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sexta-feira, 19 de novembro de 2021

AINDA A TERCEIRA VIA


A falta de nomes que empolguem o eleitorado "de centro" (não confundir com Centrão) é tão prejudicial quanto sua pluralidade, pois ambas as situações favorecem o dublê de ex-presidente e ex-presidiário — ora promovido a "ex-corrupto" — e o dublê de mau militar e parlamentar medíocre — ora promovido a pior mandatário desde a redemocratização. 

Na eleição solteira de 1989, o sempre esclarecidíssimo eleitor brasileiro voltou às urnas pela primeira vez desde a eleição de Jânio Quadros, em 1960, para descartar postulantes como Ulysses, Covas e Brizola e promover ao segundo turno dois demagogos populistas.

O caçador de marajás de festim derrotou o pai dos pobres de mentirinha e recebeu a faixa presidencial do oligarca maranhense que ascendeu ao Planalto, cinco anos antes, graças a uma trapaça do destino — e a quem o general Figueiredo se recusou a transferir a faixa: "Faixa a gente transfere para presidente, não para vice, e esse é um impostor".

Denunciado por corrupção, o "Rei-Sol" renunciou, mas foi impichado mesmo assim — e hoje é senador da República. O político baianeiro bon-vivant que lhe sucedeu nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda. O tucano emproado se autonomeou "primeiro-ministro informal" e, graças ao sucesso do Plano Real, foi eleito Presidente no primeiro turno do pleito de 1994. Em 1997, pariu a famigerada PEC da Reeleição e foi reconduzido ao cargo no ano seguinte, também no primeiro turno.

Os resultados sofríveis da segunda gestão de FHC botaram azeitona na empada do PT. Assim, após ser derrotado em 1989, 1994 e 1998, o ex-retirante, ex-engraxate, ex-mascate, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-decadátilo e fundador do partido dos trabalhadores que não trabalham, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam finalmente conquistou a Presidência

Como desgraça pouca é bobagem, a despeito do escândalo do mensalão o pseudo parteiro do Brasil maravilha não só conquistou seu segundo mandato como também elegeu um poste para manter aquecida a cadeira que ele pretendia voltar a ocupar em 2014.

À gerentona de araque não bastaram quatro anos para destruir a economia canarinha. Em 2014, inobstante a demonstração clara do descontentamento popular com sua abjeta gestão, a anta promoveu o (até então) maior estelionato eleitoral da história desta banânia — e foi reeleita (para ser escorraçada dois anos, quatro meses e 11 dias depois, mas isso é outra conversa).

O impeachment da Bruxa Má do Oeste guindou à Presidência o vice decorativo que prometeu nomear uma equipe de notáveis e empossou uma notável confraria de corruptos. Sua "ponte para o futuro" era de vidro e se quebrou quando uma conversa de alcova nada republicana mantida com o moedor de carne bilionário (que a gravou sem o conhecimento do vampiro do Jaburu) veio à luz num furo de reportagem Lauro Jardim.

O vampiro que tem medo de fantasmas foi alvo de três "Flechadas de Janot" — o então PGR que mais adiante reconheceria ter ido armado ao STF para matar o semideus togado e se suicidar em seguida. Mas empenhou nossas cuecas no aluguel de apoio das marafonas do Centrão e terminou sua insossa gestão como "pato-manco" — tradução literal da expressão "lame duck", que é como os americanos se referem a políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons, de má vontade, lhes servem o café frio.

Tudo isso contribuiu para que um bizarro dublê de mau militar e parlamentar medíocre fosse guindado ao Planalto, já que a alternativa que restou no segundo turno jamais foi uma opção. E a menos que a tal terceira via se consolide, o pleito de 2022 será novamente um plebiscito e nos obrigará novamente a escolher o menor de dois males (lembrando que toda má escolha feita por falta de alternativa continua sendo uma má escolha). 

Dito isso, pode ser útil anotar algumas realidades que a eleição presidencial passada deixou demonstradas:

A grande força política que culminou com a vitória de Bolsonaro chama-se antipetismo. Foi ela que deu a essa aberração que chamamos de "Presidente" os 10,8 milhões de votos a mais que o total obtido pelo “poste” que serviu de preposto e bonifrate ao então presidiário de Curitiba. 

Atualmente, o contexto é outro. Lula, que teve as condenações anuladas e a ficha-suja lavada na lavanderia imunda do STF, ainda é rejeitado por uma parcela significativa dos brasileiros. O problema que a rejeição a Bolsonaro é ainda maior. Em outras palavras, o capetão foi quem melhor soube representar o antilulopetismo em 2018, e por isso — e unicamente por isso — ficou em primeiro lugar. 

Lula é — até o presente momento — quem tem mais chances de defenestrar o pontífice da seita infernal que, a pretexto de defender o conservadorismo, disseminou o nazifascismo, o racismo, o machismo, o autoritarismo e a defesa da ditadura militar.  

PT foi triturado nas eleições municipais de 2016. Seus candidatos a governador em SP, RJ, MG e RS tiveram votações ridículas, e seus “ícones” ao Senado, como Dilma em MG, Suplicy em SP e Lindbergh no RJ foram transformados em pó, deixando a sigla sem um único senador nos três maiores colégios eleitorais do país.

Em 2018, a força política de Lula — que continua sendo descrito como um gênio incomparável no “jogo do poder” — era do exato tamanho dos resultados obtidos nas urnas pelo seu “poste”. As mais extraordinárias profecias sobre a sua capacidade de “transferir votos” e a sua inteligência praticamente sobre-humana em tudo o que se refere à política não se realizaram. Encerrada a apuração, o molusco abjeto continuava exatamente onde estava — trancafiado num xadrez em Curitiba.

