sábado, 7 de maio de 2022

NHÔ-RUIM ENVELHECIDO E NHÔ-PIOR ENVILECIDO — A BATALHA FINAL



Nos anos 90, ficou famosa no Rio a história de um velho comunista que, para comemorar os 60 anos, soprou as velinhas colocadas sobre confeitos em forma da foice e do martelo e, em vez do tradicional “Parabéns para você”, foi saudado pelos amigos com o hino da Internacional Socialista. Já àquela altura, com a queda do Muro de Berlim, era um ato simbólico extemporâneo de antigos membros do Partidão, um saudosismo inofensivo, quase juvenil.


O que dizer de Geraldo Alckmin, outrora acusado de ser do Opus Dei, ouvindo (não acredito que conhecesse a letra para cantá-la) a Internacional Socialista todo empertigado, ao lado de Lula numa reunião do PSB? Se nos anos 90 já era apenas um retrato na parede da memória, o que será agora?


Tão surpreendente quanto anacrônico, o ato é uma amostra fiel do que vem sendo a campanha do ex-presidiário, que diz que criará uma moeda latino-americana para não depender mais do dólar. Fatos como esse do hino socialista — ou de insinuar que policiais "não são gente", fato que o obrigou a desculpar-se de público — ajudam Bolsonaro a espalhar o medo entre eleitores de centro-direita que, desapontados com ele, pensam em votar em seu adversário. O medo, já ensina o sociólogo Manuel Castells, é um grande impulsionador nas escolhas eleitorais.


Por caminhos distintos, Lula e Bolsonaro chegam ao mesmo antiamericanismo infantil. O Itamaraty na época do petista tinha um viés esquerdista que permanece em suas declarações e atitudes políticas até hoje — até não falar inglês chegou a ser considerado para os alunos do Instituto Rio Branco.


Bolsonaro acaba de fazer uma reforma estrutural no Itamaraty que também relega os Estados Unidos a um departamento em que nem mesmo o nome do país aparece: “Departamento do Caribe, América Central e do Norte”, chama-se agora.


O fracasso relativo das manifestações pelo Dia do Trabalhador mostra que, a esta altura da campanha, nem Lula nem Bolsonaro conseguem entusiasmar os eleitores. O atual presidente já esteve pior, e o ex, melhor. 


Lula está à frente nas pesquisas, mas não empolga mais como antigamente, tem cometido erros com frequência, falado muita bobagem e sido obrigado a pedir desculpas (sinal evidente de que não está na melhor forma). Bolsonaro esvaziou sua própria manifestação, pois sentiu que não era um bom momento — não por bom senso, mas por falta de força. 


Estamos diante de dois candidatos que se destacam por falta de alternativa, já que não têm mais a repercussão popular um dia tiveram — especialmente Lula. Além de se ajudarem mutuamente alimentando a polarização, ambos têm cometido erros primários que beneficiam o opositor — especialmente Lula.


Quando repete que fortalecerá o Brics, mas que para isso tem de mandar Putin parar “essa porra de guerra”, o demiurgo de Garanhuns volta a ser aquele que queria ganhar o Prêmio Nobel da Paz tentando mediar a crise nuclear do Irã sem a menor condição geopolítica de obter sucesso. Para além disso, dá chance ao adversário de criticar a proposta de resolver a guerra tomando cerveja e se despe da fantasia de líder mundial para assumir a realidade de um falastrão de mesa de bar. O sociopata, por seu turno, meteu-se a mediador da guerra na Ucrânia, atribuindo a si um suposto recuo de Putin depois de uma conversa a dois. A patacoada virou pó poucos dias depois dessa jactância jeca, na esteira dos tanques russos invadindo território ucraniano.


Vivemos uma situação muito delicada, e o caminho até as eleições será tumultuado, especialmente porque Bolsonaro aposta tudo na desconfiança das urnas. Ele faz ao mesmo tempo campanha para se reeleger e um hedge para se proteger em caso de derrota. É do tipo que avança e recua. Temia-se que participasse das manifestações de 1º de Maio de forma agressiva, o que não aconteceu — talvez porque ele não quis "esticar (ainda mais) a corda". Mas só a presença dele em atos em que o (ainda) deputado federal Daniel Silveira era defendido e o STF, atacado, não é um bom sinal. 


No Nordeste, Lula tem a preferência da récua de muares fantasiados de leitor, mas em São Paulo já começa a ser superado por Bolsonaro, enquanto que, no Centro-Oeste, no Sul e no Sudeste, algumas pesquisas sugerem um empate técnico. Ambos estão com dificuldades nos seus campos; só disputam o primeiro lugar na preferência dos descerebrados porque não apareceu ninguém que mobilize a população para uma disputa maior pelo segundo turno. 


Tanto Lula quanto Bolsonaro terão campanhas mais difíceis do que imaginaram. Trata-se de uma disputa entre um líder envelhecido contra outro, envilecido, ambos recuando no passado numa máquina do tempo enferrujada.


