UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
quinta-feira, 26 de abril de 2018
UM PAÍS QUE NÃO PODIA DAR CERTO E O PT NA LATA DO LIXO DA HISTÓRIA
sábado, 30 de julho de 2022
O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (SÉTIMA PARTE)
Um dia após a divulgação da carta em defesa da democracia, o número de signatários passou de 3 mil para 100 mil. No dia 29, já eram mais de 300 mil. Num primeiro momento, Bolsonaro tripudiou: "Não precisamos de 'cartinha' em favor da democracia". Mais adiante, porém, publicou sua própria carta: "Carta de manifesto em favor da democracia. Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia. Assinado: Jair Messias Bolsonaro, presidente da República Federativa do Brasil". Foram apenas 27 palavras, mas, segundo o historiador e youtuber Marco Antonio Villa, o vocabulário do presidente é limitado a 500 verbetes. Dito isso, passo à postagem do dia:
Em fevereiro de 1995, época áurea do Plano Real, Dilma Vana Rousseff abriu uma lojinha de bugigangas nos moldes das populares casas de $ 1,99. Batizado de Pão & Circo, o negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre (RS) para instalar a matriz. A filial foi erguida 4 meses depois no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha.
O problema é que a "gerenta" que cuidou da contabilidade da empresa era a mesma que lidaria mais adiante com as finanças do país. A loja quebrou em apenas 17 meses; o Brasil continua resistindo, mas nada garante que sobreviva a mais 4 anos de bolsonarismo boçal ou à volta do lulopetismo corrupto (conforme o resultado das urnas em outubro próximo).
Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que, 15 anos depois, Lula apresentaria aos eleitores como a "gerentona" capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao administrar seu comércio, a mulher sapiens cometeu erros banais e em sequência. E qualquer semelhança com a barafunda administrativa do país e os equívocos cometidos na área econômica a partir de 2010, que levaram ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade fiscal, não foi mera coincidência.
Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais, mas acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os "Cavaleiros do Zodíaco". Os artigos eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde a sumidade e uma de suas sócias — a ex-cunhada Sirlei Araújo — viajaram três vezes para comprar os produtos. No entanto, apesar do baixo preço das mercadorias, o negócio da Pão & Circo era impopular — tão impopular quanto a própria Dilma se tornaria ao longo de seu aziago governo.
Ao abrir a vendinha, Dilma não levou em conta que o olho do dono engorda o porco. Ela só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia — como fez mais adiante no governo, ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política a Michel Temer. Na sociedade da Pão & Circo, era Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, que a aconselhava sobre como turbinar as vendas. Mas ele era tão inepto quanto ela seria anos depois, por ocasião da negociata de Pasadena.
Durante as duas primeiras gestões petistas, Dilma foi presidenta do Conselho de Administração da Petrobras nos períodos em que respondeu pela pasta de Minas e Energia (2003-2005) e chefiou a Casa Civil (2005-2010). Nesse entretempo, a petrolífera tupiniquim pagou US$360 milhões por metade de uma refinaria que um ano antes havia sido comprada pela empresa belga ASTRA OIL por US$40,5 milhões, e uma decisão judicial a condenou a comprar a outra metade da sucata, o que resultou num prejuízo de US$ 1,18 bilhão.
Como de costume, Lula e sua pupila negaram conhecimento da maracutaia. Dilma atribuiu o monumental prejuízo a "riscos subestimados e decisões equivocadas", afirmou que o negócio só foi aprovado porque "cláusulas fundamentais lhe eram desconhecidas" e botou a culpa em Nestor Cerveró — que, curiosamente, não foi punido, mas promovido a diretor financeiro da BR Distribuidora. Mais adiante, Lindinho” — como Cerveró era chamado por seus comparsas devido à blefaroptose — declarou aos investigadores da Lava-Jato que a campanha de Lula à reeleição teria sido financiada com propina paga pelo contrato dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, que custaram US$1,2 bilhão (valor equivalente ao da compra da igualmente inútil refinaria de Pasadena).
Ao alegarem que foram ludibriados, Lula e Dilma reconheceram sua total inadequação aos cargos que ocupavam, e creditar nessa falácia demonstra uma indescritível ingenuidade. Mas num país onde Lula e Bolsonaro disputam pesquisa a pesquisa a preferência do esclarecidíssimo eleitorado, dizer o quê?
Mesmo assim, "o Pacheco de terninho" (detalhes no próximo capítulo) teve uma carreira meteórica: Sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, fez posse de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil. Quatro anos depois, mediante o maior estelionato eleitoral da história (que só seria superado em 2018 pelo "mito" dos bolsomínions), a calamidade em forma de gente renovou o mandato, mas acabou afastada do cargo em maio de 2016 e penabundada em agosto, depois de levar o país à insolvência, a inflação à casa dos 2 dígitos e o desemprego à das dezenas de milhão.
Vale relembrar o pronunciamento da petista em rede nacional, em janeiro de 2013, dando conta de que "a economia ia de vento em popa" e concitando os apedeutas a reelegê-la no ano seguinte:
Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Acabo de assinar o ato que coloca em vigor, a partir de amanhã, uma forte redução na conta de luz de todos os brasileiros. Além de estarmos antecipando a entrada em vigor das novas tarifas, estamos dando um índice de redução maior do que o previsto e já anunciado. A partir de agora, a conta de luz das famílias brasileiras vai ficar 18% mais barata. É a primeira vez que isso ocorre no Brasil, mas não é a primeira vez que o nosso governo toma medidas para baixar o custo, ampliar o investimento, aumentar o emprego e garantir mais crescimento para o país e bem-estar para os brasileiros. Temos baixado juros, reduzido impostos, facilitado o crédito e aberto, como nunca, as portas da casa própria para os pobres e para a classe média. Ao mesmo tempo, estamos ampliando o investimento na infraestrutura, na educação e na saúde e nos aproximando do dia em que a miséria estará superada no nosso Brasil.
