e direita têm garantidos os votos dos eleitores que comungam de suas convicções político-ideológicas.
 
Conhecido como Teorema do Eleitor Mediano, esse axioma vicejou no Brasil de 1994 até 2014, quando então a reeleição de mulher sapiens gerou uma polarização que vazou da política para as ruas. Em 2016, a insatisfação popular deu azo ao impeachment da gerentona de araque e à ascensão de Michel Temer, que prometeu um ministério de notáveis e empossou uma notável confraria de corruptos. Sua "ponte para o futuro" era de vidro e se quebrou quando O Globo publicou uma conversa de alcova gravada à sorrelfa por certo moedor de carne bilionário travestido de x-9. 
 
Alvo de três "Flechadas de Janot" — o PGR que mais adiante reconheceu ter ido armado ao STF para matar o semideus togado e se suicidar —, 
vampiro que tem medo de fantasma empenhou nossas cuecas em troca de apoio das marafonas do Centrão, mas terminou sua gestão como um patético "lame duck" — termo usado pelos americanos para definir políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons demonstram seu desprezo servindo-lhes o café frio.
 
Como desgraça pouca é bobagem, desse caldeirão infernal emergiu o amálgama mal ajambrado de mau militar e parlamentar medíocre que, em 2018, fantasiado de outsider antiestablishment e surfando na onda do antipetismo, impôs ao títere
 do então presidiário mais famoso do Brasil uma derrota acachapante. 
 
Observação: Como eu antecipei numa postagem de novembro de 2021, a maldita polarização transformou o pleito de 2022 em mais plebiscito, obrigando-nos (mais uma vez) a escolher o menor de dois males (lembrando que toda má escolha feita por falta de alternativa continua sendo uma má escolha). E não há nada como o tempo para passar. 
 
Sétimo filho (noves fora quatro que "não vingaram") de um casal de lavradores pernambucanos pobres e analfabetos, Luiz Inácio da Silva nasceu em 1945, conheceu o pai aos 5 anos e retirou para São Paulo aos 7, em 1952, onde morou com o pai, a mãe e os irmãos até que uma surra de mangueira levou dona Lindú a deixar o marido alcoólatra, rude e ignorante e se mudar para um cubículo nos fundos de um boteco do bairro paulistano do Ipiranga, onde Lula trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico e perder o dedo mínimo da mão esquerda num acidente pra lá de suspeito. 
 
Observação: Vale destacar que Aristides Inácio da Silva — que foi alcunhado de "homem das sete mulheres" pelos colegas estivadores, morreu de cirrose em 1978 e foi enterrado numa vala comum: nem dona Lindú, nem as amantes, nem os vinte e tantos filhos que ele espalhou Brasil afora lhe deram um túmulo e um epitáfio. 
 
Estimulado pelo irmão Frei Chico (que não era frade, mas ateu, não se chamava Francisco, mas José, e era membro do Partido Comunista Brasileiro), Luiz Inácio iniciou sua trajetória de sindicalista e ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje, mas que só incorporou depois de fundar o PT e de ficar em 4º lugar na primeira eleição direta (pós-ditadura) para governador de São Paulo. 

Falando em apelidos, Brizola — que chamava Lula de "cachaceiro" — disse em 1989 que "política é a arte de engolir sapos" — daí o epíteto "sapo barbudo". Em 2002, quando se elegeu presidente pela primeira vez (após três tentativas fracassadas), o xamã do PT ficou conhecido como "Lulinha paz e amor"; em 2006, durante a campanha pela reeleição, ganhou da adversária Heloísa Helena a alcunha de "sua majestade barbuda"; nos bastidores do Planalto, era chamado de "chefe", "grande chefe" e "nine" (numa alusão ao dedo mindinho decepado em 1964, num acidente pra lá de duvidoso); nas planilhas de propina da Odebrecht, identificado como "Amigo" e "Brahma". 
 
Observação: Em meados dos anos 1980, Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares, idealizador do SNI da ditadura e arquiteto da "abertura lenta, gradual e segura" — confidenciou a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda, que não passava de 
um bon vivant

Em 1986, Lula foi o deputado federal mais votado do país; em 1989, no segundo turno da primeira eleição direta para presidente pós-ditadura, perdeu para Fernando Collor; em 1994, foi derrotado por Fernando Henrique, que tornou a vencê-lo em 1998, sempre no primeiro turno. Em 2002, sua vitória sobre José Serra deu início ao jugo lulopetista que só terminaria 13 anos 4 meses e 12 dias depois, com o afastamento da nefelibata da mandioca. Dois meses antes, ao ser conduzido coercitivamente à PF para depor, Lula esbravejou: "Quiseram matar a jararaca, mas bateram na cabeça, bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve". 
 
