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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

FATOS, MITOS, BOATOS E TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

ANTES DE FINGIR QUE É INTELIGENTE É PRECISO DEIXAR DE SER BURRO.


Todo fato tem pelo menos três versões: a sua, a minha e a verdadeira. Todos temos direito a nossas próprias versões, mas não a nosso próprios fatos. Qualquer coisa além disso é mito, boato, ou teoria da conspiração. 

 

Mitos são lendas surgidas nos tempos de antanho para explicar a origem do mundo e transmitir crenças sobre o desconhecido e repassadas de geração para geração. Algumas até têm fundamento histórico, mas quem conta um conto aumenta um ponto, donde a possibilidade de elas terem sido adornadas com elementos fantásticos ou exagerados. Cito como exemplo as histórias e tradições que compõem o Velho Testamento, que foram transmitidas oralmente até serem compiladas pelos judeus por volta de 1200 a.C. 

 

Boatos são narrativas criadas a partir de informações não verificadas e espalhados de boca em boca ou por aplicativos de mensagens e postagens nas redes sociais. Alguns até são escorados em fatos reais (como diz o ditado, onde há fumaça há fogo), mas a maioria é falsa, exagerada ou alarmista, e tem como objetivo precípuo denegrir a imagem de alguém ou chocar a opinião pública. 

 

Já as teorias da conspiração (detalhes nesta sequência) visam explicar eventos ou situações de cunho politico ou social por meio de "esquemas secretos" orquestrados por grupos poderosos, que se aproveitam da desconfiança no governo e nas instituições para alimentar a paranoia das pessoas, e o fato de essas narrativas não terem comprovação sustentável não as torna menos atraentes para aqueles que preferem atribuir a culpa pelos próprios fracassos ou sofrem de cegueira mental.

 

Observação: No livro Ensaio sobre a cegueira, que rendeu a José Saramago o Nobel de Literatura em 1998, o escritor português anotou que "a cegueira é uma questão privada entre a pessoa e os olhos com que nasceu", e que "a pior cegueira é a mental", pois torna as pessoas incapazes de reconhecer o que está diante de seus olhos. Isso explica por que tanta gente acredita que Lula é a alma viva mais honesta do Brasil e outros tantos acham que Bolsonaro é um ex-presidente de mostruário perseguido injustamente pelo "Xandão" — e por que o próprio Lula insiste em dizer a Venezuela não é uma ditadura, apenas vive um 'regime desagradável".

 

Convém não confundir teorias da conspiração — que, como o nome indica, se baseiam em suposições ou interpretações subjetivas de evidências circunstanciais e carecem de provas concretas — com "conspirações" — que são tramas verificadas e comprovadas através de investigações, processos judiciais ou revelações públicas. 


Ainda que a Internet leve água ao moinho dos teóricos da conspiração, essas teorias remontam ao primórdios da humanidade e têm se mantido estáveis ao longo dos séculos, como aponta um estudo de mais de 100 mil cartas enviadas por leitores aos jornais The New York Times e The Chicago Tribune entre 1890 e 2010. 
 
Desde julho de 1969, quando a Apollo 11 alunissou e Neil Armstrong e "Buzz" Aldrin caminharam pela primeira vez na superfície lunar, que teóricos da conspiração acusam a agência espacial americana de encenar uma farsa na Area 51. Prova disso, segundo eles, e a suposta "tremulação" da bandeira que foi espetada no solo lunar, já que isso só seria possível se houvesse vento. Na verdade, uma haste metálica foi costurada na borda horizontal superior da bandeira para manter o pano estendido, e seu manuseio pelos astronautas deu a falsa impressão de "tremulação".
 
A ausência de estrelas nas fotos tiradas a partir da Lua deveu-se à configuração das câmeras, que foram ajustadas para capturar a superfície lunar iluminada pelo Sol. Já as "sombras inexplicáveis", atribuídas pelos contestadores ao uso de refletores, resultaram da combinação do solo acidentado com a perspectiva das fotos, e os supostos reflexos de "objetos estranhos" nos visores dos capacetes são consistentes com o equipamento que os astronautas estavam carregado.
 