No caso da energia elétrica, as perspectivas são as melhores possíveis. Com essa redução de tarifa, o Brasil, que já é uma potência energética, passa a viver uma situação ainda mais especial no setor elétrico. Somos agora um dos poucos países que está, ao mesmo tempo, baixando o custo da energia e aumentando sua produção elétrica. Explico com números: como acabei de dizer, a conta de luz, neste ano de 2013, vai baixar 18% para o consumidor doméstico e até 32% para a indústria, a agricultura, o comércio e serviços. Ao mesmo tempo, com a entrada em operação de novas usinas e linhas de transmissão, vamos aumentar em mais de 7% nossa produção de energia, e ela irá crescer ainda mais nos próximos anos. Esse movimento simultâneo nos deixa em situação privilegiada no mundo. Isso significa que o Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais barata, significa que o Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento ou de qualquer tipo de estrangulamento no curto, no médio ou no longo prazo. No ano passado, colocamos em operação 4 mil megawatts e 2.780 quilômetros de linhas de transmissão. Este ano, vamos colocar mais 8.500 megawatts de energia e 7.540 quilômetros de novas linhas. Temos uma grande quantidade de outras usinas e linhas de transmissão em construção ou projetadas. Elas vão nos permitir dobrar, em 15 anos, nossa capacidade instalada de energia elétrica, que hoje é de 121 mil megawatts. Ou seja, temos contratada toda a energia que o Brasil precisa para crescer, e bem, neste e nos próximos anos.
O Brasil vive uma situação segura na área de energia desde que corrigiu, em 2004, as grandes distorções que havia no setor elétrico e voltou a investir fortemente na geração e na transmissão de energia. Nosso sistema é hoje um dos mais seguros do mundo porque, entre outras coisas, temos fontes diversas de produção de energia, o que não ocorre, aliás, na maioria dos países. Temos usinas hidrelétricas, nucleares, térmicas e eólicas, e nosso parque térmico, que utiliza gás, diesel, carvão e biomassa foi concebido com a capacidade de compensar os períodos de nível baixo de água nos reservatórios das hidrelétricas. Praticamente todos os anos as térmicas são acionadas, com menor ou maior exigência, e garantem, com tranquilidade, o suprimento. Isso é usual, normal, seguro e correto. Não há maiores riscos ou inquietações.
Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram e as térmicas foram normalmente acionadas. Como era de se esperar, essas previsões fracassaram. O Brasil não deixou de produzir um único quilowatt que precisava, e agora, com a volta das chuvas, as térmicas voltarão a ser menos exigidas.
Hoje, além de garantir a redução, estamos ampliando seu alcance e antecipando sua vigência. Isso significa menos despesas para cada um de vocês e para toda a economia do país. Vamos reduzir os custos do setor produtivo, e isso significa mais investimento, mais produção e mais emprego. Todos, sem exceção, vão sair ganhando. Aproveito para esclarecer que os cidadãos atendidos pelas concessionárias que não aderiram ao nosso esforço terão, ainda assim, sua conta de luz reduzida, como todos os brasileiros. Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que eu estou dizendo.
Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda. Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar. Não faltou comida na mesa, nem trabalho. E nos últimos dois anos, mais 19 milhões e 500 mil pessoas, brasileiros e brasileiras, saíram da extrema pobreza.
O Brasil está cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas. Nos últimos anos, o time vencedor tem sido o dos que têm fé e apostam no Brasil. Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos vivendo um dos melhores momentos da nossa história. E a maioria dos brasileiros sente e expressa esse sentimento. Vamos viver um tempo ainda melhor, quando todos os brasileiros, sem exceção, trabalharem para unir e construir. Jamais para desunir ou destruir. Porque somente construiremos um Brasil com a grandeza dos nossos sonhos quando colocarmos a nossa fé no Brasil acima dos nossos interesses políticos ou pessoais.
Muito obrigada e boa noite.
Pois é, deu no que deu.
Continua...
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
A VALSA DA DESPEDIDA
Se há uma coisa que dignifica o Brasil é sua capacidade de sobreviver a maus governantes e à mediocridade do eleitorado. Dizia-se antigamente (quando o país ainda crescia) que seguíamos adiante não graças aos mandatários que tínhamos, mas apesar deles. Mais cedo ou mais tarde (torçamos para que seja mais cedo), tanto a pandemia quanto Bolsonaro vão passar (não necessariamente nessa ordem). É possível até que esse presidente já "tivesse passado" se não insistíssemos em lhe dar palanque, levando a sério as estultices que ele diz ou faz dia sim, noutro também.
Por outro lado, como ignorar um presidente que convoca um desfile de tanques defronte ao Congresso Nacional para pressionar os deputados a aprovarem a PEC do voto impresso? Se você prefere acreditar que tudo não passou de "mera coincidência", sinta-se à vontade, cara Velhinha de Taubaté. Tudo bem que a blindadociata acabou virando motivo de chacota e o retrocesso defendido pelo mandatário, sepultado não uma, mas duas vezes. Mas o assunto deu pano pra manga, e era exatamente isso que Bolsonaro queria. Por essas e outras, melhor seria impedi-lo de continuar dizendo e fazendo besteiras — por mais deselegante que seja calar um idiota, deixá-lo prosseguir é de uma crueldade a toda prova. Com o Brasil.