Mais uma vez, os institutos de “pesquisa de intenção de voto” fizeram previsões calamitosamente erradas. A estocadora de vento, segundo garantiam, seria a “senadora mais votada do Brasil”, mas ficou num quarto lugar humilhante. Suplicy, uma espécie de Tiririca-2 de São Paulo, também era dado como “eleito”, mas foi varrido do mapa. Os primeiros colocados para governador de Minas e Rio foram ignorados pelas pesquisas praticamente até a véspera da eleição — tinham 1% dos votos, ou coisa que o valha. E deu no que deu.

O tempo de televisão e rádio no horário eleitoral obrigatório — tido e havido como uma vantagem monumental e vendido a peso de ouro pelas gangues partidárias — virou zero à esquerda em termos nacionais. O eterno picolé de chuchu, que tinha o maior espaço nos meios eletrônicos, acabou com menos de 5% dos votos. Em contrapartida, o candidato que as conjunturas transforariam no verdugo do Planalto não tinha nem 1 minuto, mas acabou sendo o primeiro colocado. Ficou claro, então, que a propaganda fabricada por gênios do “marketing eleitoral” da modalidade Duda Mendonça-João Santana — caríssima, paga com dinheiro roubado e criada numa usina central de produção — já não fazia tanta diferença: a votação do "mito" dos bolsomínions foi construída nas redes sociais.

Resumo da ópera: daqui até outubro de 2022 o público será apresentado a outras previsões, teoremas e choques de sabedoria. É bom não perder de vista o que aconteceu em 2018 antes de acreditar no que lhe anunciam para o futuro. Mesmo assim, uma coisa é certa: uma eleição com muitos candidatos, em meio a uma grave crise econômica e prenhe de descrença na política, pode resultar na volta de Lula (não à cadeia, de onde ele jamais deveria ter saído, mas ao Palácio do Planalto) ou na menos provável (mas não impossível) reeleição do "mito" (que Deus nos livres de ambas essas desgraças).

Como disse a infectologista Luana Araújo em outro contexto, "é como se a gente estivesse escolhendo de que borda da ‘Terra plana’ vai pular”. Nos últimos dias, Bolsonaro não reconheceu — e esnobou — o vice-primeiro-ministro alemão e pisou no pé da primeira-ministra daquele país. Confundiu o chanceler americano John Kerry com o comediante Jim Carrey. Esquivou-se da COP-26 e foi fazer turismo na Itália — onde chamou a Torre de Pisa de torre de pizza. E condecorou a si mesmo com a Ordem do Mérito Científico (todo presidente já é o Grão Mestre da Ordem, mas fazer questão de publicar isso no Diário Oficial é bem esquisito).

Observação: Há controvérsia sobre o que é mais espantoso, a auto honraria em si ou a suposição de que um negacionista como Bolsonaro possa ter mérito científico. Ao ser alertado que condecorara com a mesma Ordem um pesquisador responsável por demonstrar que a cloroquina não funciona para Covid, nosso indômito capetão o descondecorou, levando outros 21 próceres da ciência a renunciar à condecoração.  

Claro que o imprevisto sempre pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. A pandemia continua fazendo vítimas, aviões continuam caindo, mortes naturais continuam acontecendo... Enfim, quem viver verá.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

QUER CONHECER O CARÁTER DE UMA PESSOA? DÊ-LHE O PODER! (QUARTA PARTE)



Lula é uma caricatura de si mesmo, uma foto amarelada que insiste em permanecer pendurada na parede do PT, até porque ele e seu espúrio partido são uma coisa só. De acordo com as pesquisas, o ex-presidiário já ganhou (com 171% dos votos) e se prepara alegremente para voltar à cena do crime.

Bolsonaro, que atacou duramente o Centrão durante a campanha e prometeu sepultar a “velha política” do “toma lá, dá cá”, passou por nove partidos, todos do Centrão. Entre 2019 e 2020, tentou criar o Aliança Pelo Brasil, mas não conseguiu reunir o número mínimo de assinaturas e acabou se amancebando com o PL. Na cerimônia de filiação à sigla presidida pelo do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, disse que “estava se sentindo em casa”. Mas vamos por partes, que a desgraça vem de longe.

Bolsonaro iniciou sua trajetória militar em 1973, na Escola de Cadetes de Campinas (SP). No ano seguinte, ingressou na AMAN, onde cumpriu o curso básico de paraquedismo do Exército e foi promovido a aspirante a oficial de artilharia. Em 1986, protestou contra os baixo soldo dos militares num artigo publicado pela revista Veja, que lhe rendeu 15 dias na prisão. Em 1987, Veja denunciou seu plano de explodir bombas em instalações militares como forma de pressionar o comando por melhores salários e condições. Ele e seu comparsa, o também capitão Fábio Passos da Silva, foram condenados por unanimidade. O STM os absolveu por 9 votos a 4, mas suas carreiras militares acabaram ali. 

Desfardado e travestido de defensor dos interesses corporativistas dos fardados, Bolsonaro conquistou uma cadeira na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Dois anos depois, elegeu-se deputado federal. Ao longo de 7 mandatos, aprovou 2 projetos e colecionou mais de 30 processos. Em 2018, graças a uma improvável conjunção de fatores, foi despachado para o Palácio do Planalto, onde permanece até hoje graças à leniência do Legislativo e do Judiciário.

Para se escudar de mais de 140 pedidos de impeachment — um recorde, considerando o escore de seus predecessores (Collor, 29; Itamar, 4, FHC, 24; Lula, 37; Dilma, 68; e Temer, 31) —, o ex-capitão usou o "orçamento secreto" para ter um cúmplice na presidência da Câmara; para se imunizar contra investigações por crimes comuns, nomeou esbirro procurador-geral (ao arrepio da lista tríplice do MPF) e o mantém na rédea curta mediante a promessa de guindá-lo ao STF.

Observação: Em 1993, o ex-presidente-general Ernesto Geisel se referiu ao então capitão como “um caso completamente fora do normal, inclusive mau militar”. A quem interessar possa, a carreira militar do “mito” é narrada em detalhes no livro “O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel” (Todavia), publicado em 2019 pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho.

