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terça-feira, 9 de julho de 2024

SOBRE A REVOLUÇÃO E OS ERROS DO PASSADO


REPETIR OS ERROS DO PASSADO ESPERANDO UM RESULTADO DIFERENTE É A MELHOR DEFINIÇÃO DE INSANIDADE QUE EU CONHEÇO.


O período oligárquico e a política do "café com leite" tiveram fim em 1930 — ano em que Julio Prestes foi eleito presidente e Getúlio Vargas deu um golpe de Estado. Enfraquecida, a elite paulista exigiu maior participação nas decisões da união. O ditador gaúcho negou e nomeou um interventor pernambucano para o estado de São Paulo. Isso acendeu o pavio da Revolução Constitucionalista de 1932, que hoje comemora o 92º aniversário. Como não receberam apoio das demais unidades federativas (noves fora Mato Grosso), os paulistas se renderam após três meses de conflito armado, mas nem tudo foi em vão: São Paulo ganhou um interventor paulista e civil e uma nova carta magna foi promulgada (e vigeu até 1937, quando o Estado Novo mudou as regras do jogo).

Observação: Vargas ascendeu ao poder em três ocasiões distintas, duas por golpe e uma pelo voto popular. Depois de apear Washington Luís e pôr fim à República Velha em 1930, o ditador gaúcho deu um autogolpe (1937), instaurou o Estado Novo e se manteve no poder até 1945, quando foi deposto por um golpe militar. Reconduzido à presidência pelo esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim em 1951, o tiranete foi suicidado, digo, suicidou-se com um tiro no peito em 24 de agosto de 1954. Sua carta-testamento terminava com a seguinte frase: "Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História".

Dizem as más-línguas que brasileiro é igual a papel higiênico: quando não está no rolo, está na merda. Com efeito. O povinho de merda que o Criador escalou para esta banânia vive entre a cruz e a caldeirinha, ignora a primeira regra dos buracos, pula da frigideira para o fogo e deste, de volta para aquela. Em 2018, para evitar a vitória de uma marionete de presidiário, o sapientíssimo, guindou ao Planalto o misto de ex-militar e parlamentar medíocre que logo escancarou o viés ditatorial e as pretensões golpistas. 

Em 2022, livrar-se do dejeto da escória da humanidade era impositivo, mas reconduzir ao poder um ex-corrupto descondenado era opcional. E deu no que deu. Assim que tomou posse, Lula criou dezenas de novos ministérios para acomodar aliados de ocasião e nomeou antigos comparsas para as demais pastas. Do palanque, prometeu governar para todos, deixar o país nos trinques e pendurar as chuteiras; no trono, com ares de salvador da pátria, ameaçou concorrer à reeleição "para evitar que trogloditas voltem a governar o país". Se ainda caminhar entre os vivos em outubro de 2026, o macróbio petista estará com 81 anos — a mesma idade que Joe Biden tem hoje. Será que Lula nunca ouviu falar em Efeito Orloff?  
 
Escusado detalhar a sucessão de desditas do desgoverno em curso. Passados 18 meses da coroação, o reizinho segue atribuindo ao "infiltrado de Bolsonaro" a culpa por todas as mazelas que o acometeram desde as 10 pragas do Egito. Parece que não aprendeu nada em suas duas gestões anteriores nem nos 580 dias de férias compulsórias que gozou em Curitiba. "Dirige" o país com um olho no retrovisor e outro nas urnas, o que o torna é incapaz de ver o reflexo do verdadeiro culpado no espelho. 

A Selic a 10,5% a.a. é um problema, nas não uma novidade para Lula: sob sua indigesta sucessora, a taxa passou de 14% a.a. E o problema não é Campos Neto, mas o déficit público, o cenário internacional, a escalada inflacionária e, principalmente, a aversão do presidente ao corte de gastos. 

As contas do reino continuam na enfermaria, mas, indagado sobre o dólar, o sua majestade preferiu falar em "arroz e feijão", substituir as pauladas no chefe do BC pela renovação do compromisso retórico com a responsabilidade fiscal e autorizar Haddad a passar na lâmina R$ 25,9 bilhões do Orçamento de 2025. Isso não resolve o problema, mas ajuda a baixar a febre, até porque, até poucos dias atrás, sua alteza dizia não saber se seria mesmo necessário cortar despesas.
 
Contribuíram para o recuo tático os conselhos de economistas companheiros, que alertaram o reizinho para os efeitos inflacionários da alta do dólar na taxa de juros e, sobretudo, nos humores do eleitorado. Ficou entendido que sua popularidade em 2026 depende da prosperidade que o ministro da Fazenda for capaz de entregar, mas truques novos não ornam com burros velhos, e nosso xamã continua achando que o pescoço de Campos Neto é um ótimo degrau para chegar ao coração da maioria endividada. 

Observação: Eu não era fã de Haddad quando ele foi o poste de Lula na prefeitura de Sampa nem (muito menos) quando se sujeitou ao papel de boneco de ventríloquo do então presidiário mais famoso do Brasil. Minha opinião não mudou, mas reconheço seu empenho em convencer o chefe a não guerrear contra a razão.
 
Depois que "falcatruas" no leilão de arroz puseram a pique seu projeto de autopromoção, Lula tenciona se valer da regulamentação da reforma tributária para propor outra medida populista, qual seja a isenção de impostos sobre a "carne dos pobres". Isso pode até parecer lindo e justo partindo do candidato que prometeu a volta da picanha e da cervejinha do fim de semana, mas faltou explicar como fazer, na prática, para taxar picanha e filé e isentar "pé de frango" e "carne de pescoço".
 
Interromper os cortes na Selic foi uma decisão unânime do Copom. Nem mesmo os diretores indicados por Lula sucumbiram à pressão, já que guardam na memória a crise econômica que teve início quando Dilma forçou uma redução artificial dos juros. Repetir o erro teria um impacto negativo em suas reputações (presidentes da República vêm e vão, mas diretores do BC precisam zelar por suas carreiras). Começa agora o difícil teste de Gabriel Galípolo como futuro presidente da instituição, que terá de se equilibrar entre decisões técnicas, mercado desconfiado e um mandatário populista e intervencionista.
 
