quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA? (CAPÍTULO IV)

Filho de um empresário que fazia questão de mandar o rebento para a Europa em voos de primeira classe, Gustavo Bebianno cursou Direito na PUC-RJ e fez mestrado em Finanças pela Universidade de Illinois (EUA). Bolsonaro, cujo pai sustentava a família obturando e extraindo dentes (mesmo sem jamais ter estudado odontologia), cursou a AMAN e serviu nos grupos de artilharia de campanha e paraquedismo.

Em 1986, aos 31 anos de idade, o capitão da ativa publicou um artigo na revista VEJA em que reclamava do soldo. A matéria lhe rendeu 15 dias de prisão disciplinar. No ano seguinte, o indômito oficial voltou à carga com um plano de explodir bombas de baixa potência em quartéis e academias (também como forma de protesto contra os baixos salários dos militares). Outro artigo publicado por Veja revelou essa história e o insurreto foi excluído do quadro da Escola de Oficiais, mas absolvido das acusações pelo Superior Tribunal Militar. Mesmo assim, sua carreira no Exército terminou ali.

No mesmo ano em que deu baixa, Bolsonaro elegeu-se vereador. Dois anos depois, foi um dos deputados federais mais votados no Rio de Janeiro, dando início a uma sequência de sete mandatos (ao longo dos quais aprovou dos míseros projetos e colecionou mais de 30 processos, como vimos nos capítulos anteriores).

Também como vimos, foi aí que Bebianno entrou em cena. Eleito presidente, Bolsonaro recompensou os bons serviços prestados pelo amigo fiel, irmão e camarada nomeando-o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Um mês e 18 dias depois da nomeação, “envenenado” pelas intrigas do filho Carlos, que se roía de ciúmes da amizade do pai com Bebianno, o capetão demitiu seu ministro — o primeiro de uma longa lista de aliados que se transformariam em desafetos nos meses subsequentes.

Oficialmente, a exoneração se deveu às folclóricas candidaturas-laranjas no PSL — esquema do qual Bebianno não só negou ter participado como disse ter alertado o presidente. Bolsonaro e seu triunvirato procuraram desmenti-lo, mas os áudios divulgados pela revista Veja comprovaram a versão do ex-ministro — que, em entrevista à Jovem Pan, disse que não sairia do governo atirando, que foi convidado a assumir uma direção em Itaipu, mas recusou por uma questão de dignidade.

Sobre os motivos de seu desligamento, Bebianno assim se pronunciou: "Fui demitido pelo Carlos Bolsonaro, simples assim. Não era nem para ter assumido, nunca pedi nada ao presidente desde o primeiro dia que comecei a ajudá-lo, não queria nada". Na mesma entrevista, comentou a “agressividade acima do normal de zero dois, que é conhecido como ‘destruidor de reputações’ e já atacou criou atritos com vários colegas de partido sem qualquer motivo”.

Mas não há nada como o tempo para passar, e Bebianno também passou, só que de aliado a desafeto, e se tornou um dos maiores críticos do governo. Quatro meses após deixar o governo, o ex-ministro trocou o PSL pelo PSDB, e não só chamou o presidente de psicopata como disse sentir-se “vulnerável e sob risco constante" por ter entrado em choque direto com ele. No evento que marcou sua filiação ao partido dos tucanos, o advogado declarou que “a democracia estava em risco devido à postura de Bolsonaro” e atribuiu o ambiente de instabilidade política e econômica ao grau de loucura e irresponsabilidade capitaneado pelo próprio presidente.

Em fevereiro de 2020, Bebianno anunciou sua pré-candidatura à Prefeitura do Rio. Falava-se inclusive que ele tinha planos de coordenar a campanha de João Doria à Presidência em 2022, assim como fez com a de Bolsonaro em 2018. Mas não houve tempo para nada disso. Bebianno morreu dia 14 do mês seguinte, em Teresópolis, fulminado por um enfarte agudo do miocárdio seguido da queda que provocou uma lesão na cabeça — dando azo a diversas teorias da conspiração, já que o político havia aventado mais de uma vez a possibilidade de revelar detalhes sórdidos da campanha presidencial de 2018 e estava escrevendo um livro ("Uma eleição improvável") sobre o assunto.

Uma semana antes de morrer, Bebianno gravou imagens para um documentário sobre as eleições — dirigido por Bruno Barreto —, que estava na fase de coleta de depoimentos e dispunha de muitas imagens de bastidores, colecionadas durante a campanha. Na noite fatídica, o político acordou por volta das 3 horas, com dores em um dos braços e no peito. Foi socorrido pelo filho, que estava com ele no sítio — a esposa e a filha haviam ficado no Rio. No banheiro, caiu, bateu com o rosto no chão e ficou 30 minutos desacordado até ser levado ao Hospital Central de Teresópolis, onde veio a falecer.

Bebianno era um arquivo vivo da campanha de Bolsonaro. Ele serviu ao capitão como PC Farias serviu a Collor, e entrou para o rol de mortes igualmente enigmáticas, como a de Ulysses Guimarães (o helicóptero em que ele viajava mergulhou no mar minutos após a decolagem, e seu corpo jamais foi encontrado). Ou o acidente de automóvel que matou Juscelino Kubitschek na via Dutra, ou as igualmente mal explicadas quedas das aeronaves em que viajavam o então candidato à Presidência Eduardo Campos, em agosto de 2014, e o ministro Teori Zavascki, em janeiro de 2017. 

Isso sem mencionar os assassinatos (jamais esclarecidos) dos prefeitos petistas Celso Daniel, de Santo André (SP), e Toninho do PT, de Campinas (SP).

Continua...

MELHOR PREVENIR DO QUE REMEDIAR...

O PAPAGAIO COME O MILHO E O PERIQUITO LEVA A FAMA.

Aqueles que cresceram nos 1960 ainda se lembram dos eletrodomésticos de então, que eram feitos para “durar a vida toda”. Hoje em dia, no entanto, a indústria se vale da Obsolescência Programada para induzir as pessoas ao consumo repetitivo.

Os fabricantes lançam novas versões de seus produtos a intervalos de tempo cada vez mais curtos e utilizam estratégias de marketing para dar a seu público-alvo a impressão de que as novas funcionalidades (que, em muitos casos, não passam de inutilidades) justificam a substituição de algo em perfeitas condições de conservação e funcionamento pelo mesmíssimo produto, só que numa versão mais recente, supostamente superior (mas cuja vida útil certamente será ainda menor).

A relação entre pessoas e artefatos teve início em tempos imemoriais, mas a história do consumo remonta à Idade Média, quando a aquisição de produtos que até então visavam atender às necessidades da família ganhou um viés, digamos, hedonista. 

O consumo moderno resultou da evolução histórica da sociedade e se iniciou na Europa da século XVI, quando os nobres passaram a gastar com roupas, ornamentos e outros badulaques, criando uma competição social cujo objetivo era ganhar a atenção da realeza e em troca de prestígio. Com a Revolução Industrial, artefatos se transformaram em produtos, estimulando um consumismo que, mais adiante, se tornaria parte indissociável do comportamento humano. 

Para contornar esse empecilho, a indústria criou a tal obsolescência programada, ou seja, reduziu a “vida útil” dos assim chamados “bens duráveis”, visando antecipar o momento da troca por um modelo estalando de novo.

ObservaçãoEntenda-se por “vida útil” a durabilidade de um bem consumo, que termina quando o produto perde a validade ou deixa de apresentar o desempenho esperado; entenda-se por “bem durável” produtos que só se deterioram ou perdem a utilidade com o uso persistente ou após um largo período de tempo, como é o caso de automóveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e afins.

Alguns produtos parecem ser programados para durar até o prazo limite da garantia, a partir de quando consertá-los pode ser tão caro quanto os substituir. Por outro lado, as “facilidades” oferecidas pelo comércio — como “preço à vista” dividido em “n” parcelas e os 12 meses de garantia contra defeitos de fabricação (que os fabricantes não raro se escusam de cobrir alegando mau uso ou outra desculpa esfarrapada qualquer) — nos levam a considerar a troca um bom negócio.