As missões Apollo foram acompanhadas por observadores independentes que verificaram as transmissões ao vivo e os sinais de rádio vindos da Lua. Além disso, 382 kg de amostras de rochas lunares foram analisadas por cientistas de todo o mundo, e imagens de alta resolução feitas por sondas e telescópios modernos mostram claramente os locais de pouso, incluindo as marcas dos módulos lunares e equipamentos deixados para trás na superfície do satélite.
 
O físico David Grimes, da Universidade de Oxford (UK), concebeu uma equação levando em conta o número de conspiradores envolvidos (411 mil funcionários da NASA) e o tempo transcorrido desde o evento e concluiu que alguém fatalmente teria dado com a língua nos dentes depois de 3,7 anos.
 
Continua...

quinta-feira, 11 de julho de 2024

HOMENAGEM AOS TERRAPLANISTAS

PODE-SE LEVAR UM BURRO ATÉ O RIACHO, MAS NÃO SE PODE OBRIGÁ-LO A BEBER.


Os cientistas acreditavam que o carbono começou a se formar em grandes quantidades 1 bilhão de anos depois do Big Bang, mas o telescópio espacial James Webb permitiu estudar uma das galáxias mais distantes já observadas e descobrir que o elemento não só surgiu bem antes como pode ser o mais antigo do Universo. 
 
O telescópio Hubble proporcionou um formidável salto no conhecimento, mas o LUVOIR (virtual sucessor do Webb) é dezenas de vezes mais potente e capaz de "enxergar" em ultravioleta (além do infravermelho), o que lhe permite identificar sinais de vida nos exoplanetas 
— não homenzinhos verdes com olhos gigantes e pontas dos dedos brilhantes, mas um elo entre a vida como a conhecemos e a parte química que corresponde a sua "composição fundamental". 

Apesar da diversidade do nosso sistema solar, vulcões, oceanos e planícies existentes nos demais planetas são compostos pelos mesmos materiais que formaram o nosso, onde a combinação de elementos inertes deu origem a bactérias, protozoários e organismos mais complexos, que, mais adiante, evoluíram para as plantas e os animais que povoaram a Terra. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

De Gaulle estava certo. Quando o Brasil ainda tentava ser um país sério, a combinação de campanhas eleitorais com inquéritos criminais deixavam partidos e líderes políticos em apuros. Mas isso mudou com Bolsonaro: mesmo virado do avesso por investigações da Polícia Federal, o "mito" dos descerebrados coloca sua "liderança pessoal" a serviço de candidaturas municipais do PL como se nada tivesse sido descoberto contra ele. A PGR cogita de empurrar o próximo capítulo da novela para depois das eleições. Alega-se nos bastidores que o adiamento evitaria que o MPF fosse acusado de tentar influir nas eleições. Essa conversa mole é um atentado contra o direito à informação. Sempre haverá eleitores devotos que não acreditarão nas provas dos malfeitos do "cabo eleitoral de luxo" do PL, mas um eleitor sem cabresto tem o direito de dispor de todos os dados que facilitem a sua escolha, da avaliação dos candidato às denúncias que exponham as vísceras de um cabo eleitoral inelegível.
 
Por volta do século III a.C., 
Aristóteles descobriu que a Terra é redonda e Eratóstenes calculou a circunferência do globo a partir da diferença das sombras em duas cidades próximas. Não consta que o formato do planeta tenha mudado desde então, mas 2% dos norte-americanos se dizem terraplanistas e 5% têm dúvidas sobre a esfericidade da Terra, a despeito das milhares de fotos tiradas do espaço e até da Lua.

Se a Terra fosse tão chata quanto esses muares, os sistemas de navegação por satélite (GPS) não calculariam as posições com precisão, não faria sentido usar fusos horários (já que o dia e a noite só existem porque vivemos num globo que gira em torno do próprio eixo), as rotas mais curtas para os voos internacionais seriam em linha reta (não em círculo máximo), e os belo-horizontinos avistariam as luzes da capital baiana tão facilmente quanto enxergam as estrelas no céu. 

Observação: Como bem observou o escritor português José Saramago (laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1998), o pior tipo de cegueira é a mental

Em pleno século XXI, milhões de desaculturados exóticos questionam do heliocentrismo à força da gravidade, põem em dúvida a existência do espaço sideral e dão ouvidos a teorias conspiratórias sobre a alunissagem da Apollo 11, o assassinato de John F. Kennedy, o 11 de Setembro e a Área 51, entre outras. Fanáticos religiosos pegam em lanças contra ateus, agnósticos e evolucionistas, afirmam que Deus criou o mundo em 6 dias (contados a partir das 9h00 de 23 de outubro de 4004 a.C.) e que as plantas, os animais e os seres continuam exatamente como eram no dia da criação.

