De acordo com a epístola enviada por Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel em abril de 1500, a primeira porção da Terra Brasilis avistada pela trupe de Cabral foi o Monte Pascoal: “(...) Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal (monte da Páscoa) e à terra A Terra de Vera Cruz!”, anotou o escriba ao descrever o “descobrimento do Brasil”.
O detalhe é que àquela altura o espanhol Vicente
Yáñez Pinzón já havia aportado na costa de (hoje) Pernambuco (em 26 de
janeiro de 1500), e sete anos antes o rei português D. João II ameaçara
declarar guerra à Espanha se o papa Alexandre VI não revisasse os
limites estabelecidos pela Bula Inter Coetera — o que originou o Tratado
de Tordesilhas, firmado em junho de 1494.
Tanto a expedição de Pinzón quanto o insurgimento do
monarca são indícios claros do que ficou comprovado documentalmente séculos
depois: Portugal já sabia da existência de terras na porção sul do “novo
continente” descoberto por Cristóvão Colombo. Demais disso, uma
expedição secreta comandada por Duarte Pacheco Pereira aportou
na costa brasileira em 1498, à altura do que hoje corresponde ao litoral do Maranhão — antes, portanto, de Pinzón. Mas o
rei de Portugal determinou que a descoberta fosse mantida em segredo até
que uma nova missão (a de Cabral) “tomasse posse oficialmente”
daquelas terras.
O Brasil foi batizado como tal por conta da abundância da madeira
Caesalpinia Echinata, conhecida popularmente como pau-brasil — da
qual se extraía uma resina cor-de-brasa, que era muito usada para tingir
tecidos. Antes de ganhar esse epíteto, o país foi batizado de Pindorama
(pelos nativos); de Ilha de Vera Cruz (em 1500); de Terra Nova e Terra
dos Papagaios (em 1501); de Terra de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz
(em 1503); de Terra Santa Cruz do Brasil e Terra do Brasil (em
1505), e de Brasil, em 1527.
Alcunhado de Gigante Adormecido e País do Futuro (que
nunca chega), entre outros epítetos, o Brasil, seja como colônia, reino unido,
império ou república, nunca deixou de ser uma banânia que
aspirava a ingressar na seleta confraria das nações do assim chamado “primeiro mundo”.
Segundo uma velha (e filosófica) anedota, o
Senhor das Esferas estava criando o mundo quando um anjo apontou para a
porção que mais adiante corresponderia ao Brasil e disse: “Esta terra
será um verdadeiro paraíso para a humanidade; o clima é agradável, há lindas
florestas e praias, grandes e belos rios, e nada de desertos, geleiras, terremotos,
vulcões ou furacões. Por que tanto protecionismo, Senhor?” E
Deus respondeu: “Ah, meu caro anjo, espera só pra ver o povinho
filho da puta que eu vou colocar aí.”
Como dito linhas acima, a farsa começou com o “descobrimento”
e seguiu pela denominação dos nativos. Os portugueses chamaram os silvícolas de
“índios” porque, ao aportar no novo continente, o genovês Cristóvão Colombo
supôs ter chegado às “Índias Orientais” — daí as Américas ficarem
conhecidas na Europa como “Índias Ocidentais”.
Observação: O expressão “descobrimento da
América” não é aceita universalmente pelos historiadores. Primeiro, porque
a expedição espanhola capitaneada por Colombo não tinha por objetivo
chegar a terras desconhecidas, mas sim ao continente asiático. Segundo, porque
os primeiros europeus a chegar à América foram os Vikings,
no século X (ainda que, diferentemente dos espanhóis e portugueses, eles não
tiveram sucesso na tentativa de se estabelecerem no novo continente). Demais
disso, a América não precisava dos europeus — ou da chegada deles — para
existir. Ela já existia em si muito antes disso e era habitada por milhões de
habitantes que formavam diferentes sociedades, algumas delas com alto grau de
sofisticação.