Face ao exposto a conclusão que se impõe é a de que “nada é para sempre”, mas cuidar bem dos “bens duráveis” pode evitar (ou, pelo menos, postergar) uma despesa não prevista. Máquinas são máquinas, e nada (a não ser a sorte) garante que elas não “pifem” de uma hora para outra. Tratá-las bem, porém, pode fazer toda a diferença no que concerne a sua vida útil.

A verdade é que quase sempre preferimos amaldiçoar a escuridão a acender uma vela, e algumas práticas ruins acabam nos obrigando a aposentar um troço que, em tese, teria muita lenha para queimar. Vejamos alguns exemplos.

No caso do PC, componentes internos como placa-mãe, processadores, módulos de memória, drives, circuitos impressos e afins geram muito calor. Para manter a temperatura em patamares aceitáveis, coolers e microventiladores expulsam o quente e sugam ar ambiente para o interior do case.  A questão é que com esse ar “frio” adentram o aparelho fios de cabelo e barba, fiapos de tecidos e mais uma porção de elementos que atua como isolante térmico e pode prejudicar o funcionamento das ventoinhas — que chegam mesmo a travar.

Já vimos como fazer uma faxina em regra em desktops. No caso dos portáteis, é fundamental manter desobstruídas as ranhuras (ou aletas, ou orifícios) de ventilação e utilizar um suporte que mantenha o aparelho em posição elevada em relação à mesa e conte com uma ou duas ventoinhas acopladas. Mas não aconselho leigos ou iniciantes a desmontar o portátil para limpá-lo por dentro. Até porque os computer guys também precisam comer.

Observação: Torno a frisar que usar o notebook sobre os joelhos ou na cama não é recomendável, sobretudo porque colchas, almofadas, cobertores e travesseiros podem obstruir as aberturas de ventilação que ficam na base (parte inferior) do dispositivo. Se você usa seu note para jogar, é ainda mais importante mantê-lo numa posição que permita ao sistema de arrefecimento trabalhar com toda a sua capacidade.

Continua...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA? (CAPÍTULO III)

 

Bolsonaro já foi filiado a nove partidos — PDCPDCPP (duas vezes), PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e PSL —, todos do "Centrão", daí ele “se sentir em casa” no PL, a despeito de já ter chamado o dono da casa de “corrupto e condenado”, de tê-lo mandado à puta que pariu e de ouvir dele um sonoro "vá tomar no cu" extensivo a seus ilustres rebentos. 

Quando se trata de política, o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã e vice-versa. Em novembro, depois de um noivado tão curto quanto conturbado, a DR do Sultão do Bolsonaristão com o partido do mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto foi superada e o casório, que havia sido suspenso, celebrado com pompa, circunstância, juras de amor eterno e votos de fidelidade imorredoura.

Resta saber se a lua de mel vai durar até março ou se o coração do “mito” mudará de dono pela 11ª vez, lembrando que ele precisa estar filiado a uma legenda para disputar a Presidência — ou uma cadeira no Senado ou na Câmara que lhe assegure foro privilegiado. Afinal, Bolsonaro é investigado em 6 inquéritos, e o relatório final da CPI do Genocídio lhe atribuiu pelo menos 9 delitos (entre crimes comuns, de responsabilidade e contra a humanidade).       

O então deputado federal que aprovou dois projetos e foi alvo de mais de 30 processos ao longo de sete mandatos cresceu o olho para o Planalto em 2014, ano da reeleição do Pacheco de terninho que sem jamais ter disparado um tiro virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante virou projeto de gerente competente; sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de palanque; sem ter tido um único voto na vida até 2010 virou presidenta do Brasil

Na época, o capetão disse ao jornal O GLOBO que pretendia disputar a Presidência e que a página "Jair Bolsonaro Presidente 2014", criada no Facebook por "militantes da direita e apoiadores", já contava com mais de 12 mil seguidores. Em 2015, ele já aparecia nas pesquisas com 4% das intenções de voto. Em 2016, subiu para 7%, e no ano seguinte, para 15%.

Em 2017, ao saber que o então pré-candidato à Presidência estaria num clube de golfe no Rio, o advogado Gustavo Bebianno correu para encontrá-lo, levando consigo cópias impressas de centenas de emails (que jamais foram respondidos) como prova da antiguidade de sua admiração. Mais adiante, o causídico defendeu seu ídolo em diversos processos — entre os quais a folclórica ação por incitação ao estupro movida pela deputada petista Maria do Rosário, que poderia ter inviabilizado a candidatura do capetão —, sem lhe cobrar um tostão de honorários.

Depois de trocar o PP pelo PSC, Bolsonaro teve um breve affair com o PEN (que virou Patriota para acolhê-lo). A lua de mel terminou quando ele descobriu que o partido havia patrocinado uma ação no STF questionando a prisão em segunda instância (tema que interessava sobretudo a Lula e ao PT e feria de morte seu discurso antipetista). 

Em março de 2018, o já pré-candidato foi aconselhado por Bebianno a juntar trapos com o nanico PSL. Foi Bebianno quem coordenou a campanha presidencial e quem presidiu o PSL durante as eleições. De acordo com o empresário Paulo Marinho, que abrigou na própria casa o comitê de campanha, houve três grandes responsáveis pela vitória do sociopata: Bebianno, o publicitário Marcos Carvalho e o esfaqueador inimputável Adélio Bispo de Oliveira, nessa ordem. O resto é folclore.

Bolsonaro explorou politicamente a facada que quase lhe custou a vida e, valendo-se da condição de convalescente, fugiu dos debates televisivos, que inevitavelmente exporiam seu acachapante despreparo. Impulsionado pelo antipetismo, acabou sendo eleito e levando a reboque 52 deputados federais, 4 senadores e 3 governadores.

Observação: Vale lembrar que em 2018 a parcela pensante do eleitorado votaria no demônio em pessoa para evitar que o país fosse presidido por um presidiário. Como o Tinhoso não se candidatou, o jeito foi apoiar seu preposto — um político tosco, polêmico, oportunista, populista, parlapatão, admirador confesso dos anos de chumbo da ditadura militar e defensor de opiniões peculiares, digamos assim, sobre tudo e todos. E deu no que deu.

Continua...

AINDA SOBRE VÍRUS, RANSOMWARE, PRIVACIDADE, COOKIES ETC. (CONCLUSÃO)

CASAR É TROCAR A ADMIRAÇÃO DE VÁRIAS PELA CRÍTICA DE UMA SÓ.

Quando os vírus "apenas" danificavam arquivos do sistema, as vítimas logo percebiam que havia algo de errado com suas máquinas. Mais adiante, porém, o objetivo mudou, e o modus operandi também foi alterado, de modo a evitar que as vítimas se dessem conta da infecção e adotassem as medidas corretivas necessárias. 

É importante não confundir alhos com bugalhos: pesquisar um produto qualquer na Web e passar a ser bombardeado com anúncios não é indício de infecção, mas sim de que os "cookies" estão fazendo seu trabalho (detalhes nesta postagem). Essas propagandas — que estão presentes até em redes sociais — são invasivas, podendo mesmo assustar internautas desinformados. 

Muita gente acha que o smartphone consegue escutar o que se fala durante o uso do aparelho. Se você pensa que isso é pura paranoia, talvez reveja seus conceitos se entender melhor como funcionam o Google Ads, os algoritmos em geral e as assistentes virtuais em particular, como a do Google, presente no Android, e a Siri, que integra o iOS. que respondem a comandos de voz.

LGPD em vigor exige que todas as empresas forneçam informações claras e acessíveis sobre o uso de dados pessoais dos usuários em seus  “termos de uso”, mas quase ninguém se preocupa com isso quando acessa um site, por exemplo, e é induzido a “aceitar” os cookies. Anúncios específicos que não param de aparecer podem ter a ver com algoritmoscookies e o próprio Google Ads. Por meio de uma técnica conhecida como “retargeting”, as empresas de propaganda conseguem identificar as preferências dos usuários e gerar anúncios personalizados, conforme o perfil de cada um. E é aí que entram os cookies — pequenas porções de código armazenados pelos sites nos navegadores dos internautas que concedem essa permissão quando visitam as webpages.