Outros tantos abilolados sustentam que Elvis Presley não morreu; que Michel Jackson forjou a própria morte e assumiu a identidade de La Toya; que Paul McCartney foi assassinado e substituído por um sósia; que certo ex-presidiário "descondenado" é a "alma viva mais honesta da galáxia"; que certo ex-presidente golpista é um grande filho da Pátria; que reptilianos dominam o mundo; que vacinas têm microchips; que o 5G causa Covid, e por aí afora.

É fato que todos têm direito às opiniões opiniões, mas fato é que ninguém tem direito aos próprios fatos, e que contra fatos não há argumentos.
 
Continua...

sábado, 15 de junho de 2024

PAU QUE NASCE TORTO MORRE TORTO

  
Em política, como na vida, a melhor hora para mudar e antes de a mudança se tornar compulsória. Lula deveria ter se livrado de Juscelino Filho há tempos. Melhor seria não tê-lo trazido para a Esplanada, pois já se sabia à época que ele havia utilizado emendas orçamentárias em benefício próprio. Mas sempre que a oportunidade de corrigir o erro lhe bate à porta, o parteiro do Brasil Maravilha reclama do barulho e ignora o fato, como faz agora com seu ministro indiciado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. 

Em março de 2023, quando Juscelino já estava pendurado de ponta-cabeça nas manchetes, Lula disse que ele não poderia ficar no governo se não conseguisse provar sua inocência. Mantido no cargo, o elemento virou "padrão de inocência" do terceiro reinado do ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto). 

Há dois meses, a CGU constatou que 80% de uma estrada pavimentada graças a uma emenda do então deputado maranhense — coisa de R$ 7,5 milhões, dinheiro da Codevasf, que foi convertido em ninho de perversões do Centrão desde Bolsonaro. Intimado pela PF a se explicar, Juscelino alegou "perseguição".  Em nova evidência de que não perde a oportunidade de perder oportunidades, Lula tornou a conceder sobrevida ao auxiliar. 

A atitude do presidente é um insulto porque o contribuinte não merece a presença de um indiciado por desviar verbas públicas nas cercanias do cofre; inútil porque o União Brasil, partido do indiciado, não entrega os votos que o governo reivindica no Congresso, e desmoralizante porque a presença do suspeito no governo vai se convertendo num processo de aviltamento da autoridade presidencial.

Na terça-feira 11, Lula autorizou a demissão de Neri Geller de uma secretaria do Ministério da Agricultura por suspeita de irregularidade no leilão para importação de arroz. Ao anunciar o afastamento, o chefe da pasta disse que "o governo não tem compromisso com o erro". Pausa para as gargalhadas. Dois dias depois, ao ser indagado sobre a ruína ética de Juscelino, o demiurgo de Garanhuns insistiu: "ele tem o direito de provar que é inocente".   

Nenhum espelho reflete melhor a imagem de um governante do que as suas contradições. Geller foi ao olho da rua 48 horas antes da abertura do inquérito para apurar a maracutaia do arroz; Juscelino permanece no cargo 24 horas depois de ser indiciado pela PF por corrupção lavagem de dinheiro e organização criminosa. Após avalizar a sensata rigidez imposta a Geller, a alma viva mais honesta do Brasil amenizou: "O fato do cara (sic) ter sido indiciado não significa que cometeu um erro". 

Num inquérito policial, todo mundo é inocente até prova em contrário. Num governo, a presunção de inocência deveria ser vista como uma garantia constitucional móvel. Lula revelou-se precário ao nomear um ministro suspeito e temerário ao manter um ministro investigado. Cada segundo de sobrevida concedido ao indiciado é ultrajante. O que dirá nas fases da denúncia e da ação penal? 

Na Justiça, a inocência é presumida até o trânsito em julgado. Na administração pública, certas biografias recomendam a presunção da culpa.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

NAVEGAR É PRECISO, SER ESPIONADO É OPCIONAL (CONTINUAÇÃO)

INIMIGO DECLARADO É RUIM, MAS FALSO AMIGO É AINDA PIOR.
 
