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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

FALTAM 18 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — PONTOS A PONDERAR




Há dias que venho ensaiando uma postagem sobre a colcha de retalhos utópica e entumecida que atende por “Constituição Cidadã”, mas a efervescência no cenário político me levou a adiar o projeto. Agora, a 18 dias do segundo turno, parece-me mais importante acompanhar os novos e emocionantes capítulos da novela sucessória, sobretudo as negociatas de Bolsonaro e Luladdad em busca do apoio dos postulantes defenestrados. 

Colho o ensejo para adiantar que desde a proclamação da independência o Brasil já teve sete constituições (ou oito, já que muitos consideram a Emenda nº 1, outorgada pela junta militar em 1969, como a “Constituição de 1969”). A mais recente, que acaba de completar 30 anos, não só é o obelisco da prolixidade, mas também uma colcha de retalhos, na medida em que foi remendada mais de uma centena de vezes. A título de comparação, a constituição norte-americana, promulgada em 1787, tem apenas 7 artigos e recebeu 27 emendas nos últimos 220 anos.

Observação: A palavra “direito” é mencionada 76 vezes em nossa carta magna, enquanto “dever” surge em míseras quatro oportunidades. “Produtividade” e “eficiência” aparecem duas e uma vez, respectivamente, o que nos leva à seguinte pergunta: O que esperar de um país que tem 76 direitos, quatro deveres, duas produtividades e uma eficiência? A resposta terá de ficar para uma das próximas postagens. 

Antes de transcrever mais um artigo magistral de J.R. Guzzo, publicado originalmente no Blog Fatos sob o título O PARTIDO ANTI-LULA, achei por bem tecer algumas considerações sobre o resultado das urnas no último domingo.

Mesmo considerando o segundo turno como uma “nova eleição”, o fato de Bolsonaro ter obtido quase o dobro dos votos de Luladdad é significativo, quando mais não seja porque nenhum candidato que passou para o segundo turno na dianteira da disputa presidencial deixou de se eleger. Foi assim com o presidiário de Curitiba em 2006 — que obteve 49% dos votos válidos no primeiro turno e derrotou Alckmin no segundo (por 60,3% a 39,2%) — e com a ex-grande-chefa-toura-sentada — que em 2014 venceu o mineirinho safado no primeiro turno por 41,6% a 33,6% e se reelegeu no segundo por 51,6% a 48,4%. 

No último dia 7, o preposto-fantoche do demiurgo de Garanhuns teve menos votos do que Aécio no primeiro turno das eleições de 2014 — aliás, faltou bem pouco para Bolsonaro liquidar a fatura já no primeiro turno, uma vez que obteve 46% dos votos válidos (contra 29% de Luladdad). 

Volto a frisar que o capitão caverna jamais seria minha escolha se houvesse alternativa — e votar no PT não é alternativa, até porque acho inconcebível o Brasil ser governado de dentro da carceragem da PF em Curitiba (ou do Complexo Médico-Penal de Pinhais, da Papuda ou da ponte que partiu esse molusco abjeto). O fato de seu alter ego ir toda semana pedir-lhe a benção é um indicativo claríssimo da impostura de sua candidatura, que é tão falsa quanto uma nota de 3 reais. Lula disse que não é mais uma pessoa, e sim uma ideia, mas a história recente nos mostra tratar-se de uma péssima ideia, e o número de votos obtidos por Bolsonaro no último domingo deixa claro que uma parte da população já se deu conta disso. Portanto, torçamos para que o pulha vermelho apodreça na cadeia até o final de sua imprestável existência.

Resta saber como se posicionarão as demais legendas e respectivos caciques. O petralha-aprendiz é capaz de atrair para si boa parte dos votos dos eleitores de Ciro, Marina e Alckmin, mas não o bastante para se contrapor a Bolsonaro, já que, até por falta de opções, o eleitorado de centro-direita, pulverizado entre candidaturas nanicas como a de Álvaro Dias, Meirelles, Amoedo, além da parte minoritária que votou em Alckmin e Ciro, podem escolher o deputado-capitão. Isso sem mencionar que essa “falta de opção” pode gerar um índice maior de abstenções e votos brancos e nulos — no primeiro turno, dos 147 milhões de eleitores aptos a votar, cerca de 40 milhões não compareceram ou votaram em branco/anularam o voto —, o que favorece Bolsonaro, na medida em que ele precisará conquistar menos votos derrotar seu adversário.

Fato é que as revelações da Lava-Jato sepultaram as pretensões eleitorais de notórios medalhões petistas. Foi o caso de Dilma, a penabundada, que concorreu a uma vaga para o Senado por Minas gerais e cuja vitória os institutos de pesquisas davam como certa. Mas faltou combinar com o eleitorado: focada em denunciar o “golpe” — como a ex-presidanta e seus comparsas se referem ao impeachment —, a campanha da petista custou quase R$ 4 milhões, superando até mesmo os gastos de presidenciáveis como Marina, Ciro e o próprio Bolsonaro. Em contrapartida, a advogada Janaína Pascoal, uma das signatárias do pedido de impeachment que defenestrou a nefelibata da mandioca, elegeu-se deputada estadual com mais de 2 milhões de votos, embora sua campanha tenha custado módicos R$ 44 mil.

Outro exemplo: entre os 70 parlamentares eleitos para compor a bancada paulista na Câmara Federal, a jornalista, youtuber e antipetista Joice Hasselmann, que apoiou Bolsonaro para presidente e conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa Paulista com invejáveis 1.064.047 votos, ficando atrás apenas de Eduardo Bolsonaro, que obteve 1.814,443 votos.

Passemos ao texto de Guzzo:

Durante as próximas três semanas você vai ler, ver e ouvir um oceano de explicações perfeitas sobre o que aconteceu nas eleições deste domingo – e em todas elas, naturalmente, os cérebros da análise política nacional dirão ao público o quanto acertaram nos seus pronunciamentos durante a campanha eleitoral, embora tenha acontecido em geral o contrário de quase tudo que disseram. A mesma cantoria, com alguns retoques, deve ser feita daqui para frente para lhe instruir em relação ao desfecho do segundo turno, no próximo dia 28 de outubro. Em favor da economia de tempo, assim, pode ser útil anotar algumas realidades básicas que o primeiro turno deixou demonstradas.

1 – A grande força política que existe no Brasil de hoje se chama antipetismo. É isso que deu ao primeiro colocado, Jair Bolsonaro, 18 milhões de votos a mais que o total obtido pelo “poste” do ex-presidente Lula. Esqueça a “onda conservadora”, o avanço do “fascismo”, as ameaças de “retrocesso” – bem como toda essa discussão sobre homofobia, racismo, machismo, defesa da ditadura e mais do mesmo. Esqueça, obviamente, a força do PSL, que é nenhuma, ou o esquema político do candidato, que não existe. O que há na vida real é uma rejeição tamanho gigante contra Lula e tudo o que cheira a Lula. Quem melhor soube representar essa repulsa foi Bolsonaro. Por isso, e só por isso, ficou com o primeiro lugar.

2 – O PT, como já havia acontecido nas eleições municipais de 2016, foi triturado pela massa dos eleitores brasileiros. Seu candidato a presidente não conseguiu mais que um quarto dos votos. Os candidatos do partido a governador nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul tiveram votações ridículas. Todos os seus candidatos “ícone” ao Senado, como Dilma Rousseff em Minas Gerais, Eduardo Suplicy em São Paulo e Lindbergh Farias no Rio de Janeiro foram transformados em paçoca, deixando o PT sem um único senador nos três maiores colégios eleitorais do Brasil. Mais uma vez, o partido só tem a festejar a votação no Nordeste – e mais uma vez, ali, aparece aliado com tudo que existe de mais atrasado na política brasileira.

3 – A força política de Lula, que continua sendo descrito como um gênio incomparável no “jogo do poder”, é do exato tamanho dos resultados obtidos nas urnas pelo seu “poste”. As mais extraordinárias profecias vêm sendo repetidas, há meses, sobre a sua capacidade de “transferir votos” e a sua inteligência praticamente sobre-humana em tudo o que se refere à política. Encerrada a apuração, Lula continua exatamente onde estava – trancado num xadrez em Curitiba e com muito cartaz do “New York Times”, mas sem força para mandar em nada.

