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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 50ª PARTE (AINDA SOBRE OVNIS)

ONDE HÁ FUMAÇA HÁ FOGO.

Suspeitas de que alienígenas visitam a Terra não vêm de hoje (vide capítulo 40). Há inúmeros relatos de avistamentos de OVNIs — acrônimo de "objetos voadores não identificados" —, mas faltam argumentos convincentes de que se trata de balões meteorológicos, drones ou projetos desenvolvidos em segredo pelos EUA, Rússia ou China. 

 

Observação: O acrônimo UFO — de "unidentified flying object" — deu lugar a UAP — de "unidentified anomalous phenomena" —, mas a explicação oficial ainda é a mesma na maioria dos casos, ou seja, que não necessariamente têm origem extraterrestre. Até recentemente, os UAPs eram classificados oficialmente como fenômenos atmosféricos mal interpretados ou alucinações coletivas fomentadas por teorias da conspiração, mas, aos poucos, o entendimento das autoridades vem mudando (mais detalhes no capítulo anterior).


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Quando um quer, dois brigam. Quando dois querem, aí mesmo é que o pau come. Ninguém sabe qual vai ser o resultado da próxima sucessão. Mas parece claro que a Presidência da República vai ser disputada em 2026 a paus e pedras. 

Os dois lados ruminam certas dúvidas, nenhuma delas certa. Lula subiu nas penúltimas pesquisas, mas não disparou. Os rivais estão zonzos, mas não morreram. A incerteza deveria conduzir ao diálogo, não à desavença.

A eleição presidencial ainda mora longe. O desalinho das contas nacionais mora ao lado. Seja quem for o eleito, terá que lidar com um buraco de mais de 92% de despesas obrigatórias consumindo todo quase todo o dinheiro arrecadado com impostos.

Se a briga prematura de governo e oposição serve para alguma coisa é para cavar um buraco ainda maior.

 

Eventos famosos, como o Projeto Mogul — que usava balões metálicos para espionagem — foram atribuídos a programas militares secretos. A existência de naves alienígenas acidentadas jamais foi confirmada oficialmente, mas tampouco se conseguiu explicar a capacidade de pairar no ar como helicópteros e acelerar a velocidades hipersônicas desses objetos, que parecem ser muito mais avançados que qualquer coisa construída neste planeta. 

 

O célebre Caso Roswell merece destaque especial. Em 1947, o Roswell Army Air Field reconheceu que um "disco voador" havia caído na área rural da cidade de Roswell, no Novo México (EUA). Num segundo comunicado à imprensa, a nova versão dizia tratar-se de um balão meteorológico. O episódio transformou a cidade em ícone da ufologia e a Area 51, em palco de teorias conspiratórias envolvendo naves e seres alienígenas. Décadas depois, Bill Clinton determinou uma investigação federal sobre "o que estava acontecendo lá", e a CIA finalmente reconheceu a existência da base militar no deserto de Nevada, mas assegurou que ela era usada apenas em projetos secretos de vigilância aérea. 

 

Em 2010, dezenas de oficiais norte-americanos avistaram objetos não identificados pairando sobre silos de mísseis nucleares na Base Aérea de Malmstrom, em Montana. O ex-capitão Robert Salas relatou ter ficado a poucos metros de uma nave vermelha, brilhante, que flutuava acima do portão da frente da instalação. No Brasil, o caso Trindade, a Operação Prato e o ET de Varginha são exemplos emblemáticos de contatos imediatos de diversos graus.

 

Radares não têm crença, mas, afora os documentos oficiais e fotografias de UAPs — que são alvo de escrutínio constante por meio de ferramentas de análise de imagens —, as evidências com que os ufólogos trabalham são, em sua maioria, testemunhos pessoais submetidos a testes de confiabilidade pelos próprios ufólogos, que não raro conduzem a novas perguntas. Segundo o autor da tese "Objetos intangíveis: ufologia, ciência e segredo", a ufologia toma emprestados elementos das diversas disciplinas científicas, mas utiliza seus próprios métodos e questiona a ciência por ignorar relatos sobre os avistamentos que teriam potencial para fazê-la "progredir". 

 

É fato que a NASA colocou astronautas na Lua e enviou sondas para o espaço interestelar. Mas também é fato que nenhuma tecnologia desenvolvida até agora permitiu cruzar o cosmos a velocidades próximas à da luz ou criar atalhos no espaço-tempo através dos quais seja possível percorrer milhões ou bilhões de quilômetros em questão de minutos (ao menos até onde sabemos). No entanto, já dizia o poeta que não há nada como o tempo para passar. Os físicos trabalham atualmente com modelos teóricos que incluem buracos de minhoca, dilatação temporal e até universos paralelos — ideias tão ousadas foi a possibilidade de cruzar o mar sem cair da borda do mundo durante as Grandes Navegações. Talvez ainda estejamos na era das caravelas da física temporal, mas quem sabe o que o "Concorde da cronologia" nos trará nos próximos séculos?