Com Merval Pereira

sexta-feira, 6 de maio de 2022

O PAÍS DO FUTURO QUE TEM UM IMENSO PASSADO PELA FRENTE


Os arcaicos meios e modos da política brasileira, que sabidamente não acompanharam a evolução de variados setores desde a redemocratização, volta e meia dão as caras, suscitam breves debates e de pronto voltam ao recôndito de suas obsoletas tocas. Precisamos mesmo que o Estado nos diga quando, onde e como deve ser permitido fazer campanha eleitoral? Claro que não, assim como não temos a menor necessidade de ser obrigados a votar, por definição o exercício de um direito. São amarras estatais absolutamente anacrônicas, tentativas de controle incompatíveis com a realidade que, além de infantilizar o eleitorado, desviam o foco daquilo que realmente precisa ser combatido e corrigido. 


Até 2015, as campanhas tinham duração de noventa dias; desde então o prazo foi reduzido para 45 dias e assim é ainda hoje. Antes disso não são permitidos comícios, divulgação de candidaturas nos espaços reservados aos partidos no rádio e na televisão e muito menos pedir votos em quaisquer atos públicos. Mas a pergunta que se coloca é: tais regras, individualmente ou em conjunto, são respeitadas? 


É público e notório que inexiste fiscalização, viceja a tolerância por parte da Justiça Eleitoral, grassa a cumplicidade leniente entre partidos, mas o fato é que essas normas não são respeitadas principalmente porque não fazem sentido. Comícios tais como se faziam antigamente já não existem. Se a regra fosse aplicada com rigor, estariam enquadradas nela as manifestações de natureza política que acontecem o tempo todo e nas quais o pedido de votos está implícito. Temos campanhas autorizadas por 45 dias e vivemos em clima de eleição há mais de três anos, desde a proclamação dos resultados eleitorais de 2018. 


Se os presidentes dão o exemplo — e não só por culpa da reeleição, pois o defeito não é da norma, é dos homens e das mulheres —, natural que seus adversários atuem da mesma maneira, esperando que a imprensa registre os movimentos e que a parcela da sociedade interessada em política entre na onda. De acordo com a lei, são todos infratores: políticos, partidos e brasileiros engajados na discussão eleitoral.


A restrição em vigor cria um falso delito lastreado em amarra arcaica. Fere a liberdade de expressão, mas deixa de lado o que realmente é grave: o criminoso, por inconstitucional, abuso de poder político e econômico cometido principalmente, mas não só, por governantes. O controle deveria estar aí, e não na tutela do exercício da liberdade e dos direitos dos cidadãos.


Costuma-se dizer que as instituições estão funcionando no Brasil. Se funcionassem, a Câmara já teria aberto um pedido de impeachment contra Bolsonaro e o mandato de Daniel Silveira já teria sido passado na lâmina. Arthur Lira segura a decisão há dez meses e o Conselho de Ética da Câmara trocou a cassação por uma suspensão do mandato por seis meses. O fato de a suspensão não ter chegado ao plenário a cinco meses da eleição revela que o centrão transformou a ocupação do Orçamento federal num processo de bolsonarização das instituições.


Se as instituições funcionassem, PGR já teria formulado meia dúzia de denúncias criminais contra um presidente se as instituições funcionassem. Bolsonaro produz provas contra si mesmo em escala industrial. Ao aprovar a recondução de Augusto Aras ao cargo de chefe do departamento de blindagem de Bolsonaro, com os votos de integrantes da CPI do Genocídio, o Senado ofereceu ao país mais uma evidência de que as instituições claudicam. O STF não teria se convertido numa espécie de terceira Casa do Legislativo se as instituições operassem com perfeição. A esta altura, Bolsonaro já teria sido informado de que o indulto concedido a Daniel Silveira não cabe dentro das quatro linhas da Constituição. Mas a Corte negocia uma saída política.


ObservaçãoO poder não aceita desaforos. Quem tem poder precisa exercê-lo na medida exata. Quem exorbita erra o alvo. Quem claudica vira o alvo. Desacatado por Daniel Silveira, o ministro Alexandre de Moraes apresentou ao deputado bolsonarista, com pelo menos 16 dias de atraso, a conta do escracho: R$ 405 mil. O togado mirou o bolso de aloprado num instante em que a protelação já havia se transformado num fator de desmoralização de sua toga. O deputado troglodita desligara o equipamento que deveria monitorá-lo desde 17 de abril. Era como se o réu tivesse instalado sua tornozeleira no magistrado. O escárnio começara antes, como anotou Moraes em seu despacho: "Desde a decisão que fixou a multa diária, proferida em 30 de março de 2022, o réu desrespeitou flagrantemente várias das medidas". Na véspera, Silveira dizia que o perdão que obtive de Bolsonaro o livrou de responder por todas as culpas: "Presidente perdoou, acabou!" O restabelecimento da ordem está condicionado ao pagamento da conta. Moraes determinou o bloqueio de R$ 405 mil nas contas de Silveira e mandou notificar o réu que preside a Câmara, Arthur Lira, para que providencie o desconto da dívida no contracheque, na proporção de 25% do salário até a quitação. Resta agora ressuscitar o axioma segundo o qual ordem judicial se cumpre.


Não fosse a desfuncionalidade das instituições, Bolsonaro já teria sido responsabilizado por transformar a usina de confusões do Planalto no único empreendimento que funciona a pleno vapor no seu governo.