Falando em intervencionismo, Lula disse que o STF "não pode se meter em tudo". O cenário já era
nebuloso por ocasião do Gilmarpalooza — 12 empresas que participaram do evento em Lisboa tinham processos em andamento no Supremo. Apenas três ministros (Nunes Marques, Cármen Lúcia e Luiz Fux) declinaram do convite. Gilmar Mendes desdenhou do gasto de R$ 1,3 milhão com passagens, hospedagem e outros mimos a pelo menos 78 pessoas, entre servidores, políticos, seguranças, ministros de Estado e membros do Poder Judiciário. 

Observação: Segundo o portal UOL, algumas togas criticaram internamente o encontro. A mesma reação ocorreu nos anos anteriores, mas nunca foi tão forte quanto neste, e, segundo as pesquisas de opinião pública, metade dos brasileiros diz não confiar no Supremo e em seus ministros.
 
Torçamos para que a democracia que resistiu aos arroubos golpistas de Bolsonaro seja resiliente o bastante para sobreviver a Lula e ao ativismo da cúpula do Judiciário. Mas o que garante essa resistência não é a ação de uns poucos "iluminados", e sim a imprensa independente, as organizações não governamentais, as entidades formadas pelas empresas privadas e a vigilância constante da opinião pública — que barraram o desastroso leilão do arroz estatal e o projeto do Aborto na Câmara.

Triste Brasil.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

DE VOLTA ÀS INDICAÇÕES AO STF

 

A fé move montanhas, mas, por via das dúvidas, o chanceler Mauro Vieira continua empurrando, enquanto os 34 nomes que o Itamaraty enviou às autoridades de Israel e do Egito rezam para que mísseis não lhes caiam sobre a cabeça. Já não há força no universo capaz de deter no primeiro escalão do governo Lula a maledicência segundo a qual o "fator revide" retarda a repatriação. Cada minuto a mais é uma eternidade a menos na taxa de sanidade mental dos que esperam. Diz-se nos bastidores que o pavio de Lula ficou mais curto. Nada melhor do que a impotência para esticar o pavio. Resta a quem não dispõe da força lembrar que a diplomacia traz a maciez injetada no nome.

***

Ao chancelar a indicação do advogado de estimação de D. Lula III para o STF, que viola claramente o princípio da impessoalidade, o Senado ratificou sua vocação para repartição cumpridora das ordens do Planalto. Mas estamos no Brasil, onde não há inocentes na política. E isso tabmém se aplica a quem vota em candidatos como ErundinaAgnaldo Timóteo, Romário, Tiririca (sem mencionar o rinoceronte Cacareco e o Macaco Tião), lembrando que maus políticos não "brotam" nos gabinetes por geração espontânea. 

Observação: Acusado de protecionismo durante a criação do Mundo por favorecer a porção de terra que futuramente tocaria ao Brasil, disse o Senhor das Esferas: "Esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá." Dito e feito.

Churchill ensinou que a "democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras
— mas disse também que "o melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano. Já o general Figueiredo lecionou que "um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar".

De acordo com o art. 101 da Constituição Cidadã, os aspirantes à suprema toga são escolhidos pelo presidente da República e empossados depois que a CCJ do Senado e o plenário aprovam a indicação. A sabatina é meramente protocolar: desde a proclamação da República, apenas cinco candidatos foram reprovados (todos no final do século 19). 
 
No período pós-ditadura, Sarney indicou Celso de Mello, e Collor, o primo Marco Aurélio. Suas vagas foram preenchidas respectivamente por Nunes Marques e André Mendonça. Fernando Henrique indicou Gilmar Mendes, e TemerAlexandre de Moraes. As demais togas foram distribuídas por Lula e por Dilma ao longo dos 13 anos, 4 meses e 14 dias de jugo lulopetista.
  
Há no Supremo diversas esquisitices 
 como ministro reprovado em concurso para juiz ou que mantém negócio privado. Com a chegada de Nunes Marques, a supremacia da corte foi tisnada pelo currículo-tubaína do substituto do libertador de traficantes. Com essa indicação, Bolsonaro enfiou "10% de si mesmo na corte", e com a do pastor André Mendonça, cumpriu a promessa de nomear um ministro terrivelmente evangélico. 
 
Observação: A aprovação do dublê de ministro da Justiça e pastor presbiteriano foi comemorada com pulinhos, gritinhos de “Aleluia”, “Glória a Deus” e frases ininteligíveis por Micheque (ou Mijoias), que, a exemplo do marido, jamais ouviu falar em "liturgia do cargo". Jobim (o ex-ministro, não o maestro) disse certa vez que o Brasil não é para amadores. Mas o país está ficando esquisito até para os profissionais.
 
Qual a imparcialidade que se pode esperar de Zanin, que até outro dia recebia e cumpria ordens do atual presidente? Não dá. Na sabatina, os nobres senadores não examinaram nada; fizeram de conta que perguntavam e o candidato fez de conta que respondia. E teria sido aprovado mesmo que falasse em aramaico para a banca examinadora, uma vez que essa era a vontade de Lula.
 
Entre as muitas coisas inúteis da vida brasileira, poucas competem com essas sabatinas. Por que montar esse circo mambembe, com a simulação de que estão sendo tomadas decisões importantes para o país, se essas decisões não têm importância nenhuma? Zanin estava aprovado antes mesmo de seu nome ser oficialmente apresentado. Nunca foi um candidato; sempre foi um novo ministro. Quem decidiu tudo foi Lula, não o Senado. Ninguém procurou seque manter as aparências.

Qual é o "notável saber jurídico" do ex-advogado de Lula? Não se sabe. Não há registro de que exista, não no mundo das realidades. Ele não fez pós-graduação em Direito, não escreveu nenhum livro ou artigo que chamasse a atenção por sua qualidade como exposição de conhecimentos jurídicos, não comandou seminários nem tampouco deu cursos dos quais alguém se lembre. Sua única qualificação é ter sido nomeado por Lula — que é a única que realmente vale no Brasil de hoje.
 