Fazer uma busca por um determinado produto fará com que o Google Ads entenda que você tem interesse em adquirir o tal produto, e passará a exibir um sem-número de “anúncios personalizados”. Para evitar essa aporrinhação, prefira fazer as pesquisas a partir de uma guia anônima do navegador ou, melhor ainda, utilizando uma VPN (o Opera, por exemplo, oferece o serviço gratuitamente e não limita o tráfego de dados).

Vale também configurar seu browser para excluir os cookies e o histórico de navegação ao final de cada sessão ou fazê-lo manualmente de tempos em tempos. No Chrome, clique em Configurações (os três pontinhos no final na barra de endereços) > Mais Ferramentas > Limpar dados de navegação > Eliminar os seguintes itens desde, escolha uma das opções disponíveis (sugiro desde o começo) e marque as caixas de verificação ao lado dos itens que você deseja eliminar (sugiro limitar-se às primeiras quatro opções). Ao final, clique em Limpar dados de navegação, reinicie o navegador e confira o resultado (para não meter os pés pelas mãos, siga este link e leia atentamente as informações da ajuda do Google antes de dar início à faxina).

No Mozilla Firefox, clique no botão Abrir menu (também localizado no canto direito da barra de endereços, mas identificado por três traços horizontais), clique em Opções > Privacidade e Segurança > Cookies e dados de sites, clique no botão Limpar dados e reinicie o navegador. 

No Edge Chromium, clique no ícone das reticências (no canto superior direito da janela), depois em Configurações > Privacidade, pesquisa e serviços e, em Limpar dados de navegação, selecione Escolher o que limpar, defina um intervalo de tempo no menu suspenso e os tipos de dados que você quer limpar, clique em Limpar e reinicie o navegador.

No Opera, clique no botão Menu (no canto superior esquerdo da janela), em Configurações > Privacidade e segurança > Limpar dados de navegação; feitos os ajustes desejados, pressione o botão Limpar dados de navegação e reinicie o navegador.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA? (CONTINUAÇÃO)


A campanha presidencial de 2018 durou pouco mais de sete semanas, mas foi abundante em episódios tão inusitados quanto surpreendentes — tais como o atentado contra a vida do líder das pesquisas e a insistência do PT em viabilizar a candidatura de um criminoso condenado e preso. Nunca antes na história deste país se viu uma disputa tão calcada na desinformação, mas isso não significa que a próxima não possa superá-la com um pé nas costas.

Em algum momento da trilha para o fracasso nas urnas, o presidiário de Curitiba tentou promover uma espécie de evangelização de seus aliados e correligionários comparando-se a Cristo: “Jesus foi condenado à morte sem dizer uma palavra, recém-nascido. E, se o José não corre, ele tinha sido morto. E olhe que não tinha empreiteira naquele tempo, não tinha Lava-Jato”. 

Ecarta divulgada às vésperas do segundo turno por sua equipe de comunicação (nada mais surreal que um presidiário ter “equipe de comunicação”, mas estamos no Brasil, onde nada mais espanta), Lula exortou os partidos de centro-esquerda a se unirem numa “frente democrática” contra a “aventura fascista”. Só que, noves fora a patuleia ignara, que é um caso perdido, pouco gente acreditava nas narrativas em que o PT imputava (e continua imputando) os próprios pecados a seus adversários.

Às vésperas de ir para a prisão, a autoproclamada “alma viva mais honesta do Brasil” se autopromoveu à condição de “ideia”: “Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia misturada com as ideias de vocês. Minhas ideias já estão no ar e ninguém poderá encerrar. Vocês são milhões de Lulas”. Curiosamente, a figura espurca que achou ter ascendido à dimensão divina se tornou o maior cabo eleitoral do misólogo despirocado que o derrotaria nas urnas dali a seis meses.

Não sei se o picareta dos picaretas achava mesmo que disputaria o pleito ou se tudo não passou de estratégia para impulsionar a transferência de votos para seu poste-bonifrate, mas o fato é que, ao final de uma disputa sui generis — que começou com mais de 20 pré-candidatos e terminou com 13 postulantes — o mui esclarecido eleitorado escalou para o segundo turno os dois extremistas mais extremados do espectro político-ideológico e a patética marionete do ex-presidente presidiário foi derrotada em 16 estados, em 23 das 26 capitais, e no Distrito Federal.

Pela primeira vez desde a redemocratização, um candidato claramente de direita foi ungido presidente (com 57,5 milhões de votos, ou seja, com uma vantagem de 10,8 milhões de votos em relação a seu adversário). Agora, por uma ironia do destino, as posições se inverteram, e o intrujão psicopata, que continua agarrado ao cargo como um náufrago a um tronco, é que contribui diuturnamente para eleger o adversário que ele derrotou em 2018.

Vale relembrar que, quando os resultados do primeiro turno foram divulgados, veículos normalmente divergentes entre si — como The Guardian e The Economist — foram unânimes em ressaltar “perigos severos à democracia”. A palavra “fascista” apareceu em publicações como Der Spiegel, e mesmo o Financial Times, que tem a melhor cobertura do Brasil na grande imprensa internacional, disse ver na figura de Bolsonaro um “prenúncio de tempos duros”.

Infelizmente, o tempo demonstraria que eles estavam certos, mas a questão é que não restou aos cidadãos de bem, no segundo turno, outra opção que não votar no candidato que parecia “menos ruim”. Para piorar (e nada nunca é tão ruim que não possa piorar), todas as pesquisas de intenção indicam que os brasileiros não aprenderam a lição.

A exemplo de Bolsonaro, Lula e o PT são como o escorpião da fábula. O cinismo da campanha de Haddad exibiu as vísceras de um partido que sempre agiu de forma antidemocrática e vocacionada ao crime, e que, mesmo desmascarado, insistiu no erro e expôs ao constrangimento sua militância e seus eleitores (os que ainda guardavam um mínimo de dignidade). Já o dublê de mau militar e parlamentar medíocre nunca foi a solução para os problemas do Brasil.

Em 27 anos como deputado federal, Bolsonaro apresentou 172 projetos, relatou 73, aprovou dois e colecionou mais de trinta ações criminais. No plenário, estava sempre sozinho ou na companhia do filho. Nunca foi visto jantando no Piantella nem tomando uísque no Churchill (onde os parlamentares mais enturmados costumam confraternizar), nunca passou de um parlamentar do baixo-clero, adepto das práticas da mais baixa política, metido com milicianos, mas sem uma turma para chamar de sua.

Em meados de 2014, então filiado ao fisiológico PP — cuja bancada de 40 deputados era adestrada para apoiar qualquer um com chance de vencer —, Bolsonaro se ofereceu para concorrer ao Planalto. Foi solenemente ignorado. No convenção partidária, lançou o ultimato: “Ou o PP sai da latrina ou afunda de vez”. Graças à Lava-Jato (que Bolsonaro se encarregaria de sepultar dali a seis anos, alegando que “o governo não tem mais corrupção”), o PP afundou de vez. Graças a sua pregação antipetista, o “mito” dos apalermados disputou a reeleição e foi o deputado mais votado do Rio de Janeiro (saltando de 120,6 mil votos em 2010 para 464,5 mil em 2014).

No fim de 2014, já no sétimo mandato consecutivo, Bolsonaro percorreu o país, realizou carreatas, estampou camisetas e adesivos, posou para “selfies” com eleitores e proferiu palestras. Ganhou um público jovem e ligado nas redes sociais, que o apelidou de  “mito” e distribuiu memes com frases do político. Ao se dar conta do enorme potencial das redes, o oportunista pavimentou o caminho para a popularidade com frases chocantes, inusitadas ou abertamente provocativas. Cada discurso que embutia uma ideia polêmica ou preconceituosa corria a internet, gerando milhares de comentários.

Situações desesperadoras requerem medidas desesperadas. Ainda que as promessas de campanha do abantesma do PSL fedessem a estelionato eleitoral, poucos imaginavam que elegê-lo seria como abrir a mitológica Caixa de Pandora ou libertar um efrite da garrafa.

Continua no próximo capítulo...

