domingo, 20 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XVIII)

 

Em 1998, quando disputou a reeleição, FHC teve como principal adversário o retirante nordestino analfabeto e malandro que usou o sindicalismo como trampolim para a política, fundou uma agremiação de criminosos disfarçada de partido, sangrou os cofres públicos de 2002 a 2010. E continuou a fazê-lo até 2016, mas tirando a castanha com a mão do gato, ou melhor, do "poste" que escolheu para manter quente a poltrona tencionava voltar a ocupar em 2014. Mas nem tudo saiu como planejado: o cutruca se tornou réu em 20 processos e foi condenado em dois, por 10 magistrados de três instâncias do Judiciário, a mais de 26 anos de prisão. 

Como isto aqui é Brasil, a mais alta corte de Justiça (?!) mudou seu entendimento sobre o cumprimento antecipado da pena, permitindo ao abantesma deixar a sala VIP que lhe serviu de cela após míseros 580 dias. E como as “togas cumpanhêras” anularam suas duas condenações e todos os demais atos processuais nas quatro ações que tramitavam ou haviam tramitado na 13ª Vara Federal de Curitiba, o ex-condenado, transmutado em "ex-corrupto", recuperou os direitos políticos que haviam sido suspensos pela Lei da Ficha-Limpa.

Voltemos ao grão-tucano de plumagem vistosa, que, no último ano de seu primeiro mandato, comprou a PEC da Reeleição. Como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, FHC foi o primeiro mandatário a usufruir de sua "obra". 

Observação: Em 2014, quando criticou o estelionato eleitoral que foi a reeleição de Dilma, Fernando Henrique ouviu do bocório de Garanhuns: "Vi o ex-presidente falar com a maior desfaçatez: ‘É preciso acabar com a corrupção’. Ele devia dizer quem é que estabeleceu a maior promiscuidade entre Executivo e Congresso quando ele começou a comprar voto para ser aprovada a reeleição". Lula reclamar de corrupção em governo alheio é o mesmo que Marcola, o chefe do PCC, imputar crimes ao arquirrival Comando Vermelho, mas, de novo, isto aqui é Brasil, zil, zil, zil...

Em 2002, após três tentativas frustradas, Lula finalmente conquistou a Presidência, dando início aos 13 anos, 4 meses e 12 dias de lulopetismo corrupto que terminaram com o afastamento da estocadora de vento e a promoção do "vice decorativo" a titular. 

Na visão míope da petralhada, o país estava melhor nos tempos de Lula e Dilma — como a parelha de desqualificados fosse austera e pouco afeita a gastos desnecessários, como Aerolulas, luxuosas suítes no Copa e em hotéis estrelados do mundo inteiro, bolsas Hermès, cabeleireiros Kamura e por aí afora. O gramado do vizinho sempre parece mais verde e o osso que se roeu no passado, mais saboroso que o bife que está no prato. 

Não que haja bife no prato dos brasileiros. Enquanto nosso mandatário de fancaria comemorava com pompa e circunstância seus mil dias de governo — com o dólar nas alturas, crises hídrica e de energia elétrica, inflação galopante e combustíveis, gás de cozinha e alimentos a preços estratosféricos —, brasileiros das classes sociais menos favorecidas disputavam ossos e outros refugos que até pouco tempo atrás iam para as latas de lixo de açougues e supermercados.

Dezoito anos depois de transferir a faixa presidencial ao sultão da Petelândia, FHC finalmente concluiu que merda fede. Ou, em suas próprias palavras, que "a reeleição é dos males — talvez o mais grave — de nosso sistema político". Em seu “mea-culpa”, o barão do tucanistão reconheceu que cometeu um “erro histórico” ao patrocinar a emenda em questão, e que foi “ingênuo” por acreditar que a partir daí os governantes não fariam “o impossível” para se reeleger.

"Ingenuidade" — escreveu Dora Kramer em sua coluna, "foi acreditar na inocência do presidente que fez ele mesmo o “impossível” ao jogar o peso de sua autoridade e prestígio angariado no êxito do combate à inflação para aprovar uma emenda em causa própria, ferindo de morte sua majestade em troca de mais quatro anos no Palácio do Planalto."

Vir agora com ato de contrição — prosseguiu a jornalista em seu imperdível texto — soa a tentativa de diluir responsabilidade por algo que guarda mais relação com a forma do que com o conteúdo. O defeito não está no instrumento existente em várias democracias, mas no uso que se faz dele. Por exemplo: quando da proposta da emenda, por que não se incluiu a obrigatoriedade de o postulante ao mesmo cargo se afastar por um período determinado antes da eleição? 

A Justiça é falha na fiscalização do uso indevido do poder e os grandes partidos, tímidos na contestação aos abusos — pois receiam firmar jurisprudências que venham a lhes criar empecilhos amanhã ou depois, diz Dora, relembrando em seguida uma frase ouvida décadas atrás de Roberto Campos: “Não é a lei que precisa ser forte, é a carne que não pode ser fraca”.

É perfeitamente possível conviver com a reeleição, desde que os políticos não abusem dela e que o povo seja esclarecido e esteja preparado para votar. A propósito, em meados dos anos 1970, auge da ditadura militar, Pelé, então no auge da fama, disse que o brasileiro não sabia votar. Anos depois, numa das muitas pérolas que o notabilizaram, o então presidente João Figueiredo ponderou que "um povo que não sabia nem escovar os dentes não estava preparado para votar".

E viva o povo brasileiro!

sábado, 19 de fevereiro de 2022

NA RÚSSIA, COMO OS RUSSOS (OU NEM TANTO)



Depois de 3 décadas de paz, o que começou como uma troca de acusações entre a Rússia e a Ucrânia evoluiu para uma crise internacional. A principal exigência do governo russo é a de que o ocidente garanta que o país vizinho não adira à aliança militar liderada pelos EUA. 

A presença ostensiva da OTAN também é vista com desconfiança pelos russos — segundo o Kremlin, o apoio da organização aos ucranianos põe em risco a segurança da Rússia, embora diga que não tenciona invadir aquele país, que está agindo apenas para se proteger de uma possível ameaça externa.