Triste Brasil.


Com Dora Kramer e Josias de Souza

A RESILIÊNCIA DA MICROSOFT

A SUPREMA ARTE DA GUERRA CONSISTE EM VENCER O INIMIGO SEM TER DE ENFRENTÁ-LO. 


Em 2013, visando dar sobrevida ao natimorto Windows Mobile, a Microsoft comprou a divisão mobile da Nokia. Quando o Windows Phone ocupava o segundo lugar no ranking dos sistemas operacionais para dispositivos móveis — atrás apenas do imbatível Android —, o Google e a Motorola lançaram a linha Moto G, que vendeu feito pão quente e condenou ao ostracismo concorrentes como Blackberry OSUbuntu PhoneFirefox OS e o próprio Windows Phone.


Fundada em 1865 para produzir papel, a Nokia logo diversificou suas atividades. Em 1982, ela lançou o celular Mobira Senator (para automóveis). Três anos depois, o Mobira Cityman 900 se tornaria seu primeiro telefone móvel totalmente portátil.


Embora não fosse ruim, o sistema da Microsoft não era bom o bastante para fazer frente ao iOS e ao Android. Para complicar, o fiasco de vendas do Windows Phone desestimulou os desenvolvedores parceiros, levando a própria Microsoft a criar aplicativos para ele. Mas aí já era tarde.


O "casamento" com a empresa finlandesa durou 18 meses e seus rebentos tornaram-se vagas lembranças — até 2020, quando os celulares da Nokia ressurgiram no mercado brasileiro em pareceria com a Multilaser. Mas isso é outra conversa.


Observação: A Nokia chegou a liderar o mercado global de celulares — numa época em que “androide” era apenas um robô com formas humanas e o Symbian reinava absoluto como sistema operacional móvel —, mas aí a Apple lançou o iPhone (2007) o Google, o sistema Android (2008). 


A resiliência da Microsoft também ficou evidente no segmento de navegadores. De olho no sucesso do Netscape Navigator, a empresa criou o Internet Explorer; para estimular sua adoção, embutiu o browser no Windows 95 (saiba mais sobre as guerras dos browsers na matéria que dividi em 21 capítulos não consecutivos e publiquei entre 6 de maio e 16 de junho de 2020). 


O Internet Explorer reinou absoluto até ser destronado pelo Google Chrome em meados de 2012. Quando finalmente se deu conta que seu browser estava irremediavelmente superado, a Microsoft o atualizou para a versão 11, lançou o Microsoft Edge e o promoveu a navegador nativo do Windows 10, esperando com isso reeditar o sucesso alcançado pelo IE duas décadas antes. 


O Win10 patinou um bocado antes de deslanchar, mas o Edge jamais decolou. Contribuíram para o fiasco a incompatibilidade do browser com outras plataformas e versões anteriores do próprio Windows (ele só rodava no Win10), a falta de extensões e a demora no lançamento de atualizações (que dependiam do Windows Update). 


Quando a ficha finalmente caiu, a Microsoft recriou o Edge do zero. Do programa antigo restou apenas o nome, mas acrescido da palavra Chromium — numa referência ao Projeto Chromium, que conferiu ao navegador compatibilidade com outras plataformas (aí incluídos os sistemas móveis Android e iOS) e com boa parte das extensões criadas para o Google Chrome. 


A estratégia rendeu bons frutos: O Edge Chromium já superou o Safari e se tornou o segundo navegador mais usado em desktops. Mas vai ter de comer muito feijão para desbancar o browser do Google (vide figura). 


No que concerne a dispositivos móveis, o Safari — navegador padrão do iPhone e do iPad — perde apenas para o Google Chrome. O Edge contabiliza mais de 10 milhões de downloads na Google Play Store e tem boa classificação na App Store. Se ele vai ou não superar os concorrentes, isso só o tempo dirá.

quinta-feira, 5 de maio de 2022

SOBRE CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS


Reza o bom senso que primeiro é preciso resolver o problema e depois apurar as responsabilidades. No entanto, quando a péssima qualidade dos postulantes à Presidência se soma à péssima qualidade do eleitorado, como acontece no Brasil, só resta rezar, já que o responsável por esse descalabro foi o próprio Criador.

Nossa primeira eleição presidencial aconteceu em 1891, mas de forma indireta. Três anos depois, o povo foi às urnas pela primeira vez e elegeu Prudente de Morais, pondo fim à República da Espada (um resumo do que aconteceu a partir de então pode ser lido nesta postagem e nas seguintes). O próximo pleito presidencial deve acontecer daqui a 5 meses. “Deve”, porque com Bolsonaro nada é impossível (noves fora um bom governo). 


Não fossem as peculiaridades mencionadas no primeiro parágrafo, o eleitorado teria chances reais de pôr fim esse infortúnio. E se Deus fosse ainda fosse o mesmo Deus do Velho Testamento, Ele certamente daria uma mãozinha, fulminando as candidaturas dos postulantes mais bem colocados nas pesquisas (ou os próprios candidatos, melhor ainda).