AINDA SOBRE VÍRUS, RANSOMWARE, PRIVACIDADE, COOKIES ETC.

UM PLANO QUE NÃO PODE SER MUDADO É UM PLANO QUE NÃO PRESTA.

Sabe-se que os primeiros registros teóricos de programas de computador autorreplicáveis remontam aos anos 1950, e que esses códigos só ficaram conhecidos como “vírus” no início dá década de 80. 

Uma vez que os fabricantes de ferramentas de segurança utilizam metodologias próprias para classificar as ameaças, e que worms, trojans, spywares, botsransomwares e outros códigos mal-intencionados não dependem necessariamente de um hospedeiro, cunhou-se o termo “malware” (de MALicious softWARE) para designá-los. Pelo mesmo motivo, não é possível dizer com certeza quantos malwares existem, mas sabe-se que o número é assustador (para mais detalhes, acesse Antivírus - A História).

Observação: Nem todo praga digital é um vírus, mas todo vírus é uma praga digital, e que, como tal, é um intruso que precisa ser expulso do sistema, mesmo que não destrua arquivos nem tenha por objetivo roubar informações pessoais/confidenciais dos usuários das máquinas infetadas.

Um dos primeiros vírus de que se tem notícia — criado por Bob Thomas em 1971 — exibia a mensagem IM THE CREEPER, CATCH ME IF YOU CAN (sou o rastejador, pegue-me se for capaz), e então “pulava” para outro sistema e repetia esse mesmo procedimento. O antidoto criado para neutralizá-lo foi batizado de THE REAPER (o ceifeiro), que muita gente considera o precursor dos softwares antivírus. Mas a maioria dos especialistas em segurança digital aponta o BRAIN, criado por dois irmãos paquistaneses em 1986, como sendo o primeiro malware da era PC. Curiosamente, esse código foi desenvolvido originalmente para identificar cópias piratas que rodavam no Apple II, mas acabou sendo compatibilizado com o DOS e incorporando características maliciosas.

Com a popularização do acesso à internet no âmbito doméstico e a capacidade do Correio Eletrônico de anexar praticamente qualquer tipo de arquivo digital, os cibercriminosos incluíram o malware em seu arsenal de ferramentas de ataque, tornando fundamental o uso (no computador e, mais adiante, no smartphone e no tablet) de uma solução de segurança responsável. Como ninguém ainda foi capaz de desenvolver um mecanismo de defesa “idiot proof” a ponto de proteger os usuários de si mesmos, e como o elemento humano é o elo mais fraco da corrente, a conclusão é óbvia.

Escusado detalhar o modus operandi das pragas e a maneira de se proteger delas (dentro do possível, até porque computador seguro é computador desligado, e ponto final), já que basta pesquisar o Blog a partir de palavras-chave como “malware”, “vírus”, “segurança” e assemelhadas para ter acesso a centenas de postagens envolvendo essa questão. 

Vale destacar que, no caso específico dos microcomputadores ultraportáteis (notadamente os smartphones, que são muito populares), os grandes responsáveis pela infeção são os apps, sobretudo se instalados de fontes “não oficiais”, embora recorrer exclusivamente às lojas do Android, da Apple e dos fabricantes de aparelhos celulares não garanta 100% de segurança, até porque segurança absoluta é História da Carochinha   

Mediante modificações em seus códigos, o Joker e o FluBot — que têm por objetivo “assinar” serviços Premium (cobrados) à revelia dos usuários — conseguiram burlar as checagens de segurança do Google e infectar, em apenas 24 horas, quase 100 mil usuários que baixaram aplicativos da Play Store (e simplesmente desinstalá-los nem sempre basta para que as cobranças cessem).

Joker é um velho conhecido dos engenheiros de software do Google que ressurgiu recentemente disfarçado como um falso jogo da série Round 6, da Netflix, e só foi identificado depois de ter sido baixado milhares de vezes. Já o Color Message — que se propõe a personalizar mensagens SMS, mas inscreve o celular da vítima em serviços Premium e monitor a troca de mensagens com seus contatos, visando roubar dados confidenciais e outras informações sensíveis — foi baixado por mais de 500 mil usuários do Android

Observação: Google o excluiu o Color Message de sua loja e recomenda a quem baixou o app que o remova o imediatamente, mas isso não é exatamente um primor de simplicidade, já que essa praga consegue ocultar o próprio ícone após a instalação.

Continua no próximo captítulo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA?


Abomino a polarização semeada por Lula e seus acólitos, tenho ojeriza a extremistas — tanto de direita quanto de esquerda — e horror à perspectiva de mais um pleito plebiscitário. 

Até quando seremos forçados a apoiar quem não queremos para evitar que quem queremos menos ainda volte a presidir o Brasil? Foi isso que fizemos em 2018, e foi por isso que um incompetente de quatro costados está aboletado no Palácio do Planalto (nos raros momentos em que não está brincando de motoqueiro fantasma, envergonhando o Brasil no exterior ou passando férias em praias paulistas e catarinenses).

Somente um doido de pedra não demite um gerente que está levando sua empresa à falência, seja por incompetência, conivência, corrupção, ladroagem ou tudo isso somado. No caso em tela, o próprio mandatário reconheceu que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar, mas nem o Congresso nem o STF tomou providências efetivas para pôr fim a esse descalabro.

Em entrevista à revista Época, o general Ernesto Geisel, penúltimo presidente militar desta banânia, referiu-se a Jair Bolsonaro como “um caso completamente fora do normal, inclusive mau militar”. Durante o julgamento desse mau militar pelo Superior Tribunal Militar, o coronel Carlos Alfredo Pellegrino disse que o acusado tinha “grave desvio de personalidade” e era incapaz de liderar a soldadesca devido a sua “falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação dos argumentos”.

Em 1986, ainda no 8º Grupo de Artilharia de Campanha, o capitão Bolsonaro foi preso por ter publicado em Veja um artigo intitulado “O salário está baixo”. No ano seguinte, de moto próprio, a revista denunciou a “Operação beco sem saída” — que contou com a participação do também capitão Fábio Passos da Silva e visava explodir bombas de baixa potência em várias unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras e em diversos quartéis caso o reajuste do soldo ficasse abaixo de 60%. 

De acordo com o general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército à época, os capitães “negaram peremptoriamente, da maneira mais veemente, por escrito, do próprio punho, qualquer veracidade daquela informação”. Mas provas testemunhais e documentais — entre as quais um croqui desenhado pelo próprio Bolsonaro — levaram o estrelado a apresentar um pedido de expulsão dos envolvidos. Lamentavelmente, o espírito de corpo falou mais alto e o STM entendeu que os réus “eram vítimas de um processo viciado” (volto com mais detalhes acerca desse assunto numa próxima postagem).

Observação: Durante a campanha de 2018, circulou na Web a informação (falsa) de que o então candidato do PSL teria deixado o quartel por “insanidade mental”. Em resposta, a assessoria de imprensa do Exército divulgou uma nota afirmando que ele fora transferido para a reserva automaticamente ao ser eleito vereador no Rio de Janeiro, conforme determina o Estatuto dos Militares. Balela. O capitão-encrenca só não foi expelido da corporação porque a denúncia que o levou às barras da Justiça Militar partiu da revista Veja e os episódios que a embasaram ocorreram durante a ressaca da ditadura, época em que ninguém tinha mais aversão à imprensa do que os militares. Fala-se, inclusive, que o STM teria condicionado a decisão favorável a Bolsonaro a sua reforma.

Em 1988, já desligado do Exército, o ex-capitão que sempre balizou sua atuação política em assuntos caros aos fardados foi eleito vereador com o apoio das Forças Armadas, e levou essa mesma bandeira, dois anos depois, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para a Câmara Federal. Deputado do baixo clero durante 27 anos, teve apagada atuação parlamentar, focada no atendimento de demandas corporativas dos militares. 

Em 1991, no primeiro de seus sete mandatos como deputado, Bolsonaro defendeu o retorno do regime de exceção e o fechamento temporário do Congresso. Foi dado início a uma ação penal por crime contra a segurança nacional, ofensa à Constituição e ao regimento interno da Câmara, mas, para surpresa de ninguém, ficou o dito pelo não dito. Em 1994, ele disse que preferia sobreviver no regime militar a morrer naquela democracia. 