Ainda sobre o descobrimento e a farsa nacional, os compêndios
de História registram que a esquadra de Cabral zarpou de Lisboa com
destino a Calicute, mas uma tormenta (ou uma calmaria, dependendo
de quem conta o conto) a desviou da rota e voilà: foi “descoberto” o
Brasil. A “Relação
do Piloto Anônimo” — que, ao lado das cartas de Caminha e
de Mestre
João, é um dos três testemunhos diretos do descobrimento do Brasil que
sobreviveram ao tempo —, relata o naufrágio da nau comandada por Vasco
de Ataíde, mas a epístola do escriba oficial da esquadra registra que a
viagem até a costa brasileira transcorreu na mais completa normalidade, “sem
haver tempo forte ou contrário para que assim pudesse ser”.
A região do suposto naufrágio era conhecida como “calmas
equatoriais” — já que os ventos deixavam de soprar por dias, ou semanas, e
as embarcações ficavam ao sabor das correntes marinhas. Em seu admirável estudo
sobre a viagem de Cabral, o contra-almirante Max
Justo Guedes anotou que durante a tal calmaria a frota
cabrália teria sido empurrada cerca de 90 milhas para oeste pela Corrente
Equatorial Sul, mas esse deslocamento seria insignificante e não poderia
ter causado o “descobrimento casual do Brasil”. Também como dito
linhas acima, a chegada da expedição portuguesa ao litoral baiano não se
deveu nem a tormentas, nem a calmarias. Portugal soube de sua existência anos
antes desse suposto “descobrimento” e, tecnicamente, já
tinha posse das terras quando Cabral nelas desembarcou.
A farsa segue pela independência, que os livros
didáticos transformaram numa obra
de ficção. O famoso “Grito do Ipiranga”, dado por D. Pedro
de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael
Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, às
margens do riacho do Ipiranga, só aconteceu porque o príncipe regente foi acometido
de poderosa caganeira e fez alto para esvaziar os intestinos atrás de
uma moita.
Enquanto o nobre executava essa gratificante tarefa,
acercou-se da comitiva um mensageiro portando três cartas. A
primeira, assinada por D. João VI, ordenava ao nobre rebento
que regressasse imediatamente a Portugal e se submetesse ao Rei e às Cortes; a
segunda, de José Bonifácio, aconselhava-o a romper com Portugal; a
terceira, da Imperatriz Leopoldina, dileta consorte do príncipe
(noves fora Domitila de Castro Canto e Mello, mais conhecida
como Marquesa
de Santos), transmitia ao marido o seguinte recado: “O pomo está
maduro; colhe-o já, antes que apodreça”. Impelido pelas circunstâncias, D.
Pedro, que já estava mesmo fazendo merda, aproveitou o ensejo para romper
os laços de união política com Portugal e declarar a independência do Brasil.
A Proclamação da República, também cantada em
verso e prosa com pompa e circunstância, foi o primeiro dos muitos golpes de
Estado que estavam por vir. Dito com outras palavras, a Primeira
República começou com um golpe militar e seu primeiro mandatário — marechal
Manuel Deodoro da Fonseca — foi eleito indiretamente e, dois anos
depois, “convidado por seus irmãos de farda” a deixar o cargo.
Ao longo de 131 anos de história republicana (completados em
novembro do ano passado), 38 presidentes chegaram ao poder pela via do voto
popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado (como até o
passado é incerto neste país, esse número varia entre 35 e 44). Destes, oito
foram de alguma forma apeados do cargo antes do fim do mandato.
Dos cinco presidentes eleitos pelo voto direto desde o fim
da ditadura militar — Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma
e Bolsonaro —, o primeiro e a penúltima foram expulsos de campo antes do
final do jogo. O caçador de marajás de festim — que inaugurou a lista dos chefes
do Executivo Federal depostos devido a crimes de responsabilidade —
colecionou 29 pedidos de impeachment. Mas nunca foi chamado de genocida. Itamar, FHC, Lula e Temer foram
agraciados, respectivamente, com 4, 27, 37 e 33 pedidos de impeachment, mas
concluíram seus mandatos e jamais foram chamados de genocidas. A
gerentona de araque foi penabundada porque
estava quebrando o país. Madame foi alvo de 68 pedidos
de impeachment, mas ninguém jamais a acusou de genocídio.