A carreira política se confunde com a vida pessoal do mau militar e parlamentar medíocre. Sua primeira esposa, Rogéria Bolsonaro, foi eleita vereadora no Rio de Janeiro em 1996. Em 2000, durante a separação do casal, ela concorreu à reeleição e foi derrotada pelo filho 02 — que se tornou o vereador eleito mais jovem da História do país. 

Os filhos 01 e 03 também seguiram os passos do pai na política: Flávio, o devoto das rachadinhas foi eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2002 (e reeleito três vezes antes de conquistar uma vaga Senado Federal). Eduardo, o fritador de hambúrguer que quase virou embaixador, foi eleito deputado estadual por São Paulo em 2014 e reeleito em 2018. 

Observação: Afora o célebre caso de Zero Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério Público apuram suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro por tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de manifestações que pediram o fechamento de instituições como o Congresso e o Supremo. Tutti buona gente!


Abro um parêntese para dizer que a decisão do TJ-RJ que fez de 01 o mais novo "inocente entre aspas" (mais detalhes na próxima postagem) foi "mais do que justa", sobretudo num país democrático onde uma decisão estrambótica chancelada em supremo plenário por 8 votos a 3 transformou um ex-presidente presidiário em "ex-corrupto" e apto a voltar à cena do crime. 

Isso me faz lembrar de uma anedota dos tempos da ditadura, segundo a qual o general-presidente da vez, em visita oficial à Bolívia, mal disfarçou o riso quando lhe foi apresentado o ministro da Marinha do país vizinho... e foi prontamente lembrado de que seu colega boliviano não riu quando, em vista ao Brasil, lhe foi apresentado o ministro da Justiça tupiniquim.

Continua... 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

EU NÃO DOU BOLA PRA ISSO!


Em números absolutos de infectados pela Covid-19, o Brasil só fica atrás dos EUA e da Índia. No último dia 25, ultrapassamos a marca de 190 vítimas fatais. Isso de acordo com o ministério da Saúde; um levantamento da Vital Strategies dá conta de que pode haver mais de 220 mil mortos.

Enquanto a imunização está a todo vapor em outros países, inclusive na América Latina, o alienado que governa o Brasil (ou deveria governar) circula sem máscara pela capital federal, cumprimentando puxa-sacos e brindando seus muares amestrados com as inevitáveis asnices que o notabilizaram: perguntado se não se sente pressionado pelo fato de outros países terem começado a vacinação, nos indômito capitão deixou claro, mais uma vez, seu estapafúrdio menoscabo pela saúde pública: “Ninguém me pressiona para nada, eu não dou bola para isso“.

Esse descaso vai custar a vida de muita gente, mas "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Todo mundo vai morrer um dia". Só faltou parafrasear o grande general Augusto Heleno e soltar um sonoro "Foda-se!"

Mas o que esperar de um mandatário que não nasceu para ser presidente, nasceu para ser militar (e nem isso conseguiu, pois foi excluído dos quadros da Escola de Oficiais por indisciplina e insubordinação)?

Que festeja como vitória pessoal a morte de um compatriota que se voluntariou para testar um imunizante contra a Covid, e chama de “maricas” os que se preocupam em continuar vivos?

Que, em menos de um mês, defenestrou dois médicos do comando da Saúde (desde maio que não há ninguém da área médica chefiando a Pasta) para nomear um dublê de interventor militar e pau-mandado e transformar o ministério em cabide de farda?

Que o Washington Post "elegeu" o pior líder global no combate à pandemia

Que não criou (nem permitiu que seu esbirro criasse) um plano de vacinação — ao contrário; sabotou o quanto pode a “vacina chinesa do Doria” — achando, talvez, que uma pilha de 200 mil cadáveres fosse eleitoralmente irrelevante frente aos mais de 65 milhões de desassistidos que receberam o coronavoucher?

Deixe estar, jacaré, que a lagoa há de secar. Ao contrário da pandemia, o auxílio emergencial está com os dias contados. Sem outro programa de assistencialismo populista (como os que tanto criticou nas gestões anteriores), a popularidade do capitão-letargia não tarda a subir no telhado — uma péssima notícia para quem tem a reeleição como projeto de governo e a blindagem da suspeitíssima filharada como prioridade #1.

Com os pés no palanque e os olhos postos em 2022, Bolsonaro não vê que o controle da pandemia passa pela vacinação em massa, e que o reaquecimento da economia vem a reboque. Instigar a ospália de devotos a descumprir o isolamento não é a melhor política, a menos que sua estratégia seja alcançar a imunização mediante a contaminação da população, “na base do se não morreu, é porque sobreviveu”.   

Bolsonaro rifou a saúde pública em nome da disputa eleitoral. Agora, em mais uma canhestra tentativa de disfarçar o indisfarçável, diz que "a pressa pela vacina não se justifica" e que “não vai colocar em risco a saúde da população”. Por alguma razão incompreensível para quem não vive, como ele, no mundo da lua, as vacinas podem não ser seguras, mesmo submetidas e aprovadas em todos os testes realizados pela comunidade científica — talvez o capitão-cloroquina depositasse mais confiança nos imunizantes se eles tivessem sido revisados pela Universidade do WhatsApp.

A pressa é inimiga da perfeição, mas toda regra tem exceção. O tempo urge, e providências imediatas devem ser tomadas, tanto pelo ministério da Saúde, para imunizar a população o quanto antes, como pelos outros Poderes, aos quais compete determinar medidas urgentes para evitar que o mau militar e parlamentar medíocre que conspurca o Palácio do Planalto aprofunde ainda mais a crise com sua inação e irresponsabilidade e aparelhe instituições como a PGR e o Congresso, que, numa situação de normalidade democrática, tê-lo-iam defenestrado do cargo antes que esse estrago acontecesse. 