 

No livro Eram os Deuses Astronautas? (1968), Erich von Däniken oferece explicações intrigantes para diversos enigmas que a história não conseguiu elucidar. Segundo sua Teoria dos Antigos Astronautas, alienígenas visitam a Terra há milhares de anos, e foram tomados como "deuses" pelos antigos egípcios, gregos, maias e outros povos, como evidenciam pinturas e esculturas encontrada por arqueólogos. "Autores "sérios" como Pierre Houdin e Bob Brier atribuem ao trabalho do pesquisador suíço a pecha de “pseudociência”, mas talvez haja uma ponta de inveja nessa crítica, considerando que os livros do “pseudocientista” foram traduzidos para mais de 30 idiomas, venderam dezenas de milhões de cópias e inspiraram a popular série Alienígenas do Passado, do History Channel.

 

Cada um pode acreditar no que bem entender — da probidade da autoproclamada "alma viva mais honesta do Brasil" ao "patriotismo" do penúltimo inquilino do Palácio do Planalto; da planicidade da Terra à existência de seres reptilianos que habitam as profundezas do planeta. Eu, a exemplo de São Tomé (que só acreditou na ressureição de Cristo depois de ver e tocar em suas chagas), prefiro ver para crer. Entre narrativas religiosas que tentam explicar mistérios que as próprias religiões não entendem, e teorias baseadas em evidências levantadas pela ciência, eu prefiro estas àquelas. 

 

Entre os anos de 1948 e 1968, o Projeto Blue Book identificou 1.268 relatos de UFOs, dos quais 701 permanecem envoltos em mistério. E o mesmo se aplica a 143 dos 144 avistamentos que o Pentágono registrou nas últimas duas décadas. Um ex-diretor do AATIP — entregou ao The New York Times vídeos gravados por caças da Marinha em 2004, 2014 e 2015. Num deles, que ficou conhecido como Incidente Nimitz, um objeto oval sem asas nem propulsores visíveis executava manobras aparentemente impossíveis do ponto de vista aerodinâmico. 

 

Um relatório produzido pela ODNI catalogou 510 casos de UAPs. Dos 366 que foram investigados, 26 eram sistemas de aeronaves não tripuladas (UAS) ou drones, 163 eram balões ou "artefatos semelhantes a balões", meia dúzia foi considerada "desordem” (como pássaros, sacolas plásticas de compras flutuando no ar, e por aí vai) e 171 foram classificados como avistamentos de UAPs "não caracterizados e não atribuídos (sobretudo os que demonstram características de voo incomuns ou capacidades de desempenho que requerem análises mais aprofundadas).  

 

Em um episódio da série Unidentified com Demi Lovato, a própria apresentadora disse que foi abduzida por alienígenas. A modelo brasileira Isabeli Fontana relatou uma experiência inusitada durante a gravidez. Fábio Jr. contou à revista IstoÉ que viu duas naves pairando sobre seu carro. A ex-BBB Flávia Viana disse ter avistado um OVNI na cidade mineira de Três Pontas. O ator Rodrigo Andrade compartilhou em suas redes sociais um vídeo no qual um "objeto luminoso" acompanhou o avião em que ele viajava por cerca de 25 minutos — e que mudou de cor e de tamanho várias vezes antes de desaparecer. 

 

O jornalista e apresentador Amaury Jr contou que já avistou mais de 40 objetos esféricos e em forma de prato em sítio, no município paulista de Vinhedo. A cantora Elba Ramalho revelou ter sido "chipada" por extraterrestres enquanto dormia. Suzana Alves — mais conhecida como Tiazinha — filmou um OVNI na Marginal Pinheiros, em São Paulo, por cerca de 30 segundos. Tarcísio Meira contou que ele, a mulher e outras seis pessoas testemunharam quatro objetos voando em formação assimétrica que ficaram parados por cerca de um minuto antes de desaparecer. O cantor Xororó observou uma nave com uma luz bem forte quando dirigia por uma estrada do interior de São Paulo, e disse que teria parado e tentado um contato se sua mulher e os filhos não estivessem no carro com ele. 

 

Observação: Não sei se esses depoimentos são confiáveis, mas sei que passei por uma experiência semelhante à do sertanejo nos anos 1960, quando passava férias no sítio dos meus avós, numa bucólica cidadezinha do interior paulista. Um primo que estava comigo também viu a luz, que continuou sobre nós enquanto fugíamos em desabalada carreira, e então se tornou um pontinho no céu e desapareceu. Voltei ao sítio outras vezes em outros anos, mas nunca vi nada parecido. Reencontrei esse primo uma dezena de vezes nos últimos 60 anos, mas, curiosamente, nunca falamos no assunto.   

 

Durante um conversa descontraída com alguns colegas do Los Alamos National Laboratory, em 1950, o físico italiano Enrico Fermi levantou a seguinte questão: "Onde está todo mundo?" Um quarto de século depois, em seu único livro de ficção — Contact —, o astrofísico Carl Sagan escreveu "The universe is a pretty big place. If it's just us, seems like an awful waste of space" (O universo é um lugar muito grande. Se somos só nós, parece um terrível desperdício de espaço). E com efeito. 

 

Em condições ideais (noite sem lua, com atmosfera limpa e seca e sem poluição luminosa), conseguimos avistar de 2.500 a 3.000 estrelas no céu noturno. Considerando que enxergamos apenas metade da esfera celeste de cada vez, o total de estrelas visíveis a olho nu fica entre 5.000 e 6.000, mas estima-se que existam cerca de 100 bilhões de galáxias no Universo, as menores com alguns milhões de estrelas e as maiores com centenas de bilhões. Nem todos esses dez sextilhões de "sóis" têm planetas girando a seu redor, mas boa parte deles é orbitada.