Continua... 

sábado, 2 de dezembro de 2023

NÃO É A MAMÃE


O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: "ASSISTIR AOS NOTICIÁRIOS PODE CAUSAR ÚLCERAS GÁSTRICAS". 

O fim da ditadura não foi uma consequência natural do "espírito democrático" dos generais-ditadores Geisel e Figueiredo nem se deu sem turbulências e acidentes de percurso. O processo de abertura só foi concluído graças às manifestações populares que eclodiram em 1983 e levaram às ruas milhões de pessoas empunhado bandeiras e vestindo camisetas com os dizeres "EU QUERO VOTAR PARA PRESIDENTE". 

Numa época em que a Internet engatinhava (as redes sociais só surgiriam dali a duas décadas), a população compareceu espontaneamente para aplaudir líderes políticos que defendiam volta das eleições presidenciais diretas, suspensas pelo golpe militar de 64. Vinte anos depois, no dia da votação da PEC Dante de Oliveira, uma manobra de bastidores urdida pelos fardados impediu a obtenção dos votos necessários à aprovação do projeto na Câmara. Mas o processo de reabertura já havia passado do ponto sem retorno.
 
O desgaste governo militar ensejou a eleição (indireta) de Tancredo Neves. Por uma trapaça do destino, o político mineiro foi hospitalizado horas antes da cerimônia de posse e foi declarado morto 38 dias e 7 cirurgias depois, e o que deveria ter sido festa da democracia virou luto nacional. Cogitou-se a possibilidade de o Sr. Diretas, então presidente da Câmara, ser alçado ao Planalto, mas prevaleceu o entendimento de que o posto caberia a José Sarney, que foi o candidato a vice na chapa de Tancredo. E o resto é história recente.
 
Karl Marx disse que história se repete como tragédia ou farsa. No Brasil, ela costuma reproduzir fielmente o passado. Hoje, preside esta banânia (pela terceira vez) o ex-presidiário mais famoso da história, que derrotou Bolsonaro em 2022 tendo como principal cabo eleitoral a péssima gestão do mau militar, parlamentar medíocre e golpista de carteirinha.
 
Prefiro não comentar o que penso do terceiro reinado de Lula, mas relembro que demagogos, populistas e outras espécies de maus políticos não brotam nos gabinetes por geração espontânea, mas pelos votos da récua muares que o Criador escalou para povoar o país do futuro que nunca chega.
 
Voltando à frase de abertura desta postagem, preparem o Omeprazol: se a indicação de Flávio Dino para o STF for aprovada (e tudo indica que será), 7 dos 11 togados serão fruto de indicações feitas durante gestões petistas — as exceções são Gilmar Mendes (a verdadeira herança maldita de FHC), Alexandre de Moraes (indicado por Temer) e Nunes Marques e André Mendonça (nomeados pelo imbrochável e insuportável Messias que não miracula). Como a legislação impõe a aposentadoria compulsória aos semideuses supremos quando eles completam 75 anos de vida, Dino, se aprovado, permanecerá na Corte até 2043, e Cristiano Zanin, o ex-advogado pessoal de Lula, até 2050. É muita assombração para pouco castelo.
 
Observação: Dino assumirá o acervo de 344 ações que estavam sob a relatoria da ex-ministra de Rosa Weber, entre as quais se destacam o pedido de investigação contra autoridades pela atuação na pandemia e o processo sobre o indulto natalino. Caso siga à risca suas declarações de que deixará de ter lado político ao receber a toga, o ainda ministro da Justiça decepcionará seu benfeitor, que conta com sua fidelidade a posteriori. 
 
No périplo de "beija-mão" da semana passada, Dino disse que ministros do STF "não têm partido, ideologia ou lado político", e que "mudará de roupa" se seu nome for aprovado. Embora seja desejável que ele deixe de lado suas convicções esquerdistas e seus vínculos históricos com Lula, sabe-se que isso não passa de discurso de quem está na bica de se encontrar com os senadores de oposição. 
 
Estima-se um placar apertado, mas ninguém acredita que a indicação de Dino não seja aprovada. 
 