A nomeação do nobre causídico reacendeu o debate acerca da escolha das togas. Nos últimos dez anos, foram apresentadas 23 PECs propondo mudanças na formatação da corte, no processo de indicação e na fixação de tempo de mandato das ministros. Dessas, cinco foram protocoladas no Senado, mas somente a PEC 16/2019 continua tramitando (as demais foram arquivadas no final da legislatura). Na Câmara, 14 das 18 PECs seguem em tramitação, mas, como algumas foram apensadas a outras, esse número gira em torno de seis.

Com J.R. Guzzo

domingo, 19 de fevereiro de 2023

MAS É CARNAVAL...

DE SACO CHEIO. NÃO AGUENTO MAIS!

Etimologicamente, carnaval vem de carnis levale — o jejum da carne e de outros prazeres mundanos que a intrometida santa madre igreja proibia seus fieis de fruir durante a Quaresma

O Brasil é conhecido como o "país do Carnaval, mas a festa pagã foi trazida pelos colonizadores com o entrudo. Tempos depois vieram os cordões. os ranchos, os bailes de salão, os corsos, as escolas de samba, os afoxés, os frevos e os maracatus.

Observação: O Brasil é um país laico. Embora a maioria da população se declare católica, evangélicos e protestantes vêm se reproduzindo feito coelhos.

Deus criou a fé e o amor, e o Diabo, invejoso, trouxe as religiões e o casamento. Eu acho que a versão bíblica de Adão, Eva, a maçã e a serpente não passa de mera cantilena para dormitar bovinos, mas acredito que o Senhor das Esferas, questionado por favorecer o Brasil durante a criação do mundo, disse aos opositores que colocaria aqui um "povinho de merda". 
 
Promessa feita, promessa cumprida: graças à falta de discernimento dessa escumalha, a parcela minimamente eleitorado do eleitorado tupiniquim teve de se juntar aos sectários do lulopetismo para evitar que uma súcia de imbecis travestidos de patriotas reelegesse um imbecil travestido de presidente.
 
Continua...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

PROCURAM-SE OS CULPADOS


Golpes de Estado pressupõem lideranças, mas ninguém se responsabilizou pela versão tabajara da invasão do Capitólio, mediocremente executada por um bando de fanáticos estimulados por Jair Messias Bolsonaro, e que só malogrou porque não teve o apoio incondicional dos militares, das PMs e da PF.
 
Bloqueios em rodovias e acampamentos montados defronte a quarteis do Exército eram sinais evidentes de que a merda estava prestes a bater no ventilador, mas foram ignorados ou relativizados. Lula disse que houve uma tentativa de golpe de Estado", que os invasores foram orientados por Bolsonaro (que sabia de tudo e, por isso, continua escondido na cueca do Pateta), que "alguém de dentro do palácio" abriu as portas para os vândalos, que o serviço de inteligência do governo "não existiu"... e que é contra a instalação de CPI para apurar o episódio.
 
A presidência caiu no colo de Bolsonaro porque vivemos num arremedo de projeto de banânia, onde o "nós contra eles", semeado pelo lulopetismo corrupto há quase meio século, produziu o bolsonarismo boçal. No entanto, a emenda feita para evitar a volta do ladrão à cena do crime (palavras do vice Geraldo Alckmin, a quem falta vergonha na cara, mas sobra conhecimento de causa) saiu pior que o soneto. E quem entrega a chave do galinheiro às raposa abdica do direito de reclamar do sumiço das galinhas.
 
Isso explica por que um ex-presidente corrupto foi descondenado, teve a ficha imunda lavada e foi reinserido no tabuleiro da sucessão presidencial, mas o fato de um sacripanta desprezível ser venerado por milhões de fanáticos — não que os sectários do demiurgo de Garanhuns sejam gente melhor, mas isso é outra conversa — continua sendo um mistério. 
 
Milhões de pessoas supostamente esclarecidas parecem não entender que um ataque ao Estado de Direito foi desfechado no último dia 8, a despeito de a barbárie ter sido transmitia ao vivo e em cores pela televisão. No entanto, boa parte do povinho de merda que o Criador colocou neste país de merda se declara negro para roubar o lugar de alguém num concurso; que, ao votar, faz invariavelmente as piores escolhas; que dá ouvidos a imbecis que desacreditam as vacinas; que cobre o focinho com a bandeira nacional e depreda o patrimônio público a golpes de picareta, e por aí segue a procissão. Para essa gentalha, até a realidade é relativa.
 
Devido a suas declarações golpistas (que Arthur Lira e Augusto Aras ignoraram solenemente), Bolsonaro encabeça a lista dos responsáveis pelos ataques do dia 8. Lideranças do PL defendem seu retorno ao Brasil, por considerarem que a demonstração de apoio popular — 58 milhões de votos — seria sua melhor defesa, mas o sociopata genocida deve continuar escondido na cueca do Pateta. 
 
Pensando bem, dizer que vivemos em um país de merda é elogio.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

É O CRIME DA MULA PRETA!

O Genesis não conta, mas, ao ser acusado de protecionismo em relação à porção de terra que viria a ser o Brasil, Deus disse: "Esperem até ver o povinho de merda que eu vou colocar aí"

Esse fato é pouco conhecido, mas demonstra que perde seu tempo quem espera discernimento de lulopetistas — vermelhos, cegos, desmemoriados, com a cabeça cheia de merda, que andam para trás e vivem nas costas do Brasil — e bolsonaristas — bando de imbecis travestidos de militantes e comandados por um imbecil travestido de presidente. 

E mais: num eleitorado em que a maioria dos 150 milhões de votantes não têm nenhum preparo para escolher nada, qualquer farsante bem treinado para mentir mais que os outros vence as eleições.  