 

Depois que o primeiro exoplaneta foi avistado (há cerca de 30 anos), outros milhares foram sendo observados não só em sistemas solares semelhantes ao nosso, mas também orbitando anãs vermelhas e estrelas de nêutrons ultradensas. Em 2022, o Projeto TESS confirmou a existência de cerca de 5.000 exoplanetas — atualmente, entre confirmados e aguardando confirmação, são mais de 8.000. Somente na Via Láctea há centenas de bilhões de "mundos" sobre os quais quase nada sabemos. 


Observação: Há desde mundos pequenos e rochosos, como a Terra, e gigantes gasosos maiores que Júpiter, como os assim chamados “Júpiteres quentes” — corpos celestes com semelhanças físicas com Júpiter, mas que orbitam muito mais próximos de suas estrelas, donde sua natureza "quente". Há ainda as “superterras” — planetas rochosos maiores que a Terra —, os "mininetunos" — versões menores que o "nosso" Netuno —, planetas que orbitam duas estrelas ao mesmo tempo ou que giram em torno de restos colapsados de estrelas mortas. O Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, cujo lançamento está previsto para 2027, descobrirá novos exoplanetas, e Missão ARIEL, prevista para 2029, analisará as atmosferas dos exoplanetas com base em suas nuvens e neblinas.

 

Se formos um pouco mais além e consideramos que algumas hipotéticas civilizações sejam mais desenvolvidas que a nossa, como negar a possibilidade de extraterrestres viajarem pelo cosmos em busca de outros mundos? O surgimento de vida (da forma como a conhecemos) é um processo complexo, que precisa superar inúmeras barreiras, sobretudo quanto tomamos a Terra como exemplo de "planeta habitável típico". Por outro lado, se outras civilizações alcançaram um estágio de desenvolvimento semelhante ao nosso, por que não conseguimos detectar sinais de rádio ou de outro tipo de tecnologia alienígena avançada, como os que somos capazes de produzir?

 

Entre o silêncio das estrelas e o burburinho das teorias, o mistério persiste. E the answer, my friend, is blowing in the wind.

 

Continua...

domingo, 17 de agosto de 2025

TAGLIOLINI AO LIMÃO

NÃO DEIXE PARA AMANHÃ A MACARRONADA QUE VOCÊ PODE COMER HOJE.

Churrasco é tudo de bom, mas macarronada e almoço de domingo ornam tão bem como pizza e jantar de sexta-feira. 

Pizzas podem ter as mais diversas coberturas, mas o que define a macarronada é o formato da massa e o molho. 

A receita de hoje requer poucos ingredientes. Para servir duas pessoas, você vai precisar de:

— 150 g de massa; 

— 2 limões-sicilianos grandes;

— 75 g de manteiga; 

— Folhas frescas de manjericão e de limoeiro; 

— Sal e pimenta a gosto. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

No final de 2022, o Brasil flertou com o abismo da ruptura institucional. A maioria do eleitorado se negou a fornecer um novo mandato ao grotesco, e paisanos e fardados que se supunham inatingíveis roçam as grades, mas o golpismo bolsonarista e a cleptocracia nutrida com as verbas federais das emendas ora se unem ostensivamente para recolocar a história na contramão.

A psicanálise ensina que é difícil curar as neuroses de quem deseja o mal que o aflige — como demonstram as eleições presidenciais de 1998 para cá. E como se não bastasse termos de votar num lunático despirocado para impedir a vitória de um bonifrate de presidiário — e depois votar no ex-presidiário para evitar mais quatro anos (ou sabe-se lá quantos) sob a égide do lunático despirocado —,  vemos Eduardo Bolsonaro, cavalgando o mandato de deputado federal como um patriota do avesso, cobrar da Casa Branca novas sanções para livrar seu papai da cadeia, e o "mito", com a pose de vítima envernizada pela chantagem tarifária, reiterar que não houve tentativa de golpe — embora venha movendo mundos e fundos em prol de uma improvável anistia. 

A minoria que não sucumbiu à polarização sabe que Lula não é a alma viva mais honesta do Brasil e que sua autoproclamada absolvição não passa de cantilena para dormitar bovinos. Alguns fazem uma boa ideia do que o país poderia ter se tornado se o golpe tivesse prosperado — uma nação desatinada para a qual nem as piores violências do passado pós-64 haviam preparado a sociedade e da qual nada a redimiria. 

À medida que se aproximam as sentenças, tenta-se criar um Brasil alternativo tão inimaginável quanto o da fantasia do golpe jamais tentado, onde se aceita a tese esdrúxula de que tudo não passou de um debate inocente sobre alternativas constitucionais para evitar a volta do bicho-papão do "comunismo". Até governadores com pretensões presidenciais decidiram atuar como coadjuvantes nessa ficção que, por inverossímil, nenhum autor de novela assinaria. 