A conferir.

domingo, 12 de novembro de 2023

SOIS REI?

NÃO HÁ NADA COMO O TEMPO PARA PASSAR.

Promulgada em 1988, a Constituição Cidadã — feita sob medida para o parlamentarismo — estabeleceu que a forma e o sistema de governo seriam definidos em plebiscito. Em 21 de abril de 1993, o povo foi às urnas decidir se o Brasil voltaria a ser monarquia ou continuaria sendo república, e também se seria instaurado o parlamentarismo ou mantido o presidencialismo. 

Useiro e vezeiro em escolher sempre a pior opção, nosso esclarecidíssimo eleitorado decidiu manter o status quo, ensejando o advento do "semipresidencialismo" (ou "semiparlamentarismo") que hoje tem Arthur Lira como "primeiro-ministro de fato" e o Supremo como "poder moderador". 
 
Observação: No presidencialismo de coalização, o chefe do Executivo governa com o apoio de uma bancada pluripartidária no Legislativo, mas o presidencialismo de cooptação é baseado no célebre toma lá (verbas e cargos) dá cá (apoio parlamentar). 

Enquanto candidato, Bolsonaro condenava as indicações políticas, a interferência do governo no Legislativo e os "crimes hediondos" contra a Petrobras, e defendia a Lava-Jato e a prisão de parlamentares do Centrão — chegando até mesmo a comemorar a delação de Alberto Youssef, que dedurou o próprio Arthur Lira. Mas não há nada como o tempo para passar.
 
No Planalto, o combo de mau militar e parlamentar medíocre torrou bilhões de reais do Orçamento Secreto para garantir a vitória de Lira na disputa pela presidência da Câmara e, mais adiante, nomeou Ciro Nogueira para a Casa Civil. A pareceria com o deputado alagoano foi um jogo de ganha-ganha: Bolsonaro garantiu sua blindagem contra CPIs e pedidos de impeachment e Lira, às voltas com os tribunais, se beneficiou da crescente influência do chefe do clã das rachadinhas e mansões milionárias nas cortes superiores. 
 
Observação: Collor e Dilma foram depostos (em 1992 e 2016, respectivamente) porque "peitaram" o Congresso. Temer só escapou das "flechadas de Janot" porque distribuiu cargos a rodo e bilhões de reais em verbas parlamentares em troca de blindagem. 
 
Durante seu primeiro reinado, D. Lula se valeu do "Mensalão" para comprar apoio parlamentar. Quando a maracutaia veio a público, pediu desculpas ao povo brasileiro e disse que havia sido traído. Mais adiante, percebendo que escaparia incólume, passou a negar o esquema espúrio — e continuou a fazê-lo mesmo depois que o STF condenou 24 réus da ação penal 470 (entre os quais José DirceuJosé GenoínoAntonio VaccariDelúbio Soares e outros petralhas de alto coturno). Até pouco tempo atrás, quase ninguém acreditava que Dilma seria impichada nem que seu mentor acabaria preso. Mas não há nada como o tempo para passar. 
 
Observação: Não foi fácil prender o pai dos pobres, mãe dos ricos e camelô de empreiteiro, e mantê-lo atrás das grades foi ainda mais difícil, como se viu no caso Favreto e na liminar circense do então ministro Marco Aurélio. Mas a postura golpista e o negacionismo de Bolsonaro (exacerbado durante a pandemia) levaram à soltura e subsequente "descondenação" do presidiário mais famoso do Brasil. E como desgraça pouca é bobagem (mais quatro anos sob o "mito" dos descerebrados seriam uma desgraça ainda maior, mas isso não vem ao caso neste momento), o deus pai da Petelândia foi guindado ao Planalto pela terceira vez. 

D. Lula III vem trombeteando asnices, descumprindo promessas e repetindo erros cometidos nos reinados pregressos. Em campanha, criticou enfaticamente o relacionamento espúrio do antecessor com o Centrão; uma vez no trono, abriu os braços (e as pernas) para Arthur Lira. A PEC que ampliou o teto de gastos em R$ 170 bilhões — que só foi aprovada após farta distribuição de verbas e cargos em troca de votos, numa espécie de "mensalão oficial" — selou a aliança do palanque ambulante com o "Imperador da Câmara". 