Apesar da escalada de tensões, EUA e OTAN vêm articulando a solução da crise pela via diplomática, mas Biden disse na quinta-feira que “uma operação de bandeira falsa” pode servir de justificativa para a invasão. Já Bolsonaro — que fez um périplo pelo leste europeu não se sabe exatamente com que propósito — chamou o premiê da Hungria de "irmão" e teve o desplante de dizer que, “coincidência ou não”, a crise entre a Rússia e a Ucrânia arrefeceu após sua conversa com Putin

A questão é que nosso Messias não faz milagres — como ele próprio reconheceu em 2020, quando o Brasil superou a China em número de casos de Covid —, e uma possível invasão da Ucrânia pela Rússia continua no radar. Prova disso é que o receio de uma guerra fez o Dow Jones fechar com a maior queda do ano e Nasdaq perder quase 3% na última quinta-feira. No Brasil, o Ibovespa caiu mais de 1%, depois de ter fechado em alta por cinco dias consecutivos.  

Segundo deu na mídia, o morubixaba em final de mandato classificou a relação do Brasil com a Rússia como um "casamento perfeito" e elogiou o presidente daquele país dizendo que “Putin busca a paz". Disse ainda que, "pela fisionomia, pelo que foi tratado até fora da agenda oficial, com autoridades russas, em especial com o presidente Putin, que é esse o sentimento que ele também tem".

Observação: As viagens do capitão sem-noção me fazem lembrar duas charges do Casseta & Planeta Urgente (ou teria sido do Planeta Diário?). Numa delas, FHC dizia que o Plano Real fora um sucesso e que seu filho resolvera namorar Thereza Collor para provar que “depois do Plano Real, o brasileiro passou a comer melhor”. Na outra, publicada em plena vertigem do Plano Cruzado, lia-se o seguinte: "Presidente está indo longe demais — Depois de ir à China, Sarney irá à merda".

No início do mês, o Departamento de Estado americano divulgou uma nota afirmando que o Brasil tinha responsabilidade de "defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, e reforçar esta mensagem para a Rússia em todas as oportunidades". Bolsonaro disse que não teme reações dos EUA por conta da reunião com Putin em meio às tensões.

Dizem que o diabo sabe das coisas não por ser o diabo, mas por ser velho. Dizem também que o vinho melhora com o tempo, mas, nas pessoas, o principal efeito do tempo é o envelhecimento. Com a idade, vem a experiência, mas nem sempre experiência e sabedoria caminham de mãos dadas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

NA RÚSSIA, COMO OS RUSSOS — OU NÃO



 Em dezembro, ao receber sanfoneiros no Planalto para celebrar o Dia do Forró, Bolsonaro decretou: "Aqui é proibido usar máscara". Dias antes, numa solenidade oficial, havia discursado contra a exigência de comprovante de vacina para frequentar determinados ambientes e eventos. Insinuou que a prova de imunização é coisa para cachorro: "Por que essa coleira que querem colocar no povo brasileiro? Cadê a nossa liberdade? Prefiro morrer a perder a minha liberdade."

Agora, perambulando por Moscou numa inoportuna e contraproducente visita dois populistas autoritários, o despresidente que tem um pé no negacionismo e outro na cloroquina, que menospreza vacinas e chama o passaporte vacinal de “coleira”, rendeu-se à máscara, submeteu-se a um distanciamento vigiado e realizou testes em série contra Covid para se encontrar com o autocrata russo Vladimir Putin.

Bolsonaro foi à Rússia atrás de imagens para usar na campanha à reeleição. Para tanto, privou Brasília de seu único vereador (o filho 02, que deveria bater o ponto na Cidade Maravilhosa, mas passa a maior parte do tempo no DF fazendo sabe-se lá o que). Do ponto de vista estritamente eleitoral, a imagem do capetão tomando uma dose de vacina no Brasil seria mais eficaz do que duas tiradas ao lado de Putin e Orbán.

Para Bolsonaro, viagens ao exterior são uma espécie de “Eurodisneys ideológicas do bolsonarismo”. Na Hungria, com a animação de uma criança que encontra Mickey Mouse, o sultão do bolsonaristão prestigiou um personagem tóxico que se define como um líder político iliberal, controla o Parlamento, aparelha o Judiciário, persegue opositores, censura os veículos de imprensa e vitupera democracias europeias que o acusam de violar princípios democráticos. Isso depois de fornecer farto material para memes nas redes sociais dizendo que, “coincidência ou não”, Putin reduziu a presença militar na fronteira com a Ucrânia depois da conversa que eles tiveram.

Para não perder o hábito nem a prática, o pateta que acha que governa a Disneylândia Tropical se aproveitou de uma declaração infeliz do ministro Fachin para voltar a atacar o Judiciário. Disse  que Fachin, Moraes e Barroso se comportam "como adolescentes" e atuam com o deliberado propósito de prejudicar sua candidatura à reeleição para favorecer a vitória de Lula.

Fachin havia manifestado preocupação com ataques cibernéticos e declarado que a Justiça Eleitoral poderia estar sob ataque de hackers, inclusive de países como a Rússia, que reluta em sancionar os cibercriminosos que buscam destruir a reputação da Justiça Eleitoral e aniquilar com a democracia”. Em Moscou, Bolsonaro vestiu a carapuça. Acusou o togado de produzir "fake news", defendendo-se de uma acusação que o magistrado não fez.

A nova investida potencializa a impressão de que Bolsonaro se comporta como um delinquente. Com o mandado ameaçado, prepara uma confusão. Poderia ter feito uma crítica pertinente a Fachin, que assumirá a presidência do TSE na próxima semana. Bastaria perguntar por que ele não requisitou abertura de inquérito à PF se acha que a Justiça Eleitoral já pode estar sob ataque de hackers (de crackers, na verdade, pois os hackers são "do bem").

Em vez de levantar o questionamento justificável, Bolsonaro preferiu deturpar o comentário do ministro para reiterar que Fachin, Barroso e Moraes agem com o objetivo de desgastá-lo. Disse que os três magistrados "têm partido político" e por isso não o querem lá, querem o outro, “que esteve há pouco tempo no xadrez".

Por trás dos reiterados ataques às togas do TSE e do Supremo existe claramente a intenção de causar tumulto. Bolsonaro não implica com magistrados nem com as urnas, mas com a perspectiva de ser derrotado em outubro. Diante do risco de insucesso em sua tão sonhada reeleição, arma o circo no qual irá questionar o resultado do pleito, acusando os presidentes do TSE — o ex, o atual e o futuro — de participarem de uma hipotética fraude. 

A balbúrdia não impedirá a troca de comando em caso de sua eventual derrota, mas tampouco ajudará a curar o surto de ódio que envenena o Brasil.

Com Josias de Souza.

MAIS SOBRE AS CHUVAS DE VERÃO

QUEM QUER VER O ARCO-ÍRIS NÃO PODE RECLAMAR DA CHUVA.