Vitaminados pelo oportunismo da banda larápia do Congresso, os golpistas rejeitam a ideia de aceitar a soberania popular e a honestidade como valores civilizatórios, e assim testam a resistência do próprio regime democrático. Nenhuma outra democracia do mundo oferece tantas opções ideológicas como as que existem por aqui. Há espaço para quase tudo, exceto para golpistas camuflados de patriotas.

O preparo é simples:

  1. Enquanto ferve água salata come il mare para cozinhar o macarrão al dente (mais detalhes nesta postagem), lave os limões, raspe a parte amarela da casca (evite a parte branca, para não amargar), esprema e coe o sumo.

  2. Lave as folhas de limão em água fria, seque com papel-toalha, leve-as ao micro-ondas por 30 segundos na potência máxima e triture com os dedos (ou use as costas de uma colher para passá-las por uma peneira até obter um pó aromático).

  3. Derreta 2/3 da manteiga em fogo baixo, adicione as raspas de limão e uma pequena concha da água do cozimento da massa; deixe cozinhar por cerca de 1 minuto e retire as raspas com uma escumadeira.

  4. Escorra a massa, transfira para a panela do molho, junte o sumo e as raspas dos limões, os 25 g de manteiga restantes, acrescente uma concha da água do cozimento e mexa delicadamente, até formar um molho cremoso que envolva completamente a massa. Sirva em seguida, em pratos individuais.

  5. Finalize com o pó de folha de limão, as folhas de manjericão picadas e um fiozinho de azeite extravirgem. Para um toque ainda mais elegante, polvilhe pimenta-do-reino moída na hora e decore com raspas extras de limão-siciliano

Dica: O macarrão indicado para esse molho é o tagliolini — massa de ovos longa e fina, típica do norte da Itália. Mas você pode substituí-lo por fettuccine ou talharim, que são mais fáceis de encontrar nos supermercados. Se quiser fazer a massa em casa, confira as sugestões deste post.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

A QUINTESSÊNCIA DA PARVOÍCE

MAIS VALE ACENDER A VELA QUE AMALDIÇOAR A ESCURIDÃO. 

Einstein estava coberto de razão quando disse (se é que disse) que o Universo e a estupidez humana são infinitos. Além de estúpidas, as pessoas são eternamente insatisfeitas. Muitas reclamam pelo simples prazer de reclamar; outras, por não saberem que o ótimo é inimigo do bom, que a perfeição é um ideal e a imperfeição, a realidade; que nem sempre se alcança a excelência perseguindo a perfeição; e que "bom o bastante" já está de bom tamanho. Isso sem falar na seleta confraria dos "saudosistas". 


Ter saudade dos bons momentos que se foram — não voltam mais, a menos que as viagens no tempo se tornem realidade — é uma coisa; dizer que a vida era melhor nos tempos da ditadura é outra. Sobretudo quando quem declama essa "pérola do nonsense" nasceu depois de 1985. Em Ensaio sobre a cegueira, José Saramago — Nobel de Literatura em 1998 — anotou que o pior tipo de cegueira é a mental. Isso explica por que os eleitores brasileiros fazem a cada dois anos o que Pandora fez uma única vez. Ou por que milhares de lunáticos são favoráveis à anistia de Bolsonaro — quiçá o pior mandatário desde Tomé de Souza. Ou por que outros tantos acreditam que a autoproclamada alma viva mais honesta do Brasil foi declarada inocente — quando, na verdade, suas condenações transitadas em julgado foram anuladas a pretexto de uma suposta incompetência territorial que o ministro Fachin, relator dos processos da finada Lava-Jato no STF, já havia rejeitado uma dezena de vezes.

 

Depois do golpe de 1964 e dos subsequentes 21 anos de ditadura, os brasileiros reconquistaram o direito de votar para presidente. Em 1989, a despeito de nomes como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola e Mário Covas figurarem entre os 22 itens do cardápio, Collor e Lula foram escolhidos para disputar o segundo turno. O pseudocaçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo, mas foi impichado em 1992. Fernando Henrique derrotou Lula em 1994 e 1998, mas a vitória deste sobre José Serra em 2002 deu início a 13 anos, quatro meses e 12 dias de jugo lulopetista.

 

Em 2018, um combo de mau militar e parlamentar medíocre, travestido de patriota e empunhando a bandeira de salvador da pátria, foi eleito para evitar que o Brasil fosse presidido pelo preposto-bonifrate do então presidiário mais famoso do país. Acabou que sua péssima administração e seu viés golpista deram azo à "descondenação" do xamã petista, que retornou ao Palácio do Planalto em 2023 porque reeleger Bolsonaro seria ainda pior. Em qualquer democracia que se desse ao respeito, esse refugo da escória da humanidade teria sido deposto da Presidência. Mas faltou combinar com os chefes de turno da Câmara — Rodrigo Maia e Arthur Lira arquivaram mais de 140 pedidos de impeachment — e com o antiprocurador-geral Augusto Aras — que fez ouvidos moucos a dezenas de denúncias por crimes comuns durante a pandemia de Covid. E deu no que está dando.