 

Observação: Segundo o Estadão, pesquisas internas da campanha de Lula mostram que Bolsonaro ganhou mais pontos entre os evangélicos, conquistando eleitores até então indecisos nesse segmento. Deve ter sido por isso que o petralha vem mencionando Deus em seus discursos. Um lulista disse para o jornal: “Lula acordou católico. Ou crente”.

 

No mundo real, o imprevisto sempre pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos (aliás, há que diga que “as coincidências nada mais são do que Deus agindo nos bastidores). 


Em 1961, a renúncia de Jânio Quadros deu azo ao golpe de 1964, que resultou em 21 anos de ditadura militar. Em 1985, a morte de Tancredo Neves mudou os rumos da Nova República. Em 2014, a morte de Eduardo Campos mudou os rumos da eleição presidencial. Em 2017, a morte de Teori Zavascki pavimentou o caminho o sepultamento em vida da Lava-Jato. 


Em 2018, a aversão ao lulopetismo corrupto resultou na vitória do pior mandatário desta banânia desde Thomé de Souza, e agora (valei-nos Deus!), ao que tudo indica, teremos um repeteco, mas com Lula disputando pessoalmente o butim e a rejeição ao bolsonarismo boçal ombreando com o repúdio ao lulopetismo corrupto.

 

Da quimérica terceira via, restaram João Dória e Simone Tebet — ela descarta a possibilidade de ser vice na chapa dele; ele não descarta nada, nem ser vice numa eventual chapa encabeçada por ela. No UB, o caviloso lançamento do nome de Luciano Bivar foi uma conspirata para sepultar a candidatura de Sergio Moro do páreo (e já tem gente falando em ressurreição). Segundo dados do Paraná Pesquisas, Dória superou Ciro Gomes (o cearense de Pindamonhangaba seria uma alternativa à polarização se ele não fosse quem é). 


Enfim, enquanto esperamos Deus fulminar os sacripantas de turno (dada a quantidade desses imprestáveis, seria melhor Ele cercar Brasília reeditar o Dilúvio), vejamos o que disse Josias de Souza em seu comentário da última terça-feira.

 

O poder não aceita desaforos. Quem tem poder precisa exercê-lo na medida exata. Quem exorbita erra o alvo. Quem claudica vira o alvo. Desacatado por Daniel Silveira, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes apresentou ao deputado bolsonarista, com pelo menos 16 dias de atraso, a conta do escracho: R$ 405 mil.


Moraes mirou o bolso de Silveira num instante em que a protelação já havia se transformado num fator de desmoralização de sua toga. O deputado desligara o equipamento que deveria monitorá-lo desde 17 de abril. Era como se o réu tivesse instalado sua tornozeleira no magistrado. O escárnio começara antes, como anotou Moraes em seu despacho: ‘Desde a decisão que fixou a multa diária, proferida em 30 de março de 2022, o réu desrespeitou flagrantemente várias das medidas’.


Na véspera, Silveira dizia que o perdão que obtive de Bolsonaro o livrou de responder por todas as culpas. Embora o decreto da graça continue sub judice, o deputado continuou fazendo graça: ‘Presidente perdoou, acabou!’ O restabelecimento da ordem está condicionado ao pagamento da conta.


Moraes determinou ao Bacen o bloqueio de R$ 405 mil nas contas de Silveira. Mandou notificar o réu que preside a Câmara para que providencie o desconto da dívida no contracheque, na proporção de 25% do salário até a quitação. Resta agora ressuscitar o axioma segundo o qual ordem judicial se cumpre.” 

DIA MUNDIAL DA SENHA

CHORAR SOBRE AS DESGRAÇAS PASSADAS É A MANEIRA MAIS SEGURA DE ATRAIR OUTRAS.

Há outras maneiras de comprovar que somos quem dizemos ser no mundo digital, mas as senhas ainda são a modalidade mais popular, mesmo que sua eficácia dependa de diversos fatores (uma senha numérica de quatro dígitos só oferece proteção quando utilizada em conjunto com um token, por exemplo). 

O problema é que a dificuldade natural de memorizar dezenas de combinações alfanuméricas complexas nos leva a optar por senhas “fracas” ou criar uma senha robusta e transformá-la numa espécie de chave-mestra — para se desbloquear o smartphone, acessar o Windows no PC, confirmar a identidade no WhatsApp, fazer logon em redes sociais, serviços de webmail, e por aí afora).

 

Devido a sua relevância, as senhas já foram alvo de dezenas de postagens (que você pode conferir inserindo a palavra “senha” na caixa de buscas, na coluna à direita, e clicando em Pesquisar). No entanto, como hoje é o Dia Mundial da Senha, eu achei por bem revisitar o assunto e reforçar algumas dicas simples, mas funcionais. 

 

— Evite utilizar nomes de animais de estimação, datas de nascimento, números de telefone ou de documentos, já que essas informações podem ser garimpadas facilmente pelos cibervigaristas. 

 

— Segundo a NordPass, a senha mais utilizada no Brasil, em 2021, continua sendo 123456. Uma senha desse tipo leva menos de 1 segundo para ser quebrada. Utilize senhas com mais de 8 caracteres e combine letras maiúsculas, minúsculas, algarismos e símbolos especiais.