A mentira nasceu com o homem, provavelmente quando Caim negou ter matado Abel. De lá para cá, todo mundo mente. Porém, quando alguém começa a mentir a si mesmo e a acreditar nas próprias mentiras, aí a vaca vai para o brejo. A mentira dominou a cena no Mensalão e no Petrolão. "Eu não sabia" foi a campeã das mentiras. A partir de Donald Trump — egresso do show business, onde ficção e realidade se misturam —, as mentiras foram institucionalizadas e rebatizadas de fake news. Mas até para mentir é preciso talento.

 

No debate da Band, o assunto "corrupção", essencial nesta campanha, surgiu, finalmente, aos olhos da população. Na “sabatina” da Globo, o apresentador agiu como assessor de imprensa (ou advogado criminal) de Lula. Em vez de perguntar sobre aquele que foi o maior surto de corrupção da história do Brasil, fez um manifesto a nação dizendo que "o senhor não deve nada à justiça". Até o entrevistado pareceu surpreso. 

 

No programa da Band, porém, Lula foi colocado diante da necessidade de falar sobre a incomparável roubalheira do seu governo — e deu-se muito mal. Sem a indulgência plenária que ganhou na "sabatina" global, o petista teve de responder sobre a desesperada, maciça e indiscutível corrupção na Petrobras, as delações premiadas, as provas materiais da ladroagem, o dinheiro roubado que foi devolvido, e por aí afora. Não explicou nada, é claro, pois é impossível explicar o que não tem explicação. Como faz sempre que não pode dizer nada em seu favor, o ex-presidiário fugiu do assunto. 

 

Perguntavam de corrupção, e Lula respondia dizendo que abriu "dezessete universidades". Falavam na delação do ex-ministro Palocci, e ele dizia que "acabou com a fome" no Brasil. A certa altura, disse que foi  "absolvido por todos os tribunais deste país e até pela ONU" — mais uma dessas mentiras com teor de 100% de pureza. 


Lula não foi absolvido de absolutamente nada. Foi apenas "descondenado", na decisão mais desvairada da história da justiça brasileira, por um ministro que foi advogado do MST, militou na campanha presidencial de Dilma e ganhou dela toga e cargo no Supremo.

 

Na "sabatina" da Globo, que durou 40 minutos, o presidente candidato à reeleição faltou com a verdade em pelo menos 20 oportunidades — média de uma mentira a cada dois minutos. No debate da Band, mesmo tendo falado por bem menos tempo que falou no JN, o "mito" se superou, emplacando 30 mentiras ao eleitorado.  

 

Lula quer atravessar essa campanha sem falar de corrupção; diz que o agronegócio é "fascista", que a classe média "gasta demais" e que vai trazer de volta o imposto sindical — mas de ladroagem, mesmo, nem um pio. O problema, pelo que mostrou o debate na Band, é que ele pode ficar em silêncio — mas os outros vão falar. Mentiras em que se percebe a falsidade não colam. Só mentiras sinceras convencem. Lula leva vantagem porque mente melhor, acredita em suas mentiras — chegando mesmo a se debulhar em lágrimas. Bolsonaro mente mal, embora convença seu gado. Mas não deve ser subestimado.

 

E o que fez a Justiça Eleitoral diante desse descalabro? Nada. Mas, no último dia 3, o TRE-PR apontou uma série de irregularidades supostamente cometidas pelo ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, que é candidato ao Senado pelo Paraná. 


O pedido partiu da coligação partidária que apoia o PT nas eleições deste ano. As legendas sustentaram que diversos materiais impressos da campanha violam a legislação eleitoral. Em seu despacho, a juíza anotou que, no Twitter, no Instagram e no site oficial da campanha, Moro "sequer menciona o nome dos suplentes, em absoluta inobservância à legislação eleitoral", e salientou a "evidente a desconformidade entre o tamanho da fonte do nome do candidato a senador relativamente a dos suplentes” (referindo-se aos banners publicados pelo candidato nas redes). 


ObservaçãoA assessoria de Moro negou a irregularidade e disse que a equipe jurídica do ex-juiz pedirá a reconsideração da decisão liminar. Em suas redes sociais, Moro afirmou que não se intimidará e que repudia "a tentativa grotesca de me difamar e de intimidar minha família".
 

A magistrada apontou ainda que a logomarca do candidato apresenta a palavra "MORO" em evidência e em tamanho "muito superior a 70% do nome dos suplentes, sendo imperiosa a remoção dos conteúdos que veiculam propaganda irregular, nas URLs indicadas no documento", bem como irregularidades no conteúdo dos programas veiculados no horário da propaganda eleitoral gratuita. Por outro lado, ela argumentou que a ordem de imediata suspensão da veiculação da propaganda "não se mostra passível de acolhimento, tanto pelo fato de que não se sabe o conteúdo que será veiculado, não cabendo às emissoras a realização do controle prévio, quanto pela possibilidade de regularização do material".

 

Ainda de acordo com o TRE-PR, o material passível de apreensão é "tão somente aquele indicado na presente decisão, arquivado em Secretaria e comprovadamente em desconformidade com a legislação". Se mantiver as propagandas em desconformidade com a Lei Eleitoral, Moro será obrigado a pagar uma multa diária de R$ 5 mil.

 

Triste Brasil.

terça-feira, 31 de maio de 2022

A VOLTA DA FÊNIX MITOLÓGICA — MAS PODEM CHAMAR DE TERCEIRA VIA


Contam-se nos dedos os países desenvolvidos em que pessoas perdem suas vidas em decorrência de chuvas. Por aqui, só neste ano houve tragédias dessa natureza na Bahia, no Rio e em Pernambuco. Coisa de terceiro mundo? Não. De quinto. Dito isso, passo ao assunto do dia.

O saudoso maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, brasileiro até no nome, sabia das coisas. Atribui-se a ele a máxima segundo a qual o Brasil não é para principiantes. Prova disso é que, a menos de cinco meses do pleito presidencial, temos de um lado o ex-presidiário fantasiado de “ex-corrupto”, que quer voltar à cena do crime, e do outro um presidente investigado em seis inquéritos e alvo de quase 150 pedidos de impeachment, que move mundos e fundos (sobretudo fundos) para continuar na cena... digo, no cargo.