 

Inconformado com a derrota nas urnas, Bolsonaro articulou um golpe de Estado para se perpetuar no poder. A intentona não prosperou por falta de adesão incondicional das Forças Armadas, mas o Estado Democrático de Direito, gravemente ferido, ainda amarga as sequelas do golpe fracassado e do funesto 8 de janeiro. O uso da tornozeleira eletrônica e as demais medidas cautelares impostas pelo STF deixaram-no a um passo de uma eventual prisão preventiva. O julgamento que decidirá seu futuro (bem como o de sete integrantes do alto comando do golpe) deve ocorrer no mês que vem, e a condenação (que pode ultrapassar 40 anos de reclusão) é tida como favas contadas.


Observação: Moraes finalmente decretou a prisão domiciliar do imbrochável, incomível, imorrível e inelegível aspirante a golpista. Como ele não poderá sair de casa nem mesmo antes das 19h, nossas ruas ficarão mais seguras. Ou nem tanto: bolsonaristas despirocados saíram em carreata por avenidas de Brasília e proveram um "buzinaço", ontem à noite, defronte à residência do "mito" no bairro Jardim Botânico (DF). Visando preparar a opinião pública para a notícia e evitar fornecer matéria-prima para vitimismo do capetão, o ministro decidiu conduzir o réu à cadeia em suaves prestações. 

Não restam dúvidas de que Bolsonaro escarneceu da Justiça e desrespeitou as medidas cautelares inicialmente impostas por Xandão. Zero um — também conhecido como "senador das rachadinhas e mansões milionárias" — assumiu a responsabilidade pela divulgação das imagens e o áudio, mesmo tendo sido alertado pelos advogados para o risco de o estratagema não funcionar. Zero dois — tido como pitbull do clã e ex-comandante do "gabinete do ódio" — teve um piripaque quando soube da prisão do pai e foi atendido em um hospital da Barra da Tijuca (zona sul carioca). Mas e daí? Eu não sou coveiro... 

O descumprimento foi de uma clareza meridiana, mas a polarização divide os brasileiros em dois grupos que apoiam seus respectivos bandidos de estimação — aquele que foi "descondenado" e aquele que está aguardando a sentença. Assim, não faltarão críticos à decisão de Moraes. 


Ainda assim, milhares de lunáticos descerebrados continuam atendendo aos chamados do pastor Silas Malafaia, do presidente do PL e do líder do partido na Câmara. No último domingo, cerca de 37 mil abilolados ocuparam duas quadras da mais paulista das avenidas para pugnar por uma inconcebível e inadmissível anistia — bem menos que os 185 mil de fevereiro de 2024, mas mais que o dobro dos que compareceram ao ato de 29 de junho deste ano na mesma avenida. E como nada é tão ruim que não passa piorar, 33 senadores são favoráveis ao impeachment de Alexandre de Moraes, 29 são contra e 19 seguem indecisos (segundo levantamento feito por sites alinhados com a direita radical). 

 

Nos 134 anos de história do STF, nunca um ministro perdeu a toga por causa de um processo de impeachment — mas para tudo há uma primeira vez. Some-se a isso as ações do filho 03 do ex-presidente e do neto do último ditador do regime militar, que resultaram no "tarifaço" decretado pelo chefe da Casa Branca contra o Brasil — não por razões econômicas, mas como retaliação pela suposta “caça às bruxas” que o STF estaria promovendo contra Bolsonaro, seus cúmplices e demais "milicianos" da direita radical.

 

As sanções impostas ao Brasil e o cerco financeiro a Moraes — passível de ser estendido a outros ministros do STF — demonstram que não se pode desdenhar da aptidão de certos seres deformados para produzir o mal, além de evidenciarem que é justo — e até “ameno” — o rigor da Corte com uma escória que foi capaz de engendrar planos de prisão e assassinatos para tentar não só contrariar a vontade popular expressa em eleição livre, mas também derrubar os preceitos de democracia reconquistada a duríssimas penas.

 

O “Brasil acima de tudo” é uma balela, como restou demonstrado na ofensiva da direita extremada liderada por Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo. Os dois foram subestimados enquanto a crítica à rigidez do STF, da PF e da PGR na condução da investigação e do julgamento dos crimes de lesa-pátria foi superdimensionada. Mas nunca é tarde para corrigir o rumo da abordagem dos acontecimentos que desembocam num fato: de um lado, há infratores; de outro, operadores da lei. Não é difícil escolher junto a qual tipo de vizinhança devemos nos postar.

 

A Justiça, ainda que cega, tem seus meios — e a política, ainda que polarizada, seus próprios métodos — para extirpar de seu seio os criminosos de alto coturno. A despeito do êxito momentâneo dos conspiradores, o efeito pode ser temporário se os brasileiros conseguirem reconhecer o risco de dar asas a cobras que, tratadas com complacência, voltarão a atacar. Resta ao eleitorado primar pelo discernimento na hora do voto, deixando Pandora e sua caixa na mitologia grega, que é o lugar ao qual elas pertencem.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

MAIS MITOS SOBRE CELULARES, BATERIAS E RECARGAS

A LEALDADE É CONSEQUÊNCIA DA LIDERANÇA, E A LIDERANÇA, CONSEQUÊNCIA DA COMPETÊNCIA.