O que indica que o país tem duas doenças, mas uma das vacinas só estará disponível em outubro de 2022

Com Leonardo Sakamoto

domingo, 11 de fevereiro de 2024

AINDA É CARNAVAL

 

Era questão de tempo. A julgar pela dimensão do caso, não demorou tanto assim. Levou um ano e um mês para a PF bater às portas dos tubarões envolvidos na conspiração golpista que culminou com os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023, dando uma resposta a quem reclamava que as investigações, processos e condenações alcançavam apenas os "peixes pequenos" executores da depredação nas sedes dos Poderes. 
 
Como dizia minha avó, "um dia a casa cai". E a casa de Bolsonaro e seus cúmplices paisanos e fardados na intentona golpista está na bica de cair. Pelo exposto na justificativa da operação de buscas, apreensões e prisões da cúpula então governista da sedição, não restam dúvidas de que os "bagrões" serão condenados, e a penas maiores que as imputadas à massa de manobra dos "bagrinhos" ensandecidos. 
 
O que houve está sendo muito bem contado. Não se trata de conjeturas ou meras conversas sobre hipóteses bravateiras. Havia um presidente da República em estado de sublevação empenhado em colocar o governo a serviço de um golpe em andamento. As ações estavam em marcha. Na luz e na sombra. 
Durante o mandato de Bolsonaro foram inúmeras e reiteradas as manifestações públicas ofensivas ao Estado de Direito feitas por ele, ministros, assessores e políticos afinados, enquanto montava-se nos gabinetes o roteiro da infâmia.
 
O planejamento de um golpe é de gravidade extrema e requer punição. Até porque, quando é de fato executado, não há essa oportunidade. Os golpistas assumem o poder e os legalistas vão para a prisão. Já vimos esse filme — que completa seis décadas neste ano. Sem a inevitável condenação dos conspiradores, a obra da resistência não estaria completa. Não poderíamos dizer que as instituições estão firmes e fortes, e que sua plenitude nos permite conhecer a história do motim antidemocrático que não foi, mas poderia ter sido.
 
Bolsonaro não poderia ter sido mais sincero quando disse que "a eleição de um deputado do baixo clero, desprezado, só pode ter sido um engano". Hoje, com sua percepção descolada da realidade, ele tem certeza de que foi roubado na eleição. Por sua lógica desviada, se a maioria dos brasileiros é cristã e se cristãos não podem ser esquerdista (e muito menos comunistas), então o TSE fraudou o pleito, já que ele, Bolsonaro, teve 49,1% dos votos válidos no segundo turno. Mas nem todo mundo pensa assim. 
 
Soube-se pelas pesquisas que muita gente votou no mix de mau militar e parlamentar medíocre, em 2018, por considerar o bonifrate de Lula a pior opção. Não por considerar o xamã do PT comunista, mas principalmente por causa de uma calamidade chamada Dilma, de um Mensalão e de um Petrolão. 
Mas as pesquisas mostram também que, mesmo inelegível e prestes a gozar férias compulsórias na Papuda ou no diabo que o carregue, o imbrochável incomível e insuportável ainda conta com o aval de 35% e 40% do "esclarecidíssimo" eleitorado tupiniquim.
 
Voltando à afirmação da aberração de que sua eleição só poderia ter sido um engano, a pergunta que se coloca é: como tantos se equivocaram tanto? E a resposta é: Não há resposta (ou melhor, eu não tenho a resposta). Mas imagino que, quando fala em comunismo, o estrupício se refere à Venezuela, onde Maduro capitaneia uma ditadura de ladrões que montam empresas-sinecuras e destroem o Estado. 
 
Houve grossa corrupção no Brasil, e todos ficaram sabendo. Portanto, não há falar em ditadura nesta banânia. 
Haveria se a intentona bolsonarista tivesse vingado. Mas o que aquele aquele bando de incompetentes conseguiu produzir foi quebra-quebra de 8 de janeiro — e (pasmem!) deixar para trás minutas do golpe espalhadas por escritórios e celulares, vídeos e gravações de reuniões secretas, conversas de WhatsApp, fake news primárias. Estariam guardando para a posteridade? Achariam que ainda poderiam dar o golpe? Julgavam-se imunes? Deu piada. Exército de Brancaleone foi a associação óbvia para os mais velhos. 
 
Bolsonaro e sua turma tiveram — e têm — apoio nas Forças Armadas, entre políticos e na elite brasileira. O ex-superministro Paulo Guedes é um representante da elite financeira, e está no vídeo, traçando um sanduíche (mudo então e depois). Houve chefes militares que não embarcaram, e isso foi crucial para que o golpe não prosperasse. Mas também houve quem topasse aderir 
— desde que o chefe assinasse a ordem. Mas o chefe esperava antes a adesão dos comparsas em comando militar. 

Um lado esperando o outro, cada qual com medo de sair na frente. Menos mal que não houve golpe. Mas o mais espantoso é estarmos comemorando isso. É como o sujeito que despenca do 20º andar e, ao passar pelo sexto, suspira e diz: "Até aqui, tudo bem!"
 
Com Dora Kramer e Carlos Alberto Sardenberg 

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

UM PAÍS SUI GENERIS


O debate foi medíocre, como era esperado de dois candidatos medíocres que um eleitorado medíocre escalou para disputar o segundo turno. A meu ver, ambos saíram menores do que entraram.


O eleitor brasileiro parece desconhecer a máxima segundo a qual fazer sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes é insanidade. Na primeira eleição direta para presidente da Nova República, dos 22 postulantes — entre os quais se destacavam Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola e Fernando Gabeira —, foram despachados para o segundo turno um caçador de marajás demagogo e populista e um ex-metalúrgico populista e demagogo. 

O perigo de eleger políticos demagogos e populistas aumenta exponencialmente quando o povo é vocacionado a "endeusá-los", entronizando no poder quem sempre lá esteve e sempre. Pode-se atribuir parte da culpa ao Criador, mas não é Dele o dedo podre (ou o casco canhestro) que pressiona alegremente o botão verde da urna, quando vê a foto do candidato que o manterá na sarjeta pelos próximos quatro anos. 
 