Em 1999, a Mesa Diretora da Câmara propôs ao plenário aplicar um mês de suspensão a Bolsonaro por defender o fechamento do Congresso e afirmar que “a situação do país seria melhor se a ditadura tivesse matado mais gente” — entre os quais o então presidente Fernando Henrique. Dessa vez, para variar, o boquirroto recebeu uma advertência, mas pau que nasce torto morre torto: meses depois, o indigitado voltou a defender o fuzilamento de FHC. O então líder do governo na Câmara chegou a pedir sua cassação, mas a proposta sequer chegou ao plenário da Casa. Em 2016, ao votar a favor do impeachment da gerentona de araque, o deputado fez uma homenagem ao coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra — e foi denunciado ao Conselho de Ética da Câmara por apologia à tortura. Mais uma vez, nada aconteceu.

Na eleição presidencial passada, que foi a mais conturbada desde a redemocratização, com a população dividida em petistas/lulistas e antipetistas/antilulistas, os 57,8 milhões de votos que elegeram Bolsonaro 38º presidente do Brasil não vieram somente de bolsomínions, simpatizantes e admiradores de suas propostas, mas também de gente que não queria ver o país governado por um presidiário. Isso não teria acontecido se, no primeiro turno, o “esclarecidíssimo” eleitorado apostasse num candidato mais “de centro”, considerando que mesmo entre aquela trupe de show de horrores travestida de lista de postulantes à Presidência havia dois ou três nomes que poderiam ter sido testados. Mas agora é tarde, Inês é morta.

A despeito das cinco ações em que Bolsonaro e Haddad se acusavam mutuamente de abuso de poder econômico na campanha e pediam um a inelegibilidade do outro, a ministra Rosa Weber, então presidente do TSE, disse que as investigações tinham um período de "instrução probatória" e o corregedor iria "perceber necessidade de provas que definiriam maior ou menor necessidade de tempo". 

Observação: Disso não resta a menor sombra de dúvida: basta lembrar que a ação movida pelos tucanos contra a chapa Dilma-Temer, depois da derrota de Aécio em 2014, só foi julgada três anos depois.

Bolsonaro era réu no STF (decisão da 1ª Turma por 4 votos a 1, vencido o ministro Marco Aurélio) pelos crimes de injuria e apologia ao estupro. A ação, que fora aberta em 2016 e estava em fase final, investigava o episódio no qual, em 2014, o então deputado afirmou (na Câmara e em entrevista ao jornal Zero Hora) que a colega petista Maria do Rosário “não merecia ser estuprada porque era muito feia e não fazia seu ‘tipo”. Posteriormente, outra denúncia (dessa vez por crime de racismo) foi submetida ao STF, mas acabou suspensa pelo pedido de vista de Alexandre de Moraes, depois que Marco Aurélio e Luiz Fux votaram pela rejeição e Luís Roberto Barroso e Rosa Weber, pela aceitação.

Declarações polêmicas sempre foram (e continuam sendo) a marca registrada do ainda presidente, que, a exemplo de Ciro Gomes, não tem papas na língua e diz o que pensa antes de pensar no que vai dizer. Aliás, foi justamente sua postura intempestiva que conquistou dezenas de milhões de votos. 

PT usa a estratégia da vitimização, que sempre funcionou com a patuleia — que não precisa ser convencida de nada, dada sua fidelidade canina a Lula e ao partido. Curiosamente, essa mesma estratégia vem sendo usada peplo Sultão do Bolsonaristão, que “governa” para sua claque e explora sempre que pode o atentado de que foi vítima em setembro de 2018 (mais detalhes nesta postagem).

Continua...

RANSOMWARE — CONCLUSÃO

NINGUÉM PROMETE TANTO QUANTO AQUELE QUE NÃO PRETENDE CUMPRIR.

RANSOMWARE — CONTINUAÇÃO


Um ataque de ransomware tem início quando um cibercriminoso infecta o computador da vítima com malwares que criptografam arquivos, seja mediante a exploração de vulnerabilidades em softwares desatualizados, seja induzindo a instalação de códigos maliciosos através de mensagens de phishing — que se valem da engenharia social para engabelar os menos antenados.

Observação: Como sabemos, o elemento humano é o elo mais frágil da cadeia de segurança, até porque não existe mecanismo de defesa que seja idiot proof o bastante para proteger os deles mesmos.

Depois que o dispositivo-alvo é infectado, os criminosos exigem o pagamento de um resgate para liberar os arquivos, e ameaçam destruir ou vazar os dados caso não sejam atendidos (para saber mais, leia este artigo da Avira, que oferece cinco dicas úteis sobre como impedir ataques de ransomware).

Segurança absoluta é História da Carochinha, mas ajuda um bocado rodar a versão mais recente do Windows (10, ou 11, caso seu PC seja compatível e o Windows Update já a tenha disponibilizado), que oferece proteção contra ransomware. Para ativar o recurso, digite Segurança do Windows no campo Pesquisar da Barra de Tarefas do Win10 para abrir o aplicativo Central de Segurança do Windows

Uma vez lá, você verá a opção Proteção contra vírus e ameaças; clique em Configurações de proteção contra vírus e ameaças e em Gerenciar configurações (lembrando que é possível obter essas configurações mais rapidamente clicando em Gerenciar proteção contra ransomware, na parte inferior da página). Feito isso, clique em Gerenciar acesso controlado a Pastas e ative o botão respectivo para que o Win10 passe a monitorar as alterações feitas pelos aplicativos nos arquivos salvos em pastas protegidas. Assim, se um programa desconhecido ou suspeito tentar acessar um arquivo protegido, ele será bloqueado e você receberá um alerta sobre a atividade.

Clicando em Histórico de bloqueios, a página Histórico de proteção listará as pastas que têm acesso bloqueado. Clicando em Pastas Protegidas, você poderá adicionar ou remover pastas da lista. Documentos, imagens, vídeos, música, área de trabalho e favoritos são pastas protegidas por padrão; para adicionar outras, clique em Adicionar uma pasta protegida, selecione a pasta desejada na janela do Explorer que lhe será exibida e então escolha Selecionar pasta.

Você pode autorizar aplicativos confiáveis a fazer alterações nas pastas protegidas clicando em Permitir um aplicativo por Acesso controlado a Pastas, mas tenha em mente que isso só é necessário em determinadas situações, como, por exemplo, se a proteção bloquear o funcionamento adequado de um programa confiável (como quando uma foto é salva em uma pasta de armazenamento protegida por um editor de imagens). Se o acesso à pasta já bloqueou um programa confiável, você verá isso depois de clicar em Aplicativos bloqueados recentemente.

A Microsoft optou por não habilitar esse recurso por padrão porque ele pode dar margem a falsos positivos. Se um programa em que você confia for considerado suspeito, por exemplo, o aviso pode ser exibido num momento inconveniente, ou mesmo travar o programa, impedindo que você salve seu trabalho. Além disso, não dá para saber quais apps a Microsoft considera duvidosos nem prever se seus programas ou jogos funcionarão direitinho com a proteção contra ransomware ativada. 

Observação: Para evitar que apps confiáveis sejam considerados suspeitos, você pode adicioná-los à lista de permissões de Acesso controlado a Pastas, mas o procedimento não é dos mais intuitivos, já que é preciso encontrar o arquivo executável que abre o programa. 

Outra desvantagem potencial é que quaisquer arquivos em uma rede compartilhada ou em um disco rígido externo deverão ser adicionados manualmente à lista de pastas protegidas, o que desestimula usuários leigos e iniciantes a se valerem dessa proteção.

Resumo da ópera: embora seja vantajoso ativar proteção nativa contra ransomware, pode ser mais fácil desligar a pasta de acesso controlado e instalar uma suíte de segurança que bloqueie essas ameaças em tempo real.

domingo, 9 de janeiro de 2022

DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM (CONCLUSÃO)


A vitória de Bolsonaro em 2018 deveu-se em grande medida ao antipetismo. Na época, uma parcela significativa da população teria votado no demônio em pessoa para evitar que o país fosse governado por um boneco de ventríloquo comandado por um presidiário. No entanto, como o Príncipe das Trevas não se dignou de concorrer, o jeito foi apoiar seu preposto. 

