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domingo, 21 de janeiro de 2024

ORA, DIREIS, OUVIR CONVERSAS ALHEIAS...

NÃO ACREDITE EM TUDO QUE LÊ, OUVE OU VÊ.

Bolsonaro passou mais de meio século pendurado no erário — primeiro como mau militar, depois como parlamentar medíocre. Com receio da volta do lulopetismo corrupto, os "eleitores medianos" se aliaram com os de extrema direita para colocá-lo no Planalto  sem imaginar que estavam o pior mandatário desde Tomé de Souza.
Sob o mandrião mefistofélico, muitos oficiais das Forças Armadas fecharam os olhos ou aderiram aos esforços do chefe para demolir a pátria. Com o retorno de Lula, alguns estrelados extraem lucro dos escombros.
O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, se alistaram na tropa da quarentena remunerada — que visa evitar a "venda" de segredos de Estado assegurando seis meses de salários extras a ex-autoridades que tiveram acesso a informações privilegiadas. Ambos informaram à Comissão de Ética Pública que receberam propostas de trabalho de entidades privadas — o general iria para a Associação Brasileira de Blindagem, e o almirante, para o Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança. Ambas as entidades negaram interesse em empregar os ditos-cujos, o que significa dizer que ambos os militares de estimação de Bolsonaro engordaram fraudulentamente seus contracheques. 
Gomes e Garnier frequentam a delação de Mauro Cid como participantes da reunião em que Bolsonaro discutiu com a cúpula das "minhas Forças Armadas" uma minuta de golpe. O almirante aderiu gostosamente à intentona fracassada; o general torceu o nariz, mas não levou os lábios ao trombone. 
Resumo da ópera: o governo forneceu dinheiro extra a oficiais que não merecem senão interrogatório. Sob nova direção, a PGR tem uma boa oportunidade para mostrar serviço. Resta saber se Gonet e sua equipe irão aproveitá-la.
***
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Continua...

sábado, 20 de janeiro de 2024

SERGIO MORO E OS NOVE CÍRCULOS DO INFERNO

 

Não bastasse a provável cassação de seu mandato, o senador Sergio Moro se tornou alvo de um inquérito que visa apurar supostas irregularidades num acordo de delação premiada firmado em 2004 por Antonio Celso Garcia, que o acusa de obrigá-lo a gravar autoridades com foro privilegiadoA denúncia teria sido relatada à juíza substituta Gabriela Hardt em 2021, mas só foi encaminhada ao STF dois anos depois, durante a passagem relâmpago do juiz antilavajatista Eduardo Appio pela 13ª Vara Federal de Curitiba. 

Observação: Vale lembrar que Hardt assumiu os processos do braço paranaense da Lava-Jato em 2018, quando o Moro aceitou ser ministro de Bolsonaro, e tornou a assumi-los em março do ano passado, quando Appio foi afastado pelo TRF-4 por suspeitas de ter ameaçado o filho do desembargador Marcelo Malucelli.
 
Moro embarcou numa canoa que deveria saber furada (e iniciou seu périplo pelos nove círculos do inferno) quando trocou a magistratura por um efêmero ministério no desgoverno Bolsonaro. Talvez achasse realmente que poderia implementar uma forte agenda anticorrupção, e que sua indicação para o STF era pra valer. Mas acusá-lo de condenar Lula movido por "ambições políticas" me parece leviano. Até porque a sentença foi dada em julho de 2017, quando as chances de Bolsonaro ser eleito presidente eram as mesmas de eu ser ungido papa. E prisão do xamã do PT foi determinada pela 8ª Turma do TRF-4, que confirmou a condenação e aumentou a pena de 9 anos e 6 meses de reclusão para 12 anos e 1 mês.
 