Entra governo, sai governo, só mudam as moscas. Depois da estiagem atípica que resultou num aumento absurdo da conta de luz (devido à falta de planejamento do governo e ao custo da produção de energia por termoelétricas), as chuvas de verão voltaram a provocar inundações, desabamentos, quedas de árvores, interrupções no fornecimento de energia e mais um sem-número de aborrecimentos (nem vou mencionar a tragédia que se abateu sobre Petrópolis, na região serrana do RJ, porque acredito que os leitores esteja tão saturados quanto eu de ouvir falar nessa desgraça).

Céu escuro, nuvens negras, sensação de leve formigamento na pele e pelos eriçados nos braços são indícios de tempestade elétrica. Mas uma das vantagens de viver no século XXI é poder usar e abusar da tecnologia. Se você mora no Estado de São Paulo, mande um SMS com o CEP de sua residência (ou de outro local de seu interesse) para o número 40199 e a Defesa Civil lhe enviará um alerta, também por SMS, sempre que houver previsão de temporais na sua região. O serviço é gratuito e funciona direitinho.

Como dito nas postagens anteriores, o melhor a fazer na iminência de um temporal é desligar a chave geral do quadro de força, mas para isso é preciso estar em casa. Deixar a energia desligada preventivamente quando se sai pela manhã e se volta somente à noite pode prejudicar a conservação dos alimentos que dependem de refrigeração, por exemplo. Por outro lado, não custa nada tirar da tomada o cabo de energia do computador, do televisor, do decodificador da operadora de TV, do modem, do roteador, do telefone sem fio, enfim, dos aparelhos elétricos e eletroeletrônicos mais susceptíveis a sobretensões e outros distúrbios da rede elétrica.

Prejuízos causados por distúrbios elétricos são passíveis de indenização, desde que a reclamação seja formalizada no prazo de 90 dias — a concessionária terá 10 dias para examinar o bem danificado, mais 15 para decidir se o pedido é procedente e outros 20 para efetuar o ressarcimento; se a reclamação não for atendida, pode-se recorrer ao Procon ou a um Juizado Especial Cível (tribunal de pequenas causas). Note que sorvetes, congelados e outros perecíveis que se deteriorem por conta de falta de energia por um período prolongado também são indenizáveis, pois a Resolução nº 414/2010 da ANEEL estabelece que, em caso da suspensão do fornecimento, o religamento deve ser feito em até 4 horas na área urbana e 8 na rural (obviamente, isso não se aplica a desligamentos por falta de pagamento).

Como cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, convém manter distância de grades metálicas (como as que protegem portas e janelas), deixar o banho para depois (mesmo que o chuveiro seja a gás) e usar o celular em vez do telefone fixo (a menos que o aparelho seja sem fio e funcione desligado da tomada). Se você for pego por uma borrasca em campo aberto, evite manusear objetos metálicos longos — como tripés, guarda-chuvas e assemelhado — e jamais se abrigue sob árvores isoladas (em grupo, elas não atraem raios). Em não havendo uma estrutura de alvenaria nas proximidades, agache-se e mantenha os pés juntos — os raios se espalham de forma concêntrica; se você mantiver as pernas afastadas, a diferença de potencial entre seus pés permitirá a passagem da corrente pelo seu corpo. E se o temporal o surpreender durante um banho de  mar, de piscina, de lago ou de rio, saia da água imediatamente e abrigue-se num local seguro.

ObservaçãoEngana-se quem acha que raios não caem duas vezes no mesmo lugar. A rigor, eles costumam “repetir” um local quando há condições de atração — como é caso do Cristo Redentor, no morro do Corcovado (Rio de Janeiro), que é atingido seis vezes por ano, em média.

O tempo é imprevisível (que o digam os meteorologistas). Hoje em dia, no Brasil, até São Pedro deixou de ser confiável, mas as tempestades de verão costumam desabar do meio para o final da tarde, depois que a temperatura atinge seu ápice. Então, procure agendar seus compromissos para outros horários. Se for apanhado no contrapé, abrigue-se numa padaria, farmácia, mercado ou outro estabelecimento qualquer. Na impossibilidade, fique longe de árvores, postes, quiosques e objetos metálicos grandes e expostos (como tratores, escadas, cercas de arame, etc.).

Dirigir sob chuva requer alguns cuidados adicionais, tanto na cidade quanto na estrada, pois a visibilidade diminui e as pistas ficam escorregadias, aumentando o risco de colisões, sobretudo em caso de freadas bruscas. Então, reduza a velocidade, aumente a distância do carro da frente e acenda os faróis baixos. Para evitar que a visibilidade fique ainda mais prejudicada, ligue o desembaçador traseiro e o ar-condicionado, direcionando o fluxo de ar para o para-brisa. Se seu carro não tem ar-condicionado, ligar a ventilação forçada na velocidade máxima também ajuda.

Se seu carro não tem sequer ventilação forçada... bem, Mr. Fred Flintstone, prepare-se para se molhar, pois você vai ter de deixar os vidros das portas abertos (uma fresta de pelo menos dois dedos) e limpar o para-brisa de tempos em tempos com um pano seco (jamais limpe o vidro com a mão, pois o suor e a gordura natural da pele vai agravar a situação). Se a visibilidade ficar muito comprometida, evite correr riscos desnecessários: pare o carro num local seguro e espere a chuva diminuir.

Continua...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XVII)

 

Lula é o protótipo do desempregado que deu certo. Não trabalha desde os 30 anos (deixou de ser operário em 1980, quando fundou o PT, mas, como líder sindical, já não pisava em chão de fábrica desde 1972). Mais da metade de sua vida foi dedicada à “arte da política”, e não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. Nem mesmo sua narrativa sobre o “acidente” em que perdeu um dedo resiste a uma análise mais detalhada.

Sem prejuízo de voltarmos a este assunto numa sequência dedicada integralmente ao menino pobre que migrou para o sudeste fugido das agruras da seca e da miséria, cumpre mencionar que as chances de alguém destro (como é o caso de Lula) perder o dedo mínimo da mão esquerda operando um torno mecânico são próximas de zero. Vale conferir o que disse a propósito o ex-engenheiro sênior da CSN e especialista em metalurgia de produção Lewton Verri, que conheceu o dito-cujo na década de 70 e sempre o teve na conta de “um sindicalista predador e malandro, que traía os ‘cumpanhêros’ começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios”( clique aqui para acessar uma postagem que revolve mais a fundo as vísceras desse caso espúrio).

Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares e arquiteto da “abertura lenta e gradual” que restabeleceu a democracia no Brasil — teria dito a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda e que não passava de um “bon vivant. E o tempo demonstrou que ele estava coberto de razão. 

Lula jamais foi o que a construção de sua imagem pretendia que fosse, mas, sim, alguém avesso ao trabalho, que vivia de privilégios e mordomias oriundas de contatos proveitosos e a poder da total ausência do conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável.

Mesmo quando cumpria pena em Curitiba, o meliante continuava a entoar, como ladainha em procissão, a fábula da superioridade moral, insistindo que ninguém e mais honesto do que ele. Agora, com a ficha imunda lavada pelo STF, introduziu em sua abjeta cantilena um despudorado refrão que o reputa inocentado — quando na verdade o que a ala "garantista" da Corte fez (graças ao ministro Fachin, que anulou suas condenações em Curitiba para evitar que o ex-juiz Sergio Moro fosse declarado suspeito) foi determinar o reinício dos processos na Justiça Federal do Distrito Federal.

Ao longo dos últimos anos, Lula respondeu a 20 ações criminais e foi absolvido em apenas três. Outros 16 processos tiveram sua tramitação interrompida por tecnicidades ou reviravoltas que resultaram no arquivamento das ações. Ele ainda é réu numa ação que apura tráfico de influência na compra de caças suecos, alvo da Operação Zelotes — que ainda não havia sido julgada quando eu redigi esta postagem. Em um caso que marcou as últimas derrotas da Lava-Jatoo ministro Ricardo Lewandowski ordenou a suspensão de duas investigações contra o “ex-corrupto”, afirmando que os processos usaram como prova delações premiadas que haviam sido invalidadas.

Com base neste e em outros casos semelhantes, o PT lançou uma peça publicitária intitulada “Memorial da Verdade”, na qual cita 19 ações em que Lula teria sido inocentado. O texto lista processos em que o ex-presidente foi “inocentado” e três em que foi “absolvido”. A diferença entre os termos utilizados, segundo o professor de Direito Penal da FGV-Direito Rio Felipe Lima Almeida, deve-se ao fato de as decisões da Justiça não tratarem, objetivamente, de inocentar réus e acusados.

A expressão ‘inocente’ não é técnico-jurídica. Inocentes todos nós somos até que se tenha uma sentença condenatória transitada em julgado, e realmente isso não existe em relação ao ex-presidente Lula”, afirmou o professor. “Agora, trancamento de ação penal, arquivamento de inquérito ou rejeição de denúncia, nessas situações nós não temos o enfrentamento do mérito, então não há sentença do Estado dizendo que não houve crime.”

Diferentemente da inocência, a absolvição é um elemento jurídico registrado no Código de Processo Penal. Esse tipo de decisão reconhece que as acusações apresentadas contra uma das partes em determinado processo são improcedentes. A partir daí, o caso é encerrado e o réu deixa a posição de suspeito.

Não se pode confundir um discurso político com um discurso jurídico. Os 19 casos em que a defesa de Lula alega inocência nas redes sociais são dois trancamentos de investigações, quatro denúncias rejeitadas, quatro decisões anuladas — a partir do reconhecimento de suspeição de Moro —, dois arquivamentos, uma prescrição (impossibilidade de punir por causa da idade) e um reconhecimento de legalidade nas palestras realizadas por Lula.

A divulgação das vitórias processuais de Lula coincide com o momento em que o petralha lidera as pesquisas de intenção de voto. Em relação ao que veicula o PT, as alegações mais questionáveis quanto à inocência do flibusteiro envolvem os casos triplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e a compra de um terreno para o Instituto Lula, porque todas foram anuladas com base em decisões do STF que reconheceram a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar o réu e a parcialidade de Moro ao proferir as sentenças.

Nessas situações, a validade das decisões foi desfeita, mas dois desses casos ainda podem ser retomados, já que o próprio STF apontou erros processuais, e não ausência de provas, como afirma a publicidade petista. À exceção do processo sobre o sítio de Atibaia, cuja denúncia foi reapresentada e rejeitada pela Justiça do Distrito Federal, nos outros dois casos há a possibilidade (remota, é verdade) de que sejam reiniciadas.

Lula tem 76 anos, e o prazo prescricional é reduzido pela metade quando o réu é septuagenário. Assim, para que ele seja novamente julgado, condenado e preso, em considerando a vasta gama de recursos possíveis nas quatro instâncias do Judiciário e as nuances políticas que beneficiam criminosos de colarinho branco, seria preciso que ele reencarnasse meia dúzia de vezes, e o dito popular que atribui sete vidas aos gatos não contempla os gatunos.

As imagens da deusa Têmis que decoram fóruns e tribunais mundo afora estão em pé. A estátua de pedra erigida diante do STF está sentada. Como as demais, nossa deusa da Justiça tem os olhos vendados e porta a indefectível espada. Mas sua balança foi roubada por algum político que, graças ao foro privilegiado, ainda não foi julgado. Em nossa suprema corte, uma decisão pode demorar duas horas ou vinte anos, a depender de quem forem o réu e o ministro em cujas mãos estiver seu destino. 

Como se pode inferir das representações da deusa mundo afora, a Justiça é cega, mas a impressão que se tem é que no Brasil ela é paga para não enxergar

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.

AINDA SOBRE BATERIAS E CARREGADORES

A VIDA É O QUE RESTA DEPOIS DE CADA ENCRUZILHADA.

Pelo fato de a evolução tecnológica ter sido mais pródiga com os celulares do que com as baterias que os alimentam, há um “desequilíbrio” entre a demanda energética e a real capacidade de alimentação. 

O lado bom da história é que as baterias atuais não estão sujeitas ao “efeito memória” nem pegam fogo ou explodem se o aparelho ficar na carga durante toda a noite. A má notícia, digamos assim, é que isso não “aumenta sua autonomia”, de modo que o ideal é descontar o carregador tão logo a recarga seja concluída.

Até não muito tempo atrás, as baterias eram facilmente removíveis, sendo comum vermos “heavy users” levando no bolso ou na bolsa uma bateria sobressalente para não serem pegos no contrapé. Hoje em dia, contam-se nos dedos os celulares em que a bateria é acoplada externamente, de modo que o jeito deixar um carregador veicular no carro ou recorrer à portinha USB do PC que estiver mais à mão (lembrando que nesses casos o tempo de recarga aumenta significativamente).  