Por essas e outras, fosse esta banânia um país que se desse
ao respeito, o mandatário de turno já teria
sido despejado e internado.
Antes mesmo de completar um ano no cargo, o capitão já abria larga
dianteira em relação a seus antecessores. Em fevereiro passado, o réu que
sucedeu a Rodrigo Maia na presidência da Câmara herdou uma pilha com
cerca de 60 pedidos de abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro.
Hoje, são quase 120.
Embora vivesse às turras com o chefe do Executivo, Maia
não deu andamento a nenhum dos pedidos de impedimento do desafeto. “Houve
erros, mas não crimes de responsabilidade”, disse o ex-presidente da
Câmara, que agora corre o risco de ser contraditado pela CPI da Covid. E
Arthur Lira segue na mesma linha: pressionado, o deputado centrista
cearense disse candidamente que todos
os pedidos que ele analisou são “inúteis”. Quando se põe a raposa para
tomar conta do galinheiro, ela encarrega as outras raposas de investigar o
sumiço das galinhas.
Em março de 2020, quando o Brasil contabilizava 6 mil mortes
pela “gripezinha”,
o jornal norte-americano The Washington Post concedeu a Bolsonaro o
título de pior
líder mundial no combate à pandemia. Hoje, são 435 mil os cadáveres produzidos
pela doença — dois terços das quais se deveram a ações e omissões de um
mandatário negacionista e genocida.
O supremo togado Gilmar
Mendes, o deputado federal Kin
Kataguiri, o abutre vermelho Lula,
seu bonifrate Fernando
Haddad e o youtuber Felipe
Neto são alguns exemplos de autoridades e influencers que já
classificaram Bolsonaro de genocida. Em mensagem
enviada a um grupo de ministros do STF, o então decano da Corte Celso
de Mello comparou
o presidente a Hitler, e uma coalizão que representa mais de um milhão
de trabalhadores da saúde no Brasil, apoiada por entidades internacionais,
denunciou-o ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, por crimes
contra a humanidade e genocídio. Semanas atrás, Miguel Urbán
Crespo, integrante do Parlamento Europeu, disse durante um
discurso em plenário que a “necropolítica” do presidente brasileiro
no combate à pandemia constitui um crime de lesa-humanidade, e que Bolsonaro não
é só um perigo para o Brasil, mas para o mundo inteiro.
A despeito de tudo isso, as pesquisas de intenção de voto indicam
que o circo da sucessão terá como protagonistas (de novo) os dois extremos
do espectro político-ideológico. A diferença é que desta vez o extremista
de esquerda poderá dispensar o “poste” e disputar o pleito pessoalmente, uma
vez que o STF lavou sua ficha imunda — criando a bizarra figura do
“ex-corrupto”.
Falando em “postes”, elegê-los tornou-se uma especialidade de
Lula. Certa vez, depois de um jantar regado a “Romanée-Conti” — um
dos vinhos da Borgonha mais caros do mundo, que chega a custar US$ 25 mil a
garrafa —, o então presidente, entre baforadas da cigarrilha cubana acesa
pelo diligente Delúbio Soares, assim se dirigiu a seus asseclas: “Sabem, ‘cumpanhêros’, hoje, sem falsa
modéstia, eu elejo até um poste para governar o Brasil.”
E elegeu mesmo. Só que antes de empalar a nação com Dilma
Rousseff, a gerentona de araque, Lula havia designado José Dirceu
— egresso da DGI
(órgão cubano de espionagem financiado pela KGB) —, que lhe fazia as
vezes de ministro-chefe da Casa Civil. Mas a canoa virou quando o ex-guerrilheiro
de festim foi denunciado pelo deputado Roberto Jefferson como operador-mor do Mensalão.