Voltando à eleição solteira de 1989, Collor derrotou Lula, mas acabou impichado. Seu vice, Itamar Franco, foi considerado uma figura patética e lembrado pela ressurreição do fusca e pela foto ao lado da modelo sem calcinha Lilian Ramos, mas e foi durante sua gestão que Fernando Henrique e seus "notáveis" criaram o Plano Real, pondo fim a uma hiperinflação de 80% ao mês e propiciando a eleição do tucano de plumagem vistosa no primeiro turno do pleito de 1994. Picado pela mosca azul, FHC conseguiu que o Congresso aprovasse a PEC da Reeleição — essa, sim, a verdadeira "herança maldita" dos governos do PSDB — e tornou a se eleger em 1998, mas não conseguiu emplacar José Serra em 2002.
 
Com a vitória de Lula, o PT criou o Mensalão, que resultou na prisão de petralhas alto coturno — curiosamente, o maior beneficiário do esquema não foi incluído na ação penal 470 (que levou incríveis sete anos da instauração ao julgamento final). Lula foi reeleito e em 2006 e, em 2010, escalou um "poste" para manter aquecida a poltrona que ele pretendia voltar a ocupar dali a 4 anos. No entanto, a criatura pegou gosto pelo poder e, contrariando seu criador, fez o diabo para se reeleger. 
 
Dilma conseguiu se reeleger (mediante um monumental estelionato eleitoral), mas acabou afastada em maio em maio de 2016 e deposta em agosto, interrompendo 13 anos 4 meses e 12 dias de lulopetismo corrupto — àquela altura, o Petrolão já campeava solto, desviando uma parte dos contratos milionários da Petrobras para contas secretas controladas por integrantes de grupos políticos e econômicos que apoiavam o governo. Com o impeachment da gerentona de araque, seu vice, Michel Temer, assumiu o comando da Nau dos Insensatos, mas foi abatido em seu voo de galinha antes de cruzar a miserável pinguela que o levaria a ostentar a faixa presidencial até o final de 2018 (detalhes nesta postagem).
 
A pergunta que se coloca é: foi para isso que lutamos tanto pelas “Diretas Já”? Desde a redemocratização que o Brasil vem sendo governado como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra por um lado e sai pelo outro. Entre a porta de entrada, que é aberta nas eleições, e a de saída, que se abre quando muda o governo, a merda muda de aparência, troca de nome e recebe nova embalagem, porém continua sendo merda. 

A merda reprocessada no governo Lula desaguou no governo Dilma e se reprocessou no governo Temer. O material processado pela usina continuou o mesmo nas três fases, durante a compostagem de políticos “do ramo”, empreiteiras de obras públicas, escroques de todas as especialidades, fornecedores do governo, parasitas ideológicos, empresários declarados “campeões nacionais” por Lula, por Dilma e pelos cofres do BNDES. 
 
Temer foi parte integrante da herança que Lula deixou para os brasileiros. A reboque dele, vieram Eduardo CunhaRenan CalheirosJosé Sarney (e família), Romero JucáEliseu PadilhaEunício OliveiraGeddel Vieira Lima etc. E a eles se juntaram empresários “nacionalistas” dos governos petistas, como Joesley e Wesley BatistaEmílio e Marcelo OdebrechtEike Batista e outros capitães da indústria que se tornaram inquilinos do sistema penitenciário nacional.
 
Durante algum tempo, a Lava-Jato nos deu a ilusão de que lei valia por igual para todos. Lula e seus benfeitores da Odebrecht e da OAS foram parar na cadeia, mas o STF mudou (pela enésima vez) a jurisprudência sobre prisão em segunda instância, anulou as condenações do ex-presidiário e pregou no ex-juiz Sergio Moro a pecha da parcialidade.
 
Somada ao notório brilhantismo da malta tupiniquim (falo daquela que se convencionou chamar "eleitorado"), essa formidável sequência de descalabros levou a usina de compostagem a produzir o bolsonarismo. Enquanto Lula oscilava entre a prisão e o Planalto, Bolsonaro, que até então não passava de um dublê de mau militar e parlamentar medíocre, comia pelas beiradas. À luz da Teoria das Probabilidades, um anormal ser eleito presidente da República seria improvável; dois, inacreditável; três, e em seguida, virtualmente impossível. Mas não no Brasil. 
 
Lula ocupou a Presidência de 2003 a 2010; Dilma, de 2011 a 12 de maio de 2016; e Bolsonaro, de 2019 até não se sabe quando. Se vivêssemos num país normal, essa dúvida seria dirimida no próximo dia 30. Como não é, o futuro a Deus pertence. Mas parece que o Capiroto também tem voto decisivo na assembleia dos acontecimentos.

terça-feira, 6 de abril de 2021

BOLSONARO ENTRE ERROS E DESACERTOS


A vida é feita de escolhas, e hoje eu escolhi sair
”, disse o oncologista Nelson Teich em seu pronunciamento de despedida do ministério cuja importância a pandemia sanitária elevou à enésima potência. 

Não é a primeira vez que faço essa citação, como sabem aqueles que seguem este humilde Blog. Mas há casos em que a profundidade dos ensinamentos que determinadas frases encerram justifica sua repetição sempre que a oportunidade se apresenta. 

Teich sucedeu a Mandetta, que foi demitido porque, na abalizada avaliação do presidente, "estava se achando uma estrela".

Observação: Mandetta foi defenestrado devido à popularidade que conquistou com sua desenvoltura no combate à Covid. Como é público e notório, Bolsonaro arranca qualquer plantinha que brota no quintal do vizinho se achar que ela tem potencial para fazer sombra em seu próprio quintal.

Teich não se sujeitou ao humilhante papel de pau-mandado e foi empurrado porta afora do ministério. Dias antes de completar um mês no comando da pasta, o oncologista apresentou sua demissão, dando ao presidente a chance de promover o segundo no comando, general Eduardo Pazuello, que assumiu o posto na condição de interino.