Aos 78 anos, Lula ainda se deixa seduzir por luxos e mordomias, rasga compromissos que não lhe interessam, defende ditadores como Putin, Maduro, Ortega e Díaz-Canel e simpatiza com grupos terroristas como o Hamas. A recente recauchutagem facial reforça a suspeita de que sua promessa de pendurar as chuteiras acabará como a de "não nomear amigo ou aliado para o STF". Claro que as chances de ele ser apeado do trono em algum momento — e de não caminhar mais entre os vivos por ocasião da próxima eleição presidencial — não podem ser desprezadas, mas isso é outra conversa. 

A defesa ferrenha do rombo fiscal evidencia que sua alteza não aprendeu nada nos reinados anteriores. Fiel a velhos hábitos, continua a abandonar aliados no campo de batalha quando seus corpos lhe servem de alguma maneira. Veja-se a propósito a exoneração das ministras do Esporte e do Turismo e da presidente da CEF — para afinar as relações como partidos do Centrão — e, mais recentemente, a promoção de poste a bobo da corte de Fernando Haddad — o vassalo submisso que aceitou representar se suserano em 2018, mesmo sabendo que, em caso de vitória, não passaria de um fantoche.
 
Apesar do que se comenta nos subterrâneos do governo, Haddad e Rui Costa não discutem, até porque eles simplesmente não se falam. Desde o discurso de Lula no último dia 27, durante um café de aniversário com jornalistas amestrados, os dois ministros mais importantes deste governo passaram a falar línguas diferentes expressando-se no mesmo idioma. Enquanto um simula que a meta fiscal continua estuante de vida e articula no Congresso receitas tributárias novas, o outro trama um ajuste para evitar que 2024 comece com cortes orçamentários no PAC. 
 
Depois de visitar a Casa Civil do Planalto, o relator da LDO ironizou a divergência: "Falta o maestro pegar na batuta e dizer qual é o tom". Mas o regente já deu o tom em duas oportunidades: numa, declarou que o país não precisa de déficit zero; noutra, afirmou que dinheiro bom é dinheiro aplicado em obras. Dias atrás, discursando para empresários, prometeu garantir a estabilidade fiscal a quem quiser investir. Mas absteve-se de definir "estabilidade".
 
Gastar é bom, mas, quando o dinheiro é do contribuinte, gastar com parcimônia e responsabilidade é muito melhor. Quando Lula prestigiava Haddad, sua gestão tinha nexo econômico. Mas não há nada como o tempo para passar. Agora, brilham no letreiro nacional duas perguntas: 1) Qual é o rumo do governo na economia? 2) A que temperatura ferve Fernando Haddad?

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

SE COBRIR, VIRA CIRCO; SE CERCAR, VIRA HOSPÍCIO

 


Na trilogia Mr. Mercedes, do mestre do terror Stephen King, o psicopata assassino Bill Hodges, em coma profundo, domina a mente de outras pessoas e as induz a cometer assassinatos. Recomendo a leitura.

Se Haddad tivesse derrotado Bolsonaro em 2018, teríamos um presidiário governando o país através de um patético preposto/bonifrate. Ironicamente, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre tornou-se o pior mandatário desde Tomé de Souza. Seus arroubos antidemocráticos e negacionismo atávico resultaram em 150 pedidos de impeachment — que Rodrigo Maia e Arthur Lira cuidaram de manter na gaveta) e dezenas de investigações — que Augusto Aras matou no peitoInelegível por 8 anos e delatado pelo ex-ajudante de ordens, o estrupício começa a vislumbrar a prisão em meio à síndrome do que está por vir. Caberá ao novo PGR tomar alguma providência — tentativa de golpe é crime.
 
Augusto Aras deixou o comando da PGR na última terça-feira (já vai tarde). No discurso de despedida, com uma cara-de-pau de deixar Bolsonaro roxo de inveja, o antiprocurador afirmou que as críticas à sua gestão são "falsas narrativas". Como se o desmonte da Lava-Jato e o enfraquecimento do combate à corrupção não passassem de ficção. 