Na impossibilidade de adotar o Safari — que não roda no Windows —, experimente o Firefox. O browser da raposinha era o principal concorrente do IE quando o programa da Microsoft entrou em decadência senil, mas o lançamento do Chrome mudou o curso dos acontecimentos. 

A Fundação Mozilla se monetiza através dos mecanismos de pesquisa definidos por padrão (Google, Yandex e Baidu, dependendo da região), mas não vende dados dos usuários. E a boa proteção contra rastreamento online que o Firefox oferece no modo básico fica ainda melhor com o nível de privacidade elevado ao máximo. E a versão Focus, disponível para Android iOS, é ainda mais segura.
 
Outras opções interessantes são o Opera 
— que conta com VPN integrada, bloqueio de anúncios e a assistente virtual Aria (criada em colaboração com a OpenAI e o Vivaldi  que oferece 20 páginas de telas de configurações e bloqueador integrado de anúncios e rastreadores, além de permitir o uso de diferentes mecanismos de pesquisa tanto em janelas normais quanto privadas. 

Observação: Assim como a Mozilla, a Opera Software e a Vivaldi Technologies são remuneradas pelas buscas dos usuários e cliques nos links inseridos em sua tela inicial, mas ambas garantem que não se envolvem em nenhum tipo de coleta, criação de perfil ou rastreamento de dados do usuário.
 
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Em julho de 2017, o então juiz Sergio Moro sentenciou o então ex-presidente Lula a 9 anos e seis meses de prisão. Em janeiro de 2018, o TRF-4 aumentou a pena para 12 anos e um mês e determinou a prisão do condenado. Três meses depois, Lula foi acomodado numa suíte VIP da carceragem da PF; em novembro de 2019, menos de 24 horas depois de o plenário do STF reverter a jurisprudência sobre a prisão em 2ª instância, ganhou as ruas, subiu no palanque e destilou seu ódio contra Moro, Deus e o mundo para uma claque amestrada que bebeu suas palavras como Rômulo e Remo beberam o leite da loba Capitolina. Mais adiante, o "descondenado" revelou em entrevista que, durante os 580 dias de férias compulsórias em Curitiba, quando as visitas perguntavam ele se estava bem, sua resposta era a sempre a mesma: "Só vou ficar bem quando eu foder com o Moro".
Como juiz da hoje finada Lava-Jato, Moro condenou poderosos. No governo, foi traído por Bolsonaro. Como aspirante a presidente, filiou-se ao Podemos, migrou para o União Brasil e foi sabotado por Luciano Bivar. Candidatou-se a deputado por São Paulo e se elegeu senador pelo Paraná. Em 2021, o STF o considerou parcial na condução dos processos contra "a alma viva mais honesta do Brasil" e anulou as condenações nos casos do tríplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e do Instituto Lula. Mal teve tempo para comemorar a decisão do TSE que rejeitou os peidos de cassação de seu mandato senatorial e, numa decisão crivada de ironias, foi convertido em réu pela 1ª Turma do STF, acusado de caluniar Gilmar Mendes, o todo-poderoso decano da Corte. 
O semideus togado gosta de dizer que "ninguém se livra de pedrada de doido nem de coice de burro". Em 2019, numa sessão plenária da Corte, ele se referiu à turma da Lava-Jato como "gentalha", "gente desqualificada", "despreparada", "covarde", "gângsters", "cretinos", "infelizes", e "reles". Disse que integravam "máfias" e organizações criminosas" e que "força-tarefa é sinônimo de patifaria". Dias antes do julgamento no TSE que ameaçava seu mandato, Moro ouviu do Amon-Rá reencarnado que ele (Moro) e Dallagnol roubavam galinha juntos na Lava-Jato.
Voltando às ironias, a primeira ironia decorre do fato de que o próprio Moro forneceu o material que o encrencou ao participar de uma brincadeira de encarceramento de festa junina. A segunda foi que os ministros Dino e Zanin (ambos indicados por Lula) seguiram o voto da relatora, que também foi acompanhado por Fux e Moraes, e a terceira, que Moro migrou da posição de agredido para a de agressor ao desferir contra Gilmar uma "pedrada de doido" — ou "coice de burro."