Observação: Vale lembrar que "idiota" significava originalmente “homem privado”, isto é, metido com seus próprios afazeres. Etimologicamente, a palavra não carrega juízo de valor, mas ao sentido de "leigo em questões do Estado" somou-se a conotação de “pessoa simples, sem instrução, iletrada”, e, mais adiante, de “pateta, parvo, tolo”. No século 19, o vocabulário psiquiátrico se encarregou de agravar o peso da palavra transformando-a em sinônimo de “retardo mental grave”. É interessante notar como aquela acepção relativamente branda de idiota — hoje inteiramente obsoleta — persistiu nas línguas que herdaram a palavra, ao lado do sentido moderno, durante a Idade Média e mesmo além dela. Dois exemplos deixam isso claro. O Webster’s registra que, em meados do século 15, o teólogo inglês John Capgrave podia se referir aos apóstolos de Cristo como “doze idiotas” sem temer a Inquisição. De modo semelhante, o filólogo brasileiro João Ribeiro conta no livro “Curiosidades verbais” que “[no século 16] havia nas aldeias portuguesas juízes idiotas, simples juízes de paz e de quem não se exigia mais que os bons costumes, a experiência, a probidade”.
O ideal seria não termos precisado apoiar Bolsonaro para evita um mal maior (que agora eu já nem sei se seria mesmo maior). Mas não vivemos num mundo ideal, e a vida nem sempre é justa. Fato é que, para escantear o patético bonifrate do presidiário de Curitiba, libertamos o ifrit do "bolsonarismo boçal", e agora não sabemos como prendê-lo de volta na garrafa.
A técnica do capitão continua a mesma que ele vem usando desde o início de
seu governo: sempre que surge um problema que transcende sua capacidade de
resolver (o que, convenhamos, tem se repetido diuturnamente), Bolsonaro aciona sua
usina de crises. Guardadas as devidas proporções, trata-se
da mesma estratégia usada por ilusionistas de palco, que se fazem
cercar de belas assistentes em trajes sumários para desviar a atenção da
plateia enquanto executam seus truques de prestidigitação.
Governar um país como o Brasil não é fácil. Sobretudo em meio à maior pandemia sanitária de toda a história recente. Mas também havia problemas quando Lula e Dilma se sentaram na poltrona mais cobiçada do Palácio do Planalto.
Longe de mim negar que os 13 anos, 4 meses e 12 dias de gestão lulopetista produziram danos que o país levará décadas para superar, mas isso é outra conversa. Mas a questão que se coloca é a seguinte: se um retirante nordestino pobre e analfabeto (como o próprio Lula se definiu mais de uma vez), que se orgulha de nunca ter lido um livro na vida, conseguiu ser eleito Presidente em 2002 (depois de três tentativas malsucedidas, em 1989, 1994 e 1998), reeleger-se em 2006 (a despeito do escândalo do mensalão, que colocou na cadeia diversos cardiais da seita petista) e eleger um "poste" para sucedê-lo), presidir o Brasil está longe de ser uma tarefa que o escritor taubateano Monteiro Lobato — se ainda caminhasse entre os vivos e resolvesse atualizar sua obra — incluiria numa nova edição de Os Doze Trabalhos de Hércules.
Observação: A título de curiosidade, o esquema do mensalão só
veio a público graças às revelações bombásticas do então deputado Roberto
Jefferson (que foi preso
preventivamente há pouco mais de duas semanas e denunciado
pela PGR por incitação ao crime no último dia 30).
Durante a ditadura militar tal poste em curto-circuito permanente atendeu por Wanda, Lúcia e Maria. Lula levou-a à vitrine eleitoral travestida de "gerentona", mas ela não passava de uma incompetente de quatro costados. Basta lembrar que levou à falência, em apenas 17 meses, duas lojinhas de R$ 1,99 que havia montado em Porto Alegre.
Só no Brasil um
prodígio dessa catadura consegue, sem saber atirar, virar modelo de
guerrilheira; sem ter sido vereadora, virar secretária municipal; sem passar
pela Assembleia Legislativa, virar secretária de Estado; sem estagiar no
Congresso, virar ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, fazer posse de
gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virar estrela de
palanque; e sem ter tido um único voto na vida, virar presidanta da República
(vale ressaltar que foi preciso expeli-la do cargo antes que ela acabasse de demolir
a economia, mas isso também é outra conversa).
Voltando a Bolsonaro: O TSE cortou a fonte de recursos do gabinete do ódio e o ministro Alexandre de Moraes mandou prender Roberto Jefferson (que se tornou bolsonarista desde criancinha e virou carne e unha com o mandatário de turno). Chegou-se a falar até na possibilidade de prisão de Zero Dois — o pitbull da família, na definição de Zero Rachadinha Um. O próprio presidente é investigado em sete inquéritos, e a CPI do Genocídio deve arrolá-lo em mais meia dúzia de crimes.
Há inflação alta, perspectiva de queda
no crescimento e falta dinheiro para o necessário saco de bondades eleitoreiras.
Paulo Guedes, mais perdido que cego em tiroteio, ora recorre (sem grande
esperança) a expedientes estapafúrdios — como aumento de impostos, PEC do
calote e até a venda de um tesouro cultural. Uma das perguntas que se colocam (pois há diversas) é: como alguém que é responsável um descalabro dessa magnitude ainda aspira à reeleição? Responda quem souber.