Por mal de nossos pecados, um desses pesadelos poderá se tornar realidade. Até porque, como bem disse Pelé, e Figueiredo depois dele, o brasileiro não está preparado para votar. Aliás, esta banânia só teria alguma chance de dar certo quando e se o povinho de merda que Deus colocou aqui compreendesse que políticos não devem ser endeusados, mas cobrados e trocados regularmente. 

Apesar de divergirem no percentual de preferência do eleitorado, todas as pesquisas apontam Lula e Bolsonaro como prováveis adversários no segundo turno. Algumas não descartam sequer a possibilidade de o petralha liquidar a fatura no dia 3 de outubro. 

Não sei até que ponto pesquisas feitas com tanta antecedência são confiáveis, mas acho que elas prestam um desserviço ao país ao estimularem ainda mais a polarização. Por outro lado, é nítido que o "esclarecidíssimo" eleitorado canarinho apagou da memória a roubalheira havida nos 13 anos e fumaça de gestões lulopetistas e a tragédia que se tornou o país sob o "mito" dos bolsomínions. Para piorar, nhô ruim e nhô pior vomitam falácias eleitoreiras em palanques antecipados sem que a pusilânime Justiça Eleitoral dê um pio. Mas nenhum dos dois apresenta um projeto de governo como manda o figurino. 

Observação: Desde o início do ano, o TSE recebeu 17 ações que apontam propaganda eleitoral antecipada na disputa presidencial, na disputa presidência, sendo 12 contra a campanha de Bolsonaro e 5 contra a de Lula, mas até o momento não houve qualquer punição efetiva.

Bolsonaro continua fazendo o que sempre fez desde o instante em que subiu a rampa do Palácio do Planalto: tudo, menos governar o país. Lula, recém conduzido ao tabuleiro da sucessão por uma suprema conspirata, quer reescrever a história distorcendo os fatos, a começar pela “inocência”que o STF não reconheceu. 

A decisão tomada por 8 a 3 pelas togas anulou os processos do tríplex, do sítio e outros dois envolvendo o Instituto Lula, mas não absolveu o camelô de empreiteiro, que percorre a conjuntura na esdrúxula condição de “ex-corrupto”, apesar de sua culpabilidade ter sido reconhecida em três instâncias no caso do tríplex do Guarujá (cuja sentença transitou em julgado) e duas no caso sítio de Atibaia.

A mítica terceira via — que já começava a duvidar da própria existência — ressurgiu timidamente depois que Sergio Moro e João Doria foram elididos da disputa. A bola da vez é a senadora Simone Tebet, já que Ciro Gomes encanta com sua grandiloquência, mas afugenta o eleitorado com a postura beligerante que já lhe garantiu três derrotas em três disputas presidenciais. A menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, o cearense de Pindamonhangaba (SP) morrerá na praia pela quarta vez.

Embora ainda precise confirmar a consolidação da terceira via, crescer nas pesquisas e driblar eventuais traições dentro do próprio partido, Simone teve a pré-candidatura referendada por emedebistas dos principais estados do país. Mas nem Doria nem o senador Tasso Jereissati se empolgaram com a ideia de disputar a vice-presidência na chapa encabeçada por ela. Já Eduardo Leite — que foi derrotado nas conturbadas prévias tucanas — aceita ser coadjuvante. O problema é que a ala tucana liderada pelo deputado Aécio Neves entende que o PSDB deve encabeçar a chapa. Afinal, por que simplificar quando se pode complicar?

O senso comum recomenda não contar com o ovo na cloaca da galinha, mas a pesquisa Ipespe divulgada na última sexta-feira mostrou que o potencial de voto em Simone Tebet aumentou 11% em uma semana. Ele agora é de 28%. Além dos 5% que disseram ao instituto que votariam nela com certeza, há outros 23% que poderiam votar. Há sete dias, os números eram 3% e 14%. 

segunda-feira, 23 de maio de 2022

NUMA DISPUTA DE MENTIRAS, VENCE QUEM MENTE MELHOR


O Genesis não conta, mas Deus foi acusado de protecionismo em relação à porção de terra tempos depois se tornaria o Brasil. Em resposta, disse o Criador: “Esperem até ver o povinho de merda que eu vou colocar lá”. 

Esse fato é pouco conhecido, mas demonstra de maneira lapidar que é perda de tempo esperar discernimento de lulopetistas — vermelhos, cegos, desmemoriados, com a cabeça cheia de merda, que andam para trás e vivem nas costas do Brasil. Ou de bolsonaristas — um bando de imbecis travestidos de militantes e comandados por um imbecil travestido de presidente.

As duas fações se merecem. Se retroalimentam. São mais parecidas do que costumamos imaginar. A diferença é a "entidade" que cada qual venera. Em sua mentalidade tacanha, essa escumalha acha que políticos devem ser cultuados, quando na verdade devem ser cobrados e, como fraldas (e pelos mesmos motivos), trocados regularmente.

Saramago ensinou que a cegueira é uma questão pessoal entre as pessoas e os olhos com que elas nasceram, e que a cegueira mental produz credulidade desmedida. Mas nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria em Lula ou em Bolsonaro — quanto ao candidato da terceira via, ninguém acredita sequer na sua existência.

A mentira nasceu com o homem, provavelmente quando Caim negou ter matado Abel. De lá para cá, todo mundo mente. Porém, quando alguém começa a mentir a si mesmo e a acreditar nas próprias mentiras, aí a vaca vai para o brejo.

Durante o julgamento do Mensalão, diante do cinismo e das mentiras dos acusados, Nelson Motta escreveu uma crônica com o título de “Minto, logo existo”. Mas o que se mentiu de lá para cá superou em muito suas previsões mais pessimistas. A mentira dominou a cena no Petrolão e na Lava-Jato. “Eu não sabia” foi a campeã das mentiras.