Não bastasse essa afronta à inteligência dos brasileiros, o ministro Dias Toffoli teceu rasgados elogios ao trabalho de Aras à frente da PGR e afirmou que "a força do silêncio" do antiprocurador defendeu o país de uma ruptura democrática. Vale lembrar que Toffoli foi presenteado por Lula com a suprema toga em retribuição aos "bons serviços prestados ao PT", a despeito de ter sido reprovado duas vezes em concursos para juiz de direito, e que anulou recentemente todas provas colhidas no acordo de leniência da antiga Odebrecht

Observação: Na tentativa de se cacifar para uma recondução na PGR sob Lula, Aras publicou posts em que se distanciava de Bolsonaro e encampava o discurso de que sua gestão foi diligente na fiscalização de atos administrativos e gastos públicos destinados ao combate à Covid

Em quatro anos, Aras desceu ao verbete da enciclopédia como o pior procurador-geral da República de todos os tempos. A pretexto de "despolitizar" o MPF, bolsonarizou a chefia do órgão. Visando ao desmonte da Lava-Jato, criou o lavajatismo com sinal trocado, que não denuncia ninguém acima de um certo nível de poder e renda. Para "descriminalizar a política", condescendeu com políticos criminosos. Remunerado pelo contribuinte para defender os interesses da sociedade, optou por defender os interesses de Bolsonaro. Simulando rigor com "averiguações preliminares", arquivou mais de 70 acusações, fechou os olhos para a política de estado letal na pandemia e enterrou os indiciamentos da CPI da Covid. Para abrilhantar ainda mais seu currículo luzidio, associou-se por omissão ao projeto golpista que passou pelo 7 de Setembro e desaguou no 8 de janeiro. 
 
Na abertura do ano do Judiciário, com Bolsonaro devidamente defenestrado pelo eleitor, o ora ex-procurado-geral fez uma tríplice (e patética) declaração de amor ao regime democrático no plenário reconstruído do STF: "Democracia, eu te amo, eu te amo, eu te amo." Dias atrás, no mesmo plenário, apresentou-se como vítima de "incompreensões e falsas narrativas". 

Abandonado pelo senso do ridículo, o ministro Dias Toffoli declarou que o ex-número 1 da PGR não usou o cargo como "um alpinismo para outros interesses". Balela! Sob Bolsonaro, dê olho na suprema toga, Aras caprichou no puxasaquismo; sob Lula, de olho num ambicionado terceiro mandato, escalou o antilavajatismo e amealhou inacreditáveis apoios no petismo. Mas Lula preferiu buscar uma "reencarnação de Aras" no corpo de outro antiprocurador.
 
Há 35 anos, quando o Congresso Constituinte presidido por Ulysses Guimarães converteu o Ministério Público numa entidade independente, imaginou-se que surgiria no país uma instituição respeitável. Se a gestão de Aras serviu para alguma coisa, foi para demonstrar que a respeitabilidade está sob ameaça.
 
Reza a Constituição que a Procuradoria Geral da República deve zelar pelos interesses da sociedade. A função de procurador-geral será exercida com maior eficácia se o titular for escolhido de forma republicanamente impessoal. Mas a impessoalidade, depois da diversidade, é o critério que menos interessa a Lula no momento
. O que ele busca é algo muito parecido com um recomeço em falso.

O livro que Aras distribuiu aos amigos vale como um dossiê das culpas do pior procurador-geral da história. Numa obra que fala sobre a maneira como sua gestão "salvou vidas" durante a pandemia, fica difícil eleger o trecho mais mentiroso. O pior, no entanto, não é o pesadelo, mas a dificuldade que o Brasil tem de acordar dele. 
 
Com Josias de Souza

domingo, 13 de agosto de 2023

ATÉ O ÚLTIMO GLUB-GLUB

 

Bolsonaro é tido como líder da extrema-direita brasileira, embora esteja mais para símbolo do que para guia. Nem ele próprio acredita em tudo o que diz — a exemplo da autoproclamada alma viva mais honesta do Brasil, mas isso é outra conversa. 

Quando percebeu que havia mercado para a parolagem estúpida e brutalista, o "mito" se rendeu a ela, e ela rendeu a ele e sua prole votos, dinheiro e patrimônio. Pendurado no erário desde os tempos da caserna, o ex-capitão sempre gostou mais de dinheiro que de ideologia, e desde sempre usou esta como instrumento para obter aquele. 
 
O dublê de mau militar — como bem o definiu Ernesto Geisel — e parlamentar medíocre — como comprova a aprovação de míseros dois projetos em 27 anos no baixo clero da Câmara  tornou-se um homem de muitos milhões, fez da Presidência sua Disneylândia particular e, sob o escudo de uma impunidade quase absoluta, buscou se perpetuar no Planalto mediante um golpe Estado. As tentativas de golpe malograram, mas o golpista jamais descuidou do caixa — nem mesmo enquanto fingia lutar uma cruzada moral e patriótica. 
 