Se privacidade é artigo de primeira necessidade para você, não deixe de conhecer o DuckDuckGo, que tem versões para WindowsAndroidiOSmacOS. Os desenvolvedores afirmam que não rastreiam nem traçam traçar o perfil dos usuários; segundo ele, "se você pesquisar carros, nós exibiremos anúncios sobre carros; é simples assim". 
 
O Tor Browser é baseado no Firefox e roda no Windows, Android, macOS e Linux (para iOS, o fabricante recomenda o Onion Browser). O mecanismo de buscas padrão
 DuckDuckGo agrega mais segurança, mas pode ser alterado nas configurações. Seu maior "problema" é a baixa velocidade de navegação, já que todo o tráfego se dá através da rede Tor, mas o Mullvad Browser — que é tipo um"clone" do Tor que não usa a rede Tor, e sim a Mullvad VPN — garante velocidades de conexão que não evocam lembranças do jurássico dial-up.
 
Se um navegador privado "hardcore" não for a sua praia, você pode usar vários navegadores diferentes ao mesmo tempo e variar o equilíbrio entre privacidade e facilidade de navegação de acordo com as circunstâncias. Defina o browser mais seguro como padrão — para que ele abra automaticamente qualquer link em que você clicar — e evite instalar extensões, já que elas são comumente usadas para rastreamento. 

Observação: Os cibercriminosos utilizam técnicas de engenharia social para engabelar as vítimas, mas é possível reduzir os riscos desabilitando o redirecionamento por anúncios no navegador e revendo as permissões concedidas aos apps, que devem ser baixados exclusivamente das lojas oficiais dos fabricantes do aparelho ou do sistema operacional.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

CONSCIÊNCIA E VIDA APÓS A MORTE (PARTE VIII)

NUNCA INTERROMPA SEU INIMIGO QUANDO ELE ESTIVER COMETENDO UM ERRO.

A vida após a morte intriga a humanidade desde priscas eras. Os antigos egípcios acreditavam na jornada do Ka (espírito) para um reino onde os mortos passam a eternidade. Na Grécia, Platão propôs uma metempsicose (transmigração das almas) que sugeria um ciclo contínuo de renascimentos e uma existência além da física. Entre os hinduístas, o conceito de Sansara prega que a vida após a morte é longo caminho até Moksha, onde a alma alcança a purificação e se liberta do ciclo de renascimentos.
 
Relatos envolvendo a permanência do "eu" durante EQMs vêm sendo colecionados e estudados há mais de 150 anos. Além da sensação de "flutuar" fora do corpo, de encontros com parentes mortos ou entidades espirituais e do avistamento de jardins ou túneis com ou sem luz no final, algumas pessoas "ressuscitadas" detalham não só os procedimentos que as trouxeram de volta como as conversas que os médicos tiveram durante a reanimação. 
 
Criado para diferenciar EQMs de simples alucinações ou ilusões e 
ajudar a compreender melhor um fenômeno relatado de maneiras diversas por diferentes culturas, religiões e linhas de pensamento o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, coautor do livro "Ciência da Vida Após a Morte", criou o Modelo de Validação Espiritual, que é baseado em critérios como inefabilidade (incapacidade de descrever completamente a experiência em palavras), novidade (característica incomum à experiência sensorial normal) e transformação (impacto profundo na visão de mundo e valores do indivíduo). 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA.

Culpar o espelho pela imagem que ele reflete ou balança pelo peso que ela indica é o mesmo atirar no portador de más notícias. As coisas são como são, gostemos nós ou não, e Lula não está gostando dos resultados das pesquisas. A questão é que popularidade é como confiança: demora-se a conquistar, mas perde-se da noite para o dia. Mesmo sem novas declarações polêmicas, o percentual de entrevistados que consideram o governo e o governante ruins e inoperantes aumenta a cada levantamento, e muitos associam o xamã do PT à corrupção — marca indelével da qual nem mesmo a ajuda do STF conseguiu livrar a "alma viva mais honesta do Brasil". Para  reverter esse cenário, Lula precisa de boas notícias, mas sem criatividade, olhando para o passado e carente de ideias decentes, só lhe resta rezar por um milagre.
Como se costuma dizer, de nada adianta trocar as rodas da carroça quando o problema é o burro.
 