Não há problema em usar um carregador rápido (mais potente) com um smartphone projetado para o modelo “convencional”, mas tampouco haverá benefício, já que a recarga será feita no modo “lento”. O importante é fugir de carregadores piratas, cujo uso pode danificar o celular e, em casos extremos, causar incêndios ou explosões — para reduzir os custos e tornar seus produtos mais “competitivos”, fabricantes desconsideram medidas de segurança destinadas a proteger o celular, a bateria e o próprio usuário. 

Observação: Carregadores genéricos nem sempre integram componentes com a mesma qualidade dos originais, tais como fios com a resistência e o isolamento adequados à corrente recebida e sensores que interrompem a passagem de energia quando a bateria está totalmente carregada, como se fossem disjuntores. A Apple já criticou publicamente sites de vendas online por manterem em seus catálogos carregadores falsificados, que, em situações extremas, podem colocar vidas em risco.

Em 2016, a organização britânica Trading Standards, que faz campanhas de conscientização sobre segurança do consumidor, testou 400 carregadores falsificados da Apple e constatou que 99,25% deles falharam em quesitos básicos de segurança. Os modelos comercializados no Brasil devem ser homologados pela Anatel — o selo de certificação (vide figura) indica que o dispositivo foi testado e aprovado para uma utilização segura

Por último, mas não menos importante: calor excessivo é inimigo figadal das baterias. Colocar o celular no porta-luvas ou sobre o painel do carro e deixar o veículo estacionado sob o sol por horas a fio, por exemplo, pode reduzir significativamente a vida útil do componente.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XVI)


Em visita às obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o então presidente Lula iniciou seu discurso dizendo: Quero começar cumprimentando o companheiro Sérgio Cabral” (...)“Nosso companheiro Pezão” (...)“O ministro Edison Lobão” (...)“O nosso querido Paulo Roberto Costa, presidente em exercício da Petrobras” (...) “Nosso companheiro Sergio Machado, presidente da Transpetro”. 

Em seguida, Lula explicou os motivos daquele evento: “Eu sei que tem algumas pessoas que estão perguntando ‘por que o Lula já visitou pela terceira vez o Comperj, se ainda a obra não está sendo construída, está na fase da terraplanagem?’ A primeira coisa que tem que compreender é que eu adotei como filosofia de vida aquela de que ‘é o olho do dono que engorda os porcos’. Então, eu tenho que estar presente sempre, para saber se as coisas que nós decidimos estão funcionando”. 

Cinco anos depois, as obras no Comperj continuavam paradas, mas a filosofia de vida do pulha funcionou: os porcos engordaram um bocado.

Depois de falar sobre seus porcos, Lula reconheceu que sabia da roubalheira em Abreu e Lima, mas que, segundo ele, a picaretagem precisava prosseguir: “Se a gente não fica esperto, a obra da refinaria de Pernambuco estaria parada. Porque se levantou suspeita de sobrepreço em algumas obras. E foi para a comissão do Congresso, a comissão do Congresso colocou no anexo VI, e eu vetei, porque senão teria que ter mandado embora 27 mil trabalhadores”.

O petralha esclareceu ainda que para engordar seus porcos a ração teria de ser fornecida pela própria Petrobras: O companheiro Paulo Roberto Costa sabe, a Dilma, como presidenta do conselho administrativo da Petrobras, sabe, o ministro Lobão, de Minas e Energia, também sabe que, há cinco anos atrás (sic), se dependesse da vontade da Petrobras, não teria nenhuma refinaria no Brasil”.

Até o presidente boliviano Hugo Chávez, outro porco do chiqueiro de Lula, entrou na história: Numa visita de trabalho do presidente Chávez, consegui a parceria para a PDVSA se associar à Petrobras. Levamos três anos para construir essa parceria, porque a Petrobras e a PDVSA são duas grandes empresas, e duas moças bonitas no mesmo baile, elas sofrem uma concorrência natural entre elas, e nós demoramos muito para construir a engenharia do acordo que, graças a Deus, está pronto e está andando”.

A essa altura, Lula introduziu o único assunto que realmente lhe interessava: São bilhões de dólares, de investimentos. Se a gente for medir só o que a gente está fazendo, a gente vai ultrapassar os US$ 60 bilhões em refinaria neste país”. E apresentou seus cúmplices: Aqui tem muitos empresários do setor da construção civil”.

O então juiz Sergio Moro poderia ter usado esse discurso como prova na Lava-Jato, pois a parlapatice evidenciava que o concupiscente sempre esteve no topo da cadeia de comando do Petrolão e que sua atuação em favor das empreiteiras foi crucial para garantir a sobrevivência do partido no poder e lhe proporcionar benefícios pessoais. Mas tudo isso se foi quando o vento mudou e o criminoso duplamente condenado e réu em outros 18 processos passou à condição de “ex-corrupto” e pré-candidato ao terceiro mandato presidencial, enquanto o ex-juiz Sergio Moro, graças à Vaza-Jato de Verdevaldo das Couves, passou de “herói do povo brasileiro” a juiz parcial.

A patuleia ignara que defende Lula com fidelidade canina se recusa a ver os fatos como eles são e acha que as leis só se aplicam a seu amado líder quando não o desfavorecem, ignorando solenemente (ou refutando ferozmente) o fato de o argamandel garanhuense ser useiro e vezeiro em relembrar a infância pobre nos confins de Pernambuco, onde comia feijão e farinha, ter deixado a Presidência na condição de multimilionário.

Na lista de bens entregue à Justiça, o patrimônio do petralha era de quase R$ 12 milhões, mas a PF e o MPF apontaram evidências de que o valor seria bem maior. Além do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia, ficaram de fora um terreno em São Paulo, uma cobertura em São Bernardo do Campo e dezenas de milhões de reais que foram repassados ao ex-presidente, em espécie ou por meio de reformas em imóveis e palestras no exterior.

Só a Odebrecht e da OAS lhe teriam pagos, respectivamente, R$ 33,8 milhões e R$ 7,8 milhões. Isso sem mencionar os R$ 16 milhões oriundos de outras empreiteiras. Incluída a propina repassada para o caixa 2 do PT, o valor destinado pelas empresas a Lula e seu espúrio partido chegava a R$ 370 milhões (os pagamentos foram descritos em vários inquéritos, em depoimento de delatores e na denúncia do chamado “quadrilhão do PT”).

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AINDA SOBRE BATERIAS, REDE ELÉTRICA E QUE TAIS — CARREGADORES

POR MAIS DESAGRADÁVEIS QUE SEJAM, AS COISAS QUE NOSSOS INIMIGOS NOS DIZEM NA CARA NEM SE COMPARAM COM AS QUE NOSSOS AMIGOS DIZEM DE NÓS PELAS COSTAS.