Mas a terra plana não dá voltas, capota, e Moro deu com os burros n'água. As coisas poderiam ter tomado outro rumo se ele continuasse a engolir sapos e beber a água da lagoa (como fez durante 1 ano e 4 meses), mas a reunião interministerial de 22 de abril de 2020 foi a gota que transbordou o copo. Na coletiva de imprensa em que anunciou a demissão, o ainda herói nacional atribuiu sua decisão às frequentes interferências de Bolsonaro na PF

Observação: Sobre as alegadas ingerências, o chefe do clã das rachadinhas assim se pronunciou: “Fui eleito presidente para interferir mesmo, se é isso que eles querem. Se é para ser um banana ou um poste dentro da Presidência, tô fora”. Fato é que o desembarque criou uma crise no governo e originou um inquérito que acabou em pizza devido à aposentadoria do decano Celso de Mello e à subserviência do antiprocurador-geral Augusto Aras. 
 
Como juiz, Moro enquadrou poderosos em processos de grande repercussão, como o escândalo do Banestado, a Operação Farol da Colina e a Operação Fênix. No auge da (hoje moribunda) maior operação anticorrupção da história desta banânia, condenou figuras do alto escalão da política e do empresariado tupiniquim, como Lula, José Dirceu, Sérgio Cabral e Marcel OdebrechtÀ frente dos casos da Lava-Jato em Curitiba, tinha uma biografia respeitável, estabilidade no emprego e a vida a lhe sorrir. 

No governo, Moro foi traído por Bolsonaro. Como aspirante à Presidência, filiou-se ao Podemos, migrou para o União Brasil e foi sabotado por Luciano Bivar, que fingiu interesse em concorrer ao Planalto para tirá-lo do jogo — como já o havia tirado do Podemos. Como senador, vê aumentarem dia após dia as chances de sua poltrona acomodar novas nádegas. E como desgraça pouca é bobagem, o mesmo pode acontecer com a mulher, Rosângela, que enfrentou diversos obstáculos para se eleger deputada federal.
 
Voltando as acusações feitas pelo mix de empresário, estelionatário e ex-deputado Tony Garcia, o pedido de abertura de inquérito partiu da PGR e a autorização foi dada prontamente pelo nobre ministro Dias Toffoli, responsável pelo plantão do STF durante este recesso. 

Observação: Lula presenteou Toffoli com a suprema toga em 2009 em retribuição aos bons serviços prestados como advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, consultor jurídico da CUT, assessor jurídico do PT e de José Dirceu e advogado-geral da União. Segundo a CF, indicados para o STF devem ter reputação ilibada e notório saber jurídico; para Lula, o fato de o apadrinhado ter bombado não uma, mas duas vezes em concursos para juiz de primeira instância fizeram tanta diferença quanto o currículo anabolizado de Nunes Marques, o desembargador piauiense cujos ombros Bolsonaro cobriu com a suprema toga porque "tomaram muita tubaína juntos".

Questionado pela imprensa sobre o inquérito, Moro ressaltou que: 1) Garcia foi condenado por estelionato em decisão transitada em julgado; 2) o acordo de delação envolveu a devolução de valores roubados do Consórcio Garibaldi; 3) as escutas ambientais foram autorizadas judicialmente e acompanhadas pela PF e pelo MPF; 4) a jurisprudência da época (2004) não obrigava o juiz a remeter processos para tribunais superior em casos de mera menção de autoridades com foro privilegiado; 5) gravações de conversas, quando de conhecimento de um dos interlocutores, dispensava autorização judicial; 6) se houve crime (coisa que ele nega), a punição estaria prescrita.
 
Moro desagradou a gregos e troianos. Sua imagem de herói nacional — que ajudou o mau militar e parlamentar medíocre a se passar por inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média — se esvaneceu aos olhos dos bolsomínions quando ele abandou o barco atirando contra o capitão. Para a patuleia ignara, o ex-ministro continuou sendo "o algoz de Lula" e o "perseguidor da petralhada". 

Após a aprovação de Flávio Dino no Senado, Moro trocou mensagens com uma pessoa próxima — apelidada de "Mestrão" — que o alertou para não revelar seu voto (favorável ou contrário à indicação). A notícia pegou mal nas redes sociais (aliás, conversas vazadas sempre foram um problema para ele, vide a série de denúncias da Vaza Jato no The Intercept Brasil). 