Derrotado pelo ex-presidiário mais famoso do Brasil, o imbrochável fechou-se em copas. Encastelado no Planalto, assistiu aos protestos antidemocráticos protagonizados por fanáticos acampados em portas de quartéis. A dois dias de entregar a faixa, homiziou-se na cueca do Pateta e lá ficou até o final de março p.p. Inelegível até 2030 por decisão do TSE, posa de vítima enquanto explora seus devotos  um bando de imbecis travestidos de militantes comandados por um imbecil travestido de ex-presidente. A mais recente pilhagem rendeu R$ 17,2 milhões (resultantes, supostamente, de doações para ajudar o insuportável a pagar multas judiciais). 
 
Se a chave da conta de Bolsonaro só foi divulgada no dia 23 de junho, as "doações" foram feitas em apenas 12 dias, o que sugere lavagem de dinheiro. Como se não bastasse, o imorrível repassou dinheiro a familiares e gastou "mais ou menos R$ 17 mil, se não me engano" em jogos na Mega-Sena (todos feitos na lotérica de um sobrinho). Faltou pouco para emular João Alves — o mais famoso dos "Anões do  Orçamento" —, mas seus devotos e apoiadores, cegos pelo fanatismo ou por interesses ocultos, não pareceram constrangidos com a desculpa esfarrapada. 

Ainda que que a narrativa do incomível fosse a mais pura expressão da verdade, a pergunta que se coloca é: que tipo de gente doa dinheiro a um sevandija que, além de não pagar as multas, aplica o produto da pilhagem em renda-fixa e torra o correspondente a mais de 10 salários-mínimos em jogos de loteria? Se o imprestável ficasse no Planalto por muito tempo, acabaríamos com histórias como da ex-primeira-dama das Filipinas, que se tornou célebre por colecionar mais de 3 mil pares de sapatos enquanto o povo vivia na miséria.
 
A operação montada no segundo turno para bloquear a chegada de eleitores do candidato petista às urnas no Nordeste é um dos fios desencapados mais temidos por advogados e aliados de Bolsonaro, e a prisão de Silvinei Vasques, ex-chefe da PRF, trouxe à tona detalhes que têm potencial para produzir um curto-circuito. 

O circo pegou fogo. No epicentro do incêndio, uma reunião de Silvinei com a fina flor da PRF a portas fechadas. Na pauta oficial, questões triviais, como a educação física dos agentes; no mundo real, a articulação de uma operação "politicamente direcionada" para dificultar o trânsito de eleitores de Lula

Do celular da ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, a PF extraiu uma planilha encomendada pelo ex-ministro Anderson Torres, com os municípios em que o petista obteve mais de 75% dos votos no primeiro turno. Repassados a Silvinei, esses dados serviram de bússola para a ação "politicamente direcionada" no dia da votação em segundo turno. 
 
Silvinei e Anderson não tardam a descobrir que um dos problemas com as coisas varridas para debaixo do tapete é que o país continua vivendo em cima do tapete. Ambos mentiram na CPMI como se falassem para uma nação de bobos. Um está na cadeia. O outro amarga prisão domiciliar. Os dois se comportam como Tom e Jerry

No primeiro depoimento, Silvinei admitiu que "o número de abordagens" feitas pela PRF no segundo turno "foi maior", mas atribuiu a anomalia a uma "operação do Ministério da Justiça". Torres declarou que a corporação agiu com "autonomia" e que ele "não tinha atribuição para vetar o planejamento". Disse ter ouvido de Silvinei que "a ação foi praticamente a mesma do primeiro turno", sem "qualquer direcionamento" político. Os dois agiram de comum acordo, segundo a PF, que quer encostar o inquérito no ex-presidente e receberia de bom grado uma colaboração  desde que o colaborador fizesse o melado escorrer para cima. 

Na última sexta-feira, mandados de busca e apreensão foram cumpridos nos endereços do general Mauro Cesar Lourena Cid — pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cesar Barbosa Cid, colega de Bolsonaro na AMAN e ex-chefe da Apex em Miami — e do célebre causídico Frederick Wassef — defensor recorrente de membros do clã Bolsonaro e ex-anfitrião do igualmente célebre Fabrício Queiroz

A PF colheu indícios de que Cidão teria participado da venda das joias sauditas, e que teria emprestado sua conta bancária no exterior para o recebimento de valores. Seu envolvimento no furdunço leva a investigação outro patamar e mergulha o Exército no escândalo: sem embargo de as condutas serem individualizadas, a corrupção na veia de um general tido como ícone na caserna tem impacto para além de uma eventual desonestidade. 