4 – Os institutos de “pesquisa de intenção de voto”, mais uma vez, fizeram previsões calamitosamente erradas. Dilma, segundo garantiam, ia ser a “senadora mais votada do Brasil”. Ficou num quarto lugar humilhante. Suplicy, uma espécie de Tiririca-2 de São Paulo, também era dado como “eleito”. Foi varrido do mapa. Os primeiros colocados para governador de Minas e Rio de Janeiro foram ignorados pelas pesquisas praticamente até a véspera da eleição. Tinham 1% dos votos, ou coisa que o valha. Deu no que deu.

5 – O tempo de televisão e rádio no horário eleitoral obrigatório, sempre tido como uma vantagem monumental — e sempre vendido a peso de ouro pelas gangues partidárias — está valendo zero em termos nacionais. Geraldo Alckmin tinha o maior espaço nos meios eletrônicos. Acabou com menos de 5% dos votos. Bolsonaro não tinha nem 1 minuto. Foi o primeiro colocado. Parece não valer mais nada, igualmente, a propaganda fabricada por gênios do “marketing eleitoral” da modalidade Duda Mendonça-João Santana – caríssima, paga com dinheiro roubado e criada numa usina central de produção. A votação de Bolsonaro foi construída nas redes sociais, sem comando único e sem verbas milionárias.

Daqui até 28 de outubro o público será apresentado a outras previsões, teoremas e choques de sabedoria. É bom não perder de vista o que acaba de acontecer antes de acreditar no que lhe anunciam para o futuro.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

MINISTRO LUIZ ROBERTO BARROSO, SOBRE O STF, E AS ELEIÇÕES ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA



Precisa dizer mais alguma coisa?

Precisa, sim. Vamos lá.

Em 1989, votei no caçador de marajás de araque porque a alternativa era o PT. Pela mesma razão, votei em FHC, Alckmin, Serra e Aécio. Portanto, não será com meu voto que o criminoso de Garanhuns retornará ao poder, seja fantasiado de Andrade, Raddard ou Luladdad. Mas não vai ser fácil engolir o deputado capitão...

Sempre me considerei apolítico e apartidário. De uns tempos para cá, me tornei mais apartidário do que apolítico, mas uma coisa é certa: em momento algum desta vida tive tanto nojo da política e dos políticos quanto agora.

Como o maior castigo para quem não se interessa por política é ser governado por quem se interessa, não dá para a gente simplesmente ficar na janela vendo a banda passar. Mas o fato é que não está fácil sair da sinuca de bico — a situação é surreal; nem um roteirista de tramas improváveis faria melhor. Basta ver quem são os 13 postulantes à presidência que restaram dos mais de 20 pré-candidatos iniciais e os que têm chances reais de passar para o segundo turno.

Diversos analistas e cientistas políticos de botequim apontam semelhanças entre as próximas eleições e as de 1989, a começar pela pluralidade e péssima qualidade dos candidatos — dos 22 postulantes de então, cito Collor (por motivos óbvios), Lula (idem), Leonel Brizola, Mario Covas, Paulo Maluf e Ulysses Guimarães. Hoje, quem mais mais chama a atenção são, pelo PT, o presidiário de Curitiba — espécie de “egun mal despachado” que “incorporou” em certo ex-prefeito petista, medíocre e sem amor-próprio (se tivesse, não se sujeitaria a esse papel de fantoche) — e pelo PSL, o dublê de deputado e capitão reformado que se posiciona na extremidade oposta do espectro político-partidário. 

Também merecem menção o arremedo de cangaceiro nascido em Pindamonhangaba (SP), o tão insípido quanto insistente picolé de chuchu e a sonhática abilolada que ressurge das cinzas a cada quatro anos. Entre os candidatos menos expressivos, mas nem por isso menos curiosos, vale citar aberrações como o misto de bombeiro, deputado e fanático religioso do Patriotas, o exótico representante dos “sem-teto” pelo PSOL e a lunática do PSTU — cuja biografia e projeto de governo você não pode deixar de conhecer.  

Igualmente curioso é o fato de tanto Sarney quanto Temer serem vices promovidos a titulares — o primeiro com a morte de Tancredo e o segundo com o impedimento de Dilma — e disputarem focinho a focinho o galardão de presidente mais rejeitado desde a democratização. Vale também destacar que os índices de desgaste, fragmentação e rejeição à política e aos políticos em 1989 eram parecidos com os de hoje, e que ambas as eleições tiveram, durante algum tempo, um animador de programa de auditório como candidato (Sílvio Santos em 1989 e Luciano Huck em 2018). Outra coincidência: tanto Collor em 1989 quanto Bolsonaro em 2018 tiveram suas candidaturas registradas por partidos nanicos (PRN e PSL, respectivamente).

Durante as eleições de 1989, o Brasil enfrentava uma hiperinflação galopante, herdada da ditadura militar, além de amargar uma dívida externa explosiva. A situação atual não é tão dramática, mas é outro ponto que possibilita a comparação: a saída da recessão está lenta, a inflação só não sobe devido à baixa demanda e o desemprego aflige 13 milhões de trabalhadores. Por outro lado, em 1989 o Brasil emergia de uma ditadura que durou duas décadas e comemorava a promulgação da Constituição “cidadã” — que na verdade era e continua sendo uma quimera, mas isso é conversa para uma próxima postagem. As “Diretas-já” foram as precursoras das manifestações de rua que ressurgiram em 2013 e, mais adiante, ajudaram a penabundar a calamidade em forma de gente com que Lula (sempre ele!) nos empalou em 2010 — e que mais de 50 milhões de otários reelegeram em 2014.

Para encurtar a conversa: “uma eleição com muitos candidatos, em meio a uma grave crise econômica e prenhe de descrença na política” define tanto o pleito de 1989 quanto o deste ano. Ressalte-se que o paradigma do passado envolveu apenas a disputa pela presidência, ao passo que no próximo dia 7 os eleitores escolherão também dois senadores, um deputado federal, um governador e um deputado estadual (como se vê, desgraça pouca é bobagem). Isso não só confunde ainda mais o já pouco esclarecido eleitorado tupiniquim como propicia a interferência de alianças estaduais na escolha do chefe do Executivo.

Tudo somado, subtraído, em 1989 deu Collor. Em 2018... Saberemos no próximo dia 28.

P. S. Na noite do último domingo, a exemplo do que fizeram antes dela cinco outras emissoras, a Record promoveu um debate entre presidenciáveis que contou com a presença de Álvaro Dias, Cabo Daciolo, Ciro Gomes, Fernando Luladdad, Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos, Henrique Meirelles e Marina Silva. O atual líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro, teve alta hospitalar na véspera, mas sua saúde inspira cuidados e ele declinou do convite. Mesmo não sendo de corpo presente, a missa rezada pelos adversários do Capitão Caverna foi massacrante (detalhes nesta matéria). A merda respingou também em Luladdad, embora com menor intensidade (rima não intencional). Que Deus nos ajude.

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terça-feira, 1 de janeiro de 2019

ANO NOVO, PRESIDENTE NOVO



Como será o amanhã? Responda quem souber. Como ficará a nação sob a nova direção, isso só o tempo dirá.

Chegamos onde chegamos porque nosso “esclarecidíssimo eleitorado” dispensou impiedosamente os candidatos que representavam um ponto de equilíbrio e levou ao segundo turno os dois extremos do espectro político partidário — de um lado, um boneco de ventríloquo de um criminoso condenado, preso e sedento de vingança; do outro, um capitão do exército reformado, antipetista e antiesquerdista, tido como machista, truculento, homofóbico e saudosista da ditadura militar. Quem semeia ventos colhe tempestades, diz um velho ditado. Mas quando as alterativas são o desastre anunciado e um caminho para o desconhecido, o jeito é optar pela segunda — daí Bolsonaro ter derrotado Luladdad por uma vantagem de quase 11 milhões de votos.

Observação: Como salientou Roberto Pompeu de Toledo na edição impressa da revista Veja da semana passada, a Venezuela foi um dos fantasmas acionados contra o PT na campanha. E com razão: o partido de Lula entrincheirou-se na solidariedade para com o regime dito bolivariano, num estratagema de deliberada cegueira diante do desastre político, econômico e social ali em curso. Some-se a isso a falta de autocrítica aos desatinos da política econômica de Dilma e estava servido, farto e saboroso, o prato com que os adversários alimentaram o prognóstico de que, com a vitória do PT, o Brasil se tornaria uma nova Venezuela.