Imaginava-se que, depois de eleito, o dublê de mau soldado e parlamentar medíocre virasse um presidente de todos, inclusive dos que não votaram nele. Mas ele sempre fez questão de governar para um terço da população e espalhar raiva e desinformação. 

Ao apostar na divisão, Bolsonaro como que convida o eleitorado a reviver 2018 no ano de 2022, só que com o sinal trocado. O antipetismo ficou menor do que o antibolsonarismo. Sobretudo depois que Lula, beneficiado pela anulação de sentenças por tecnicidades processuais fabricadas sob medida para recolocá-lo no xadrez eleitoral, passou a exsudar falsa inocência e a falar em ressureição. 

Como a terceira via continua nebulosa e o Cabo Daciolo, atendendo a um chamado do Espírito Santo, desistiu de concorrer (Glória a Deus e adeus!), é possível e até provável que tenhamos uma reprise do pleito plebiscitário de quatro anos atrás, desta feita disputado por um “ex-corrupto” e um fascista.

Ainda que o Supremo tenha lavado a seco a ficha imunda do pajé do mensalão, a corrupção empreendida por partidos que deram sustentação às gestões petistas é amplamente documentada em outros tantos processos que não foram anulados. Já o bolsonarismo não só cheira a fascismo como tem cara de fascismo, e “o que tem rabo de jacaré, couro de jacaré e boca de jacaré não pode ser um coelho branco”. 

Sem enxergar nada de atraente à frente, o eleitorado “de centro” observa o retrovisor, antevendo a realização da profecia descrita em Eclesiastes, capítulo 1, versículo 9: "O que foi tornará a ser; o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do Sol." No Brasil de 2022, a direita, no máximo, pensa em se abster ou anular o voto caso o cenário traçado pelas pesquisas se confirme e tenhamos um segundo turno entre nhô ruim e nhô pior.

O descontentamento com a política vem desde os protestos de junho de 2013 e foi agravado pelos eventos subsequentes, notadamente o estelionato eleitoral promovido por Dilma, que, como Bolsonaro deverá fazer nos próximos meses, promoveu uma formidável gastança para se reeleger e iniciar seu segundo mandato com a política suicida de austeridade que lhe custou o mandato. 

Por mais que permaneçam os vícios fundadores do Brasil, nossa sociedade é plural. E é o pluralismo que, em última instância, vem barrando a erosão definitiva do edifício constitucional e a consolidação no poder de uma escumalha que pretende reeditar a ditadura e implantar um autoritarismo escancarado no Brasil. Como não há nada tão ruim que não possa piorar, a alternativa que se nos apresenta, pelo menos por enquanto, é a pior possível.

Na terça-feira, dia 4, o país teve uma amostra do que virá caso o ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula volte ao Planalto: não apenas pelo economista escolhido para representá-lo, mas também pelo conteúdo exposto nas páginas da Folha.

Guido Mantega foi ministro do Planejamento durante parte do primeiro governo Lula e ministro da Fazenda ao longo de seu segundo mandato e do primeiro mandato de sua sucessora deplorável sucessora. Foi ele o mentor intelectual da famigerada Nova Matriz Econômica, adotada ao fim do governo Lula e que marcou o abandono do tripé macroeconômico formado por responsabilidade fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante, e que havia sido adotado em 1999, ainda nos anos FHC.

Em suma, Mantega foi responsável por lançar as bases da “herança maldita” do lulopetismo: a recessão de 2015-2016. A crise só não explodiu nas mãos do próprio Mantega porque Dilma havia decidido substituí-lo ainda em 2014, numa demonstração de que sua gestão, motivo de piada na revista britânica The Economist, estava longe de ser um sucesso.

Que Mantega tenha recebido a oportunidade de um revival, quando deveria estar relegado à galeria dos piores ministros da Fazenda da história do país, é mais um sinal de que Lula está longe de ser o “moderado” que intelectualóides esquerdopatas e setores da imprensa pintam. Em seu artigo, o ex-ministro trata o leitor como um desmemoriado, já que não menciona a recessão que ele ajudou a criar.

É como se o segundo mandato Dilma, com Selic, inflação e desemprego em alta, jamais tivesse existido; como se o Brasil tivesse passado de um fim de 2014 ainda sob o efeito das gambiarras orçamentárias que criaram a ilusão de uma economia em ordem diretamente para um governo Temer marcado por uma economia enfraquecida, que brigava para voltar a crescer, sem explicar como fora possível chegar àquele ponto.

Um exemplo dessa desonestidade intelectual é a afirmação de que “as gestões fiscais dos governos Temer e Bolsonaro foram um desastre que, desde 2016, só acumulou déficits primários”, como se a sequência de déficits tivesse se iniciado em 2016, não em 2014, o último ano de Mantega na Fazenda.

Ao comentar os resultados da gestão petista entre 2003 e 2014 (pois, como vimos, 2015 e 2016 simplesmente não existiram para o ex-ministro) e oferecê-los como contraponto ao desempenho de Temer e Bolsonaro, Mantega esconde que todos os números positivos — como a redução no desemprego e na pobreza, e o aumento do PIB — foram obtidos graças a um cenário externo tremendamente favorável, com altíssima demanda por commodities brasileiras, e graças ao incentivo governamental ao consumo e à gastança governamental, pilares da Nova Matriz Econômica. Um crescimento cuja fragilidade ficaria escancarada já em 2015.

Que Deus nos ajude.

Com Gazeta do Povo

sábado, 8 de janeiro de 2022

DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM (CONTINUAÇÃO)


Lula e Bolsonaro se retroalimentam. Um precisa do outro para ter chances reais de se eleger. É por isso que o molusco faz acenos ao centro e à direita, como a recente aproximação de Geraldo Alckmin — que parece não perceber que está sendo usado como massa de manobra — e o "mito" faz o contrário, já que a entrada em cena de Sergio Moro o empurrou para a extrema-direita. 

Nas contas do capetão, só a fidelidade de sua base mais radical poderá salvá-lo de uma derrota humilhante no primeiro turno. Portanto, nada de concessões ao centro e à direita — a menos que Moro fique pelo meio do caminho e Doria não decole.

Tanto Lula quanto Bolsonaro desdenham as chances de Ciro Gomes, que luta com dificuldades para atrair apoios à direita e ao centro. Até onde a vista alcança, o pleito de outubro é um tabuleiro de xadrez que por ora só comporta dois jogadores. Lula joga com as pedras brancas e Bolsonaro, na defensiva, com as pretas.

Bolsonaro é um fabricante de crises que não sabe viver em relativa paz, e o exercício do poder exige a delicada e penosa construção de maiorias sem as quais nada é possível. Se não for capaz de ampliar o contingente dos que ainda o apoiam, onde sua alteza pensa que vai chegar? Parte dos seus seguidores, convencida de que ele não se reelegerá, o largará de mão.

Cresce entre aliados — dentro e fora do governo — a sensação de que o Messias de fancaria pode abdicar da reeleição para disputar uma cadeira no Senado (vale lembrar que, sem o nefasto foro privilegiado, os 6 inquéritos em que o presidente é investigado e os 9 crimes que lhe foram imputados no relatório final da CPI avançarão celeremente). 

Para uma derrota certa e humilhante, é quase certo que ele não irá. O que fará nos próximos três ou quatros meses decidirá seu destino e, em grande medida, o destino do Brasil. Tudo indica que tentará garantir os votos da direita aloprada — uns 15% do total — e somar outros 10% de antipetistas.

É o plano perfeito para entregar o Palácio do Planalto a Lula, que sempre trabalhou para manter o adversário no páreo. A estratégia do capetão, no entanto, não é se reeleger, mas conservar um cacife eleitoral capaz de evitar a cadeia assegurando-lhe alguma forma de imunidade.