Na noite seguinte, o Ministério Público se manifestou pela cassação do mandato de Moro por "abuso de poder econômico" na pré-campanha à Presidência. Detalhe: o processo eleitoral que ensejou esse furdunço foi movido pelas campanhas do PT e do PL. 
 
Observação: Em 2017, o então presidente do TSE Gilmar Mendes articulou uma impostura travestida de julgamento da chapa Dilma-Temer e o deu o voto que livrou a pele do vampiro do Jaburu 
— por "excesso de provas", como ironizou o ministro Herman Benjamim, relator do imbróglio. Mas os tempos eram outros, e outros eram os interesses dos envolvidos e os protagonistas da patética tragicomédia.

Moro tornou-se refém do personagem que criou na Lava-Jato e do político pouco habilidoso que demonstrou. Execrado pela esquerda, abandonado pela extrema-direita (e por boa parte de direita) e antipático aos olhos da alta cúpula do Judiciário, colhe os frutos do que plantou em 2018, quando trocou o certo pelo duvidoso (ou pelo errado, como ele descobriu mais adiante). Agora, vive sob a espada de Dâmocles e pode acabar pendurado — como o amigo Dallagnol — de ponta-cabeça sob manchetes de "CASSADO E COM O PLENÁRIO VAZIO". 

Na Divina Comédia, Dante Alighieri percorre o Inferno e o Purgatório guiado pelo poeta Virgílio, e o Paraíso, pela amada Beatriz. Na política, cada um precisa fazer seu caminho. Moro trocou sua carreira (22 anos) na magistratura pela política e deu com os costados no vestíbulo dos nove círculos do inferno, encimado pelos dizeres: "Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate!Ao contrário de Dante, ele entrou nessa sem guia, sozinho. Enquanto isso, Flávio Dino orbita as esferas do Paraíso até tomar posse no STF.

Atualização: Na última sexta-feira o advogado Rodrigo Gaião anunciou seu desembarque da defesa de Moro — não sem reforçar seu “direito a eventual verba honorária de sucumbência ou êxito, proporcionais ao período de atuação no feito". Mas uma mudança na composição do TRE pode embaralhar o cenário, já que o regimento interno estabelece que as decisões em ações que podem levar à cassação de registro ou à perda de diplomas somente poderão ser tomadas com a presença de todos os membros do tribunal. O mandato de Thiago Paiva dos Santos, representante da classe dos advogados, termina no próximo dia 23 e, quatro dias depois, chega ao fim a participação de José Rodrigo Sade e Roberto Aurichio Junior, dois substitutos da mesma classe. Entre os dias 22 (reinício dos trabalhos) e 27 (saída dos substitutos da classe de advogados) há duas sessões presenciais e três virtuais previstas, mas o caso contra Moro não consta da pauta (ao menos por enquanto). Seja qual for o resultado do julgamento, a parte derrotada acionará o TSE para reverter a decisão.


Hoje é dia de São Sebastião e aniversário do Rio de Janeiro. Okê Arô, Oxóssi!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (QUARTA PARTE)

O que se vê no Brasil de hoje é basicamente uma divisão entre sectários do lulopetismo e adeptos do bolsonarismo. Para os que têm o imbrochável insuportável na conta de "mito", o deus pai da Petelândia é o exemplo pronto e acabado do desempregado que deu certo. Faz sentido: o ex-tudo deixou de ser operário quando fundou do PT (1980), mas já não dava expediente em chão de fábrica desde 1972, quando se tornou dirigente sindical. Numa conta de padeiro, dois terços de seus 78 anos recém-completados foram dedicados à "arte da política", não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. 