Segundo Alexander, há quatro tipos de evidências — experiências de quase morte, experiências mediúnicas, memórias de vidas passadas, e aparições — e estudos sobre cada uma delas. No âmbito das EQMs, ele cita um caso publicado no The Lancet envolvendo um paciente que chegou ao hospital praticamente morto, mas foi reanimado e, ao despertar do coma, pediu a um enfermeiro que fosse buscar sua dentadura... que estava exatamente onde o paciente disse que estaria, embora ele não pudesse saber disso. 
Em outro experimento, um médium foi solicitado a colocar um casal em contato com o filho que morrera de câncer aos 11 anos, e, durante a psicografia, o menino fez uma piada com a senha de Internet da família — coisa que o médium não teria como saber. Na avaliação do psiquiatra, a única explicação possível é a de que consciência continua existindo depois que cérebro para de funcionar.

Há milhares de casos de crianças que descrevem o que faziam "em vidas passadas" logo que aprendem a falar. Num deles, uma menina asiática de 3 anos que estava vendo televisão apontou para a imagem de um templo famoso do Sri Lanka, disse que morou naquela região, descreveu um rio que ficava próximo dali e contou que andava de bicicleta quando "um carro grande passou por cima dela". A família investigou e descobriu que havia uma loja de incenso atrás do templo e que um dos funcionários que fazia entregas de bicicleta passou desta para melhor após ter sido atropelado por um caminhão. 

No que tange a "aparições, Alexander cita o caso de um homem que deserdou os filhos, mudou de ideia e fez outro testamento, mas morreu sem ter registrado o documento. Anos depois, ele "apareceu" para um dos filhos e o instruiu a verificar o bolso de seu sobretudo, onde havia um bilhete dizendo que o testamento estava em uma bíblia antiga. O caso foi levado à justiça e dez testemunhas confirmaram que a caligrafia era mesmo do morto.
 
Continua...

terça-feira, 2 de abril de 2024

60º ANIVERSÁRIO DO GOLPE DE `64

 

O golpe de Estado que prefaciou a ditadura militar — aquela que Bolsonaro sempre negou, mas tentou ressuscitar em 2022, e que seu vice classificou de "ditamole" — completou 60 anos no último domingo. O senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República em 1º de abril de 1964, mas episódio entrou para a História com data anterior para evitar associações jocosas com o "dia da mentira". 

Resumindo a ópera em poucas palavras, a renúncia de Jânio e a aversão dos militares a Jango pavimentaram o caminho do golpe, e os subsequentes 21 anos de ditadura deram azo ao surgimento do lulopetismo corrupto e do bolsonarismo boçal (mais detalhes na sequência O desempregado que deu certo). 

Para quem gazeteou as aulas de História, relembro que a Guerra Fria e a Revolução Cubana levaram o sistema político brasileiro do pluralismo moderado ao pluralismo extremamente polarizado, e a situação se agravou com a vitória chapa Jan-Jan (de Jânio e Jango) em 1960. Jânio se elegeu com a promessa de resolver miraculosamente todos os problemas ligados à corrupção e inflação no país, mas, alegando que "forças terríveis" se levantaram contra ele — e apostando que seria reconduzido ao cargo pelo "clamor popular" — despachou Jango para uma missão na China, apresentou sua carta-renúncia e voou para São Paulo levando a faixa presidencial.

Depois de esperar horas na base aérea de Cumbica pelas multidões não apareceram — talvez porque um arranjo urdido nos bastidores impediu que o povo soubesse onde ele estava, ou talvez porque o povo só poderia ser mobilizado por um partido janista se seu líder tivesse permitido sua existência — o populista cachaceiro embarcou para Europa, e o Brasil mergulhou na crise provocada pelo veto à promoção do "vice comunista" a titular.

Na qualidade de presidente da Câmara, o deputado Ranieri Mazzilli assumiu a chefia do Executivo, mas uma junta provisória formada pelos três ministros militares governou o país até 8 de setembro, quando foi implantado o sistema parlamentarista. Com os poderes limitados e tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro, Jango foi autorizado a assumir a presidência como chefe de Estado. 

Curiosidades1) Dali a 24 anos, o primeiro-ministro de Jango se tornaria o primeiro presidente civil pós-ditadura militar. 2) Em 1962, Jânio concorreu ao governo de São Paulo, mas foi derrotado por seu velho desafeto Adhemar de Barros e só voltou a disputar um cargo público em 1985, quando derrotou o tucano Fernando Henrique e o petista Eduardo Suplicy e se elegeu prefeito da capital paulista.