São vários e diversos os mitos antigos que continuam circulando por aí como se fossem a última palavra em tecnologia, embora sua validade tenha vencido há anos — ou décadas. No post anterior, mencionei algumas dicas que faziam sentido na era das baterias de níquel-cádmio dos dumbphones, mas hoje são inócuas — quando não prejudiciais — diante das baterias de íons ou polímeros de lítio presentes na maioria dos smartphones modernos.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

O acordo de colaboração homologado por Alexandre de Moraes em 2023 previa que Mauro Cid obteria o "perdão judicial" ou uma pena mixuruca de dois anos de prisão, em regime inicialmente aberto. Entretanto, à medida que as apurações avançavam, a PF se deu conta de que o ex-ajudante de ordens dava informações a conta-gotas, e só gotejava quando era espremido pela descoberta de suas omissões e contradições.

Nas alegações finais, Gonet tratou Cid como um delator contraditório, omisso e seletivo. Trocou o "perdão judicial" por uma eventual premiação fixada em "patamar mínimo" — diminuição de apenas um terço da pena. Na ponta do lápis, os cinco crimes atribuídos ao ex-ajudante de ordens do ex-presidente golpista podem resultar numa pena máxima de 43 anos de prisão. Aplicando-se o prêmio no  patamar sugerido por Gonet, o castigo cairia para algo como 29 anos. Se isso se confirmar, além de ir em cana, o tenente-coronel seria expulso do Exército.

Durante uma sessão da primeira turma do STF, o ministro Luz Fux resumiu a ópera: "Nove delações representam nenhuma delação". Cármen Lúcia e Cristiano Zanin também acenaram com a perspectiva de rebaixar a premiação de Cid — que, podendo elevar a própria estatura, preferiu encolher o próprio prêmio.

Quanto maior a amperagem da bateria — expressa em miliampere-hora (mAh) —, maior tende a ser sua autonomia. No entanto, o consumo energético do aparelho varia conforme as exigências do hardware, as configurações do sistema, a quantidade de aplicativos instalados e o modo como eles são utilizados. Se duas pessoas têm celulares idênticos, mas uma é heavy user e a outra só usa o aparelho para chamadas de voz, a bateria desta pode durar dois ou três dias, enquanto a daquela pode precisar de recarga duas vezes por dia.

 

Outro mito comum é a alegada segurança provida pela navegação anônima (in private). Embora esse modo evite o registro local do histórico, cookies e dados de formulários, os sites acessados, o navegador (e suas extensões), o provedor de internet, o administrador da rede (se houver) e sistemas de publicidade e rastreamento ainda conseguem identificar o usuário. Anonimato de verdade, como manda o figurino, só mesmo com o uso de ferramentas como o uso do Tor Browser ou de VPNs, que criptografam os dados e ocultam o IP dos sites acessados.

 

Assim como a frequência de operação não é o único fator que define o desempenho de um processador — um PC com CPU modesta e bastante RAM pode ser mais ágil que outro com processador de ponta e pouca memória —, a quantidade de megapixels não é sinônimo de qualidade fotográfica, pois ela depende também do tamanho do sensor, da abertura da lente, do processamento de imagem e até das condições de iluminação no momento do clique.

 

Com sua base de usuários gigantesca, o Windows virou alvo preferencial de vírus, crackers e cibercriminosos em geral. Despeitados, linuxistas e macmaníacos apelidaram o sistema da Microsoft de “ruíndows”, “peneira” e “colcha de retalhos”, e chegaram a chamar a versão NT de "nice try" (boa tentativa). Mas acreditar que os sistemas da Apple são muralhas intransponíveis é o mesmo que acreditar que Lula é a alma viva mais honesta do Brasil e Bolsonaro, um ex-presidente de mostruário que vem sendo perseguido injustamente por "Xandão" e seus pares togados.

 

Observação: Nos sistemas da Apple, os apps são executados em sandboxes — ambientes isolados que limitam a interação entre apps, dificultando ações maliciosas. Mas essa proteção também impede que antivírus tradicionais funcionem como deveriam, já que não conseguem monitorar o comportamento dos outros apps. A Apple não recomenda soluções de terceiros, mas é prudente usar ferramentas com funções antiphishing e antirrastreamento.

 

Ver todas as barrinhas de sinal cheias dá a impressão de que a internet vai voar baixo, mas esse ícone indica apenas a força do sinal da operadora. A qualidade da conexão móvel (3G/4G/5G) depende de vários fatores, tais como o congestionamento da rede, a distância da torre próxima, eventuais interferências e até o plano contratado com a operadora.

 

Na teoria, fechar aplicativos em segundo plano economiza bateria e melhora o desempenho do celular. Na prática, o efeito pode ser o oposto. Tanto o iOS como o Android são projetados para gerenciar os apps de forma inteligente. Se você forçar o encerramento constante, o sistema terá de reabrir tudo do zero — o que consome ainda mais energia. A não ser que um app esteja travado ou consumindo recursos demais, o melhor é deixar o gerenciamento por conta do sistema.

sábado, 5 de julho de 2025

SALVE-SE QUEM PUDER!

O ASNO SE CONHECE PELAS ORELHAS, E O TOLO, PELA LÍNGUA.

Sétimo filho de um casal de lavradores (sem contar outros quatro que não "vingaram"), Luiz Inácio da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945 num casebre depauperado do sítio Várzea Comprida, em Caetés (então município de Garanhuns - PE). A mãe, D. Lindu, não foi assistida por uma parteira (a comadre corpulenta caiu do jegue a caminho do sítio) nem pelo marido, Aristides, que havia "retirado" dois meses antes, deixando esposa grávida e levando a reboque uma prima adolescente de D. Lindu, que ele havia engravidado. 