Ano novo, presidente novo, segue dividido o povo, tendo a raiva como combustível da polarização onde “os de direita” apoiam incondicionalmente o “mito”, e a patuleia, má perdedora, promete ampla, geral, irrestrita, intransigente, arrogante e exclusivista oposição — sobretudo o bando petista, que se enxerga como o único e legítimo dono da chave da história. Aliás, o PT informou que nenhum dos seus parlamentares participará da cerimônia de posse de Bolsonaro, no que foi prontamente seguido pelo PSOL (para mais detalhes, clique aqui).

A camarilha de Lula diz que “reconhece o resultado das eleições, mas defende que elas foram marcadas por falta de lisura por ter sido descaracterizada pelo golpe do impeachment, pela proibição ilegal da candidatura do ex-presidente Lula e pela manipulação criminosa das redes sociais para difundir mentiras contra o candidato Fernando Haddad". Já a caterva do candidato derrotado Guilherme Boulos, eterno líder MTST, classificou a efeméride como “um momento de festa em que, para o partido, não há nada a comemorar”.

O boicote, vindo de quem vem, não chega a surpreender. Aliás, dizer que o governo que ora se inicia tem como princípios o ódio, o preconceito, a intolerância e a violência é esquecer — de maneira muito conveniente e com toda a má intenção — que foi Lula quem, de sua primeira candidatura presidencial, em 1989, ao discurso que fez antes de ser levado para a prisão, em abril do ano passado, repisou sempre a retórica do “nós contra eles”, onde “nós seria o povo, que o PT e seu líder representariam, e “eles”, as elite econômicas interessadas apenas em manter seus privilégios.

Observação: O embate às vezes duro entre visões divergentes faz parte da vida democrática. Num debate polarizado, porém, cada um dos lados, convicto do acerto absoluto de suas ideias extremas, deseja não só a derrota, mas a aniquilação dos opositores, a quem vê como inimigos. 

Claro que houve polarização política em outras épocas — como em 1964, com as “marchas da família com Deus pela liberdade” contra o governo João Goulart, ou em 1968, com a Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar, e por aí vai —, mas jamais com a magnitude da que teve início em 2013 a pretexto do reajuste de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e acabou promovendo uma substancial mudança de padrão da condução de seus conflitos políticos e resultando no (até então improvável) impeachment da gerenta incompetenta que por pouco não levou o país à bancarrota. De lá para cá, o maniqueísmo político cresceu exponencialmente e explodiu durante a campanha pela sucessão presidencial de 2018, que, em paralelo ao duelo entre Bolsonaro e Luladdad, magnificou o confronto entre petismo e antipetismo. O PT, que até então dominava o jogo da vilanização do adversário, perdeu o rumo; sustentando até o limite a ficção de que Lula era perseguido pelas elites, o partido da estrela apagada insistiu em sua candidatura, mesmo estando ele preso, e quando afinal o "plano B" foi acionado, a transferência de votos impulsionou a candidatura do fantoche, mas não o suficiente para derrotar "o mito". Resta saber se a jararaca — como Lula apelidou a si mesmo — desta vez foi ferida de morte ou se ainda terá forças para reconstituir-se num mito à altura do argentino Juan Domingo Perón, envolto num misto de saudade do passado e miragem de um futuro idílico.

Como dito, conflitos são inerentes à democracia, e a polarização, que é o enrijecimento das posições e seu aquartelamento em duas facções, sem muita coisa de relevante no meio, pode ser tolerável enquanto regulada por instituições fortes. É o que ocorre nos Estados Unidos. Por mais que Trump se rebele contra a imprensa e chame de fake news as notícias que lhe desagradem, não se concebe que vá fechar o The New York Times. É o que não ocorre na Venezuela, onde Nicolás Maduro fecha estações de TV inoportunas — sob aplausos entusiásticos do bando vermelho tupiniquim, nunca é demais lembrar. Ao fim e ao cabo, a polarização brasileira será julgada por seu desfecho, se desfecho houver. Se não houver, é porque foi contida nos quadros institucionais e seu andamento se dará na cadência desse benfazejo produto da ordem democrática que é a alternância no poder.

Voltando ao cenário local, há que dedicar mais algumas linhas ao “imbróglio Queiroz”. As “movimentações financeiras atípicas” e mal explicadas que o COAF identificou na conta do ex-assessor e motorista do então deputado e ora senador eleito Flávio Bolsonaro não implica diretamente o presidente, mas pegaram muito mal para quem baseou sua campanha no combate à corrupção. E uma parcela substancial da mídia tem feito o possível e o impossível para manter esse assunto em destaque.

Não é preciso ter olfato de perdigueiro para farejar a prática de pedágio no gabinete do “01” (como Bolsonaro se refere ao filho mais velho). Engordar os próprios salários garfando parte da remuneração dos assessores sempre foi tão comum entre parlamentares quanto o uso da gravata, e o número absurdo de funcionários que podem ser contratado a expensas do contribuinte assanha o apetite pantagruélico dessa corja: na Câmara Federal, cada gabinete pode ter entre 5 e 25 servidores comissionados, com salários que variam de aproximadamente R$ 1 mil a R$ 15 mil; no Senado, o número de funcionários dobra e a remuneração vai de R$ 4 mil a R$ 17 mil. Nada disso justifica ou isenta de culpa os envolvidos, naturalmente. Por outro lado, Lula foi poupado das investigações sobre o Mensalão e reeleito quando a roubalheira já era pública e notória, além de ter emplacado uma ilustre desconhecida e rematada incompetente como sucessora em 2010 e mantê-la no posto 2014, quando a Lava-Jato já estava em curso e os primeiros prenúncios do Petrolão já surgiam no horizonte. Não sei o leitor há de concordar, mas eu acho que toda essa indignação fede mais do que o caso em si.

Bolsonaro deu uma explicação plausível para os depósitos na conta de sua esposa, e o general Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, disse que o caso “não é uma questão de governo”. Não obstante, o misterioso desaparecimento ex-assessor, motorista e amigo há décadas do clã Bolsonaro deu à oposição farta munição para disparar contra a credibilidade de um presidente que ainda nem começou a governar. Além disso, mesmo tendo reaparecido, depois de faltar a duas oitivas convocadas pelo Ministério Público (detalhes nesta postagem), Queiroz não explicou por que funcionários do gabinete de Flavio Bolsonaro depositavam dinheiro em sua conta todo início de mês, embora tenha afirmado que nunca foi laranja, que as transações de compra e venda de carros explicam as movimentações em sua conta e que complicações decorrentes de um câncer no intestino impediram-no de depor quanto foi convocado. “Eu sou um cara de negócios. Faço dinheiro. Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim. Gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia…”, disse Queiroz, cuja renda mensal, segundo ele, gira em torno de 23 mil reais (clique aqui para conferir a íntegra da entrevista concedida ao SBT).

Para encerrar, volto rapidamente à ex-presidanta incompetenta, não para detalhar as barbaridades que ela gestou e pariu durante os 5 anos, 4 meses e 12 dias em que desgovernou esta Banânia, mas apenas para relembrar que, a pretexto de combater a ditadura, Dilma participou de três organizações terroristas (Colina, VAR-Palmares e VPR), e seus “camaradas” — alguns saudados por ela em discursos de campanha, praticaram toda sorte de crimes, aí incluídos assaltos a banco, sequestros e assassinatos, e não para resistir à ditadura, mas sim para fazer a “luta revolucionária” e instaurar a ditadura do proletariado, como lembrou o jornalista Reinaldo Azevedo nesta postagem

Para bom entendedor...      

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

FALTANDO 17 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO, COMEÇAM AS NEGOCIATAS PELO APOIO DOS DERROTADOS.


Conforme eu disse na postagem anterior, nos próximos dias os holofotes estarão focados nas negociações de apoio dos partidos cujos candidatos a presidente foram expurgados no último domingo. Assim, a matéria que eu pretendo publicar sobre nossa “Constituição Cidadã” vai ficar para outra hora. Adianto apenas que convocar uma constituinte no ano que vem, sob Bolsonaro ou (deus nos livre) Luladdad, com esse Congresso que temos seria um desastre. Felizmente, ambos os candidatos parecem ter abandonado essa ideia.

Voltando à vaca fria: a temporada de caça ao apoio foi aberta logo após o encerramento do primeiro turno. Resta saber para que lado as legendas derrotadas vão correr. O PTB declarou apoio a Bolsonaro, a exemplo de João Dória e do PSDB de São Paulo (no resto do país, porém, será cada um por si). 