O mentecapto mefistofélico com vocação para tiranete também nunca foi fã do batente. Quando assumiu a Presidência, seu expediente diário era de, em média, 5,6 horas; no segundo ano de mandato, de 4,7 horas; no terceiro, de 4,3 horas; no último, de pouco mais de 3 horas. Depois da derrota nas urnas, a média caiu para ridículos 36 minutos por dia. Isso também também faz sentido: se o capetão nunca foi pegar no pesado, por que mudaria seus hábitos a 2 meses de deixar o cargo? 

Observação: O estudo Deixa o homem trabalhar? apontou que o mandrião trabalhava 18 horas semanais a menos que um trabalhador celetista e 14 horas a menos que um servidor público federal da administração direta. Que gastava mais tempo em almoços (média de 1,3 hora) do que em reuniões com ministros de Estado (menos de 1 hora). Que participou de apenas cinco eventos "envolvendo explicitamente o tema vacina", nos quais investiu, em média, 0,9 hora por compromisso. Sua média diária só ultrapassava 4 horas quando ele estava em trânsito (como em 18 novembro de 2012, quando regressou do Catar). Mas esse critério nos levaria a considerar o tempo como "jornada de trabalho" o tempo gasto em motociatas pelo país, comendo farofa nas ruas de Brasília ou passeando de jet-ski no Guarujá e no litoral catarinense. 
 
Pendurado no erário desde os tempos da caserna, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre sempre gostou mais de dinheiro que de ideologia. E se valeu desta como instrumento para obter aquele. Quando percebeu que havia mercado para a parolagem estúpida e brutalista, rendeu-se a ela. E ela lhe rendeu — a ele e sua prole — votos, dinheiro e patrimônio. E assim tornou-se um homem de muitos milhões. S
ob o escudo de uma impunidade quase absoluta, fez da Presidência sua Disneylândia particular, que tentou perpetuar através de um golpe Estado. O golpe fracassou, mas o golpista jamais descuidou do caixa. Nem mesmo quando fingia lutar uma cruzada moral e patriótica. 
 
Derrotado pelo ex-presidiário mais famoso do Brasil, o mandrana sacripanta se encastelou no Planalto, de onde assistiu aos protestos antidemocráticos protagonizados por fanáticos acampados em portas de quartéis. A dois dias de entregar a faixa, homiziou-se na cueca do Pateta, onde ficou
 o final de março de 2023. Inelegível até 2030 por decisão do TSE, passou a posar de vítima enquanto explora seus devotos — um bando de imbecis travestidos de militantes, comandado por um imbecil travestido de ex-presidente — que, cegos pelo fanatismo ou por interesses ocultos, parecem não se constranger com suas desculpas esfarrapadas. 
 
O naufrágio do Titanic tornou-se a melhor metáfora para o ponto final de qualquer enredo trágico. No papel de maestro da orquestra da célebre embarcação, o capitão deveria ser o primeiro a notar que um script que evolui do patriotismo épico para um reles caso de roubo de joias é o roteiro de um desastre. A imagem mais fascinante é a dos militares deslizando pelo salão como músicos fieis de uma banda marcial a caminho do fundo. Ao arrastar para o epicentro do escândalo o general Cid, a PF mostrou que a água invadiu os trombones: o pai do tenente-coronel enrolado migrou da condição de estrelado de mostruário para a de contrabandista de joias quatro estrelas
 
A tradicional família militar dividiu a ribalta com um mafioso de comédia e criminalista de estimação da Famiglia Bolsonaro. Com as caldeiras explodindo, os fardados continuam tocando sem desafinar, evitando incluir no fundo musical a partitura de uma delação. É como se, com a água pelos beiços, o futre mandasse a orquestra tocar com brio. 
Expurgado do Poder, já não podia mandar cortar o salário dos músicos, mas eles continuam a postos e, parecendo enxergar virtude na depravação, mostravam-se dispostos a executar a partitura do abantesma da ditadura até o último glub-glub, quando já não haveria mais botes salva-vidas à disposição.