Jango só assumiu o posto a que tinha direito desde a renúncia de Jânio depois que o referendo de 6 de janeiro de 1963 restabeleceu o presidencialismo, mas as tensões se intensificaram quando ele declarou que a reforma agrária era uma questão de honra em seu mandato. Embora não houvesse a menor possibilidade de uma vitória comunista — nem pela via reformista, nem pela luta armada —, parte da elite brasileira bateu às portas dos quartéis, e os militares atenderam prontamente (até porque a doutrina que aprendiam na caserna era a do Ocidente x Pacto de Varsóvia).

Quando a Marcha da Família com Deus pela Liberdade escancarou o apoio civil ao golpe, o Congresso, ameaçado de fechamento, chancelou a derrubada de Jango e a "eleição" do então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas — o marechal Castello Branco —, que deixou o Planalto em 15 de março de 1967 e morreu quatro meses depois, vítima de um acidente de avião no Ceará. Outros quatro generais-ditadores — Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo , se revezaram no poder até 1985, num jogo um jogo de cartas marcadas em que o partido de oposição (MDB) era meramente figurativo. 

Observação: Muitos democratas e liberais apoiaram o golpe achando que os militares voltariam para os quartéis em 1965, quando haveria novas eleições e Juscelino (pelo lado reformista democrático) e Carlos Lacerda (conservador liberal, democrata) disputariam a Presidência. Mas eles não demoram a perceber que os militares, picados pela mosca azul, tencionavam se perpetuar no poder. 
 
A dança das cadeiras dos fardados terminou com a eleição indireta de Tancredo Neves, em janeiro de 1985, que reascendeu a chama da esperança no coração de 130 milhões de brasileiros. Mas a alegria durou pouco: por uma trapaça do destino, o presidente eleito baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e bateu as botas 38 dias e 7 cirurgias depois, deixando de herança um neto que envergonhou o país e um vice que se tornou pai e avô do Centrão
O resto é história recente. 
 
Em 1989, já sob a égide da Constituição Cidadã, os brasileiros voltaram às urnas (depois de um jejum de 29 anos) para escolher seu presidente. Entre os 22 postulantes havia políticos do quilate de Ulysses Guimarães, Mario Covas, Leonel Brizola e Ciro Gomes e aberrações como Enéas Carneiro, Livia Maria Pio e Sílvio Santos, mas o eleitor tupiniquim, sempre pronto a fazer as piores escolhas, escalou Collor (com 30,5% dos votos) e Lula (com 17,2%) para disputar o segundo turno, quando então o pseudo caçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo por 53% a 47%.
 
Durante a campanha, Collor prometeu alvejar o "tigre da inflação" com uma "bala de prata". Eleito, apertou o gatilho um dia antes da posse ao pedir a Sarney que decretasse feriado bancário para que o mercado se adequasse ao conjunto de medidas econômicas mais radical que o país já amargou. Além de congelar preços e salários — a exemplo dos planos Cruzado, Cruzado II e Verão, editados durante o governo Sarney—, o Plano Collor bloqueou todo o dinheiro depositado nos bancos e aplicado no mercado financeiro até o limite de Cr$ 50 mil. Como resultado, o PIB encolheu 4,5% e o número de falências, infartos e suicídios teve um aumento significativo.
 
Plano Collor II aumentou tarifas públicas, decretou o fim do overnight e criou a FAF (Fundo de Aplicações Financeiras) e a TR (Taxa de Referência de Juros), mas a inflação voltou a subir, o desemprego cresceu, estatais foram vendidas a preço de banana e houve um desmonte das ferrovias e cortes de investimentos federais em infraestrutura. Entre o fim do Plano Marcílio e o início do Plano Real a inflação baixou dos 2.000% a.a. para "apenas" 1119,91% a.a. — índice registrado no final de 1992, quando o
 Rei-Sol, autoritário como poucos e corrupto como muitos, foi chutado do Planalto pela porta dos fundos
 
Observação: Ciente de que sua deposição eram favas contadas, Collor renunciou às vésperas do julgamento de seu impeachment — que teve como estopim uma entrevista concedida por Pedro Collor à revista VEJA —, mas o Senado seguiu adiante e o condenou (por 76 votos a 3) à perda do cargo e suspendeu seus direitos políticos por 8 anos.   
 