 

— Conforme dito no parágrafo de abertura, a praticidade da senha polivalente não compensa o risco de acesso irrestrito caso ela seja descoberta por pessoal mal-intencionadas (e não me consta que quem tenta quebrar senhas alheia o faça com a melhor das intenções).

 

— Segundo a Microsoft, 99.9% dos ataques a contas poderiam ter sido evitados mediante a simples habilitação de um segundo fator de autenticação.  A maioria dos serviços baseados na Web suporta o 2FA, mas não o habilita por padrão. Como o procedimento varia caso a caso, o site Two Factor Auth ensina a configurar essa função na maioria dos webservices que a suportam.  

 

— Salvar senhas no navegador é cômodo, mas inseguro. Prefira um gerenciador de senhas, que protege os dados com criptografia forte. Nesse caso, a única senha que você terá de memorizar é a que dá acesso à ferramenta. 

 

— Utilizar uma VPN é fundamental, sobretudo se você se conecta a partir de redes públicas é fundamental.  

 

— Evite compartilhar suas senhas. Em sendo necessário fazê-lo, jamais as envie por SMS ou email. A maneira menos insegura é usar a função de compartilhamento dos cofres de senhas, que envia um link (seguro e temporário) ao destinatário.

 

— Para verificar se os links que você acessa utilizam protocolos seguros para transmissão dos dados, use o PhishTank e o Google Safe Browsing. Clique aqui para identificar, a partir do seu e-mail, se seus dados pessoais (incluindo senhas) já apareceram em algum vazamento.


Um ataque leve levaria 63 quatriliões de anos para quebrar uma senha com 20 dígitos. Um ataque moderado reduziria esse tempo para 628 bilhões de anos. Mesmo que ninguém disponha de todo esse tempo, a diferença deixa claro que a dificuldade aumenta conforme o número de dígitos  e mais ainda se letras maiúsculas e minúsculas forem combinadas com algarismos e caracteres especiais, como %, &, $, #, @ etc. 


Há quem recomende tornar as senhas tão longas quanto possível, já que o brut force attack (método que consiste em experimentar todas as combinações alfanuméricas possíveis) pode ser frustrado pela limitação da quantidade de tentativas de login permitidas. Uma senha como “país de político ladrão”, por exemplo, é mais difícil de quebrar e mais fácil de memorizar do que “Br0ub7d$r&3”, também por exemplo. A primeira levaria mais de 500 anos para ser descoberta por um invasor que usasse um computador doméstico. A segunda, que parece mais segura, poderia ser quebrada em apenas três dias.


Cuidado com o que você compartilha. Pense nas redes sociais como uma conversa na vida real e seja seletivo com solicitações de amizade. Nunca se sabe se o seguidor em potencial é alguém mal-intencionado. Redobre os cuidados com aplicativos conectados. Fazer login em plataformas usando sua conta do Google ou do Facebook pode ser prático, mas implica o risco de seus dados irem de embrulho se os servidores do site foram invadidos por hackers (ou crackers, melhor dizendo).

 

Para mais dicas sobre senhas, acesse a página da MCAFEE ou o serviço MAKE ME A PASSWORD. Para testar a segurança de suas senhas, acesse a CENTRAL DE PROTEÇÃO E SEGURANÇA DA MICROSOFT ou o site HOW SECURE IS MY PASSWORD.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

O BRASIL E A QUINTESSÊNCIA DA IMPRESTABILIDADE

  

A ditadura militar que Bolsonaro tanto admira foi um período nebuloso da história do país do futuro que nunca chega. Ao longo de 21 anos, o obscurantismo e a estupidez provocaram um apagão na cultura e geraram hiperinflação e arrocho salarial, mas jamais produziram um presidente com personalidade mais autoritária do que o que ora pugna pela reeleiçãoNenhum outro mandatário tupiniquim flertou tanto e tão abertamente com o golpe quanto o atual, e golpes já não se dão com tanques, mas pelo desmonte das instituições. Dá medo imaginar o que Bolsonaro faria se tivesse o poder de um Geisel. Se isso lhe parece surreal, saiba que não é de todo impossível. Haja vista os últimos acontecimentos. Se ganhar mais um mandato, o "mito" dos atoleimados pode destruir a democracia por completo.

 

Atribui-se a Martin Luther King uma frase de valor inquestionável e que calça como uma luva a conjuntura atual: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. É preocupante que os maiores interessados na preservação da democracia não se mobilizem. Metade do Congresso Nacional — incluindo boa parte da oposição — segue Artur Lira e Ciro Nogueira e se vende a Bolsonaro pelos bilhões do orçamento secreto. Parafraseando Churchill, alimentam o crocodilo na esperança de serem devorados por último. 


Mais grave ainda são as idas e vindas dos aspirantes a candidato da terceira viva. Se não puser o ego de lado e apoiar “de verdade” o membro que tiver chances reais de furar a polarização, essa seleta confraria jamais conseguirá enterrar Lula e Bolsonaro em outubro. 


