Quando a noite cai e as sombras se alongam, histórias de lugares distantes, tempos esquecidos e seres que desafiam a lógica e a razão começam a ganhar vida.
Observação: Lendas envolvendo cetáceos com atos carnais e fetiches ictiofálicos remontam à Grécia Antiga, onde o golfinho simbolizava a luxúria, e à Roma Antiga, onde era associado ao culto da deusa do amor, talvez porque seus movimentos na água se assemelhassem aos do ato sexual. No entanto, a lenda do boto tucuxi só se estabeleceu no Brasil em meados do século XIX.
Mais ou menos na mesma linha e inspirada em Robert Raymond Robinson — que teve o rosto desfigurado aos 8 anos de idade e fazia caminhadas noturnas para não chocar as pessoas com sua aparência assustadora —, a Lenda do Homem Verde alude a um homem alto, de pele esverdeada e rosto desfigurado, que era visto de madrugada, vagando pelas estradas da região. Acredita-se que o termo "homem verde" se deva ao fato de as luzes dos carros se refletirem no uniforme militar de flanela que o homem costumava usar, ou pelo tom esverdeado de sua pele, decorrente da falta de sol.
No México, a Lenda da Llorona narra a saga de uma mulher que, traída pelo amor de sua vida, afogou seus filhos, se suicidou e foi amaldiçoada a vagar eternamente pelos cursos d'água, chorando e buscando crianças para substituir os filhos mortos. Dizem que ouvi-la chorar é prenúncio de morte ou infortúnio. Na Venezuela, La Llorona é chamada de "La Sayona", e no Brasil, de "Mulher da Meia-Noite".
A lenda do Cão Negro de Bungay — que remonta a 1577 e trata de um enorme cão negro que invadiu a Igreja de Saint Mary e matou várias pessoas — teria inspirado Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes e membro fundador da Sociedade para Pesquisas Psíquicas de Hampshire, a escrever o conto "O Cão dos Baskervilles". O conto foi publicado originalmente em capítulos na revista Strand Magazine, entre agosto de 1901 e abril de 1902, e envolve a morte de Sir Charles Baskerville, atribuída a um cão infernal que assombrava a família nos pântanos sombrios de Dartmoor, na Inglaterra.
Na Alemanha, a lenda do Flautista de Hamelin conta que um músico misterioso se ofereceu para livrar a cidade homônima de uma infestação de ratos. Usando sua flauta mágica, ele conduziu os roedores até o rio Weser, onde eles morreram afogados. Quando o conselho municipal se recusou a pagar o valor combinado pelo serviço, o músico usou a flauta para atrair as crianças da cidade até um local incerto e não sabido, e só as devolveu depois de receber o valor combinado. Diz-se que a partir de então nenhum habitante de Hamelin descumpriu uma promessa.
Segundo a lenda japonesa de Kuchisake-onna (ou "mulher da boca cortada"), uma mulher mutilada pelo marido ciumento percorre as ruas à noite, com o rosto escondido por uma máscara cirúrgica, e pergunta aos transeuntes se a acham bonita. Quem diz que não é morto a golpes de tesoura; quem responde que sim é apresentado a seu rosto sem máscara, e, se demonstra repulsa, tem a boca cortada para ficar parecido com ela. Essa história foi adaptada para o cinema e contada em mangás (histórias em quadrinhos).
Na África do Sul, o Tokoloshe (equivalente Zulu aos sprites ingleses, yokai japoneses e duendes da mitologia nórdica) é descrito como um humanoide pequeno, mas muito poderoso, que é invocado por pessoas para fazer mal a seus desafetos. A crença nessa entidade é tamanha que os sul-africanos colocavam a cama sobre tijolos para não serem molestados durante o sono.
Na Austrália, as Luzes Min-Min são associadas a espíritos ancestrais que vigiam a terra e seu povo. Elas são muito brilhantes e seguem os viajantes por longas distâncias. Segundo os aborígenes, quem tenta persegui-las nunca volta para contar a história. Várias hipóteses foram apresentadas ao longo dos anos, de fenômenos geofísicos como piezeletricidade a insetos com características bioluminescente, mas nenhuma foi comprovada, e as luzes continuam sendo um dos maiores mistérios da Austrália.
Parafraseando Joseph Campbell, "mitos são sonhos públicos, e sonhos, mitos privados". Em um mundo onde a realidade frequentemente supera a ficção, as lendas e o folclore refletem nossos desejos e medos. E uma história pode ser mais verdadeira do que a verdade, não por nos contar sobre como as coisas são, mas porque nos contam o que elas significam.