Em nota assinada por Ciro Nogueira, o PP declarou neutralidade, mas reiterou que a segurança pública precisa ser elevada ao topo das prioridades do país. A sigla é uma das mais fortes do Centrão: elegeu 37 deputados, mais que o PSDB (29) e cinco senadores. A senadora Ana Amélia, que foi vice na chapa de Alckmin, decidiu dar apoio pessoal a Bolsonaro.

Quarto colocado nas pesquisas, o Cabo Daciolo ainda não se manifestou — deve ter subido o morro para orar —, mas o presidente do Patriota, Adilson Barroso, adiantou que o apoio da legenda deve ir para Bolsonaro (não por afinidade de ideias e projetos, mas por simples exclusão). A executiva do PSC seguiu pelo mesmo caminho, menos em prol da vitória do Capitão Gancho e mais porque apoiá-lo deve refletir positivamente nas campanhas de Wilson Witzel e Wilson Lima, que disputam o governo no Rio e no Amazonas, respectivamente.

Guilherme Boulos, que obteve 0,58% do total de votos válidos, foi o primeiro a declarar apoio a Luladdad — o que não chega a surpreender, em se tratando do líder dos sem-teto. Pelo Twitter, ele disse que o PSOL estará nas ruas para derrotar o fascismo e eleger quem representa a democracia no segundo turno. O cangaceiro de araque também deve apoiar o fantoche de Lula, embora com reservas — Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, afirmou que será um “apoio crítico”, e que Ciro fará oposição ao próximo governo, independentemente de quem se eleger presidente. O PSTU, da estapafúrdia Vera Lúcia — que obteve 0,05% dos votos válidos —, também declarou apoio ao petista, a exemplo do que fizeram o PPL, o Pros, o PSB e, claro, o PCdoB.

O partido Novo, de João Amoedo, informou que não deve apoiar nenhum dos dois presidenciáveis, mas destacou que é absolutamente contrário ao PT — alguns nomes do partido já se manifestaram individualmente, como Romeu Zema Neto, que chegou ao segundo turno em Minas Gerais e está com Bolsonaro.  Marina Silva, da Rede, disse não se identificar nem com Haddad nem com Bolsonaro, e que deixa nas mãos do partido a definição, mas fará oposição ao novo governo, independentemente de quem for eleito. 

Henrique Meirelles, que injetou R$ 20 milhões do próprio bolso na campanha e ficou em sexto lugar, também não deve apoiar ninguém, embora o MDB ainda não tenha se definido. Já Álvaro Dias, do Podemos, disse que vai se licenciar do Senado e que, no seu caso, o silêncio é a melhor alternativa para esse momento — a um interlocutor, ele afirmou ainda que o voto nulo é uma opção aceitável, pois “não deseja se responsabilizar pelo desastre”. O PPS não deve apoiar nem Haddad nem Bolsonaro. O presidente do DEM, ACM Neto, vai se reunir com lideranças do partido para definir. O PR liberou seus integrantes, segundo o líder do partido na Câmara, José Rocha.

Por último, mas não menos importante: Uma declaração de Bolsonaro sobre a reforma da Previdência — segundo o candidato, é preciso fazer uma reforma, mas não nos moldes da que foi proposta pelo atual governo — desagradou o mercado financeiro. Resultado: o índice Bovespa despencou mais de 2 pontos e o dólar voltou a subir. Isso é apenas uma prévia de como serão os próximos 17 dias. Ah, a propaganda eleitoral obrigatória recomeça no feriado desta sexta-feira. Que Deus nos ajude a todos.

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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

FALTAM 16 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — QUE DEUS NOS AJUDE!



Na primeira pesquisa do Datafolha sobre as intenções de voto no segundo turno do pleito presidencial, Bolsonaro superou o fantoche lulista por 16 pontos percentuais (58% a 42% dos votos válidos). Claro que faltam duas semanas para o escrutínio, que no Brasil até o passado é imprevisível, que a abominável propaganda política obrigatória recomeça hoje e que os institutos de pesquisa são como biquínis: mostram tudo, menos o que realmente interessa. E às vezes erram escandalosamente: na noite de sexta-feira, 6, o UOL publicou: A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) mantém a liderança na disputa para o Senado em Minas Gerais com a maior porcentagem de intenção de votos válidos, apontam as pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas neste sábado (6)...

Observação: A eleição da anta vermelha era prioridade para o PT, que investiu mais de R$ 4 milhões em sua campanha. Mesmo assim, a ex-grande-chefa-toura-sentada-penabundada amargou um inexpressivo quarto lugar, com cerca de 15% dos votos válidos. A título de comparação, a advogada Janaína Pascoal, uma das signatárias do pedido de impeachment que defenestrou a calamidade do Planalto, elegeu-se deputada estadual com mais de 2 milhões de votos, embora sua campanha tenha custado módicos R$ 44 mil.

O próximo debate entre os presidenciáveis na TV, que seria realizado pela Rede Bandeirantes nesta sexta-feira, foi adiado sine die porque, além de não liberarem a participação de Bolsonaro, os médicos do Hospital Albert Einstein desaconselharam-no a realizar qualquer ato de campanha na rua até o próximo dia 18, quando seu estado de saúde será reavaliado. Assim, armar o circo unicamente para o títere do presidiário de Curitiba não caracterizaria um debate, mas uma entrevista individual, o que foge aos propósitos do programa e contraria o disposto pela legislação eleitoral.

Capitão Caverna não é o primeiro candidato a presidente a faltar em debates televisivos — em 1989, Collor não foi a nenhum dos seis que foram realizado no primeiro turno —, mas é o único, pelo menos até agora, a faltar também no segundo turno.

Observação: Em 1994, FHC faltou a dois dos três debates, mas ganhou no primeiro turno. Em 1998, ele foi reeleito, também no primeiro turno sem participar de nenhum debate na TV. Na Era PT, o molusco abjeto participou de todos os debates em 2002, mas em 2006 só debateu com Alckmin no segundo turno. Dilma faltou a dois debates no primeiro turno em 2010, mas compareceu a todos em 2014.

Falando no PT, a campanha do poste ora travestido de “socialdemocrata” abandonou o vermelho e a imagem do presidiário de Curitiba, desistiu (ou disse que desistiu) de reescrever a Constituição e desmentiu que José Dirceu — que está solto devido a mais uma decisão estapafúrdia da ala garantista do STF — teria espaço no seu governo (nem é preciso dizer que o objetivo dessa palhaçada é ganhar a simpatia de um eleitorado mais ao centro, que tenciona votar em branco, anular o voto ou se abster de ir às urnas no próximo dia 28).

Mesmo não sendo o candidato dos nossos sonhos, Bolsonaro é a única alternativa ao retrocesso representado pela volta da antiga matriz populista, responsável por mazelas como desemprego, inflação e total desajuste das contas públicas. Ainda que eu não concorde 100% com o que ele diz, sou 1000% contrário a volta do PT. Quando mais não seja porque me lembro perfeitamente de Dilma, que durante a campanha à reeleição, em 2014, ludibriou boa parte do eleitorado mediante o maior estelionato eleitoral da história deste país. E o resultado foi catastrófico.

O ex-governador baiano Jaques Wagner, que não aceitou o convite para substituir o demiurgo de Garanhuns na disputa presidencial (ele era primeiro plano B do PT, mas preferiu concorrer a uma cadeira no Senado a se sujeitar ao papel de marionete), passa agora a integrar a coordenação do comitê de Luladdad. Segundo o político baiano, o slogan “Haddad é Lula” já deu o que tinha que dar. “…Agora as pessoas querem saber mais da personalidade do próprio candidato. Então, é essa tarefa que a gente tem agora.”

Para que a “frente democrática” do PT tivesse alguma chance de vingar, o partido teria de fazer um mea-culpa pelo mensalão e o petrolão, mas o que tem feito é dizer que a recessão e o desemprego não advieram da funesta gestão da gerentona de araque, e sim de sabotagens dos tucanos, que se uniram a Eduardo Cunha para implodir a gestão da estocadora de vento. Na condição de vassalo, esbirro ou bobo-da-corte, o títere lulista se nega a ver seu mentor como um corrupto condenado em segunda instância, preferindo classificá-lo como um inocente perseguido pela Procuradoria e pelo Judiciário. A essa altura, pondera Josias de Souza em seu Blog, Bolsonaro já deve ter acendido uma vela pelo sucesso do plano do PT de trocar o “nós contra eles” pelo “todos contra ele”.