Em sua coluna na revista Veja, o jornalista Ricardo Rangel anotou que é hora de deixar Jair Bolsonaro ir embora. A meu ver, já passou da hora. A popularidade do governo despencou. A rejeição ao presidente cresceu. A vantagem de Lula, o ex-corrupto, tem aumentado dia após dia. Entidades civis, empresários, economistas já elaboraram manifestos em repúdio ao governo. Rodrigo Pacheco (que pode vir a ser pré-candidato à Presidência) passou de apoiador do despirocado a defensor da democracia. Senadores denunciaram o Passador-de-Pano-Geral da República (de quem um terço dos subprocuradores-gerais cobraram uma ação efetiva) pelo crime de omissão. Mais da metade dos ministros do STF demonstra irritação com a omissão do vassalo do capitão, mas, mesmo assim, o morubixaba da aldeia conseguiu reconduzi-lo ao comando do MPF com o aval de 55 senadores, 10 votos contrários e uma abstenção.
Para as Forças Armadas, Bolsonaro é fonte permanente de constrangimento e irritação, seja por destratar Mourão, seja por proibir a punição de Pazuello, humilhar o comandante do Exército, usar tanques para intimidar o Congresso e compactuar com um esquema de corrupção na Saúde que inclui uma dúzia de coronéis.
Assim como o escorpião da fábula, nosso indômito capitão é incapaz de agir contra a própria natureza. Sua reação à perda de apoio é mais agressividade — o que afasta ainda mais os apoiadores, alimenta as ações do Judiciário e torna mais difícil para seus aliados (ou cúmplices) defendê-lo. Ele parece mergulhado em areia movediça: quanto mais se afunda, mais se debate, e quanto mais se debate, mais se afunda. Mas também o país está na areia movediça, pois Bolsonaro nos impede de respirar. Collor e Dilma caíram por muito menos, mas o presidente da vez conta com a omissão deliberada de Augusto Aras (sempre ele!), o apoio escancarado de Arthur Lira (e do Centrão) e a aparente sustentação dos generais (não todos, é verdade).
Aqueles que
sustentam o presidente porque receberam e recebem dele inúmeras vantagens,
precisam entender que o país não aguenta mais catorze meses sob um presidente
que todo dia esgarça o tecido institucional. É hora de ter espírito público,
sair da frente e deixar a institucionalidade seguir seu curso.
Resta saber até onde a instabilidade poderá nos levar. Dado
seu viés nitidamente parlamentarista, a Constituição de 1988 buscou impedir
que apenas uma força prevalecesse — de forma isolada — sobre as demais. Para tanto, limitou o
poder do chefe do Executivo e impôs uma realidade multipolar de atores e de
tendências. Daí por que Lula e Bolsonaro só conseguiram alguma
governabilidade depois que fizeram alianças com forças políticas de outros
campos ideológicos.
O molusco empreendeu uma caminhada ao centro ainda na campanha eleitoral de 2002, e consolidou-a com as ações permeadas pelo escândalo do mensalão, em 2005. Bolsonaro, que anunciou o fim do toma-lá-dá-cá, rendeu-se às coalizões em 2020 para assegurar alguma proteção política no final de sua gestão e conquistar a tão ambicionada (e cada vez menos provável) reeleição.
Pelo andar da carruagem, Bolsonaro chegará a outubro
de 2022 (caso o imprevisto não tenha voto decisivo na assembleia dos
acontecimentos) como um zero à esquerda. Para quem gosta (e acredita) em
pesquisas, as mais recentes dão conta de que Lula passaria para o
segundo turno com 40% dos votos, deixando o capitão no chinelo (24%). Numa
hipotético embate final entre ambos, o petralha venceria por 51% a
32%. Por outro lado, nunca é demais lembrar o que disse Magalhães
Pinto: "Política é como as nuvens no céu; a gente olha e elas estão de um jeito,
olha de novo e elas já mudaram."
Considerando o conjunto da obra, a derrota do mandatário de turno será motivo de celebração. O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é
que, em se mantendo as atuais condições de temperatura e pressão, o pior presidente que este país já teve desde a redemocratização será derrotado pelo
ex-presidente corrupto, condenado a mais de 25 anos de cadeia, que teve a
ficha-suja lavada a toque de caixa e os direitos políticos restituídos num
passe de mágica. E mole ou quer mais?
Noves fora os bolsonaristas de raiz, ninguém mais vê graça nas ameaças e impropérios que o mandatário de fancaria regurgita
cada vez que acha uma caixa de sabão para lhe servir de
palanque. No último sábado, durante o 1°
Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos de Goiás, Bolsonaro brindou os
"reverendos" com a seguinte pérola: "Eu tenho três
alternativas para o meu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. Pode ter
certeza de que a primeira alternativa não existe. Estou fazendo a coisa certa e
não devo nada a ninguém. Sempre onde o povo esteve, eu estive" (esqueceu-se
o petulante delirante de mencionar uma quarta alternativa, que é justamente a
mais provável: sua derrota).
Ao final da peroração, o "mito" levou a audiência ao
Nirvana repetindo um bordão que já está ficando cansativo de ouvir, mas vá lá: "Deus me colocou aqui, e somente Deus me tira daqui". Na
humilde opinião deste obscuro articulista, o Senhor das Esferas não teve nada
com isso. Talvez o Diabo (falo
daquele com chifres e rabo, não o de nove dedos), mas isso também já é
outra conversa.