Outro “poste” que o Parteiro do Brasil Maravilha tentou
conduzir à Presidência foi o “cumpanhêro” médico ribeirão-pretano Antonio
Palocci — coordenador de sua equipe de transição e ministro da Fazenda em seu
ímprobo governo. Mas o barco afundou quando veio a lume o imbróglio envolvendo
o caseiro Francenildo
Costa, testemunha de acusação contra Palocci no “Escândalo
da República de Ribeirão Preto” (cujo cenário era uma mansão de
Brasília onde rolavam negociatas do governo e encontros com prostitutas, agendados
pela cafetina
Jeany Mary Corner).
Assim, o único poste que deu certo afora Fernando Haddad
— este somente na disputa
pela prefeitura de São Paulo e apenas em 2012, já que foi
derrotado por João Doria quando tentou se reeleger em 2016, e por
Jair Bolsonaro na disputa pela Presidência em 2018 — foi a prosaica
figura que, antes de se aventurar na política, faliu
duas lojinhas de R$ 1,99 em Porto Alegre (RS); que sem saber
atirar virou modelo de guerrilheira; que sem ter sido vereadora virou
secretária municipal; que sem passar pela Assembleia Legislativa virou
secretária de Estado; que sem estagiar no Congresso virou ministra; que sem ter
inaugurado nada de relevante fez pose de gerente de país; que sem saber juntar
sujeito e predicado virou estrela de palanque; que sem ter tido um único voto
na vida até 2010 foi eleita presidente desta banânia e levou o país à insolvência,
a inflação à casa dos 2 dígitos e o desemprego à das dezenas de milhão.
Depois de um dos maiores estelionatos eleitorais da nossa
história (atrás apenas do que seria promovido pelo então candidato à Presidência
em 2018), a presidanta arroganta e pedanta foi reeleita,
mas acabou afastada do cargo 1 ano e 5 meses depois e devidamente penabundada dali
a pouco mais de 3 meses. No parecer do então PGR Rodrigo Janot, o impeachment
desse “poste” também encampava, no “conjunto da obra”, os crimes de corrupção
ativa e passiva, obstrução da justiça e organização criminosa.
Concluída esta (não tão) breve introdução, passo a tratar do
cenário (lamentável) que se descortina à luz das recentes (e prematuras)
pesquisas de intenção de voto, que, sem exceção, apontam para o embate (de
novo) entre o nhô ruim e o nhô pior — ou por outra,
entre o antilulopetismo e o antibolsonarismo. A se confirmar essa
perspectiva desalentadora, o eleitor consciente (e isso exclui as torcidas organizadas
de ambos os contendores) será novamente forçado a optar pelo “menos pior”.
Mas é preciso ter em mente que, quando se escolhe o menor de dois males,
ainda assim o que se escolhe é um mal.
Quem vaticina que o embate entre Lula e Bolsonaro
é inevitável não está fazendo análise política, está contribuindo para criar
uma profecia autorrealizável. Se aqueles que não querem que essa polarização
se repita virem-na como inevitável, assim será. Portanto, não é hora de crer em
vaticínios e inevitabilidades, mas sim de criar alternativas.
Para concluir (por hora, pois voltar a este tema será
inevitável), cumpre salientar que os números do DataFolha
apontam que 41% dos entrevistados responderam que votarão em Lula (uma
vantagem de 18% em relação a Bolsonaro). Num eventual segundo turno, o
petista atrairia os eleitores de Doria, Ciro e Huck (note
que o apresentador global ainda não confirmou a candidatura) e o capitão sem partido
ficaria com a maior fatia dos eleitores de Moro (o ex-juiz já afirmou
que não participará da disputa). Nesse cenário, Lula venceria Bolsonaro
por 55% a 32%.
Realizada na mesma semana, a enquete do Paraná
Pesquisas aponta 32,7% das intenções de voto em Bolsonaro e
29,3% em Lula — no segundo turno, o capetão venceria o petralha
por 42,5% a 39,8%. Os números do Atlas
Político também favorecem Bolsonaro no primeiro turno(37% a
33,2%) mas dão a vitória a Lula no segundo (45,7% a 41%). O XP/Ipespe
aponta empate no primeiro turno (ambos com 29%) e vitória de Lula no
segundo (42% a 40%). O PoderData
indica empate no primeiro turno (ambos com 32%) e vitória do petralha no segundo
(50% a 35%).