Todo dispositivo computacional utiliza diversos tipos de memória, mas é na RAM que são carregados o sistema operacional, os aplicativos e demais arquivos — não integralmente, ou não haveria RAM que bastasse, mas, sim, divididos em páginas (pedaços do mesmo tamanho) ou segmentos (pedaços de tamanhos diferentes). 

Quando rodamos um programa qualquer, seu executável é copiado da memória de massa (HDD ou SSD) — que, por ser “persistente”, preserva os dados depois que o aparelho é deligado — para a RAM, juntamente com algumas DLLs e arquivos de dados com os quais vamos trabalhar.

Por ser uma memória eletrônica de acesso aleatório, a RAM é muitas vezes mais “veloz” do que os discos eletromecânicos (nos quais a gravação e o acesso aos dados são feitos por cabeças eletromagnéticas). O problema é que ela é volátil, ou seja, só consegue preservar o conteúdo enquanto permanece energizada.

Por uma série de fatores que não vem ao caso detalhar nesta postagem, reinicializar o computador “esvazia” a RAM, pondo fim a instabilidades, travamentos e outros aborrecimentos que tendem a se manifestar quando o aparelho fica muito tempo ligado. E o mesmo raciocínio se aplica ao smartphone — que, em última análise, é um PC ultraportátil —, como também a modems, roteadores, impressoras, decodificadores de TV etc.

Muita gente  não desliga o celular — e depois reclama de conexão lenta, demora na execução de apps e instabilidades generalizadas. Considerando que não é recomendável usar o aparelho enquanto a bateria está sendo recarregada (quando mais não seja porque o consumo energético aumenta o tempo de recarga), sugiro desligá-lo sempre que ele for posto para carregar. Ninguém morre se ficar um hora sem ler mensagens no WhatsApp, sem mencionar que já existem carregadores ultrarrápidos (detalhes nesta postagem) que recarregam a bateria em alguns minutos.

Se seu aparelho não exibe uma mensagem ou emite um alerta sonoro de “carga completa”, monitore a recarga e desligue o carregador assim que o ícone da bateria indicar 100%. Carregadores originais (e modelos não originais, mas homologados pelos fabricantes de smartphones) reduzem a corrente ao mínimo quando a bateria está quase cheia e ativam um modo chamado “trickle charge”, que mantém o nível em 100% até que o carregador seja removido. 

Mal comparando, isso funciona como a boia de uma caixa d’água, que fecha a passagem quando o reservatório está cheio, evitando o transbordamento.

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS (PARTE XV)



Em seus romances policiais, a escritora britânica Agatha Christie preconizava que os criminosos sempre voltam ao local do crime. No mês passado, falando mal dos remendados, o roto que os bolsomínions chamam de “mito” usou essa máxima para aludir à posição confortável que as enquetes eleitoreiras atribuem ao ex-presidiário de Curitiba.

Entender por que tanta gente se deixa levar pela falácia do populista demagogo que trocou o cigarro barato e a cachaça vagabunda por cigarrilhas cubanas e vinhos premiados — quando encontrou quem pagasse a conta, naturalmente — é um mistério, mas o fascínio que o Planalto exerce sobre esse egun mal despachado é fácil de compreender: até onde se sabe, nenhum presidente eleito desde a redemocratização roubou tanto quanto ele e seus cúmplices.

Em 2010, pouco antes deixar o cargo, o autoproclamado Parteiro do Brasil Maravilha acertou com Emílio Odebrecht um pacote de aposentadoria que lhe garantia um fundo de R$ 300 milhões, uma remuneração regular em forma de palestras e agrados pontuais, como as reformas do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia.

A revelação foi feita pelo próprio Emílio — e confirmada por Antonio Palocci na delação que a cúpula do Judiciário mandou jogar na lata do lixo antes de anular a condenação do ex-braço direito de Lula e responsável pela redação da Carta ao Povo Brasileiro que ajudou o petralha a conquistar a confiança do mercado financeiro em 2002.

Palocci foi sentenciado a 12 anos de reclusão em 2017, mas estava em prisão domiciliar desde agosto de 2019. Na antevéspera do último Natal, o médico ribeirão-pretano teve a condenação anulada e foi autorizado a romper o lacre da tornozeleira eletrônica — em dezembro de 2021, a 5ª Turma do STJ concluiu que o caso deveria ter sido julgado pela Justiça Eleitoral, e a execução provisória da sentença foi suspensa e mais um sentenciado pela Lava-Jato bateu as e voou livre, leve e solto...

ObservaçãoSegundo a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró — identificado como “Lindinho” nas planilhas do departamento de propinas da Odebrecht —, a empreiteira pagou US$ 300 milhões à estatal angolana Sonangol pelo direito de explorar petróleo em Angola; desse montante, R$ 50 milhões reforçaram o caixa da campanha de Lula à reeleição.

Esse é o estofo do molusco que se diz a “alma viva mais honesta do Brasil”. Mas que relevância tem isso se há no STF quem o quer de volta na presidência da República?

A transmutação de Lula de ex-presidiário a “ex-corrupto” seria o mesmo que um ladrão ser preso em flagrante pela Guarda Civil Metropolitana e, tempos depois, a justiça mandar soltá-lo porque, tecnicamente, a prisão deveria ter sido feita pela Polícia Militar. Isso não significa que o crime não existiu, apenas que a prisão não foi feita por quem de direito.

Isso é Brasil, minha gente. Ame-o ou deixe-o (o último apaga a luz do aeroporto).

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AINDA SOBRE BATERIAS, REDE ELÉTRICA E QUE TAIS — CHUVAS DE VERÃO

BASTA PRESTAR ATENÇÃO AO QUE AS PESSOAS FAZEM PARA NÃO SER ENGANDO PELO QUE ELAS DIZEM.

Vimos na postagem anterior que o terceiro pino dos plugues de três pontos, quando conectado a uma tomada aterrada, ajuda a prevenir danos causados por “fugas de corrente” e distúrbios da rede elétrica comuns durante temporais com raios. Em tese, quanto mais circuitos eletrônicos um aparelho tiver, maior será o risco de ele ser danificado, daí a importância de desconectar os cabos de alimentação das tomadas (puxando-os sempre pelos plugues) ou desligar a chave geral da caixa de força.  