Continua...

sábado, 13 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (CONTINUAÇÃO)


Sir Winston Churchill ensinou que "a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos", e que "o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano." Anthony Downs ensinou que ganha a eleição quem conquista o eleitor mediano, pois os candidatos de esquerda e direita têm garantidos os votos dos eleitores que comungam de suas convicções político-ideológicas.
 
Conhecido como Teorema do Eleitor Mediano, esse axioma vicejou no Brasil de 1994 até 2014, quando então a reeleição de mulher sapiens gerou uma polarização que vazou da política para as ruas. Em 2016, a insatisfação popular deu azo ao impeachment da gerentona de araque e à ascensão de Michel Temer, que prometeu um ministério de notáveis e empossou uma notável confraria de corruptos. Sua "ponte para o futuro" era de vidro e se quebrou quando O Globo publicou uma conversa de alcova gravada à sorrelfa por certo moedor de carne bilionário travestido de x-9. 
 
Alvo de três "Flechadas de Janot" — o PGR que mais adiante reconheceu ter ido armado ao STF para matar o semideus togado e se suicidar —, 
vampiro que tem medo de fantasma empenhou nossas cuecas em troca de apoio das marafonas do Centrão, mas terminou sua gestão como um patético "lame duck" — termo usado pelos americanos para definir políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons demonstram seu desprezo servindo-lhes o café frio.
 
Como desgraça pouca é bobagem, desse caldeirão infernal emergiu o amálgama mal ajambrado de mau militar e parlamentar medíocre que, em 2018, fantasiado de outsider antiestablishment e surfando na onda do antipetismo, impôs ao títere
 do então presidiário mais famoso do Brasil uma derrota acachapante. 
 
Observação: Como eu antecipei numa postagem de novembro de 2021, a maldita polarização transformou o pleito de 2022 em mais plebiscito, obrigando-nos (mais uma vez) a escolher o menor de dois males (lembrando que toda má escolha feita por falta de alternativa continua sendo uma má escolha). E não há nada como o tempo para passar. 
 
Sétimo filho (noves fora quatro que "não vingaram") de um casal de lavradores pernambucanos pobres e analfabetos, Luiz Inácio da Silva nasceu em 1945, conheceu o pai aos 5 anos e retirou para São Paulo aos 7, em 1952, onde morou com o pai, a mãe e os irmãos até que uma surra de mangueira levou dona Lindú a deixar o marido alcoólatra, rude e ignorante e se mudar para um cubículo nos fundos de um boteco do bairro paulistano do Ipiranga, onde Lula trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico e perder o dedo mínimo da mão esquerda num acidente pra lá de suspeito. 
 
Observação: Vale destacar que Aristides Inácio da Silva — que foi alcunhado de "homem das sete mulheres" pelos colegas estivadores, morreu de cirrose em 1978 e foi enterrado numa vala comum: nem dona Lindú, nem as amantes, nem os vinte e tantos filhos que ele espalhou Brasil afora lhe deram um túmulo e um epitáfio. 
 
Estimulado pelo irmão Frei Chico (que não era frade, mas ateu, não se chamava Francisco, mas José, e era membro do Partido Comunista Brasileiro), Luiz Inácio iniciou sua trajetória de sindicalista e ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje, mas que só incorporou depois de fundar o PT e de ficar em 4º lugar na primeira eleição direta (pós-ditadura) para governador de São Paulo. 

Falando em apelidos, Brizola — que chamava Lula de "cachaceiro" — disse em 1989 que "política é a arte de engolir sapos" — daí o epíteto "sapo barbudo". Em 2002, quando se elegeu presidente pela primeira vez (após três tentativas fracassadas), o xamã do PT ficou conhecido como "Lulinha paz e amor"; em 2006, durante a campanha pela reeleição, ganhou da adversária Heloísa Helena a alcunha de "sua majestade barbuda"; nos bastidores do Planalto, era chamado de "chefe", "grande chefe" e "nine" (numa alusão ao dedo mindinho decepado em 1964, num acidente pra lá de duvidoso); nas planilhas de propina da Odebrecht, identificado como "Amigo" e "Brahma". 
 