Cidinho também é alvo da Operação Lucas 12:2 ("não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido"), suspeito de desviar bens entregues por autoridades estrangeiras a representantes do Estado brasileiro, vendê-los no exterior, converter os valores em dinheiro em espécie e engordar o patrimônio pessoal do chefe do clã das rachadinhas e das mansões milionárias. Seu advogado, Bernardo Fenelon, renunciou a sua defesa por razões de "foro íntimo".

Observação: Mauro Cid (o filho) provou ser um homem de múltiplas habilidades: além de funcionar como caixa eletrônico para a ex-primeira-dama, como serviço de atendimento a oficiais golpistas para os militares e como hacker de cartões de vacinação no Ministério da Saúde, ele atuou como vendedor de joias surrupiadas. Por essas e outras, o fardado se tornou peça-chave para o deslinde de várias maracutaias envolvendo Bolsonaro et caterva. Comparado a ele, Fabrício Queiroz não passava de um simples recruta. 
 
Cidinho cala, mas seu celular fala. E acusa Bolsonaro, sua família e aliados. O rolo do Rolex é só mais um capítulo dessa delação involuntária, mas reforça a inarredável impressão de que o biltre sempre viu a política como um bom negócio pessoal. Para quem aplicou em renda fixa os R$ 17 milhões provenientes (supostamente) de doações para pagar multas, autorizar a venda de patrimônio público como se fosse privado seria apenas mais um dia de trabalho.
 
O peixe, como se sabe, morre pela boca. Mas a PF descobriu que o bolsonarismo morre pelo celular. Numa tradução livre, smartphone significa telefone inteligente; nas patas de certos bolsonaristas, vira cavalo de troia tecnológico a serviço da estupidezAlguns dos bagrinhos encrencados no 8 de Janeiro forneceram ao Judiciário as selfies que recheiam os processos, e Cidinho e seus auxiliares apagaram as mensagens que expunham o golpismo e as entranhas apodrecidas da gestão do "mito", mas se esqueceram de esvaziar a lixeira. 

No dialeto do bolsonarismo, celular virou um outro nome para aquilo que os investigadores chamavam antigamente de batom na cueca. No aparelho de Cid filho, a PF pescou até a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem que visava dar suporte ao golpe, e, revirando a lixeira, chegou ao camelódromo fardado das joias. 

Anderson Torres, superior hierárquico da PRF, sabia o que fazia quando simulou o extravio de seu telefone antes de retornar dos EUA e se entregar à PF. O agentes recuperaram parte dos dados na nuvem, mas uma análise do aparelho "perdido" certamente levaria a dados mais valiosos — um personagem que guarda uma minuta de golpe no armário do quarto decerto manteria um lixo valioso no celular.
 
O naufrágio do Titanic tornou-se a melhor metáfora para o ponto final de qualquer enredo trágico. Bolsonaro, como o maestro da orquestra da célebre embarcação, deve ter sido o primeiro a notar que um script que evolui do patriotismo épico para um reles caso de roubo de joias é o roteiro de um desastre. 

A imagem mais fascinante é a dos militares deslizando pelo salão como músicos fieis de uma banda marcial a caminho do fundo. Ao arrastar para o epicentro do escândalo o general Cid, a PF mostrou que a água invadiu os trombones. O pai do filho enrolado migrou da condição de estrelado de mostruário para a de contrabandista de joias quatro estrelas

A tradicional família militar divide a ribalta com o criminalista de estimação dos Bolsonaro, que se comporta como um bêbado que atribui o desnível acentuado do convés à qualidade do champanhe. Com as caldeiras explodindo, os fardados tocam sem desafinar, evitando incluir no fundo musical a partitura de uma delação. É como se Bolsonaro, com água pelo nariz, ordenasse à orquestra: "Toquem com brio!" 

Expurgado do Poder, o ex-capitão já não pode mandar cortar o salário dos músicos. Mas eles continuam a postos, e parecem enxergar virtude na depravação. Mostram-se dispostos a executar a partitura do ex-mandatário até o último glub-glub, quando já não haverá mais botes salva-vidas à disposição.

Com Ricardo Kertzman e Josias de Souza