Quanto maiores as probabilidades de Bolsonaro ser defenestrado ou não conseguir se reeleger, maior e mais barulhento ficará o repertório de blasfêmias contra o estado democrático de direito, pois Bolsonaro precisa manter desperta sua tropa miliciana e estimular o assalto à democracia. Quando mais não seja porque esse é o único recurso que lhe resta (governar, na acepção da palavra, está fora de cogitação).
Mas, cá entre nós, alguém acha que o Messias aceitará
placidamente a derrota? Que "acreditará" no resultado das urnas e na
lisura do processo eleitoral? Não é bem essa a impressão que se tem ao vê-lo e ouvi-lo desancar a democracia, afrontar a Constituição, tripudiar das
instituições e dizer que está cagando para a CPI. O presidente exsuda
autogolpe por todos os poros, e a coisa pode piorar no feriado da
Independência, durante as manifestações a favor e contrárias ao desastre que ele qualifica de "seu governo".
A pergunta que não quer calar é: Por que ninguém ainda puxou o freio desse trem fantasma? Estão esperando o quê? Que a composição descarrile? Que seja preciso atirar na cabeça do maquinista despirocado para evitar que sejamos todos atropelados por sua récua de apoiadores destrambelhados?
Responda quem souber.
sábado, 20 de agosto de 2016
O IMPEACHMENT E A IMPICHADA
Segundo a militância petralha, Dilma não cometeu crime algum, apenas fez o que outros fizeram ― e nem por isso foram cassados, apedrejados ou crucificados. Para essa súcia de apedeutas aleivosos, sua amada chefa é vítima de um “golpe” orquestrado por desafetos inconformados com o resultado das urnas (dentre outras supostas e absurdas razões, pelo fato de Dilma ser mulher), e, capitaneada pela dita-cuja carcará, rincha esse despautério aos quatro ventos, esperando que uma mentira repetida muitas vezes assuma ares de verdade.
Cada vez menos gente continua apoiando Dilma, mesmo entre as alas petistas. Até seu abjeto predecessor e mentor parece ter jogado a toalha ― embora, em público, pose de apoiador incondicional da afastada ―, até porque não é prudente lutar duas batalhas ao mesmo tempo, e, para, ele, mais importante que defender sua abominável cria é escapar da Lava-Jato e do juiz Sergio Moro.
Haja saco, barnabé!
segunda-feira, 17 de maio de 2021
A FARSA NACIONAL
De acordo com a epístola enviada por Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel em abril de 1500, a primeira porção da Terra Brasilis avistada pela trupe de Cabral foi o Monte Pascoal: “(...) Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal (monte da Páscoa) e à terra A Terra de Vera Cruz!”, anotou o escriba ao descrever o “descobrimento do Brasil”.
O detalhe é que àquela altura o espanhol Vicente
Yáñez Pinzón já havia aportado na costa de (hoje) Pernambuco (em 26 de
janeiro de 1500), e sete anos antes o rei português D. João II ameaçara
declarar guerra à Espanha se o papa Alexandre VI não revisasse os
limites estabelecidos pela Bula Inter Coetera — o que originou o Tratado
de Tordesilhas, firmado em junho de 1494.
Tanto a expedição de Pinzón quanto o insurgimento do
monarca são indícios claros do que ficou comprovado documentalmente séculos
depois: Portugal já sabia da existência de terras na porção sul do “novo
continente” descoberto por Cristóvão Colombo. Demais disso, uma
expedição secreta comandada por Duarte Pacheco Pereira aportou
na costa brasileira em 1498, à altura do que hoje corresponde ao litoral do Maranhão — antes, portanto, de Pinzón. Mas o
rei de Portugal determinou que a descoberta fosse mantida em segredo até
que uma nova missão (a de Cabral) “tomasse posse oficialmente”
daquelas terras.
O Brasil foi batizado como tal por conta da abundância da madeira
Caesalpinia Echinata, conhecida popularmente como pau-brasil — da
qual se extraía uma resina cor-de-brasa, que era muito usada para tingir
tecidos. Antes de ganhar esse epíteto, o país foi batizado de Pindorama
(pelos nativos); de Ilha de Vera Cruz (em 1500); de Terra Nova e Terra
dos Papagaios (em 1501); de Terra de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz
(em 1503); de Terra Santa Cruz do Brasil e Terra do Brasil (em
1505), e de Brasil, em 1527.
Alcunhado de Gigante Adormecido e País do Futuro (que
nunca chega), entre outros epítetos, o Brasil, seja como colônia, reino unido,
império ou república, nunca deixou de ser uma banânia que
aspirava a ingressar na seleta confraria das nações do assim chamado “primeiro mundo”.
Segundo uma velha (e filosófica) anedota, o
Senhor das Esferas estava criando o mundo quando um anjo apontou para a
porção que mais adiante corresponderia ao Brasil e disse: “Esta terra
será um verdadeiro paraíso para a humanidade; o clima é agradável, há lindas
florestas e praias, grandes e belos rios, e nada de desertos, geleiras, terremotos,
vulcões ou furacões. Por que tanto protecionismo, Senhor?” E
Deus respondeu: “Ah, meu caro anjo, espera só pra ver o povinho
filho da puta que eu vou colocar aí.”
Como dito linhas acima, a farsa começou com o “descobrimento”
e seguiu pela denominação dos nativos. Os portugueses chamaram os silvícolas de
“índios” porque, ao aportar no novo continente, o genovês Cristóvão Colombo
supôs ter chegado às “Índias Orientais” — daí as Américas ficarem
conhecidas na Europa como “Índias Ocidentais”.