Com Ricardo Noblat

Continua...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM


Durante a República Velha, o sistema eleitoral coronelístico impediu, em diversas eleições, que a oposição vencesse o candidato oficial. Quando enfrentou Hermes da Fonseca, em 1910, e Epitácio Pessoa, em 1919, Ruy Barbosa cortou um doze para desenvolver sua campanha. Seus apoiadores foram atacados por capangas a serviço do oficialismo, e alguns embates levaram à intervenção federal.

Com a criação do Código Eleitoral e da Justiça Eleitoral, ambos em 1932, o cerceamento ao debate foi relativamente contido. Mesmo assim, diversas eleições foram marcadas pela violência contra os opositores, especialmente em áreas onde o poder coronelístico ainda resistia. Com a redemocratização, em 1985, e a promulgação da Constituição Cidadã, em 1988, as eleições foram se transformando em momentos de expressão da vontade da cidadania.

De 1989 a 2018 foram realizados oito pleitos presidenciais, seis dos quais foram decididos no segundo turno. As campanhas se desenvolveram em clima de relativa ordem, mesmo quando as paixões políticas estavam açuladas. Mas esse quadro não deve se repetir em 2022.

De todas as campanhas eleitorais da história desta banânia, a próxima tem tudo para ser a mais violenta. O golpismo, as constantes ameaças às instituições, a naturalização da barbárie e o desprezo dos valores constitucionais que se fizeram presentes nos últimos três anos transformaram o clima político e desenharam um cenário preocupante. Como nada tem a apresentar aos eleitores, resta ao “mito” dos bolsomínions apelar para a violência, desmoralizar o processo eleitoral, ameaçar jornalistas, atacar as instituições e produzir fake news em escala industrial.

O presidente conta com o apoio da extrema-direita mundial sob a batuta de Steve Bannon, que dirige uma organização terrorista chamada Movimento e como representante na América do Sul o deputado Eduardo Bolsonaro. A ideia é coordenar os esforços dos extremistas para atacar o sistema do TSE, visando desacreditar as urnas eletrônicas e o processo de apuração. E não faltará dinheiro para financiar o esquema criminoso.

As últimas declarações do general Augusto Heleno reforçam essa análise. O trêfego oficial — que, como medida profilática, poderia ser interditado judicialmente — sinalizou para as milícias bolsonaristas que vai começar o ataque orquestrado às instituições, enquanto Bolsonaro retoma a ladainha do "meu Exército", de que "o poder é do povo", que o "STF quer governar em seu lugar" e que a saída é a "intervenção militar constitucional".

Não será surpresa para ninguém se o patético general coordenar a estratégia miliciana do capetão para as eleições. O GSI, a Abin e a PF poderão servir como instrumentos de coação contra adversários. Nem o Doutor Pangloss está otimista com o processo eleitoral de 2022, que no momento está assim: o ex-presidiário quer liquidar no primeiro turno a fatura da eleição para não correr o risco de ser engolido por um eventual tsunami anti-PT no segundo.

Com Marco Antonio Villa

Continua...

RANSOMWARE

A VIDA É UMA FESTA, SÓ QUE NENHUMA FESTA DURA ETERNAMENTE. PORTANTO, O JEITO É JOGAR OS DADOS E TORCER PELO MELHOR.

Kevin Mitnick, o papa dos hackers dos anos 1970/80, costumava dizer que “computador seguro é computador desligado, mas um hacker competente será capaz de induzir o usuário a ligar o dispositivo (para então invadi-lo)”.

ObservaçãoO livro a Arte de Enganar, que Mitnick publicou em 2001, após passar cinco anos numa prisão federal, traz diversas dicas e uma porção de curiosidades sobre a trajetória do menino que passou de mestre em engenharia social e phreaker (doutor em invasão de redes de telefonia) a consultor de segurança).

Parece exagero, mas não é. O ano de 2020 foi atípico, mas tudo leva a crer que o home office veio para ficar e que nossa dependência de dispositivos eletrônicos continuará a crescer. De acordo com o Kaspersky Security Bulletin 2020, pelo menos 10,18% dos computadores sofreram algum tipo de ameaça no ano passado, e cerca de 700 bilhões de ofensivas foram lançadas, com mais de 360 mil malwares distribuídos por dia.

Programas capazes de se autorreplicar remontam a meados do século passado, mas só ficaram conhecidas como “vírus” — devido a semelhanças com o correspondente biológico — três décadas depois, quando Fred Cohen respaldou sua tese de doutorado nessas pragas (para saber mais, acesse a sequência de postagens Antivírus - A História).

A popularização internet foi decisiva para o avanço do malware, sobretudo após o correio eletrônico se tornar capaz de transportar arquivos digitais de qualquer natureza — para gáudio dos programadores do mal, que até então se valiam de cópias adulteradas de disquetes com joguinhos eletrônicos para espalhar códigos maliciosos.

Atualmente, circulam pela Web milhões malwares (é difícil dizer o número exato, já que existem diversas metodologias para classificá-los), mas é bom lembrar que todo vírus de computador é uma malware, mas nem todo malware é um vírus de computador.

O “ransomware” (ransom = resgate) foi criado há quase duas décadas com a finalidade precípua de “sequestrar” dados e exigir pagamento de resgate para a respectiva liberação. Na maioria dos casos, essa praga infecta o sistema alvo a partir de um phishing scam com que traz um anexo ou link aparentemente inocente, mas que, ao ser aberto ou clicado, conforme o caso dispara um filecoder que criptografa determinados arquivos (ou todo o conteúdo gravado no HDD ou SSD) e informa à vítima como proceder para recuperar os dados.

De acordo com o portal de tecnologia Computerworld, o sinal mais óbvio de infeção por ransomware é a tela inicial não permitir o acesso às informações e exibir instruções sobre o pagamento do resgate para ter acesso aos dados sequestrados, embora haja outras situações menos intuitivas, como a exibição de mensagens de erro quando a vítima tenta abrir um arquivo ou pasta.

Arquivos criptografados por ransomware costumam ter extensões .crypted ou .cryptor, mas também há casos em que eles não possuem nenhuma extensão. Já as instruções para decodifica-los são vêm em arquivos de texto (.txt) ou .html, que geralmente são criados na área de trabalho e exibem mensagens como OPEN MEDECRYPT YOUR FILESYOUR FILES HAVE BEEN ENCRYPTED, ou algo do gênero.

Especialistas em segurança digital aconselham as vítimas a não abrirem o arquivo com as instruções, a não ser que estejam dispostas a pagar o resgate, lembrando que não há garantia de que os criminosos enviarão a chave criptográfica depois que receberem o pagamento. Assim, o melhor a fazer é desconectar o PC da Internet e tentar reverter o sistema a um ponto de restauração criado antes do sequestro. Se não funcionar, o jeito é reiniciar computador no modo de segurança e excluir o perfil de usuário problemático (caso haja mais de um perfil no PC) ou restar o Windows a partir de uma cópia de backup — isso se o usuário a tiver criado oportunamente.

O Windows sempre foi considerado um sistema inseguro, o que se deve em grande medida a sua enorme popularidade. A Microsoft investiu bilhões de dólares em segurança ao longo dos últimos 35 anos (detalhes nesta postagem), mas reparou que uma parcela significativa dos usuários não se dava ao trabalho de atualizar seus sistemas. Assim, a empresa implementou as “atualizações automáticas” e tornou compulsória a instalação de correções críticas e de segurança.

Por outro lado, não é incomum que atualizações/correções descarregadas pelo Windows Update  contenham bugs e inconsistências que podem trazer mais problemas do que soluções. Isso levou a Microsoft a devolver aos usuários do Windows 10 Home o controle sobre as atualizações, mas, traçando um paralelo com a Covid, a eficácia das vacinas fica prejudicada quando o público reluta em se imunizar.

Enquanto pneus à prova de furos não se tornarem padrão da indústria, as montadoras continuarão equipando os veículos com estepe, macaco e chaves de roda; enquanto os engenheiros de software não conseguirem criar códigos sem bugs e brechas de segurança, desenvolvedores responsáveis continuarão desenvolvendo e disponibilizando correções para falhas descobertas após o software ser lançado comercialmente (como faz a Microsoft no Patch Tuesday). Mas a responsabilidade de providenciar o conserto (tanto do automóvel quanto do computador) cabe ao usuário.