Cenários variados de disputa, datas não coincidentes de
apuração e defasagem de dados oficiais — problema realçado com o adiamento do Censo
— ajudam a explicar resultados divergentes de pesquisas, diz o Valor
Econômico. Mas a questão é que a amplitude dessas divergências vai bem
além das margens de erro, como ficou explícito depois que o Datafolha
deu conta de que Lula precisaria tirar só três pontos dos rivais para
vencer já no primeiro turno, que Bolsonaro vem bem, com 23%, e outros
seis concorrentes têm desempenho de um dígito.
Como se viu, o panorama é diverso segundo dados do Ipespe,
contratado pela XP, e do PoderData, vinculado ao site Poder360
— ambos mostram Lula e Bolsonaro numericamente empatados. As
entrevistas do Ipespe foram concluídas cinco dias antes do Datafolha.
Já o período de coleta do PoderData coincide quase que inteiramente com
o do Datafolha. Há ainda a pesquisa Atlas, iniciada após o Ipespe
e concluída antes do Datafolha, que mostra Bolsonaro líder.
Nos quadros de segundo turno os números também são
divergentes. E uma curiosidade: o PoderData, que tem resultados
distantes do Datafolha no primeiro turno, mostra dados mais próximos do Datafolha
no segundo. No Ipespe os resultados apontam empate técnico. O Atlas
traz Lula com 45,7%, quase cinco pontos acima de Bolsonaro, e
tanto o Datafolha quanto o PoderData mostram Lula com
ampla vantagem.
Responsável pelo Ipespe, o cientista político Antônio
Lavareda divulgou uma nota em que lista “fatores básicos que
teoricamente seriam capazes de explicar as diferenças”. Entre eles,
momentos distintos de apuração e diferenças nos total de entrevistados, mas Lavareda
enfatiza mais o método de abordagem de entrevistados — presencial ou por
telefone — e as variáveis de controle — recursos para verificar a consistência
das informações coletadas.
Mauro Paulino, diretor do DataFolha, defende o
método presencial em casos eleitorais. Para ele, o uso de um cartão circular
com os nomes dos candidatos distribuídos em fatias idênticas é a única forma de
não privilegiar um nome no instante da pergunta, o que contaminaria o estudo. “Para
outras pesquisas, achamos perfeitamente possível o uso do telefone. Para
eleitoral, não. Por telefone, o entrevistador necessariamente terá que citar um
nome antes”, diz ele.
Lavareda destaca o que entende ser desvantagens da
pesquisa presencial: “Na pandemia, em que se recomenda distanciamento
social, é plausível que muito mais pessoas temam ser abordadas nas ruas”.
Ele lembra ainda que não se usa mais esse método na Europa e nos EUA e que o
acesso do eleitorado brasileiro ao celular é universal.
A ideia segundo a qual um certo perfil não seria alcançado
na rua, pois muitos estão isolados ou em home office, é rechaçada por Paulino.
“Só 6% estão totalmente confinados. Mas mesmo essa pessoa que não sai de
casa acaba sendo representada quando entrevistamos outros com perfis parecidos,
como quem só sai para ir à padaria.”
Outro ponto de divergência está na chamada variável de
controle. Andrei Roman, diretor do Atlas, entende ser fundamental
usar a declaração de voto do eleitor em 2018 como informação para “calibrar” a
pesquisa. Isso é feito comparando o resultado apurado com o dado preciso da
urna. Lavareda também é defensor desse recurso. Paulino discorda.
“As pessoas esquecem em quem votou ou, conforme a conjuntura, preferem
esconder qual foi o voto. Quem usa isso como controle está fazendo coisa errada”,
diz.
Durma-se com um barulho desses.