Eduardo Leite não sobreviveu às prévias tucanas e ameaçou abandonar o ninho. Mas voltou atrás, tornou a voltar atrás e, se nada mudar, disputará novamente ao governo do Rio Grande do Sul). Ciro Gomes dificilmente abdicará de sua candidatura (parece que o boquirroto faz questão de ser derrotado pela quarta vez). Doria já se desentendeu com AlckminLeiteJereissatiAníbal etc. Se não consegue unir o próprio partido, como pretende unir a oposição? 

 

Alckmin migrou para o PSB para ser vice de Lula (e protagonizou um espetáculo vergonhoso numa tentativa patética e nada convincente de demonstrar a admiração que dedica a seu mais novo amigo de infância), esperando caminhar próximo do petista nas articulações de alianças. Mas o ex-presidiário, como o petismo bem sabe, viaja sozinho. Além de não ser chamado a ajudar na estratégia, o ex-tucano tem ficado em silêncio justamente por não ter propostas claras definidas pela campanha para defender. Sa esperança, segundo interlocutores, é que o lançamento da pré-candidatura o ajude a ter mais espaço para dar entrevistas e participar mais do jogo eleitoral. 


Moro não encontrou no Podemos o apoio que desejava. Migrou para o União Brasil e teve as asas podadas pelo neto de Toninho Malvadeza. Depois que o UB lançou a candidatura de Bivar (que tem tantas chances de se eleger presidente quanto eu tenho de ser ungido papa), o “soldado da democracia” periga ter de esperar 2024 para se candidatar a vereador. 

 

O PT de Lula continua sendo Lula e Lula continua sendo o PT. E assim será até o egum mal despachado ser finalmente exorcizado. Em 1985, na eleição indireta entre Paulo Maluf, homem da ditadura e corrupto notório, e Tancredo Neves, democrata indiscutível e de caráter ilibado, o PT impôs o voto nulo e expulsou quem votou no político mineiro, que acabou sendo eleito, mas morreu sem tomar posse. 

 

Estadistas como Tancredo sacrificam os interesses pessoais, e até a vida, pelo país. Os políticos de hoje parecem dispostos a sacrificar o país por seus interesses pessoais (se arriscam a sacrificar os dois).

 

Com Ricardo Rangel

A SEGURANÇA É UM HÁBITO E A PRIVACIDADE, UM PROBLEMA (FINAL)

POLÍTICOS NO BRASIL NÃO SÃO ELEITOS POR QUEM LÊ JORNAIS, MAS POR QUEM LIMPA A BUNDA COM ELES.

Também é possível (e recomendável) apagar o histórico do Google Chrome no smartphone, tanto com sistema Android quanto com iOS. As opções de prazo para que o conteúdo seja removido de forma automática variam de 3 a 36 meses, mas, pelos motivos expostos na postagem anterior, é recomendável fazer a faxina mais amiúde.


No Android:


1)    Abra o app Chrome;

2)    Toque nos três pontinhos (no canto superior direito) e depois em Configurações;

3)    Toque em Privacidade e segurança e, em seguida, em Limpar dados de navegação;

4)    Em Período, escolha o intervalo de tempo desejado (Última hora; Últimas 24 horas; Últimos sete dias; Últimas quatro semanas; Todo o período).

5)    Marque as caixas ao lado das opções desejadas (Histórico de navegação; Cookies e dados do site; Imagens e arquivos armazenados em cache).

6)    Toque em Limpar dados.


No iPhone (ou no iPad):


1)    Abra o aplicativo do Chrome;

2)    No canto inferior direito, toque em Mais Configurações;

3)    Toque em Privacidade e em Limpar dados de navegação;

4)    Marque os cookies e os dados do site e desmarque (ou não) os outros itens;

5)    Toque em Limpar dados de navegação;

6)    Toque em Concluído.

terça-feira, 3 de maio de 2022

AS VIÚVAS DA TERCEIRA VIA


No último Sete de Setembro não houve manifestações, mas arruaças capitaneadas por um presidente golpista. Grupelhos de esquerda protestaram aqui e ali, e meia dúzia de cidadãos que execram tanto Lula quanto Bolsonaro se reuniram cá e acolá. 

A pandemia contribuiu para a falta de adesão popular, mas o fiasco se deveu mesmo à conjuntura. A população, em sua maioria desalentada, não saiu às ruas porque está mais preocupada com o próprio sustento.

Manifestações populares no Brasil, depois dos atos pró-diretas, eclodiram em 2013 e se estenderam até 2016, resultando no impeachment de Dilma — que, graças maior estelionato eleitoral da história até então, derrotou Aécio Neves em 2014 e foi penabundada em 2016, sob panelaços e manifestações populares como manda o figurino. 


Faltando cinco meses para as eleições, as campanhas presidenciais (que começaram lá atrás, quando Bolsonaro subiu a rampa e Lula deixou a cadeia) ainda não se tornaram assunto de conversas de botequim. Se uma ou outra discussão acontece, isso se deve à nefasta polarização e aos esforços da mídia — que amplia e reverbera cada arroto do ex-ladrão e cada peido do sociopata de plantão.