Para encerrar: O autodeclarado preposto do Criador na disputa presidencial tupiniquim, que afirma ter sido informado pelo Todo-poderoso em pessoa que seria eleito presidente no primeiro turno, ficou em sexto lugar (por incrível que pareça, Daciolo teve mais votos que Meirelles e Marina), e agora não só o resultado como reivindica o cancelamento das eleições e exige cédulas de papel, pois Deus escreve certo por linhas tortas. Tomara que os ministros do TSE concluam que a urna eletrônica é um porta-voz mais confiável de Deus do que o manequim de camisa-de-força que atende por Cabo Daciolo.

Bom dia de Nossa Senhora Aparecida a todos e um ótimo feriadão.

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terça-feira, 16 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTAM 12 DIAS




Quem acompanha minhas despretensiosas postagens sabe o que eu penso sobre as pesquisas de intenção de voto. Aliás, estatísticas devem ser tratadas com muito cuidado — basta lembrar a história dos cientistas que colocaram um sujeito com a cabeça no freezer e os pés no forno e não entendiam por que ele berrava tanto, já que, na média, deveria se sentir confortável.

Acho difícil acreditar que a opinião de 2.000 entrevistados em cento e poucos municípios traduz o que pensam mais de 140 milhões de eleitores em quase 5.600 cidades brasileiras. A propósito, basta relembrar a eleição de Doria no primeiro turno do pleito de 2016 e do retumbante fiasco de Dilma no da semana passada — embora fosse tida e havida como favorita por todos os institutos de pesquisa, a anta vermelha não chegou nem perto de se eleger.

Dias atrás, um novo levantamento feito pelo Datafolha apurou que Bolsonaro está 16 pontos percentuais à frente de Luladdad na contagem de votos válidos (58% a 42%). Para superar o capitão, o dublê de fantoche e alter ego do presidiário de Curitiba precisaria conquistar todos os votos nulos, em branco ou de indecisos.

A pesquisa FSB/BTG Pactual, cujos resultados foram divulgados nesta segunda-feira, diz que o candidato do PSL está 18 pontos percentuais à frente do  petista nas intenções de voto, e que sua rejeição é de 38%, enquanto a do adversário chega a 53%. Já os números publicados pelo Instituto Paraná Pesquisas — também nesta segunda-feira — dão conta de que Bolsonaro tem 59,1% das intenções de voto, contra 25,5% de Haddad (mais detalhes na figura abaixo).


Por essas e outras — mais um gripe que ninguém merece —, vou ficando por aqui, não sem antes relembrar que não concordo 100% com tudo que Bolsonaro diz, mas sou 1.000% contrário à volta do PT ao poder.

Falando no diabo, digo, nos petistas, vale a pena assistir ao vídeo abaixo até o final. São cerca de quatro minutos, mas que valem cada segundo:

   

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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTAM 11 DIAS...



A oportunidade de escolher um candidato “mais ao centro do espectro político-partidário” se perdeu no último dia 7. Agora não adianta chorar. Resta-nos o Capitão Caverna ou o fantoche do presidiário de Curitiba — o pior dos cenários, sem dúvida, mas previsível à luz da crescente polarização do eleitorado.

Não sei o que esperar de Bolsonaro na presidência, mas sei como foi ter o PT no poder. No mais das vezes, é melhor ficarmos com o diabo que conhecemos, mas toda regra tem exceção, e a eleição do próximo dia 28 me parece ser uma situação excepcional.

A pouco mais de uma semana do segundo turno, todas as pesquisas indicam a vitória de Bolsonaro por uma vantagem considerável, embora ele seja o candidato dos sonhos somente para os bolsomínions — mais ou menos como Lula em relação aos sectários do lulopetismo. Isso significa que seu favoritismo se deve a um repúdio maciço ao PT, ou por outra, ao medo de o demiurgo de Garanhuns voltar ao poder, ainda que encarnado no fantoche que se empenha mais a cada dia em desconstruir sua própria imagem para se travestir no mestre e conquistar a simpatia da patuleia.

A pesquisa mais recente do Ibope não só reafirmou o favoritismo do capitão como também o declínio de sua rejeição, que às vésperas do primeiro turno era de 43% e agora caiu para 35%. Já o repúdio a Haddad cresceu de 36% para 47%, superando o do adversário pela primeira vez desde o início da campanha.

Sondados pelo staff petista, Joaquim Barbosa e Fernando Henrique não demonstraram grande entusiasmo em apoiar Luladdad. Jaques Wagner — que era o primeiro da lista no “plano B” do PT, mas preferiu (sabiamente) disputar uma vaga no Senado — chegou mesmo a reconhecer que o partido deveria ter desistido da candidatura própria e apoiado Ciro Gomes. Aliás, Lula atuou nos bastidores para minar as chances de Ciro chegar ao segundo turno, e agora está colhendo o que plantou: o cangaceiro de araque (Ciro é paulista de Pindamonhangaba) viajou para a Europa e seu irmão Cid, durante um ato de campanha petista no Ceará, disse à patuleia que o PT deveria ter pedido desculpas pelas “besteiras que fizeram”, por “aparelharem as repartições públicas” e por “acharem que eram os donos de um país que não aceita ter dono”. O circo pegou fogo, como se pode conferir no vídeo que eu inseri na postagem anterior (são cerca de 4 minutos, mas que valem cada segundo).

Observação: Para não perder a liderança da esquerda, o presidiário de Curitiba barrou de todas as maneiras a aliança com o PDT, inclusive ameaçando o PSB de lançar candidato em Pernambuco se o partido apoiasse Ciro. Agora, quando tudo indica que Inês é morta, surgem dentro do próprio PT sugestões de lançar a candidatura de Ciro em 2022.

A pouco mais de uma semana do segundo turno, combater Bolsonaro com um discurso genérico sobre valores e democracia, direcionado a um eleitorado eminentemente antipetista, me parece perda de tempo. Mesmo que atraísse para si todos os votos brancos e nulos, o fantoche de Lula não conseguiria vencer o adversário, e roubar seus eleitores é uma missão quase impossível, pois quem vota no capitão não vota no PT. Além disso, a ideia de formar uma aliança pluripartidária “a favor da democracia” não só não deu certo como foi desmentida (ou talvez por não ter dado certo é que foi desmentida) pelo próprio Jaques Wagner.

Bolsonaro tenta se mostrar menos radical e vem evitando os debates (que decididamente não são a sua praia). Pode ser uma boa estratégia: com ou sem debates, os que votaram nele não mudarão seu seu votos, assim como os seguidores da seita do inferno também não o farão. Se o candidato do PSL conseguir controlar seus verdadeiros adversários — que são ele próprio, seu vice e seu staff, que nem sempre cantam em coro e não raro cometem erros primários em seus pronunciamentos —, sua vitória está praticamente assegurada.

Observação: Bolsonaro deve passar por nova avaliação médica nesta quinta-feira, 18, quando será liberado (ou não) para participar de debates televisivos. Desde que teve alta, ele gravou transmissões ao vivo quase que diárias nas redes sociais, deu entrevistas a rádios e emissoras de TV e participou de alguns atos públicos, mas não dos debates programados pela Band, Gazeta e Rede TV. E o mesmo deve ocorrer no do SBT, que estava previsto para esta quarta-feira. E ainda que seja liberado pelos médicos, ele pode não participar dos debates da Record e da Globo, programados respectivamente para os próximos dias 21 e 26. Segundo o UOL, o capitão só irá aos debates “se achar que deve; se achar que não, não vai participar”. A Band remarcou seu para a próxima sexta-feira, “a depender da decisão que os médicos tomarão na quinta e que o próprio Bolsonaro tomará na sequência”, segundo o jornalista Ricardo Boechat, escalado para mediar o debate.

Os próximos anos não serão fáceis, independentemente de quem for o presidente da vez, pois sua popularidade irá evaporar tanto se ele se empenhar nas reformas necessárias ao combate do desequilíbrio fiscal quanto se não as levar adiante. Todavia, considerando os presidenciáveis que disputarão o segundo turno, o Brasil sairá do pleito mais dividido do que nunca. 