Tempestades de verão costumam vir acompanhadas de descargas elétricas e ventos fortes. Além de alagamentos, quedas de árvore sobre os fios da rede elétrica e outros aborrecimentos, eles podem causar interrupções no fornecimento de energia e sobretensões com potencial para torrar (literalmente) a fiação dos imóveis e os aparelhos a ela conectados. Como os filtros de linha não filtram coisa nenhuma e  os estabilizadores de boa qualidade não garantem proteção satisfatória contra picos de tensão, eu recomendo o uso de um bom nobreak UPS

As fontes de alimentação dos PC são "bivolt", ou seja, capazes de operar entre 90 V e 240 V e, consequentemente, de suportar sobretensões de até 100% e subtensões de mais de 20% (quando ligadas a uma tomada de 127 V, evidentemente). Assim, a única vantagem do filtro de linha é facilitar a substituição do fusível (ou do próprio filtro), já que substituir os varistores internos da fonte dá bem mais trabalho.

Também chamados de relâmpagos ou coriscos, os raios resultam da perda de capacidade do ar de isolar cargas elétricas opostas que se acumulam no interior de nuvens como cumulonimbus. Uma única descarga pode atingir 1 bilhão de volts, 200 mil ampères e temperatura cinco vezes superior à da superfície do Sol. Já os trovões são fenômenos acústicos resultantes do aquecimento do ar pela corrente elétrica do raio, e podem chegar a 120 decibéis (o som mais alto que pode ser produzido não vai além de 194dB).

Costumamos dizer que os raios “caem”, mas eles também podem “subir” do solo em direção à nuvem, ocorrer dentro da nuvem ou passar de uma nuvem para outra. A quantidade de energia produzida por uma tempestade elétrica chega a superar a de uma bomba atômica — a diferença é que a bomba libera tudo de uma só vez, ao passo que a tempestade leva de muitos minutos a algumas horas.

Ao atingir a rede elétrica (direta ou indiretamente), o raio provoca sobretensões — elevações da tensão máxima permitida pela rede em 10% ou mais, por tempo igual ou superior a três ciclos (embora durem milésimos de segundo, elas podem facilmente elevar a tensão a 500V). Para proteger a instalação elétrica dos imóveis e os aparelhos a ela conectados, os quadros de força dispõem de fusíveis (que, como o nome sugere, se fundem) ou disjuntores (que se desarmam). Mas é recomendável desligar a chave geral em caso de tempestades severas, pois o desconforto temporário será menos impactante do que os aborrecimentos que a borrasca pode causar.

Na eventualidade de um apagão, o nobreak fornece energia por tempo suficiente para o usuário salvar seu trabalho, encerrar o Windows e desligar o computador — note que o religamento só deve ser feito depois que o fornecimento de energia for restabelecido e estabilizado

Apagões intermitentes, nos quais "a luz acaba, volta e torna a acabar sucessivas vezes", potencializam o risco de danos. Aliás, é justamente quando a energia retorna que ocorrem as quedas de fase (situação em que as lâmpadas acendem, mas ficam fraquinhas) e as sobretensões.

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS (PARTE XIV)


No Mensalão, o guerrilheiro de araque José Dirceu foi o “chefe da quadrilha”; no Petrolão, voltou a ser o “braço direito” da autoproclamada “metamorfose ambulante”. O epíteto faz sentido: o retirante nordestino pobre e analfabeto que passou a torneiro mecânico, sindicalista pelego (vale a pena ler este texto), líder populista, fundador de partido e deputado constituinte e, após três tentativas inexitosas, foi eleito e Presidente da República. A partir do mensalão, virou “o cara que não sabia de nada”; indiciado na Lava-Jato, transmudou-se na “alma viva mais honesta do Brasil”; feito réu, tornou-se um “célula de cada brasileiro”; às vésperas de ir para a prisão, converteu-se a uma “ideia” e, já encarcerado, a “preso político perseguido pelas ‘elites’”. 

Voltando a Dirceu, sua trajetória foi detalhada neste acervo. Segundo o MPF, o “guerrilheiro do povo brasileiro” foi um dos líderes do mega-escândalo de corrupção petista e continuou a se beneficiar dele, mesmo depois de preso, definindo de sua cela os cargos no governo Lula. Quando Renato Duque foi nomeado para a Petrobras, o guerrilheiro de araque iniciou o trabalho de captação das empreiteiras, mas, diferentemente do que fez no Mensalão, não usou o dinheiro do Petrolão para comprar apoio de parlamentares venais, e sim em benefício próprio: em 2015, estimava-se que a rapinagem lhe havia rendido mais de R$60 milhões.

Depois que teve a trajetória abreviada pela Justiça — justamente quando se nome era o mais cotado para a sucessão “capo di tutti i capi” —, Dirceu passou atuar como consultor, valendo­-se da vasta influência que exercia sobre “cumpanhêros” instalados nas mais diversas engrenagens do governo. Lula, por seu turno, desceu a rampa com a popularidade nas alturas e ganhou rios de dinheiro com “palestras” pagas por empresas que se beneficiavam do propinoduto da Petrobras.

O fato de a carteira de clientes de Dirceu incluir algumas das principais empreiteiras envolvidas no Petrolão rendeu excelentes resultados: de 2006 a 2013 ele faturou R$29,3 milhões em contratos de consultoria com empresas de todos os tamanhos e atuação nos mais variados setores da economia, de cervejaria a laboratório farmacêutico, de escritório de advocacia a concessionária de automóveis.

Para fazer valer os polpudos honorários, o Dirceu contava com parceiros ocasionais importantes — entre os quais o próprio Lula. Em 2011, por exemplo, sem esconder a condição de lobista e com o beneplácito de auxílio logístico de altos funcionários da embaixada brasileira, a dupla viajou ao Panamá e teve lucrativos encontros com o presidente e ministros de Estado daquele país.

Somadas as penas nos processos do tríplex e do sítio, Lula teria mais de 25 anos de cana para puxar. Graças à banda podre do Judiciário, cumpriu míseros 580 dias numa cela VIP e foi reabilitado politicamente por uma decisão teratológica do ministro Luís Edson Fachin. Agora, numa inusitada condição de “ex-corrupto”, o sacripanta é o queridinho do eleitorado. Falam até que ele será ungido presidente com 171% dos votos válidos já no primeiro turno.

Aqui cabe abrir um parêntese para dizer que as pesquisas de “intenção de voto” e as encíclicas que os jornalistas políticos socam em cima do público todos os dias garantem que Lula será presidente em 2023. Daqui a pouco vão começar a dizer que nem é mais preciso fazer eleição. Para que colocar as instituições democráticas em risco? Basta a banda “garantista” do STF — que anulou as condenações do petralha — ungir Lula presidente e pronto, tudo resolvido.