Observação: O expressão “descobrimento da
América” não é aceita universalmente pelos historiadores. Primeiro, porque
a expedição espanhola capitaneada por Colombo não tinha por objetivo
chegar a terras desconhecidas, mas sim ao continente asiático. Segundo, porque
os primeiros europeus a chegar à América foram os Vikings,
no século X (ainda que, diferentemente dos espanhóis e portugueses, eles não
tiveram sucesso na tentativa de se estabelecerem no novo continente). Demais
disso, a América não precisava dos europeus — ou da chegada deles — para
existir. Ela já existia em si muito antes disso e era habitada por milhões de
habitantes que formavam diferentes sociedades, algumas delas com alto grau de
sofisticação.
Ainda sobre o descobrimento e a farsa nacional, os compêndios
de História registram que a esquadra de Cabral zarpou de Lisboa com
destino a Calicute, mas uma tormenta (ou uma calmaria, dependendo
de quem conta o conto) a desviou da rota e voilà: foi “descoberto” o
Brasil. A “Relação
do Piloto Anônimo” — que, ao lado das cartas de Caminha e
de Mestre
João, é um dos três testemunhos diretos do descobrimento do Brasil que
sobreviveram ao tempo —, relata o naufrágio da nau comandada por Vasco
de Ataíde, mas a epístola do escriba oficial da esquadra registra que a
viagem até a costa brasileira transcorreu na mais completa normalidade, “sem
haver tempo forte ou contrário para que assim pudesse ser”.
A região do suposto naufrágio era conhecida como “calmas
equatoriais” — já que os ventos deixavam de soprar por dias, ou semanas, e
as embarcações ficavam ao sabor das correntes marinhas. Em seu admirável estudo
sobre a viagem de Cabral, o contra-almirante Max
Justo Guedes anotou que durante a tal calmaria a frota
cabrália teria sido empurrada cerca de 90 milhas para oeste pela Corrente
Equatorial Sul, mas esse deslocamento seria insignificante e não poderia
ter causado o “descobrimento casual do Brasil”. Também como dito
linhas acima, a chegada da expedição portuguesa ao litoral baiano não se
deveu nem a tormentas, nem a calmarias. Portugal soube de sua existência anos
antes desse suposto “descobrimento” e, tecnicamente, já
tinha posse das terras quando Cabral nelas desembarcou.
A farsa segue pela independência, que os livros
didáticos transformaram numa obra
de ficção. O famoso “Grito do Ipiranga”, dado por D. Pedro
de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael
Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, às
margens do riacho do Ipiranga, só aconteceu porque o príncipe regente foi acometido
de poderosa caganeira e fez alto para esvaziar os intestinos atrás de
uma moita.
Enquanto o nobre executava essa gratificante tarefa,
acercou-se da comitiva um mensageiro portando três cartas. A
primeira, assinada por D. João VI, ordenava ao nobre rebento
que regressasse imediatamente a Portugal e se submetesse ao Rei e às Cortes; a
segunda, de José Bonifácio, aconselhava-o a romper com Portugal; a
terceira, da Imperatriz Leopoldina, dileta consorte do príncipe
(noves fora Domitila de Castro Canto e Mello, mais conhecida
como Marquesa
de Santos), transmitia ao marido o seguinte recado: “O pomo está
maduro; colhe-o já, antes que apodreça”. Impelido pelas circunstâncias, D.
Pedro, que já estava mesmo fazendo merda, aproveitou o ensejo para romper
os laços de união política com Portugal e declarar a independência do Brasil.
A Proclamação da República, também cantada em
verso e prosa com pompa e circunstância, foi o primeiro dos muitos golpes de
Estado que estavam por vir. Dito com outras palavras, a Primeira
República começou com um golpe militar e seu primeiro mandatário — marechal
Manuel Deodoro da Fonseca — foi eleito indiretamente e, dois anos
depois, “convidado por seus irmãos de farda” a deixar o cargo.
Ao longo de 131 anos de história republicana (completados em
novembro do ano passado), 38 presidentes chegaram ao poder pela via do voto
popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado (como até o
passado é incerto neste país, esse número varia entre 35 e 44). Destes, oito
foram de alguma forma apeados do cargo antes do fim do mandato.
Dos cinco presidentes eleitos pelo voto direto desde o fim
da ditadura militar — Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma
e Bolsonaro —, o primeiro e a penúltima foram expulsos de campo antes do
final do jogo. O caçador de marajás de festim — que inaugurou a lista dos chefes
do Executivo Federal depostos devido a crimes de responsabilidade —
colecionou 29 pedidos de impeachment. Mas nunca foi chamado de genocida. Itamar, FHC, Lula e Temer foram
agraciados, respectivamente, com 4, 27, 37 e 33 pedidos de impeachment, mas
concluíram seus mandatos e jamais foram chamados de genocidas. A
gerentona de araque foi penabundada porque
estava quebrando o país. Madame foi alvo de 68 pedidos
de impeachment, mas ninguém jamais a acusou de genocídio.
Por essas e outras, fosse esta banânia um país que se desse
ao respeito, o mandatário de turno já teria
sido despejado e internado.
Antes mesmo de completar um ano no cargo, o capitão já abria larga
dianteira em relação a seus antecessores. Em fevereiro passado, o réu que
sucedeu a Rodrigo Maia na presidência da Câmara herdou uma pilha com
cerca de 60 pedidos de abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro.
Hoje, são quase 120.