A partir de Donald Trump — egresso do show business, onde ficção e realidade se misturam —, as mentiras foram institucionalizadas e rebatizadas de fake news. Ele teve a conta no Twitter suspensa, mas Elon Musk já prometeu devolver-lha. Antes de Trump, as mentiras públicas eram poucas. Nixon foi um ponto fora da curva: mentiu tanto num país de cultura protestante, onde faltar com a verdade é crime, que se viu obrigado a renunciar. Clinton foi impichado não por ter um caso com a estagiária, mas por mentir para o Congresso.

Mas até para mentir é preciso talento. Mentiras em que se percebe a falsidade não colam. Só mentiras sinceras convencem. Lula leva vantagem porque mente melhor, acredita em suas mentiras — chegando mesmo a se debulhar em lágrimas. Bolsonaro mente mal, embora convença seu gado. Mas não deve ser subestimado.

As pessoas só acreditam no que querem acreditar. Uma crônica de Luís Fernando Veríssimo deixa isso claro. E a reproduzo a seguir, ainda que ela nada tenha que ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação no Leste Europeu ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Confiram:

O sujeito estava voltando para casa como fazia todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos — idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas que a vida ainda pode surpreender com um bilhete de loteria premiado ou um pneu furado. Naquele dia, venceu o pneu. O homem encostou o carro no meio-fio e se preparou para a batalha contra o macaco, que provavelmente não funcionaria. Mas funcionou, e ele conseguiu trocar o pneu. Quando já estava fechando porta-malas, sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. No afã de apanhá-la, ele a chutou, e ela mergulhou num bueiro. Desolado, o homem limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e foi para casa pensando no que diria à mulher. Imaginou-se entrando em casa e respondendo às perguntas antes mesmo de a mulher as fazer.

— Você não sabe o que me aconteceu!

— O quê?

— Uma coisa incrível.

— O quê?

— Contando ninguém acredita.

— Conta!

— Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?

— Não.

— Olhe.

E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.

— O que aconteceu?

E ele contaria tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. A aliança desaparecendo no bueiro.

— Que coisa — diria a mulher, calmamente.

— Não é difícil de acreditar?

— Não. É perfeitamente possível.

— Pois é. Eu...

— SEU CRETINO!

— Meu bem...

— Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história que só um imbecil engoliria.

— Mas meu bem...

— Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha! — E ela sairia de casa, com as crianças, sem sequer ouvir as explicações.

Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:

— Que fim levou a sua aliança? E ele disse:

— Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.

Ela fez cara de choro, correu para o quarto e bateu a porta. Reapareceu dez minutos depois. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que, com bom-senso, eles a venceriam.

O mais importante é que você não mentiu pra mim.

E foi terminar de fazer o jantar.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

VERGONHA NACIONAL


Na política não há inocentes, só culpados. E isso vale também para o eleitorado, uma vez que maus políticos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea. 

Vale relembrar a velha anedota segundo a qual o Senhor das Esferas, acusado de protecionismo durante a criação do Mundo por favorecer a porção de terra que futuramente tocaria ao Brasil, assim se pronunciou: "esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá." Dito e feito.

Churchill dizia que a "democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras". Mas que "o melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano. Já o general Figueiredo (que era um sábio e não sabia) disse certa vez que "um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar".

A nefasta dicotomia político-ideológica semeada por Lula et caterva, regada pelos tucanos e estrumada pelo bafo do capetão e seus soldadinhos de chumbo alastrou-se país afora, alcançando, inclusive, as cúpulas dos Poderes. Foi por isso que a parcela pensante do eleitorado apoiou o bolsonarismo boçal em 2018, já que a alternativa era a volta do lulopetismo corrupto. E deu no que deu.

Três anos sob os desmandos de um anormal não foram suficientes para a récua de muares munidos de título de eleitor aprender a lição. A julgar pelas pesquisas, teremos novamente eleições plebiscitárias neste ano, e seremos obrigados — mais uma vez — a apoiar quem não queremos para evitar a vitória de quem queremos menos ainda. 

Resta-nos a esperança de o imprevisto ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, fazendo com que um dos dois “salvadores da pátria” saia de cena. Mas isso é apenas um exercício de futurologia baseado não em fatos, mas na esperança que acalentamos de um futuro melhor.

Desgraçadamente, falta ao Congresso probidade e vergonha na cara. Mas o que esperar de uma instituição composta em grande parte por investigados, denunciados e réus — e os insignes parlamentares que não se enquadram numa dessas categorias certamente viriam a se enquadrar se a alta cúpula do Judiciário não estivesse tomada por defensores atávicos da impunidade? Volto a dizer que quando se dá a chave do galinheiro a uma raposa e ela encarrega outras raposas de investigar o sumiço das galinhas... enfim, acho que deu para entender.

Nossas leis são criadas por políticos que se elegem para roubar, roubam para se reeleger e se escudam no abjeto foro especial por prerrogativa de função. Esqueça a história de que “todos são iguais perante a lei”. Sempre houve, há e continuará havendo “os mais iguais que os outros”. 

Presidente e vice, ministros de Estado, senadores e deputados federais só podem ser processados e julgados no STF, e os eminentes togados são rápidos como guepardos quando se trata de conceder habeas corpus a seus bandidos de estimação, aumentar os próprios salários e conceder a si próprios toda sorte de mordomias, mas lerdos como cágados pernetas na hora de julgar ex-presidentes corruptos e sanguessugas aboletados no parlamento.

Fala-se muito da politização do Supremo, mas os ministros só agem quando são provocados. E são os próprios congressistas, descontentes com essa ou aquela situação, que pedem a interferência dos magistrados em assuntos que caberia ao parlamento decidir. Foi assim com a instalação da CPI do Genocídio, que só seguiu adiante depois que uma liminar do ministro Luís Roberto Barroso pôs fim à fleuma (também chamada de “mineirice”) do presidente do Senado. E esse é só um exemplo.