Observação: Em meados dos anos 1980, Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares, idealizador do SNI da ditadura e arquiteto da "abertura lenta, gradual e segura" — confidenciou a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda, que não passava de 
um bon vivant

Em 1986, Lula foi o deputado federal mais votado do país; em 1989, no segundo turno da primeira eleição direta para presidente pós-ditadura, perdeu para Fernando Collor; em 1994, foi derrotado por Fernando Henrique, que tornou a vencê-lo em 1998, sempre no primeiro turno. Em 2002, sua vitória sobre José Serra deu início ao jugo lulopetista que só terminaria 13 anos 4 meses e 12 dias depois, com o afastamento da nefelibata da mandioca. Dois meses antes, ao ser conduzido coercitivamente à PF para depor, Lula esbravejou: "Quiseram matar a jararaca, mas bateram na cabeça, bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve". 
 
Continua... 

sábado, 2 de dezembro de 2023

NÃO É A MAMÃE


O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: "ASSISTIR AOS NOTICIÁRIOS PODE CAUSAR ÚLCERAS GÁSTRICAS". 

O fim da ditadura não foi uma consequência natural do "espírito democrático" dos generais-ditadores Geisel e Figueiredo nem se deu sem turbulências e acidentes de percurso. O processo de abertura só foi concluído graças às manifestações populares que eclodiram em 1983 e levaram às ruas milhões de pessoas empunhado bandeiras e vestindo camisetas com os dizeres "EU QUERO VOTAR PARA PRESIDENTE". 

Numa época em que a Internet engatinhava (as redes sociais só surgiriam dali a duas décadas), a população compareceu espontaneamente para aplaudir líderes políticos que defendiam volta das eleições presidenciais diretas, suspensas pelo golpe militar de 64. Vinte anos depois, no dia da votação da PEC Dante de Oliveira, uma manobra de bastidores urdida pelos fardados impediu a obtenção dos votos necessários à aprovação do projeto na Câmara. Mas o processo de reabertura já havia passado do ponto sem retorno.
 
O desgaste governo militar ensejou a eleição (indireta) de Tancredo Neves. Por uma trapaça do destino, o político mineiro foi hospitalizado horas antes da cerimônia de posse e foi declarado morto 38 dias e 7 cirurgias depois, e o que deveria ter sido festa da democracia virou luto nacional. Cogitou-se a possibilidade de o Sr. Diretas, então presidente da Câmara, ser alçado ao Planalto, mas prevaleceu o entendimento de que o posto caberia a José Sarney, que foi o candidato a vice na chapa de Tancredo. E o resto é história recente.
 
Karl Marx disse que história se repete como tragédia ou farsa. No Brasil, ela costuma reproduzir fielmente o passado. Hoje, preside esta banânia (pela terceira vez) o ex-presidiário mais famoso da história, que derrotou Bolsonaro em 2022 tendo como principal cabo eleitoral a péssima gestão do mau militar, parlamentar medíocre e golpista de carteirinha.
 
Prefiro não comentar o que penso do terceiro reinado de Lula, mas relembro que demagogos, populistas e outras espécies de maus políticos não brotam nos gabinetes por geração espontânea, mas pelos votos da récua muares que o Criador escalou para povoar o país do futuro que nunca chega.
 
Voltando à frase de abertura desta postagem, preparem o Omeprazol: se a indicação de Flávio Dino para o STF for aprovada (e tudo indica que será), 7 dos 11 togados serão fruto de indicações feitas durante gestões petistas — as exceções são Gilmar Mendes (a verdadeira herança maldita de FHC), Alexandre de Moraes (indicado por Temer) e Nunes Marques e André Mendonça (nomeados pelo imbrochável e insuportável Messias que não miracula). Como a legislação impõe a aposentadoria compulsória aos semideuses supremos quando eles completam 75 anos de vida, Dino, se aprovado, permanecerá na Corte até 2043, e Cristiano Zanin, o ex-advogado pessoal de Lula, até 2050. É muita assombração para pouco castelo.
 