Embora vivesse às turras com o chefe do Executivo, Maia
não deu andamento a nenhum dos pedidos de impedimento do desafeto. “Houve
erros, mas não crimes de responsabilidade”, disse o ex-presidente da
Câmara, que agora corre o risco de ser contraditado pela CPI da Covid. E
Arthur Lira segue na mesma linha: pressionado, o deputado centrista
cearense disse candidamente que todos
os pedidos que ele analisou são “inúteis”. Quando se põe a raposa para
tomar conta do galinheiro, ela encarrega as outras raposas de investigar o
sumiço das galinhas.
Em março de 2020, quando o Brasil contabilizava 6 mil mortes
pela “gripezinha”,
o jornal norte-americano The Washington Post concedeu a Bolsonaro o
título de pior
líder mundial no combate à pandemia. Hoje, são 435 mil os cadáveres produzidos
pela doença — dois terços das quais se deveram a ações e omissões de um
mandatário negacionista e genocida.
O supremo togado Gilmar
Mendes, o deputado federal Kin
Kataguiri, o abutre vermelho Lula,
seu bonifrate Fernando
Haddad e o youtuber Felipe
Neto são alguns exemplos de autoridades e influencers que já
classificaram Bolsonaro de genocida. Em mensagem
enviada a um grupo de ministros do STF, o então decano da Corte Celso
de Mello comparou
o presidente a Hitler, e uma coalizão que representa mais de um milhão
de trabalhadores da saúde no Brasil, apoiada por entidades internacionais,
denunciou-o ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, por crimes
contra a humanidade e genocídio. Semanas atrás, Miguel Urbán
Crespo, integrante do Parlamento Europeu, disse durante um
discurso em plenário que a “necropolítica” do presidente brasileiro
no combate à pandemia constitui um crime de lesa-humanidade, e que Bolsonaro não
é só um perigo para o Brasil, mas para o mundo inteiro.
A despeito de tudo isso, as pesquisas de intenção de voto indicam
que o circo da sucessão terá como protagonistas (de novo) os dois extremos
do espectro político-ideológico. A diferença é que desta vez o extremista
de esquerda poderá dispensar o “poste” e disputar o pleito pessoalmente, uma
vez que o STF lavou sua ficha imunda — criando a bizarra figura do
“ex-corrupto”.
Falando em “postes”, elegê-los tornou-se uma especialidade de
Lula. Certa vez, depois de um jantar regado a “Romanée-Conti” — um
dos vinhos da Borgonha mais caros do mundo, que chega a custar US$ 25 mil a
garrafa —, o então presidente, entre baforadas da cigarrilha cubana acesa
pelo diligente Delúbio Soares, assim se dirigiu a seus asseclas: “Sabem, ‘cumpanhêros’, hoje, sem falsa
modéstia, eu elejo até um poste para governar o Brasil.”
E elegeu mesmo. Só que antes de empalar a nação com Dilma
Rousseff, a gerentona de araque, Lula havia designado José Dirceu
— egresso da DGI
(órgão cubano de espionagem financiado pela KGB) —, que lhe fazia as
vezes de ministro-chefe da Casa Civil. Mas a canoa virou quando o ex-guerrilheiro
de festim foi denunciado pelo deputado Roberto Jefferson como operador-mor do Mensalão.
Outro “poste” que o Parteiro do Brasil Maravilha tentou
conduzir à Presidência foi o “cumpanhêro” médico ribeirão-pretano Antonio
Palocci — coordenador de sua equipe de transição e ministro da Fazenda em seu
ímprobo governo. Mas o barco afundou quando veio a lume o imbróglio envolvendo
o caseiro Francenildo
Costa, testemunha de acusação contra Palocci no “Escândalo
da República de Ribeirão Preto” (cujo cenário era uma mansão de
Brasília onde rolavam negociatas do governo e encontros com prostitutas, agendados
pela cafetina
Jeany Mary Corner).
Assim, o único poste que deu certo afora Fernando Haddad
— este somente na disputa
pela prefeitura de São Paulo e apenas em 2012, já que foi
derrotado por João Doria quando tentou se reeleger em 2016, e por
Jair Bolsonaro na disputa pela Presidência em 2018 — foi a prosaica
figura que, antes de se aventurar na política, faliu
duas lojinhas de R$ 1,99 em Porto Alegre (RS); que sem saber
atirar virou modelo de guerrilheira; que sem ter sido vereadora virou
secretária municipal; que sem passar pela Assembleia Legislativa virou
secretária de Estado; que sem estagiar no Congresso virou ministra; que sem ter
inaugurado nada de relevante fez pose de gerente de país; que sem saber juntar
sujeito e predicado virou estrela de palanque; que sem ter tido um único voto
na vida até 2010 foi eleita presidente desta banânia e levou o país à insolvência,
a inflação à casa dos 2 dígitos e o desemprego à das dezenas de milhão.
Depois de um dos maiores estelionatos eleitorais da nossa
história (atrás apenas do que seria promovido pelo então candidato à Presidência
em 2018), a presidanta arroganta e pedanta foi reeleita,
mas acabou afastada do cargo 1 ano e 5 meses depois e devidamente penabundada dali
a pouco mais de 3 meses. No parecer do então PGR Rodrigo Janot, o impeachment
desse “poste” também encampava, no “conjunto da obra”, os crimes de corrupção
ativa e passiva, obstrução da justiça e organização criminosa.
Concluída esta (não tão) breve introdução, passo a tratar do
cenário (lamentável) que se descortina à luz das recentes (e prematuras)
pesquisas de intenção de voto, que, sem exceção, apontam para o embate (de
novo) entre o nhô ruim e o nhô pior — ou por outra,
entre o antilulopetismo e o antibolsonarismo. A se confirmar essa
perspectiva desalentadora, o eleitor consciente (e isso exclui as torcidas organizadas
de ambos os contendores) será novamente forçado a optar pelo “menos pior”.