 

No Dia do Trabalhador, a falta de público levou Lula a atrasar sua aparição. Bolsonaro, chamado à ordem pelo Centrão, participou virtualmente das “manifestações” na Avenida Paulista, onde um magote de bolsomínions exibia cartazes e faixas contra o Poder Judiciário e pedia o impeachment dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, entre gritos antidemocráticos em defesa da volta do AI-5 e do fechamento do Congresso e do STF. 


No vídeo — recheado de ataques velados ao Supremo —, o mandatário sociopata enalteceu seus apoiadores, falou em “liberdade”, afirmou ser o chefe de um governo que “acredita em Deus” e que “respeita os militares, defende a família e deve lealdade a seu povo” e voltou a dizer que “o bem sempre vence o mal”. 


Observação: Barroso disse que existe um limite para liberdade de expressão. Para demonstrar apoio ao Judiciário, o presidente do Senado e um grupo de parlamentares pretendem se encontrar nesta terça-feira com o presidente do STF. E lá vamos nós pagar pelo chá com bolachinhas. Enquanto suas excelências não unirem ação às palavras, o sociopata continuará assombrando o Brasil. O Ibovespa, que tinha subido 17% em 2022 até abril, já devolveu quase todo o ganho. A alta acumulada caiu para 2,6%. É verdade que teve a pandemia e a invasão da Ucrânia, mas há duas desgraças ainda maiores: uma se chama Jair Messias Bolsonaro e a outro, Luiz Inácio da Silva. Elidir essa parelha de abantesmas não resolveria todos os problemas do Brasil, mas ajudaria um bocado.
 

Diogo Mainardi escreveu em O Antagonista que o fiasco do ato lulista reflete o vazio de sua candidatura; que o Brasil se prepara para eleger um presidente que ninguém quer; que o petralha está saindo das planilhas da Odebrecht diretamente para o Palácio do Planalto (após breve escala numa cela VIP em Curitiba) apenas porque seu principal adversário é Bolsonaro — daí o PT fazer de tudo para manter o “mito” no poder até outubro, pois a vitória do partido depende mais da rejeição ao oponente do que do proselitismo de seu eterno presidente de honra. 


Recentemente, quando Lula voltou a ser Lula e a vomitar as velhas asnices de sempre, o resultado foi uma queda imediata nas pesquisas. José Dirceu chegou mesmo a dizer que atua nos bastidores porque, se aparecer, atrapalha — de certa maneira, isso vale também para Lula, que, quando aparece, atrapalha.

 

Bolsonaro afronta o STF para disfarçar as agruras que seu funesto governo impôs aos brasileiros — mais de 600 milhões de vítimas fatais da Covid, volta da inflação, dólar nas alturas, gasolina a preço de ouro e outras mazelas que o incompetente não foi capaz de evitar (ou pelo menos mitigar). 


O ato mais emblemático do bolsonarismo, no último domingo, não teve o "mito" como protagonista, mas sim o dublê de ex-cobrador de ônibus mandrião e ex-policial truculento (que sofreu dezenas de sanções disciplinares), ora travestido de deputado federal, que estava num palanque em Niterói, segurando uma placa de rua com seu nome, ao lado de um sujeito fantasiado como o Viking do Capitólio. 


Essa imagem representa o escárnio com o STF, o plano de macaquear o golpismo dos partidários de Donald Trump, a pobreza mental dessa gente e a alusão orgulhosa ao assassinato de Marielle Franco, que deve render uns votos nas zonas ocupadas por milicianos (para quem não se lembra, o deputado neandertal se tornou conhecido depois de quebrar uma placa em homenagem à vereadora assassinada). 

 

É esse tipo de imagem grotesca alimenta o bolsonarismo e, ao mesmo tempo, empurra o eleitorado desesperado em direção à armadilha lulista. Até porque terceira via é uma incógnita — não por não se saber quem será o “candidato único”, mas por não se saber se ela será produzirá um aborto ou um natimorto. 


Depois que o União Brasil conseguiu matar a candidatura Sergio Moro e desinventar a de Luciano Bivar (aquele que deu palanque a Bolsonaro em 2018 no PSL dos laranjais), a tão sonhada candidatura alternativa desliza melancolicamente do improvável para o patético. Já nem se sabe se haverá realmente o anúncio de qualquer coisa no próximo dia 18.

 

Se liberar geral, o UB favorecerá Bolsonaro e propiciará a repetição desse movimento com o Podemos — de onde Bivar arrancou Moro para jogar no vazio — e com o PSD de Gilberto Kassab — que apoia Lula, mas pode mudar de lado conforme a direção do vento. 


Com o que (ainda) resta da terceira via se resumindo a João Doria e Simone Tebet (ou Tebet e Doria, a depender de quem narra o jogo), a rede da polarização tende a apanhar peixes graúdos em meio ao eleitorado órfão. Ciro Gomes, sempre pronto a disputar a próxima derrota, aparece em terceiro lugar nas pesquisas (ah, as pesquisas!). Entre xingamentos e agressões a puxa-sacos de Bolsonaro, o cearense de Pindamonhangaba sonha em reduzir a distância intergalática que o separa do segundo colocado. Triste Brasil.   