General de divisão especializado em logística (?!), o estrelado colocou a Saúde sob intervenção militar, transformou-a num cabide de fardas e desempenhou com maestria o papel de vassalo, obedecendo cegamente as ordens do suserano. Na visão do taifeiro estrelado do capitão sem luz, os princípios nobres de hierarquia e disciplina dos militares se resumem a “um manda e o outro obedece”. Simples assim. 

Sob as ordens de quem manda, aquele que obedece — obedecia, melhor dizendo, porque foi substituído pelo cardiologista Marcelo Queiroga, segundo o qual “a política (de saúde) é do governo Bolsonaro; o ministro apenas a executa” — o Pesadelo protagonizou toda sorte de trapalhadas. Sua desastrosa gestão resultou na abertura de inquérito no STF e pode render a instalação de uma CPI no Congresso (recomendo ler o que escreveu a propósito a Senadora Simone Tebet).

Conforme comentei diversas vezes, de nada adianta trocar as rodas da carroça quando o problema é o burro. Mais de 70 pedidos de abertura de processo de impeachment contra o dublê de mau militar e parlamentar medíocre que as circunstâncias nos obrigaram eleger presidente da República dormitam sobre a mesa do dublê deputado e réu que sucedeu a Rodrigo Maia na presidência da Câmara graças à farta distribuição de cargos e verbas parlamentares pelo Messias que não miracula.

Não haveria como esperar postura diferente de quem jamais administrou coisa alguma, nem mesmo carrinho de pipoca em porta de cinema. De quem acha que governar é blindar a si e sua prole, evitar o impeachment e se reeleger. De quem sempre pôs a família acima de tudo — empregando parentes em gabinetes, elegendo os filhos vereador, deputado e senador — e cujo falacioso slogan de campanha “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” foi criado sob medida para tocar a alma dos eleitores — a dos evangélicos foi tocada pelo batismo do então deputado nas águas do Rio Jordão, e a facada em Juiz de Fora se encarregou do resto.

Bolsonaro nunca foi o candidato dos sonhos da ala pensante da população, mas tornou-se a única alternativa à volta da quadrilha petista. Ele próprio tem consciência de que chegou ao poder por uma confluência única de circunstâncias, e por isso busca manter sólido o apoio de uma parcela do eleitorado que não é maioria, mas é numerosa o bastante para resistir a um impeachment e levá-lo ao segundo turno no ano que vem. Mas sua “autenticidade”, outrora louvada pela massa de indignados que resolveram virar o país de ponta-cabeça, está se voltando contra ele.

Arthur Lira e Rodrigo Pacheco foram guindados, respectivamente, às presidências da Câmara e do Senado com o apoio do capitão, mas nem por isso continuarão a blindá-lo se a crescente insatisfação popular acompanhar a velocidade com que aumentam os números de infectados e mortos pela Covid — situação que, combinada com o debacle da economia, propiciou a realização de nove encontros entre a cúpula do Congresso com empresários, representantes de bancos e do mercado financeiro, e resultou num movimento político pela intervenção na calamidade que atende por “governo federal”.

Em discurso recente, Lira elevou o tom, chegando a falar em “remédios amargos e fatais”. A demissão de Ernesto Araújo ensejou uma reforma ministerial que criou ainda mais confusão, sobretudo na área militar. 

A substituição do general Fernando Azevedo e Silva pelo também general Walter Braga Netto deixou patente a intenção do presidente granjear o apoio das Forças Armadas a suas investidas autoritárias. A alta cúpula do militar entendeu que o “interventor do presidente” quebrou a hierarquia ao desrespeitar a posição de seu antecessor, que ascendeu ao cargo com um tempo inferior ao dos comandantes do Exército e da Marinha e que errou ao negar publicamente qualquer ameaça à democracia — o único posicionamento público de Braga Netto se resumiu a uma mensagem alusiva ao aniversário do golpe de 1964.

A troca promovida no Itamaraty foi vista mais como uma mudança de modos e menos como uma alteração no rumo da política externa, até porque faltou demitir Felipe Martins, autor do gesto obsceno/supremacista feito no Senado. 

Embora os senadores tenham aprovado na última quarta-feira, de forma simbólica, voto de censura ao assessor especial da Presidência da República, Martins não é parlamentar, de modo que "a punição não gera punição". Caso a apuração que Pacheco encomendou à Polícia Legislativa constate alguma infração, o Senado poderá enviar a investigação ao MPF (coisa de que eu duvido; depois que assunto esfriar, fica o dito pelo não dito e é vida que segue).

Observação: Após a polêmica, Bolsonaro chegou a afirmar a aliados que demitiria Martins, mas, como Ernesto Araújo foi exonerado dias depois, a saída do assessor poderá ser revista, tendo em vista que o principal alvo das críticas do Congresso em relação à política externa já deixou o governo.

A nomeação da deputada federal de primeiro mandato Flávia Arruda para a Secretaria de Governo foi um evidente aceno ao Centrão — e só fez algum sentido porque não fazia sentido algum o posto ser ocupado por um general —, mas não garante apoio incondicional das marafonas do Congresso às bizarrices e esquisitices do capitão-cloroquina, notadamente as que não se alinham às demandas da maioria da população no combate à pandemia. 

Como bem salientou a jornalista Dora Kramer, nesse aspecto continua valendo a regra segundo a qual político segue o funeral, mas não compartilha a cova na hora do enterro.

sábado, 1 de outubro de 2022

LEIA ISTO ANTES DE VOTAR


Segundo uma antiga e filosófica anedota, Deus estava criando o mundo quando um anjo apontou para a porção continental que seria o Brasil e disse: "Essa terra será um verdadeiro paraíso, pois o clima é agradável, há lindas florestas e praias, grandes e belos rios, e nada de desertos, geleiras, terremotos, vulcões ou furacões". E o Criador respondeu: Ah, meu caro anjo, espera só pra ver o povinho filho da puta que eu vou colocar aí.”