Lula só conheceu o pai aos cinco anos, quando Aristides voltou de visita à terra natal e, no embalo, engravidou D. Lindu de uma menina — que seria registrada como Ruth porque o cartorário achou Sebastiana um nome muito feioAos sete anos, o projeto de petista foi mordido na barriga por uma jumenta, e só não morreu porque alguém enfiou uma peixeira no pescoço do animal (esse episódio consta do livro Lula, o Filho do Brasil, de Denise Paraná, que foi base da cinebiografia homônima).

 

Aristides era um homem rude e ignorante, que bebia muito e tratava melhor seus 20 cachorros do que a mulher, as amantes (ele teve várias) e os 25 filhos que espalhou pelo Brasil afora antes de morrer de cirrose e ser sepultado numa vala comum do cemitério da Consolação, sem túmulo, sem epitáfio e sem despedidas dos filhos e das viúvas. Por ser analfabeto, ele ditava para o primogênito — que morava com ele e a prima da mulher — cartas nas quais dizia que a vida em Vicente de Carvalho estava difícil e que D. Lindu deveria permanecer no Nordeste. Numa dessas cartas, no entanto, o menino incluiu um trecho dizendo que o pai queria que a mãe e os irmãos viessem morar com eles. 

 

Castigada pelo seca de 1952, D. Lindú vendeu o barraco e seus parcos pertences, reuniu a filharada, sacolejou 13 dias num caminhão "pau-de-arara", desembarcou no Brás (bairro da capital paulista) e seguiu de trem rumo à baixada santista, onde o marido morava com a concubina. O reencontro se deu na antevéspera do Natal, mas não foi nada caloroso. Aristides passou a dividir a semana entre as duas famílias, mas tratava D. Lindu e os filhos nas patas do coice. 


Depois de ser espancada com uma mangueira de jardim, ela subiu a serra (literalmente) e passou a morar nos fundos de um boteco na Vila Carioca (bairro da zona sul da capital paulista). Lula ainda morou algum tempo com o pai, mas se juntou à mãe na capital, onde trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico pelo Senai e conseguir emprego numa metalúrgica — onde perdeu o dedo mínimo da mão esquerda num acidente de trabalho até hoje mal explicado. 


Depois de seis meses desempregado, Lula foi contratado pela Villares. Instigado pelo irmão Frei Chico (que era ateu, comunista, e se chamava José Ferreira da Silva), iniciou sua trajetória sindicalista. Foi sob sua liderança que o ciclo de greves em prol da recomposição salarial dos metalúrgicos teve início. Em 1969, casou-se com Maria de Lourdes da Silva, que contraiu hepatite e foi submetida a uma cesariana de emergência da qual nem ela nem o bebê sobreviveram. Em 1974, ano em que casou com Marisa Letícia, Lula já era pai de Lurian, fruto de um caso com a enfermeira Míriam Cordeiro. Desse casamento nasceram Fábio Luiz, Sandro Luíz e Luiz Cláudio a mulher já tinha um filho do primeiro casamento, que Lula adotou formalmente). 


Como dirigente sindical, Lula participou de assembleias e reuniões em várias cidades — e até no Japão a convite da Toyota. Foi cassado em 1979, mas recuperou o cargo com o fim da greve. Em abril de 1980 — mesmo ano da fundação do PT —, passou 31 dias detido no DOPS por incitar greves, mas não foi torturado. A primeira bandeira do partido foi costurada por Marisa, que pouco apareceria nas campanhas eleitorais do marido até 2002. Ela morreu em 2017, vítima de um aneurisma cerebral, cinco meses antes de Moro sentenciar Lula no caso do triplex no Guarujá. 


Lula dizia ter ojeriza à política e aos políticos, mas deixou o chão de fábrica em 1972, ao se tornar dirigente sindical, e abandonou o batente de vez quando fundou o partido que "faria política sem roubar nem deixar roubar". Desde então, dedicou-se à "arte da política" e desfrutou dos confortos que o poder e o dinheiro podem proporcionar. Sempre cultivou a imagem de operário honesto e defensor da justiça social, mas trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de cem dólares assim que encontrou quem pagasse a conta. Em conversa com o empreiteiro Emílio Odebrecht, o general Golbery do Couto e Silva (vulgo "Bruxo") teria dito que Lula posava de esquerdista, mas não passava de um bon vivant. 


Na primeira eleição presidencial direta desde 1960, o xamã petista foi derrotado por Collor. Em 1994 e 1998 Fernando Henrique foi eleito em primeiro turno. Em 2002, quando faltaram ao tucano de plumas vistosas novos coelhos para tirar da velha cartola, Lula finalmente conseguiu se eleger — e se reeleger em 2006, a despeito do escândalo do mensalão. Em janeiro de 2011, transferiu a faixa para seu "poste" e deixou o Palácio com o ego inflado e a popularidade nas alturas. Em 2012, a despeito de boa parte da alta cúpula petista ter ido parar na cadeia, o chefe sequer foi indiciado na ação penal 470

 

Observação: Durante um jantar regado a Romanée-Conti — vinho da Borgonha que custa US$ 25 mil a garrafa —, Lula tirou uma baforada da cigarrilha cubana (acesa pelo diligente vassalo Delúbio Soares) e se vangloriou: "Sem falsa modéstia, companheiros, eu elejo até um poste para governar o Brasil." E elegeu mesmo. Mas a criatura fez o diabo para se reeleger em 2014, e o criador, sem o manto da Presidência e escudo do foro privilegiado, foi condenado em 2017 e preso em 2018. 