Institutos de pesquisa e jornalistas políticos têm em comum uma compulsão histórica para fazer previsões erradas. Hoje, todos asseguram que Lula já está lá. Aos 77 anos, 40 dos quais no bem bom da política, duas passagens pelo Planalto e um ano e meio de férias compulsórias em Curitiba —, Lula tem planos de “mudar o Brasil” que parecem ter sido copiados do catecismo de um ditador de comédia. O abantesma está convencido de que Cuba — ou a Venezuela, ou o Peru, ou o Chile, ou a Nicarágua, ou todos eles — encontrou a solução ideal para a maior parte dos problemas humanos.

O que Lula realmente propõe para o Brasil, a partir de outubro, é a falta de papel higiênico. Não é má vontade: é público, notório e indiscutível, há anos, que o grande resultado prático dos regimes “de esquerda”  foi esse. Não é piada; é a alma do que as ditaduras de Cuba, Venezuela e companhia produziram na vida real até hoje. Alguém é capaz de citar uma outra realização de Maduro et caterva? Quiçá a falta de luz elétrica? Ou de comida no supermercado? Ou de emprego? Na Venezuela, a produção de petróleo caiu a um terço do que era. A inflação de 2021 ficou perto dos 700%. Todos os recursos do país são entregues diretamente aos ditadores e ao seu sistema de apoio — 2.000 generais, polícia secreta, milícias armadas, juízes amestrados. É Lula, Dirceu — de volta ao coreto das autoridades, depois de ser miseravelmente rifado anos atrás pelo chefe — e a “intelligentsia” petista propõem para nós. Não são os seus adversários que dizem isso; são eles mesmos, em seus discursos.

Lula deu para repetir que os problemas sociais dos brasileiros desaparecem com a ressurreição de empresas estatais e com a abertura de novas. Acha que vai resolver a questão da pobreza abrindo empresas de “capital misto”, socando na máquina pública mais funcionários, defendendo salários de R$ 100 mil por mês de juízes e de procuradores, criando um “Estado forte” e por aí afora. São essas as suas ideias novas para o Brasil. Lula, o PT e a esquerda tinham propostas mais generosas 20 anos atrás; prometiam um “novo país” e uma “nova sociedade”. Hoje propõem um Brasil sem papel higiênico, sem luz e com inflação de 700% ao ano. Fecho aqui o parêntese.

Como disse o escritor português José Saramago, Nobel de Literatura em 1998, “a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito”. Sorte da patuleia desvairada — e, de certo modo, nossa também — que burrice não dói. Se doesse, os gemidos desses aldrabões seriam mais ensurdecedores que seu alarido em defesa de Lula, de Dilma, do PT e de tudo que não presta na política canarinha — inclusive o mandatário de turno, mas isso já é outra conversa.

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AINDA SOBRE BATERIAS, REDE ELÉTRICA E QUE TAIS...

O ÓTIMO É INIMIGO DO BOM.

Complementando o que vimos na sequência sobre baterias, conectar um carregador bivolt numa tomada de 110V ou 220V não aumenta nem reduz o tempo de recarga. Isso porque a tensão de saída independe da tensão de entrada, e a função do dispositivo em questão é basicamente transformar em corrente contínua (de aproximadamente 5V) a corrente alternada fornecida pela tomada.

Na corrente alternada, o valor máximo oscila em torno de um referencial (neutro). O potencial elétrico ao longo do ciclo parte de zero, cresce até o valor máximo, decresce até zero, e então o ciclo se reinicia (50 ou 60 vezes por segundo). Na parte negativa, não há necessariamente valores negativos, e sim a inversão do sentido da corrente. Sempre haverá um momento em que o valor será zero — quando então, se fôssemos rápidos o bastante, poderíamos colocar o dedo numa fase sem levar choque (sugiro não tentar). 

A instalação elétrica da maioria dos imóveis é “aterrada”, daí a importância de usarmos plugues e tomadas de três pontos. O aterramento é feito durante a construção do imóvel (embora também possa ser feito a qualquer tempo). Geralmente, isso consiste em introduzir no solo um conjunto de hastes metálicas que são ligadas fisicamente ao terceiro ponto (terra) das tomadas.

Em linhas gerais, as tomadas têm dois polos (fase + neutro nas monofásicas e fase + fase nas bifásicas). Se observarmos esses componentes com atenção, veremos que, para orientar a conexão dos fios, os orifícios são identificados como fase, neutro e terra. Segundo a norma ABNT 14136, o polo à esquerda é “neutro”, o polo à direita é “fase” e o central, “terra” (mais detalhes neste vídeo)

ObservaçãoO terceiro pino da tomada, conhecido como “terra”, é responsável por levar a energia excedente para o solo, desmagnetizando o aparelho e evitando acidentes ou problemas maiores. Como a rede elétrica não é estabilizada, fugas de tensão são comuns e a energia que escapa da tomada fica armazenada na carcaça metálica do dispositivo. Assim, alguém que encostar na geladeira ou no gabinete metálico do PC, p. ex., pode tomar um leve choque — sem mencionar que durante tempestades com raios os aparelhos podem ser submetidos a uma sobretensão e queimar. Com o terceiro pino, a energia extra é descarregada no solo, evitando danos aos componentes eletrônicos dos dispositivos. 

Embora fosse mais lógico adotar o padrão norte-americano, o Brasil pariu uma jabuticaba. Embora seja recomendável substituir todas as tomadas do imóvel, a maioria de nós recorre aos indefectíveis "adaptadores" — melhor isso do que remover o terceiro pino do plugue (como muita gente faz) ou recorrer a gambiarras como ligar polo terra da tomada a um cano metálico da rede hidráulica ou ao próprio polo neutro da rede elétrica, que é aterrado na estação geradora de energia.

A maioria dos aparelhos elétricos/eletroeletrônicos funcionam normalmente com a tomada invertida, conquanto isso implique o risco de choque elétrico. Mas é bom ter em mente que, numa rede devidamente aterrada, o terceiro pino não só protege os dispositivos como impede que o plugue seja conectado invertido. Demais disso, a corrente pode “escapar” dos condutores (fenômeno conhecido como "fuga de corrente"). Em não havendo aterramento (que funciona como uma "saída de emergência"), esse fenômeno pode causar danos aos aparelhos e/ou dar choque nos usuários, como era comum acontecer quanto a gente abria as geladeiras de antigamente.

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