Com bem salientou Mario Vitor Rodrigues na Gazeta do Povo, “se somarmos à inabilidade política do grupo que tende a assumir o poder o seu voluntarismo para ferir estruturas básicas no senso comum e o fato de que não há função mais talhada para a esquerda do que jogar pedra na vidraça, talvez o bolsonarismo encontre a sua verdadeira vocação em poucos anos, qual seja reavivar uma esquerda que tinha tudo para passar um bom tempo no ostracismo, não fosse ela convidada para uma festa em que sempre soube muito bem como se comportar”.

Para relembrar, veja como age o candidato que se diz pronto para debater com quem for e em qualquer lugar:


E para encerrar, uma foto que traduz com rara sensibilidade como a maioria de nós se sente em relação ao cenário político:


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terça-feira, 15 de setembro de 2020

FHC E A REELEIÇÃO

 

First things first, dizem os gringos, numa alusão a prioridades. Assim, antes de passar ao assunto do dia, relembro ter criticado enfaticamente a maneira espetaculosa e irresponsável com que a mídia noticiou, na última terça-feira (8), a suspensão dos testes da vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford (detalhes nesta postagem).

Salvo raríssimas e honrosas exceções, âncoras de telejornais, comentaristas e palpiteiros de plantão trataram o assunto como se fosse o sepultamento das esperanças de sucesso na eficácia da droga contra a Covid-19. Os poucos que tiveram a decência de esclarecer que a suspensão de testes de medicamentos não é incomum, que a paralisação não representava necessariamente um retrocesso e que nenhum dos 5 mil voluntários que se submeteram aos testes no Brasil havia apresentado qualquer reação adversa fizeram-no como que por mero dever de ofício, sem dar o devido destaque — afinal, boas notícias não vendem jornal. Felizmente, minha previsão se confirmou: fez-se carnaval em copo d’água. 

No último sábado (12), a AstraZeneca anunciou os testes seriam retomados nesta segunda-feira (14), depois de aprovação dada pela Anvisa.  A Universidade de Oxford também anunciou a retomada das aplicações de sua vacina na fase 3 de testes no Reino Unido. após uma revisão independente, feita por um comitê internacional, ter concluído que a "reação adversa apresentada pelo paciente" não teria necessariamente relação com a vacina. Dito isso, vamos adiante.

Diz um velho ditado que o mundo dá muitas voltas; outro, que palavra de rei não volta atrás. Isso não significa que sua majestade não possa mudar de ideia: de acordo com outra pérola da sabedoria popular, pedra que rola não cria limo. O que nos leva ao ex-presidente Fernando Henrique.

Durante o primeiro mandato do pomposo tucano, após uma série de articulações iniciadas em 1995, o "rolo compressor governista" comprovou sua força. Uma PEC aprovada na Câmara por 369 votos a 11 estendeu a reeleição — apenas uma vez para um mandato subsequente e sem restrição para um pleito não consecutivo — a chefes dos Executivos Federal, Estaduais e Municipais (e respectivos vices). Dias após a aprovação da proposta, a Folha revelou que pelo menos quatro deputados haviam recebido R$ 200 mil (cada) em troca do voto favorável à emenda.

A oposição pediu a abertura de uma CPI, mas Michel Temer, na época presidente da Câmara, e outros nomes influentes se mobilizaram para barrar a investigação, e o então “engavetador-geral” Geraldo Brindeiro não deu andamento às denúncias. Assim, em 13 de maio de 1997  a PEC foi chancelada pelo Senado. E como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte, o grão-tucano se beneficiou dela no pleito de 1998, quando, a exemplo do que fizera quatro anos antes, derrotou o criminoso de Garanhuns já no primeiro turno.

Passando de FHC a Jair Messias Bolsonaro, entre inúmeras promessas de palanque que enfiou em local incerto e não sabido depois de derrotar Luladdad, o presidente de turno desistiu de propor ao Congresso o fim da reeleição — instituto que, segundo ele, “acabava se tornando uma espécie de desgraça, pois só era possível mediante “acordos espúrios que levavam a escândalos de corrupção”.

Nem bem vestiu a faixa, nosso morubixaba mudou o discurso. Alegando que "vinha sendo pressionado", seria candidato (se é para o bem de todos e felicidade geral da nação...), mas condicionou sua disputa à reeleição à aprovação de uma reforma política destinada a reduzir o tamanho da Câmara e Senado. Promessa feita, promessa cumprida, só que pela metade: o número de parlamentares permanece o mesmo, mas o Messias que não miracula só tem olhos para o pleito de 2022. 

Então, caríssimo leitor, se você ainda acredita no que diz seu presidente, junte-se à Velhinha de Taubaté e dê um abraço no Coelho da Páscoa, talquei?  

Dezoito anos após transferir a faixa presidencial ao molusco lalau de nove dedos (já pensou quanto ele teria roubado se tivesse todos os dez?), FHC concluiu que merda fede — ou por outra, que a reeleição é dos males talvez o mais grave do nosso sistema político

Em seu “mea-culpa”, o tucano reconheceu ter cometido um “erro histórico” ao patrocinar a emenda constitucional que permitiu a prefeitos, governadores e presidente disputarem a renovação de seus mandatos. Disse ter sido “ingênuo” por acreditar que a partir daí os governantes não fariam “o impossível” para se reeleger.

Ingenuidade — diz Dora Kramer — foi acreditar na inocência do então presidente que fez ele mesmo o “impossível” ao jogar o peso de sua autoridade e prestígio angariado no êxito do combate à inflação para aprovar uma emenda em causa própria. Em assim procedendo, feriu de morte sua majestade em troca de mais quatro anos no Palácio do Planalto.

Vir agora com ato de contrição — prossegue Dora — soa a tentativa de diluir responsabilidade por algo que guarda mais relação com a forma do que com o conteúdo. O defeito não está no instrumento existente em várias democracias, mas no uso que se faz dele. Por exemplo: quando da proposta da emenda, por que não se incluiu a obrigatoriedade de o postulante ao mesmo cargo se afastar por um período determinado antes da eleição?

A Justiça é falha na fiscalização do uso indevido do poder e os grandes partidos também são tímidos na contestação aos abusos com receio de firmar jurisprudências que venham a lhes criar empecilhos amanhã ou depois, afirma a jornalista, e emenda uma frase que diz ter ouvido há décadas de Roberto Campos: “não é a lei que precisa ser forte, é a carne que não pode ser fraca”.

No sentido oposto argumentam os defensores da busca de um atalho legal para que o presidente da Câmara e principalmente o do Senado possam disputar novo mandato em fevereiro de 2021. Aceitam o óbvio, que a Constituição veda a reeleição dentro da vigência do mandato do parlamentar, mas acrescentam, simulando piscadelas retóricas de confiante malandragem: “Aqui é Brasil”. Onde, portanto, o impossível é possível quando quem parte e reparte fica sempre com a melhor parte, ainda mais se tiver a faca e o queijo nas mãos.

Esse tipo de conduta ao qual têm se associado o senador Davi Alcolumbre por ação e o deputado Rodrigo Maia por omissão reforça o alegado arrependimento de FHC que serviu de sustentação a várias manifestações de defensores do fim da reeleição como se, primeiro, os males da nossa política tivessem surgido em 1997, completando agora tenros 23 anos de idade, e, segundo, fossem ser resolvidos com a instituição de cinco anos de mandato sem direito à renovação.

Verdade que aí reside o problema? Seria até em parte, caso governantes também não fizessem o diabo para eleger sucessores. É perfeitamente possível conviver com a reeleição desde que não se abuse dela. No caso dos presidentes da Câmara e do Senado, começando por respeitar ou para com clareza mudar a Constituição. Mas, para não incorrer em serôdios atos de contrição, fazendo valer para o futuro, sem legislar em causa própria.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

SOBRE VACINAS, NOTÍCIAS E ARTICULAÇÕES DESPUDORADAS

Segundo um velho axioma do jornalismo, notícia boa é notícia ruim. E quando a notícia não é ruim o bastante, sempre se pode enfatizar seu lado mais sombrio, como fizeram os telejornais na noite de terça-feira. 

Só faltou a marcha fúnebre de Chopin como fundo musical quando noticiaram que a farmacêutica AstraZeneca suspendera os testes da vacina contra o Coronavírus devido à reação adversa apresentada por um voluntário. 

Foi relatado que o paciente sofria de sintomas neurológicos associados a um raro distúrbio inflamatório da coluna, a mielite transversa, mas ainda não se sabe se ele havia tomado a vacina ou o placebo nem se a tal reação adversa foi causada ou potencializada pela droga.