Observação: Dino assumirá o acervo de 344 ações que estavam sob a relatoria da ex-ministra de Rosa Weber, entre as quais se destacam o pedido de investigação contra autoridades pela atuação na pandemia e o processo sobre o indulto natalino. Caso siga à risca suas declarações de que deixará de ter lado político ao receber a toga, o ainda ministro da Justiça decepcionará seu benfeitor, que conta com sua fidelidade a posteriori. 
 
No périplo de "beija-mão" da semana passada, Dino disse que ministros do STF "não têm partido, ideologia ou lado político", e que "mudará de roupa" se seu nome for aprovado. Embora seja desejável que ele deixe de lado suas convicções esquerdistas e seus vínculos históricos com Lula, sabe-se que isso não passa de discurso de quem está na bica de se encontrar com os senadores de oposição. 
 
Estima-se um placar apertado, mas ninguém acredita que a indicação de Dino não seja aprovada. 
 
A conferir.

domingo, 12 de novembro de 2023

SOIS REI?

NÃO HÁ NADA COMO O TEMPO PARA PASSAR.

Promulgada em 1988, a Constituição Cidadã — feita sob medida para o parlamentarismo — estabeleceu que a forma e o sistema de governo seriam definidos em plebiscito. Em 21 de abril de 1993, o povo foi às urnas decidir se o Brasil voltaria a ser monarquia ou continuaria sendo república, e também se seria instaurado o parlamentarismo ou mantido o presidencialismo. 

Useiro e vezeiro em escolher sempre a pior opção, nosso esclarecidíssimo eleitorado decidiu manter o status quo, ensejando o advento do "semipresidencialismo" (ou "semiparlamentarismo") que hoje tem Arthur Lira como "primeiro-ministro de fato" e o Supremo como "poder moderador". 
 
Observação: No presidencialismo de coalização, o chefe do Executivo governa com o apoio de uma bancada pluripartidária no Legislativo, mas o presidencialismo de cooptação é baseado no célebre toma lá (verbas e cargos) dá cá (apoio parlamentar). 

Enquanto candidato, Bolsonaro condenava as indicações políticas, a interferência do governo no Legislativo e os "crimes hediondos" contra a Petrobras, e defendia a Lava-Jato e a prisão de parlamentares do Centrão — chegando até mesmo a comemorar a delação de Alberto Youssef, que dedurou o próprio Arthur Lira. Mas não há nada como o tempo para passar.
 
No Planalto, o combo de mau militar e parlamentar medíocre torrou bilhões de reais do Orçamento Secreto para garantir a vitória de Lira na disputa pela presidência da Câmara e, mais adiante, nomeou Ciro Nogueira para a Casa Civil. A pareceria com o deputado alagoano foi um jogo de ganha-ganha: Bolsonaro garantiu sua blindagem contra CPIs e pedidos de impeachment e Lira, às voltas com os tribunais, se beneficiou da crescente influência do chefe do clã das rachadinhas e mansões milionárias nas cortes superiores. 
 
Observação: Collor e Dilma foram depostos (em 1992 e 2016, respectivamente) porque "peitaram" o Congresso. Temer só escapou das "flechadas de Janot" porque distribuiu cargos a rodo e bilhões de reais em verbas parlamentares em troca de blindagem. 
 
Durante seu primeiro reinado, D. Lula se valeu do "Mensalão" para comprar apoio parlamentar. Quando a maracutaia veio a público, pediu desculpas ao povo brasileiro e disse que havia sido traído. Mais adiante, percebendo que escaparia incólume, passou a negar o esquema espúrio — e continuou a fazê-lo mesmo depois que o STF condenou 24 réus da ação penal 470 (entre os quais José DirceuJosé GenoínoAntonio VaccariDelúbio Soares e outros petralhas de alto coturno). Até pouco tempo atrás, quase ninguém acreditava que Dilma seria impichada nem que seu mentor acabaria preso. Mas não há nada como o tempo para passar. 
 