Não quero dizer com isso o STF não erra. Erra, e muito, até porque os ministros são seres humanos (alguns se julga semideuses, mas isso é outra história). Em dezembro de 1914, em aparte à um discurso do senador Pinheiro Machado, Ruy Barbosa disse que o Supremo pode se dar ao luxo de errar por último. Décadas depois, Nelson Hungria, príncipe dos penalistas brasileiros, fez eco ao “Águia de Haia” dizendo que o STF tem “o supremo privilégio de errar por último”.

Todos os poderes da República são guardas da Constituição. A Administração pode se considerar isenta de cumprir lei inconstitucional, mas jamais estará isenta de cumprir decisões do STF. A menos, é claro, que se mude esse entendimento constitucional.

Não há democracia que funcione sem “toma-lá-dá-cá” se mais de 30 partidos disputam fatias de poder e verbas do Erário. E o apetite dessa escumalha é pantagruélico. Haja vista o valor absurdo que foi estabelecido para o “fundão” eleitoral  dinheiro que é roubado de nós para ajudar a eleger quem vai nos roubar na próxima legislaturaE fodam-se os 14 milhões de desempregados, os não sei quando milhões de brasileiros que não têm dinheiro sequer para uma refeição decente por dia. E assim por diante.

Gastar bilhões para eleger essa caterva quando falta dinheiro para investir em segurança, saúde e educação, por exemplo, é um escárnio. E a divisão desse butim é feita levando em conta, entre outros fatores, os votos para Câmara e Senado recebidos pelos partidos na eleição anterior. Em 2018, o “fundão” foi de cerca de R$ 2 bilhões — pouco mais de um terço do valor estabelecido para as eleições de 2022. 

É muita demagogia qualquer um chegar aqui e dizer que nós não vamos ter um fundo eleitoral público para financiamento das campanhas”, disse o tal deputado-réu que preside a Câmara. “Hoje a única maneira que temos para evitar que tráfico, milícias e contraventores financiem e façam a má-gestão da política é com um financiamento público, claro e transparente.”

Continua...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

A MALDIÇÃO DA REELEIÇÃO



Acusado de protecionismo ao criar o Mundo, por ter favorecido a porção de terra que mais adiante seria o Brasil, o Senhor do Universo assim se justificou: "esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá." 

Segundo Jobim, o Brasil não é para amadores. Churchill dizia que a "democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras" —, mas também que "o melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano". Figueiredo (que era um sábio e não sabia) nos ensinou que "um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar". Deu para entender ou quer que eu soletre?

Dos 13 postulantes à presidência em 2018, quatro — Cabo Daciolo, Guilherme Boulos, Jango Filho e Vera Lucia — formavam um elenco de filme de terror de quinta classe; outros quatro — Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva e José Maria Eymael — eram "arrozes de festa" em eleições presidenciais; e três — João AmoedoHenrique Meirelles e Álvaro Dias — eram alternativas mais interessantes que a marionete do presidiário e o dublê de mau militar e parlamentar medíocre. Mas aí entrou em cena o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim, e deu no que deu.

Em vez chorar o leite derramado, melhor seria aprender com os erros do passado para não os cometer novamente no futuro. Mas seria querer demais da escumalha descerebrada a que se convencionou chamar de "eleitorado". Triste Brasil!

Ciro já foi candidato à Presidência três vezes. A despeito de sua invejável oratória), o cearense de Pindamonhangaba é um populista incorrigível. A ver se terá melhor sorte em 2022 do que em 1998, 2002 e 2018. 

Alckmin era vice de Mário Covas em 2001, e assumiu o governo paulista com a morte do titular. Foi reconduzido ao Palácio dos Bandeirantes em 2002, 2010 e 2014 e concorreu ao Planalto em 2006 e 2018, mas foi derrotado ambas as vezes. Aos 69 anos recém-completados, o picolé de chuchu quer bater asas do ninho tucano e se filiar ao PSB para ser vice na chapa de Lula — ou concorrer (mais uma vez) ao governo do Estado.

Comenta-se que exigências feitas por Kassab têm provocado mal-estar antes mesmo do casamento de papel passado, de modo que o ex-governador não descarta a possibilidade de migrar para o Solidariedade. Qualquer que seja sua decisão, será um fim de carreira melancólico para um político egresso do PMDB, que ajudou a fundar o PSDB e presidiu o tucanato de 2017 a 2019.

Boulos disputou a Presidência em 2018 e perdeu. Disputou prefeitura de Sampa em 2020 e chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Bruno Covas. Jango e Vera não passaram de acidentes de percurso e Daciolo, Marina e Eymael são... Daciolo, Marina e Eymael

O ex-bombeiro desceu do monte para disputar o Planalto em 2018 e (pasmem!) obteve mais votos que a ex-seringueira que sonhava ser freira, mas se elegeu vereadora (1988), deputada (1990), senadora (em 1994 e 2002) e foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula, chegando mesmo a ser cogitada para "poste" em 2010 (mas o desempregado que deu certo achou que a nefelibata da mandioca seria mais fácil de controlar, e cometeu o que muitos consideram seu maior erro de estratégia política). 

Daciolo desceu de novo do monte para disputar o Planalto no ano que vem. Até onde a vista alcança, ele deve subir novamente a montanha em outubro do ano que vem. Glória a Deus e adeus! Marina participou participou das três últimas eleições presidenciais, mas deve ficar fora da próxima, embora não descarte a possiblidade de concorrer ao Senado ou à Câmara Federal (para ajudar seu partido a vencer a cláusula de barreira). 

Eymael — o "democrata cristão" que foi deputado federal de 1986 a 1995 e disputou todas as eleições presidenciais desde 2018 (noves fora a de 2002) não só é pré-candidatíssimo como (pasmem!) diz que "Lula vence todos os pré-candidatos nas pesquisas porque seu nome não está inserido nos levantamentos". Talvez seja coisa da idade (82 anos). Parafraseando a caricata Copélia — protagonizada pela impagável Arlete Salles —, "eu prefiro não comentar".