Com a deposição do "Roxinho", o vice Itamar Franco passou a titular e nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda. Impulsionado pelo sucesso do Plano Real, o tucano se elegeu presidente em 1994, comprou a PEC da reeleição em 1997 e se reelegeu 1998. Como não lhe restavam novos coelhos para tirar da velha cartola, FHC não conseguiu eleger José Serra seu sucessor.A
 vitória de Lula em 2002 marcou o início à era lulopetista, que só foi interrompida em 2016, com o impeachment de Dilma

Com a deposição da gerentona de araque, seu vice foi promovido a titular e se mudou para a residência oficial da Presidência, mas voltou semanas depois para o Jaburu, porque, segundo ele, o Palácio da Alvorada é assombrado. Assim, Michel Temer se tornou o primeiro e único caso documentado de vampiro que tem medo de fantasma. 
 
A troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba: após 13 anos de garranchos verbais de um semianalfabeto e frases desconexas de uma anormal incapaz de juntar sujeito e predicado numa frase que fizesse sentido, um presidente que não só sabia falar como até usava mesóclises pareceu um refrigério. Demais disso, o vampiro do Jaburu
 conseguiu reduzir a inflação (que rodava pelos 10% quando ele assumiu), baixar a Selic e aprovar a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista, mas o ministério de notáveis que prometeu se revelou uma notável agremiação de corruptos, e quando sua conversa de alcova com Joesley Batista veio a público, o sonho de entrar para a história como "o cara que recolocou o Brasil nos eixos" virou o pesadelo de vir a ser "o primeiro presidente no exercício do mandato denunciado por crime comum". 
 
Observação: A tropa de choque capitaneada por Carlos Marun contratou um coral de 251 marafonas para entoar a marcha fúnebre enquanto a segunda "flechada de Janot" era sepultada na Câmara, mas Temer terminou seu mandato-tampão como um "pato manco" — que é como os americanos se referem a políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons lhes servem o café frio. 
 
Em 2018, uma extraordinária conjunção de fatores empurrou para o Planalto um combo de mau militar e parlamentar medíocre que atribuiu a vitória a uma "cagada do bem". Quatro anos depois, derrotado nas urnas, ele exortou seus paus-mandatos a "virar a mesa". Investigado em sete inquéritos, inelegível até 2030 e na bica de ver o sol nascer quadrado, esse dejeto da escória da raça humana aguarda a primeira condenação posando de perseguido. 
 
A retomada democrática instituída em 1985 com a eleição do presidente "Viúva Porcina" (que foi sem nunca ter sido) e sacramentada em 1988 pela promulgação da Constituição Cidadã não exorcizou os fantasmas da ditadura. No último dia 29, o STF começou a julgar em plenário virtual os limites da atuação das FFAA estabelecidos no Art. 142 da CF (o ministro Luiz Fux, relator da encrenca, já votou pelo sepultamento da tese de que os fardados são o "poder moderador" da República).

Para evitar atritos com as Forças Armadas, Lula vetou qualquer ação alusiva ao golpe de '64, mas sete dos 38 ministros foram às redes sociais prestar homenagens aos "desaparecidos" dos anos de chumbo
Lobotomizados pela polarização semeada pelo "nós contra eles" do xamã petista e estrumada pela extrema-direita radical que saiu do armário durante a campanha de 2018, os devotos do bolsonarismo, vítimas da pior espécie de cegueira, consideram seu "mito" um ex-presidente de mostruário perseguido injustamente por "Xandão", como deixou claro a manifestação de 25 de fevereiro passado.

Observação: Claro que muita gente reza (ou finge rezar) por essa cartilha devido a interesses escusos, da mesma forma e pelos mesmos motivos que muita gente finge acreditar que Lula é a alma viva mais honesta do Universo e que sua prisão "foi uma armação, um dos maiores erros judiciários da história do país". Mas isso é outra conversa. 
 
Em face de todo o exposto, não há o que celebrar em 31 de março (nem em 1 de abril, a não ser o "dia da mentira"). Comemorar a instalação de uma ditadura que fechou instituições democráticas e censurou a imprensa é permitir que ódios do passado envenenem (ainda mais) o presente e destruam o futuro.