Quando a trupe de Cabral desembarcou em Pindorama, Pero Vaz de Caminha plantou a sementinha da corrupção na carta que enviou a El Rey, pedindo-lhe que intercedesse por seu genro. Trezentos anos depois, o Brasil passou de colônia a reino-unido porque a família real portuguesa se desabalou para o Rio de Janeiro (para fugir de Napoleão). Nossa independência — paga a peso de ouro — foi proclamada por D. Pedro I quando o então príncipe regente esvaziava os intestinos
Despida do glamour que lhe atribuem os livros de História, a "Proclamação da República" foi um golpe de Estado político-militar (o primeiro de muitos, como se viu mais adiante). 

De 1889 para cá 38 presidentes chegaram ao poder pela via do voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe, e oito deles, a começar do primeiro, foram apeados antes do fim do mandato. A renúncia de Jânio Quadros deu azo ao golpe de 1964 e duas décadas de ditadura militar. A primeira eleição direta para presidente desaguou no primeiro impeachment — de Fernando Collor, e o segundo — de Dilma Rousseff —, veio 24 anos depois (não fosse a pusilanimidade de Rodrigo Maia e a cumplicidade escrachada de Arthur Lira, o terceiro teria ocorrido em algum momento dos últimos 40 meses). 
 
Em 2018, Bolsonaro derrotou o bonifrate de Lula por uma diferença superior a 10,7 milhões de votos. Segundo o empresário Paulo Marinho — que abrigou na própria casa o comitê de campanha —, a vitória do dublê de mau militar e parlamentar medíocre deveu-se ao antipetismo, ao articulador Gustavo Bebianno, ao publicitário Marcos Carvalho e ao esfaqueador Adélio Bispo de Oliveira

Imaginava-se que o ex-capitão jamais seria um presidente como manda o figurino, mas era ele ou a volta do presidiário encarnado em Fernando Haddad. Acabou que Bolsonaro superou as piores expectativas. Para piorar, o candidato que prometeu acabar com a reeleição passou os últimos 3 anos e 9 meses em campanha. E como nada é tão ruim que não possa piorar, faltou à “terceira via” uma narrativa eleitoral que sensibilizasse o eleitorado refratário à polarização e oferecesse propostas consistentes. 

Depois que sucessivos boicotes forçaram Doria a desistir e impediram Moro de seguir adiante, restaram Simone, que patinou na largada, e Ciro, que parece estar fadado a amargar mais uma derrota (a quarta). Mesmo que nenhum dos dois tenha chances reais de passar para segundo turno, os votos que lhes serão dirigidos evitarão que o pleito decidido no primeiro turno.  E tudo aponta para a vitória de Lula — ou, nas palavras do ex-adversário e ora candidato a vice na chapa petista, "a volta do criminoso à cena do crime". 

Graças a uma sequência decisões judiciais teratológicas, o ex-detento mais famoso do país foi convertido em ex-corrupto e o recolocado no tabuleiro da sucessão presidencial. Seus advogados estrelados conseguiram finalmente criminalizar o xerife, a despeito das evidências de que, durante as gestões petistas, um cartel obtinha contratos superfaturados com a Petrobras e pagava propina ao PT, PP e MDB. 
 
Antes de passar o supremo bastão para sua sucessora, o ministro Luiz Fux disse que as anulações dos processos da Lava-Jato ocorreram por razões formais e situações de corrupção no escândalo da Petrobras e do mensalão não podem ser esquecidas. "Aqueles R$ 50 milhões das malas eram verdadeiros, não eram notas americanas falsificadas. O gerente que trabalhava na Petrobras devolveu 98 milhões de dólares e confessou efetivamente que tinha assim agido", reconheceu o magistrado. Mas o PT publicou uma obra de ficção visando reforçar a narrativa de que "não houve corrupção sistêmica na Petrobras nem superfaturamento em contratos" (contrariando afirmações do TCU e da própria estatal). 

Sempre que é pressionado, Lula relativiza sua participação na megarroubalheira, embora o preposto do do petista na campanha de 2018 tenha reconhecido que faltou controle na Petrobras e que o ex-juiz Sergio Moro fez "um bom trabalho" (menos ao condenar seu chefe). 
 
O sucesso da finada Lava-Jato no combate à corrupção deveu-se a acordos de delação de executivos da Petrobras, da Odebrecht, OAS e de outras empresas. No curso das investigações, foram obtidos documentos e evidências que confirmaram a corrupção na estatal e o pagamento de propinas pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. Em 2015, a Petrobras divulgou balanço contabilizando uma perda de R$ 6 bilhões com o esquema de corrupção. No início do ano passado, a estatal informou que o total recuperado mediante acordos de colaboração, leniência e repatriações era de R$ 6,17 bilhões.
 
Com a anulação dos processos e a declaração da "suspeição" de Moro, o pajé do PT estufa o peito e, com o dedo indicador em riste qual cauda de escorpião, alardeia que foi "absolvido" e que sua "inocência" foi reconhecida até pela ONU. Mas não é bem assim.
 
Continua...

domingo, 12 de novembro de 2023

SOIS REI?

NÃO HÁ NADA COMO O TEMPO PARA PASSAR.

Promulgada em 1988, a Constituição Cidadã — feita sob medida para o parlamentarismo — estabeleceu que a forma e o sistema de governo seriam definidos em plebiscito. Em 21 de abril de 1993, o povo foi às urnas decidir se o Brasil voltaria a ser monarquia ou continuaria sendo república, e também se seria instaurado o parlamentarismo ou mantido o presidencialismo. 

Useiro e vezeiro em escolher sempre a pior opção, nosso esclarecidíssimo eleitorado decidiu manter o status quo, ensejando o advento do "semipresidencialismo" (ou "semiparlamentarismo") que hoje tem Arthur Lira como "primeiro-ministro de fato" e o Supremo como "poder moderador". 
 