Devido à maneira sensacionalista como a notícia foi veiculada, as ações da AstraZeneca abriram em queda na quarta-feira, mas zeraram as perdas quando se noticiou que o evento é comum durante a fase de testes e que o experimento deve ser retomado na próxima semana (para mais detalhes, clique aqui). 

Salta aos olhos que esse “mal estar” poderia ter sido evitado se a mídia salientasse que a suspensão de testes de medicamentos não é incomum, que a paralisação não é necessariamente um retrocesso, que essa não foi a primeira vez que algo semelhante aconteceu e que o laboratório está trabalhando para revisar os resultados do teste o mais rápido possível, visando minimizar qualquer impacto no cronograma do ensaio.

A Unifesp, parceira da AstraZeneca no Brasil e provável fabricante da vacina no médio prazo, informou que a fase três também foi suspensa localmente, mas que nenhum dos 5 mil voluntários que se submeteram aos testes apresentara até o momento qualquer reação adversa. E emendou: “Trata-se de uma prática comum em estudos clínicos envolvendo fármacos. O comitê de monitoramento de segurança do estudo analisa se o caso tem ou não relação com a vacina e assim que a análise for concluída, a fase 3 deve ser retomada.

Mudando de pato pra ganso, quando a récua de murares (também conhecida como “eleitorado”) escalou Bolsonaro e Luladdad para o mata-mata em 2018, o capetão tornou-se automaticamente nossa única alternativa (noves fora anular o voto, votar em branco ou simplesmente não comparecer às urnas, como fizeram 42 milhões de eleitores). 

Conhecendo o comportamento da esquerda atávica, eu antecipei que, ao vestir a faixa presidencial, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre seria mais malhado que boneco de pano em Sábado de Aleluia e relembrei a velha fábula do velho, o menino e o burro e a máxima atribuída a JFK sobre a fórmula do sucesso.

Num país sério, Bolsonaro não se elegeria sequer para síndico de condomínio de periferia (a não ser, talvez, os que são controlados pela milícia fluminense). Mas vivemos no Brasil do Deus me livre, onde um presidiário transforma sua cela em comitê de campanha e palanque, e nem a PF, nem o TSE, nem o STF dizem um “a”. Esperar o quê?

Jamais acreditei que Bolsonaro faria um bom governo, mas nunca imaginei que ele superaria minhas piores expectativas. E como nada é tão ruim que não possa piorar, se ninguém tomar uma atitude (Hello, Rodrigo Maia!), não só teremos de aturá-lo por mais 2 anos, 3 meses e 20 dias, como podemos assistir a um reprise, em 2022, da comédia de humor negro de 2018, pois a récua de muares é bem capaz de repetir a dose.

Circunstâncias adversas nos levaram a soltar o gênio da garrafa, e agora não sabemos como prendê-lo de volta, já que não contamos com o apoio do Congresso ou do Supremo.

A perspectiva de um parlamento mais afinado com os desejos e necessidades da nação se nos apresentou nas eleições passadas, quando três em cada quatro senadores que tentaram um novo mandato não se reelegeram, a exemplo de 157 dos 400 deputados que concorreram à reeleição. Infelizmente, mudaram as moscas, mas a merda continua a mesma.

Para piorar, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre parecem estar mais preocupados com os próprios interesses. O Senado vai analisar uma PEC que permite a reeleição, dentro da mesma legislatura, dos presidentes das duas Casas de Leis. A proposta foi apresentada pela senadora Rose de Freitas, para quem a legislação está “descompensada” desde 1997 — quando a Constituição passou a admitir a reeleição para o Poder Executivo —, e conta com o apoio de 29 outros senadores, três a mais que o necessário para a apresentação de uma PEC.

O Supremo admite uma exceção à atual regra, que é quando as eleições para as Mesas ocorrem em legislaturas diferentes — graças a essa interpretação, o Senado já teve quatro presidentes reeleitos desde a promulgação da Constituição: Renan Calheiros, por duas vezes (em 2007 e 2015); Antônio Carlos Magalhães (em 1999) e José Sarney (em 2011); na Câmara, houve dois casos: Michel Temer, em 1999, e o atual presidente da Casa, no ano passado — que é também o único dos presidentes do Legislativo que se manteve no cargo por dois mandatos dentro da mesma legislatura, numa situação excepcional: em 2016 ele foi eleito em substituição a Eduardo Cunha, que fora afastado pela Justiça; em 2017, STF permitiu que Maia buscasse a reeleição em 2017, por entender que seu período na presidência não havia constituído um mandato próprio, mas apenas um “tampão”.

No STF, perdemos Celso de Mello no pior momento. Ainda que ele retorne da licença média nesta sexta-feira, só permanecerá no cargo até 31 de outubro, quando então será aposentado (nos nossos tribunais superiores, a aposentadoria torna-se compulsória quando o magistrado completa 75 anos). 

Anteontem, o ministro Marco Aurélio, que substitui o colega na relatoria do inquérito que investiga a suposta intervenção de Bolsonaro na PF, encaminhou à PGR o pedido de prorrogação feito pelo MP, mas Augusto Aras ainda não se manifestou (o regimento interno do STF estabelece que, em caso de licença do relator, ele é substituído pelo ministro mais antigo do colegiado). Vale lembrar que a principal pendência nesse inquérito é o depoimento de Bolsonaro sobre as acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro.

Aproveitando-se da ausência do decano na 2.ª Turma, Gilmar Mendes tem feito picadinho das decisões da Lava-Jato e submetido a reputação do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro a um processo de esquartejamento. O laxante de toga conta com o apoio de Lewandowski, e já articula o grand finale, que deve ser a anulação da condenação de Lula no caso do tríplex.

No mês passado, a dupla extirpou a delação de Palocci do processo em que Lula é acusado de receber propina da Odebrecht na forma de um terreno, em São Paulo, para a construção da nova sede de seu Instituto. Devido à ausência da ministra Cármen Lúcia, o ministro Fachin, relator da Lava-Jato no STF, foi o único voto dissonante. Mendes e Lewandowski “entenderam” que Moro foi “parcial” ao usar o depoimento de Palocci no processo de Lula “para criar um fato político às vésperas das eleições presidenciais de 2018”. 

Ainda em agosto, a 2.ª Turma anulou a sentença de Moro no caso Banestado.  Embora Cármen Lúcia e Fachin tenham votado pela manutenção da decisão do ex-juiz, a ausência de Celso de Mello garantiu o empate e validou o entendimento de teria havido juntada de documentos aos autos após o encerramento da instrução processual, o que culminou com a anulação da condenação o doleiro Paulo Roberto Krug (a despeito de a decisão do ex-juiz da Lava-Jato ter sido confirmada tanto pelo TRF-4 quanto pelo STJ).

Tudo leva a crer que Gilmar aproveitará a ausência do decano para pautar o pedido de suspeição de Moro no caso do tríplex. O julgamento do recurso foi interrompido por um pedido de vista feito pelo próprio Gilmar no final de 2018, quando Cármen Lúcia e Fachin já haviam votado contra a tese da defesa — baseada no fato de o ex-juiz ter condenado o ex-presidente ladrão visando favorecer a vitória de Bolsonaro em troca de um cargo em seu governo. 

Talvez Moro tenha feito uma péssima escolha ao trocar 22 anos de magistratura por um ano e quatro meses como ministro de um presidente “chinfrim”, mas isso não anula os achados que levaram Lula à cadeia. Sem mencionar que a condenação do tríplex já não diz respeito ao ex-juiz, na medida em que, como a do doleiro Krug, foi confirmada pelo TRF-4 e ratificada no STJ. Mas se Celso de Mello não participar desse julgamento, o empate favorecerá Lula

De acordo com Josias de Souza, Sérgio Moro perdeu uma mão no expurgo da delação de Palocci e um pé no cancelamento do veredicto do doleiro do Banestado. Se confirmada, a anulação do veredicto do tríplex apartar-lhe-á a cabeça do pescoço. Seus algozes ainda não se deram conta, mas o estão presenteando com o papel de vítima. Até aqui, Moro dedicou-se a atirar contra o próprio pé. Aos pouquinhos, vai ganhando um alvo: os adversários do combate à corrupção. 

Para lavar a ficha suja que o separa dos palanques, Lula terá de guerrear pela anulação de outra sentença já referendada em segunda instância: a do sítio de Atibaia. Já Bolsonaro chegará a 2022 carregando a bola de ferro dos negócios familiares e cavalgando o centrão, um aglomerado partidário 100% feito de suspeitos, culpados e cúmplices.