Mas é preciso ter em mente que, quando se escolhe o menor de dois males,
ainda assim o que se escolhe é um mal.
Quem vaticina que o embate entre Lula e Bolsonaro
é inevitável não está fazendo análise política, está contribuindo para criar
uma profecia autorrealizável. Se aqueles que não querem que essa polarização
se repita virem-na como inevitável, assim será. Portanto, não é hora de crer em
vaticínios e inevitabilidades, mas sim de criar alternativas.
Para concluir (por hora, pois voltar a este tema será
inevitável), cumpre salientar que os números do DataFolha
apontam que 41% dos entrevistados responderam que votarão em Lula (uma
vantagem de 18% em relação a Bolsonaro). Num eventual segundo turno, o
petista atrairia os eleitores de Doria, Ciro e Huck (note
que o apresentador global ainda não confirmou a candidatura) e o capitão sem partido
ficaria com a maior fatia dos eleitores de Moro (o ex-juiz já afirmou
que não participará da disputa). Nesse cenário, Lula venceria Bolsonaro
por 55% a 32%.
Realizada na mesma semana, a enquete do Paraná
Pesquisas aponta 32,7% das intenções de voto em Bolsonaro e
29,3% em Lula — no segundo turno, o capetão venceria o petralha
por 42,5% a 39,8%. Os números do Atlas
Político também favorecem Bolsonaro no primeiro turno(37% a
33,2%) mas dão a vitória a Lula no segundo (45,7% a 41%). O XP/Ipespe
aponta empate no primeiro turno (ambos com 29%) e vitória de Lula no
segundo (42% a 40%). O PoderData
indica empate no primeiro turno (ambos com 32%) e vitória do petralha no segundo
(50% a 35%).
Cenários variados de disputa, datas não coincidentes de
apuração e defasagem de dados oficiais — problema realçado com o adiamento do Censo
— ajudam a explicar resultados divergentes de pesquisas, diz o Valor
Econômico. Mas a questão é que a amplitude dessas divergências vai bem
além das margens de erro, como ficou explícito depois que o Datafolha
deu conta de que Lula precisaria tirar só três pontos dos rivais para
vencer já no primeiro turno, que Bolsonaro vem bem, com 23%, e outros
seis concorrentes têm desempenho de um dígito.
Como se viu, o panorama é diverso segundo dados do Ipespe,
contratado pela XP, e do PoderData, vinculado ao site Poder360
— ambos mostram Lula e Bolsonaro numericamente empatados. As
entrevistas do Ipespe foram concluídas cinco dias antes do Datafolha.
Já o período de coleta do PoderData coincide quase que inteiramente com
o do Datafolha. Há ainda a pesquisa Atlas, iniciada após o Ipespe
e concluída antes do Datafolha, que mostra Bolsonaro líder.
Nos quadros de segundo turno os números também são
divergentes. E uma curiosidade: o PoderData, que tem resultados
distantes do Datafolha no primeiro turno, mostra dados mais próximos do Datafolha
no segundo. No Ipespe os resultados apontam empate técnico. O Atlas
traz Lula com 45,7%, quase cinco pontos acima de Bolsonaro, e
tanto o Datafolha quanto o PoderData mostram Lula com
ampla vantagem.
Responsável pelo Ipespe, o cientista político Antônio
Lavareda divulgou uma nota em que lista “fatores básicos que
teoricamente seriam capazes de explicar as diferenças”. Entre eles,
momentos distintos de apuração e diferenças nos total de entrevistados, mas Lavareda
enfatiza mais o método de abordagem de entrevistados — presencial ou por
telefone — e as variáveis de controle — recursos para verificar a consistência
das informações coletadas.
Mauro Paulino, diretor do DataFolha, defende o
método presencial em casos eleitorais. Para ele, o uso de um cartão circular
com os nomes dos candidatos distribuídos em fatias idênticas é a única forma de
não privilegiar um nome no instante da pergunta, o que contaminaria o estudo. “Para
outras pesquisas, achamos perfeitamente possível o uso do telefone. Para
eleitoral, não. Por telefone, o entrevistador necessariamente terá que citar um
nome antes”, diz ele.
Lavareda destaca o que entende ser desvantagens da
pesquisa presencial: “Na pandemia, em que se recomenda distanciamento
social, é plausível que muito mais pessoas temam ser abordadas nas ruas”.
Ele lembra ainda que não se usa mais esse método na Europa e nos EUA e que o
acesso do eleitorado brasileiro ao celular é universal.
A ideia segundo a qual um certo perfil não seria alcançado
na rua, pois muitos estão isolados ou em home office, é rechaçada por Paulino.
“Só 6% estão totalmente confinados. Mas mesmo essa pessoa que não sai de
casa acaba sendo representada quando entrevistamos outros com perfis parecidos,
como quem só sai para ir à padaria.”
Outro ponto de divergência está na chamada variável de
controle. Andrei Roman, diretor do Atlas, entende ser fundamental
usar a declaração de voto do eleitor em 2018 como informação para “calibrar” a
pesquisa. Isso é feito comparando o resultado apurado com o dado preciso da
urna. Lavareda também é defensor desse recurso. Paulino discorda.
“As pessoas esquecem em quem votou ou, conforme a conjuntura, preferem
esconder qual foi o voto. Quem usa isso como controle está fazendo coisa errada”,
diz.
Durma-se com um barulho desses.