Para encurtar a conversa, havia em 2018 pelo menos três candidatos que poderíamos ter testado se a dicotomia disseminada pelo demiurgo de Garanhuns e seus jegues amestrados não produzisse a imbecilidade coletiva que escalou os dois extremistas mais extremados do espectro político-ideológico para disputar o segundo turno, colocando numa sinuca de bico a parcela do eleitorado que não geme de dor quando raciocina. 

Claro que havia também a alternativa de anular o voto, votar em branco ou se abster de votar, como fizeram 42 milhões de eleitores que se recusaram a apoiar o "mico" dos bolsomínions — e teriam votado no capeta em pessoa para evitar a volta da roubalheira lulopetista. De novo, deu no que deu.

Com a irreverência que lhe é peculiar, Diogo Mainardi diz que, entre votar em Lula ou Bolsonaro, prefere se atirar do Campanário de São Marcos (para quem não sabe, ele mora na Itália). Para João Amoedo, do Novo, esse cenário equivale a escolher entre morrer afogado ou com um tiro. O deputado Vinicius Poit, também do Novo, vai mais além: "Precisamos de uma outra opção que não seja nem esses dois nem o Ciro, que é outro populista. Eu votaria nulo porque populismo, seja de direita ou de esquerda, não faz bem ao país”. 

E eu assino embaixo.

Continua... 

sábado, 9 de outubro de 2021

NÃO PODE DAR CERTO

 

"Tem de dar certo" é conselho de mãe de miss. Mas a expressão "dar certo" é usada também com a acepção de "produzir bons resultados". E foi com esse sentido em mente que eu intitulei esta sequência sobre o país do futuro que nunca chega porque tem um longo passado pela frente.

Tudo começou milhões de anos antes de Cabral — falo do navegante português, não do ex-governador carioca que por algum motivo continua preso (o fato de ter sido condenado a 400 anos de prisão não é motivo para mofar na cadeia; não no Brasil). 

Depois de transformar o Caos em ordem, criar o dia e a noite, separar as terras das águas, criar as plantas, as aves, os peixes, o Criador fez no sexto dia a maior de todas as burradas: “Agora vamos fazer os seres humanos, que serão como nós, que se parecerão conosco. Eles terão poder sobre os peixes, sobre as aves, sobre os animais domésticos e selvagens e sobre os animais que se arrastam pelo chão”, disse o Senhor das Esferas. E ao ver que "tudo era bom (?!)", Ele abençoou e santificou o sétimo dia e nele descansou. 

Comenta-se que, ao ser acusado de protecionismo devido ao tratamento dispensado à porção global que se tornaria o Brasil, Deus respostou: "vocês vão ver o povinho de merda que eu vou colocar lá". A meu ver, isso resume de maneira lapidar a história da nossa republiqueta de bananas. Mas nunca é demais relembrar alguns aspectos insólitos dessa tragicomédia, a começar pela chegada da esquadra de Cabral ao litoral do que estava destinado a ser a costa da Bahia.

Registram os livros de História que, aos 22 dias do mês de abril do Anno Domini 1.500, depois de ter sido desviada de seu destino original (Calicute, nas Índias Ocidentais), não se sabe ao certo se por uma tempestade ou uma calmaria, a esquadra cabrália aportou na costa brasileira. Em epístola endereçada a D. Manuel, "O Venturoso", comunicando a "descoberta" de terra brasilis, o escriba Pero Vaz de Caminha anotou que "em se plantando tudo dá", e aproveitou o ensejo para rogar a sua majestade que intercedesse em favor do marido da filha, inaugurando a corrupção em solo tupiniquim, ainda que na forma de nepotismo.

O Brasil foi colônia portuguesa até o início do século XIX, quando a família real, ameaçada pelo Tratado de Fontainebleau, mudou-se de mala e cuia para o Rio de Janeiro, depois de uma breve escala em Salvador (BA). Em 1822, D. Pedro I proclamou a independência, e dali a 67 anos o marechal Deodoro da Fonseca pôs fim à monarquia constitucional parlamentarista, apeou o monarca e implementou o presidencialismo republicano como forma de governo, protagonizando o primeiro dos muitos golpes de Estado que se sucederiam a partir de então.

Ao longo da história republicana do Brasil, ao menos quatro presidentes renunciaram — Deodoro da Fonseca, em 1891; Getúlio Dornelles Vargas, em 1945; Jânio da Silva Quadros, em 1960; e Fernando Affonso Collor de Mello, em 1992. Dos cinco que foram eleitos pelo voto direto desde o fim da ditadura militar, Collor e Dilma foram expulsos de campo antes do final do jogo. 

O pseudo caçador de marajás foi alvo de 29 pedidos de impeachment — mas nunca foi chamado de genocidaItamarFHCLula e Temer foram agraciados com 4, 27, 37 e 33 pedidos de impeachment, respectivamente, mas concluíram seus mandatos sem jamais ser chamados de genocidas. Madame foi alvo de 68 pedidos — e acabou penabundada porque estava quebrando o país —, mas ninguém jamais a acusou de genocídio.

Desde que se tornou um\ República, o Brasil amargou 38 presidentes (o número varia de 35 a 44, dependendo de como é feita a contagem). De 1926 para cá houve 25 mandatários, mas somente quatro dos que foram eleitos pelo voto popular concluíram seus mandatos — Eurico Gaspar DutraJuscelino KubitschekLula Fernando Henrique. Seriam seis se Collor e Dilma não tivessem ingressado na seleta confraria dos depostos, onde já se encontravam Washington LuísJúlio PrestesGetúlio Vargas, Carlos Luz, João Goulart.

Fosse esta banânia um país que se desse ao respeito e o mandatário de turno já teria sido devidamente despejado e internado. Pedidos de impeachment não faltam: em fevereiro, quando o deputado-réu Arthur Lira assumiu a presidência da Câmara, havia 60 petições protocoladas em desfavor da permanência do motoqueiro fantasma no Palácio do Planalto. Atualmente, são cerca de 140 — e contando.

Continua...