 

Entrementes, no outro canto do tabuleiro político-ideológico, o ex-presidiário que encabeça as pesquisas comete atos falhos (defendendo o aborto, insinuando que policiais não são gente, e por afora) no afã de conquistar o apoio do PSB e da Rede, ampliar o de setores do MDB, do PSD e do União Brasil e transformar uma decisão — estapafúrdia e sem efeito prático — do Comitê de Direitos Humanos da ONU contra Moro e a Lava-Jato em troféu a ser exibido em seus palanques.

 

O que advirá desse furdunço — para além de uma possível guerra civil ou de um provável golpe de Estado — as viúvas da finada terceira via dirão. Chamem as carpideiras!

A SEGURANÇA É UM HÁBITO E A PRIVACIDADE, UM PROBLEMA

A POLÍTICA É A ARTE DO POSSÍVEL, MAS ESTÁ IMPOSSÍVEL DE ATURAR.

Nos anos 1960, era comum a gente ouvir dizer que “televisão no interior é quem nem cu; só tem um canal e só passa merda”. Essa pérola da sabedoria popular me veio à memória dias atrás, na hora do jantar, quando fui obrigado a desligar a TV — assistir ao noticiário, hoje em dia, é como ficar atrás de um basculante cheio de estrume, e no momento da descarga. 


Não bastasse essa pandemia que não termina, essa guerra que não acaba e toda sorte de desgraças, há ainda o execrável cenário político tupiniquim. E entre uma coisa e outra ouve-se dizer que “hackers” (entre aspara porque o correto seria “crackers”) roubaram dados de 57 milhões de usuários da UBER, que outro grupo se apropriou de 160 mil chaves Pix do BC, que o número de sequestros-relâmpago propiciados por essa modalidade de pagamento não para de crescer, que o trojan de fraudes bancárias BRata, identificado pela primeira vez no Brasil em 2019, foi repaginado — agora, além de limpar as contas das vítimas, ele executa uma redefinição de fábrica no dispositivo (Android) para apagar quaisquer vestígios após uma tentativa de transferência bancária não autorizada. E por aí segue a procissão.


Não é novidade para quem acompanha este Blog que a navegação anônima (in-private) evita a gravação de cookies e do histórico de navegação; que o Tor Browser potencializa essa proteção; que surfar na Web é menos inseguro quando se utiliza uma VPN, e por aí vai. Mas muita gente não se dá conta de que, ao mesmo tempo que se tornou o meio mais utilizado para navegar na Web, o celular diminuiu o interesses das pessoas pelas "sutilezas" da computação pessoal. Muita gente passa o dia com o focinho grudado na tela do aparelho e diz que “não usa computador, só smartphone” — como se o smartphone não fosse um computador pessoal ultraportátil.


No que concerne à privacidade na Web, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados, que está em vigor desde setembro de 2020) foi um avanço, mas quem se dá ao trabalho de “ler mais” sobre a política de cookies que aceita quando acessa um site? Quem se preocupe em apagar os rastros de navegação ao final de cada sessão? 


Há um sem-número de malwares em circulação, mas poucos usuários de smartphone se dão ao trabalho de proteger seus sistemas, ainda que uns poucos cliques do mouse permitam estender ao dispositivo móvel a proteção que a suíte “Internet Security” oferece a seu PC. 


Pessoas de viés exibicionista tiram selfies do carro novo em frente de casa, com os filhos vestindo o uniforme do colégio, sem se darem conta de que basta somar dois mais dois para achar cinco riscos nesse exemplo. E depois se dizem preocupadas com a possibilidade de o celular, a Siri e/ou a Alexa “escutarem” suas conversas. Se você acha que isso é paranoia, talvez reveja seus conceitos se entender melhor como funcionam o Google Ads, os algoritmos em geral e as assistentes virtuais em particular. 


Ah, mas a LGPD determinou aos sites que forneçam informações claras e acessíveis sobre o uso de dados pessoais em seus “termos de uso”, dizem muitos. Mas poucos se dão a trabalho de ler as informações antes de “aceitar” os cookies — e depois estranham quando anúncios de produtos que pesquisaram pululam na janela do navegador. 


Quando fazemos uma busca, o Google Ads “entende” que temos interesse pelo produto pesquisado e passa a exibir “anúncios personalizados” — a menos que façamos a pesquisa a partir de uma guia anônima ou, melhor ainda, usando uma VPN (como a que o Opera oferece o serviço gratuitamente sem limitar o tráfego de dados).


Por essas e outras, exclua os cookies e o histórico de navegação ao final de cada sessão, ou configure o browser para fazê-lo automaticamente sempre que ele for fechado. No Chrome, clique nos três pontinhos e, em Configurações, clique em Mais Ferramentas > Limpar dados de navegação > Eliminar os seguintes itens desde, escolha uma das opções disponíveis (sugiro desde o começo) e marque as caixas de verificação ao lado dos itens que você deseja eliminar (sugiro limitar-se às primeiras quatro opções). Ao final, clique em Limpar dados de navegação, reinicie o browser e confira o resultado (para não meter os pés pelas mãos, siga este link e leia atentamente as informações da ajuda do Google antes de fazer a faxina). 


No celular o caminho é um pouco diferente, como veremos na próxima postagem.