Num cenário assim, um ex-juiz ensanguentado e sem cabeça pode ser um candidato inusitado na sucessão. Na pior hipótese, Moro aproveitará a campanha para recompor sua biografia. Na melhor, entrará na briga pela simpatia dos admiradores da Lava-Jato

No final do ano passado, o Datafolha constatou que 81% dos brasileiros consideravam que a operação deveria continuar. A conversão dos líderes do centrão em heróis da resistência e a anulação de sentenças leva melado para o moinho do projeto Moro 2022.

domingo, 14 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTAM 14 DIAS


Uma vitória de Haddad no segundo turno seria mudar em 15 dias tudo o que o eleitorado brasileiro fez no primeiro, ao varrer medalhões da política e alguns próceres petistas. Não por acaso a imagem do presidiário de Curitiba desapareceu da campanha de seu fantoche e a cor vermelha, tradicional do PT, foi substituída pelo verde e amarelo.

Observação: Curiosamente, nas manifestações populares que eclodiram em 2013 e apoiaram o impeachment da anta vermelha, quem vestia camisa verde e amarela, sobretudo da Seleção, era ridiculamente acusado de “coxinha” pela turma da mortadela. Agora são os cartazes do PT que exibem militontos ostentando as cores da pátria, com a mão no peito e o olhar perdido no horizonte. Uma pantomima digna do socialismo dos tempos de Stalin.

Lula continua sendo “o grande líder” do PT e de seus satélites, mas sua rejeição cresceu a tal ponto que, na opinião do diretor do Ibope, o petralha teria sido derrotado se disputasse pessoalmente o pleito, como queriam ele e seu partido  — daí sua abjeta figura e a cor vermelha terem saído de cena na propaganda de Haddad.

Décadas se passarão até que o eleitorado tupiniquim aprender a votar. Mesmo assim, contrariando as expectativas, as urnas foram inclementes com clãs da velha política e candidatos envolvidos em corrupção. O hoje senador e presidente do Congresso não se reelegeu — e já disse que vai se retirar da vida pública. Como nada é perfeito, seu antecessor conquistou mais um mandato, e seu rebento, Renan Filho, foi reeleito governador (vale lembrar que Alagoas é o reduto de Collor, e que o ex-presidente, mesmo depois de impichado e privado dos direitos políticos, voltou ao cenário, tão logo a suspensão terminou, como o senador mais votado pelos alagoanos). Desta vez, porém, o folclórico caçador de marajás ameaçou disputar a presidência, mudou o foco para o governo do Estado e acabou se resignando a continuar no Senado até 2022 (vale lembrar que o mandato de senador é de 8 anos, e a cada 4 anos são renovados 1/3 ou 2/3 da composição da Casa). 

Os pimpolhos do imortal José Sarney também foram penalizados: nem Zequinha se reelegeu deputado, nem Roseana — que governou o Maranhão por quatro legislaturas desde 1995 — conseguiu desbancar o pecedebista Flavio Dino, que foi reeleito governador com 59,29% dos votos válidos.

Observação: Para quem não se lembra, Sarney, o velho, ingressou na política em 1954, sobreviveu à ditadura como político da ARENA (que ele chegou a presidir durante os anos de chumbo, já que sempre foi puxa saco dos poderosos da vez). Mais adiante, o partido passou a se chamar PDS, depois PFL e finalmente DEM. Em algum momento dessa sopa de letras, articulações políticas lideradas por Tancredo Neves e Ulysses Guimarães resultaram na formação da Aliança Democrática, que uniu a Frente Liberal com o PMDB e elegeu Tancredo o primeiro presidente civil desde o golpe de 1964. O resto é história recente. Sarney, que era vice na chapa do político mineiro, ascendeu à presidência com a morte do titular, e a despeito de ter feito um governo de merda, conseguiu se abancar no Senado — primeiro por seu estado natal, depois pelo Amapá — e de lá não desgrudou até 2013, quando deixou a vida pública a pretexto de se dedicar integralmente à literatura. Conta-se que certa vez um dilúvio assolou o Maranhão, e Sarney, ao ser informado pela filha Roseana — então governadora — que metade do estado estava debaixo d’água, perguntou: — A sua metade ou a minha?  

Nas alas do PT, Lindbergh Farias, Jorge Viana, Eduardo Suplicy e Gleisi Hoffmann ficarão de fora Senado na próxima legislatura. “Coxa”, que é presidente nacional do PT mas não é trouxa, baixou o facho, mirou na Câmara Federal e conseguiu uma cadeira, junto com — pasmem! — Zeca Dirceu. Mas a cereja do bolo foi o fiasco de Dilma, cuja eleição para o Senado era tida e havida como certa em todas as pesquisas. No computo geral, dos 513 deputados federais eleitos no último dia 7, 102 vão assumir um mandato na Câmara pela primeira vez. Se isso é um bom sinal, ou não, só o tempo dirá.

A duas semanas do segundo turno, o acirramento da política em meio à disputa eleitoral tem desembocado em episódios de violência física e até em assassinato. Nos últimos dias foram registrados no país diversos casos de agressão por motivação política. Entrementes, Bolsonaro resolveu não participar de debates na TV, menos por questões de saúde e mais por estratégia. Mas segue dando entrevistas para emissoras de rádio e TV — Haddad chiou, mas o TSE não viu irregularidades nas entrevistas. Aliás, para os petistas, vale tudo na busca por apoio: além de tentar conquistar os católicos — depois que os evangélicos “fecharam” com o capitão —, o fantoche de Lula está namorando o ex-candidato a candidato e ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa, que era presidente da Corte à época do julgamento do Mensalão. Como se vê, na guerra e no amor vale tudo.

Sob a coordenação de Jaques Wagner — que declinou do convite para ser o bobo da corte de Lula e disputar a presidência em seu lugar, caso a candidatura do molusco fosse rejeitada —, o PT arma mais uma tramoia contra o povo brasileiro, tentando vender a imagem de “bastião da democracia” ante o avanço da candidatura de Bolsonaro. Ninguém ameaçou mais a democracia do que o PT, como relembra, em editorial, o Estadão. Quando Lula ocupava a Presidência e desfrutava de expressivo apoio popular, a legenda optou por subverter a democracia representativa com o mensalão, e jamais pediu desculpas à população por ter desrespeitado o princípio constitucional de que todo o poder emana do povo — sob o jugo do PT, o poder emanava do dinheiro periodicamente pago aos parlamentares. 

Como se não bastasse, a quadrilha vermelha gestou e pariu o petrolão, visando à apropriação de todo o aparato do Estado em prol de sua causa político-partidária. Mais recentemente, instituiu uma verdadeira cruzada contra o Judiciário, já que várias instâncias da Justiça entenderam que a lei vale também para seu eterno presidente de honra. Na visão dessa corja, todo o Estado Democrático de Direito deveria se curvar ao grande líder — como nos regimes admirados pelos petistas, onde o Judiciário não tem “a audácia” de condenar líderes populares por corrupção e lavagem de dinheiro.

Lula e seus seguidores fizeram de tudo para desrespeitar as regras eleitorais, pregando que, se o presidiário não pudesse se candidatar, a eleição seria uma fraude. “Eleição sem Lula é golpe”, repetiram por todo o País. Sem nenhum apreço pelo princípio da igualdade de todos perante a lei, a fantasiosa argumentação era um descarado pedido de privilégio para o sumo sacerdote da Petelândia, a quem a Lei da Ficha-Limpa não se aplicava. E para que não pairassem dúvidas, o programa de governo de Luladdad foi talhado à imagem e semelhança do modelo bolivariano, com vistas a subverter a democracia representativa. 

Além de instalar conselhos populares, o PT quer “expandir para o presidente da República e para a iniciativa popular a prerrogativa de propor a convocação de plebiscitos e referendos”, fala abertamente em “instituir medidas para estimular a participação e o controle social em todos os Poderes da União e no Ministério Público”, e para coroar suas pretensões autoritárias menciona a necessidade de um “novo marco regulatório da comunicação social eletrônica”. 

Quando o PT pede votos em seu “campeão da defesa democrática do País”, falta-lhe credibilidade, já que passado e presente o desmentem. Depois dessa, só mesmo acendendo velas, muitas velas, para a Padroeira do Brasil.


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