Como se costuma dizer, é melhor acender uma vela do que simplesmente amaldiçoar a escuridão, e o conhecimento, aliado à prevenção, é a nossa melhor arma (ou a única de que dispomos). Mas muita gente não sabe que o Windows 10 tem um recurso de proteção contra ransomware, que pode ser habilitado a partir da opção de ativar o “Acesso controlado a Pastas”, um recurso disponível no Microsoft Defender Exploit Guard (parte do Microsoft Defender Antivirus).

Quando ativado, esse recurso evita que o ransomware criptografe os dados e protege os arquivos de aplicativos maliciosos que tentam fazer alterações indesejadas. Considerando que esse tipo de ameaça cibernética está aumentando (e cada vez mais para usuários de PC com Windows), veremos mais detalhes sobre esse assunto na próxima postagem.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

RETROSPECTIVA — QUARTA PARTE

Há coisas que parecem acontecer somente no Brasil (e ainda dizem que Deus é brasileiro!). Ao contrário do que escreveu Karl Marx, a história nem sempre se repete como tragédia ou farsa. Às vezes — para o bem ou para o mal — ela reproduz fielmente o passado.

A julgar pelo exercício de futurologia que se convencionou chamar de pesquisas de intenções de voto, o ex-presidiário travestido de "ex-corrupto" e o maníaco que (ainda) ocupa o Palácio do Planalto disputarão o segundo turno em 2022. E a menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, o picareta dos picaretas fará picadinho do capitão despirocado.

Relembrando: No âmbito judicial, Bolsonaro é investigado em seis inquéritos. O assim chamado inquérito das fake news, que tramita no STF, investiga um esquema de disseminação sistemática e organizada de informações falsas com o objetivo de fragilizar as instituições e a democracia. 

Outro inquérito (esse no TSE) investiga o mandatário por ataques sem provas às urnas eletrônicas e tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro. Além disso, aliados do presidente foram alvo de operações contra atos ofensivos à democracia e às instituições do Estado. Para além disso, dos cinco filhos que teve em três casamentos, quatro são investigados pela PF (a exceção fica por conta da caçula, Laura, de 11 anos).

Bolsonaro enfrenta ainda desgaste nos campos político e econômico, com inflação, desemprego e pobreza em alta. Em Goiânia, ao lado de líderes evangélicos, o “mito” declarou: "Deus me colocou aqui, e somente Deus me tira daqui", ecoando uma frase já comum em seus discursos populistas. Já do lado de fora da igreja, tirou fotos com apoiadores e tomou caldo de cana. Depois de falar com os devotos, reuniu-se com políticos e empresários de Goiás em um local onde foram colocadas tendas e montado um palco. 

Entre, entre 1994 e 2014, o resultado das urnas foi uma obviedade decorrente da ordem dos fatos. A exceção ocorreu justamente na disputa de 2018. O meio ambiente institucional já havia sido crestado pela Lava-Jato, e o ventre rasgado por uma faca, na terra devastada, deu à luz o ogro, que faz o que faz.

O excepcional se manifestou num determinado contexto, e o monstro insiste em perpetrar monstruosidades. A mais recente consiste em avançar contra a vacinação das crianças. Na distopia em curso, não basta a montanha de quase 620 mil cadáveres. É preciso também apostar numa forma de infanticídio. Ou a extrema direita não se revela por inteiro.

Infelizmente, essa gente não vai desaparecer. Continuará por aí a infernizar o país e a envenenar as instituições. E isso vai requerer especial atenção do futuro presidente da República, do Parlamento e do Judiciário. 

Parte considerável do "empresariado bolsonarista" já foi "empresariado lulista", ainda que tivesse de se sujeitar a conviver com um ex-sindicalista malandro. Na alma profunda, muitos desses empresários sempre apreciaram as boçalidades que hoje ouvem de Bolsonaro sobre meio ambiente, armas, benefícios sociais, mulheres, negros, índios, crianças...

Se algum dia alguma entidade internacional resolver fazer o ranking das melhores elites econômicas da Terra, a nossa estará protagonizando o seu vexame no fim da lista. Enquanto o Estado brasileiro tiver o tamanho que tem, essas frações dos endinheirados ficarão grudadas ao poder de turno como craca, pois dependem desse Estado agigantado para seus negócios.

Bolsonaro é a própria voz da besta que, de modo surdo mas permanente, sussurra atraso, violência, reacionarismo, estupidez, preconceito. Esse coro do absurdo não constitui a maioria do país, mas a nefasta polarização semeada pelo PT de Lula e estrumada pelos tucanos ao longo das últimas décadas, os delinquentes que ora vemos no poder não estariam aí, a escandalizar o bom senso com seu festival de asneiras, ignorâncias, mistificações e ideias torpes e homicidas.

A voz do dublê de mau militar e parlamentar de propostas delinquentes deveria ter permanecido à margem do establishment político. As instituições jamais poderiam ter caído nas suas garras. Mas caíram. Além do fenômeno nativo da Lava-Jato, há o novo tempo da política, das notícias, da cultura, da moral, da ética, dos costumes. 

Esse novo tempo é hoje plasmado pelas redes sociais. Elas se transformaram na ágora do mal. Em vez da sonhada democratização e da pluralidade de vozes, assistimos à organização de verdadeiras milícias de opinião, que se estruturam para normalizar a mentira, o engodo, o preconceito, a discriminação.

Não é só a voz do idiota que se horizontalizou com a de Schopenhauer. Algo mais aconteceu. Desfez-se a ideia de representação. Nos EUA, a invasão do Capitólio fala por si mesma. E notem que o principal responsável por um grave atentado à democracia resta impune, fazendo política.

Difícil prever as consequências calamitosas de uma eventual reeleição de Bolsonaro. Quando se vê empresários, alguns graúdos, flertando com essa possibilidade, a gente se dá conta do buraco em que se meteu. Por outro lado, a derrota do tiranete, se de fato acontecer, não enterra a distopia que ele vocaliza nem põe fim à vandalização do debate de que ele é, a um só tempo, consequência e causa.

O bolsonarismo nasceu da desordem e a alimenta. O próximo presidente eleito, seja ele quem for, encontrará um novo velho Brasil arcaico. Antes das redes sociais, por mais que os confrontos pudessem ser acerbos, muitas vezes pouco elegantes, inexistia uma máquina organizada para espalhar o ódio, a desinformação, a agressão a valores elementares da ciência, o estímulo à violência, o incentivo ao preconceito.

O país tem de enfrentar — e isso inclui os três Poderes da República — a máquina organizada para espalhar mentira, ódio e preconceito, estimulando a agressão a pilares da sociedade democrática, que se acoita nas redes sociais. 

Existe hoje um país em que milhares, talvez milhões, ainda que constituam a minoria, preferem dançar com o risco de morte a tomar vacina. Pior: criminosos, sob o pretexto de exercitar a liberdade de expressão, espalham mentiras sobre imunizantes, inventando malefícios sem apontar comprovação ou evidência técnica.

As milícias digitais sem rosto têm hoje o poder de desestabilizar governos, de intimidar a Justiça, de ameaçar Parlamentos, de impedir a correta aplicação de políticas públicas que salvam vidas. 

É evidente que Bolsonaro é hoje, entre os políticos, o principal beneficiário dessa máquina criminosa. Ele conseguiu levar milhares às ruas para protestar contra o suposto risco das urnas eletrônicas, numa pregação escancaradamente golpista.

Quem quer que venha a governar o país — e queira Deus que não seja nem Bolsonaro nem Lula — terá de se preparar para esse enfrentamento. E terá de manter um diálogo lúcido com o Congresso e com o Judiciário para que os delinquentes, que se escondem sob o manto da liberdade de expressão, paguem por seus crimes, inclusive o de pandemia. 

Mentir sobre imunizantes e atacar os métodos comprovadamente eficazes de reduzir o contágio é sinônimo de espalhar a doença. E o presidente fez e faz isso. Essa é apenas uma das razões pelas quais ele deveria ser despachado, sem escalas, do Palácio do Planalto para o Presídio da Papuda.

Com Reinaldo Azevedo