Observação: Não foi fácil prender o pai dos pobres, mãe dos ricos e camelô de empreiteiro, e mantê-lo atrás das grades foi ainda mais difícil, como se viu no caso Favreto e na liminar circense do então ministro Marco Aurélio. Mas a postura golpista e o negacionismo de Bolsonaro (exacerbado durante a pandemia) levaram à soltura e subsequente "descondenação" do presidiário mais famoso do Brasil. E como desgraça pouca é bobagem (mais quatro anos sob o "mito" dos descerebrados seriam uma desgraça ainda maior, mas isso não vem ao caso neste momento), o deus pai da Petelândia foi guindado ao Planalto pela terceira vez. 

D. Lula III vem trombeteando asnices, descumprindo promessas e repetindo erros cometidos nos reinados pregressos. Em campanha, criticou enfaticamente o relacionamento espúrio do antecessor com o Centrão; uma vez no trono, abriu os braços (e as pernas) para Arthur Lira. A PEC que ampliou o teto de gastos em R$ 170 bilhões — que só foi aprovada após farta distribuição de verbas e cargos em troca de votos, numa espécie de "mensalão oficial" — selou a aliança do palanque ambulante com o "Imperador da Câmara". 

Aos 78 anos, Lula ainda se deixa seduzir por luxos e mordomias, rasga compromissos que não lhe interessam, defende ditadores como Putin, Maduro, Ortega e Díaz-Canel e simpatiza com grupos terroristas como o Hamas. A recente recauchutagem facial reforça a suspeita de que sua promessa de pendurar as chuteiras acabará como a de "não nomear amigo ou aliado para o STF". Claro que as chances de ele ser apeado do trono em algum momento — e de não caminhar mais entre os vivos por ocasião da próxima eleição presidencial — não podem ser desprezadas, mas isso é outra conversa. 

A defesa ferrenha do rombo fiscal evidencia que sua alteza não aprendeu nada nos reinados anteriores. Fiel a velhos hábitos, continua a abandonar aliados no campo de batalha quando seus corpos lhe servem de alguma maneira. Veja-se a propósito a exoneração das ministras do Esporte e do Turismo e da presidente da CEF — para afinar as relações como partidos do Centrão — e, mais recentemente, a promoção de poste a bobo da corte de Fernando Haddad — o vassalo submisso que aceitou representar se suserano em 2018, mesmo sabendo que, em caso de vitória, não passaria de um fantoche.
 
Apesar do que se comenta nos subterrâneos do governo, Haddad e Rui Costa não discutem, até porque eles simplesmente não se falam. Desde o discurso de Lula no último dia 27, durante um café de aniversário com jornalistas amestrados, os dois ministros mais importantes deste governo passaram a falar línguas diferentes expressando-se no mesmo idioma. Enquanto um simula que a meta fiscal continua estuante de vida e articula no Congresso receitas tributárias novas, o outro trama um ajuste para evitar que 2024 comece com cortes orçamentários no PAC. 
 
Depois de visitar a Casa Civil do Planalto, o relator da LDO ironizou a divergência: "Falta o maestro pegar na batuta e dizer qual é o tom". Mas o regente já deu o tom em duas oportunidades: numa, declarou que o país não precisa de déficit zero; noutra, afirmou que dinheiro bom é dinheiro aplicado em obras. Dias atrás, discursando para empresários, prometeu garantir a estabilidade fiscal a quem quiser investir. Mas absteve-se de definir "estabilidade".
 
Gastar é bom, mas, quando o dinheiro é do contribuinte, gastar com parcimônia e responsabilidade é muito melhor. Quando Lula prestigiava Haddad, sua gestão tinha nexo econômico. Mas não há nada como o tempo para passar. Agora, brilham no letreiro nacional duas perguntas: 1) Qual é o rumo do governo na economia? 2) A que temperatura ferve Fernando Haddad?