Com a candidatura barrada pelo TSE e o "companheiro" Jaques Wagner declinando do o papel de fantoche, Lula escalou Fernando Haddad para representá-lo no pleito de 2018, mas o ex-prefeito paulistano perdeu para Bolsonaro no segundo turno por 55,13% a 44,87% dos votos válidos. E o resto é história recente: apesar da concorrência acirrada, Bolsonaro sagrou-se o pior mandatário desde Tomé de Souza. Ao longo de sua aziaga gestão, foi alvo de mais de 140 pedidos de impeachment (todos engavetados por Rodrigo Maia e Arthur Lira) e dezenas de denúncias por crimes comuns (que o antiprocurador-geral Augusto Aras matou no peito). 


Como que antevendo a necessidade de defenestrar Bolsonaro em 2022, o STF libertou o então presidiário mais famoso do Brasil — como um delegado que determina a soltura de um ladrão detido pela Guarda Civil Metropolitana sob o pretexto de que o flagrante caberia à PM — e anulou suas suas duas condenações (que somavam quase 25 anos de prisão e haviam transitado em julgado no STJ) e o reabilitou politicamente. De vota ao tabuleiro eleitoral, a "alma viva mais honesta do Brasil" derrotou o refugo da escória da humanidade, no segundo turno, por uma diferença de 1,8% dos votos válidos.


Como aspirante a golpista, Bolsonaro conseguiu ser pior do que foi como presidente. Embora continue sendo o maior exponente da direita radical, as manifestações em seu favor vêm encolhendo: a mais recente, em 28 de junho, reuniu 12,4 mil pessoas no pico do ato — contra 44,5 mil em abril e 185 mil em fevereiro. Mesmo estando inelegível até 2030 e na iminência de ser condenado pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado, segue entoando a velha cantilena da perseguição política e posando de candidato ao Planalto, enquanto articula com a banda podre do Congresso uma improvável anistia.

 

Com o país polarizado (cerca de 80% dos eleitores divididos entre nhô-ruim e nhô-pior) e a popularidade do pseudo "Parteiro do Brasil Maravilha" em queda livre, o cenário eleitoral permanece uma incógnita. Pesa contra o macróbio a idade, a saúde precária e o desgaste com o eleitorado. Por outro lado, por ele nunca ter deixado crescer uma arvorezinha que pudesse fazer sombra em seu quintal, a esquerda carece de um "plano B". 


A situação do capetão-golpista é ainda pior: somam-se às pendências judiciais as sequelas da facada que levou em setembro de 2018, a crescente perda de apoio e o discurso de palanque cada vez menos convincente. Ainda assim, e a despeito das candidaturas alternativas à direita — como as de Ronaldo Caiado e Gusttavo Lima —, sua força gravitacional mantém os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema, de Minas Gerais, orbitando a seu redor.

 

Candidatos à reeleição têm a máquina pública e o erário a seu favor, e Lula vem gastando bilhões (dinheiro dos nossos impostos) em projetos assistencialistas para tentar se manter competitivo. Mas o clima com o Congresso azedou de vez — como demonstrou a derrubada do decreto que aumentava o IOF. Isso sem mencionar que o próximo presidente, seja ele quem for, terá de dar nó em pingo d'água para manter o país adimplente. Em entrevista à TV Bahia, ele disse que pretende conversar com Hugo Motta e Davi Alcolumbre para resgatar a "normalidade política nesse país", mas a governabilidade idealizada por ele não depende mais de acertos com os chefes da Câmara e do Senado, mas de acordos miúdos com cada um dos 513 deputados e dos 81 senadores, numa evidencia clara de que o presidencialismo de coalizão está agonizante — e o pior é que não há nada melhor à vista.

 

Nem à direita nem à esquerda tem interesse num embate cujo desfecho é imprevisível. Lula diz estar candidatíssimo, mas já não tem certeza se vale a pena tentar a reeleição, e Bolsonaro precisa decidir o que fará quando e se for condenado (o que deve acontecer entre setembro e outubro). Até o início de 2026, esquerda e direita devem seguir em ritmo de morde e assopra, com governo e oposição ensaiando ataques e recuso conforme a direção dos ventos. Nenhum dos lados está pronto para uma guerra em que um passo em falso pode dar vantagem ao adversário. 


A ressurreição do slogan "nós contra eles" representa uma guinada de Lula à esquerda, e pode afugentar os eleitores nem-nem (nem Lula nem Bolsonaro) que levaram o levaram ao Planalto pela terceira vez. Mas alguma coisa profundamente anormal precisa acontecer para salvar o país e o orçamento, e a única luz visível no horizonte é o reflexo da lua sobre o iceberg em direção ao qual o Titanic tupiniquim segue a toda velocidade. 


Salve-se quem puder.