Escusado detalhar a sucessão de desditas do desgoverno em curso. Passados 18 meses da coroação, o reizinho segue atribuindo ao "infiltrado de Bolsonaro" a culpa por todas as mazelas que o acometeram desde as 10 pragas do Egito. Parece que não aprendeu nada em suas duas gestões anteriores nem nos 580 dias de férias compulsórias que gozou em Curitiba. "Dirige" o país com um olho no retrovisor e outro nas urnas, o que o torna é incapaz de ver o reflexo do verdadeiro culpado no espelho.
Contribuíram para o recuo tático os conselhos de economistas companheiros, que alertaram o reizinho para os efeitos inflacionários da alta do dólar na taxa de juros e, sobretudo, nos humores do eleitorado. Ficou entendido que sua popularidade em 2026 depende da prosperidade que o ministro da Fazenda for capaz de entregar, mas truques novos não ornam com burros velhos, e nosso xamã continua achando que o pescoço de Campos Neto é um ótimo degrau para chegar ao coração da maioria endividada.
Observação: Eu não era fã de Haddad quando ele foi o poste de Lula na prefeitura de Sampa nem (muito menos) quando se sujeitou ao papel de boneco de ventríloquo do então presidiário mais famoso do Brasil. Minha opinião não mudou, mas reconheço seu empenho em convencer o chefe a não guerrear contra a razão.
Depois que "falcatruas" no leilão de arroz puseram a pique seu projeto de autopromoção, Lula tenciona se valer da regulamentação da reforma tributária para propor outra medida populista, qual seja a isenção de impostos sobre a "carne dos pobres". Isso pode até parecer lindo e justo partindo do candidato que prometeu a volta da picanha e da cervejinha do fim de semana, mas faltou explicar como fazer, na prática, para taxar picanha e filé e isentar "pé de frango" e "carne de pescoço".
Interromper os cortes na Selic foi uma decisão unânime do Copom. Nem mesmo os diretores indicados por Lula sucumbiram à pressão, já que guardam na memória a crise econômica que teve início quando Dilma forçou uma redução artificial dos juros. Repetir o erro teria um impacto negativo em suas reputações (presidentes da República vêm e vão, mas diretores do BC precisam zelar por suas carreiras). Começa agora o difícil teste de Gabriel Galípolo como futuro presidente da instituição, que terá de se equilibrar entre decisões técnicas, mercado desconfiado e um mandatário populista e intervencionista.
Falando em intervencionismo, Lula disse que o STF "não pode se meter em tudo". O cenário já era
nebuloso por ocasião do Gilmarpalooza — 12 empresas que participaram do evento em Lisboa tinham processos em andamento no Supremo. Apenas três ministros (Nunes Marques, Cármen Lúcia e Luiz Fux) declinaram do convite. Gilmar Mendes desdenhou do gasto de R$ 1,3 milhão com passagens, hospedagem e outros mimos a pelo menos 78 pessoas, entre servidores, políticos, seguranças, ministros de Estado e membros do Poder Judiciário.
Torçamos para que a democracia que resistiu aos arroubos golpistas de Bolsonaro seja resiliente o bastante para sobreviver a Lula e ao ativismo da cúpula do Judiciário. Mas o que garante essa resistência não é a ação de uns poucos "iluminados", e sim a imprensa independente, as organizações não governamentais, as entidades formadas pelas empresas privadas e a vigilância constante da opinião pública — que barraram o desastroso leilão do arroz estatal e o projeto do Aborto na Câmara.