Observação: No presidencialismo de coalização, o chefe do Executivo governa com o apoio de uma bancada pluripartidária no Legislativo, mas o presidencialismo de cooptação é baseado no célebre toma lá (verbas e cargos) dá cá (apoio parlamentar). 

Enquanto candidato, Bolsonaro condenava as indicações políticas, a interferência do governo no Legislativo e os "crimes hediondos" contra a Petrobras, e defendia a Lava-Jato e a prisão de parlamentares do Centrão — chegando até mesmo a comemorar a delação de Alberto Youssef, que dedurou o próprio Arthur Lira. Mas não há nada como o tempo para passar.
 
No Planalto, o combo de mau militar e parlamentar medíocre torrou bilhões de reais do Orçamento Secreto para garantir a vitória de Lira na disputa pela presidência da Câmara e, mais adiante, nomeou Ciro Nogueira para a Casa Civil. A pareceria com o deputado alagoano foi um jogo de ganha-ganha: Bolsonaro garantiu sua blindagem contra CPIs e pedidos de impeachment e Lira, às voltas com os tribunais, se beneficiou da crescente influência do chefe do clã das rachadinhas e mansões milionárias nas cortes superiores. 
 
Observação: Collor e Dilma foram depostos (em 1992 e 2016, respectivamente) porque "peitaram" o Congresso. Temer só escapou das "flechadas de Janot" porque distribuiu cargos a rodo e bilhões de reais em verbas parlamentares em troca de blindagem. 
 
Durante seu primeiro reinado, D. Lula se valeu do "Mensalão" para comprar apoio parlamentar. Quando a maracutaia veio a público, pediu desculpas ao povo brasileiro e disse que havia sido traído. Mais adiante, percebendo que escaparia incólume, passou a negar o esquema espúrio — e continuou a fazê-lo mesmo depois que o STF condenou 24 réus da ação penal 470 (entre os quais José DirceuJosé GenoínoAntonio VaccariDelúbio Soares e outros petralhas de alto coturno). Até pouco tempo atrás, quase ninguém acreditava que Dilma seria impichada nem que seu mentor acabaria preso. Mas não há nada como o tempo para passar. 
 
Observação: Não foi fácil prender o pai dos pobres, mãe dos ricos e camelô de empreiteiro, e mantê-lo atrás das grades foi ainda mais difícil, como se viu no caso Favreto e na liminar circense do então ministro Marco Aurélio. Mas a postura golpista e o negacionismo de Bolsonaro (exacerbado durante a pandemia) levaram à soltura e subsequente "descondenação" do presidiário mais famoso do Brasil. E como desgraça pouca é bobagem (mais quatro anos sob o "mito" dos descerebrados seriam uma desgraça ainda maior, mas isso não vem ao caso neste momento), o deus pai da Petelândia foi guindado ao Planalto pela terceira vez. 

D. Lula III vem trombeteando asnices, descumprindo promessas e repetindo erros cometidos nos reinados pregressos. Em campanha, criticou enfaticamente o relacionamento espúrio do antecessor com o Centrão; uma vez no trono, abriu os braços (e as pernas) para Arthur Lira. A PEC que ampliou o teto de gastos em R$ 170 bilhões — que só foi aprovada após farta distribuição de verbas e cargos em troca de votos, numa espécie de "mensalão oficial" — selou a aliança do palanque ambulante com o "Imperador da Câmara". 

Aos 78 anos, Lula ainda se deixa seduzir por luxos e mordomias, rasga compromissos que não lhe interessam, defende ditadores como Putin, Maduro, Ortega e Díaz-Canel e simpatiza com grupos terroristas como o Hamas. A recente recauchutagem facial reforça a suspeita de que sua promessa de pendurar as chuteiras acabará como a de "não nomear amigo ou aliado para o STF". Claro que as chances de ele ser apeado do trono em algum momento — e de não caminhar mais entre os vivos por ocasião da próxima eleição presidencial — não podem ser desprezadas, mas isso é outra conversa. 

A defesa ferrenha do rombo fiscal evidencia que sua alteza não aprendeu nada nos reinados anteriores. Fiel a velhos hábitos, continua a abandonar aliados no campo de batalha quando seus corpos lhe servem de alguma maneira. Veja-se a propósito a exoneração das ministras do Esporte e do Turismo e da presidente da CEF — para afinar as relações como partidos do Centrão — e, mais recentemente, a promoção de poste a bobo da corte de Fernando Haddad — o vassalo submisso que aceitou representar se suserano em 2018, mesmo sabendo que, em caso de vitória, não passaria de um fantoche.
 
Apesar do que se comenta nos subterrâneos do governo, Haddad e Rui Costa não discutem, até porque eles simplesmente não se falam. Desde o discurso de Lula no último dia 27, durante um café de aniversário com jornalistas amestrados, os dois ministros mais importantes deste governo passaram a falar línguas diferentes expressando-se no mesmo idioma. Enquanto um simula que a meta fiscal continua estuante de vida e articula no Congresso receitas tributárias novas, o outro trama um ajuste para evitar que 2024 comece com cortes orçamentários no PAC. 
 
Depois de visitar a Casa Civil do Planalto, o relator da LDO ironizou a divergência: "Falta o maestro pegar na batuta e dizer qual é o tom". Mas o regente já deu o tom em duas oportunidades: numa, declarou que o país não precisa de déficit zero; noutra, afirmou que dinheiro bom é dinheiro aplicado em obras. Dias atrás, discursando para empresários, prometeu garantir a estabilidade fiscal a quem quiser investir. Mas absteve-se de definir "estabilidade".
 
Gastar é bom, mas, quando o dinheiro é do contribuinte, gastar com parcimônia e responsabilidade é muito melhor. Quando Lula prestigiava Haddad, sua gestão tinha nexo econômico. Mas não há nada como o tempo para passar. Agora, brilham no letreiro nacional duas perguntas: 1) Qual é o rumo do governo na economia? 2) A que temperatura ferve Fernando Haddad?